A Comunicação como Circuito nas Universidades Federais

May 23, 2017 | Autor: João Fanara | Categoria: Communication, Media Studies, Governance, Politics, University
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL CURSO DE ESTUDOS DE MÍDIA

JOÃO MARCEL FANARA CORRÊA

A COMUNICAÇÃO COMO CIRCUITO NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS

Niterói 2017

JOÃO MARCEL FANARA CORRÊA A COMUNICAÇÃO COMO CIRCUITO NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS

Orientador Acadêmico Prof. Dr. Afonso de Albuquerque

Niterói 2017/1 2

JOÃO MARCEL FANARA CORRÊA A COMUNICAÇÃO COMO CIRCUITO NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS

Trabalho de conclusão de curso apresentado em 12 de 01 de 2017, como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Estudos de Mídia pela Universidade Federal Fluminense.

Trabalho aprovado em _____ de __________ de _____.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Afonso Albuquerque (Orientador Acadêmico) Universidade Federal Fluminense

Prof. Dr. Antônio R. de Oliveira Júnior (Avaliador) Universidade Federal Fluminense

Profa. Dra. Prof.a Ariane Holzbach (Avaliador) Universidade Federal Fluminense

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Dedico este trabalho a todos os amigos e amigas que me acompanharam nos últimos anos e aos sempre generosos professores do curso de Estudos de Mídia.

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AGRADECIMENTOS Aos meus queridos amigos (as) que me acompanharam nessa jornada. À generosidade infinita dos meus professores que iluminaram o meu caminho e me proporcionaram a rica experiência de ‘pensar fora da caixa’. Cada professor do curso, sem exceção, promoveu mudanças na minha vida que espero poder passar, multiplicar, na medida da minha capacidade, a quem eu puder auxiliar. À minha companheira, a Cláudia, que foi fundamental na reta final desse trabalho. Agradeço também a instituição em que trabalho, a Universidade Federal Fluminense, que é uma eterna fonte de inspiração e desafios.

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"Quem nada conhece, nada ama. Quem nada pode fazer, nada compreende. Quem nada compreende, nada vale. Mas quem compreende também ama, observa, vê... Quanto mais conhecimento houver inerente numa coisa, tanto maior o amor... Aquele que imagina que todos os frutos amadurecem ao mesmo tempo, como as cerejas, nada sabe a respeito das uvas." Paracelso 6

RESUMO FANARA, João. A comunicação como circuito nas universidades federais. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2017. (Monografia de Graduação.) Em tempos de crise financeira, com cortes de verbas e disputa por recursos, a comunicação pode ser importante para evidenciar a distinção entre as universidades. Este trabalho procura entender como as equipes de comunicação funcionam, quais são os seus principais obstáculos dentro da instituição, como é a sua relação com as diferentes esferas de poder e qual é o seu posicionamento enquanto ator político nas universidades federais. Palavras-chaves: Comunicação, Governança, Mídia, Política, Universidade

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ABSTRACT FANARA, João. A comunicação como circuito nas universidades federais. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2017. (Monografia de Graduação.) In times of financial crisis, with budget cuts and resource dispute, communication may be important to evidence the distinction between universities. This paper seeks to understand how communication teams work, what are their main obstacles within the institution, such as their relationship with the different spheres of power and what is their position as a political actor in federal universities. Keywords: Communication, Governance, Media, Politics, University

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 –

Diversos sites dentro da mesma universidade realizando o mesmo objetivo que é divulgar eventos……..…………………………………………... 33

Figura 2 –

Quadro de chefias dos setores de comunicação das 35 IFES……………………………………………………

Figura 3 –

Equipe de servidores dos setores de comunicação das IFES e seus respectivos cargos…………………. 37

Figura 4 –

Relação de serviços executados pelas equipes de comunicação das IFES……..…………………………. 38

Figura 5 –

Diagrama com os diversos tipos de públicos que a 40 comunicação da UFF precisa contemplar…………

Figura 6 –

Mapa de relações entre páginas do Facebook de setores da universidade que se relacionam com a página principal da Universidade Federal 46 Fluminense…………………………………………….

Figura 7 –

Páginas iniciais dos sites das universidades de Oxford, Harvard e Berkeley………………….………... 48

Figura 8 –

Relação de notícias das quatro universidades federais do Estado do Rio de Janeiro……………….. 50

Figura 9 –

Separação no site da UFF dos conteúdos de importância estratégica para a universidade (Destaques UFF), avisos de opinião da reitoria (Informes da Reitoria) e os conteúdos de interesse administrativo dos demais setores da universidade (Informes & Avisos)……..……………………………... 51

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CGEE

Centro de Gestão e Estudos Estratégicos

IFES

Instituições Federais de Ensino Superior

MEC

Ministério da Educação

REUNI

Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais

SECOM

Secretaria de Comunicação do Governo Federal

UNILAB

Universidade de Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira

UNIRIO

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

UFF

Universidade federal Fluminense

UFRRJ

Universidade Federal Rural do Estado do Rio de Janeiro

UFRJ

Universidade Federal do Rio de Janeiro

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................

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1–

A QUESTÃO DA COMUNICAÇÃO NAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR..................................... 17

1.1 –

Universidades federais: entre a Comunicação organizacional e a Comunicação Institucional ....……...........

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1.2 –

Cultura organizacional e comunicação..................................

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1.3 –

A comunicação como ator político....................................…..

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1.4 –

A disputa por visibilidade na universidade………..................

32

2–

SETORES DE COMUNICAÇÃO ...……................................. 35

2.1 –

Perfil dos setores de comunicação nas universidades federais..………..………………………………………………… 35

2.2 –

A comunicação descolada da realidade das instituições …...

2.3 –

Muito volume de trabalho com pouco valor estratégico para a universidade ..…………………………..……………………... 42

3–

PROPOSIÇÕES...…………………………..…………………...

43

3.1 –

Comunicação como lugar de distinção ……………………….

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4–

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......………………..……………..

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REFERÊNCIAS .....................................................................

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Introdução A partir do ano de 2003, o governo federal brasileiro investiu na expansão da educação superior, com o objetivo de ampliar o acesso e a permanência dos estudantes na Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, conhecido como Reuni, representou um avanço sem precedentes no que diz respeito ao crescimento físico das universidades, a criação de novas unidades, o aumento de vagas para docentes e a inclusão social consequência do aumento de vagas para ingresso nas universidades brasileiras. O programa teve vida próspera até o ano em que estava prevista a sua conclusão, em 2012. A partir deste ano, com a necessidade de consolidar a expansão e manter a qualidade implementada inicialmente pelo projeto, a partir de 2013, diante de crises políticas que foram fartamente publicizadas pela mídia nacional, o desdobramento do Reuni se viu ameaçado e saiu da agenda do governo. Apesar dos avanços sociais decorrentes da expansão e da democratização do ensino superior, nem sempre as instituições de ensino (assim como o próprio Ministério da Educação) conseguem ser eficientes no sentido de mostrar para a sociedade o que significaram essas conquistas. Num cenário em que a educação superior, em especial a federal, era historicamente ocupada por camadas mais abastadas da sociedade, faz-se necessário, cada vez mais, conquistar e atrair a parcela da sociedade que 13

sempre fora excluída, e que guarda, ainda hoje, o receio de não ser aceita nas instituições de nível superior. Decerto que há interesse por parte das camadas privilegiadas da sociedade e de grupos privados na área da educação, que estes mitos se perpetuem, que os fantasmas da inalcançabilidade continuem a assombrar os estudantes de classes menos favorecidas ou dos grupos minoritários. É papel da universidade, mediada pelas equipes de comunicação, ajudar a desfazer estes enganos e, ao mesmo tempo, trabalhar para que a imagem da instituição mantenha-se dentro dos padrões de qualidade esperados pela sociedade. Além da comunicação poder colaborar diretamente na desmistificação do que é a universidade para a sociedade, em especial para aqueles que são os únicos da família a entrar no meio acadêmico, a comunicação pode exercer um importante papel no sentido de criar distinção para a instituição, o que se traduz não só em prestígio, mas na captação de mais recursos financeiros. Uma vez que os investimentos por parte do novo governo foram descontinuados e a previsão é que os cortes orçamentários venham a acontecer nos próximos anos, a comunicação pode colaborar, se o critério for o mérito, para “traduzir” e publicizar, de forma mais acessível, o resultado e a relevância da produção acadêmica e a função social da universidade. Desta forma, este trabalho tem como objetivo entender os desafios e entraves da comunicação dentro da instituição universitária. Uma vez que na maioria dos casos não existe um setor específico para pensar os desdobramentos políticos da comunicação nas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), de que maneira as universidades federais trabalham a comunicação no sentido de criar valor para a sua comunidade e poder, por intermédio da distinção, pleitear mais recursos para o desenvolvimento das suas atividades e para o fornecimento dos seus serviços. Como as equipes de comunicação se relacionam com as diversas esferas de poder e comando da universidade e como esta relação interfere em sua produção de conteúdo.

