A Biotecnologia e a Sustentabilidade da Carcinicultura no Brasil

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Descrição do Produto

AquaCiência 2006 Bento Gonçalves, RS 14 a 17 de agosto de 2006

Tópicos Especiais em Biologia Aquática e Aqüicultura II

Editores José Eurico Possebon Cyrino João Donato Scorvo Filho Luis André Sampaio Ronaldo Olivera Cavalli

Sociedade Brasileira de Aqüicultura e Biologia Aquática Jaboticabal, SP Outubro – 2008

AquaCiência 2006 Tópicos Especiais em Biologia Aquática e Aqüicultura II

Editores

José Eurico Possebon Cyrino João Donato Scorvo Filho Luis André Sampaio Ronaldo Olivera Cavalli

Palestras apresentadas durante o AquaCiência 2006, congresso da Sociedade Brasileira de Aqüicultura e Biologia Aquática Jaboticabal – 2008

© 2008 dos editores Todos os direitos desta edição reservados Sociedade Brasileira de Aqüicultura e Biologia Aquática Sede: Centro de Aqüicultura da UNESP Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n 14884-900 – Jaboticabal - SP www.aquabio.com.br [email protected]

Coordenação Editorial José Eurico Possebon Cyrino Coordenação Executiva João Donato Scorvo Filho Diagramação e Editoração José Eurico Possebon Cyrino Impressão Copiadora Luiz de Queiroz Piracicaba, SP Ficha Catalográfica Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) DIVISÃO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - ESALQ/USP AquaCiência 2006 ( 2006 : Bento Gonçalves) Tópicos especiais em biologia aquática e aqüicultura II / edição de José Eurico Possebon Cyrino, João Donato Scorvo Filho, Luis André Sampaio e Ronaldo Olivera Cavalli. - - Jaboticabal: Sociedade Brasileira de Aqüicultura e Biologia Aquática, 2008. 376 p. : il. Bibliografia. ISBN: 978-85-60190-01-0 1. Aqüicultura 2. Biologia aquática I. Título CDD 639.3

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Agradecimentos Agradecemos a todos os envolvidas na organização do AquaCiência 2006, ao contínuo apoio dos sócios da Sociedade Brasileira de Aqüicultura e Biologia Aquática e aos autores, que uma vez mais contribuíram para a concretização do projeto editorial da AQUABIO, base da consolidação de um veículo de comunicação científica competente e autônomo que represente a área de aqüicultura e biologia aquática no Brasil.

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Sumário Apresentação..................................................................................................................................... ix CAPÍTULO 1 Transferência de Tecnologia em Piscicultura como Instrumento de Transformação Social ......................................................................................................................... 1 Ana Eliza Baccarin; Sidney Santana e Silva; Antonio Fernando Gervásio Leonardo; Leonardo Tachibana; Camila Fernandes Correia

CAPÍTULO 2 Estratégias de Sucesso na Produção de Camarões em Cercados: Incentivo ao Trabalho Coletivo ........................................................................................................ 9 Aléssio Almada da Costa; Luciana de Barros Roldão; Paulo Roberto Armanini Tagliani; Ronaldo Olivera Cavalli; Wilson Wasielesky Júnior; Sílvio Peixoto

CAPÍTULO 3 Viabilidade Econômica da Produção de Iscas e Juvenis de Macrobrachium amazonicum no Pantanal..................................................................................................................... 25 Wagner C. Valenti; Liliam de Arruda Hayd; Michelle Pinheiro Vetorelli; Maria Inez Espagnoli Geraldo Martins

CAPÍTULO 4 Elaboração de um Caderno de Normas para a Produção de Catfish Americano .......................................................................................................................................... 37 Débora Machado Fracalossi; Giovanni Vitti Moro; Régis Canton; Renato Eiji Kitagima

CAPÍTULO 5 Tecnologia de Produção de Peixes Nativos em Tanques-rede nos Reservatórios de Machadinho e Itá, Rio Uruguai ......................................................................... 53 Luis Fernando Beux, Débora Machado Fracalossi, Evoy Zaniboni Filho, Alex Pires de Oliveira Nuñer, Marcos Weingartner

CAPÍTULO 6 Crescimento Compensatório em Peixes: Uma Estratégia Alimentar para a Aqüicultura ...................................................................................................................................... 69 Flávio Furtado Ribeiro; Mônica Yumi Tsuzuki

CAPÍTULO 7 Níveis Protéicos e Energéticos em Dietas para Lambari-do-rabovermelho, Astyanax fasciatus .............................................................................................................. 87 Ana Lúcia Salaro; Alysson Saraiva; Jener Alexandre Sampaio Zuanon; Eric Márcio Balbino; Sofia Simões Silveira Moraes; Rodrigo Yutaka Dichoff Kasai

CAPÍTULO 8 Prebiótico Flavofeed® Como Suplemento Dietético Para Juvenis de Tilápia do Nilo Oreochromis niloticus .................................................................................................. 95 Thiago El Hadi Perez Fabregat; João Batista Kochenborger Fernandes; Laurindo André Rodrigues; Kenio de Gouvêa Cabral; Fabiana Garcia; Nilva Kazue Sakomura

