A Coca Andina: uma Visao de Futuro

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A Arca da União

A COCA ANDINA - Uma Visão de Futuro (1)
por Alejandro Camino (2)
 

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O reconhecimento do valor simbólico da folha de coca na tradição indígena é hoje um lugar comum da antropologia, compreensão do mundo andino que vai de ano em ano ganhando carta de cidadania em um espaço social eminentemente urbano, marcado pelo preconceito e pela ignorância. Da obra de Hipólito Unanue aos escritos de Enrique Mayer, a relevância e caráter fundacional da identidade andina a partir da folha sagrada são hoje paradigmas da Ciência Social.
Não obstante, a confusão própria daquele pensar tangenciado por uma ignorância oriunda da negação, estabelece diferenças e disjunções quanto aos conteúdos que se incorporam àquela identidade étnica associada com a planta ritual dos incas.
Seja um assunto de transcendência vital – como infatigavelmente é assumido por Baldomero Cáceres - , ou um tema marginal ao debate científico contemporâneo, assim como acreditam entendê-lo um bom número de "intelectuais", a complexidade do assunto e suas múltiplas facetas demonstra amplamente os modestos alcances das ferramentas analíticas das Ciências Sociais contemporâneas. Desde tempos remotos, a coca tem sido, é, e seguirá sendo, um tema central e multifacético, inacessível em sua complexidade e totalidade à análise vulgar da metodologia científica ou da reflexão puramente analítica. Além de seu caráter eminentemente político, a coca leva consigo uma carga adicional de outra natureza: aquela que provém do ser do mundo vegetal, em sua interação profunda com o espaço vital de nossa condição humana. A coca propõe, por princípio, o abrir-se a um diálogo ativo com a natureza. Por isso sua importância para o século que acaba de principiar.
Não faltarão quem, com ligeireza, depreciem o significado e o substantivo do símbolo, seja por ignorância, insensibilidade, ou pelo peso gravitante da mediocridade informativa da mídia nestes tempos.
Consubstancial à mentalidade do Ocidente contemporâneo, o assinalar a uma planta e a suas potencialidades um valor depreciado, não é senão uma expressão a mais da persistência deste modelo conceitual do deteriorado pensamento pós-modernista. Por quê uma planta é uma espécie inferior? Que pergunta mais prosaica em um mundo digitalizado! Quê tem uma planta para dizer-nos ou ensinar-nos, ou desenvolver nossas potencialidades? Salvo no limitado terreno da fitologia e da nutrição, esta legítima e antiga reflexão tem sido dilapidada há mais de um século. O predomínio desse pensamento empobrecido e de como este se expressa, fala mais sobre de onde provém essas concepções intranscendentes do que propriamente do tema que nos concerne.
Não há planta alimentícia de importância no mundo que não possua em suas origens uma associação com a divindade: a videira, o milho, a mandioca, a batata, o arroz, o trigo. As plantas, e em particular aquelas com propriedades hoje rudemente denominadas psicodislépticas, têm atuado um papel central na história de nossa espécie, sua capacidade criadora e o desenvolvimento da Cultura.
Co-natural ao xamanismo é o uso de plantas enteógenas (que permitem penetrar o espaço da divindade), uma experiência de alteração da consciência em busca de espaços mais vastos, uma prática que marcou de forma indelével a nossa espécie durante seu longo período como caçadora e recoletora. É esta experiência o suporte e base de toda a posterior construção das religiões a nível planetário. Não existe quem sobre este planeta possa dizer que não tem muitos, e não muito distantes antepassados, que interpretaram, através das experiências psicoativas, sua natureza humana, sua relação com o mundo natural e a deste com o divino. Foram as plantas sagradas quem, com seus espíritos e suas químicas, revelaram aos povos que nos antecederam as outras e muito variadas dimensões da realidade. Desde aquelas experiências com estas plantas enigmáticas, que modificaram os pontos de referência nos eixos temporais da consciência, até aquelas que abriram as portas a múltiplas visões dos mundos inferiores e superiores. Experiências não apenas do tato ou olfato, mas também da intensa e insondável consciência. Muitas destas visões mobilizaram povos, fundaram cosmologias, revolucionaram a história de nossa espécie.
