A Capela do Senhor e da Senhora Ajuda em Lordelo do Ouro

June 14, 2017 | Autor: Hernâni Maia | Categoria: História do Porto
Share Embed


Descrição do Produto

A Capela do Senhor e da Senhora Ajuda em Lordelo do Ouro Hernâni L.S. Maia

A

Capela do Senhor e da Senhora da

Na realidade, o administrador referido

Ajuda, bem como a lenda que terá

por Sousa Reis chamava-se António

dado origem à sua edificação, foi descrita

Francisco Maia (Miragaia, 1795-Foz,

em 1716 por Frei Agostinho de Santa Ma-

1860), que às vezes assinava Júnior por ter

ria1

e, mais tarde, também pelo Padre

o mesmo nome que o pai tinha por hábito

Manuel da Silva Pereira, Reitor da Igreja

assinar, e que, pelo menos desde o seu ca-

de Lordelo do Ouro, nas Memórias Paro-

samento na Foz do Douro, aí morava numa

quiais de 1758, onde se lê “pertence esta

propriedade conhecida por Quinta do Ro-

Cappela ao Povo, e de Esmolas que o

mualdo. Este casamento, com Júlia Claudi-

mesmo dá se orna, e paramenta, a qual

na da Silva (Foz, 1806-São Cosme, 1886),

está decentemente ornada, dourada, e pa-

tivera lugar em 24 de Setembro de 18294 e,

ramentada, e fica na aldeya da Granja jun-

contra o que era hábito, no respectivo regis-

to ao Ryo Douro, e a ela acode bastante

to paroquial não foi mencionado o local de

povo…”.2 No entanto, pouco mais de cem

residência dos noivos nem o dos seus pais,

anos depois, Sousa Reis, historiador de fi-

sendo apenas afirmado que eram todos da-

nais do século XIX, afirmou: “Consta me

quela freguesia, o que faz supor que já lá

que fora pertencente a família particular

residiriam há alguns bons anos. Nele pode

residente em S. João da Foz, sendo seu úl-

ler-se que o noivo era “filho legítimo de

timo administrador Francisco Maia, que

António Francisco [Ribeiro] Maia e de

morreo pobre e quando a respectiva Junta

Dona Ana Amância 5 [de Araújo Maia]” e

de Parochia de Lordello tinha já tomado

que a noiva era “filha legítima de António

conta da mencionada Capella”.3 Como po-

José da Silva e de Mariana Rosa [da Luz]”.

deria, no espaço de um século, ou menos,

Contudo, tendo o pai do noivo falecido du-

uma capela que era do povo de Lordelo do

as semanas após este enlace, isto é, em 3 de

Ouro ter ido cair nas mãos de uma “família

Outubro do mesmo ano,6 a morada é men-

particular”, para mais “residente em S.

cionada no correspondente assento do óbi-

João da Foz” e não em Lordelo?

to, onde pode ler-se “António Francisco 1

[Ribeiro] Maia casado segunda vez [sic]