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A motivação pelo tema surgiu da minha dupla inserção na universidade, primeiramente como servidor e em segundo lugar como estudante do curso de Estudos de Mídia. Como servidor, eu transitei por diversas áreas na universidade, conheci de perto os processos de trabalho tanto de setores na área acadêmica como administrativa. Trabalhando durante dez anos na área de Tecnologia de Informação, tive contato estreito com estudantes e docentes das mais variadas áreas do conhecimento, trabalhei em diversos projetos que iam da assistência estudantil até aos produtos de projetos de pós-graduação. Tive uma longa passagem pelo hospital universitário, onde consegui enxergar a universidade pelos olhos dos servidores do hospital que, apesar de serem da mesma instituição, possuem um afastamento enorme dos assuntos de interesse acadêmico. A partir desta longa vivência de mais de duas décadas em diferentes setores da universidade, em conjunto com os conhecimentos obtidos no curso de Estudos de Mídia, hoje faço parte da equipe de comunicação da Universidade Federal Fluminense. Sob o ponto de vista de um servidor técnico-administrativo, percebi que não era possível fazer comunicação institucional sem conhecer o funcionamento da instituição, a sua complexidade e as suas desigualdades. É preciso saber como se instauram as relações, os jogos de força, os diferentes interesses que muitas vezes extrapolam o interesse público e as diferentes visões de mundo que constituem uma universidade. Graças ao curso de graduação, entendi que a comunicação dentro da instituição deve ser vista enquanto circuito, onde a produção de conteúdo é apenas uma etapa de um processo e que não pode ser trabalhada isoladamente. O curso de Estudos de Mídia, graças a sua constituição multifacetada, foi fundamental para eu traduzir em termos de estratégia comunicacional, as principais demandas e desafios que são apresentados, quase que diariamente, pelos diferentes agentes da universidade. A base sociológica oferecida pelo curso de Estudos de Mídia nos permite ver o fenômeno da comunicação de forma sistêmica, o que nos auxilia na 15

compreensão de como relacionam-se os “atores políticos” envolvidos no processo comunicacional. Como este é um trabalho de conclusão de curso que aborda um tema que faz parte tanto do curso de graduação que concluí, quanto da minha principal atividade profissional, desenvolvi o texto em primeira pessoa, sem que isto signifique que o trabalho seja um relato de uma experiência estritamente pessoal ou de interesse restrito ao seu autor. Ao contrário, penso que este trabalho possa contribuir para a reflexão tanto das equipes de comunicação das IFES, quanto para estudantes da área de comunicação que desejam ver a sua atuação profissional para além de ser um mero produtor de conteúdo. Alguns fatores colaboraram para que este trabalho tivesse uma abordagem pouco canônica e sem o peso acadêmico que se espera numa monografia. Um dos fatores é que a bibliografia de comunicação institucional, escrita quase que em sua totalidade por jornalistas ou relações públicas, é basicamente composta pelas perspectivas destas categorias profissionais. Em outras palavras, muitos dos textos são de jornalistas pensando a instituição a partir do ethos jornalístico. Ou a partir da visão de mundo de um relações públicas. Dito isto, embora haja manuais muito bem elaborados no mercado e autores que são referência na área de comunicação institucional, este trabalho pensa a comunicação a partir da experiência de quem veio da instituição para a área de comunicação, e não o inverso.

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1 A QUESTÃO DA COMUNICAÇÃO NAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR Quando pensamos em pesquisa, produção de conhecimento de excelência e formação de profissionais com alta qualificação intelectual, é comum que a imagem da universidade apareça em primeiro lugar em nossas mentes. E é verdade, as universidades são celeiros de talentos e ponto de partida para soluções nos diversos campos da tecnologia e inovação. Em 2013, o Brasil contribuiu com cerca de 55 mil artigos científicos, o equivalente a 2,5% da produção científica mundial (MCTI, 2015). No campo social, as universidades fomentam debates e são importantes aglutinadoras de agentes intelectuais na luta contra a desigualdade social. A formação de professores também é da responsabilidade da academia, impactando diretamente a vida de jovens e de crianças que formam a base da nossa sociedade. Em 2016, o Brasil conta com 63 universidades federais distribuídas por todos os estados da federação. A partir de 2000, foi implantado o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) que ampliou de 114 para 289 o número de municípios atendidos por esta rede. O número de professores doutores cresceu 189% no período de 13 anos, compreendidos entre 2003 a 2016 (Portal Brasil, 2016 ). O número de vagas para estudantes cresceu vertiginosamente. Segundo notícia publicada no dia 17 de agosto de 2011 no site do MEC, só em 2014 foram 250 mil novas vagas de ingresso nas universidades federais (MEC, 2014). O custo médio por aluno em 2012, na esfera federal, era de R$ 14.888,33 e os investimentos públicos giravam por volta dos 1,39% do PIB. Esta série de dados serve para

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ilustrar o grau de investimento financeiro que foi realizado pelo governo nos últimos anos e o impacto que essas verbas tiveram na sociedade. No que diz respeito ao funcionamento das universidades, estas são compostas por estruturas burocráticas complexas (VIEIRA, 2004, p.182), tanto na esfera acadêmica como na administrativa. Pró-reitorias, superintendências, decanatos, centros, institutos, faculdades, departamentos e coordenações são algumas das divisões que encontramos nas instituições de ensino superior no país. Cada uma destas áreas são compostas por subdivisões que se desdobram em ramificações e configurações de alta capilaridade. Em grandes estruturas complexas como a das nossas universidades, é bastante comum encontrarmos sobreposição de funções e atividades desempenhadas por setores distintos. A história destas universidades ajuda a explicar estas sobreposições, já que muitas delas foram criadas a partir de fusões de escolas, faculdades e institutos. As antigas instituições - que se transformam em unidades - carregam traços da sua identidade original para a nova configuração de uma universidade. Estas unidades fazem questão de manter alguns traços da sua identidade como forma de distinção, o que se desdobra na busca por algum tipo de autonomia (simbólica ou de poder) e na luta pela descentralização da gestão da universidade. A consequência natural da transformação de instituições tão distintas em uma única universidade é a competitividade entre setores. Esta competição é bastante identificável quando analisamos o material informativo que é divulgado pelos canais de comunicação das universidades. A disputa pelo protagonismo na exibição - mais até do que na execução de fato - das atividades cria uma verdadeira avalanche de siglas, cargos, e jargões

burocráticos

no

conteúdo

dos

informes

divulgados

pelas

universidades. Quanto ao corpo funcional das universidades, deve-se levar em conta que a cultura organizacional no serviço público é permeada das mais variadas vicissitudes, algumas inerentes a um ambiente que não estimula a progressão profissional, o reconhecimento individual e as recompensas pelo mérito 18

individual do funcionário. Quaisquer mudanças no processo de trabalho em ambientes como este encontram resistências e são extremamente morosas. Toda mudança pode gerar conflito nas diferentes dimensões das relações humanas. Nas organizações, onde coexistem interesses, opiniões, metas e valores interagindo, tanto mais intenso se torna o conflito, quanto maior for a complexidade da estrutura, o tamanho e o tempo da perenidade (VIEIRA, 2004, p.194).

O quadro da universidade é composto por servidores técnicoadministrativos, servidores docentes e funcionários terceirizados. Cada uma destas entidades operam em regimes e lógicas de trabalho distintos. A gestão é constituída, em grande parte, por servidores docentes e não por profissionais contratados exclusivamente para os cargos de chefia ou de direção. Se por um lado a instituição pública ganha em agilidade com tamanha flexibilidade na alocação e movimentação dos seus gestores que ocupam cargo de confiança, por outro lado, a gestão raramente segue o padrão de qualidade profissional que seria esperado em uma instituição complexa e que pode ser de grande porte. Como não existe plano de cargos, ou seja, uma vez que o servidor faz o seu concurso de admissão e é contratado para um determinado cargo, ele exercerá todos os seus anos de atividade nesta mesma função, um dos artifícios encontrados para “recompensar” este servidor pode ser, em muitos casos, por meio de promoção para uma chefia ou direção. Evidentemente que este exemplo está enquadrado numa visão de gestão que procura recompensar por critérios de mérito, entretanto, há casos onde a indicação segue arranjos políticos e pessoais que saem desse esquema, aliás, esta prática não é um vício exclusivo da gestão pública. Embora haja elementos formais e legais para regular a qualidade do trabalho e da prestação de serviços destes servidores, na prática, todo o sistema tende, infelizmente, para práticas corporativistas e pouco aceitáveis no mundo profissional. Essas práticas causam uma enorme perplexidade para 19

a sociedade e um desconforto e constrangimento para os servidores que desejam ser reconhecidos pela qualidade do seu trabalho e se vêem igualados a quem não tem este mesmo compromisso. A falta de profissionalismo (uso este termo para se opor ao personalismo) impacta diretamente a área de comunicação. Na medida em que a equipe de comunicação tem dificuldade em separar o que é pessoal e o que é institucional dentro de determinada demanda, todo o produto resultado do seu trabalho pode estar comprometido. E não digo comprometido em relação ao mito da objetividade e isenção, nada disso, me refiro à aplicação correta do enquadramento que o conteúdo noticioso, independente do meio, deveria ter para passar o que é de interesse da instituição. É crescente o número de jovens no Brasil que são os primeiros em suas famílias a cursar o ensino superior. Esta nova realidade ajuda a mudar a perspectiva de vida destas famílias, seja na esfera econômica, cultural, ou social. Além disso, a expansão física das unidades de ensino superior nos municípios impactou diretamente no cotidiano desses lugares. As chamadas “cidades universitárias” distinguem-se culturalmente das cidades vizinhas, modificando a sua lógica de ocupação imobiliária e sua economia local. Estudantes de universidades privadas também se beneficiam de cursos e projetos de extensão ofertados pelas universidades públicas. Em muitos casos, as universidades alteram significativamente a dinâmica de toda uma região que abrange as suas unidades. Serviços como os oferecidos pelos hospitais universitários, por exemplo, são de alta relevância até mesmo para os municípios de maior porte e com mais recursos financeiros. Se há uma universidade visível e que atua diretamente no seio da comunidade, que compartilha o mesmo território físico, que vivencia os dramas na luta por melhor infraestrutura, reconhecimento e qualidade de vida, há também uma parcela desta mesma universidade que segue praticamente invisível e com poucos canais de interlocução com a sociedade. São inúmeros os trabalhos acadêmicos que descrevem o abismo existente entre a farta 20

