A CABALA E A NOVA ALQUIMIA - Transformando matéria em sentimento

June 5, 2017 | Autor: Antonio Luiz | Categoria: Física Quântica, Metafísica, Cabala
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A CABALA E A NOVA ALQUIMIA Transformando matéria em sentimento

Fred Alan Wolf

Tradução Leandro Woyakoski

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Copyright © Fred Alan Wolf, 2002 Copyright © Aleph, 2009 (edição em língua portuguesa para o Brasil)

TÍTULO ORIGINAL: Matter into feeling CAPA: Broner d/a REVISÃO TÉCNICA: Adilson Silva Ramachandra PREPARAÇÃO DE TEXTO: Ana Cristina Teixeira REVISÃO: Mônica Reis PROJETO GRÁFICO: Neide Siqueira EDITORAÇÃO: Join Bureau COORDENAÇÃO EDITORIAL: Débora Dutra Vieira DIRETOR EDITORIAL Adriano Fromer Piazzi

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios.

ALEPH PUBLICAÇÕES E ASSESSORIA PEDAGÓGICA LTDA. Rua Dr. Luiz Migliano, 1.110 – Cj. 301 05711-900 – São Paulo – SP – Brasil Tel: [55 11] 3743-3202 Fax: [55 11] 3743-3263 www.editoraaleph.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Wolf, Fred Alan A cabala e a nova alquimia : transformando matéria em sentimento / Fred Alan Wolf ; tradução Leandro Woyakoski. – São Paulo : Aleph, 2009. – (Série novo pensamento) Título original: Matter into feeling : a new alchemy of science and spirit Bibliografia ISBN 978-85-7657-073-8 1. Cabala 2. Corpo e mente 3. Emoções 4. Filosofia da mente 5. Matéria I. Título.

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CDD-110 Índice para catálogo sistemático: 1. Corpo e mente : Cabala : Metafísica : Filosofia 110 2. Matéria espírito : Cabala : Metafísica : Filosofia 110

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

Transformando matéria em sentimento

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CAPÍTULO 1

A ilha de sentimentos chamada corpo

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CAPÍTULO 2

Do sonho à realidade

43

CAPÍTULO 3

A onda do sentimento

59

CAPÍTULO 4

Um pregador de peças em nossa memória

87

CAPÍTULO 5

A curva da vida

111

CAPÍTULO 6

Sexo: a informação que vem do futuro

127

CAPÍTULO 7

O olho do universo

141

CAPÍTULO 8

Da possibilidade à personalidade e alma

153

CAPÍTULO 9

A estrutura do amor no universo

163

NOTAS

179

BIBLIOGRAFIA

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ÍNDICE REMISSIVO

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INTRODUÇÃO

Transformando matéria em sentimento

Será que iremos conseguir realizar, em um plano mais elevado, o velho sonho alquímico da unidade psicofísica, pela criação de um conceito fundamental unificado para a compreensão científica do físico e do psíquico? Wolfang Pauli, físico

O objetivo do meu livro anterior, A conexão entre mente e matéria, era mostrar que no interior do corpo e da mente existe uma história majestosa recheada de drama, phátos, humor, inteligência, fantasia e realidade. Se, por um lado, trata-se da nossa própria história, por outro, também é a história do universo inteiro, sua criação, transformação e propósito final. Mostrei como essa história chamada “você” se desdobra, criando um panorama da vida, literalmente um “universo-você”. Explorei como as operações básicas do que chamo nova alquimia – pensar, perceber, sentir e intuir – criam e dão forma à matéria-prima da vida consciente e inconsciente. E vimos que trabalhar essa matéria-prima dá origem às forças que transformam o mundo e a nós, sendo elas: criação, animação, resistência, vitalidade, repetição, oportunidade, unificação, estrutura e transformação. O intuito final desse processo é a transmutação da informação em matéria; matéria que vem da mente (um vasto campo de influência comumente concebido como a Mente de Deus).