Fosse o Don Juan de Carlos Castaneda um falastrão ou um praticante das ancestrais tradições esotéricas do sudeste norte-americano, o peso e a intensidade de sua experiência não sucumbe a análises superficiais. Menos ainda nos dias de tribulação em que sua obra veio à luz. Antecedido por explorações no vazio ou no vértice dos abismos, ocidentais marginais como Gautier, Baudelaire, e logo Artaud, Michaux, dentre tantos outros, experienciaram a exploração da consciência com plantas exóticas oriundas de tradições milenárias.
O cacau e seu enervante, a teobromina, foram um suporte de filosofia e religião para o povo centro-americano, tanto como o foi o vinho de uva para as tradições religiosas do Mediterrâneo. A vivência do embriagante permitiu dar rédea solta às teologias – do animismo mais vital ao fundamentalismo monoteísta - , entre elas o cristianismo, em suas muitas variantes. Não muito distante está a experiência do mundo helênico com a Cannabis no culto das vestais e outros retiros rituais de comunhão embriagante com o sagrado.
Reitero mais uma vez: nos perguntarão – por quê as plantas? Aqueles néscios que insistam é que não têm espaço em suas mentes para perceber o aroma das infinitas consciências que nos habitam e a profundeza da estrutura do pensamento humano. Talvez se satisfaçam com os intrincados medíocres da fantasia televisiva, da comercialização digital do prosaico virtual.
O cuidado para com o passado e para com o futuro não é, portanto, um sentido comum. O peso da experiência vital do múltiplo e do relativo deixou rastros no desenvolvimento do pensar e repensar dos povos. O afirmam as teogonias milenares de inumeráveis sociedades cujas pegadas marcam a jornada da raça humana, ou esse roteiro traçado que apenas se perde ou se apaga nos últimos séculos da existência de nossa espécie sobre o planeta... Perda de bússola que talvez explique a crise contemporânea.
Em toda antiga civilização estes dons sagrados, reverenciados e utilizados com o rito e a etiqueta apropriados, consolidaram as normas, os valores e os princípios éticos da sociedade. Todos eles se apresentam ou se originam naqueles espaços fundacionais da sociedade e da cultura. Os povos os tratam com reverência e carinho: Mama Coca; Santo Daime (o Banisteriopsis caapi); Santa Maria ou Diamba Sarabamba (a Cannabis). São as plantas "mestras", as que guiam e as que ensinam. É assim como o ayahuasca, planta mestra por excelência, ensina ao nativo amazônico o caminho do correto, a via para a curação, a estratégia para a reconstrução pessoal, "na lei de Cristo", como dizia o famoso vegetalista loretano Don Emilio Andrade Gómez. Não muito longe, o San Pedro (Trichocereus pachanoi), do outro lado da Cordilheira, guia a mão do experto na cura da alma e do corpo. Sem dúvida nos Andes e na Amazônia habitam as mais diversas tradições no uso de um sem número de plantas psicoativas.
Nenhum continente escapa a estas tradições. No Velho Continente, as tradições no uso dos cogumelos alucinógenos, como a Amanita muscaria – ochampignon pintado dos alucinantes contos de fada da Europa medieval – subsistiram até a pouco tempo nas populações aldeãs dos Pirineus. Até hoje, os lapões (suomis) da Finlândia e Noruega mantém viva a tradição dos cogumelos mágicos.
As plantas sempre têm sido o mais óbvio e eficaz veículo de comunicação com os deuses. O fato de que sua presença, reprodução e desenvolvimento, dependa do todo poderoso Pai Sol, as investe de um caráter singular. Como se diria hoje, o potencial energético da biomassa vegetal pode contrastar-se positivamente com o dos carburantes fósseis. O fluxo de energia desde o sol, e o ciclo dos nutrientes orgânicos e minerais da terra, representam a formidável engenharia autosustentada da natureza. O modelo ecossistêmico constitui um espaço cósmico igual que um mantra budista na tela de uma Tanka tibetana. A experiência da totalidade, algo vivido como participação do sagrado, informa o pensamento e a filosofia destes povos próximos à natureza. São verdadeiros arcanos de uma tradição e conhecimento que, perdidos nos tempos, hoje se constituem na pedra angular do salva-vidas sideral, montado no qual se poderiam recriar as condições para a subsistência de nossa espécie em uma relação harmônica com o planeta.