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CAPÍTULO 9 Utilização de Água Salinizada e Náuplios de Artemia Durante a Larvicultura do Acará-Bandeira Pterophyllum scalare ..................................................................... 105 Thiago El Hadi Perez Fabregat; João Batista Kochenborger Fernandes; Ian Taibo Timpone; Laurindo André Rodrigues; Maria Célia Portella

CAPÍTULO 10 Avaliação de Curvas de Crescimento e Morfometria de Peixes ................................................ 111 Vander Bruno dos Santos; Rafael Vilhena Reis Neto; Rilke Tadeu Fonseca de Freitas; Thiago Archangelo Freato

CAPÍTULO 11 Temperatura, Desenvolvimento e Razão Sexual de Tilápias do Nilo (Oreochromis niloticus), Variedade Chitralada ................................................................................... 129 Teresa Cristina Ribeiro Dias-Koberstein; Munir Francisco Zanard; Laura Satiko Okada Nakaghi; Fernanda Nogueira Valentin

CAPÍTULO 12 Efeitos da Exposição de Carpa Comum Cyprinus carpio a Diferentes Salinidades ........................................................................................................................................ 135 João Alfredo de Oliveira Sampaio; Mário Roberto Chim Figueiredo; Frederico Ceccon Lanes; Viviana Lisboa da Cunha; Indianara Bartacolli; Luís Fernando de Matos Neves

CAPÍTULO 13 Primeira Experiência de Indução Hormonal, Desova e Larvicultura do Robalo-Flecha, Centropomus undecimalis no Brasil ......................................................................... 143 Thiago Augusto Soligo; Eduardo de Medeiros Ferraz; Vinicius Ronzani Cerqueira; Mônica Yumi Tsuzuki

CAPÍTULO 14 Qualidade e Criopreservação do Sêmen de Pleuronectiformes: Ênfase no Linguado Paralichthys orbignyanus ..................................................................................................... 153 Carlos Frederico Ceccon Lanes; Luis Fernando Marins; Luis André Sampaio

CAPÍTULO 15 Indução da Maturação Final dos Ovócitos de Prochilodus lineatus Utilizando Gonadotropina Coriônica Eqüina e/ou Extrato Bruto de Hipófise de Carpa ............................................................................................................................ 165 Gilmara Junqueira Machado Pereira; Luis David Solis Murgas; Aléssio Batista Miliorini; Juliana Milan de Aquino Silva; Priscila Vieira Rosa Logato

CAPÍTULO 16 Criopreservação do Sêmen de Curimba Prochilodus lineatus: Crioprotetores e Ativadores...................................................................................................................................... 173 Aléssio Batista Miliorini; Luis David Solis Murgas; Gilmara Junqueira Machado Pereira; Juliana Milan de Aquino Silva; Priscila Vieira Rosa Logato

CAPÍTULO 17 Qualidade da Água e Contaminantes Inorgânicos em Peixes Produzidos em Policultivo Integrado ................................................................................................................ 189 Osmar Tomazelli Júnior; Jorge de Matos Casaca

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vi CAPÍTULO 18 Microcistinas em Águas Superficiais no Noroeste Paulista ....................................................... 199 Fernando Stopato da Fonseca; Valter Ruvieri; Eduardo Makoto Onaka; Myrna Sabino

CAPÍTULO 19 Uso de Biorremediadores no Tratamento de Efluentes da Carcinicultura .............................. 209 Ana Carolina Canary; Luís Poersch; Ronaldo O. Cavalli; Wilson Wasielesky Júnior

CAPÍTULO 20 Reprodução e Produção do Camarão-Rosa Farfantepenaeus brasiliensis (Crustacea: Decapoda) no Sul do Brasil ....................................................................................... 219 Silvio Peixoto; Diogo Luiz de Alcantara Lopes; Gustavo De Vita; Roberta Soares; Ronaldo O. Cavalli; Wilson Wasielesky

CAPÍTULO 21 Comportamento Alimentar do Camarão-rosa Farfantepenaeus paulensis em Confinamento .................................................................................................................................. 235 Roberta Borda Soares; Silvio Peixoto; Fernando D’Incao; Wilson Wasielesky Júnior

CAPÍTULO 22 Efeito do Ambiente Protegido no Sistema de Berçário Secundário do Camarão-da-Amazônia Macrobrachium amazonicum no Período de Inverno ............................. 251 Daniela Castellani; Antonio Fernando Monteiro Camargo; Eduardo Gianini Abimorad; Jairo Augusto Campos Araújo

CAPÍTULO 23 Desempenho Produtivo do Camarão Branco Litopenaeus vannamei Produzido com Fertilizantes Orgânicos e Substratos Artificiais............................................... 261 Ana Valeria Lacerda Freitas; Celicina Maria da Silveira Borges de Azevedo; Bruno Rodrigo Simão; Hudson do Vale de Oliveira; Ricardo Bruno Soares Sales

CAPÍTULO 24 Produção e Crescimento de Peixes Transgênicos Para o Gene do GH Utilizando o Paulistinha Danio Rerio Como Modelo Experimental .......................................... 271 Carlos Frederico Ceccon Lanes; Márcio de Azevedo Figueiredo; Daniela Volcan Almeida; Luis Fernando Marins

CAPÍTULO 25 Microssatélites no Genoma do Camarão Marinho Litopenaeus vannamei (Penaeidae) ....................................................................................................................................... 281 Patrícia Domingues de Freitas; Pedro Manoel Galetti Jr.

