A CAMPANHA RUSSA NA SÍRIA E IRAQUE: GEOESTRATÉGIAS EM ANÁLISE

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Área Temática: AT6 – História Militar P44 | Operações Militares e as tecnologias

A CAMPANHA RUSSA NA SÍRIA E IRAQUE: GEOESTRATÉGIAS EM ANÁLISE

Tito Lívio Barcellos Pereira

Junho/2016

A CAMPANHA RUSSA NA SÍRIA E IRAQUE: GEOESTRATÉGIAS EM ANÁLISE

Tito Lívio Barcellos Pereira1 1. ANTECEDENTES GEOPOLÍTICOS

No início da segunda década do século XXI, um turbilhão político convulsiona os países do Oriente Médio e do Norte da África. A denominada “Primavera Árabe” foi caracterizada pelo intenso e agressivo ativismo social e político, destinado a mudança ou reforma dos regimes políticos vigentes nos países árabes, governados majoritariamente por monarquias absolutistas (como a Jordânia, Bahrein e Arábia Saudita) ou sistemas republicanos autocráticos e centralizados (como a Tunísia, Egito, Líbia, Iêmen e Síria). Esses regimes sofriam duras críticas, devido a estagnação econômica e o autoritarismo exercido contra as liberdades individuais, movimentos sociais e a oposição política. Fatores estes conjugados que influenciariam a eclosão desses processos de instabilidade política e social nesses países. Entretanto, a maioria desses eventos vão culminar na ascensão de novas forças extremistas e autocráticas que levariam esses países árabes a conhecerem períodos de centralização política autoritária; fundamentalismo religioso com a imposição de valores radicais nestas sociedades; e até o surgimento de conflitos armados intraestatais, destruindo o tecido estatal e pulverizando o território nacional entre os grupos beligerantes (muitos contando com apoio de atores externos). Para muitos estudiosos, esse novo período será denominado como “Inverno Árabe”. (KHALLAF, 2013) É nesse contexto em que surgirá o conflito na República Árabe da Síria, iniciado em 15 de março de 2011, com o ativismo de opositores ao regime político republicano do Partido Árabe Socialista Baath, no poder desde 1963 e liderado pelo presidente Bashar Al-Assad no poder desde 2000 e filho do antigo líder Hafez Al-Assad (1971 – 2000). Motivados pelos problemas de estagnação econômica, denúncias de corrupção da burocracia estatal, autoritarismo e repressão a movimentos opositores e as liberdades individuais – os opositores inicialmente se organizaram em protestos 1

Bacharel em Geografia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH – USP), Mestre em Estudos Estratégicos pelo Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (INEST – UFF). Pesquisador do Laboratório de Pesquisa Defesa e Política[s] (INEST-UFF) do Laboratório de Geografia Política (FFLCH – USP) e do Laboratório de Estudos da Ásia (FFLCH – USP).

pacíficos ao longo dos principais centros urbanos do país, demandando reformas políticas do governo Baath. Porém, segundo o tenente-general Michael T. Flynn, então diretor da Agência de Inteligência de Defesa, relatórios norte-americanos apontavam a predominância de grupos fundamentalistas de matriz sunita entre a oposição síria, (HERSH, 2016) muitos contando com apoio e financiamento oriundo da Arábia Saudita e Qatar, e tais informações foram ignoradas pelas autoridades políticas dos EUA, no qual declarava seu apoio político e material para estes grupos rebeldes (BYMAN, DORAN, POLLACK & SHAIK, 2012 p.6-7). Esse “islã político” irá atuar de maneira agressiva, atacando agentes governamentais e incitando o ódio sectário contra as minorias religiosas presentes no país, especialmente os cristãos (greco-ortodoxos e armênios) e muçulmanos alauítas, caracterizados como “protegidos” e “beneficiários” do regime de Al-Assad. Essas ações intensificaram-se, demandando maior repressão por parte das forças de segurança, o que culminou na eclosão do conflito no formato vigente por estes quatro anos. Desde 2011, os atores beligerantes no conflito intraestatal sírio são os seguintes, esquematizados abaixo e no infográfico a seguir: 

O governo da República Árabe da Síria – liderado pelo presidente Bashar AlAssad, representado por uma coalizão política composta pelo Baath, o Partido Nacional-Socialista Sírio, o Partido Comunista Sírio, além de um mosaico de partidos socialistas, nasseristas e pan-arabistas, tendo apoio popular majoritário entre as populações muçulmanas alauítas, grupos sunitas moderados, cristãos greco-ortodoxos, armênios, assírios e druzos. Seu braço militar é composto pelas Forças Armadas (Exército, Marinha, Força Aérea e Defesa Aérea) além das “Forças Nacionais de Defesa” (NDF) uma milícia governamental que agrega voluntários civis além de batalhões femininos e até contingentes de refugiados palestinos e iraquianos. Possui apoio militar e material do Irã e do grupo militante Hezbollah baseado no Líbano, além de apoio diplomático do Iraque.



A “Oposição Rebelde” – representa a heterogênea e instável oposição síria, que pode compreender uma coalizão de grupos seculares e liberal-democratas como a Coalizão Nacional das Forças Revolucionárias e de Oposição Sírias e o Conselho Nacional Sírio, baseados em Istambul, na Turquia; mas também engloba vários grupos fundamentalistas islâmicos de matriz sunita-wahabita como a Irmandade Muçulmana, Ahrar ash-Sham, Frente Al-Nusra (considerada

a representante da Al-Qaeda na Síria), o Partido Islâmico do Turquestão e outros grupos islâmicos de menor expressão; por fim, incorpora pequenos partidos de matriz étnico-religiosa como turcomenos e cristãos assírios. Seu braço militar compreende o Exército Livre da Síria (FSA), que compreende um amálgama entre forças seculares e islamitas como a Frente Islâmica e o Fatah Halab; já a maioria dos grupos islamitas agregam-se no denominado “Exército da Conquista”. Recebem apoio político material, logístico, financeiro e militar da Arábia Saudita, Jordânia, Turquia, Qatar, França e EUA (em variadas escalas); além de receber armas e voluntários oriundos de diversas regiões do Oriente Médio, África, Ásia e até da Europa. 

Rojava – em curdo “o Oeste”. Representa os grupos militantes curdos concentrados no nordeste da Síria, que lutam pela criação de um Estado curdo secular. Seu braço militar é representado pelas “Unidades de Proteção Popular” que integra contingentes majoritariamente curdas masculinas e femininas, além das “Forças Democráticas Sírias”, que engloba tanto milícias populares curdas como também contingentes árabes, turcomenos, armênios, circassianos e assírios. Possui apoio tático e logístico do Curdistão iraquiano e o Partido dos Trabalhadores Curdos, baseado na Turquia.