produção científica e o conhecimento público destes trabalhos. A quarta edição da pesquisa “Percepção Pública da Ciência e Tecnologia no Brasil” que foi realizada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) constatou que 87% da população não lembra o nome de alguma instituição que se dedique a pesquisa científica no País, e 94% das pessoas não lembram o nome de algum cientista brasileiro famoso. Não são poucos os embates criados durante a produção de notícias de caráter especializado entre cientistas e os divulgadores científicos. Se de um lado a simplificação do conteúdo para apreensão popular amplia o alcance do público, por outro lado esta “tradução” pode deixar a desejar na precisão das informações. Há desconforto por parte de alguns pesquisadores de verem as suas

obras

simplificadas

e,

segundo

esta

lógica,

simbolicamente

empobrecidas ou vulgarizadas. Criar a ponte entre pesquisa e sociedade exige grande esforço, conhecimento e generosidade por parte de todos os envolvidos. Ao pesquisador é importante entender que ele faz parte de uma instituição, que trabalha para ela e esta precisa da visibilidade que o seu trabalho pode oferecer. É necessário ao profissional de comunicação o tato e a visão dos benefícios que este tipo de comunicação especializada pode trazer para a universidade. No rápido panorama apresentado até o momento por este trabalho, foi observado que as universidades federais são entidades que ajudam a estruturar a nossa sociedade em diversos aspectos. As universidades podem impactar a vida da população com os seus serviços junto à comunidade, com seus programas, projetos e suas pesquisas. Revelou-se que elas, as universidade, são organismos complexos em sua constituição e atuação, formada por estrutura fortemente hierarquizada, burocratizada e de gestão pouco centralizada. Esta configuração institucional fragmentada se vê refletida em sua comunicação organizacional, onde cada ‘célula’ institucional tem a sua própria forma de ver e pensar a universidade, assim como tem maneiras 21

distintas de se posicionar publicamente sobre ela, gerando uma acirrada disputa por espaço na comunicação institucional da universidade. Diante de tamanha complexidade institucional, as equipes de comunicação precisam estar alinhadas a um discurso convergente, a um objetivo claro, onde as políticas da reitoria estejam em sintonia com as ações dos órgãos que as assessoram. Neste sentido é necessário que os setores de comunicação conheçam de fato a complexidade da suas instituições e estejam, de alguma forma, inseridos nas tomadas de decisões da alta gestão. É preciso que as mensagens geradas sejam coerentes com o interesse público e que consigam levar ao cidadão o que é gerado de excelência dentro da universidade. A comunicação é um importante ator político dentro da instituição. Mais do que ser um amplificador dos ruídos causados pela máquina administrativa, a comunicação deve saber exercer o delicado papel de “filtradora” e conseguir aplicar a distinção, junto com a reitoria, das agendas de interesse com inteligência. 1.1 Universidades federais: entre a Comunicação organizacional e a Comunicação Institucional A comunicação da universidade pode ser vista sob duas perspectivas que são complementares: a comunicação como meio legal de prestação de contas com a sociedade e/ou a comunicação que atua no campo simbólico, afirmando a sua identidade e os seus valores. As universidades federais, como organismos públicos que são, precisam tornar públicas as suas ações para assegurar a manutenção constante da transparência dos gastos, nas ações da gestão e na condução da coisa pública, ou seja, em prestação de contas para a sociedade. "A temática deve ser vinculada aos cidadãos, ao interesse público que, por sua vez, é o delimitador para a definição do conceito." (ALVES, 2014, p.26). Recursos como o SIC (Serviço de informação ao Cidadão), o Portal da Transparência, a Carta de Serviços ao Cidadão, assim como os relatórios de gestão e os serviços de ouvidoria, são fundamentais para transmitir, de forma 22

clara e direta para o cidadão, onde e como os seus recursos foram investidos e como eles são oferecidos. Fomentar a cultura de transparência ativa é muito importante não só para a sociedade, mas também para a própria instituição que se beneficiará em ter um acervo de informações estruturadas para uso interno. Este uso pode ser servir de base para a elaboração de algum conteúdo comunicacional para treinamento de novos servidores e, principalmente, para servir de base de tomada de decisão para a alta gestão. Além da função de colaborar na prestação de contas com a sociedade, a comunicação pode servir como meio de obter distinção para a universidade, reforçando a sua marca, a sua identidade e os seus valores. Vale lembrar que o orçamento das universidades está relacionado ao número de estudantes que elas conseguem atrair, manter e formar. Neste aspecto, a comunicação tem um papel importante no sentido promover a imagem da universidade, aumentando consideravelmente o seu capital simbólico e a possibilidade de captar mais recursos junto aos órgãos fomento. A prestação de contas da universidade, via comunicação, pode ser realizada de forma “dura e direta”, por meio de relatórios e informativos, ou, dependendo do apelo midiático que uma determinada informação possa conter, ela pode ser publicizada com o devido tratamento de comunicação (enquadramento) que aumentará o capital simbólico da universidade. Trabalhar os aspectos qualitativos da universidade e seus elementos de distinção não compreende torná-la, aos olhos do público, uma instituição elitizada e inalcançável. É preciso ter a devida cautela na comunicação para que a ênfase na excelência trabalhe em harmonia com a política de inclusão e popularização do ensino superior no Brasil. O profissional de comunicação deve estar sensível ao contexto social e cultural em que vivemos e entender que aspectos da diversidade, inclusão social e excelência devem andar juntas em seu conteúdo de comunicação. Entre as agendas possíveis de serem trabalhadas de forma sistemática e que estabelecem equilíbrio entre os interesses da sociedade e os da instituição de ensino, quatro grandes categorias mereceriam destaque: 23

conteúdos que contemplem as políticas da universidade (qual direção queremos tomar e o que estamos fazendo); temas de interesse social e humano; temas que abordem o impacto das ações da universidade para a sociedade e a qualidade da instituição, ou seja, o que a distingue no campo da pesquisa, ensino e infraestrutura. Como veremos adiante neste trabalho, a comunicação tem um importante papel nas políticas de trabalho da reitoria e o trabalho em conjunto com os tomadores de decisão pode colaborar com a governança da universidade.

1.2 Cultura organizacional e comunicação Conhecer a cultura organizacional e os principais processos de trabalho da universidade é importante para entendermos como a comunicação funciona - ou não - dentro da instituição de ensino. A alta gestão das universidades federais é escolhida com base no voto da comunidade acadêmica, que abarca os servidores técnico-administrativos, os servidores docentes e os discentes. O peso destes votos costuma ser diferente e varia para cada universidade. É muito importante destacar a importância das relações políticas na instituição para entendermos como os atores envolvidos nessas disputas exercem os seus papéis dentro da universidade e mostrar que para além do bem comum, há interesse pessoal, profissional e corporativo em jogo o tempo inteiro dentro destas organizações. "O corporativismo se manifesta mais intensamente nas estruturas estanques, do tipo departamental, onde interesses pessoais e grupais se sobrepõem aos institucionais" (VIEIRA, 2004, p.191). Há muita expectativa por parte da comunidade acadêmica sobre a comunicação e dos resultados que ele poderia gerar. Talvez, analisando pelo senso comum, inspirado pelo mito exagerado de que os grandes meios de comunicação exercem poder absoluto sobre as pessoas, os gestores, ao demandarem para as equipes de comunicação, tenham a esperança de que a 24

sua mensagem seja recebida sem nenhuma resistência, como se acreditava na década de 30, do século passado, com a Teoria Hipodérmica. Pressionados pelas demandas que chegam por todos os lados, muitas vezes os setores de comunicação limitam-se a funcionar como difusores de mensagens, onde os demais setores repassam as suas informações para “ampla divulgação” e as equipes de comunicação amplificam o alcance destas mensagens, normalmente pautadas mais pela urgência dos demandantes do que por um planejamento mais criterioso. Neste modelo de trabalho, os jornalistas tratam de adequar os textos recebidos para a sua divulgação. O caráter operacional que vemos nesta metodologia de trabalho está evidenciado na nomenclatura dos setores de comunicação encontrada nas IFES que, em grande parte, se divide entre “assessorias” e “coordenações”. "Este cenário demonstra que a Comunicação é direcionada para o planejamento tático e setorial na maioria das universidades federais, cumprindo função de apoio à administração superior" (VIEIRA, 2004, p.138). A circulação de grande volume de informações e o ruído decorrente desta prática parece satisfazer às necessidades das fontes, mesmo que em termos comunicacionais estes esforços não surtam efeitos em termos de visibilidade e engajamento. Parte da falta de compromisso com a racionalização do processo de comunicação, privilegiando a quantidade de informações em detrimento da qualidade da comunicação, vem - em grande medida - da necessidade de “faturar” politicamente o maior destaque possível dentro da instituição. Percebemos este objetivo quando observamos o enquadramento na maior parte dos informativos, que são de baixíssima relevância para o conjunto mais amplo dos membros da instituição. Esses informes são construídos destacando setores e nomes de pessoas em primeiro plano e, só depois, com menos destaque, aparece o “verdadeiro” propósito da mensagem. Em outras palavras, quando se anuncia, digamos, um evento na universidade, gasta-se enorme espaço textual falando dos órgãos que se empenharam na iniciativa, 25