Nassau casara com James Butler, também

com Dona Ana Amância da Quinta do Ro-

negociante e de origem aristocrática irlan-

mualdo desta freguesia de São João da Foz

desa, com quem era aparentada; em 1814,

do Douro.“

após a derrota de Napoleão Bonaparte e o

A família a que se referia Sousa Reis

seu afastamento para a ilha de Elba, esta

morava, portanto, na Quinta do Romualdo

família partiu para Inglaterra, deixando a

(também chamada Quinta do Nassau —

quinta devoluta e sob administração dum

presentemente Quinta do Monte7) desde

sobrinho, Charles Butler, também ligado

pelo menos a data do referido casamento —

com a exportação de vinho do Porto.11 Nes-

embora se admita que poderá ter aí residido

se mesmo ano, o príncipe Guilherme de

a partir de tão cedo quanto 1816.8 Esta

Orange-Nassau, parente tanto dos Butler

quinta ficava (e fica) situada entre a Tra-

como dos Nassau, que pouco tempo antes

vessa Alegre, a Rua Alegre e a Rua Central

visitara o Porto e estivera hospedado no Pa-

(presentemente Rua Padre Luís Cabral),

lácio dos Carrancas,12 ganhava soberania

com portões para qualquer destas ruas,

numa parte da Europa que estivera ocupada

embora a entrada principal fosse pela Tra-

por Napoleão, para no ano seguinte ser

vessa Alegre, que liga a Rua Alegre à Rua

proclamado rei com o nome de Guilherme I

de Montebelo. Durante o século XIX, nos

dos Países Baixos.13

assentos paroquiais a palavra “Alegre” sur-

António Francisco Maia e sua mulher,

gia como “Alegria” — “Travessa da Ale-

D. Júlia Claudina da Silva, não terão sido

gria”, “Rua da Alegria” ou, simplesmente,

felizes nesta sua residência onde nasceram

“Alegria”, normalmente em inscrição à

onze dos doze filhos que tiveram, todos en-

margem dos assentos. A quinta fora criada

tre 1830 e 1852, pois os três primeiros fale-

em 1808 por Guilherme de Nassau, um

ceram da epidemia de colera morbus que

aristocrata britânico que era sócio da firma

sobreveio ao Cerco do Porto e assolou a

Perry, Friend, Nassau & Thomsons,9 expor-

cidade quando das lutas liberais de D. Pe-

tadores de vinho do Porto; a partir duma

dro com seu (meio)irmão D. Miguel. Du-

propriedade anteriormente aí existente,

rante a guerra civil, a quinta foi bombar-

Nassau mandara construir um verdadeiro

deada 14 e tiveram de refugiar-se a caminho

palácio em estilo neoclássico, estilo que

de Lordelo do Ouro, na chamada Quinta da

estava então a surgir no Porto e em que o

Boa Vista15 (ou Boavista), uma propriedade

Palácio dos Carrancas,10 que fora mandado

rural situada em Sobreiras, a meio caminho

construir pelos irmãos Morais e Castro e

entre a Foz e Lordelo. Nesta outra quinta

que actualmente alberga o Museu Soares

nasceu-lhes o terceiro filho, que veio afinal

dos Reis, é uma referência. Uma filha de

a falecer um ano depois, quando já se en2

contravam de regresso à quinta da Foz,

pela do Senhor e da Senhora da Ajuda não

uma vez terminadas as obras de reparação.

terá de coincidir com a da sua ida para a

O pai destas crianças, que veio a exercer

Foz do Douro. Embora Ribeiro Maia tives-

funções de escrivão do Juízo de Paz do dis-

se residido durante a maior parte da sua

trito da Foz do julgado do Porto,16 talvez

vida na freguesia de Miragaia, onde já se

por razões de carácter, terá descurado os

encontrava em 1782,23 então com dezanove

florescentes negócios que recebera do pai e

anos, ele nascera na freguesia de Lordelo

veio a perder a avultada fortuna de que fora

do Ouro, mais exactamente no lugar da

praticamente o único herdeiro. Assim, to-

Granja,24 onde se situava a Capela do Se-

dos os seus bens terão sido vendidos em

nhor e da Senhora da Ajuda. Do lado pater-

hasta pública por volta de 1856, data em

no, a sua família já estava estabelecida nes-

que a quinta foi adquirida por John

ta freguesia desde pelo menos finais do sé-

Alexander Fladgate, Barão da Roeda,17 um

culo XVI, ainda que o nome Maia, vindo

outro exportador de vinho do Porto. A sua

da Póvoa de Varzim, tivesse chegado a

última filha, Henriqueta, nasceu em 185218

Lordelo apenas em finais do século seguin-

e faleceu em 1853,19 com pouco mais de

te. Pelo lado materno, os seus antepassados

um ano de idade, ainda na quinta da Foz. O

já viviam nesta freguesia em meados do

pai faleceu em 1860,20 pobre, como afir-

século XVII.

mou Sousa Reis,21 já não na quinta mas

Embora a mãe de António Francisco Ri-

“numa das moradas da Rua de Monte

beiro Maia, D. Josefa Maria da Trindade

Belo” e “deixou oito filhos”, o mais velho

(Lordelo, 1726-Miragaia, 1802), fosse apa-

com vinte e quatro anos e a mais nova com

rentada com a rica, poderosa e influente

dez.