O “Estado Islâmico do Iraque e do Levante” – também conhecido como “Estado Islâmico do Iraque e Síria”, ou somente “Estado Islâmico” formado em 2006

como

uma

dissidência

da

Al-Qaeda

do

Iraque,

de

ideologia

fundamentalista sunita-wahabita aproveitou-se do conflito sírio para expandirse no objetivo de criar um Estado teocrático englobando os territórios de maioria sunita na Síria e no Iraque, além de conquistar outros territórios habitados por curdos e outras comunidades religiosas nesses países, alvos de expurgo,

extermínio

e

conversão

forçada.

Seu

contingente

armado

compreende em grande parte de jihadistas estrangeiros, sobretudo de outras regiões do Oriente Médio, África, Ásia e Europa. Além disso, possuem apoio logístico e financeiro da Arábia Saudita, Turquia e Qatar (ainda que esses países não reconheçam oficialmente).

Figura 1. Os principais atores combatentes na Síria

Fonte: Valdai Discussion Club – Infographics http://valdaiclub.com/multimedia/infographics/who-is-fighting-whom-in-syria/ (acessado em 10/06/2016)

O posicionamento internacional em relação ao conflito sírio foi variado: os EUA, França, Grã-Bretanha (membros do Conselho de Segurança da ONU) e demais países da União Europeia e OTAN, faziam eco a posição advogada pela Turquia (membro da aliança militar ocidental), Arábia Saudita e demais monarquias do Golfo Pérsico (aliados históricos dos países ocidentais) no apoio político e depois logístico e militar a heterogênea “confederação rebelde” síria, que mesmo após as denúncias do jihadismo crescente em suas fileiras, ganhariam a alcunha de “rebeldes moderados”, defendendo que estes estão reagindo e lutando contra o regime autocrata sírio, e são comprometidos na construção de instituições políticas plenamente democráticas para o país árabe. Por outro lado, a Federação Russa sempre demonstrou uma visão crítica acerca da conduta da oposição rebelde síria desde o início dos protestos, em virtude de diversos fatores que precisam ser analisados separadamente: Em primeiro lugar, a

desilusão com o cenário líbio onde a Rússia sob governo de Dmitry Medvedev, almejando reestabelecer os laços com o Ocidente abalados pela Guerra na Geórgia em 2008, decide se abster, não usando o poder de veto na aprovação da Resolução 1973(2011) onde é criada a Zona de Exclusão Aérea sobre a Líbia, durante o conflito entre o regime de Muammar al-Qaddafi e os rebeldes líbios. Isso permitiu a Operação “Amanhecer da Odisseia”, com a intervenção armada da OTAN e aliados árabes do Golfo Pérsico, auxiliando os rebeldes na remoção de Qaddafi do poder (COMMITERI, 2012 p.6). Tal ingerência levou a diplomacia russa a tomar uma atitude mais pragmática e prudente, pois estava ciente que boa parte dos países atingidos pela “Primavera Árabe” eram governados por regimes árabe-nacionalistas (como Egito, Líbia, Síria, Iêmen e Argélia) com fortes relações com Moscou desde os tempos da Guerra Fria, e que desde 2003 com a invasão anglo-americana do Iraque, os russos vinham progressivamente perdendo influência estratégica na região. Outro elemento a ser considerado é o crescimento de grupos fundamentalistas islâmicos entre as fileiras da “oposição rebelde” síria e no Estado Islâmico, especialmente com o recrutamento maciço de militantes muçulmanos de cidadania russa – oriundos do Cáucaso, e de ex-repúblicas soviéticas de maioria muçulmana como o Azerbaijão e países da Ásia Central. A experiência em combate no Levante poderia possibilitá-los a retornarem para seus países de origem e formarem grupos insurgentes contra os regimes seculares pró-russos desses países e inclusive contra as forças russas no Cáucaso Norte, especialmente na Chechênia e Daguestão (DELANOË, 2014 p.4). Vale lembrar que a instabilidade política do Afeganistão na década de 1990, sob o regime fundamentalista sunita do Taleban, tornou um polo irradiador de militantes islâmicos para o Cáucaso e a Ásia Central, preocupando as autoridades em Moscou, e contribuindo nas suas intervenções militares nas duas guerras da Chechênia (1994 – 1996 e 1999 – 2000), no Tadjiquistão (1992 – 1997), na mediação do conflito do Alto Karabakh (1991 – 1994) e no apoio financeiro e militar a Aliança do Norte (1996 – 2001) no Afeganistão.

Figura 2. Combatentes Estrangeiros na Síria e no Iraque por país de origem

(2014) Fonte: European Parliamentary Research Service Blog https://epthinktank.eu/2015/02/09/foreign-fighters-member-states-responses-and-eu-actionin-an-international-context/ (acessado em 11/06/2016)

Outros fatores a serem considerados residem na recusa do governo sírio em assinar em 2009, o acordo para construção do gasoduto Qatar – Turquia, passando pelo território da Síria, além da Jordânia e Arábia Saudita. Esse acordo foi preterido em favor do gasoduto Irã – Iraque – Síria, também conhecido como “gasoduto da amizade”, assinado em 2011, com a exportação do gás natural iraniano (embargado pelo mercado europeu) pelos portos sírios e libaneses, negando o acesso europeu e turco ao fluxo de gás natural do Qatar, e assim mantendo a hegemonia russa como principal fornecedor desse insumo a esses mercados. (DELANOË, 2014 p.4-5). Além disso, a importância das cidades portuárias sírias de Tartus e Lataquia, é crucial como centros de apoio logístico para os navios da Marinha russa, especialmente os da frota naval do Mar Negro (esta “estrangulada” pelos estreitos turcos) para operação no Mediterrâneo Oriental. O regime de Damasco, como aliado estratégico de Moscou desde a Guerra Fria, se constitui um dos principais importadores de armamentos russos da região; segundo dados da SIPRI, a Síria adquiriu cerca de US$ 749 milhões em vetores russos entre 2000 e 2011 (tabela em anexo). Em suma, a importância síria para as autoridades políticas russas reside majoritariamente no espectro político e geoestratégico, além dos anseios de sua reafirmação mundial como ator global frente à hegemonia euro-americana.