CAPÍTULO 26 A Biotecnologia e a Sustentabilidade da Carcinicultura no Brasil ............................................ 295 Cleveland M. Jones; Hernani Aquini Fernandes Chaves; José Diamantino de A. Dourado

CAPÍTULO 27 Somatic Growth of Juvenile Freshwater Crayfish Cherax quadricarinatus fed Diets Supplemented with Ecdysone ...................................................................................... 305 Anouk Chaulet; Laura Susana López Greco; Enrique Marcelo Rodríguez

vii CAPÍTULO 28 Formato de Tanque e Uso de Substratos na Larvicultura do Caranguejouçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) .............................................................................................. 315 Ubiratan Assis Silva; Kelly Ferreira Cottens; Robson Ventura; Antonio Ostrensky; Walter Boeger;Gabriel Correa Wandenbruck; Alexandre Guilherme Becker

CAPÍTULO 29 Alimentação, Desempenho e Indicadores de Qualidade de Larvas do Caranguejo-Uçá Ucides Cordatus (Linnaeus, 1763) Produzidas em Laboratório ....................................................................................................................................... 327 Kelly Ferreira Cottens; Ubiratan Assis Silva; Robson Ventura; Alexandre Guilherme Becker; Antonio Ostrensky; Walter Boeger; Gabriel Correa Wandenbruck

CAPÍTULO 30 Rendimento de Cortes do Jundiá, Dourado e Tilápia Separados por Sexo ............................. 343 Cátia Aline Veiverberg; Rafael Lazzari; João Radünz Neto; Fábio de Araújo Pedron; Viviani Corrêia; Giovani Taffarel Bergamin

CAPÍTULO 31 Rendimento de Carcaça e Avaliação Físico-Química da Polpa de Carpa Húngara Cyprinus carpio Proveniente de Criações Consorciados com Frangos ou Suínos e Alimentadas com Ração ............................................................................. 357 Márcio Martinez Echevenguá; Walesca Oliveira Echevenguá; Ana Amélia Carbonera; Mario Roberto Chim Figueiredo; Carlos Prentice-Hernández

CAPÍTULO 32 Alternativas Tecnológicas Para o Aproveitamento dos Resíduos do Processamento de Pescado ............................................................................................................ 365 Leandro Cesar de Godoy; Maria Luiza Rodrigues de Souza Franco; Jesuí Vergílio Visentainer

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Apresentação A consolidação de uma entidade representativa se dá, principalmente, com o cumprimento dos objetivos estatutários e do atendimento da vontade da comunidade representada. A solidificação da AQUABIO está se dando a passos largos. Prova concreta deste fato está nas publicações que seguem, de forma conseqüente, a realização de cada AQUACIÊNCIA. O anseio de seus sócios em ter os resultados de seus trabalhos registrados, em uma publicação de caráter científico, com artigos inéditos e com periodicidade, está sendo dirimido com mais esta publicação. “Tópicos Especiais em Biologia Aquática e Aqüicultura II” se apresenta, em comparação as anteriores, com mudanças, que fazem com que se aproxime cada vez mais da Revista Científica da Sociedade, tão desejada pelos seus sócios. A publicação na forma de capítulos como nos primeiros livros – “Tópicos Especiais em Piscicultura de Água Doce Tropical Intensiva” e “Tópicos Especiais em Biologia Aquática e Aqüicultura” - foi mantida nesta edição, porém em maior número e em feitio mais rígido, não deixando de ser um texto técnico-científico, mas na forma de trabalhos científicos. São 32 artigos, que tratam das mais variadas facetas da aqüicultura e da biologia aquática, da transferência de tecnologia a técnicas de processamento de pescado com o aproveitamento de seus resíduos passando pela economia, reprodução, sustentabilidade entre tantos outros assuntos. Com muita segurança podemos dizer que caminhamos para a nossa Revista Científica, quem sabe no AQUACIÊNCIA2010 já possamos comemorar mais esta realização. O AQUACIÊNCIA2008 dará os elementos necessários para esta publicação. João Donato Scorvo Filho

Presidente da AQUABIO

CAPÍTULO 26

A Biotecnologia e a Sustentabilidade da Carcinicultura no Brasil Cleveland M. Jones * 1; Hernani Aquini Fernandes Chaves 2; José Diamantino de A. Dourado 3

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1

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Faculdade de Geologia (FGEL), R. São Francisco Xavier 524, Sala 4024F; 20550-013 - Rio de Janeiro - RJ * autor correspondente

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Faculdade de Geologia (FGEL), R. São Francisco Xavier 524, Sala 2001A; 20550-013 - Rio de Janeiro - RJ

Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Sukow da Fonseca - CEFET/RJ, Avenida Maracanã 229; 20271-110 – Rio de Janeiro - RJ