família Martins de Faria,25,26 da freguesia

É esclarecedor que Sousa Reis tenha

de Lordelo do Ouro, e aí possuísse algumas

afirmado que a capela pertencera a uma

propriedades, segundo afirmou no seu tes-

família e não que fizera parte duma propri-

tamento27 a fortuna da família terá sido rea-

edade, ficando assim excluída a hipótese de

lizada pelo seu segundo marido, José

ter pertencido à quinta onde então viviam, a

Francisco Maia (Lordelo, 1736-Miragaia,

actual Quinta do Monte — de resto, em li-

1797), filho de Tomé Gonçalves Ouro

nha recta a quinta, na Foz, e a capela, em

(Lordelo, 1692-Lordelo, 1758) e de sua

Lordelo, distam entre si bem mais de um

mulher, Maria Francisca Maia (Lordelo,

quilómetro (e a quinta possuía a sua própria

c.1697-Lordelo, 1776), moradores no lugar

capela22). Então, a data atribuível à ligação

do Ouro, muito perto da capela. António

de António Francisco Ribeiro Maia (Lorde-

Francisco Ribeiro Maia,28 único herdeiro

lo, 1763-Foz, 1829), ou do seu filho, à Ca-

de José Francisco e de D. Josefa Maria, fi3

zera um bom casamento com D. Gertrudes

da praça do Porto, estivesse igualmente re-

Magna de Jesus (Sé, 1763-Foz, 1803), filha

lacionado com o próprio Charles Butler,

primeira duma abastada família de exporta-

também exportador de vinho do Porto e

dores de vinho do Porto (Ruba e Oliveira

administrador da Quinta do Nassau.

Dias), casamento que foi celebrado pelo

A construção da Capela do Senhor e da

Dom Abade dos poderosos e influentes

Senhora da Ajuda deverá remontar ao final

Mosteiros de Santo Tirso e de São João da

do século XVI ou início do século XVII,32

Foz do Douro, único tio materno da noiva.

pelo que terá sido erigida em vida de al-

Os bens herdados por morte da mãe em

guns dos antepassados mais remotos de

180229 e da primeira mulher em 1803,30 as-

António Francisco Maia em Lordelo do

sociados aos recursos materiais que ele

Ouro. O nome e assinatura do seu avô

próprio tinha reunido enquanto bem suce-

Tomé surgem frequentemente nos assentos

dido negociante do Porto, fizeram de

paroquiais de Lordelo do Ouro, quer na

António Francisco Ribeiro Maia um ho-

qualidade de padrinho, quer na de testemu-

mem suficientemente rico para poder usu-

nha, pelo que seria talvez um homem de

fruir de um luxo que apenas poderia ser

posses e certamente bastante considerado

permitido a alguns dos mais prósperos ci-

naquele meio, devoto e próximo da Igreja.

dadãos portuenses da época; mas era tam-

De algum modo parece ter sido acompa-

bém pessoa influente, membro da distinta

nhado pela mulher, o que pode ser exempli-

Companhia dos Cidadãos do Porto, que

ficado por em 1729 ela ter pago todas as

nessa qualidade teve o seu papel na liberta-

despesas do funeral de Domingas, solteira,

ção da cidade dos invasores franceses. Um

do lugar do Monte de Santa Catarina33 da-

estreito relacionamento com os igualmente

quela freguesia, que não era sua parente —

prósperos proprietários do Palácio dos Car-

seria talvez sua serviçal. Como a maior par-

rancas, os Morais e Castro,31 já na época

te dos residentes em Lordelo do Ouro, eles

em que em sua casa hospedaram os gene-

deveriam ser assíduos devotos do Senhor e

rais ingleses que libertaram a cidade, quan-

da Senhora da Ajuda, devoção que muito

do estes a revisitaram na companhia de

provavelmente terão passado aos seus fi-

Guilherme de Orange-Nassau, da casa real

lhos e netos. A concluir, depreende-se que a

holandesa, talvez tenha induzido Ribeiro

Capela do Senhor e da Senhora da Ajuda,

Maia a instalar-se no segundo palácio por-

de Lordelo, classificada desde 1986 como

tuense que fora construído em estilo neo-

monumento nacional,34 não terá pertencido

clássico e que fazia parte da quinta da Foz

a uma família residente na Foz no sentido

do Douro onde veio a falecer de repente;