2. A INTERVENÇÃO RUSSA

A intervenção russa desde a eclosão do conflito sírio se desenvolverá em três frentes principais, cada ação condicionada a um período específico da dinâmica e desdobramentos desse conflito. As primeiras intervenções ocorrerão no campo político-diplomático, após os desdobramentos desastrosos da resolução 1973(2011) sobre a Líbia, o governo russo, nos últimos anos do mandato de Dmitry Medvedev, mostrou uma posição mais firme ainda em maio de 2011, demonstrando preocupação com a possibilidade de desestabilização política do país e o transbordamento do conflito em escala regional, entretanto, declarações do chanceler russo, Sergei Lavrov, demandava de Damasco a execução de reformas políticas mais robustas, ao mesmo tempo, recebia representantes da oposição rebelde síria em Moscou. A estratégia russa apoiava-se em se constituir como um interlocutor entre o governo sírio e a oposição rebelde, proporcionando conversas construtivas para um acordo político. Mesmo condenando muitas das ações repressivas das forças de seguranças sírias, a diplomacia russa buscava denunciar o crescimento dos discursos e ações extremistas da oposição rebelde frente a comunidade internacional, o que era visto pelas potências ocidentais (EUA, Grã-Bretanha, França e União Europeia) e seus aliados árabes como um mecanismo de proteção de seu aliado regional. Com o endurecimento da posição diplomática destes frente a Síria, e o temor de uma nova justificativa militar como ocorrido no caso líbio, faz a Rússia articulada com a China, usarem seu poder de veto para bloquear a resolução proposta em 4 de outubro de 2011, que buscava condenar violações de direitos humanos exercidas pelas forças de segurança sírias, e cogitar a possibilidade da imposição de embargos comerciais, de transportes, tráfego, comunicação e fornecimento de armas ao regime de Damasco. O veto russo-chinês seria exercido novamente contra outras três propostas de resoluções, em 4 de fevereiro e 19 de julho de 2012, e em 22 de maio de 2014, argumentando que tais resoluções não condenam as ações violentas praticadas pela oposição rebelde, violam a soberania nacional síria, e podem servir de pretexto para uma intervenção militar ocidental e árabe em apoio aos rebeldes sírios, repetindo o cenário líbio; essa posição diplomática também era compartilhada por outros países dos BRICS, como a África do Sul, Brasil e Índia. Moscou também irá rejeitar várias propostas de imposição de uma “Zona de Exclusão Aérea” sobre a Síria, defendida pelas potências ocidentais e países da Liga Árabe (liderada pela Arábia Saudita). Paralelamente, desde janeiro de 2012, as autoridades políticas e diplomáticas russas buscaram mediar acordos de cessar-fogo entre o governo sírio e a oposição rebelde, para desdobrar-se em iniciativas políticas de paz. Dentre as propostas de paz

russas, ignoradas pelos EUA, Grã-Bretanha, França e Liga Árabe, merece destaque a ação do dia 21 de abril de 2012, onde o Conselho de Segurança aprova por unanimidade a Resolução 2043 (2012) para a criação de uma missão de 90 dias das Nações Unidas para supervisão do cessar-fogo e a implementação do plano de paz proposto pelo enviado especial da ONU, o diplomata ganês Kofi Annan, apoiado pela Rússia e consentido pelo governo e rebeldes sírios. Entretanto, resistências entre os países árabes em retirar seu apoio financeiro e material a oposição rebelde e diversas violações exercidas pelas partes beligerantes, levam o fracasso do plano em 3 de junho do mesmo ano. Em agosto de 2013, em meio a denúncias feitas pelos EUA e seus aliados árabeocidentais sobre o uso do arsenal químico pelas tropas governamentais sírias em ataques contra redutos da oposição rebelde, o governo russo, sob o mandato de Vladimir Putin (eleito para o terceiro mandato em 2012), propõe o desmantelamento das armas químicas do país árabe em troca do compromisso norte-americano de não intervir militarmente. Essas medidas entram em vigor no dia 27 de setembro de 2013 com a aprovação da resolução 2118 (2013). A segunda frente de intervenção russa atuará na cooperação técnico-militar. Desde o início do conflito, a empresa estatal russa encarregada do comércio de material bélico, a Rosoboronexport, buscava cumprir suas obrigações contratuais (assinados em 2007 – 2008) realizando a provisão de armas e munições para a Síria, em contratos estimados, não oficialmente em cerca de US$ 1,5 bilhão, representando cerca de 10% das vendas globais russas em 2012. Entre os vetores comercializados, destacam-se baterias de mísseis antinavio Bastion K-300P para defesa costeira; sistemas de mísseis e artilharia para defesa antiaérea Pantsir-S1 de curto alcance, sistemas de mísseis Buk-M2 de médio alcance e sistemas de mísseis S-300PMU de longo alcance (estes últimos sofreram pressão diplomática israelense para cancelamento da venda); aviões de treinamento e ataque ligeiro Yakovlev Yak-130 e caças multifuncionais Mikoyan MiG-29M2. Além disso, diversos acordos foram assinados para manutenção, recuperação e até modernização de vetores antigos, adquiridos nos tempos soviéticos, como sistemas de mísseis antiaéreos S-125 Pechora; helicópteros de uso geral Mil Mi-8/17; helicópteros de ataque Mil Mi-25; caças Mikoyan MiG-23ML/BN e MiG-29A; caçasbombardeiros Sukhoi Su-22M3/M4 e até bombardeiros táticos Sukhoi Su-24MK, estendendo sua vida operacional, adicionando sistemas mais sofisticados de aquisição e rastreamento de alvos e capacitando-os para uso de modernas armas de precisão como mísseis ar-terra e bombas guiadas a laser e TV. (ver apêndice 1)

Figura 3. Bombardeiro sírio Su-24MK em modernização nas instalações da “514 ARZ” em Rzhev, na Rússia. (foto de 2013)

Fonte: http://spioenkop.blogspot.com.br/2015/01/the-syrian-arab-air-force-beware-of-its.html (acessado em 13/06/2016)