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Dessa maneira, pode-se considerar A conexão entre mente e matéria como uma introdução ao que os antigos chamavam “grande obra” da nova alquimia. E, agora, já tendo apresentado a nova alquimia, muito ainda falta a ser explorado. Por exemplo, podemos nos perguntar: “como usar as ferramentas apresentadas em A conexão entre mente e matéria para mudar a nós mesmos? Como perceber essas forças transformadoras? Como levar uma vida espiritual mais frutífera e criativa?” A compreensão da nova alquimia confere novas formas para as forças transformadoras criativas entrarem no jogo. Enquanto a transformação da mente em matéria trabalha com imagens primárias ou arquetípicas e os meios pelos quais essas imagens ganham materialidade, a próxima fase da grande obra é a transformação da matéria recém-formada em sentimento. É aqui que iremos começar a sentir a vida em nossos corpos, como todos os seres vivos sentem. O sentimento vai além dos sentidos e pode ser imaginado como a consciência fundamental, por meio da qual todos os outros sentidos se desenvolvem. O sentimento é resultado do incessante “zumbido” da vida. Em A conexão entre mente e matéria, apresentei a noção de Adam Kadmon: o homem arquetípico e universal. Esse Adam, ao contrário do Adão original da Bíblia, é capaz de compreender de uma única vez o espírito, a matéria e os plenos poderes da transformação. O que torna Adam Kadmon diferente do Adão bíblico pode ser resumido em apenas uma palavra: sentimento. O Adão do Livro do Gênesis parece quase um autômato, incapaz de qualquer sentimento real, exceto, talvez, o sentimento de vergonha que ele e Eva experimentaram ao serem expulsos do Jardim do Éden. Adam Kadmon, o Homem Universal, por sua vez, consegue sentir por inteiro todas as possibilidades transformadoras que guarda dentro de si. Dessa maneira, podemos dizer que Adão representa a primeira fase da transformação – da mente em matéria –, enquanto Adam Kadmon representa a segunda fase – da matéria em sentimento. ***

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Introdução

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Como na obra A conexão entre mente e matéria, A Cabala e a nova alquimia está dividida em nove capítulos, representados pelas nove letras-símbolos do alfabeto hebraico, ou “aleph-bayt”. Em A conexão entre mente e matéria, abordamos os arquétipos do espírito, representado pelo aleph (‫א‬, 1), por meio da estrutura, representada pelo tayt (‫ט‬, 9). Agora, aqui, iremos nos ocupar de seu desenvolvimento; sua transformação de sementes em jovens brotos. Isso é realizado na Cabala* pela multiplicação de cada letra-símbolo pelo número dez. Como a letra-símbolo para o dez em hebraico é o yod, que significa existência, vemos que a multiplicação por dez das nove letras-símbolos arquetípicas as transporta à existência, ou, como digo, transforma a matéria em sentimento. Assim o aleph (‫)א‬, representando o número um, transforma-se em yod (‫)י‬, o número dez; bayt (‫ב‬, 2) transforma-se em khaf (‫כ‬, 20); ghimel (‫ג‬, 3) transforma-se em lammed (‫ל‬, 30); dallet (‫ד‬, 4) transforma-se em mem (‫מ‬, 40); hay (‫ה‬, 5) transforma-se em noon (‫נ‬, 50); vav (‫ך‬, 6) transforma-se em sammekh (‫ם‬, 60); zayn (‫ז‬, 7) transforma-se em ayn (‫ע‬, 70); hhayt (‫ה‬, 8) transforma-se em phay (‫מ‬, 80); e o tayt (‫ט‬, 9) transforma-se em tsadde (‫צ‬, 90). Revisarei essas transformações na abertura de cada capítulo e explicarei, de forma mais detalhada, o que significam. O redimensionamento das letras-símbolos leva à experiência, à vida, à realidade e assim por diante, com os símbolos ganhando vida. A Cabala e a nova alquimia, então, examina o movimento contínuo dos nove arquétipos – sementes do mental em material – em direção aos símbolos vivos, literalmente uma transformação da matéria – englobando a mente – em vida, em sentimento e na consciência da matéria. Perceba que, quando juntamos duas letras-símbolos para indicar a transformação de uma na outra, elas costumam formar uma palavra hebraica que simboliza essa transformação. No hebraico antigo devem ter existido mais exemplos de combinações entre palavras e o significado * Ainda que a origem etimológica da palavra – do hebraico Qabbalah – permitisse grafá-la com a letra “Q” (Qabala), optou-se aqui por seguir a grafia mais aceita na língua portuguesa, com “C”, tal como está dicionarizada. [N. do E.]