Resumo Dada a importância e o potencial de crescimento das atividades relacionadas à carcinicultura no Brasil, este trabalho visa apresentar como um novo conceito da produção sustentável do camarão poderia melhorar o desempenho e a competitividade dessa indústria, ao mesmo tempo em que seriam reduzidos os impactos dos efluentes gerados. O foco do trabalho está centrado na produção superintensiva, conjugada com o tratamento dos efluentes da carcinicultura e da água dos tanques de engorda. As técnicas de produção superintensiva têm apresentado riscos de enfermidades e mortalidade em massa, causando graves prejuízos ao produtor. Mesmo quando estes riscos são superados, dependendo do volume de efluentes, aumenta a taxa de decomposição bacteriana e a desoxigenação da água, ocasionando fortes danos aos ambientes aquáticos costeiros, com relevantes prejuízos às comunidades locais. A legislação atual impede a destruição dos manguezais e sua transformação para fins comerciais, mas o foco da legislação deveria ser a sustentabilidade do ecossistema, permitindo as atividades da carcinicultura desde que sua preservação esteja garantida através de medidas que limitem a poluição. O modelo de produção apresentado, utilizando a tecnologia de bioaumentação e a re-alocação de áreas para tratamento dos efluentes, permitirá uma significativa elevação da produtividade e uma redução dos impactos do lançamento dos resíduos. A antecipação às possíveis restrições das novas legislações com relação a efluentes trará a marca do selo verde, possibilitando, ainda, o aumento da produtividade e da lucratividade, pela redução da duração dos ciclos das safras, e do aumento da densidade nos tanques, e do valor unitário e volume total da produção. Um controle mais eficaz da qualidade da água também deve ajudar a prevenir e controlar a ocorrência de doenças, como as que ocorreram nos últimos anos, nas principais áreas produtoras do Brasil, que ameaçam a sustentabilidade da carcinicultura no país.

Biotechnology and Sustainability of the Brazilian Shrimp Farming Industry Abstract Given the importance and the growth potential of shrimp farming activities in Brazil, this paper attempts to present how a new concept regarding sustainable shrimp farming activities could improve performance and competitiveness in the industry, while reducing the environmental impacts of the effluents generated. The focus is centered on intensive production methods, associated with the treatment of shrimp farm effluents and the water in the growing facilities. Intensive shrimp farming techniques have posed risks

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associated with disease and mass mortality, causing severe losses to producers. Even when these risks are overcome, depending on the effluent volume, bacterial decomposition can rise, as well as de-oxygenation of the water, causing severe impacts to the marine coastal environment, with significant losses to the local communities. While current legislation protects mangroves and stops their commercial utilization, the focus of legislation must be on the sustainability of the ecosystem, allowing commercial exploration only as long as it guarantees preservation measures by limiting pollution. The production model presented herein, using bioaugmentation along with re-allocation of areas for effluent treatment, should allow higher productivity and a reduction of the effects of effluent discharge. By meeting the possible restrictions of future legislation with regards to effluents, such measures will bear the mark of a green seal, while increasing productivity and profitability by reducing harvest cycle duration, and increasing shrimp density, unit value and total production. A more effective control of water quality should also help prevent and control outbreaks of damaging diseases, such as has recently been observed in Brazi’ls major producing areas, threatening sustainability of Brazilian shrimp farming business.

Introdução A maturidade da carcinicultura brasileira é uma realidade, tanto pelo domínio do processo tecnológico de produção, como pela implantação de uma cadeia de logística de distribuição e comercialização, que permitem um elevado patamar de produção e exportações. Após um crescimento impressionante da produção durante o período de 1997 a 2003, quando a produção total alcançou mais de 90.000 t, a carcinicultura brasileira sofreu um sério revés a partir de 2004, estabilizando sua produção em apenas 65.000 toneladas, de 2005 a 2007 (ABCC, 2007). Em parte, esta quebra da produção foi devida ao aparecimento de doenças como a mancha branca e outras, e frustrou a expectativa de que o Brasil continuasse a subir de posição no rol dos grandes produtores mundiais (BNDES, 2006). Na verdade, assim como a experiência desastrosa do Equador, esforços para incrementar a produção através de métodos insustentáveis derrubaram a produção e resultaram na demissão de mais de 25 mil funcionários empregados na indústria (Agência Brasil, 2007). O Equador sofreu efeitos muito piores, e ainda tenta se recuperar de perdas de até 90% de sua produção e do desemprego de mais de 100.000 trabalhadores do setor de carcinicultura no país. Há anos os impactos negativos da carcinicultura nos ambientes costeiros vêm sendo denunciados, mas as perspectivas de ganhos com a comercialização de um produto que encontra aceitação fácil nos mercados importadores dos países mais desenvolvidos fizeram com que muitos produtores ignorassem essas advertências. Os próprios governos e órgãos fiscalizadores têm sido ineficazes na fiscalização e no controle desta atividade (EJF, 2004). O atual estágio de evolução da produção de camarão no Brasil objetiva recuperar o crescimento e atingir a sustentabilidade nos negócios, enquanto ocupa um lugar de destaque na geração de riqueza e empregos nas áreas onde se desenvolve. Como estas áreas são freqüentemente pouco desenvolvidas e têm escassas alternativas de desenvolvimento econômico, esta é uma importante consideração social e econômica. O potencial de desenvolvimento proporcionado pela carcinicultura, através da implantação de pequenos e médios empreendimentos de produção de camarão em confinamento não pode ser ignorado, e representa uma importante alternativa de geração de emprego e renda na zona rural costeira do Norte e Nordeste Brasileiro (Guerra, 2002).