duma leitura literal de Sousa Reis, mas que

não é de excluir que, enquanto negociante

a sua administração deverá ter estado a car4

go dessa família — e que durante algumas

Francisco Ribeiro Maia, fizera de Mira-

gerações teria estado a cargo dos seus an-

gaia para a Foz do Douro, a António

tepassados de Lordelo do Ouro. No se-

Francisco Maia (Júnior) veio a caber o en-

guimento do percurso que o avô José

cargo de a administrar até ser integrada na

Francisco Maia fizera de Lordelo para Mi-

paróquia de Lordelo, o que terá acontecido

ragaia e aquele que o pai, António

por volta de 1856, quando ele ficou pobre.

A Senhora da Ajuda Estatueta de madeira policromada datada do séc. XVII (altura: 25 cm) (propriedade dos descendentes de António Francisco Maia)

NOTA Sem dúvida cativado pela sua beleza e ele-

nhora da Ajuda que no início do século

gância, Frei Agostinho de Santa Maria des-

XVIII existia na capela: “He eſta Sagrada

creve da seguinte forma a estatueta da Se-

Imagem tão pequenina , que não paſſará de 5

hum palmo em alto; & de tantas perfeyções ,

no seu braço direito, como se tivesse sido

& fermoſura , que ſe tem por Angelical , ou

mandada executar para que correspondesse à

formada pelas mãos dos anjos. Tem o Meni-

descrição de Frei Agostinho, a única que era

no Deos ſentado ſobre o braço direyto, e o

conhecida quando a capela foi integrada na

roſto algũ tanto inclinado ao Soberano, &

paróquia de Lordelo, a única que tem conti-

doce Filho, que tambem he fermoſiſſimo,em

nuado a ser citada por diversos autores con-

aquella pequenina proporção em que ſe vè.

temporâneos. O que leva a nos interrogar-

He de eſcultura de madeyra […]. Vè ſe o

mos se, quando a capela foi integrada na pa-

manto pintado de azul , & a tunica de cor

róquia, a Senhora da Ajuda original ainda

roſada.” É algo estranho que a Senhora da

fazia parte do seu espólio, ou se no dia fatí-

Ajuda, que tem sempre o menino no seu

dico em que teve de passar para a mão de

braço esquerdo (como é o caso da estatueta

“estranhos”, os cuidados que várias gerações

que é ilustrada na figura), seja aqui descrita

duma mesma família durante séculos lhe de-

com o menino “sentado sobre o braço direi-

votaram não conferiria ao seu último herdei-

to” — não podemos deixar de interrogar-nos

ro direito de posse sobre algum dos seus ob-

se Frei Agostinho se referia ao braço direito

jectos de culto, dando sentido a Sousa Reis

da imagem, se ao braço que ele “via do seu

quando afirmou que “fora pertencente a fa-

(dele) lado direito”. Na realidade, a actual

mília particular residente em S. João da

Senhora da Ajuda da capela tem o menino

Foz”.

BIBLIOGRAFIA Agostinho de Santa Maria (Fr.), “Santuário

da Biblioteca Pública Municipal do Porto

Mariano...” Tomo V, António Pedroso Gal-

— II Série — 6, Biblioteca Pública Munici-

ram, Lisboa, 1716, p. 81-85.

pal do Porto, 1999, p 363.

Henrique Duarte e Sousa Reis, Apontamentos para a História antiga e moderna da Anti-

Helder Pacheco, “Porto”, Editorial Presença, Lisboa, 1984, p. 32-33.

ga, mui nobre, sempre Leal e Invicta Cidade

Bernardo Chamusca, “Paróquia Nossa Senhora

do Porto” — IV Volume, in Marina de Mo-

da Ajuda”, edição do autor, Tip. Nunes,

rais Freitas de Matos, Manuscritos Inéditos

Lda., Porto, 1992.