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sagrado das letras. Procurando exemplos, recorri a um moderno dicionário hebraico/inglês para encontrar estas palavras, relacionadas a seguir, que exemplificam a transformação. Quando não foi possível encontrar uma palavra, utilizei a definição da Cabala para os símbolos: aleph em yod (‫ א‬em ‫ ;י‬1 em 10) ilha – o movimento rumo à identidade pessoal; bayt em khaf (‫ ב‬em ‫ ;כ‬2 em 20) nascimento – o movimento do sonho à realidade; ghimel em lammed (‫ ג‬em ‫ ;ל‬3 em 30) onda – o movimento da onda ao sentimento; dallet em mem (‫ ד‬em ‫ ;מ‬4 em 40) sangue – o movimento do pregador de peças; hay em noon (‫ ה‬em ‫ ;נ‬5 em 50) curva da vida – o movimento em busca do equilíbrio; vav em sammekh (‫ ך‬em ‫ ;ם‬6 em 60) menstruação – o movimento da energia sexual; zayn em ayn (‫ ז‬em ‫ ;ע‬7 em 70) observação – o movimento do universo hhayt em phay (‫ ה‬em ‫ ;מ‬8 em 80) pureza – o movimento do ser para a alma; tayt em tsadde (‫ ט‬em ‫ ;צ‬9 em 90) a estrutura do amor – o movimento da vida.

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Introdução

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Ao trazer a mente à matéria, tivemos de lidar com a resistência e o elemento enganador Agora, do mesmo modo, devemos lidar com os conflitos e a resistência que enfrentamos em nossas vidas conforme tentamos entender o mundo e aprender a suportar nossas necessidades materiais, vícios, altos e baixos, sucessos e fracassos. Para muitos de nós, que trilham o caminho da espiritualidade, a grande obra fica estagnada aqui: vivemos e morremos sem perceber que as outras fases da transformação são possíveis. Em outras palavras, somos enganados por nossos apetites. Para dar o salto, para perceber as fases remanescentes, é preciso compreender que a vida “estagnada” é apenas uma fase, na mesma medida em que um acesso de raiva de uma criança não passa de um “instante”. O movimento que leva da matéria ao sentimento é a segunda fase. E meu objetivo com A Cabala e a nova alquimia é guiá-lo nesse caminho.

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‫( א‬aleph, 1) em ‫( י‬yod, 10)

O Livro do Gênesis apresenta a atemporal e metafórica batalha da matéria com o espírito – a contínua história do homem agindo contra Deus. Essa história ecoa em vários cenários bíblicos, inclusive em Adão e Eva, que deliberadamente ignoram Deus no Jardim do Éden; no sacrifício de Isaac por Abraão; e na proibição imposta por Deus a Moisés, impedindo-o de entrar no novo mundo. O alfabeto hebraico oferece letras-símbolos dessa guerra entre matéria e espírito: aleph, representando o espírito desencarnado, e yod, representando o espírito contido e limitado na matéria que, devido ao seu orgulho, luta contra a própria coisa que o trouxe à realidade. E, assim, a transformação de aleph em yod é simbolizada pela palavra ilha – o movimento rumo à identidade pessoal.

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CAPÍTULO 1

A ilha de sentimentos chamada corpo

Nenhum homem é uma ilha, completo em si mesmo; todos são parte do continente. John Donne

A exemplo de Narciso, punido pela deusa Nêmesis por resistir aos apelos de Eco1, o espírito incrustado na matéria como self – significando a consciência do corpo – resiste ao chamado do espírito. Agindo dessa maneira, o espírito encarnado faz uma distinção básica: ao reconhecer a si mesmo como matéria, fica extasiado, perdido na imagem de si mesmo separado do espírito. É uma ilusão poderosa. Assim, todos nós, enquanto self, começamos o processo que durará toda uma vida; um processo de distinção entre uma coisa e outra, por meio do qual obtemos alegria e sofrimento. A capacidade de realizar essa ação, de fazer discriminações objetivas, constitui a inteligência científica e ela é necessária à sobrevivência material. A diferença entre inteligência científica e inteligência espiritual reside nessa capacidade de discernimento, e esses dois modos de experiência parecem produzir uma complementaridade. Explicando melhor: na física quântica, o princípio da complementaridade menciona que o universo físico não pode ser conhecido de modo separado do que o observador deseja observar. Além disso, essas escolhas recaem sobre dois grupos distintos ou complementares

