A Capela do Cemitério do Prado do Repouso. Texto de Francisco Queiroz. Porto, Pelouro de Ambiente da Câmara Municipal do Porto, 2001.

May 19, 2017 | Autor: Francisco Queiroz | Categoria: History of architecture, Cemetery Studies
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Capela docemitério do Prado do Repouso

2 Novembro 2001

P e lo u ro do A m b ie n te

A CAPELA DO CEMITÉRIO DO PRADO DO REPOUSO O C em itério do Prado do Repouso fo i fundado em 1839 numa propriedade que até aí se chamava Quinta do Prado do Bispo. Foi o bispo do Porto D. A ntó n io de S. José de Castro, à frente dos destinos da diocese entre 1799 e 1814, quem m andou beneficiar esta quinta de recreio com a plantação de árvores e abertura de uma alam eda aja rdina d a. P aralelam ente, o bispo ord en o u a construção de um edifício no extrem o sul da quinta, com soberba vista sobre o Douro, onde ficaria instalado o Tribunal do Santo Ofício, que não existia no Porto. Este edifício, que serviria igualmente de seminário, teria anexa uma igreja, com a invocação de S. Vítor. Várias obras foram feitas no início do século XIX, mas suspenderam-se após a morte do bispo que as promoveu. As vicissitudes políticas ocorridas nas prim eiras três décadas do século XIX precipitaram o abandono do projecto desta obra grandiosa, a qual incluía mesmo um plano de urbanização em volta do novo eixo viário que fazia a ligação com o projectado seminário: a Rua de S. Vítor. A Quinta do Prado passou então a estar arrendada a caseiros. Algum as partes da inacabada igreja e seminário foram derrubadas e, da projectada Igreja de S. Vítor, restou apenas uma capela. Ora, esta capela é hoje a capela do Cem itério do Prado do Repouso. Segundo Flórido de Vasconcelos, seria possivelm ente uma das capelas do topo do transepto do lado do Evangelho da inacabada Igreja de S. Vítor. O projecto de construção do prim eiro cem itério público do Porto recaiu sobre a Quinta do Prado do Bispo, propriedade já murada, bem localizada, arborizada, com alguns arruamentos e, sobretudo, sem utilização por parte da Mitra. Apesar de ter invocado não poder alienar tal propriedade, o bispo do Porto da altura, D. Manuel de Santa Inês, foi forçado pela rainha a acatar a ocupação da quinta pelo cemitério. De facto, a Mitra estava fragilizada perante o poder político devido ao cisma religioso ocorrido após o Cerco do Porto de 1833 (o Bispo do Porto nunca foi reconhecido pela Santa Sé). Mesmo assim, foi salvaguardado para a Mitra o espaço do inacabado seminário (hoje colégio dos Salesianos), pois havia ainda a esperança deste v ir a ser construído no futuro. Assim , a capela que ficou da inacabada Igreja de S. Vítor passou a ficar dentro do espaço destinado a cem itério público, tendo sido inicialm ente projectada a sua dem olição. De facto, de acordo com a planta realizada na altura pelo arquitecto Costa Lima, esta capela ficava desalinhada com os arruamentos e, sendo de bastante altura e parcialmente aberta, não era adequada a capela mortuária. Porém o projecto de uma capela m ortuária de raiz, que deveria ser erigida onde hoje está o Cristo Crucificado (ao fundo da avenida principal do cem itério), nunca chegou a ser realizado. De facto, o Prado do Repouso não conseguiu logo transformar-se no cemitério de todos os portuenses e, nos prim eiros anos, só os mais pobres - com d ire ito a sepultura gratuita - eram ali sepultados. Assim ,

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LUIGI CHIARI Luigi Chiari foi um m ultifacetado artista italiano que deixou uma importante marca no neoclassicismo em Portugal, como cenógrafo, ornatista, pintor, decorador e arquitecto. Luigi Chiari trabalhou no Porto na viragem do século XVIII para o século XIX. Entre as obras que executou nesta cidade (incluindo as atribuídas por analogia) contam -se os estuques da Capela do Santíssim o do Hospital da Ordem do Carmo (fim do século XVIII), a decoração da Sala de Jantar do Palácio dos Carrancas, actual Museu Nacional Soares dos Reis (cerca de 1800), a capela do Santíssimo da Igreja de S. Lourenço (Grilos), ou os estuques da Igreja da Ordem Terceira de S. Francisco, a mais interessante decoração neoclássica no Porto, com a qual a capela do Prado do Repouso possui algumas semelhanças. Luigi Chiari fez também obra de entalhador, tendo realizado mobiliário para a Ordem do Carmo e Ordem Terceira de S. Francisco, bem como o guarda-vento da Igreja da Lapa. Foi nesta época que Luigi Chiari terá executado os estuques daquela que hoje é a capela do Cemitério do Prado do Repouso. Em 1807 Luigi Chiari estava já em Lisboa, onde entrou ao serviço no Teatro de S. Carlos com o cenógrafo, tendo ali pemanecido por vários anos (com um intervalo entre 1808 e 1812, quando esteve em Londres). Luigi Chiari esteve tam bém ligado à Corte e projectou o túm ulo da Rainha D. Maria I, na capela-mor da Basílica da Estrela (1821-22), bem como outros túm ulos ou armações fúnebres. No final da sua vida dedicou-se sobretudo à arquitectura, sabendo-se que projectou um palácio, um trib u n a l e um teatro, tudo em Lisboa. 1837 é o últim o ano em que se conhece actividade de Luigi Chiari em Portugal.

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