6

1 2

3

4

5

6

7 8

9

10 11 12

13 14

15

16 17

18

19

20

Agostinho de Santa Maria (Fr.), “Santuário Mariano...” Tomo V, António Pedroso Galram, Lisboa, 1716, p. 81-85. “Lordelo do Ouro, Matosinhos — Memórias Paroquiais de 1758”, vol. 21, n.º 122, p. 1136, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, DigitArq ref. PT/TT/MPRQ/21/122. Henrique Duarte e Sousa Reis, Apontamentos para a História antiga e moderna da Antiga, mui nobre, sempre Leal e Invicta Cidade do Porto” — IV Volume, in Marina de Morais Freitas de Matos, Manuscritos Inéditos da Biblioteca Pública Municipal do Porto — II Série — 6, Biblioteca Pública Municipal do Porto, 1999, p 363. Cf. Registos Paroquiais da freguesia da Foz do Douro, PT-ADPRT-PRQ-PPRT05-002-0012_m00164.tif - Registos de casamento - 00184 - f. 180-2.º. À margem deste registo lê-se “N.º 16, António Francisco Maya com D. Júlia Claudina da Silva”. Na realidade D. Ana Amância (Sé, 1677-?) era madrasta e não mãe do noivo, que tinha sido o último filho do primeiro casamento do pai e nascera em 1795, em Miragaia (cf. Registos Paroquiais da freguesia de Miragaia (PT-ADPRT-PRQ-PPRT08-001-0013_m00083.tif - Baptismos - f. 76v-1.º). O casamento do pai com D. Ana Amância de Araújo teve lugar em 8 de Dezembro de 1803 (cf. Registos Paroquiais da freguesia de Santo Ildefonso (PTADPRT-PRQ- PPRT12-002-0024_m00431.tif - casamentos - 00431 - f. 175-2.º). Cf. Registos Paroquiais da freguesia da Foz do Douro, PT-ADPRT-PRQ-PPRT05-003-0011_m00200.tif - Registos de óbito - 00220 - f. 216-5.º). “Casado segunda vez” pretendia significar “casado em segundas núpcias”. Quinta do Monte, na Foz do Douro, Porto Desaparecido, in Google. Em 25 de Novembro de 1815, Joana Felícia Maia, de pouco mais de vinte e cinco anos, falecera em casa de seu pai, António Francisco Ribeiro Maia, então residente junto à praia de Miragaia (cf. Registos Paroquiais da freguesia de Miragaia, PT-ADPRT-PRQ-PPRT08-003-0013_m0004.tif - Registos de óbitos - 0045 - f. 41-3.º). Charles Sellers, Oporto Old and New..., Herbert E Harper, 1899, p. 188-192 in Internet Archive. Esta firma terá sido dissolvida antes ou por altura da constituição da nova quinta, pois já não figurava na listagem de 1809. Presentemente alberga o Museu Nacional Soares dos Reis — Edifício, Portuguese Institute of Museums, in Google. Charles Sellers, op. cit. Conforme é afirmado numa petição dirigida em 1813 pelos irmãos Morais e Castro ao Príncipe Regente e confirmado no Atestado emitido em seu suporte e assinado em 22 de Julho de 1813 por Sir Nicholas Trant (Dingle, 1769Great Baddow, 1839), Governador das Armas do Partido do Porto — documentos amavelmente facultados pelo Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto (cf. Museu Nacional Soares dos Reis — Edifício, Portuguese Institute of Museums, in Google). Cf. História dos Países Baixos, Embaixada da Holanda em Lisboa in Google. Em 17 de Fevereiro de 1834, na qualidade de administrador das casas pertencentes aos herdeiros do falecido Guilherme Nassau, residentes em Inglaterra, Charles Butler requereu uma indemnização de quatro mil reis destinada a reparar os telhados, as chaminés, os dois salões, a biblioteca, as casas dos criados, a capela, os jardins e o aqueduto, o que incluía a substituição de 480 vidros (!) (Documentos A-PUB-06362, Arquivo Municipal do Porto). O aqueduto mencionado nestes documentos era de “serventia da caza e Quinta” e o que dele ainda resta é conhecido por “Aqueduto de Montebelo”. Os terrenos e a casa que faziam parte desta quinta podem ser localizados no Mapa de Teles Ferreira de 1892 (Mapas do levantamento da planta da cidade do Porto da autoria de Augusto Gerardo Teles Ferreira, série, 1887-1892, Gisa ref. 370582/2780 — Arquivo Municipal do Porto in Google). Depois dum projecto de urbanização realizado em finais da década de 1920 (Quinta da Boavista, Documento/Processo, 1928-1928, Gisa — Arquivo Municipal do Porto in Google), os terrenos desta propriedade, que vinham desde o alto do Pasteleiro até à Rua de Sobreiras, vieram finalmente a ser urbanizados entre 1953 e 1955 (Bairro Rainha D. Leonor in Wikipédia). Porém, a primitiva casa da quinta ainda existe quase à entrada da Rua 1 do Bairro Rainha D. Leonor, já muito próximo do rio, e é ocupada por uma creche da “Obra Diocesana de Promoção Social”. Cf. António Francisco Maia, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, DigitArq ref. RGM/H/202916. Conforme é afirmado num requerimento de John Fladgate, de 12 de Novembro de 1856, solicitando autorização para mandar reparar um muro (Arquivo Municipal do Porto, Caixas de Plantas de Casas, D-CMP-07-019-366366v). Neste requerimento a quinta é dada como situada na “Rua e Travessa d’ Alegria”. Cf. Registos Paroquiais da freguesia da Foz do Douro, PT-ADPRT-PRQ-PPRT05-001-0014_m00912.tif - Baptismos - f. 196-1.º. À margem deste registo pode ler-se “Alegria”. Cf. Registos Paroquiais da freguesia da Foz do Douro, PT-ADPRT-PRQ-PPRT05-003-0012_m00973.tif - Óbitos - f. 202v-3.º. À margem deste registo pode ler-se “N.º 82, Travessa da Alegria, Henriqueta, f.ª d’Ant.º Fr.co Maia”. Cf. Registos Paroquiais da freguesia da Foz do Douro, PT-ADPRT-PRQ-PPRT05-003-0014_m01060.tif - Óbitos -f. 16-2.º e 16v.