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de pontos de observação, ditos observáveis. Ao observar um desses pontos se exclui necessariamente a possibilidade da observação simultânea do seu complemento. Assim, por exemplo, a observação da localização e a observação do movimento de uma partícula subatômica criam observáveis complementares, de onde a observação de um cria a indeterminação ou a incerteza do outro. Dessa maneira, quanto mais objetivos formos em nossas observações, mais dificuldade teremos em lidar com o espírito e mais atraídos seremos pelo mundo material.2 De modo oposto, quanto mais despertarmos para a espiritualidade, menos iremos nos preocupar com a existência material. É verdade que os cientistas dominaram a habilidade de encontrar partículas de matéria autônomas com propriedades diferentes; no entanto, também observaram que todo elétron se comporta exatamente do mesmo modo, e que um átomo não apresenta qualquer diferença química de outro átomo de mesmo número atômico. Hidrogênio é hidrogênio, cobre é cobre, não importa por onde andem.3 Esse princípio de identidade científica parece ser invariável no universo e indica que a matéria apenas existe segundo leis estruturais básicas. Sob este prisma, embora a matéria seja vista como partículas separadas, o fato de serem partículas idênticas demonstra que esta separação é ilusória. Os cientistas poderiam ter imaginado todo tipo de matéria4, mas algo os levou a encontrar uma base racional elementar para tudo que vivenciamos como matéria, que acabou fazendo com que ela fosse percebida somente de forma objetiva. Mas, com o surgimento da física quântica, a ciência desnudou a natureza subjetiva da realidade, descobrindo que tudo estava ligado e que tudo tinha a mesma identidade, como se fosse espelhada, e, isso, no sentido da construção de partículas idênticas, indicava a unidade de toda a matéria. A ciência também mostrou que uma realidade mais profunda e não material desempenhava um papel importante em determinar com qual objetividade a matéria se comportava.

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Entretanto, apesar da irrefutável prova da unidade material e do reconhecimento dessa base mais profunda e não material, os cientistas, com algumas notáveis exceções5, ainda entendem como inquietante a temática espiritual. Desse modo, a batalha do espírito, com seu reflexo na matéria, prossegue. E, juntos, matéria e espírito, fazem do mundo uma série de “ilhas” separadas. Toda ilha vê a si mesma e as outras ilhas como diferentes. Assim, desde que nascemos, começamos a nos ver como seres isolados, ilhas separadas, aparentemente à deriva, no vasto oceano da vida. Neste capítulo, iremos explorar a natureza da “formação das ilhas” e a maneira como surgem as ilhas individuais a que chamamos vidas separadas. Veremos como ter sentimentos – a instalação da mente no corpo – nos oferece, por um lado, a experiência que chamamos vida e, por outro, cria em todos nós um sentido de solidão e separação dos outros. Iremos também aprender a ver, mesmo que vagamente, que todos continuamos sendo um. Podemos nos ver como ilhas, mas, na realidade, formamos um continente de vida.

O EGO, O ESTRESSE E SEU ALÍVIO Narciso morre à beira do rio contemplando seu reflexo. Todos sofremos uma enfermidade similar quando contemplamos a imagem do que chamamos corpo. Ao contrário de Narciso, contudo, não ficamos imobilizados em um único lugar, encantados com nosso reflexo. Nós seguimos em frente, sempre lamentando a perda, enquanto sentimos falta do eco de nossa alma – o chamado que nosso espírito dirige a nós mesmos. Vivemos um estresse permanente, proveniente da ansiedade do conflito contínuo entre matéria e espírito (corpo e alma). Alguns podem criticar essa ideia, afirmando que, por meio de técnicas especiais, da meditação, da prática espiritual ou apenas sendo boas pessoas podemos experimentar algum alívio desse estresse. Mas, tal como

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o sofrimento de Narciso, o estresse a que me refiro precisa originar-se de forma continuada da oposição entre espírito e corpo. A batalha resulta num eterno conflito que todos percebemos como sendo parte do sofrimento humano, sofrimento este que temos em comum. No entanto, e de modo irônico, é essa situação que faz a vida valer a pena e conduz ao maravilhoso drama de nossa realidade cotidiana. A condição humana depende do crescimento do estresse espiri– tual. E é aqui que a mente entra no jogo: mais do que qualquer outra causa, os pensamentos amplificam esse estresse e, mais importante do que todos os outros cuidados médicos, um bom hábito mental promove o alívio dessa amplificação. E como bom hábito mental estou me referindo simplesmente a pensar de maneira positiva em relação a toda situação que surgir à nossa frente, mesmo quando for necessário ter uma visão crítica. Enquanto a existência humana depende do pensamento humano, o pensamento depende do autoconceito – dos nossos egos. Sigmund Freud nos deu a concepção básica de ego, mas ele estava tão envolvido pelo materialismo, ao tentar provar cientificamente a existência do ego como algo real, que se prendeu na armadilha da objetividade científica. Desde então, o conceito de ego vem passando por muitas revisões. As ideias de Freud, ao lado de conceitos mais recentes de professores espirituais como Da Free John6, J. Krishnamurti, Paramahansa Yogananda e pela entidade desencarnada Seth, deram-me uma compreensão clara da física quântica na construção do ego.

