A CIÊNCIA E OS AVANÇOS DA MEDICINA

June 2, 2017 | Autor: Fernando Alcoforado | Categoria: History of Medicine, History of Science, Public Health
Share Embed


Descrição do Produto

A CIÊNCIA E OS AVANÇOS DA MEDICINA Fernando Alcoforado* A descoberta da anestesia que é um procedimento de altíssima segurança que promove analgesia parcial ou completa enquanto o paciente é operado representou o primeiro grande avanço científico no campo da Medicina. A anestesia com éter foi descoberta em Boston na década de 1840. A única anestesia conhecida até então era feita à base de álcool e pólvora, aplicada no paciente por via oral. Normalmente ele era segurado pelos assistentes enquanto mordia algo para não gritar, até que a operação terminasse. Geralmente eram feitas desta forma amputações consideradas na época como grandes cirurgias. Embora os pacientes aguentassem dores extraordinárias, havia uma busca urgente por analgésicos. Para aliviar a dor, eram combinadas várias substâncias, a maior parte delas extraída de plantas medicinais que, às vezes, a mistura ficava muito forte e o paciente morria por overdose (GUÉRIOS, Floriano, CORTIANO, Edson, RIGONI, Fernanda. Anesthesia. IN: Keys. São Paulo: Saraiva, 2006). Além das plantas medicinais, boa parte das pessoas buscava na religião a força para suportar a dor, que era vista como uma punição de Deus para os perversos e como purificadora da alma para os bons. A anestesia com éter foi introduzida nos Estados Unidos em 1846, e com clorofórmio, no Reino Unido, em 1847. A inalação dos vapores desses compostos não apenas colocava as pessoas para “dormir”, tornando-as insensíveis à dor, mas seu uso significava que os pacientes se “tornaram inconscientes à tortura”. Essa grande invenção na história da Medicina não só beneficiou os pacientes, como também tornou mais fácil a vida dos cirurgiões, que não tinham mais que lidar com pacientes desesperados contorcendo-se de dor na mesa de cirurgia durante uma amputação, ou com uma fuga precipitada. A descoberta da anestesia foi, sem sombra de dúvidas, uma das inovações clínicas que revolucionaram a cirurgia (MARGOTTA, R. História Ilustrada da Medicina. São Paulo: Manole, 1998). Outro grande avanço na Medicina foi a descoberta dos Antibióticos haja vista que, por seu intermédio, foi possível combater as infecções. A descoberta da Penicilina, por Alexander Fleming em 1928, foi um fato revolucionário porque foi o primeiro antibiótico usado com sucesso no tratamento de infecções causadas por bactérias. Com o uso de antibióticos, doenças como pneumonia, sífilis, gonorreia e tuberculose deixaram de ser fatais. As Vacinas foram também uma das descobertas de suma importância médica que trouxeram melhorias na qualidade e expectativa de vida da população mundial, visto que atuam na prevenção de doenças que antes chegavam a ser fatais. No início do século XX foram desenvolvidas vacinas contra doenças infecciosas como a tuberculose, a difteria, o tétano e a febre amarela. Após a 2ª Guerra Mundial, foram desenvolvidas vacinas contra a poliomielite, o sarampo, a papeira e a rubéola. E a cada ano, temos mais descobertas e novas vacinas sendo desenvolvidas como, por exemplo, as contra Influenza e a nova Vacina contra HPV. Um dos desafios da atualidade é desenvolver vacinas contra outras doenças virais como a HIV. Finalmente, os exames de Imagem na Medicina (Radiografias, Tomografias, Ultrassonografia) também representaram grande evolução tecnológica que aprimoraram a clínica e a cirurgia (MARGOTTA, R. História Ilustrada da Medicina. São Paulo: Manole, 1998). A Medicina evoluiu bastante em áreas como a imunologia, virologia, engenharia genética, cardiologia, endocrinologia, medicina nuclear etc. A descoberta da penicilina, 1