das personalidade que viabilizaram o projetos e por fim, com muito menos destaque, a descrição, o objetivo e o impacto esperado pelo evento. Todas estas forças podem minar a energia produtiva e a capacidade intelectual das equipes de comunicação, onde gasta-se a maior parte do seu tempo a replicar informações de interesses muito localizados em vez de focar em trazer valor para toda a organização. Quando não há alinhamento entre as equipes de comunicação e a alta gestão, as demandas que partem dos setores para a comunicação podem, a curto prazo, resolverem um problema localizado mas, a longo prazo, criar transtornos para a universidade como um todo.. Fora os obstáculos que ocorrem nas trincheiras políticas, outro grande desafio estrutural está em cobrir comunicacionalmente a enorme capilaridade que existe nas universidades de médio e grande porte. É preciso grande interação entre as áreas de comunicação e tecnologia da informação para que se possa desenhar uma solução eficiente e que tenha certo grau de flexibilidade para se ajustar ao longo do tempo. Desde o simples envio de e-mails para grupos específicos, até o desenho de plataformas de comunicação interna, todas estas soluções exigem enorme sinergia entre os mais diferentes setores da universidade. Basicamente estamos falando da necessidade dos membros da comunidade universitária conhecerem as inúmeras instituições que existem dentro de uma única grande organização. Este conhecimento, sem a menor dúvida, se dá na medida em que as equipe de comunicação traçam estratégias que estejam alinhadas com a alta gestão e que se adaptem, em termos de linguagem e conteúdo, aos diversos grupos identitários da universidade. Há a necessidade do governante, na figura do Reitor, fazer-se presente em ações e proposições para toda a comunidade acadêmica. A comunicação, que atua também como ator político dentro deste processo, deve publicizar os atos da alta gestão para os seus colaboradores e estudantes. Além do papel estratégico exercido pela comunicação, há demandas de ordem técnica que devem ser levadas em conta dentro deste circuito comunicacional. Pensar no fluxo de comunicação vertical, que segue a hierarquia da universidade e levar em conta os fenômenos da comunicação 26

no sentido horizontal, montada em estrutura de redes, é um grande desafio quando falamos de universidades com dezenas de milhares de estudantes. É necessário haver ferramentas e conhecimento de como usá-las conforme as especificidades de cada grupo de pessoas. Sob o ponto de vista dos hábitos culturais, as gerações mais jovens tendem a usar menos a ferramenta de e-mail e estão mais propensas a interagirem com ferramentas de mídias sociais ou com aplicativos móveis. Na outra ponta, onde encontramos servidores antigos e com pouca habilidade e interesse no manuseio das novas ferramentas digitais, a falta de hábito do uso de e-mail - e do computador - também oferece resistência para a nossa solução que parecia tão simples. Há ainda aspectos técnicos que criam transtornos imensos como o e-mail da instituição ser considerado spammer e cair em um Black List. Explorando ainda o impacto cultural na apropriação das modernas práticas de comunicação, não podemos esquecer a influência da cultura da oralidade em nossa formação e identidade brasileira. Engana-se quem pensa que o peso forte da oralidade cai apenas sob os ombros dos menos letrados. Trabalhando

por

mais

de

uma

década

construindo

websites

para

departamentos da universidade, testemunhei o quanto era difícil arrancar um simples “quem somos” para abastecer estes sites de conteúdo. Outros exemplos são bastantes ilustrativos, como o exagero de reuniões; as conversas importantes e decisivas feitas por acaso nos corredores; o uso do telefone para tirar dúvidas que deveriam constar em manuais; e a falta de formalização (por escrito) das ações de trabalho refletem, em muito, esta característica que é um forte traço cultural brasileiro. O desafio que aqui se coloca é como tentar adequar ou adaptar os modernos meios de comunicação, levando em consideração o nosso legado cultural (enquanto nação) e, dentro da universidade, como pensar o uso dos diferentes meios, tendo em vista as nossas limitações de orçamento e de pessoal, para os mais diferentes públicos que temos na instituição. Certamente não será importando modelos norte-americanos ou suecos. 27

Diante deste cenário, é um desafio enorme conseguir levar as mensagens para as pontas. Parte da complexidade das universidades passa pelas muitas estruturas de poder que elas possuem. Em outras palavras, além da tradicional estrutura vertical de poder, representada pelo organograma, há também relações “não oficiais” entre os indivíduos, sejam elas configuradas por critérios de mérito, de autoridade, de afeto ou mesmo de admiração. Não é incomum vermos, por problemas de relacionamento, um docente procurar a equipe de comunicação para divulgar um material, sem que seu departamento ou coordenação saibam da sua iniciativa. Estes aspectos influenciam diretamente o fluxo da comunicação dentro das universidades. Como forma de reduzir estes “gargalos”, faz-se necessário ter canais mais eficientes de comunicação, que possam atuar, dependendo do contexto, de forma mais ou menos horizontalizada. Soluções como intranets colaborativas ou mídias sociais corporativas, apesar de não modificarem as relações de poder e a hierarquia dentro da instituição, trazem em si a possibilidade de tornar mais visível e “materializar” este mapa de relações de poder. Em um post intitulado Redes Sociais como Estruturas de Poder, a jornalista e professora Raquel Recuelo nos alerta para não cairmos na associação direta entre redes sociais na internet e horizontalidade: O objetivo deste post é chamar a atenção para uma discussão que muitas vezes tomamos como certa: aquela onde as redes sociais na Internet são democráticas por princípio e que democratizam nossas relações. Não é bem assim. Redes sociais na Internet também são hierárquicas e dependentes de relações de influência e poder. Também há dominação. Também há contrato social (Raquel Recuero, 2009).

Começar a pensar estas questões com a devida profundidade e entender a complexidade que envolve o ato de comunicar em ambientes multifacetados é uma das contribuições que este trabalho procura oferecer.

28

1.3 A comunicação como ator político Como veremos adiante neste trabalho, as equipes de comunicação das IFES são constituídas, em grande parte, por jornalistas. Mais da metade das chefias também são ocupadas por jornalistas e essa escolha reflete a concepção de comunicação que encontramos nas universidades. Um dos princípios da conduta profissional do jornalista é a lealdade às normas de objetividade e imparcialidade. A relevância que a “objetividade” desempenha na rotina de trabalho dos jornalistas e como ela impacta todo o processo de trabalho desta categoria profissional, foi chamada pela socióloga Gaya Tuchman de “Objectividade como ritual estratégico”. Segundo Tuchman, o ritual da objetividade desempenha a função de proteger os jornalistas dos seus críticos: Para os jornalistas, como para os cientistas sociais, o termo "objectividade" funciona como um baluarte entre eles e os críticos. Atacados devido a uma controversa apresentação de "fatos", os jornalistas invocam a sua objectividade quase do mesmo modo que um camponês mediterrâneo põe um colar de alhos à volta do pescoço para afastar os espíritos malignos (Tuchman, 1993a, p. 75).

Manter o distanciamento do seu objeto de observação, estar atento aos “fatos” e conseguir tornar-se descomprometido, imparcial e impessoal na produção das notícias, faz o jornalista adquirir, aos olhos do público, a “neutralidade” necessária para se tornar uma espécie de árbitro final pelas disputas colocadas em jogo na mídia. Esta “neutralidade” teria a importante missão de afastar o jornalista do papel de ator político. Apesar de trabalhar duro para maximizar a sua autonomia, como disse Timothy Cook (1998, p. 5), os valores aparentemente neutros das notícias incluem presunções sobre o que faz uma história de qualidade. Cook (1998, p. 5) afirma que os jornalistas são importantes atores políticos justamente por causa de seu compromisso com as normas de objetividade e imparcialidade. Diz ainda que seguindo as rotinas padrão de newsmaking, os jornalistas 29

acabam escondendo sua influência não só de atores externos, mas também de si mesmos. Ao invocar a sua perspicácia profissional (news judgement), o jornalista se preocupa por escolher o que é “importante” e “interessante” dentro dos “fatos” (Tuchman, 1993a, p.83). Sobre esta forma de seleção e a sua relação, Cook (1998, p. 5) diz que nenhuma preocupação é livre da política e notícias importantes são, na maioria das vezes, certificadas como tais por pessoas "em posição de saber" com base em sua posição oficial dentro do governo. Uma das principais pressões que afetam o trabalho jornalístico diz respeito

ao

tempo

de

produção

das

notícias.

O processamento das notícias não deixa tempo disponível para a análise epistemológica reflexiva. Todavia, os jornalistas necessitam de uma noção operativa de objetividade para minimizar os riscos impostos pelos prazos de entrega de material, pelos processos difamatórios e pelas

reprimendas

dos

superiores

(Tuchman,

1993a,

p.

76).