Temos pois o privilégio de viver nestas épocas de tribulação, em um país onde ainda existem muitos que participam destes antigos conceitos em seu dia a dia. Marginais e empobrecidos, em suas tradições guardam uma das sementes mais essenciais para o início de um processo de recomposição social que abra as portas a um novo tipo de relação com a natureza.
 Uma mirada ao futuro a partir do passado
Não é este o lugar para fazer um reconto detalhado e documentado do papel variado e complexo com que atua desde tempos imemoriais a Mama Coca nos Andes. Entretanto citarei algumas das chamadas funções da folha de coca na vida tradicional do povoador destas montanhas.
Sem dúvida, seu papel mais conspícuo pareceria ser aquele associado com a vida religiosa e cerimonial na cultura andina. A folha de coca exerce certamente um papel primordial em todo rito e cerimônia nos Andes: está ali no batismo cristão, no corte de cabelo cerimonial, no matrimônio, nos velórios, etc. Além disso, é o elemento principal das oferendas às divindades tutelares dos povos: os Apus, espíritos das montanhas aos quais se deve a vida de homens, animais e plantas. A coca é a oferenda por excelência infalível nas cerimônias de pago à terra, seja no início do ano agrícola ou nos ritos propiciatórios da pecuária. Está também presente nas oferendas relativas aos mutirões comunitários para a edificação de uma casa para os recém-casados, construção de obras públicas, santificação de ferramentas e maquinários, etc. Para todas estas funções, se recorre usualmente a especialistas na matéria.
Os denominados sacerdotes andinos, yatiris, pakos e altomisayocs, empregam a coca em todo rito público e privado. Existe ainda uma rica tradição de adivinhação ritualizada através da leitura da folha.
Com certeza, à folha de coca também se atribuem inumeráveis propriedades medicinais, e seu uso está presente nas técnicas de cura tradicionais dos Andes, seja consumida diretamente, mastigando-a ou em infusão, ou empregada como preparado, emplastro, massagem ou defumação.
A folha de coca é consumida, de conformidade às regras de etiqueta aceitas e aos cânones do consumo social, em todo mutirão ou minka comunal. Mas também no trabalho familiar ou solitário da chácara: no chacmeo ou abertura cerimonial da terra agrícola com o arado de pé ou chaquitaclla, na limpeza de ervas daninhas, outros cuidados e colheita. Seu consumo facilita a concentração no trabalho, potencializa a energia e a resistência, permitindo uma maior eficiência. Desta forma, o trabalho da Pachamama se vê enobrecido e enriquecido quando se realiza em associação com o chacchado ou picchado da folha milenar.
 De estratégia alimentar a base desnaturada de violência e corrupção
A literatura antropológica é rica em referências às múltiplas associações da coca ao sistema de trocas e ao intercâmbio não-monetário dos Andes. Para compreender o papel crítico deste vegetal nas extensas redes de comércio e intercâmbio nos Andes, precisamos em primeiro lugar caracterizar as estratégias de subsistência do povoador das alturas.
