A CIVILIZAÇÃO INDIANA

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A CIVILIZAÇÃO INDIANA

A Índia é uma terra de muitas diversidades. Nela convivem muitos povos, culturas, religiões e línguas diferentes, resultado das inúmeras migrações e invasões que a região conheceu no decorrer de sua longa existência. Isso nos permite compreender por que naquele país são faladas algumas centenas de idiomas e dialetos. Deve-se notar que a Índia de hoje ainda convive com tradições que acompanham a vida dos indianos desde suas origens, há cerca de quatro milênios. A civilização indiana teve como berço o vale do rio Indo, de onde vem o nome Índia. Hoje, porém, esse rio está dentro das fronteiras do Paquistão, um país que se separou da Índia em 1947, mesmo ano em que os dois países se tornaram independentes da dominação da Inglaterra. Ao longo de milênios de existência, a civilização indiana foi capaz de grandes realizações nos campos da literatura, das artes e das ciências em geral. Foi lá que surgiram, por exemplo, o conceito de zero e os números que hoje chamamos de indo-arábicos. Também foi criadora de grandes religiões, sendo o hinduísmo e o budismo as mais importantes.

1. A PRIMEIRA CIVILIZAÇÃO DO VALE DO RIO INDO: Grupos

de

caçadores-pescadores-coletores



lutavam

pela

sobrevivência no subcontinente indiano há mais de um milhão de anos. Foi o que revelou a analise dos objetos feitos de pedra lascada encontrados no noroeste do subcontinente indiano. Em datas posteriores, outros grupos humanos continuaram chegando à região, deixando por toda parte marcas de sua passagem. O período final do Paleolítico está bem representado por vestígios encontrados dentro de cavernas que serviram de abrigo. Muitas de suas paredes estão decoradas com pinturas rupestres, que mostram cenas da vida cotidiana daquela época, tais como caçada, coleta de mel e dança. A passagem do nomadismo para a vida sedentária, com o inicio do cultivo de plantas, ocorreu no vale do rio Indo entre 8000 e 7000 a.C., e também nas áreas banhadas pelo rio Ganges, cerca de um milênio mais tarde. Com esses rios, alimentados pelas aguas que escorriam do degelo das montanhas do Himalaia, acontecia algo parecido com o que ocorria no Nilo e

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nos rios da Mesopotâmia nas épocas de cheia, eles transbordavam, espalhando elementos fertilizantes sobre as terras próximas. Os agricultores aprenderam a tirar o máximo proveito dessas terras férteis. A abertura de canais de irrigação e o uso do arado permitiam a obtenção de fartas colheitas. Descobertas arqueológicas revelaram que eram cultivados trigo, cevada, arroz, algodão, gergelim, pepino, mostarda e outras espécies. Algumas dessas espécies vegetais e amimais foram descobertas lá mesmo e outras vieram de fora. Por exemplo, o trigo e a cevada provavelmente vieram do Crescente Fértil, e o arroz foi trazido da vizinha China. Eram conhecimentos que circulavam de uma comunidade para outra, ou que as pessoas levavam consigo quando migravam para outras regiões. Junto com a criação de animais, a agricultura forneceu recursos suficientes para sustentar uma população numerosa e os núcleos urbanos se multiplicavam. Por volta de 5000 a.C., já aparecem evidencias de trocas comerciais e os primeiros exemplos de uso do cobre e do marfim. Entre os núcleos urbanos mais importantes que se formaram nesse período estão às cidades de MohenjoDaro e principalmente Harappa. A civilização de Harappa. Desde último núcleo urbano provém o nome civilização Harappa dado à sociedade que ali se formou. Ocupava uma área maior em extensão do que do Egito ou a Suméria na mesma época, e existiu por cerca de dois mil anos, alcançando seu apogeu entre 2500 e 1800 a.C., aproximadamente. Praticamente tudo o que se sabe dessa civilização (também conhecida por civilização do vale do Indo), provém das descobertas arqueológicas. Isso acontece porque a escrita dos harappeanos ainda não foi decifrada. Os centros dessa civilização eram as cidades. Bem construídas, eram dotadas de uma rede de ruas retas e perpendiculares entre si. Seus moradores utilizavam tijolos na construção das casas. Descobertas recentes mostraram que Mohenjo-Daro havia bairros habitados por artesãos com diferentes habilidades. Produziam armas, utensílios e objetos de luxo usando cobre, bronze, ouro e prata, entre outros metais; produziam diversos tipos de cerâmicas e confeccionavam tecidos de algodão. Comerciantes mantinham negócios com regiões distantes. Por exemplo, madeiras raras, marfins, ouro e