O pouco tempo para a reflexão sobre situações que podem ser complexas conflita com a necessidade de produzir notícias válidas, confiáveis e verdadeiras. Ter o cuidado indispensável com a apuração dos “fatos”, com a verificação das fontes e com a produção dos textos, pode ocupar um tempo que praticamente não existe nas redações de jornal. Em outras palavras, numa redação, reescrever pode significar atrasar uma edição, o que se traduz em prejuízo financeiro para a empresa. No jornalismo a forma de contornar esse dilema se dá por meio da “objetividade como ritual estratégico”. O profissional faz uso dos atributos formais de objetividade da notícia, como descreve Tuchman (1993a, p. 79-88), utilizando recursos como falar por meio de depoimentos (uso judicioso das aspas), reduzir o número de agentes interessados no tema (simplificação de conflitos), apresentação de provas auxiliares (o repórter fala por meio dos “fatos”) e a estruturação da informação numa sequência apropriada (o lead é sempre do jornalista). É interessante observar como os critérios de noticiabilidade usados pelos jornalistas são, se 30

olharmos de perto, muito próximos aos atributos desejados para o uso dos atores políticos. Esta observação torna-se relevante para esse trabalho pois o setor de comunicação, nas universidade, é o canal oficial das ações do reitor. Cook traça um interessante paralelo entre os critérios usados pelos jornalistas e

os

usados

na

política:

Not just journalism but politics in the process become obsessed with issues that can become timely, terse, easily described, dramatic, colorful, and visualizable. Although these criteria widely shared among journalists in a variety of modalities seem content-neutral, they are not. Politics, it follows, should be simple and straightforward, with two sides to each story and differences thus being easily resolvable. Political actors are therefore expected to be direct and consistent. Likewise, action is a good in and of itself; inaction is taken as a sign of incompetence, bad faith, and/or pettiness (Cook, 1998, p. 118).

A comunicação tem relação estreita com os poderes estabelecidos. Embora se fale muito da manipulação da mídia para fins políticos, ao que parece, há uma relação simbiótica entre a mídia e os governos. Os governos precisam da imprensa para comunicarem os seus atos e a imprensa se beneficia com as pautas de interesse público para preencher as suas grades de conteúdo. A linguagem midiática e os critérios de noticiabilidade são componentes importantes para a construção do discurso dos políticos e para a sua projeção com efetividade. As universidades são ambientes políticos no sentido de haver constantes disputas de interesses, eleições internas e confrontos entre os membros

da

comunidade

acadêmica.

A administração

central

das

universidades, chefiada pelos reitores, precisa estabelecer comunicação eficiente com os diferentes atores políticos da universidade. Não basta comunicar oficialmente por meio de memorandos ou boletins de serviço, é necessário estabelecer um nível de comunicação semelhante ao que os governos fazem, por meio da mídia, para a sociedade em geral. E a “imprensa” 31

da universidade precisa ir além do papel jornalístico centrado na suposta objetividade e imparcialidade. Algo a se pensar é em que medida faz sentido falar em jornalismo (no sentido estrito) dentro de uma instituição que não é uma empresa de jornal. O trabalho de comunicação, em última análise, deveria trabalhar como subordinado aos interesses e lógicas de funcionamento das universidades, e não o inverso.

1.4 A disputa por visibilidade na universidade Os três grandes eixos de atuação das universidades são: ensino, pesquisa e extensão. Cada um destes eixos são constituídos por campos de interesses e de orientações ideológicas que provocam disputas pelo protagonismo no cenário político da universidade. Fora a competição que ocorre no campo dos ideais, há também embates nas esferas políticas e burocráticas/administrativas. É importante destacar este jogo de forças dentro das universidades para que se entenda como esta ‘convulsão’ se reflete no campo da comunicação. Na medida em que cada segmento da universidade goza de certa autonomia para elaborar as suas normas e realizar as suas ações dentro das suas atividades, estas mesmas unidades vão querer tornar os seus atos públicos e, em muitos casos, publicizá-los como se estes existissem independentes da universidade. O resultado decorrente é um enorme “ruído” comunicacional que interfere na imagem da universidade como uma entidade coesa e que conhece a sua missão e os seus valores. O exemplo mais visível desta competição por espaço e visibilidade a gente encontra nos sites e subsites das universidades. Todas as universidades possuem os seus sites principais administrados pelas equipes de comunicação e, muitas vezes, trabalham em parceria com as equipes de tecnologia da informação. Em paralelo ao site principal, as unidades administrativas, as unidade de ensino, as pró-reitorias e as superintendências também possuem os seus respectivos sites na web. 32

FIGURA 1 – Diversos sites dentro da mesma universidade realizando o mesmo objetivo que é divulgar eventos.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Embora a Secretaria de Comunicação do Governo Federal (SECOM) tenha manuais de excelente qualidade com orientações sobre o uso e administração dos sites públicos, praticamente nenhuma universidade segue todas estas recomendações, quando muito e em raros casos, limitam-se a tentar seguir a orientação estética que uniformiza a identidade visual dos sites do governo federal. Em termos de identidade organizacional e uniformização de linguagem e discurso, a falta de um “fio condutor” que ligue o site principal da universidade com os seus subsites cria enormes transtornos ao cidadão comum que não conhece o mar de siglas e as desigualdades internas entre os setores das universidades. Para o usuário comum, não faz sentido, por exemplo, ter uma área eventos dentro do site principal e ter uma outra página de eventos, subordinada a um setor isolado. 33

Só quem conhece os padrões de urls (endereços dos sites), o significado das siglas e dos logotipos é que vai entender como se dá as disputas internas entre os setores e aceitar com “naturalidade” que pode haver mais de um site com idêntica função na universidade. Mais do que a necessidade de um manual de comunicação ou de um guia normativo elaborado pela equipe de comunicação - que como veremos a seguir é composta em sua maioria por jornalistas - para “colocar ordem na casa”, o problema parece extrapolar - e muito - ao que compete aos setores de comunicação. Na medida em que a publicidade das ações - muitas delas com baixíssima relevância para a universidade - que acontecem isoladamente pelas unidades não se dão por necessidade real de comunicar, e sim para contabilizar os feitos dos gestores/setores A ou B, não estará em um manual técnico a solução para resolver um problema que é de natureza política. O caos comunicacional, se observado com cautela, pode servir como uma “radiografia” dos problemas de governança da organização. É mais consequência do que causa. Se há muitas vozes dissonantes onde a orientação estratégica impõe que os discursos estejam alinhados, não será a normatização apenas no âmbito da comunicação que vai resolver este problema. Neste sentido, este trabalho entende que não será um manual de redação e boas práticas que vai resolver algo que se materializa na comunicação mas que se constitui nos corredores das instituições e é de natureza muito mais complexa.

34

2 SETORES DE COMUNICAÇÃO 2.1 Perfil dos setores de comunicação nas universidades federais Em 2015, a equipe de comunicação da Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, UNILAB, realizou uma pesquisa com 58 universidades para apresentar o resultado no 9º Encontro Andifes de Assessores de Comunicação das Universidades Federais. Segundo os resultados obtidos, os setores de comunicação - dependendo da universidade -

são classificados com as seguintes nomenclaturas: Assessoria (24

universidades); Coordenação/Coordenadoria (10 universidades); Diretoria (07 universidades); Secretaria (07 universidades); Outros (04 universidades). Com exceção de uma universidade, todas as outras são subordinadas diretamente à Reitoria. Quanto aos cargos ocupados pela chefia principal, 44.8% são servidores docentes, 48.3% de servidores técnico-administrativos e 6.9% por ocupante de cargo comissionado. FIGURA 2 – Quadro de chefias dos setores de comunicação das IFES.

Fonte: Apresentação do resultado da pesquisa "Perfil dos Setores de Comunicação das Instituições Federais de Ensino Superior" realizado pela UNILAB em 2015.

35

"A formação e área de atuação original destes profissionais podem influenciar nas estratégias de comunicação adotadas." (ALVES, 2014, p.87) Seguindo ainda os resultados da pesquisa realizada pela equipe da UNILAB, 53% das chefias principais são compostas por jornalistas, 13.8% de relações públicas, 12.1% de publicitários/programadores visuais/designers, 1.7% de comunicadores sociais (sem habilitação) e 19% de outras profissões. O número de servidores e terceirizados que compõem as equipe de trabalho dos setores de comunicação, são: 6,9% das universidades contam com equipe entre 1 e 2 pessoas; 15.5% entre 3 e 5 pessoas; 24.1% entre 6 e 10 pessoas; 22.4% entre 11 e 20 pessoas; 19% entre 21 e 30 pessoas; 6.9% entre 31 e 50 pessoas e; 5.2% contam com mais de 50 pessoas nas equipes. Quanto aos estagiários, 50% possuem entre 1 e 5 estudantes como colaboradores, 20.7% contam com 6 a 10 estagiários, 17.2 possuem entre 11 e 20 estagiários, 10.3% com mais de 20 estagiários e apenas 1.7% não possuem nenhum bolsista/estagiário na equipe. Ainda sobre os servidores, ao total, foram contabilizadas na pesquisa 58 jornalistas, 19 relações públicas, 13 publicitários, 22 revisores de texto, 36 programadores visuais, 24 fotógrafos, 37 assistentes em administração entre outros. O cargo de jornalista é o único que encontramos em 100% das instituições pesquisadas. Relações públicas existem em apenas 32.8% das universidades, publicitários em 22.4% e programador visual em 62.1%. Alves observa que a falta de equilíbrio entre os diferentes tipos de profissionais da área de comunicação nas equipes de trabalho pode afetar o planejamento. Apesar da presença de jornalistas na maioria das universidades, há uma evidente carência de profissionais de Relações Públicas e da Publicidade. Essa falta de profissionais, sem dúvida, é um fator preponderante para a inexistência de planejamento das ações de Comunicação (ALVES, 2014, p. 143)

36

Neste aspecto, concordando com esta afirmação, acrescento que além do desequilíbrio causado pelo maior número de jornalistas nas equipes, faz-se necessário

incluir

outras

categorias

de

profissionais

que

consigam

compreender a comunicação como circuito, entender as implicações das notícias - e suas consequências no tempo - para a política da universidade e que possam exercer uma espécie de “sociologia da instituição” em sua rotina de trabalho. Por conseguinte, o profissional de Estudos de Mídia parece ter o perfil, dentro da área de comunicação, que mais se aproxima desse ideal. FIGURA 3 – Equipe de servidores dos setores de comunicação das IFES e seus respectivos cargos.