Esses robustos acordos também contemplam o fornecimento de armas leves (fuzis, rifles de precisão, metralhadoras, lançadores de foguetes, mísseis anticarro), mísseis, foguetes, bombas guiadas e convencionais, equipamentos de comunicação, combustíveis e outros suprimentos e insumos militares para as forças sírias, desgastadas por quatro anos de guerra; o envio de assessores militares russos para instrução dos soldados sírios, e a viagem de oficiais militares sírios para treinamento e testes de armas na Rússia. Essa relação estratégica é duramente criticada pelos EUA, Grã-Bretanha, França e o restante da comunidade europeia, assim como a Turquia, Arábia Saudita e países do Golfo Pérsico, acusando os russos de serem avalistas e mantenedores de um regime opressor que perdeu a legitimidade com a própria população, visão esta compartilhada por diversas organizações como a Anistia Internacional que denuncia o emprego de helicópteros, artilharia e aviação por parte das forças sírias, contra regiões densamente povoadas, e defendeu que outras nações e empresas sancionem a Rosoboronexport pelos laços comerciais com o regime sírio. Em contrapartida, as autoridades russas acusam estes países de financiar e armar os rebeldes extremistas sírios, legitimando seus atos de terrorismo e massacres dirigidos contra as minorias étnico-religiosas. Porém, as políticas russas de fornecimento material não se restringiram apenas a Síria. Com a escalada insurgente no Iraque após a retirada das tropas norte-

americanas em 2011, situação agravada com a ascensão do então “Estado Islâmico do Iraque” (que depois passaria a ser chamado de “Estado Islâmico do Iraque e Levante”) passando a controlar grandes porções do território nacional, especialmente as áreas habitadas por árabes sunitas e curdos, levou o governo majoritariamente xiita do país árabe a buscar parcerias regionais para capacitar suas forças armadas, cada vez mais sectarizadas em milícias étnico-confessionais (xiitas, sunitas, curdas e assírias) desde a invasão anglo-americana de 2003. Neste sentido, a Rússia e o Irã terão um papel fundamental no fornecimento de vetores e insumos que possam elevar o poder de combate contra o Estado Islâmico e outros grupos insurgentes: do lado russo, destaca-se contratos bilionários para fornecimento de helicópteros de combate Mil Mi-35M e o Mi-28NE; helicópteros de uso geral Mil Mi-171; sistemas de mísseis e artilharia antiaérea Pantsir-S1; lançadores múltiplos de foguetes TOS-1; e jatos de ataque Sukhoi Su-25. Além do fornecimento de mísseis portáteis antiaéreos e anticarro. A terceira frente de intervenção russa se desenvolverá pelo apoio militar direto em território sírio com desdobramentos nos vizinhos Iraque e Líbano. Para compreender esta nova etapa é necessário analisar o papel que a República Islâmica do Irã exerce nesses conflitos: As guerras na Síria, Iraque e Iêmen passam a ter um caráter sectário, ocorrendo progressivamente a violência generalizada entre os muçulmanos sunitas (apoiados, armados e financiados pela Arábia Saudita, Turquia e países do Golfo Pérsico) contra os muçulmanos xiitas e outras comunidades religiosas minoritárias, como os cristãos assírios, greco-ortodoxos e armênios, estes últimos tendo apoio e financiamento iraniano. Com essa guerra de procuração contra o “Eixo Sunita” turco-saudita, o Irã busca assegurar um “Arco Xiita” (também conhecido como “Arco da Resistência”) compreendendo o secularismo alauíta-cristão na Síria, a elite xiita no Iraque, o grupo xiita Hezbollah no Líbano, os Houthis no Iêmen e o Hamas na Palestina; para contornar seu isolamento político e geoestratégico na região. Com base nesse teatro estratégico, o Irã irá atuar ativamente nesses conflitos, fornecendo apoio financeiro; logístico; material com o envio de ARPs (aeronaves remotamente pilotadas)2, mísseis portáteis anticarro, equipamentos de comunicação, armas leves, artilharia, mísseis balísticos de curto alcance, mísseis antinavio entre outros insumos; e até o retorno de jatos de ataque Su-25 ao Iraque, onde estavam “abrigados” desde 1991. Além disso, nos casos sírio e iraquiano, houve a intervenção militar direta de contingentes iranianos, seja no envio de assessores para instrução de milícias xiitas, forças especiais para reconhecimento e sabotagem, e até oficiais para

2

O autor preferiu o uso desse termo ao invés da sigla tradicional VANT (veículo aéreo não-tripulado).

comando de contingentes terrestres, aéreos e planejamento estratégico. Somado a isso, tem-se a presença de contingentes militares do Hezbollah, além de milícias palestinas, armênias, assírias, e milícias xiitas de compostas por afegãos e libaneses. A intervenção militar direta russa se desenvolverá em um cenário de desgaste das forças sírias e de seus aliados após quatro anos de guerra contra a oposição rebelde, onde alas mais extremistas como o “Exército da Conquista” liderado pela Frente AlNusra, executam uma ofensiva coordenada e articulada, culminando com a captura da cidade de Idlib (uma das principais cidades no oeste do país) em abril de 2015, evento que coincidiu com a captura da cidade histórica de Palmyra pelas forças do Estado Islâmico em maio do mesmo ano. A ocorrência de tais perdas demonstrou a incapacidade das forças sírias sustentarem uma campanha robusta em diversas frentes, fato reconhecido pelo próprio presidente Bashar Al-Assad em discursos ao parlamento sírio. Em julho, o presidente sírio envia um pedido formal a Moscou para auxílio no combate ao terrorismo internacional, mas algumas fontes de imprensa destacam a visita a capital russa de Qasem Soleimani (comandante iraniano das Forças Quds) para a criação de um grupo de trabalho e planejamento de uma campanha conjunta entre os três países. Assim, a partir de agosto de 2015, grandes aviões cargueiros Antonov An-124 e Ilyushin Il-76 começaram uma intensa ponte aérea levando suprimentos para a base aérea de Khmeimim, nos subúrbios da cidade de Lataquia, na zona costeira da síria, uma região habitada majoritariamente por muçulmanos alauítas, cristãos grecoortodoxos e armênios, sendo leal ao governo sírio. Uma vez estabelecidos por lá, foram iniciados um processo de modernização da infraestrutura local para acomodação dos equipamentos russos, e no mês seguinte, a base já se encontrava plenamente operacional com capacidade de mil homens, dotada de sistemas de controle de tráfego aéreo, estações de reabastecimento, acomodações e cozinha de campanha. Sua pista de 2.797 metros é capaz de acomodar cerca de 50 aviões, como caças multifuncionais Su-30SM; aviões de ataque ao solo Su-25SM e bombardeiros táticos Su-24M2 e Su-34; helicópteros de uso geral Mi-17 e helicópteros de assalto Mi-24P. A proteção da base é garantida por posições de artilharia; baterias de mísseis antiaéreos Pantsir-S1 de curto alcance, e S-400 de longo alcance; carros de combate T-90A e viaturas blindadas BTR-82A além de contingentes da infantaria naval russa. Paralelamente, em setembro, navios da Frota do Mar Negro como o cruzador “Moscou” (navio capital da frota – classe Slava); destróier “Smetlivy” (classe Kashin); a fragata “Ladny” (classe Krivak); o navio de desembarque “Azov” (classe Ropucha-II); e o submarino “Rostov-on-Don” (classe Kilo-M) chegam ao Mediterrâneo Oriental,