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2. Discussão A criação de camarão é intensiva na utilização de mão-de-obra, e predominantemente utiliza empregos permanentes, além de privilegiar a mão-de-obra pouco qualificada, que de outra forma teria maior dificuldade de inserção na economia. Alguns estudos chegam a apontar a carcinicultura como geradora de até 3,75 empregos por hectare, em relação a valores muito inferiores para outras culturas, como cana-de-açúcar, coco e uva (Sampaio e Couto, 2003). A carcinicultura também apresenta um dos custos de investimentos mais baixos (US$ 13.800) para gerar um emprego, dentre diversas indústrias importantes na economia nacional (Tabela 1). Tabela 1 – Necessidade de investimento para gerar um emprego direto (Fonte: SUDENE/DAI e MIC, 2003). Atividade

Custo em US$

Carcinicultura

13,800.00

Indústria Automobilística

91,000.00

Indústria Química

220,000.00

Pecuária

100,000.00

Turismo

66,000.00

Para atingir os objetivos de desenvolvimento regional que a carcinicultura potencialmente oferece, será necessário aumentar a produtividade e reduzir as enfermidades, mas também preservar o meio-ambiente, de modo a assegurar a sustentabilidade da atividade no longo prazo, especialmente nas zonas costeiras de manguezais. Felizmente, novas técnicas de manejo podem ajudar neste sentido (Jones e Dourado, 2003). Mas a legislação ambiental também deve considerar proporções de áreas dedicadas à atividade compatíveis com a preservação dos ecossistemas que compõem os manguezais e as áreas que interligam os terrenos de “apicuns” e “salgados”. A atenção da sociedade deve ser dirigida para a preservação dos mananciais e o tratamento dos efluentes provenientes da carcinicultura. A afirmação do agrônomo Hermes Benedith aborda o ponto crítico: “A entrada direta de rejeitos orgânicos na água, neste caso o resíduo dos viveiros de camarão, cria o que se chama de demanda bioquímica de oxigênio, perturbando o ciclo natural e o equilíbrio do ambiente aquático. Dependendo do volume, aumenta a taxa de decomposição bacteriana e a desoxigenação da água, ocasionando a morte de peixes e conseqüentemente do ambiente aquático” (A Notícia, 2002). Já existe uma conscientização com relação à necessidade de tratar a água com alta concentração de nutrientes, proveniente dos tanques de engorda, em diversas regiões produtoras, como Malásia e Tailândia, pois se sabe que os efluentes da carcinicultura representam um risco de poluição e eutroficação dos recursos hídricos. A água dos tanques também pode estimular o crescimento de algumas espécies de fitoplâncton nocivas ao camarão, como Gymnodinium. A presença de certos tipos de

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plâncton e algas pode ajudar na alimentação dos animais nos tanques de engorda, melhorando o índice de conversão alimentar da ração utilizada. Porém o excesso de nutrientes, provenientes da ração não aproveitada pelos animais, e dos dejetos dos próprios animais em engorda, estimula o crescimento de plâncton e algas em geral, como Spirulina sp. Estes organismos usam a fotossíntese como parte fundamental de seus processos biológicos e geram condições perigosas para a sobrevivência dos camarões se não forem controlados adequadamente, pois podem ocorrer blooms descontrolados. A presença destes organismos representa uma fonte de oxigênio dissolvido durante o dia, decorrente da fotossíntese, mas durante a noite os processos metabólicos da grande biomassa existente consomem oxigênio. Este consumo reduz as concentrações de oxigênio dissolvido para níveis às vezes muito abaixo daqueles necessários para suportar a demanda dos camarões. Freqüentemente, nestas condições, os camarões sofrem uma mortandade massiva nos períodos logo antes do amanhecer, quando os níveis de oxigênio dissolvido atingem seus patamares mínimos, às vezes próximos a zero (bem abaixo de 1 parte por milhão), devido à competição por parte das algas e plâncton presentes. Isto ocorre mesmo em tanques com aeração forçada intensiva, operada durante a noite. Blooms de algas tóxicas, como Microcystis sp., e fitoplâncton, como Gymnodinium, podem ser favorecidos por condições exógenas da água do mar, ou pelo excesso de nutrientes. As toxinas geradas por processos metabólicos normais destes organismos são nocivas para os camarões e outros animais, e são difíceis de controlar quimicamente. Geralmente a única forma de controle efetivo é a redução dos números destes organismos. Meios naturais, como a filtração da biomassa ou o uso de produtos biológicos, são eficazes para restabelecer níveis adequados de equilíbrio da biota. Produtos à base de cobre, ou outros biocidas, são eficazes na eliminação destes organismos vivos, mas geralmente causam sua morte em massa, gerando sérios problemas aos cultivares com sua decomposição (Clifford e Cook, 2002). O excesso de matéria orgânica freqüentemente gera odores desagradáveis dentro das carciniculturas, os quais podem atingir áreas próximas. Este excesso também pode causar a contaminação das águas litorâneas perto do ponto de descarte. O efluente consiste de pequenas partículas de matéria orgânica e de partículas inorgânicas, provenientes da erosão de solos, que podem afetar negativamente o ecossistema bentônico das áreas de descarte, podendo resultar na poluição visual da água, danos a bancos de coral e baixa balneabilidade das águas costeiras. Enfermidades infecciosas (vírus, bactérias, parasitos, fungos, etc.), assim como algumas não-infecciosas (‘blooms’ de algas), podem ser atribuídas às condições encontradas em culturas intensivas do camarão, por exemplo, elevadas concentrações de matéria orgânica, elevadas populações de microrganismos oportunistas, dejetos dos animais, baixos níveis de oxigênio dissolvido e altos índices de amônia na água. A incidência destas enfermidades coincidiu com a tendência de alcançar cada vez maiores densidades de animais nos tanques de crescimento, gerando estresses fisiológicos, uma predisposição para o ataque por estes agentes, e uma redução das defesas imunológicas contra os agentes infecciosos e tóxicos. Certos agentes infecciosos normalmente estão presentes em números que não representam riscos à saúde dos camarões, como Leucothrix mucor. Na criação intensiva, porém, estes