O ego freudiano Freud entendia o ego como uma construção dentro da psique (ou alma)7 que provinha de um constructo psíquico anterior a que chamou id. Ele imaginava o id como o aparelho psíquico mais antigo, uma ideia nascida de sua hipótese básica segundo a qual todo ser humano

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tem uma vida mental interior que se expressa por meio de um aparelho psíquico. Para Freud, esse aparelho tinha existência material, possuindo tanto extensão espacial quanto temporal. Freud nunca aludiu de onde o id provinha ou do que ele era feito. Segundo ele, o id “contém tudo que é herdado, tudo que está presente no nascimento e é formulado na constituição – mais importante, portanto, do que os instintos, originários de uma organização somática e que encontram aqui [no id] sua primeira expressão psíquica num formato desconhecido para nós”.8 Em termos materialistas, Freud via o id e o ego desse modo: o ego é proveniente do id porque este precisa fazer a interface com o mundo “real” de estímulos e sensações. A parte do id, chamada ego, passa por uma transformação especial. A partir da superfície do córtex cerebral – ou seja, de uma camada cortical –, origina-se uma organização especial que atua como zona intermediária entre o id e os estímulos do mundo exterior. O ego, em resultado da conexão preestabelecida entre a percepção dos sentidos e a ação muscular, possui movimento voluntário ao seu comando. O ego possui a tarefa da autopreservação, uma função que pode ser realizada pela aceitação ou rejeição aos estímulos, pela memória, pela adaptação e pelo aprendizado. O ego opera dentro do id exercendo o controle sobre as demandas do id (os instintos), escolhendo quais satisfazer, adiando a satisfação do id e avaliando as tensões produzidas pelos estímulos. Além disso, consegue diferenciar as tensões em termos do que é sentido como dor (não-prazer) e prazer. O sentimento de prazer existe como um padrão vibracional entre dois polos de tensão, pontos de dor e prazer. Um aumento do estresse é sentido como dor, e uma redução, como prazer. Em sua teoria dos instintos, Freud defendeu que as tensões principais são provenientes não dos pontos de dor e prazer, mas sim de dois instintos básicos: amor e morte. Devemos muito ao gênio de Freud. Desde sua época, ego se tornou palavra importante no vocabulário ocidental e assunto de muita refle-

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xão para o homem racional. Mas, hoje, entendemos que o ego se apresenta como uma interface entre espírito e matéria. A seguir, abordarei algumas das ideias mais recentes sobre o ego.

O Ego espiritual Da Free John considera o ego freudiano um constructo devastador que impede os seres humanos de realizar seu deus interior.9 Ele afirma que todos nós vivemos em estresse egoico. O ego, argumenta, é um processo de reação controlada às circunstâncias da vida nos âmbitos físico, emocional e mental – a ação do ego é produzir estresse. E o estresse, explica, é fácil de ser criado, seja pela frustração da ação do self, seja pelo medo de realizar a ação. O estresse, portanto, é liberado quando a ação é concretizada ou quando relaxa, dando vazão à frustração. Para obter essa liberação, é preciso aprender a reconhecer quando a tensão está num crescente, uma compreensão conquistada pelo autoconhecimento. Parece fácil, mas poucos sabem quando estão ficando estressados. Na verdade, notar que estamos tensos e, simultaneamente, sentir esse estresse é como o velho truque de coçar a barriga e afagar a cabeça ao mesmo tempo. Um exemplo típico é quando uma pessoa lhe diz algo muito desagradável. Você pode reagir ficando zangado ou se sentindo deprimido; e, embora saiba o que está sentindo, em geral não tem conhecimento de que uma tensão foi criada por essas sensações. Em outras palavras, você sente, mas não sabe que sente. Por exemplo, todos já vimos uma pessoa zangada negar o que está sentindo. Num primeiro momento, podemos pensar que a pessoa está mentindo. “Ela deve saber que está zangada”, dizemos, “então por que não conta a verdade”? Mas, do seu ponto de vista, você tem objetividade, algo que a pessoa zangada não tem. Não se esqueça: reconhecer um sentimento e o sentimento em si são coisas complementares.10 Saber que se tem um sentimento irá alterar esse sentimento.