operando a partir da base naval de Tartus, onde se encontra uma unidade flutuante PM-138 (classe Amur) para manutenção das embarcações em operação. Por fim, é estabelecido em Bagdá no Iraque, um centro conjunto de informações para coordenação de esforços no combate ao Estado Islâmico, contando com oficiais russos, sírios, iraquianos, iranianos e até representantes do Hezbollah (também conhecido como “grupo 4+1”). Vale destacar que a Rússia possuia um centro de escuta eletrônica em Al-Harra, no sudoeste do país para espionagem de atividades de Israel (capturado pelos rebeldes em outubro de 2014), outro centro localizado em Lataquia; e um navio de inteligência da classe Vishnya para operado pela Marinha Russa na costa síria. Os objetivos dessa força expedicionária russa eram os seguintes: através do contingente aéreo e naval, prestar apoio primariamente às forças sírias, mas também os efetivos iranianos e as milícias aliadas, como o Hezbollah, para neutralização da oposição rebelde nas regiões noroeste e sudoeste do país, forçando-os a negociar um cessar-fogo, estabilizando o governo Assad, para este dedicar-se a campanha contra o Estado Islâmico, presente no leste do país em coordenação com as forças iraquianas e iranianas, cercando o grupo fundamentalista em duas frentes contínuas. Implicitamente, Moscou buscava mostrar para a comunidade internacional que a manutenção do regime Assad/Baath é a solução política mais viável para o país árabe, dado o crescente extremismo e heterogenia da oposição rebelde, denunciando o apoio do eixo turco-saudita aos grupos jihadistas de matriz sunita-wahabita, e induzir o Ocidente a retirar seu apoio e reconhecimento aos rebeldes sírios (LUCENA & FREITAS, 2015). A partir disto, a campanha aérea russa na Síria irá concentrar esforços inicialmente em ataques nos meses de setembro a novembro de 2015 contra as posições rebeldes no Noroeste do país, especialmente nas regiões de Homs, Hama, Lataquia, Aleppo, Idlib e nas fronteiras com a Turquia e o Líbano. A estratégia consiste em apoiar as ofensivas sírias assegurando a proteção das regiões costeiras, e o eixo da rodovia Damasco-Aleppo, que compreende cerca de 70% da população do país (compreendendo a capital Damasco e as cidades de Hama, Homs e Aleppo) possuindo elevada importância estratégica para manutenção logística das forças que lutam no norte do país. O contingente das Forças Aeroespaciais Russas3 tinham vetores para execução dos seguintes tipos de missões:

3

do russo: Vozdushno-Kosmicheskiye Sily Rossii (VKS). Essa força é resultante da unificação da Força Aérea, Forças de Defesa Aérea e Forças Espaciais, numa única instituição, realizado em 1 de agosto de 2015.



4 Sukhoi Su-30SM: caça multifuncional, otimizado para missões de interceptação e superioridade aérea, além de ter capacidades de ataque ao solo. Eram destacados para a proteção da Base aérea de Khmeimim e escolta dos outros aviões russos utilizados, contribuindo para assegurar a soberania do espaço aéreo sírio.



12 Sukhoi Su-24M2 e 8 Su-34: bombardeiros táticos, designados para ataques de precisão a alvos estratégicos a longa distância. Realizavam ataques cirúgicos a postos de comando, comunicações, infraestrutura viária, sistemas de defesa antiaérea, depósitos e comboios de munições, armas, insumos e combustíveis, de modo a neutralizar a cadeia logística e de comando dos rebeldes e do Estado Islâmico; utilizando mísseis ar-terra e antiradar; e bombas convencionais ou guiadas por laser, TV e satélite.



12 Sukhoi Su-25SM e 12 Mil Mi-24P: o primeiro é um jato de ataque ao solo, e o segundo, helicóptero de assalto e combate. Ambos eram designados para missões de apoio aéreo e acompanhamento das forças terrestres, com o objetivo de destruir formações de infantaria, artilharia, blindados, carros de combate, fortificações, e outros elementos que possam oferecer resistência aos avanços dos aliados, como o exército sírio, o Hezbollah e outras milícias aliadas; utilizando canhões de 30 mm, bombas, foguetes e mísseis ar-terra e anticarro.



4 Mil Mi-8ATMSh: helicópteros de uso geral, em versão armada com foguetes e até mísseis anticarro. No conflito sírio são usados para transporte de unidades especiais, missões de reconhecimento, busca e salvamento e até transporte de suprimentos para regiões isoladas. Esta última tarefa também é cumprida pelos aviões cargueiros Ilyushin Il-76.

Numa segunda etapa da campanha, iniciada em outubro e intensificada em novembro e dezembro, a fragata “Daguestão” da classe Gepard e três corvetas da classe Buyan, pertencentes a Flotilha do Mar Cáspio (a menor das frotas navais da Marinha Russa), lançaram uma série de ataques utilizando mísseis de cruzeiro 3M14T Kalibr-NK contra postos de comando, controle e logística do Estado Islâmico no leste da Síria, sobrevoando o espaço aéreo do Irã e Iraque. Tais ataques foram apoiados pelos bombardeiros estratégicos de longo alcance Tupolev Tu-160, Tu-95 e Tu-22M3 usando mísseis de cruzeiro aerotransportados Kh-101 e Kh-555. Em dezembro, o submarino “Rostov-on-Don” da classe Kilo-M, da Frota do Mar Negro,

operando na costa síria, também lançava mísseis de cruzeiro 3M14K Kalibr contra alvos do Estado Islâmico em Al-Raqqah, no leste do país. Na terceira fase da campanha, de dezembro de 2015 a fevereiro de 2016, os primeiros resultados começam a surgir com o avanço das tropas terrestres sírias e de aliados contra os territórios controlados pelos rebeldes em Daraa no sul; Lataquia no noroeste; e em Aleppo, cortando as linhas de suprimento rebeldes na fronteira turca e jordaniana. Ao mesmo tempo, no plano político, começam as negociações de cessarfogo, em rodadas realizadas em Viena, na Áustria, e em Genebra, na Suíça, reunindo representantes do governo e os rebeldes, além de países ocidentais e do Oriente Médio, que tem envolvimento direto e indireto no conflito, contando com forte mediação russa e iraniana. No dia 1º de março de 2016, o chanceler russo, Sergei Lavrov, declara o “cessamento das hostilidades” em vigor desde 27 de fevereiro, e a abertura de corredores humanitários para regiões em sítio. Isto concedeu fôlego e estabilização para as Forças Armadas Árabes da Síria e as milícias aliadas a concentrarem esforços em uma frente única contra o Estado Islâmico no leste. Desde março, as forças sírias retomaram a cidade histórica de Palmyra, que passará a abrigar uma nova base avançada russa, para apoiar as operações no deserto sírio. O objetivo é reabrir a rodovia que liga Damasco a principal cidade do leste, Deyr ez-Zor, onde forças governamentais estão sob sítio desde o início do conflito, e posteriormente, abrir caminho para Ar-Raqqah, a autoproclamada “capital política” do Estado Islâmico, operação que ainda está em curso até o presente momento (junho de 2016 – Ver Apêndice 2 e 3).