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microrganismos filamentosos facilmente alcançam patamares de infestação que impedem o funcionamento de órgãos vitais dos animais, e conseqüentemente sua respiração, devido ao ataque por um número excessivo de bactérias. Diversos tipos de enfermidades também têm relação com a densidade dos animais em viveiros, pois uma alta densidade acarreta pequenos danos físicos aos animais, que freqüentemente dão lugar a infecções oportunistas. Desta forma, as condições adversas geradas pela má qualidade da água dos tanques de engorda são dificilmente controladas por meios tradicionais de tratamentos químicos, bactericidas ou filtração mecânica, e resultam no aumento de enfermidades. Nestas condições o resultado é um maior custo do tratamento da água, perdas com a mortandade dos animais e menor rendimento no crescimento. O tratamento de efluentes característicos da água descartada dos tanques de engorda de camarões se dá, preferivelmente, através de processos biológicos. Estes processos são pouco intensivos no uso de recursos energéticos e eficazes na remoção da carga orgânica, representada por uma alta demanda bioquímica de oxigênio (DBO). As condições geralmente encontradas nos sistemas de produção favorecem processos aeróbicos em lagoas ou tanques a céu aberto, aerados ou não. Áreas para o tratamento dos efluentes da carcinicultura podem ser estabelecidas através da alocação de um ou mais tanques, onde possa ocorrer a sedimentação de partículas inorgânicas e a redução da matéria orgânica. Nestes tanques, mexilhões e ostras podem efetuar processos macro-biológicos de tratamento da água, pois são ótimos filtradores e eficazes na remoção de partículas suspensas, ajudando a clarificar a água. O controle de parâmetros de saída dos tanques utilizados para o tratamento de efluentes deve ser feito sistematicamente, para garantir que a qualidade da água se enquadre dentro das exigências das normas e leis que venham a regulamentar a descarga destes efluentes. Dada a crescente conscientização e preocupação com os efeitos da poluição causada pelos efluentes, imagina-se que estes parâmetros serão definidos com mais rigor em futuras legislações e normas pertinentes (Avnimelech e Ritvo, 2003). O modelo de tratamento de efluentes deve ser dimensionado e controlado de acordo com os parâmetros de qualidade final, futuramente definidos para os resíduos. Uma retro-alimentação do controle do sistema de tratamento com os dados do monitoramento de efluentes atenderia às necessidades de ajustar os índices aos requisitos legais. Em prazos mais longos, o modelo poderia considerar a alocação de uma área de tratamento variável para cumprir estes requisitos. No curto prazo, alguns processos de tratamento podem ser facilmente modificados, tais como a aeração ou a adição de produtos biotecnológicos. Um modelo do sistema de alocação de tanques dos viveiros para o tratamento de efluentes envolve um processo inicialmente guiado por considerações técnicas para alcançar um tempo estimado de retenção do efluente, que possa proporcionar a redução desejada da carga poluente. Posteriormente, ajustes menores poderiam ser efetuados, re-alocando tanques para obter uma combinação de área e volume suficiente para alcançar as metas de tratamento no modelo proposto. O modelo de manejo geralmente encontrado atualmente (Figura 1) contrasta com o modelo proposto (Figura 2).

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Figura 1 – Modelo de manejo encontrado atualmente

Figura 2 – Modelo Proposto: re-alocação de tanques para o tratamento de efluentes e uso de produtos biológicos para tratamento de tanques e efluentes

No modelo em tela, para o tratamento de efluentes consideram-se apenas medidas que não envolvem soluções com alto índice de tecnologia ou elevados custos