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pérolas eram enviados para a Mesopotâmia, de onde traziam prata, estanho, tecidos de lã e grãos, entre outros artigos. Não se sabe como a sociedade harappeana estava organizada politicamente, embora existisse, provavelmente, algum tipo de controle. Essa conclusão se baseia em algumas evidencias como é o caso da escrita comum e de uma provável uniformidade de pesos e medidas. Porém, não foram encontrados palácios, de onde se conclui que não existia um monarca exercendo um poder centralizado. Quem, então, exerceria o controle? Uma resposta para essa pergunta é sugerida pela abundancia de figuras religiosas: é possível que os sacerdotes tivessem um papel de destaque e exercessem algum tipo de autoridade sobre a sociedade formada por comerciantes, artesãos e agricultores, tendo como centros principais as cidades de MohenjoDaro e Harappa. No começo do segundo milênio antes da Era Cristã, a civilização harappeana começou a apresentar sinais de declínio e desapareceu alguns séculos depois, por volta de 1600 a.C. Durante milênios, ninguém mais sabia que ela tinha existido. Essa situação perdurou até que os arqueólogos descobrissem os primeiros vestígios dessa civilização perdida. O que teria provocado seu desaparecimento? A explicação, que durante muito tempo foi tomada como verdadeira, dizia que os povos seminômades teriam invadido e destruído os principais centros da civilização harappena, matando parte de sua população e escravizando o restante. Ultimamente, porém, te sido cada vez mais aceito outra explicação. A causa teria sido uma mudança ambiental que resultou na escassez de água e, consequentemente, na queda da produção de alimentos, comprometendo a sobrevivência da sociedade.

Segundo

essa

hipótese,

a

desarticulação

da

sociedade

harappeana, causada pelas mudanças climáticas, coincidiu com a chegada dos citados povos seminômades. Assim, não teria havido uma invasão, mas a presença cada vez maior desses povos que acabaram por se tornar dominantes no vale do rio Indo. Não se pode descartar, ainda a hipótese de os recém-chegados terem se aproveitado do enfraquecimento da sociedade harappeana para invadir e ocupar seus principais centros. Teria, então, ocorrido na Índia algo parecido 3