3. DEMONSTRAÇÃO DE FORÇA

A campanha russa na Síria está inserida em um contexto geopolítico novo na história política russa: A política externa russa passou a ser mais “proativa” e “afirmativa” (qualificada pelos veículos de imprensa e autoridades políticas do Ocidente como “agressiva”). A Federação Russa, aproveitando sua economia em recuperação durante a década passada, passou a ter posições mais críticas e questionadoras da hegemonia euro-americana e sua ingerência parcial nas questões referentes a segurança da Europa, Oriente Médio, Ásia e o “Espaço Pós-Soviético” (os países pertencentes a URSS), no qual considera sua natural “esfera de influência”, mas até então, sua política era mais reativa, as iniciativas apoiadas pelo Ocidente (diretamente ou tacitamente) como as “Revoluções Coloridas” na Geórgia, Moldávia e Ucrânia, a expansão da OTAN e da União Europeia as fronteiras russas, e a saída

norte-americana do tratado Anti-Mísseis Balísticos e a possibilidade de instalação de um sistema desses na Europa Central. A partir de agosto de 2008, quando Moscou intervém militarmente na vizinha Geórgia na defesa das províncias separatistas da Abkházia e Ossétia do Sul, houve o esfriamento de laços diplomáticos com o Ocidente, fato que se agravou ainda mais com a posição deste sobre a guerra na Líbia e Síria, em 2011, e teve seu principal divisor de águas, o apoio dos EUA e da União Europeia, ao denominado “EuroMaidan”, movimento político que derrubou o governo eleito de Viktor Yanukovich na Ucrânia, e instaurando um regime político governada por uma elite russófoba e próocidental, em março de 2014. A reação de Moscou em anexar a península da Crimeia (habitada por maioria russa) e apoiar tacitamente rebeldes pró-russos no sul e leste da Ucrânia, levou o Ocidente a um “divórcio” político e econômico com a Rússia, sancionando-a em várias áreas de cooperação econômica, política e estratégica, buscando isolar o país na comunidade internacional. Essas medidas levaram as autoridades russas a reinventar sua política externa, buscando maior interação com o mundo emergente, especialmente com os países dos BRICS (como Brasil, China, África do Sul e Índia), além de outros atores regionais como o Irã, Venezuela, Cuba, Argentina, Paquistão, Vietnã, Indonésia e Coréia do Sul. Paralelamente, o temor de uma intervenção ocidental além da consciência da assimetria de forças após a campanha georgiana, fez o governo russo a empreender uma “revolução silenciosa” nas suas Forças Armadas, tanto na modernização e aquisição de novos vetores e capacidades militares, como na reestruturação de seu contingente, de modo a torná-lo mais flexível, móvel, operacional e em acordo com as capacidades orçamentárias do país. Na campanha síria, os russos vão mostrar ao mundo que ainda são capazes de manter uma elevada capacidade expedicionária, com o rápido desdobramento e prontidão de suas forças aeronavais em território estrangeiro, assim como a capacidade logística e financeira de dar continuidade a uma campanha militar duradoura. O Chefe do Diretório Operacional do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia, o Tenente-General Sergey Rudskoy declarou no Natal de 2015, que as Forças Aeroespaciais tinham conduzido cerca de 5.240 missões sobre a Síria, desde o dia 30 de setembro, incluindo 145 missões da aviação estratégica de longo alcance. Muitos especialistas ocidentais reconhecem a capacidade russa de realizar cerca de 60 a 96 missões aéreas por dia, um número consideravelmente elevado e sustentável para uma pequena força instalada no exterior. A campanha síria também foi palco de uma demonstração das novas capacidades tecnológicas das forças russas, apresentando os mais novos vetores terrestres,

navais, aéreos, sistemas, mísseis e munições que até pouco tempo encontravam-se em fase de desenvolvimento e jamais tinham experimentado o “batismo de fogo”, julgando sua performance em combate operacional. O uso de navios de baixa tonelagem, como fragatas e corvetas para lançamento de mísseis de cruzeiro de longo alcance 3M-14 Kalibr, demonstram as capacidades russas de combate naval, mesmo utilizando a frota “lacustre” do Mar Cáspio, assim como o lançamento desses mísseis por submarinos convencionais da classe Kilo-M (no caso norte-americano, por exemplo, o uso de mísseis desse tipo são reservados a navios de media/grande tonelagem como destróieres, cruzadores e submarinos nucleares); o uso de sistemas antiaéreos de longo alcance como os mísseis S-400 para “blindar” o espaço aéreo sírio contra eventuais ingerências externas; o desdobramento dos novos caças multifuncionais Sukhoi Su-35S em reforço aos Su-30SM na imposição da superioridade aérea do país; a atuação precisa dos ataques dos Su-34, que mostrou maior capacidade bélica e performance do que seu antecessor, o Su-24; o envio dos novos helicópteros de combate Mil Mi-28NE e Kamov Ka-52 para apoio as forças terrestres durantes as ofensivas contra o Estado Islâmico; o uso de novos vetores de escuta eletrônica e vigilância como os aviões Tupolev Tu-214R; veículos remotamente controlados como as aeronaves de reconhecimento “Orlan-10” e “Forpost” (cópia licenciada do modelo israelense IAI “Searcher”), e o veículo terrestre para desminagem “Uran-6”; e o uso de novos mísseis ar-terra e bombas guiadas a laser, TV e sinais do GLONASS, o sistema de posicionamento global russo, análogo ao GPS norte-americano. Uma ação que merece destaque são os ataques do dia 17 a 20 de novembro de 2015, quando bombardeiros estratégicos Tu-22M3, Tu-95 e os modernos Tu-160 realizaram o lançamento de mísseis de cruzeiro Kh-101 e Kh-555 contra alvos rebeldes e do Estado Islâmico nas regiões de Al-Raqqah, Deyr ez-Zor, Aleppo e Idlib, com o lançamento desses mísseis a partir do sobrevoo desses aviões pelo Mar Cáspio passando pelo território do Irã e Iraque, ou então pelo estreito de Gilbraltar, no Mar Mediterrâneo, a milhares de quilômetros da costa síria. Assim como foi feito pelos norte-americanos com o emprego de bombardeiros estratégicos Northrop B-2 Spirit na Iugoslávia em março de 1999, o uso desse tipo de vetor no conflito sírio foi uma demonstração de força, visto que tais missões poderiam ser plenamente executadas pelos Su-34 e Su-24M2, com menor custo de operação. Vale lembrar que dias antes do voo dos bombardeiros russos, ocorrera a confirmação de que a queda do Airbus A321 da companhia aérea russa Metrojet, na península do Sinai, no Egito que transportava 224 turistas russos, se tratava de uma ação terrorista reivindicada pelo