7

21

22 23

24

25

26

27 28

29

30

31

32

33

34

Lamentavelmente, A. Coutinho Lanhoso, no seu artigo “A Capela do Senhor e da Senhora da Ajuda, de Lordelo do Ouro”, publicado em O Tripeiro (n.º 3, de Março de 1962), cometeu um erro histórico grave, que consistiu em citar Sousa Reis, mas incluindo uma frase que não consta do texto citado: “Elucida-nos ainda Sousa Reis dizendo-nos constar-lhe que a capela da Ajuda fora propriedade particular de uma família da Foz do Douro e que fora seu último administrador Francisco Maia, um dedicado servidor dessa mesma família, que morreu já depois da Junta Paroquial ter tomado conta da ermida”. De facto, com a frase aqui sublinhada, frase da sua lavra, o autor parece pretender substituir (ou interpretar...) aquela de Sousa Reis em que se lê “que morreo pobre”. Infelizmente estes erros históricos tendem a propagar-se, como de resto literatura posterior o demonstra. Cf. Documentos A-PUB-06362, Arquivo Municipal do Porto. Em 20 de Outubro de 1782 António Francisco Ribeiro Maia foi padrinho da sua prima Ana da Costa da Trindade, em cujo assento de baptismo foi declarado que era residente na freguesia de Miragaia (Registos Paroquiais da freguesia de Lordelo do Ouro, PT-ADPRT-PRQ-PPRT06-001-0005_m00004.tif - Registos de baptismos - 00142 - f. 134-3.º). Cf. Registos Paroquiais da freguesia de Lordelo do Ouro, PT-ADPRT-PRQ-PPRT06-001-0004_m0923.jpg - Registos de baptismos -1030 - f. 104-1.º. Eram quatro irmãos e duas irmãs; dos rapazes, os quatro mais novos chamavam-se Frutuoso (Lordelo, 1675-Rio de Janeiro, 1745), Cosme (Lordelo, 1681-Lordelo, 1736), António (Lordelo, 1684-Lordelo, 1756) e Agostinho (Lordelo, 1687-Lordelo, 1721). No seu testamento, datado de meados de 1743, Frutuoso [Martins] de Faria, o mais velho, deixou um avultado legado à paróquia de Lordelo destinado a obras de beneficiação (“Lordelo do Ouro, Matosinhos — Memórias Paroquiais de 1758”, vol. 21, n.º 122, p. 1135, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, DigitArq ref. PT/ TT/MPRQ/21/122). Em ligação com Frutuoso, os restantes irmãos detinham importantes negócios e avultada fortuna, sendo ao tempo verdadeiros senhores de Lordelo do Ouro, nomeadamente Cosme, que era o sargento-mor e António, que era padre — e possuíam alguns escravos, mesmo o padre (Maria do Carmo Serén e Silvestre Lacerda, “Lordelo do Ouro”, Junta da Freguesia de Lordelo do Ouro, 2001, p. 32.). D. Josefa Maria da Trindade era sobrinha de Agostinho Martins de Faria, o mais novo dos irmãos Martins de Faria, que casara em 1711 (cf. Registos Paroquiais da freguesia de Lordelo do Ouro, PT-ADPRT-PPRT06-002-0002_m0565.jpg - Casamentos - f. 166-4.