com o que aconteceu na Europa, quando os germanos invadiram o Império Romano. Como desdobramento, houve uma crescente interação cultural entre os harappeanos e esses novos moradores do vale do Indo. Dessa interação emergiu uma nova realidade cultural e uma nova civilização começou a se formar – atual civilização da Índia. 2. A CIVILIZAÇÃO DA ÍNDIA COMEÇA A TOMAR FORMA: Os povos seminômades que se tornaram dominantes no vale do Indo falavam um idioma pertencente ao grupo linguístico indo-europeu, ao qual também pertencem o grego, o latim e o alemão. Chamavam-se a si mesmo de arias, ou seja, “nobres”, segundo a língua falada por eles. A população dos arianos continuou a crescer e, a partir de 1000 a.C., aproximadamente, passou a contar com armas e ferramentas de ferro. Fortalecidos, eles avançaram para o leste, ocuparam o vale do rio Ganges, e para o sul, ocupando também territórios da Índia central. Durante esse tempo, com base em técnicas aprendidas com os harappeanos, tornaram-se agricultores e assumiram um estilo de vida sedentário. Fundaram cidades e organizaram os primeiros reinos, colocando nos tronos seus chefes tribais. Essas mudanças sociais também envolveram a língua e a religião. A língua falada pelos arianos era o sânscrito. Essa palavra significa “língua perfeita,” refinada. Mais tarde, se transformou no sânscrito clássico, a língua da literatura, da religião e da ciência da Índia. Da mesma raiz, saíram outros idiomas, inclusive o hindi, que hoje é uma das duas línguas oficiais da Índia (a outra é o inglês). 3. O HINDUÍSMO: Com uma história de mais de quatro mil anos, o hinduísmo é considerado uma das mais antigas religiões do mundo. Não teve um fundador (descrito na história). Seu surgimento resultou da história dos povos que viveram no território indiano. É, na verdade, mais do que uma religião, pois influencia toda a estrutura social, desde os atos comuns da vida cotidiana das pessoas até a literatura e a arte. O hinduísmo não tem uma organização centralizada, além de incluir concepções e praticas religiosas às vezes muito diferentes entre si. É a única, entre as grandes religiões, com característica

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politeísta. Seus seguidores fora da Índia são poucos, mas ainda assim é a terceira religião com maior numero de adeptos no planeta. Vedas, os livros sagrados. A fonte escrita mais antiga para o conhecimento do hinduísmo são os vedas, nome de um grande conjunto de quatro livros sagrados, dos quais o primeiro é o Rig Veda. Em sânscrito, Veda significa conhecimento sagrado. Esses livros contêm hinos, histórias, cantos rituais, fórmulas sagradas, entre outros temas, para acompanhar os rituais religiosos. Foram compostos entre 1500 e 800 a.C., durante muito tempo, foram guardados apenas na memória. Eram transmitidos oralmente pelos mais velhos aos mais jovens. Somente no século VI a.C., provavelmente, tomaram a forma escrita, redigidos em sânscrito. Por ser uma religião muito antiga, seu estudo permite perceber como as sociedades modificam suas crenças religiosas. Entre os habitantes do vale do Indo, a divindade mais difundida era a Grande Mãe, deusa maternal, mãe dos seres e soberana da vida. Deuses, sacrifícios e oferendas. Com a chegada dos arianos, a religião védica se impôs aos cultos locais. Outros deuses passaram a ser cultuados, em geral identificados com os astros e com as forças da natureza, tais como Surya (o sol), Rudras (a tempestade) e Indra (a chuva). Uma divindade muito importante foi Agni, o fogo do altar, venerado como deus do lar e do sacrifício; a ele eram pedidas prosperidade e fecundidade. Ainda hoje ele é invocado em muitas cerimônias. Tudo que era ofertado aos deuses era lançado ao fogo, pois, segundo os Vedas, Agni colocava os humanos em comunicação com o mundo divino. As oferendas eram constituídas de alimentos, tais como leite, manteiga ou mel. Uma oferenda muito frequente era o suco extraído de uma planta, o soma. Era oferecido aos deuses e também consumido pelos sacerdotes. Acreditava-se que tivesse um efeito alucinógeno. Fazia-se também o sacrifício de animais, uma prática comum entre as religiões da antiguidade. Os nobres chegavam a levar animais grandes para o sacrifício, como o cavalo, que custava muito caro.