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adicionais. Instalações (tanques e lagoas dos viveiros) e equipamentos existentes (bombas, aeradores, etc.) serão utilizados para obter um tempo mínimo de retenção do efluente, suficiente para alcançar a redução necessária dos parâmetros controlados de material orgânico. A adição de produtos biotecnológicos é uma medida adicional para otimizar o desempenho destas instalações e equipamentos, para fins de tratamento de efluentes. Uma primeira aproximação para a re-alocação de tanques de viveiros para o tratamento de efluentes deve ser de pelo menos 10% da área produtiva. Desta forma, dependendo do fluxo médio de água nos demais tanques, é possível obter tempos de retenção de efluentes da ordem de dias, suficientes para permitir que processos biológicos efetuem uma significativa redução dos níveis de DBO, nas condições típicas encontradas em cada local. Estes prazos também são geralmente suficientes para produzir uma significativa clarificação da água (redução de sólidos em suspensão), um dos benefícios associados ao tratamento biológico dos efluentes. Para estes fins, é possível utilizar instalações que não estejam adequadas para fins produtivos, por problemas ou deficiências operacionais ou de equipamentos, ou até mesmo por causa de uma contaminação biológica indesejável. Tanques que sofreram infestações, e que normalmente seriam retirados da linha de produção, ainda podem servir para fins de tratamento de efluentes, já que não afetariam a produção, e procedimentos normais geralmente incluem a lavagem destes tanques, com o efluente sendo dirigido para o descarte no mar. Estes tanques também podem ser utilizados para a criação de peixes, ao mesmo tempo em que estão servindo como sistemas de tratamento de efluentes, pois diversas espécies, como Tilápia, Chanos, sp. e Mugil sp., se adaptam nestas condições, em densidades de população relativamente baixas, mas ainda com algum valor comercial. Esta re-alocação de tanques, portanto, não representa, na prática, um ônus elevado para empreendimentos comercialmente viáveis. Nos tanques de engorda, a inoculação com culturas microbianas comercialmente disponíveis induz a biodegradação do excesso da matéria orgânica por microrganismos especialmente selecionados, reduzindo a DBO da água dos tanques e proporcionando condições para o aumento do oxigênio dissolvido. À medida que estes produtos biológicos estabelecem um novo equilíbrio desejável de populações microbianas, eles inibem o crescimento de microrganismos nocivos ou indesejáveis, como Vibrio, certos tipos de vírus, bactérias, fungos, parasitos, etc. A competição destes organismos por recursos como nutrientes dissolvidos, também ajuda a impedir blooms nocivos de algas. A filtração da água ou a coleta com peneiras ou outros implementos, dos organismos maiores ou bioflocos, para atingir e manter o equilíbrio biológico, são geralmente trabalhosos e pouco eficazes, dada a rapidez com que este pode ser desestabilizado. O uso de produtos biológicos contribui para a manutenção da o biota saudável através da inoculação com culturas microbianas especialmente desenvolvidas para competir favoravelmente nestes ambientes. Estes produtos também estão isentos dos problemas associados ao uso de biocidas e outros agentes potencialmente nocivos aos camarões. Culturas microbianas especialmente desenvolvidas para aplicação na carcinicultura também são eficazes na redução dos níveis de amônia e nitrito na água.

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Os camarões, como muitos outros animais, são altamente susceptíveis a níveis de amônia de apenas frações de partes por milhão. Concentrações elevadas podem causar mortandade, mas mesmo concentrações de 0,1 ppm podem afetar o estímulo fisiológico para a alimentação, impedindo a engorda e causando prejuízos consideráveis. A redução da toxicidade devido ao controle dos níveis de amônia e nitrito é, portanto, muito importante para melhorar a conversão alimentar e reduzir a duração dos ciclos de produção. Aqui cabe salientar que os principais conceitos da biotecnologia, no sentido em que se aplica ao tratamento biológico de águas de processos industriais, são os da bioestimulação e da bioaumentação. O primeiro termo, a bioestimulação, se refere à adição de produtos químicos, não microrganismos, para estimular processos biológicos, especialmente através da adição de nutrientes e fatores críticos ao desenvolvimento de microrganismos identificados como úteis no processo desejado. Este termo também contempla medidas que visam modificar condições físicas que possam estimular os processos desejados. O segundo termo, a bioaumentação, se refere à adição de microrganismos em si, freqüentemente em combinações duas ou mais cepas que juntas resultam em efeitos mais notáveis do que os promovidos por cepas individuais. A bioaumentação não exclui a possibilidade da adição conjunta de produtos químicos, nutrientes e outros, conquanto o objetivo seja o de estabelecer determinados processos biológicos através da adição de populações especificamente selecionadas, modificando a população microbiana existente e promovendo os processos biológicos desejados. O grande benefício do uso da bioaumentação para tratar a água dos tanques de engorda é que a água tratada apresenta melhores condições sanitárias para os animais, protegendo sua saúde, permitindo uma alimentação plena e impedindo que os estresses fisiológicos comprometam sua saúde e desenvolvimento, mesmo nos sistemas de produção intensiva. O aumento da produtividade na engorda, com o uso de produtos biotecnológicos, tem sido da ordem de 5-10%, mostrando alto retorno financeiro, especialmente nos sistemas de produção mais intensivos. Na Malásia, o uso destes produtos biotecnológicos, mesmo em criações com uma produtividade relativamente baixa (aproximadamente 2 t ha-1), gerou um retorno adicional de US$ 660 ha-1 ciclo-1 para cada US$ 200 ha-1 ciclo-1 de custo de produto aplicado (Yin-Geng et al, 1997). Para criações mais intensivas, o retorno financeiro seria ainda maior, dado que o investimento em produtos bioquímicos é aproximadamente fixo, enquanto o aumento da produtividade apresenta um maior gradiente, gerando retornos estimados de até US$ 1.500 ha-1 ciclo-1 (Hong, 2002). A implantação do adensamento nos tanques deve ser gradual, sendo que no primeiro ciclo o produtor deve apenas re-alocar os tanques para tratamento dos efluentes, estabelecendo os parâmetros de descarga com mínimo impacto. Em cada novo ciclo maiores taxas de adensamento podem ser alcançadas com o acúmulo da experiência deste processo interativo. Na Malásia os maiores incrementos de produtividade foram observados a partir do terceiro ciclo (Hong, 2002).