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Paramahansa Yogananda descreve o ego como sendo a causa básica do dualismo – a aparente separação entre o homem e seu criador.11 Segundo Yogananda, o ahankara (desejo) deixa os seres humanos sob o governo de maia (ilusão cósmica), por meio da qual o sujeito (ego) aparenta falsamente ser um objeto. J. Krishnamurti sugere que nossos cérebros, quando examinados em conjunto, são muito antigos. Um cérebro humano não é um cérebro em particular; não pertence a ninguém. Ao contrário, o cérebro evoluiu no decorrer de milhões de anos. Em consequência, existe padrão embutido para o sucesso e a sobrevivência que permanecem até hoje, mas que podem ser obsoletos. Um desses padrões é o ego e suas tendências.12 A entidade espiritual desencarnada Seth, canalizada por Jane Roberts, descreve o ego como especializado em expansões de espaço e manipulações.13 O ego se desenvolveu em ambientes tribais como uma especialização necessária, permitindo que as informações dos sentidos fossem diferenciadas emocionalmente ou não. As tribos se formavam e seus membros eram considerados como pertencentes ou não a ela. A consciência tribal foi o primeiro ego grupal. Mais tarde, conforme a consciência grupal se restringia devido ao aumento da consciência individual movida pela adaptação evolucionária, a consciência não foi capaz de lidar com o ego tribal e começou a ocorrer a individuação.

UM MODELO FÍSICO-QUÂNTICO DO EGO E o que todas essas definições de ego querem nos dizer? Que precisamos reconhecer que o ego é dinâmico, mudando segundo os sentimentos da pessoa. Todos conhecemos os termos “ego destruído” e “grande ego”. Baseado nessas expressões do senso comum, podemos afirmar que, se uma pessoa se sente expansiva, o ego realmente se expande e ela experimenta um sentimento de exaltação. Vou explicar isso

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mais adiante, mas percebam que com ego inflado não me refiro à noção junguiana de inflação, no sentido de encher-se de orgulho. De fato, é mais provável que a inflação junguiana resulte de uma lufada no ego, redundando, paradoxalmente, em sua contração. Se uma pessoa se sente contida, o ego passa por uma contração, possivelmente uma depressão ou sentimento de humildade ou compaixão. Quero expandir (notem o trocadilho) essa imagem metafórica do ego apresentando um modelo baseado na física quântica. A física quântica trabalha com formas matemáticas imaginárias, que representam possibilidades físicas no mundo real. Nosso modelo da física quântica representa possibilidades psicológicas que podemos sentir quando nossos egos estão envolvidos nas transações da vida. Tal como os modelos da física quântica determinam e representam a estabilidade e o comportamento energético da matéria, este modelo vai determinar e representar o comportamento da estabilidade e do sentimento da mente. Creio que isso sugere que o ego parece real, não físico – ele não é um objeto material, e sim apenas um constructo da mente. Dessa maneira, o local ideal para encontrar o ego seria o domínio do imaginário, o mundo matemático da física quântica. Aqui, o ego aparece como uma superfície fechada, como a face de uma esfera ou os seis lados de um cubo. Em geral, qualquer objeto encerrado no interior de um espaço delimitado terá um ego.14

As partículas têm egos Muitos físicos acreditam que toda matéria é composta de luz aprisionada15, uma crença representada pela famosa fórmula de Einstein E = mc2. Segundo essa equação, quando a matéria emite energia na forma de luz, perde algo de si – sua massa diminui. Assim, a matéria é imaginada como sendo luz aprisionada.