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O domínio dos brâmanes. Com o tempo e as mudanças na sociedade, a simplicidade inicial do hinduísmo védico deu lugar a crenças religiosas mais complexas. Outras divindades ganharam importância e foram incorporadas novas meditações filosóficas. Com essas mudanças, o hinduísmo entrou numa nova fase, que é chamada de bramanismo. Esse nome vem de brâmanes, como eram conhecidos os sacerdotes. Eles haviam adquirido grande prestígio por serem conhecedores dos Vedas, que tinham obrigação de guardar na memória e transmitir de forma hereditária de pai para filho. Eram eles que tinham o conhecimento das fórmulas mágicas sem as quais os rituais não podiam ser feitos. Os sacerdotes brâmanes estabeleceram Brama como deus principal, descrito como uma energia neutra que criou o universo. Ele era entendido como a personificação de Brahman, uma divindade única e suprema, um espirito que permeia tudo. Brahman não é um ser no sentido do Deus cristão; é inteiramente impessoal e impossível de ser descrito. Outros dois deuses que ganharam importância foram Shiva e Vichnu. Shiva era visto como aquele que destrói a ordem estabelecida, enquanto Vichnu o que restaura e mantem a nova ordem criada. Segundo a crença hinduísta, sem destruição não pode haver o recomeço. Além da trindade Brama-Shiva-Vichnu, há muitas outras divindades. É importante notar que o hinduísmo abrange uma infinidade de seitas e de variações, e não há entre elas um corpo de doutrinas ou culto e instituições comuns. O hinduísmo incorporou uma ideia que se tornou fundamental nas crenças religiosas da Índia. Trata-se da ideia de reencarnação, segundo a qual cada individuo tem uma alma, que não morre junto com o corpo. A alma está fadada a passar por sucessivas encarnações. O objetivo da pessoa deve ser, por meio de uma vida virtuosa, alcançar a libertação e livrar-se do ciclo de nascimento e morte, tornando-se parte do deus impessoal do universo.

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4. O SISTEMA DE CASTAS:

Desde que os arianos se tornaram os senhores da Índia, a sociedade indiana foi-se dividindo em grandes grupos, chamadas castas. Com a ascensão dos sacerdotes brâmanes, o sistema de castas se consolidou. Das quatro castas então existentes, a mais alta era justamente a dos Brâmanes e seus familiares. A seguir, vinham os xátrias, que eram os nobres (lideres militares e aristocratas), incluindo os monarcas e suas famílias. A casta seguinte na hierarquia era a dos vaixás, comerciantes. A casta mais humilde era a dos sudras, que incluía os trabalhadores braçais. Na posição social mais inferior, ficavam os párias. Eram chamados os indivíduos que não pertenciam a nenhuma casta. Nesse grupo estavam incluídos todos aqueles que faziam tarefas consideradas indignas de serem executadas pelos membros das castas. Quem pertencia a alguma casta, mesmo o mais inferior, evitava entrar em contato com os párias, que eram considerados impuros e por isso eram chamados de “intocáveis”. A pessoa não podia passar de uma casta para a outra. Pessoas de castas diferentes não podiam se casar. Assim, as famílias de uma casta não se misturavam com as de outras. Essa divisão da sociedade em casta era justificada pela própria religião. Acreditava-se que as castas nada mais eram do que partes diferenciadas de um corpo divino. Assim, os brâmanes teriam nascidos da cabeça de Brama e os xátrias, dos braços. Eram, pois, as castras consideradas nobres. Das pernas saíram os vaixás e dos pés, os sudras. Os párias não tinham nenhuma ligação com Brama. Não podiam entrar nos templos nem ler os textos sagrados, nem podiam banhar-se no rio Ganges, cujas águas eram consideradas sagradas e capazes de purificar as pessoas. Novas ideias desafiam o bramanismo. Nem todos, entretanto, estavam de acordo com o hinduísmo bramânico. A ideia de que o conhecimento dos Vedas fosse indispensável para a prática religiosa (como queriam os sacerdotes brâmanes), a natureza mecânica da religião, a formalidade dos rituais, o regime de castas e o sacrifício de animais eram motivos de discórdia. Ideias como essas deram origem a alguns movimentos religiosos e filosóficos. Um deles foi o jainismo, que ganhou muita 7