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3. Considerações Finais A carcinicultura tem gerado importantes benefícios econômicos e sociais, e deve continuar sendo uma atividade cada vez mais importante para diversas comunidades costeiras. Infelizmente, esta atividade também tem causado a degradação de ambientes marinhos e costeiros, e isto representa um risco potencial para sua sustentabilidade no futuro. Para preservar essa indústria, a legislação pertinente aos efluentes deve apresentar requisitos similares aos de outros processos industriais, tais como plantas petroquímicas, mineração, destilarias de álcool, e suinoculturas. O ganho de qualidade, para os produtos da carcinicultura, através de uma nova legislação ambiental mais adequada, envolve benefícios reconhecidos pelos mercados consumidores. A prevenção de doenças dos camarões é mais eficaz no controle de seus efeitos do que medidas paliativas. Da mesma forma, a manutenção das condições favoráveis ao seu desenvolvimento fisiológico é mais eficaz do que medidas de controle de eventuais desequilíbrios químicos e biológicos da água dos tanques de engorda. Os produtos biotecnológicos recentemente disponíveis representam uma ferramenta com potencial para enfrentar os problemas químicos e biológicos que afetam a produtividade em empreendimentos de carcinicultura, assim como para fazer frente aos desafios impostos por novas legislações que devem surgir, para atender as preocupações com relação ao efeito dos efluentes destas instalações. A biotecnologia pode compensar os efeitos de uma legislação mais restritiva (Figura 3).

‐1

Poodutividade (ton ha ) 

 

8  6  4  2  0  Situação atual

Projeção com a  Projeção com a  aplicação da  aplicação do novo  legislação restritiva modelo 

Figura 3 – Projeção dos cenários de produtividade da piscicultura frente à aplicação de uma legislação restritiva e com o uso da biotecnologia como ferramenta para estabelecimento de modelos de produção ambientalmente sustentáveis (Fonte: Elaboração própria).

A produção com base em modelos ambientalmente sustentáveis, onde o tratamento dos efluentes é uma parte integral do processo de produção, permite imaginar que conceitos de mercado, como o selo verde para a produção derivada destes processos, possam trazer valor agregado para estes produtores. O conceito de valor diferenciado para produtos de procedência ambientalmente correta já está consagrado, especialmente nos mercados consumidores, como a Europa e os EUA. Desta forma, a carcinicultura poderá continuar assumindo um peso ainda mais importante na economia brasileira, ao mesmo tempo em que práticas ambientalmente corretas darão sustentabilidade, ampliando oportunidades econômicas para

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comunidades locais e minimizando os impactos negativos ao meio ambiente. A regulamentação do sistema produtivo, com o estabelecimento de critérios de descargas de efluentes, ajudará a garantir o mínimo impacto. A proposta de avanço tecnológico na produtividade e na gestão ambiental reduzirá as pressões de conversão desenfreada de áreas de preservação, garantindo uma sustentabilidade econômica, ambiental e social.

Referências Bibliográficas A Notícia. 2002. Cultivo de camarão cresce no Sul do Estado. A Notícia, 20/01/2002, http://www1.an.com.br/2002/jan/20/0ecc.htm. Associação Brasileira de Criadores de Camarão - ABCC. 2007. Evolução do desempenho da carcinicultura brasileira. Disponível http://www.abccam.com.br/estat24.htm, acesso em 01/02/2008. Agência Brasil. 2007. Técnico da Secretaria de Aqüicultura defende nova política para produção de camarão cultivado, http://www.agenciabrasil.gov.br, 01/06/2007. Avnimelech, Y., and G. Ritvo. 2003. Shrimp and fish pond soils: Process and management. Aquaculture 220(1-4): 549-567. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES. 2006. III Simpósio Internacional sobre a Indústria do Camarão Cultivado. Revista do BNDES 13(26): 309-314. Clifford, H.C., and H.L. Cook. 2002. Disease management in shrimp culture ponds – Part 3, Aquaculture Magazine 28(4) - http://www.enaca.org/Shrimp/DiseaseManagement.doc. Environmental Justice Foundation - EJF. 2004. Farming the sea, costing the earth: Why we must green the blue revolution. E.J.F., London, UK. Guerra, P. 2002. Carcinicultura: Cultivo do camarão marinho é opção de exploração econômica. Revista Gleba Ano 47(183): 12. Hong, T. C. 2002. Case histories of Malaysian shrimp farms. Hydroventure S/B, Malaysia. Jones, C.M., e J.D.A. Dourado. 2003. Aumento da produtividade da carcinicultura e redução de lançamentos de resíduos. II Congresso sobre Planejamento e Gestão da Zona Costeira dos Países de Expressão Portuguesa, 12 a 19 de Outubro de 2003, Recife, PE, Brasil. Sampaio, Y. e E. Couto. 2003. Geração de empregos diretos e indiretos na cadeia produtiva do camarão marinho cultivado. Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, Departamento de Economia. Yin-Geng, W., H.M. Daud, and M. Shariff. 1997. Management of Shrimp Diseases in Malaysia. Proceedings of the Sustainable Development Seminar of Mariculture Industry in Malaysia, July 30-31, 1997, Kuala Lumpur, Malaysia.

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