A cantiga de Fernám do Lago: \"D\' ir a Santa Maria\" (edição digital) [2004]

July 4, 2017 | Autor: J. Montero Santalha | Categoria: Poesia trovadoresca galego-portuguesa
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A cantiga de Fernám do Lago: «D’ ir a Santa Maria» Fernám do Lago [= Tav 39]: Biografia. Ainda que tanto o topónimo como o apelido Lago são frequentes assim na Galiza como em Portugal, não é segura a procedência geográfica do trovador, e menos a sua identificação com algum Fernám do Lago documentado em época medieval: os cancioneiros não assinalam o seu patronímico, que seria um dado fundamental para qualquer identificação. Desde logo carece de fundamento a identificação de Fernám do Lago com Fernand’ Esquio, proposta por Fernanda Toriello e aceitada por outros depois. Nem sequer é seguro que Fernám do Lago proceda, como Fernand’ Esquio, da zona de Ferrol, apesar de documentar-se também aí abundamentamente desde a época medieval o apelido Lago e apesar de existir dois pequenos lagos na zona e até uma freguesia chamada Lago, no concelho de Valdovinho, pois esta tinha já na altura como advocação Santiago, e não Santa Maria, nem parece ter existido nunca ali uma ermida de “Santa Maria do Lago”, referida por Fernám do Lago na sua cantiga. Dado que a sua única composição aparece nos cancioneiros colocada dentro do conjunto de cantigas que se conhece como “Cancioneiro de jograis galegos”, é possível que fosse efectivamente jogral e natural do território da Galiza. Obra poética: 1 cantiga, de amigo (cant. 1304): 1) «D’ ir a Santa Maria do Lag’ hei gram sabor» (Ba 1288, V [893]) irR [= Tav 39,1]: cant. 1304.

Fernám do Lago 1 [= 1304 = Tav 39,1] «D’ ir a Santa Maria» (Ba 1288, V [893]) [Cantiga de amigo; de refrão. Dirigindo-se a uma irmã, a rapariga manifesta o seu desejo de ir a Santa Maria do Lago, mas não se o seu amigo não for também]. I 2 4 II 6 8 III 10 12 IV 14 16

D’ ir a Santa Maria do Lag’ hei gram sabor; e pero nom irei alá se ant’ i nom for, irmãa, o meu amigo. D’ ir a Santa Maria do Lag’ é-mi gram bem; e pero nom irei alá se ant’ i nom vem, irmãa, o meu amigo. Gram sabor haveria [e]no meu coraçom d’ ir a Santa Maria se i achass’ entom, irmãa, o meu amigo. Já jurei noutro dia, quando m’ ende parti, que nom foss’ a la_ermida se ante nom foss’ i, irmãa, o meu amigo.

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Notas: Estudou especialmente esta cantiga Fernanda Toriello, dentro da sua edição das cantigas de Fernand’ Esquio (a quem a atribui, pois considera que o nome Fernám do Lago é uma versão errada de Fernand’ Esquio): TORIELLO, Fernanda (1976): FERNAND’ESQUYO: le poesie: Edizione critica, introduzione, note e glossario, Bari: Adriatica Editrice, 198 pp. O verso primeiro de cada estrofe é «palavra perduda», isto é, verso carente de rima intraestrófica mas com rima interestrófica (ia). As estrofes terceira e quarta poderiam interpretar-se como ]ababC[, portanto de 5 versos curtos, a terceira com rima ]b[ consoante em ia (haveria - Maria), a quarta assoante em i*a* (dia - ermida): Gram sabor haveria [e]no meu coraçom d’ ir a Santa Maria se i achass’ entom, irmãa, o meu amigo. Já jurei noutro dia, quando m’ ende parti, que nom foss’ a la_ermida se ante nom foss’ i, irmãa, o meu amigo. Ora, para conseguirmos a mesma estrutura métrico-rimática nas duas estrofes iniciais, teríamos que admitir que houve um erro de transmissão do texto, e que, onde agora lemos irei alá (versos 3 e 7), estava originariamente iria / lá. Como esta hipótese resulta um tanto temerária, parece mais razoável supor que a rima dantes assinalada nas estrofes terceira e quarta é casual, quer dizer, que não pertence à estrutura rimática da composição.

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