força no norte da Índia, no século VI a.C. Em geral, se atribui a fundação desse movimento a Vardhamana, chamado Mahavira (o grande herói). Ele pertencia à casta dos Xátrias, à qual renunciou para ingressar em uma comunidade, a dos Jina (Jainismo). Passou muitos anos praticando os princípios jainistas, entre os quais o de não fazer mal a nenhuma criatura. Quando considerou ter alcançado o grau supremo do conhecimento, iniciou sua vida de pregador, reunindo adeptos e ensinando o caminho para alcançar a felicidade. Um movimento que ganhou maior repercussão foi iniciado por Sidarta Gautama, cuja biografia tem vários pontos em comum com Mahavira: eram oriundos da mesma casta, viveram na mesma época e na mesma região da Índia, embora não conste que tenham alguma vez se encontrado. Gautama não deixou nada escrito, outra semelhança com Mahavira, e que quase tudo o que se sabe a respeito de sua vida e de sua doutrina religiosa se baseia nos registros dos seguidores desse movimento. De acordo como eles, Gautama era um príncipe e tinha sido educado para um dia se tornar rei. Mas insatisfeito, decidiu mudar radicalmente sua vida. Um pouco antes de completar 30 anos, Gautama deixou para trás sua família s seus palácios. Por vários anos levou uma vida errante, entregando-se a longos períodos de jejum e meditação. Buscava respostas para as duvidas que o atormentavam e que diziam respeito ao sofrimento causado pela dor, pela velhice e pela morte. Muitos anos depois, quando se achava debaixo de uma figueira, ele julgou finalmente ter encontrado as respostas que procurava. E experimentou uma sensação de plena felicidade, à qual denominou de nirvana. Segundo os budistas, foi então que Sidarta tornou-se Buda, que em sânscrito significa o despertado ou o iluminado. Desde essa data, e até sua morte (aos 80 anos, segundo a tradição budista), Buda percorreu o norte da Índia pregando as verdades que havia descoberto e fazendo discípulos (os responsáveis pelo registro dos ensinamentos de Buda). Sua pregação era bem diferente do eu ensinava o hinduísmo bramânico. Buda falava em misericórdia, igualdade entre os homens, não violência (não fazer mal a nenhuma criatura) e na crença de que a felicidade depende do esforço de cada um e não dos deuses. Ele dizia que para libertar do sofrimento e alcançar o nirvana era preciso seguir a doutrina das “quatro verdades”: (a) o sofrimento faz parte da existência; (b) o sofrimento nasce do desejo sempre impossível de ser 8

satisfeito; (c) para eliminar o sofrimento é preciso suprimir o desejo; (d) o caminho que leva à superação do sofrimento é o caminho do meio, da moderação, evitando-se de um lado, a vida de sacrifícios excessivos e, de outro a vida dos prazeres. O budismo teve grande aceitação e, por vários séculos, se tornou a crença religiosa dominante na Índia. Porém, ele não foi percebido como uma nova religião, mas como uma visão religiosa dentro do hinduísmo. Um rei se torna budista e desiste da guerra. Buda pertencia a uma dinastia que governava um pequeno reino no noroeste da Índia. Além desse, havia muito outros reinos no território do subcontinente indiano. Foi somente no final do século IV antes da Era Cristã que se realizou o primeiro esforço bem-sucedido de unificação politica. O esforço partiu dos governantes de um reino localizado no vale do rio Ganges. Mauria era o nome desses governantes, que reuniram sob sua autoridade muitos reinos menores, assim, se formou o grande Império Mauria, que chegou a abranger quase toda a Índia. O monarca mais importante dessa dinastia de governantes foi Ashoka, que subiu ao poder em 276 a.C. Uma fato marcante de seu reinado foi a sua decisão de não fazer mais guerra. Isso teria ocorrido depois de uma terrível batalha em que houve uma verdadeira carnificina. De acordo com relatos da época, Ashoka teria se arrependido das violências que cometeu e se aproximou do budismo. A partir de então, adotou medidas em beneficio do povo (a construção de hospitais, por exemplo). Favoreceu a tolerância religiosa e proibiu o sacrifício de animais. Essas medidas foram divulgadas por meio de vários decretos, que o imperador mandou gravar em pilares de pedra erguida em diversos pontos do império. A opção de Ashoka pela não violência podia ter sido determinada primeiramente por um cálculo político: O gênio politico de shoka radicou em haver compreendido a inutilidade das campanhas de conquistas do interior e a impossibilidade de manter um controle absoluto sobre os lugares mais afastados do centro ou das principais vias de comunicação. Sua previsão politica foi uma das principais razões pelas quais o imperador pôs tanta ênfase no aspecto moral de seu governo e se aproximou do budismo. 9