Estado Islâmico, o que causou enorme comoção nacional e certamente influenciou no envio dos bombardeiros estratégicos a Síria. (ver apêndice 3). Por outro lado, a intervenção militar russa impulsionou ainda mais o fornecimento de armas e insumos enviados a Síria e ao Iraque, sendo este último mediante assinatura de contratos: caminhões Kamaz, viaturas leves GAZ Tigr e Rys LMV (versão local do modelo italiano Iveco Lynx produzido sob licença), novos rifles, fuzis e sistemas de comunicação foram introduzidos nas forças sírias e iraquianas, e muitos equipamentos russos mostraram grande performance em combate, como os helicópteros de combate Mi-28NE empregados pelo Iraque no apoio as ofensivas contra Tikrit, Ramadi e Fallujah; e os carros de combate T-90A em uso pelas forças sírias nas ofensivas contra Aleppo, Palmyra e Al-Raqqah. Por fim a intervenção russa rejuvenesceu as forças sírias, introduzindo novas doutrinas e conceitos de armas combinadas, através da cooperação entre os dois países, o reestabelecimento de capacidades perdidas durante anos de conflito. Fato que se tornou evidente em janeiro de 2016 quando caças MiG-29SM sírios, modernizados passaram a fazer escolta aos jatos Su-25 russos em suas missões de ataque.

4. REFLEXOS ESTRATÉGICOS

A intervenção militar russa trouxe inúmeros desdobramentos geopolíticos e estratégicos tanto em caráter regional quanto mundial: Em primeiro lugar, estabilizou o regime sírio do Assad/Baath, dando um novo fôlego e rejuvenescimento as Forças Armadas depois de quatro anos de guerra de atrito, repondo suas perdas, reabastecendo de insumos, munições e combustíveis, dotando-os de novos vetores e capacidades, e reestabelecendo a iniciativa de conduzir ofensivas mais coordenadas e efetivas, situação que estava minguando ano após ano de guerra. Os russos empreenderam uma campanha inicial de diminuir o poder de fogo e barganha entre a oposição rebelde, infligindo pesadas perdas materiais e humanas, conduzindo as renovadas ofensivas do governo na retomada dessas regiões, e numa visão essencialmente “clausewitziana”, trouxe os rebeldes para a mesa de negociações, induzindo-os a aceitar acordos em condições vantajosas ao governo Assad/Baath, e até buscando a reconciliação com os rebeldes mais “moderados”, na integração de um eventual governo de transição, na busca de um futuro político mais estável; fato que contribuiu no apoio tácito das Unidades de Proteção Populares e as Forças Democráticas Sírias a coalizão russo-síria contra o Estado Islâmico. Isso também permitiu que grupos mais extremistas da heterogênea “confederação

rebelde”, por contar com grandes contingentes de jihadistas estrangeiros, se mostram menos dispostos a aceitar as barganhas russas e sírias, sendo “filtrados” nos processos de cessar-fogo e reconciliação nacional, se expondo novamente em combate contra essas forças. A Rússia ao atacar a infraestrutura rebelde, expôs a ingerência de atores externos no apoio a grupos jihadistas no país árabe: Em 24 de novembro de 2015, em meio a uma missão de bombardeio na fronteira sírio-turca, um Su-24M2 russo é abatido por um caça F-16C da Força Aérea Turca; ainda que incidentes fronteiriços entre aviões e contingentes sírios e turcos foram notáveis desde o começo do conflito, o abate de um avião russo, e a morte de um dos pilotos nas mãos de militantes turcomenos, acabou sendo um fator constrangedor para o governo turco, ainda que este argumentasse insistentemente que houve uma “violação de soberania” por parte do avião russo (onde voou sobre uma estreita faixa de 2,1 km de território turco por 17 segundos), o fato é que acabou demonstrando a solidariedade do governo de Ancara com rebeldes jihadistas e ultranacionalistas pan-turânicos4 turcomenos, além das relações tácitas da Turquia com o treinamento, suprimento de armas e munições, recrutamento de militantes e até relações comerciais como a compra e transporte de petróleo oriundo de áreas controladas pelos rebeldes e até pelo Estado Islâmico, inclusive com a apresentação pelo Ministério da Defesa russo de provas fotográficas e vídeos, que mostrariam supostamente o intenso trânsito de mercadorias na fronteira sírio-turca, pegando as autoridades turcas de surpresa, colocando-os numa situação delicada em relação aos seus aliados ocidentais da OTAN (que saíram em defesa do posicionamento turco durante o incidente), especialmente após os atentados na França e Bélgica atribuídos ao Estado Islâmico. A resposta russa foi direta, dura e multidimensional: no plano político, a denúncia das relações turcas com os rebeldes; no plano econômico, o embargo as exportações turcas, a limitação da atuação de empresas e cidadãos turcos no país, a interrupção do tráfego aéreo, a proibição de venda de pacotes turísticos a Turquia para as empresas russas e o fim da isenção de visto para cidadãos turcos. No plano estratégico do conflito sírio, a defesa aérea operacional foi reforçada por 4 caças Su-35S junto aos 4 Su-30SM que já estavam baseados, o desdobramento de sistemas de defesa aérea de longo alcance S-400 em Lataquia e S-300 baseados no cruzador Moscou, “blindando” o espaço aéreo sírio. Além disso, todas as missões conduzidas pelos bombardeiros Su-24M2 e Su-34 ao norte de Aleppo e Lataquia,

4

Grupos que solidarizam com o espectro cultural turco, que podem compreender azeris, turcomenos, cazaques, quirguizes, uzbeques e outros povos tártaro-mongóis da Eurásia. Pregam a criação de um grande Estado turco.