o transplante de órgãos, a quimioterapia e a radioterapia, o uso de marcapassos, entre outras descobertas e aperfeiçoamentos que permitiram que diversas doenças fossem evitadas e até mesmo erradicadas e outras descobertas e posteriormente tratadas, contribuíram decisivamente para melhorar o bem estar do ser humano. Acrescente-se a tudo isto, os avanços na fecundação artificial do óvulo em laboratório e no implante intrauterino do ovo fecundado que são uma façanha sem paralelo na história da reprodução humana. O campo da engenharia genética deu origem a um acontecimento promissor: a determinação da estrutura do DNA – base de toda matéria viva e responsável pela transmissão do código genético (SOUZA, Valdomiro. Projeto Genoma Humano. São Paulo: Loyola, 2004). A fibroendoscopia representou um grande progresso nos métodos diagnósticos porque substituiu os então utilizados aparelhos metálicos, rígidos e cheios de limitações, os laboratórios desenvolveram técnicas de alta sensibilidade que contribuíram para o diagnóstico clínico permitindo detectar substâncias em concentrações infinitamente pequenas nos líquidos orgânicos e nos tecidos, a descoberta dos raios-X, no final do século XIX, e sua aplicação com fins diagnósticos, no início do século XX, constituiu um marco importante na história da Medicina e, finalmente, o isolamento e a determinação da estrutura química de hormônios possibilitou a síntese de grande parte deles em laboratório (FIOCRUZ. Bases conceituais e históricas do campo da saúde. Disponível no website , 2003.). Inúmeros são os avanços que são previstos para a Medicina no futuro, como é o caso do uso de células-tronco que são a grande promessa da ciência para revolucionar a Medicina, já que podem se transformar em qualquer outra célula do corpo, o desenvolvimento de ciborgues que estabelece a interface cérebro-máquina, abrindo caminho para ajudar pessoas com deficiências, paralisias ou que sofreram amputações a recuperar os movimentos, a criação de célula controlada por um genoma sintético criado a partir de instruções de computador, criação de óvulos a partir de células adultas e a descoberta de novos antibióticos. Outro grande avanço do futuro diz respeito aos transplantes que se resumiam, inicialmente, a um único órgão: o rim e que, atualmente, já é possível transplantar coração, pulmão, fígado, tecido pancreático e medula óssea. No futuro, certamente, outros órgãos também poderão ser substituídos. Grandes progressos são esperados nos atos cirúrgicos – com destaque para a cirurgia cardíaca, a neurocirurgia e a oftalmologia – que foram possíveis graças à colaboração de outras disciplinas, como a anestesiologia, a neurofisiologia, a bacteriologia e a imunologia. Além do Raio X, a Medicina conta com tecnologias como a tomografia, ressonância magnética e outras formas de se examinar o corpo de um paciente sem uma invasão cirúrgica e terá como próximo passo as máquinas para ler o pensamento e gravar até mesmo sonhos. A Penicilina foi o primeiro dos antibióticos que abriu caminho para o nascimento de novos antibióticos com o uso de células-tronco. Por sua vez, a belíssima estrutura do DNA fará com que a engenharia genética que cresceu muito nos últimos 50 anos chegue a "copiar" seres vivos (ALMEIDA, Aline Mignon de. Bioética e biodireito. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000). O Projeto Genoma Humano iniciado em 1990 com o envolvimento de mais de 5.000 cientistas vai proporcionar avanços ainda maiores na Medicina. O mapeamento de todos os genes do corpo humano (DNA) através do Projeto Genoma Humano representa uma 2

das maiores façanhas da história da humanidade. O Projeto Genoma Humano representa um esforço da pesquisa internacional para sequenciar e mapear todos os genes dos seres humanos. Este projeto é de suma importância para as futuras gerações, pois vai possibilitar a prevenção de doenças hereditárias ou pelo menos amenizar seus sintomas. A previsão dos cientistas envolvidos no projeto é a de que daqui a 50 anos, a terapia genética estará disponível para a maioria das doenças e a expectativa de vida do ser humano chegará aos 90 anos. Hoje, já é possível saber se o DNA de uma pessoa acusa a predisposição de certos tipos de câncer, e a partir desta constatação, aplicar um tratamento preventivo no paciente. O Projeto Genoma Humano já está facilitando o desenvolvimento de fármacos muito mais potentes, já completou a descoberta de mais de 1800 genes de doença, além de desenvolver, pelo menos, 350 produtos biotecnológicos resultantes dos conhecimentos gerados (Ver SOUZA, Valdomiro. Projeto Genoma Humano. São Paulo: Loyola, 2004). Os avanços na genética acarretam, entretanto, problemas éticos, sociais e legais. Os operadores do direito vivenciam constantemente os dilemas resultantes da aplicação do conhecimento biotecnológico, que tanto pode ser aplicado em prol da humanidade ou proteção ao indivíduo, quanto pode se revelar em instrumento fomentador de práticas racistas, de extermínio e discriminação de população portadora de doenças e anomalias já registradas nos seus genes. É imprescindível que haja um controle ético para as situações em que as inovações tecnológicas se confrontam com valores morais, principalmente ante a influência econômica que cerca o Projeto Genoma Humano, de forma que a dignidade humana poderia sucumbir ao interesse econômico. Foi criada em 1988 a Organização do Genoma Humano – Human Genome Organization - HUGO – ligada ao comitê de bioética da UNESCO que tem por objetivo “coordenar os esforços internacionais para evitar duplicações e superposições de pesquisas” (Ver ALMEIDA, Aline Mignon de. Bioética e biodireito. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000 e BARBAS, Stela e NEVES, Marcos de Almeida. Direito ao patrimônio genético. Coimbra: Almedina, 2006). Atualmente, a HUGO desenvolve suas atividades sobre o prisma de quatro princípios: 1) o reconhecimento da característica de patrimônio comum da humanidade; 2) a adesão às normas internacionais que versam sobre direitos humanos; 3) o respeito aos valores, tradições, cultura e integridade dos envolvidos no estudo; e, 4) a defesa da dignidade da pessoa humana e da liberdade. Obviamente, deve ser reconhecida a liberdade de pesquisa e os benefícios à coletividade, entretanto, tais resultados devem obedecer a fins lícitos. Com os avanços da biotecnologia e deliberações acerca da manipulação genética, a UNESCO, pelo seu Comitê Internacional de Bioética, emitiu a Declaração Universal do Genoma Humano e Direitos Humanos, com o objetivo de satisfazer as lacunas decorrentes desta nova realidade, protegendo assim os direitos fundamentais de prováveis violações pela prática de algumas das técnicas de engenharia genética. *Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic

3

and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: [email protected]

4

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.