A pesar de seu poderio, o império de Ashoka declinou rapidamente após sua morte, e sua própria dinastia desapareceu cerca de 50 anos depois, em 185 a.C.

A dinastia que subiu ao poder estabeleceu a supremacia do

hinduísmo bramânico. Os budistas viram, então, reduzi a influencia que tinham conquistado ao mesmo tempo em que a Índia era lançada novamente na fragmentação politica. 5. A IDADE DE OURO DA ANTIGA CIVILIZAÇÃO INDIANA O IMPÉRIO GUPTA:

Uma nova unificação da Índia somente ocorreu nos séculos IV e V d.C. Foi realizada pelos soberanos da dinastia Gupta, que até então governaram um pequeno reino do norte da Índia. Sob os Guptas, a economia tornou-se muito próspera. No campo, os rebanhos e as plantações se ampliaram. Cresceu o número de artesãos e a produção de mercadorias aumentou. O comércio continuava a ganhar importância, alcançando as distantes regiões pertencentes ao longínquo Império Romano. Moedas romanas foram encontradas em sítios arqueológicos da Índia correspondentes a essa época. Junto com as moedas e mercadorias chegavam também ideias. Foi assim que o cristianismo chegou à Índia já no primeiro século da Era Cristã, embora sua influência tenha permanecido sempre pequena entre os indianos. O aumento da riqueza permitiu a cobrança de mais impostos. Com isso, os reis Guptas encheram seus cofres e aumentaram seu poder. O

grande

monarca

dessa

época

foi Chandra

II,

que

reinou

provavelmente de 378 a 414. A época de seu reinado é considerada a idade de ouro da literatura sânscrita. Muitos filósofos, artistas, cientistas e poetas de grande talento viveram na corte de Chandra II. No campo religioso, os Guptas deram preferência e apoio ao hinduísmo. A velha religião ressurgiu modificada. Incorporava novas ideias, inclusive budistas e assim, um sentido mais espiritual e interiorizado. Assim, renovado, o hinduísmo começou a se tornar uma religião verdadeiramente popular. Quando ao budismo, acabou separando-se do hinduísmo, tornando-se uma religião independente. Porém, sua influência continuou se reduzindo nos séculos seguintes e quase desapareceu da Índia (embora tenha se popularizado na China, no 10

Japão e em outras partes da Ásia). O Império Gupta, considerado o período de maior esplendor da história da Índia, chegou ao fim no século VI. Depois disso, parte do território indiano foi ocupada por diversos invasores estrangeiros, e outra parte se dividiu em muitos Estados independentes. 6. A ÍNDIA SOB O DOMINIO MUÇULMANO:

No século VIII, chegou à Índia uma nova religião: o islamismo. Foi nessa época que o vale do Indo começou a ser ocupado por guerreiros muçulmanos. Eles vinham de regiões fronteiras, como a que hoje corresponde ao Afeganistão. Ao mesmo tempo em que o território era conquistado, missionários e comerciantes iam levando a nova fé para diversas partes da península. No século XII, a importante cidade de Délhi foi tomada por muçulmanos, que passaram a governar todo o norte da península indiana. Aos poucos, o domínio islâmico foi avançando em direção ao sul e, no século XVI, a maior parte do território indiano já era governada por muçulmanos. Muitos indianos se converteram ao islamismo.