passariam a contar com escoltas de Su-30SM ou MiG-29A sírios; novos ferozes ataques russos seriam conduzidos a posições dos militantes turcomenos, inclusive com o bombardeio de comboios turcos na fronteira, mas desta vez, sem reação militar turca até o presente momento. É igualmente destacável a relação tácita entre a Rússia e Israel no conflito sírio. Apesar das históricas rivalidades entre o Estado judeu e os aliados russos (como a Síria, Irã e o grupo libanês Hezbollah), o governo de Tel-Aviv se posicionou favorável a intervenção russa e estabeleceu um grupo de trabalho para intercâmbio de informações e coordenação de ações, evitando eventuais litígios fronteiriços. Entretanto, deixou claro suas preocupações acerca da atuação e presença do Irã e Hezbollah na coalizão russa. Além disso, outros países como Armênia e Bielo-Rússia (membros da Organização do Tratado de Segurança Coletiva – OTSC5) providenciam apoio logístico e operacional ao contingente aéreo russo. Até o presente momento (junho de 2016), cerca de 10 militares russos perderam a vida no conflito sírio: entre eles encontram-se pilotos, fuzileiros navais, membros da equipe logística da base aérea, engenheiros de combate e forças especiais (Spetsnaz GRU), num conflito que ainda encontra-se longe de terminar, além de demandar um intenso esforço de reconstrução do incerto futuro político que reserva ao país, levando-se em conta da heterogenia de atores beligerantes, e a divergência estratégica entre as potências regionais e mundiais que as apoiam. Enquanto isso, o Estado Islâmico ainda mantém sob seu controle, importantes cidades e jazidas petrolíferas na Síria e especialmente no Iraque, fundamental para o autofinanciamento do seu “esforço de guerra”. De qualquer forma, é reconhecido que a campanha russa, que ainda não completou seu primeiro ano de ação, se constituiu um game-changer fundamental para que o regime sírio se revigorasse, depois de um extensa fricção de quatro anos de avanços e retrocessos, e articulados com outros aliados regionais como o Iraque, Irã e o Hezbollah, fossem capazes de retomar a iniciativa, coordenados e combinados contra um inimigo comum, conseguindo progressivamente êxitos notáveis. A intervenção russa ainda pode estar no seu começo, com um fim incerto, mas mostra os anseios de uma potência em processo de rejuvenescimento, se mostrando capaz de projetar poder em defesa de seus interesses geopolíticos e estratégicos, e buscando reafirmar seu papel como protagonista no Sistema Político Internacional.

5

Também conhecido como “acordo de Tashkent” é uma aliança militar intergovernamental assinada em 15 de maio de 1992. Em 7 de outubro de 2002, é ratificado pelos presidentes da Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia e Tadjiquistão.

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Apêndice 1. Transferência de armas russas para o Iraque e Síria* (2011 – 2015) Fonte: SIPRI Arms Transfers Database Acesso: 18 June 2016

Fornecedor/ recipiente (R) No. or licenciado (L) adquirido

Designação do Equipamento

Rússia R: Iraque

Mi-8MT/Mi-17

22

(48) (500) (15) (2000) (1200) (28) (300) (2) (5) (10)

Descrição do Equipamento

Ano de compra

Ano(s) da entrega

No. entregue/ produzido

Helicóptero de transporte 2007

2010-2011

(22)

96K9 Pantsyr-S1

Sistema antiaéreo móvel (2012)

2014-2015

(16)

Igla-S/SA-24 Mi-28N

Míssil superfície-ar portátil (2012) Helicóptero de combate (2012)

2014-2015 2014-2015

(300) (15)

9M114 Shturm/AT-6 Míssil anticarro 2013 9M311/SA-19 Míssil superfície-ar 2013 Mi-35M Helicóptero de combate 2013 9M133 Kornet/AT-14 Míssil anticarro (2014) Mi-8MT/Mi-17 Helicóptero de transporte 2014 Su-25 Avião de ataque ao solo 2014 TOS-1 Lança-foguetes autopropulsado 2014

2013-2015 2014-2015 2013-2015 2014 2014 2014 2014

(1750) (400) (20) (300) (2) (5) (10)

Observações

acordo de US$ 80 milhões; modelo Mi-171; adquirido pelos EAU e EUA; modificado pelo acordo de US$ 245 milhões para uma versão armada nos EAU com equipamentos norte-americanos. acordo de US$ 2.3 bilhões (parte de um acordo de US$ 4.2-5 bilhões) Para infantaria e uso nos veículos lançadores Dzhigit Parte do acordo de US$ 4.2-5 bilhões; modelo Mi28NE Para uso nos helicópteros de combate Mi-35 e Mi-28 Para uso nos sistemas Pantsyr-S1

versão armada Mi-171Sh Segunda-mão; para uso contra o Estado Islâmico Provavelmente de segunda-mão

Síria

(36)

96K9 Pantsyr-S1

Sistema antiaéreo móvel (2006) Míssil superfície-ar

2008-2013

(36)

(2006)

2008-2013

(700)

(700)

9M311/SA-19

(160) (8) (2) (12) (12)

9M317/SA-17 Grizzly Míssil superfície-ar Buk-M2/SA-17 Sistema antiaéreo móvel K-300P Bastion-P Sistema de defesa costeira MiG-29M Avião de caça S-125 Pechora-2M Sistema antiaéreo móvel

2007 2007 2007 2007 (2007)

2010-2013 2010-2013 2010-2011

(160) (8) 2

2011-2013

(12)

(72) .. (100) (100) (50) 4 36

Yakhont/SS-N-26 Míssil antinavio 2007 Kh-35 Uran/SS-N-25 Míssil antinavio (2009) KAB-500/1500 Bomba guiada (2010) R-73/AA-11 Míssil ar-ar (curto alcance) (2010) RVV-AE/AA-12 Adder Míssil ar-ar (longo alcance) (2010) S-300PMU-2/SA-20B Sistema antiaéreo móvel (2011) Yak-130 Avião de treino/ataque 2011

2010-2011

(72)

2012-2013

(100)

2012-2013

(50)

Parte de um acordo de US$ 400-730 milhões; podendo chegar a 50 unidades. Parte de um acordo de US$ 400 milhões; para uso nos sistemas Pantsyr-S1

versão MiG-29M2; entregas em 2016-2017 acordo de US$ 200 milhões; modernização dos sistemas sírios S-125 para a versão Pechora M2 para uso nos sistemas Bastion K-300P para uso nos caças MiG-29 para uso nos caças MiG-29 e bombardeiros Su-24 para uso nos caças MiG-29 para uso nos caças MiG-29 Status incerto acordo de US$ 550 milhões; status incerto.

*Esses dados excluem o comércio de armas leves, equipamentos de comunicação individual, coletes, fardamentos e outros insumos militares.

Apêndice 2. Panorama do conflito na Síria e Iraque (junho de 2016)

Apêndice 1. Transferência de armas russas para o Iraque e Síria* (2011 –

Fonte: Stratfor; Institute of Studies of War; Southfront.org Elaborado pelo autor.

Apêndice 3. Vetores russos em combate na Síria Fonte: Valdai Discussion Club - Infographics

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