º e 167) com a sua tia Francisca Fernandes da Trindade (Lordelo, 1683-Lordelo, 1761) e, portanto, prima direita do seu filho padre Dr. José Martins de Faria (Lordelo, 1712-?), “formado nos [Textos] Sagrados” e que foi chantre da Diocese do Funchal (“Lordelo do Ouro, Matosinhos — Memórias Paroquiais de 1758”, vol. 21, n.º 122, p. 1137, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, DigitArq ref. PT/TT/MPRQ/21/122 e "Carta de José Martins de Faria, chantre da Sé do Funchal, sobre os assuntos que fora tratar à corte", Arquivo Nacional da Torre do Tombo, DigitArq ref. PT/TT/CSF/017/M09/39). Datado de 19 de Julho de 1798 (Documento A.PUB.2260.89, Arquivo Municipal do Porto). António Francisco Ribeiro Maia era afilhado de António Carneiro Leão (Carvalhosa, c. 1705-Lordelo, 1781), Cavaleiro da Ordem de Cristo, da família Carneiro Leão com importantes ligações ao Brasil, e que casara em 1736 (cf. Registos Paroquiais da freguesia de Lordelo do Ouro, PT-ADPRT-PPRT06-002-0003_m0798.jpg - Casamentos - f. 148-1.º) com D. Teresa Bernardina de São José (Lordelo, 1736-Lordelo, 1773), filha de Cosme Martins de Faria, o sargentomor. Foi um benemérito da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, no Porto, onde à entrada se pode ver o seu retrato a óleo, instituição a que também José Francisco Maia e o seu filho António Francisco Ribeiro Maia, bem como as respectivas mulheres, estavam ligados. Cf. Registos Paroquiais da freguesia de Miragaia, PT-ADPRT-PRQ-PPRT08-003-0012_m00830.tif - Óbitos - f. 43v-2.º. Cf. Registos Paroquiais da freguesia da Foz do Douro, PT-ADPRT-PRQ-PPRT05-003-0008_m00699.tif - Óbitos -f. 203-3.º. Em 11 de Novembro de 1815, Manuel Mendes de Morais e Castro, que veio a ser o 1.º barão de Novogilde, e a sua irmã D. Rita Margarida de Morais e Castro foram padrinhos da primeira neta, Maria, de António Francisco Ribeiro Maia (cf. Registos Paroquiais da freguesia de Miragaia (PT-ADPRT-PRQ-PPRT08-001-0014_m00372.tif - Baptismos - f. 172v-1.º). Descrita em: Capela do Senhor e Senhora da Ajuda, Património Cultural, Direcção Geral do Património Cultural in Google. Cf. Registos Paroquiais da freguesia de Lordelo do Ouro, PT-ADPRT-PRQ-PPRT06-003-0002_m0633.jpg - Óbitos -0633 - f. 243-1.º e 2.º. Decreto do Governo n.º 1/86, Diário da República, 1.ª série, n.º 2, de 3 de Janeiro, p 9-10, após correcção publicada no Diário da República, 1.ª série, n.º 49, de 28 de Fevereiro de 1986, a “Capela do Senhor e Senhora da Ajuda, da freguesia de Lordelo do Ouro” é classificada como monumento nacional.

8

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.