O horticultor tradicional dos Andes desenvolve uma vida austera baseada em uma estratégia de subsistência mista, combinando a agricultura e o pastoreio sob as condições limitantes e de alto risco próprias da altitude. As diferentes atividades agropecuárias estão zonificadas verticalmente em razão das diferentes potencialidades dos solos sob as variáveis condições metereológicas no eixo vertical. Junto às neves eternas e sagradas e até os 4200 metros sobre o nível do mar, aproximadamente, se pratica exclusivamente o pastoreio, tradicionalmente de lhamas e alpacas, às quais hoje se somam bovinos e ovinos. Uma primeira faixa de altitude está dedicada aos cultivos especializados capazes de suportar o rigor das alturas (as variedades de batata amarga ou chiri, não palatável para consumo direto, para preparar o chuño e a moraya; a cañihua – Chenopodium pallidicaule - , e, em forma reduzida, alguns tubérculos nativos como o isaño ou masua –Tropaeolum tuberosum – e raízes como a maca – Lepidium meyenii). A zona altitudinal dominada pela batata (3800 a 3000 metros), e associada à oca – Oxalis tuberosa - , o olluco - Ollucus tuberoso – e, em menor grau, à racacha ou virraca – Racacia xanthorriza - , à quínua – Chenopodium quinoa - , dentre outros, sempre semeados em associação, é a zona principal enquanto o abastecimento de carbohidratos. Abaixo dos 3000 metros começa a dominar o milho, cultivo associado ao culto solar e grande fonte de proteína. Este, novamente seguindo a tradição agrícola andina, é semeado associado ao poroto – Phaseolus sp. - , à cabaça – Cucurbita maxima - , o yacón – Polymnia sonchifolia, entre tantos outros, em uma relação simbiótica. Abaixo do milho, chegando às terras quentes, se encontram as plantações da folha sagrada.
Aquele que em razão de seu limitado acesso a solos agrícolas de terras altas, por dizer um pastor que apenas conta com plantações para semear batata amarga para produzir chuño (batata para ser consumida depois de naturalmente desidratada), conseguia tradicionalmente – e até relativamente a pouco tempo – aceder aos cultivos das partes baixas, intercambiava seus excedentes de chuño por folha de coca. Para tal, durante uma das três ou quatro colheitas tradicionais da Mama Coca, transportava no lombo das lhamas seus excedentes de chuño às terras quentes. Ali, a taxas de troca muito favoráveis, intercambiava seu chuño por folha de coca em demasia. No longo caminho de volta a seu lar, ia intercambiando os excedentes da coca trocada – além dos que requereria para seu próprio consumo – por tudo o que sua família necessitaria até a próxima temporada: milho em grão, favas secas, sal, verduras frescas e frutas, etc.
Igualmente, aquele camponês pobre cujas terras não lhe permitiam produzir excedentes para a troca, se deslocava temporariamente às plantações de coca para ajudar na colheita, à espera de ser pago com a apreciada folha. Novamente, em seu caminho de volta a seu lugar de origem, intercambiava parte do bem ganho produto, por tudo aquilo que necessitava para sobreviver na altura nos três meses seguintes. As mitas ou colheitas trimestrais de coca se marcavam de acordo com o calendário cristão: Mita Concebida, Mita São Tiago, etc.
Desta forma, através da troca com esta pseudo-moeda vegetal dos Andes, as famílias pobres acediam a aquilo que não estavam em capacidade de produzir, o que a preços de mercado monetário lhes era, e é, inacessível.
Estas extensas redes de troca e intercâmbio, que enlaçavam a parentes e compadres, permitindo a alguns sobreviver em condições climáticas extremas, se viram seriamente afetadas com o desenvolvimento do narcotráfico. Certamente, com uma demanda do mercado ilegal, bem paga e segura, a folha de coca vem deixando de circular nas antigas redes de troca e intercâmbio por alimentos. Esta carência tem sido um fator de primeiríssima ordem no crescente despovoamento das terras altas, provocando uma migração massiva de camponeses pobres aos bairros periféricos das cidades costeiras ou para as próprias plantações de coca em mãos do narcotráfico. Se agravou também a situação nutricional dos povoadores da altura.