Fonte: Apresentação do resultado da pesquisa "Perfil dos Setores de Comunicação das Instituições Federais de Ensino Superior" realizado pela UNILAB em 2015.

Quanto aos serviços oferecidos pelos setores de comunicação, em 100% das universidades pesquisadas encontramos a produção de notícias. 37

Em 69% há jornalismo científico, em 98.3% das instituições há assessoria de imprensa e em 86.2% há produção de design/comunicação visual. FIGURA 4 – Relação de serviços executados pelas equipes de comunicação das IFES.

Fonte: Apresentação do resultado da pesquisa "Perfil dos Setores de Comunicação das Instituições Federais de Ensino Superior" realizado pela UNILAB em 2015.

Quando o assunto é capacidade de planejamento e visão estratégica, os dados tornam-se preocupantes, já que apenas 12.1% dos setores possuem política de comunicação pronta, 29.3% ainda não possuem e 58.6% afirmaram estar em processo de elaboração. 2.2 A comunicação descolada da realidade das instituições É difícil pensar em fazer comunicação institucional quando o emissor não conhece suficientemente bem a realidade e os interesses do receptor. Por mais bem elaborada que seja a mensagem, por mais eficientes que sejam os 38

canais utilizados para o transporte dela, há uma perda evidente de qualidade nesse processo quando o comunicólogo não consegue compreender as características que diferenciam cada instituição dentro da universidade. Esta afirmação parece muito óbvia mas ela busca trazer um questionamento à respeito do quanto o profissional de comunicação está engajado em conhecer a instituição (pessoas, processos e serviços) para conseguir exercer a comunicação institucional de forma a atender aos interesses da universidade e da sociedade. Mais do que repassar informações administrativas com o estilo jornalístico correto, mais do que produzir conteúdos interessantes e de curto período de vida, para produzir conteúdo que traga valor para a universidade é preciso conhecer a sua estrutura interna e conseguir relacioná-la com vários contextos externos. Não é incomum vermos pautas que no primeiro momento parecem interessantes mas que podem se tornar uma fonte inesgotável de problemas a longo prazo. Em outras palavras, as equipes de comunicação têm a tendência de enxergar a instituição como uma extensão da comunicação, e não o inverso. O problema do profissional de comunicação - e isso acontece com outras áreas também - é abrir mão de mergulhar numa certa sociologia da instituição e ficar restrito às soluções que estão restritas ao seu ethos profissional. O desafio que se coloca para as equipes de comunicação é como lidar com uma universidade que é tão desigual internamente e, no caso das grandes universidades, como ilustra a figura 5, como vencer a capilaridade de perfis de públicos que a sua estrutura oferece. Não é possível que se persista no modelo em que cada profissional de comunicação cuide da sua atividade de forma isolada, ignorando a integração que é necessária para vencer estes obstáculos. Também não parece razoável que a comunicação trabalhe com critérios próprios na seleção para a produção de notícias que não leve em consideração as políticas da universidade. As equipes de comunicação precisam de um certo distanciamento (para olharem pelos olhos do senso 39

comum) mas ao mesmo tempo precisam estar imersas nas questões da universidade para conseguirem efetividade nas suas ações e projetos. Uma universidade, como o nome já diz, é constituída por diferentes áreas do saber humano, todas coexistindo com relativa tensão e disputando espaço e identidade dentro da instituição. Não dá para aplicar as mesmas metodologias organizacionais que funcionam bem numa redação de jornal, numa empresa de televisão ou numa loja de departamentos, em um ambiente que é tão ricamente orgânico e multifacetado como uma universidade. Mesmo que tal iniciativa fosse implementada, seria impossível manter o controle desejado. FIGURA 5 – Diagrama com os diversos tipos de públicos que a comunicação da UFF precisa contemplar

Fonte: Elaborado pelo autor.

40

A integração das equipes de comunicação está para além de alojar um conjunto de “ilhas de conhecimento” numa mesma sala e pedir para que elas trabalhem em conjunto. A postura que se espera é que cada profissional de comunicação, seja ele um jornalista, um profissional de relações públicas ou um publicitário, consiga executar as suas atividades sem as amarras e as limitações que a sua formação profissional consolidou. Pensar “fora da caixa” parece ser a melhor saída para que o setor de comunicação consiga vencer o seu status de área operacional e solucione problemas que são causados, em grande parte, pela tentativa de fazer funcionar na instituição de ensino, práticas que são oriundas de atividades de outra natureza (redação de jornal, por exemplo). A equipe de criação de conteúdo, principalmente a área composta por jornalistas, precisa sair da visão “bidimensional” onde o valor reside na relação novidade x impacto. Uma vez que, diferente das redações de jornais comerciais, não há a necessidade de produzir grande quantidade de notícias em pouco espaço de tempo, há outras dimensões que devem ser contempladas, como a relevância deste conteúdo na linha do tempo e o seu impacto para a universidade. Ou como estes conteúdos podem ser trabalhados estrategicamente, com foco na qualidade da apuração e na precisão das informações, visando estabelecer maior relação de vínculo e engajamento com os leitores. A alta gestão precisa, de alguma forma, inserir os profissionais de comunicação no processo de entendimento dos problemas que se desdobram nas tomadas de decisão. A comunicação, por sua vez, pode dar o tratamento midiático apropriado a assuntos que não são naturalmente interessantes, ajudando a gestão a comunicar melhor as suas políticas e iniciativas. Dito isso, as IFES necessitam de profissionais de comunicação que tenham capacidade de problematizar, que entendam a universidade como entidade complexa, que reflitam sobre os dilemas internos da universidade e se interessem em conhecê-los de forma mais profunda. 41

Este novo tipo de postura pode ajudar a reconfigurar a relação da alta gestão com as equipes de comunicação e desfazer, mesmo que demore um tempo, o imaginário de que somos meros amplificadores/difusores de informações que chegam prontas. 2.3 Muito volume de trabalho com pouco valor estratégico para a universidade Uma das queixas mais comuns das equipes de comunicação é a do uso da sua mão de obra para fins meramente operacionais. Paradoxalmente, os profissionais de comunicação muitas vezes preferem executar as suas tarefas de produção de conteúdo a tentar se aprofundar e entender, por exemplo, como funciona o fluxo e o circuito de comunicação na sua universidade. O interesse fica limitado quase sempre à utilidade que o conhecimento terá na ação pontual que será utilizada em seu trabalho imediato. Em outras palavras, “o conhecimento útil” é aquele que serve apenas para resolver o problema pontual da criação do texto. O profissional segue a mesma lógica da produção de notícias para um jornal que deve ter “x” notícias para o “fechamento do jornal” no dia seguinte. A meta pela quantidade a ser entregue, a corrida contra o tempo e o apelo de novidade supera a elaboração criteriosa e cuidadosa de um material de comunicação que seja duradouro e que não traga más consequências políticas no futuro. A ansiedade por gerar mais e mais conteúdos e criar impacto instantâneo, acaba por roubar a energia indispensável para o planejamento de um conteúdo de caráter mais atemporal e que tenha um enquadramento que seja mais compatível com os valores da universidade. Uma instituição universitária que por si só é de alta complexidade, exigiria uma equipe enorme para produzir a quantidade de conteúdo que contemplasse todas as áreas de conhecimento e todos os interesses. O ato de selecionar o que é ou não relevante deve ser atribuído a quem conheça as necessidades de comunicação da instituição de ensino. Se a equipe de comunicação participasse de forma mais ativa dos processos de tomada de 42

decisão, provavelmente os seus conteúdos tornariam-se mais relevantes para as políticas da universidade. A distância da comunicação deixa-a limitada a reproduzir informativos administrativos sem nenhum tipo de inteligência ou selecionar assuntos que possuam os critérios de noticiabilidade mas sem nenhuma preocupação com a construção de uma narrativa que faça sentido ao

longo

do

tempo.

The political scientist Shanto Iyengar has demonstrated in a series of experiments that episodic reporting leads to fragmentary understanding on the part of the people and less accountability placed on government. In other words, this preoccupation with a constant present tense, and with what's new rather than what's constant, denies news attention to preexisting social problems and discourages solutions (Cook, 1998, p. 113).