Quase todos os

convertidos pertenciam às castas mais baixas. Para eles, fazer parte do Islã era pertencer a uma comunidade na qual não havia castas. Mesmo assim, ainda hoje os muçulmanos representam pouco mais de 10% da população da Índia contemporânea em meio as sua diversidade religiosa. 7. CHEGAM OS EUROPEUS:

Desde o final do século XV, também os europeus começaram a chegar à Índia, inaugurando a ligação por mar entre a Europa e o Oriente. Depois de vencer a resistência dos muçulmanos, navegantes portugueses, chefiados por Vasco da Gama, conseguiram ter acesso à cidade indiana de Calicute, em 1498. Os portugueses estavam interessados em explorar o importante comercio das especiarias (cravo, canela, pimenta, noz-moscada, etc.) e outros produtos de luxo. Depois dos portugueses, chegaram os holandeses, franceses e ingleses. Na disputa pelo domínio do comércio indiano, os ingleses acabaram prevalecendo. A Índia permaneceu sob controle inglês até sua independência, em 1947. 11

As ciências na Índia.

As ciências tiveram igualmente um belo impulso sob os Guptas, seja na medicina com Vagbhata (início do século VII), seja com o tratado de veterinários consagrados aos elefantes e aos cavalos, cuja data é incerta. Em astronomia e em matemática, os sábios mais eminentes foram Varahamira (século VI) e, sobretudo, Aryabhata, cujo enorme tratado de matemática foi escrito em 499. Esse erudito determinou que a Terra era redonda e girava em torno do seu próprio eixo; que os eclipses tinham uma explicação natural e eram causados pela projeção da sombra da Terra sobre a Lua. Sua maior contribuição sistema de notação matemática.

Frases de Buda: 1. Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque está escrito em seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração. Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que conduz ao bem e beneficio de todos, aceite-o e viva-o.

2. Todos os seres vivos tremem diante da violência. Todos temem a morte, todos amam a vida. Projete você mesmo em todas as criaturas. Então, a quem você poderá ferir? Que mal você poderá fazer?

3. Felizes aqueles cujo conhecimento é livre de ilusões e superstições.

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A CIVILIZAÇÃO INDIANA



Série

Data

Situação de aprendizagem 18 – História - Prof. Elicio Lima

NOME: PARA SISTEMATIZA OS ESTUDOS1 1. Por que ainda existe dificuldade em saber como a sociedade harappeana estava organizada politicamente?

2. Onde surgiu e quais são as principais características do hinduísmo?

3. A sociedade indiana ainda é culturalmente dividida em castas. Qual é a explicação religiosa para essa hierarquia social? Quais são as principais castas existentes?

4. Pode-se dizer que o hinduísmo tinha o apoio de todos os indianos? Por quê?

5. O budismo é hoje uma das grandes religiões do mundo. Explique como se deu o surgimento dessa religião.

6. Qual foi a principal influência do budismo no âmbito da politica interna da índia?

7. Caracterize o Império Gupta do ponto de vista econômico e politico.

8. A prática do budismo vem crescendo em diversas regiões do mundo, inclusive no Brasil. Em sua opinião, a que se deve a popularização dessa corrente filosófica-religiosa no mundo ocidental?

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Material elaborado pelo Prof. Elicio Lima para sistematizar situações de ensino-aprendizagem na sala de aula. A intertextualidade desse trabalho se estabelece no dialogo entre as obras: História: Volume único: Divalte Garcia Figueiredo. 1. ed. São Paulo: Ática, 2005. História global volume único: Gilberto Cotrim. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. História Sociedade & Cidadania: Alfredo Boulos Júnior. 1ª ed. São Paulo: FTD 2013. Material referenciado pelos Parâmetros curriculares Nacionais e proposta curricular do Estado de São Paulo (Feitas algumas adaptações e grifos para facilidade o processo didático ensino aprendizagem - 2016). Sequencia didática, 18. Primeiro ano do Ensino Médio.

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