A segunda opção – a migração às crescentes plantações ilegais de coca destinada ao narcotráfico – para muitos camponeses se tornou um sedutor ilusionismo para escapar da miséria. Não obstante, a violência e a corrupção inerentes a toda atividade declarada ilegal, processo paradoxal alimentado pela chamada "guerra às drogas", fez logo do sonho esperançoso um inferno. Sem dúvida alguma – como a história o demonstraria uma década depois - , seria nestas zonas arrasadas pelos programas de erradicação (e pretensa "substituição") aonde o Sendero Luminoso encontraria seu substrato de crescimento: um contingente de camponeses frustrados e uma fonte de recursos financeiros para a compra de armas. Hoje sabe-se também que não somente os movimentos armados encontraram ali sua "Wall Street" – como era de se esperar, em pouco tempo se somaram ao lucrativo negócio quadros das Forças Armadas. Seguindo o padrão do chamado "triângulo de ouro do ópio" no sudeste da Ásia e no Líbano dos 80, a zona cocaleira para o tráfico de coca, pasta básica e cocaína se converteria em trampolim para o negócio mais rentável dos países ricos: o mercado clandestino de armas. O Peru entrou, paradoxicamente, em um círculo vicioso, com um poder viciante ainda maior que o dos químicos que a ciência contemporânea extraiu de nosso emblema vegetal, pervertendo seu bom nome e seus múltiplos benefícios... Pobre destino o dos povos perdidos no vendaval das confusões contemporâneas! A história não é nova: um caso semelhante, mas de outras dimensões, acontece no Himalaia, onde sua "ganja" sagrada (o Cannabis indica), veículo eficaz para aceder ao panteão sagrado do hinduísmo, e de um budismo enriquecido por estas tão antigas tradições, se vê ameaçada pela desnaturação e o abuso.
O debate euroamericano a esse respeito é quente e promíscuo. Gira em torno a legalizar, reprimir, descriminalizar, penalizar, tolerar, tratar à vítima, etc. A ninguém ocorre pensar em como funcionava a planta em antigos e sábios povos, onde o reconhecimento essencial de suas virtudes os levou a sacralizá-la. Utilizada "conforme a lei de Cristo", como sabiamente dizia Don Emilio de Quistococha, que contava haver tirado de seus males a centenas de atribulados pacientes.
As plantas, pois, têm seus poderes, alguns terapêuticos para povos perdidos no labirinto da confusão. Manifestações contemporâneas deste modelo, de alguma forma, têm como exemplo a igreja sincrética do Santo Daime no Brasil acreano, originada na queda do preço internacional do látex natural. Lá se veneram a três divindades que ensinam aos fiéis o valor da "verdade, do amor e da justiça", como proclama seu lema. Elas são – Santa Maria, conhecida no Nordeste como a deusa Diamba Sarabamba, a Cannabis ou maconha; o Daime, cipó ou ayahuasca, que como toda planta professora guia e ensina. Finalmente, me contava um padrinho responsável pela Igreja do Santo Daime na Colônia Cinco Mil, na época a duas horas de Rio Branco, prestam culto a Santa Clara, que dá claridade, e que identificam com a folha de coca, planta mitológica a que nunca viram. Mas seu fundador, Irineu Serra, místico de origem nordestina, contou que em uma visão lhe apareceu o Inca Huascar do Peru, lhe deu o ayahuasca, e lhe disse que ele iria formar uma nova igreja que se estenderia pelo mundo. Isto ocorreu nas nascentes do rio Purus, por volta dos anos 20. Hoje a Igreja do Santo Daime, cujo rito gira em torno à comunhão com o ayahuasca, e suas assemelhadas, como a União do Vegetal, se encontram nos cinco continentes. A referida igreja tem hoje sede em várias cidades da América do Norte, Europa e Leste da Ásia, mas como se sacralizar algo em um mundo prosaico e dessacralizado, onde só conta o que se pesa e o que se mede?
A resposta não está no terreno dos humanos e sim, talvez, no das plantas. Será que elas ajudarão novamente ao homem a refletir sobre a vida, e nosso breve transcorrer sobre o planeta? Ou será que o Sol convertido em vil dinheiro e a ignorância calçada em botas e realidades virtuais arrasará com o que de vida resta no planeta?
Deixemos às plantas que decidam.
 Katmandu, 4 de Julho de 2001.
(1) Artigo publicado originariamente em "Umbral - Revista del Conocimiento y la Ignorancia", n.13, Cusco 2001 - Homenaje a la Coca. Lima, Antares Artes y Letras, nov. 2001. pp. 87-97. http://umbral.perucultural.org.pe/ A presente tradução tem sua veiculação autorizada pelo autor a Eduardo Bayer Neto.
(2) Alejandro Camino é antropólogo peruano e reside atualmente no Nepal.


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