3 PROPOSIÇÕES Não há neste trabalho a pretensão de responder a todos os dilemas oriundos da relação entre as equipes de comunicação e as instituições universitárias. Entretanto, para ser propositivo, eu como estudante do curso de Estudos de Mídia e atualmente como profissional da área de comunicação da Universidade

Federal Fluminense,

gostaria

de

compartilhar algumas

experiências que tem dado resultado bastante positivo, dentro do que acredito ser um período curto de tempo que é o período de um ano. Das experiências mais positivas que tivemos na Superintendência de Comunicação Social, talvez a que norteou todas as demais mudanças foi a alteração na lógica de produção das equipes do setor de comunicação. Como 43

havia carência de quantidade pessoal especializado e os poucos que restaram estavam muito sobrecarregados com atividades de pouco valor estratégico para a universidade, a primeira medida tomada pelo gestor de comunicação foi racionalizar a produção de conteúdo. A restruturação consistiu em tirar da equipe toda a pressão que vinha diretamente dos demais setores da universidade para a execução de trabalhos e, com isso, aproveitar a equipe que era numericamente muito reduzida para agir no planejamento e criação de conteúdo que trouxesse valor estratégico para a universidade. O foco saiu da quantidade de conteúdo para a qualidade. Uma vez que a universidade não é uma empresa comercial de jornal e que não precisa gerar com frequência grande quantidade de notícias para ocupar periódicos e atrair anunciantes, houve uma considerável melhora na qualidade das notícias que deixaram de ser um “mural de informações” para serem uma “vitrine” do que havia de melhor na universidade. Evidentemente que a equipe precisa ter uma boa dose de “blindagem” da gestão para resistir às pressões dos setores que durante décadas estavam acostumados a um tipo de trabalho que, embora resolvesse o problema deles, não agregavam valor nenhum para a universidade como um todo. Um dos trabalhos que mais atormentam e consomem as equipes de comunicação das universidades é a adequação do texto e a publicação de informativos administrativos para os sites das instituições. Os inúmeros setores da universidade enviam os rascunhos para as equipes adequarem, darem formato ou até reescreverem estes conteúdos para divulgação. Há neste modelo de trabalho dois problemas. O primeiro é usar mão de obra escassa na universidade e muito qualificada para executar um trabalho que poderia vir pronto das unidades. O segundo problema é que a maioria esmagadora desses conteúdos tem muito pouco ou nenhum valor comunicacional e não traz retorno no sentido de reforçar a imagem e identidade da universidade. Em outras palavras, são conteúdos que não criam distinção para a universidade. No mar de informações que se deseja circular nestas instituições complexas e possuidoras de enorme capilaridade, é inconcebível colocar no 44

mesmo patamar de prioridade, uma notícia que pode ajudar a trazer recursos para universidade, com uma que trata do interesse específico de um setor ou mesmo de interesses pessoais de algum gestor. Além desta última não ter muitas vezes o apelo midiático que poderia justificar o empenho de uma equipe de comunicação reduzida, convenhamos que sob o ponto de vista do cidadão, não é relevante ter acesso a assuntos de interesse de apenas um pequeno grupo da universidade. Na prática, resolvemos este problema dando acesso direto aos setores para que eles mesmos publiquem no site os seus informativos sem passar pelas equipes de comunicação. Se observarmos com atenção, isto não difere em nada nas práticas de comunicações oficiais como memorandos, atas etc. Toda a equipe que durante décadas fazia este trabalho na comunicação, agora usa o seu tempo para se dedicar ao planejamento dos conteúdos e construir as suas pautas e os seus enquadramentos de forma que tragam retorno efetivo para a universidade. Outra experiência que está funcionando muito bem foi a criação de uma divisão para trabalhar com as mídias sociais, em especial o Facebook e Twitter. Reforçando o que foi dito anteriormente quando tocamos no problema da quantidade versus qualidade do conteúdo gerado, a equipe de mídia social produz conteúdo decorrente de um planejamento e de critérios que permitem estabelecer redes de relações entre os setores da universidade para potencializar a comunicação. O conteúdo produzido pela equipe de mídias sociais ajuda a “traduzir”, para uma linguagem mais acessível, o que o estudante (ou qualquer pessoa que não trabalha no setor) não entende no site da universidade. Esta linguagem mais informal desempenha um papel importante na comunicação com as novas gerações e ajuda a tornar mais leve a densidade das informações que utilizam estrutura de linguagem orientadas à burocracia. A equipe monitora regularmente as páginas que possuem relação com a universidade e gera relatórios que permitem traçar um plano de ação que promova a universidade e reforce os vínculos com os seus estudantes. 45

FIGURA 6 – Mapa de relações entre páginas do Facebook de setores da universidade que se relacionam com a página principal da Universidade Federal Fluminense.

Fonte: Divisão de Mídias Sociais da Universidade Federal Fluminense

Mais uma vez, a questão da avaliação criteriosa e do planejamento também se aplica nas mídias sociais, o que significa que o meio não é utilizado para envio indiscriminado de informações demandadas pelos diversos setores da universidade. O objetivo do uso da rede é reforçar os laços de relacionamento entre os estudantes e a universidade e reafirmar a imagem de uma universidade inclusiva, com pesquisa de excelência, inovadora e acolhedora. A divisão promove treinamentos para os setores que desejam ter páginas no Facebook e orienta para que a linguagem (que não é a jornalística!) 46

e discurso sejam uniformes, padronizados, de forma que as diferentes páginas possam trabalhar de forma colaborativa numa configuração em rede. A integração das equipes de comunicação é fundamental para este circuito funcionar harmoniosamente. Enquanto a Divisão de Comunicação Externa produz o conteúdo (notícia ou reportagem) que é publicado no site principal, a Divisão de Mídias Sociais promove este conteúdo nas mídias sociais. A equipe de mídias sociais não precisa avaliar o conteúdo pois todo o trabalho anterior de planejamento e agendamento já foi estabelecido. Em outras palavras, apesar do caráter aparentemente informal dos conteúdos postados nas mídias sociais, tudo que é publicado segue um planejamento e está dentro do objetivo maior de fortalecer a imagem da universidade. 3.1 Comunicação como lugar de distinção A comunicação pode ser um instrumento valioso quando falamos da criação de mecanismos de distinção para universidade. É muito comum vermos as universidades estrangeiras de maior visibilidade, principalmente as americanas e inglesas, investirem pesado na comunicação para se destacarem e reforçarem a sua imagem de instituição de excelência em pesquisa e ensino. Ao entrarmos nos sites de algumas das mais importantes universidades do mundo, como a Universidade de Oxford, Harvard ou Berkeley, só para citar alguns exemplos, fica evidente que o apelo midiático dos conteúdos é alto e que, em grande parte, eles estão sendo exibidos para reforçar o status da universidade como produtora de conhecimento e de pesquisa de qualidade. Dificilmente encontraremos espaços nas páginas iniciais dedicados a falar sobre questões de interesses de setores e de departamentos ou sobre assuntos que envolvem a burocracia da universidade. Na maior parte das vezes, o destaque na página inicial é para alguma pesquisa de impacto, cujo objetivo é posicionar a instituição universitária em um lugar de evidência e criar distinção no meio científico. Há também um artifício muito utilizado de destacar a universidade como influenciadora da opinião pública no cenário político, 47

cultural e social. A estratégia utilizada pelas maiores e mais influentes universidades do mundo para promover a sua imagem parece ser interessante e merece a nossa atenção. FIGURA 7 – Páginas iniciais dos sites das universidades de Oxford, Harvard e Berkeley.

Fonte: Imagens retiradas dos sites www.ox.ac.uk, www.harvard.edu e www.berkeley.edu

Infelizmente, quando fazemos o mesmo exercício de observação em sites de universidades brasileiras, principalmente das públicas, praticamente não há diferenciação em termos de prioridade entre conteúdos que impulsionam a universidade como instituição de excelência e os conteúdos de assuntos de interesses extremamente específicos. Uma notícia sobre uma grande descoberta e que cause impacto no campo da saúde, por exemplo, disputa espaço e visibilidade com um informativo que fala de um evento de inauguração de uma sala qualquer. Fiz uma pesquisa nos sites das quatro universidades federais aqui do Rio de Janeiro, que é a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade Federal do 48

Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e a Universidade Federal Rural do Estado do Rio de Janeiro (UFRRJ). A área pesquisa escolhida dentro dos sites foi o espaço destinado ao que as universidades definiram como “Notícias”. O objetivo desta seleção foi tentar entender de que forma essas universidades utilizam, por meio de suas equipes de comunicação, o espaço de notícias em destaque no site para mostrar a universidade à sociedade. Como podemos observar na imagem a seguir, o critério de seleção das notícias nos sites da UFRJ, UNIRIO e UFRRJ, muito provavelmente segue a ordem de importância e relevância que é demandada pelos diversos setores da universidade para as equipes de comunicação. O uso da comunicação de interesse interno (para servidores ou estudantes) numa área de tanto destaque no site, demonstra que muitas vezes as universidades têm dificuldade em se comunicar com a sociedade e projetar para fora as suas qualidades e diferenciais. No caso da área de notícias do site da UFF, não foi encontrado, neste intervalo de tempo, conteúdo informativo de caráter administrativo. As notícias se pautaram pelo impacto midiático que elas podem causar. Nas últimas dez notícias analisadas, o conteúdo noticioso objetivou colocar a universidade em destaque nas áreas de pesquisa, inclusão social e demais temas de impacto para a sociedade. Quando pensamos na internacionalização da universidade e no acesso que os sites têm por candidatos estrangeiros, possuir notícias que falam da universidade para fora do seu círculo restrito de interesses é fundamental. Por mais que os sites ainda não estejam em mais de um idioma (o português), os mecanismos de tradução online podem ajudar a levar os conteúdos para diversos idiomas. Mas de nada adianta traduzir o site se o conteúdo noticioso é pensado apenas para atender aos interesses de setores burocráticos da universidade.