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Em um de meus livros anteriores, Star wave, especulo porque sentimentos humanos, como amor e ódio, podem ser descritos por meio de sentimentos básicos mais simples e primitivos encontrados nas transformações matéria-luz dos elétrons.16 Por exemplo, o ódio (que uso como sinônimo do desejo de isolamento) está relacionado ao fato de que dois elétrons nunca poderão existir no mesmo estado quântico. O amor é explicado pelo comportamento das partículas luminosas, os fótons. Todos os fótons tendem a entrar no mesmo estado se tiverem esta chance; dessa maneira, no sentido físico, a frase “a luz é amor” não é exagero. Assim, o amor representa as pessoas que tendem a ficar num estado unificado de consciência, como, por exemplo, os apaixonados que pensam da mesma forma, ou os indivíduos que buscam a unidade com Deus. De modo semelhante, todos sofremos de solidão e de outras dores ligadas aos nossos corpos materiais devido à propriedade de isolamento – ou ódio – dos elétrons. Os elétrons, compostos de luz aprisionada, desejam a liberdade e “sentem” algum tipo de sofrimento por causa desse confinamento.17 O sofrimento humano provém do sofrimento dos elétrons e surge do seu desejo de se tornarem luz novamente. Todos os sentimentos e emoções humanos estão firmados nessas propriedades simples da matéria; ou, talvez, melhor dizendo, à luz do espírito da nova alquimia, as propriedades físicas da matéria e as propriedades do sentimento que vivenciamos são provenientes de um lugar mais profundo onde mente e matéria não estão separadas.

O id quântico e seus sentimentos Como vimos, o id é o útero do ego, uma vez que, segundo Freud, o id é composto de estados atemporais que acompanham os níveis de energia do complexo sistema energético humano.18 Do id nascem emoções que fazem o corpo se movimentar e dão à luz sensações, o que

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significa que os estados de energia e os estados emocionais são a mesma coisa no corpo. Nesse sentido, quando o sentimento se expressa, a energia se transforma – ela muda de um formato para outro, como quando você se levanta de uma cadeira e transforma a energia química potencial do corpo em energia cinética ou de movimento. No entanto, nem tudo que é expresso de forma energética é sentido: o que chamamos sensação do sentimento provém da transformação da energia, e essa transformação requer uma rede neural complexa. Talvez seja útil enfatizar que sentimentos e sensações não são a mesma coisa. Estou usando esses termos da forma utilizada por Carl Jung. As sensações envolvem o movimento de elétrons ou de outras partículas eletricamente carregadas de um lugar para outro – como, por exemplo, no sistema nervoso, no cérebro ou nos músculos. Uma sensação implica a existência de um evento perturbador, como uma picada de alfinete na pele ou um grão de açúcar derretendo numa papila gustativa. Entre as sensações, encontramos a vibração, o calor, o frio, o sabor, o cheiro, a visão e o som.19 Para que uma sensação aconteça, alguma parte do corpo precisa registrá-la. As sensações ocorrem quando uma partícula interage com um mecanismo de registro do corpo, quase sempre uma terminação nervosa na pele ou, em se tratando da visão, na retina. Assim, a pele acusa a picada do alfinete, enquanto a língua faz o mesmo com o sabor. Os sentimentos, entretanto, correspondem à avaliação impensada de uma sensação (impensada não no sentido pejorativo, mas literalmente como ausência de pensamento). Podemos considerar, por exemplo, como “boa” uma vibração emanada de um amigo, ou como “má” quando proveniente de alguém hostil. Podemos sentir euforia antes de provarmos uma comida saborosa ou conforto ao sentir o calor na pele fria. E, se sentimentos envolvem sensações, uns não dependem dos outros. Também em sonhos ou recordações, podemos ter sentimentos sem sensações que as causem. Na nova alquimia, os sentimentos criam ondas, enquanto as sensações correspondem às partículas.

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Além disso, os sentimentos não seriam percebidos se as células nervosas fossem desprovidas de membranas divisórias. Os sentimentos produzem mudanças elétricas nas bordas das células nervosas que, por sua vez, se transformam em sensações. Assim, sentimentos “sentidos” são aqueles transformados em sensações; em outras palavras, quando os sentimentos são sentidos ou expressos, o corpo experimenta sensações. Sentimentos fortes produzem sensações indeterminadas, como, por exemplo, quando as pessoas não conseguem conter o riso em funerais por seu sentido de perda ser grande demais. De modo semelhante, as sensações fortes levam a sentimentos indeterminados sobre elas – pense, digamos, na primeira vez em que experimentou pimenta jalapeña. No entanto, podemos vivenciar determinados sentimentos e sensações simultaneamente, sem dificuldade. Podemos sentir alegria, por exemplo, quando seguramos um recém-nascido nos braços. Na maioria das vezes, essa capacidade ou incapacidade aparece por meio do princípio da complementaridade, pois diz respeito à onda de sentimento e à localização da partícula nas terminações nervosas onde brota uma sensação. Assim, determinadas combinações de sentimentos e sensações podem ser experimentadas ao mesmo tempo, e outras não. O que funciona e o que não funciona depende, em grande parte, de você e do formato do seu ego. O ego emerge de transformações energéticas expressas como sensações corporais. Por conseguinte, o ego não existe apenas no cérebro, mas atua como uma memória que indica onde as células têm fronteiras e quando sofrem mudanças espaciais. De algum modo, toda célula tem ego e, assim, toda entidade viva com uma superfície terá ego. Animais têm egos, bem como plantas, amebas e outras formas de vida unicelulares. Para compreender como o ego se origina e passa por mudanças ou transformações, precisamos examinar em detalhes um conceito que mencionei no começo deste capítulo, que é o efeito do observador – o mais importante fator da física quântica.

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O efeito do observador De acordo com o efeito do observador, o ato da observação é sempre acompanhado por um salto repentino e irreversível na coisa observada. Quando a luz de um átomo chega ao olho e sua energia é medida, o átomo, tendo anteriormente existido num estado atemporal de “sem energia” – ou, simplificando, como uma superposição de todos os possíveis estados energéticos com igual probabilidade –, de repente expele um estado energético específico por meio da emissão do fóton luminoso. Essa expulsão repentina origina-se de um salto quântico descontínuo entre esses dois estados. Nenhuma lei física determina qual energia específica será emitida; mas permanece o fato de que nós, como observadores, de alguma forma, determinamos isso. Por exemplo, esses saltos quânticos podem ocorrer em formas diferentes e complementares, dependendo dos meios como se pretende observá-los. Constatamos, assim, como a lei da complementaridade da física quântica opera para dar forma à nossa vida cotidiana, moldando os átomos com os quais interagimos. Na complementaridade da nova alquimia, todo pensamento compreende uma ampla gama de sentimentos em potencial e todo sentimento compreende uma ampla gama de pensamentos em potencial. O estado energético de “sentindo-se bem”, por exemplo, é composto por estados de pensamento complementares como “eu me sinto bem” e “eu me sinto péssimo”. Assim, quando começamos a questionar os sentimentos, ou seja, quando passamos a examiná-los por meio do mecanismo do pensamento e não pelo mecanismo complementar do sentimento, não sabemos com certeza se nos sentimos bem ou não. Exemplificando, quando se está fazendo amor e as sensações corporais se transformam em sentimentos, quase nunca pensamos nisso e, nesse não pensar, vivenciamos sentimentos sublimes; na verdade, essa é a essência de fazer amor. Porém, no instante em que se começa a pensar “queria que meu parceiro fizesse isso” ou “queria ter sentido

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aquilo”, as sensações continuam, mas os sentimentos mudam por completo. Considere este outro exemplo: imagine que você está ouvindo um orador carismático. Se a postura dele é “sensual” ou “entusiasmada”, você pode ser “levado” pelo discurso, mesmo que o tenha lido sem paixão, podendo até tê-lo achado enfadonho. Os sentimentos são estimulados pelo orador, o que diminui a capacidade lógica de acompanhar o conteúdo do discurso. Como diz o velho provérbio iídiche: “Quando o pênis acorda, o cérebro adormece”. Foi por meio desses mecanismos complementares que ditadores chegaram ao poder. Pensar e sentir são complementares, como são sentir e intuir. A intuição depende de sensações corporais e as complementa do mesmo modo que os sentimentos dependem dos pensamentos. O arrepio na nuca é a sensação provocada pela intuição de que alguém está às suas costas ou de que algo pode ocorrer em breve. Quando o “aparelho psíquico” escolhido é “pensante”, os sentimentos são alterados e, em geral, são indefiníveis. Do mesmo modo, quando esse mecanismo é um “sentimento”, os pensamentos também mudam e, em geral, são indefiníveis. Toda observação vem de escolhas tomadas em associação com sentimentos indeterminados quando os pensamentos aparecem e, de modo inverso, associados a pensamentos indeterminados quando os sentimentos aparecem. Desse modo, associada a toda observação, haverá uma observação complementar. O aparelho que faz a escolha ser implementada se encontra no interior do id e é construído a partir dele. Este é o ego, e é assim que ele é criado.

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