49

FIGURA 8 – Relação de notícias das quatro universidades federais do Estado do Rio de Janeiro.

Fonte: Elaborado pelo autor (www.netnografia.com.br/node/807).

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Na página da UFF, há duas áreas destinadas ao contato da universidade com a sociedade. A primeira e que possui mais apelo visual é chamada de “Destaques UFF”, que são notícias de caráter estratégico para a imagem da universidade. As notícias seguem basicamente quatro eixos de orientação: o impacto social da instituição de ensino na sociedade; a importância da representatividade para a universidade; a qualidade de pesquisa/ensino e seus impactos dentro do que a universidade espera para o futuro. A segunda área informativa, com menor destaque, se desdobra em “Informes da reitoria” e “Informes & Avisos”. Ambas são alimentada no site diretamente pelos próprios setores. Estas região são destinadas a publicizar informativos de caráter acadêmico e administrativo. Em geral, a área de informativo comunica-se mais com o nosso público interno. Como a Universidade Federal Fluminense ainda não possui uma intranet, a página inicial exibe estas áreas para promover maior visibilidade das suas ações internas. FIGURA 9 – Separação no site da UFF dos conteúdos de importância estratégica para a universidade (Destaques UFF), avisos de opinião da reitoria (Informes da Reitoria) e os conteúdos de interesse administrativo dos demais setores da universidade (Informes & Avisos).

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Fonte: http://www.uff.br

Ao falarmos de comunicação interna, ao menos no mundo corporativo das médias e grandes empresas, por exemplo, há mais de uma década o uso das intranets desempenha papel central nas ações de comunicação interna. Atualmente as intranets podem ser como os sites, portais e/ou conjuntos de sistemas integrados voltados para o público interno. Atualmente, com o sucesso do uso das redes sociais na internet, as intranets ganharam recursos de colaboração e ferramentas semelhantes, como chats, banco de arquivos, busca, perfis de usuários, etc. O desafio atual das empresas é conseguir manter um espaço colaborativo dentro dessas redes e aumentar o nível alto de engajamento dos seus funcionários. Uma das mais importantes empresas de projetos de intranets do mundo, a australiana Step Two (http://www.steptwo.com.au), em um de seus artigos, intitulado como Creating a new staff intranet at University of Sydney, relata que embora as grandes empresas já façam uso, há muitos anos, de sites diferentes para o público externo e para o público interno (intranets), ainda é um hábito comum das grandes universidades de expandirem os seus sites e misturarem os conteúdos de interesses de públicos internos e externos numa complexa arquitetura de informação.

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Most organisations have long since settled on an externally facing website, and an internally facing intranet. Universities around the world, however, tend to have a single sprawling website containing a complex mix of content for both internal and external audiences. (James Robertson, 2013).

Robertson relata o enorme desafio que é um projeto de intranet em uma universidade devido ao grande número de partes interessadas e a alta complexidade deste tipo de instituição. Diz ainda que na última década, muitas universidades

falharam

na

tentativa

de

criar

intranets.

It’s a daunting challenge, with a huge amount of content to wrestle into an effective and useful state. All of which must be done in a highly complex organisation, with a large number of stakeholders. (James Robertson, 2013).

Sites com informações sobre prestação de contas e de transparência pública devem ser mantidos e publicizados conforme manda a lei e o nosso senso de civilidade. Devemos estar cientes que embora seja razoavelmente simples apontar estas questões sobre os sites das universidades brasileiras, implementar mudanças requer bastante conhecimento, esforço, muita paciência e um certo grau de perseverança. Há uma forte cultura institucional a ser trabalhada, há também restrições orçamentárias que impedem, digamos, a fazer uma assinatura de um bom banco de fotografias internacional ou de contratar equipe especializada na área de arquitetura de informação e gestão da informação. É possível ainda que depois de meses, ou anos de trabalho em um projeto, quando enfim ele esteja pronto para sair do papel, mude a gestão da universidade e todo o trabalho pode se perder ou ter que se reconfigurar. Muitas destes desafios estão para além das ferramentas tecnológicas disponíveis no mercado. A maior parte das dificuldades depende de maior 53

maturidade institucional, o que pode levar anos ou mesmo décadas para acontecer.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho mostrou como as Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) são complexas e como as suas estruturas internas são desiguais em termos de cultura organizacional, o que acaba por impactar o trabalho das equipes de comunicação. A proposta apresentada foi no sentido de trazer a complexidade da vida institucional para o profissional de comunicação, seja ele um jornalista, um relações públicas, um publicitário ou qualquer outro profissional que tenha interesse em trabalhar com comunicação dentro de uma universidade pública. O ponto sensível deste trabalho é apontar que não adianta ter equipes especializadas na criação de conteúdos sem que haja um trabalho anterior de análise e planejamento. Mais do que isso, os profissionais de comunicação precisam se aproximar mais da instituição como um todo, e entender a comunicação como parte da universidade e não o inverso. Não é a universidade que deve se ajustar a visão de mundo dos profissionais de comunicação, ao contrário, nós devemos entender a totalidade que nos envolve e estudar a melhor forma de atuar dentro dessa realidade. Em suma: a comunicação pode ser um importante ator político dentro da política de governança das universidades. Outro fator levantado pelo trabalho é a dificuldade de se atingir as “pontas” e vencer a grande capilaridade em instituições complexas e de grande desigualdade em sua natureza interna. 54

Há, sem dúvidas, sob o ponto de vista técnico, uma enorme dificuldade de se criar canais eficientes de comunicação para as grandes universidades. As soluções são caras, necessitam de mão de obra muito qualificadas, requerem coordenação especializada, mas há barreiras enormes no campo pessoal que depende mais de trabalho de gestão - no sentido mais amplo - do que de ações na área da comunicação. Citando um caso que me ocorreu em 2015, um andar inteiro da Reitoria, um setor responsável pela administração de recursos humanos de uma universidade de grande porte não tinha um único e-mail para contato. Todo o atendimento se fazia pessoalmente, inclusive de idosos pensionistas e aposentados, alguns até com problemas de locomoção. Portanto, como podemos constatar, há questões de governança que extrapolam o campo da comunicação e até mesmo o campo da tecnologia da informação. Diante de tal realidade caótica, a proposta deste trabalho foi colocar a energia de trabalho das equipes de comunicação no enquadramento das questões que envolvem a universidade na direção de agregar valor para a instituição de ensino. Em vez de exercer o papel de broadcasting de uma enorme quantidade de mensagens que geram no conjunto ruídos desconexos, a ideia é focar apenas no que pode trazer valor em termos de distinção para a universidade, principalmente em tempos de cortes de investimentos e de disputa acirrada por recursos. Este trabalho propõe pensar a comunicação institucional como um fenômeno social e político. Uma vez que as equipes de comunicação das IFES estão orientadas, em maior número, pela lógica jornalística, faz-se necessária a ampliação dos horizontes e adequação das práticas de trabalho. Sair do modelo bidimensional de reportagens onde o fator “novidade (news)” x “inusitado” é o centro de importância das notícias, para um modelo com mais variáveis, pode ser uma uma alternativa para aproximar a comunicação da instituição de educação.

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REFERÊNCIAS ALVES, Cristiano Alvarenga. Gestão da comunicação das Universidades Federais: mapeamento das ações e omissões. 2014. 161 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, São Paulo, 2014. COOK, Timothy E. (1998), Governing with the news: the news media as a political institution. Chicago, The University of Chicago Press. CRISTIANO ALVARENGA - CONSULTOR EM COMUNICAÇÃO. Recursos humanos. Disponível em: . Acesso em: 25 jul. 2016. IFES - BRASIL PESQUISA PARA TCC (2016). Notícias das ifes do rj em 28/07/2016. Disponível em: . Acesso em: 28 jul. 2016. PERCEPÇÃO PÚBLICA DA C&T. Percepção pública da c&t no brasil 2015. Disponível em: . Acesso em: 27 jul. 2016. PORTAL BRASIL. Em 13 anos, número de professores com doutorado em universidades federais cresce 189%. Disponível em: . Acesso em: 26 jul. 2016. RECUERO, Raquel. Redes Sociais como Estruturas de Poder, mar. 2009. Disponível em: . Acesso em 16 dez. 2016. REUNI. Novas universidades e institutos federais vão abrir 850 mil vagas. Disponível em: . Acesso em: 26 jul. 2016. 57

ROBERTSON, James. Creating a new staff intranet at University of Sydney, set. 2013. Disponível em: . Acesso em: 16 dez. 2016. TUCHMAN, Gaye. A objectividade como ritual estratégico: uma análise das noções de objectividade dos jornalistas. IN: TRAQUINA, Nelson. (org.). Jornalismo: questões, teorias e ―estórias‖. Lisboa: Vega Ltda., 1993a. P. 7490. VIEIRA, Euripedes Falcão; VIEIRA, Marcelo Milano Falcão. Funcionalidade burocrática nas universidades federais: conflito em tempos de mudança. Revista de Administração Contemporânea, v. 8, n. 2, p. 181-200, 2004.

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