A comunicação no terceiro setor: um estudo de caso dos Planos de Comunicação Integrada para o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados - ACNUR (TCC)

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Alisson Paiva Rocha

A comunicação no terceiro setor: um estudo de caso dos Planos de Comunicação Integrada para o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR)

Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - FAFICH Departamento de Comunicação Social Belo Horizonte – maio de 2014

Alisson Paiva Rocha

A comunicação no terceiro setor: um estudo de caso dos Planos de Comunicação Integrada para o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR)

Monografia apresentada ao curso de Comunicação Social da FAFICH/UFMG como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de bacharel em Relações Públicas. Orientadora: Profª. Valéria de Fátima Raimundo

Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - FAFICH Departamento de Comunicação Social Belo Horizonte – maio de 2014 2

“não há maior dor no mundo que a perda da sua terra natal” - Eurípedes, 431 a.c.

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AGRADECIMENTOS É com alívio mas também com dor no coração que me despeço temporariamente da minha vida universitária. Durante essa longa jornada, muitos momentos, pessoas, aprendizados, enfim, me fazem sentir orgulho de olhar para trás e ver o quanto mudei. E durante esse tempo muitas coisas especiais fizeram parte de minha (trans)formação e por isso eu não poderia deixar de agradecer a tudo isso – e não é pouco! Agradeço primeiramente à minha família. Ao meu pai pelo apoio e confiança, à minha mãe por me confortar em todas as horas, pela preocupação e dedicação, e ao meu irmão pela amizade incondicional. Agradeço também a Universidade, aos mestres e às tantas oportunidades de crescimento que contribuíram para minha formação. À professora Valéria Raimundo, pela paciência e orientação. Agradeço também à Tinno Comunicação pela acolhida, pela amizade, respeito e pelo aprendizado constante. Aos grandes amigos de Campo Belo, Belo Horizonte, Viçosa, de Portugal e de outros cantos do mundo, pela motivação, pelo apoio e pela força. Por todos os momentos compartilhados, de conversas, de risos, de viagens, de afetos, enfim, por cada segundo que eu tive o privilégio de dividir com vocês. A todos aqueles que estão sempre ao meu lado, ainda que distantes, torcendo por mim. E um obrigado especial aos amigos que me ajudaram com o projeto, com valiosas dicas, correções, os que não me deixaram perder o foco e também aos que me tiraram o foco! Enfim, sou grato a todos vocês que de alguma forma caminharam ao meu lado, me inspiraram e me abriram os olhos, com quem troquei tantas experiências e bons momentos. Agradeço, enfim, pelos desafios que superei, pelos medos que venci, pelos momentos em que me arrisquei, pelo autoconhecimento, pela valorização do trabalho, da vida, das pessoas. Por ter aprendido que posso crescer no contato com o outro, com as diferenças e com meus próprios defeitos. E por reconhecer ainda que sou feito de tudo isso, e que o fim desta etapa marca apenas o início de tantas outras.

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RESUMO O objetivo deste trabalho é analisar a concepção e realização dos planos de comunicação integrada produzidos em 2012 para o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) em Portugal. Pretende-se avaliar a pertinência dessas ações que tinham como objetivo aumentar o apoio da população com relação à integração de cidadãos refugiados no país acolhedor. Tem-se, portanto, no mapeamento do contexto dos refugiados e na representação midiática dos mesmos, analisados sob a ótica da Teoria do Reconhecimento, os recursos para tentar compreender a eficácia dos planos estudados. Palavras-chave: ACNUR, refugiados, representação, plano de comunicação integrada, Portugal

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ABSTRACT The objective of this work is to analyze the conception and implementation of the integrated communication marketing plans produced in 2012 for the United Nations High Commissioner for Refugees (UNHCR) in Portugal. It is intended to assess the relevance of the proposed actions that aimed to increase support by the portuguese population with respect to the integration of refugees citizens at the host country. Therefore, there is in the mapping of the context of refugees and in the mediatic representation of them, analyzed from the perspective of the Theory of Recognition, the sources to try to understand the effectiveness of the plans we have studied. Keywords: UNHCR, refugees, representation, integrated marketing communication plan, Portugal

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LISTA DE IMAGENS Imagem 1: Detalhe do Portal Saída de Emergência.................................................. 29 Imagem 2: Detalhe das ações do Saída de Emergência ............................................ 31 Imagem 3: Detalhes das ações do Resgate um Sorriso ..............................................35 Gráfico 1: Pedidos de asilo reivindicados nas regiões selecionadas.......................... 13 Gráfico 2: Principais nacionalidades de requerentes de asilo.................................... 13 Gráfico 3: Requerentes de asilo por área geográfica................................................. 17

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 9 CAPÍTULO I 1. Caracterização do ACNUR..................................................................................... 11 1.1 Identificação do problema social ........................................................................... 12 1.1.1. Refugiados ....................................................................................................... 14 1.1. 2. Refugiados em Portugal ................................................................................. 15 1.2.3. Refugiados em Portugal - Estatísticas................................................................ 17 CAPÍTULO II 2. O terceiro setor em Portugal .................................................................................... 18 2.1. A mídia portuguesa ............................................................................................... 20 CAPITULO III 3. Plano de comunicação integrada para o ACNUR .................................................... 25 3.1. Briefing ................................................................................................................. 26 3.2. Descrição do corpus .............................................................................................. 27 3.2.1. Saída de Emergência .......................................................................................... 27 3.2.1.1. A campanha .................................................................................................... 28 3.2.2. Resgate um sorriso ............................................................................................. 32 3.2.2.1. A campanha .................................................................................................... 33 3.3. Estratégias de ação ................................................................................................ 36 CAPÍTULO IV 4. Análise ..................................................................................................................... 41 4.1. Saída de Emergência ............................................................................................. 43 4.2. Resgate um sorriso ................................................................................................ 46 4.3. Planejamento, impacto e reconhecimento............................................................. 49 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 55 ANEXOS ..................................................................................................................... 62

 

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INTRODUÇÃO O decorrer do séc. XX foi marcado por muitas mudanças, que em grande parte contribuíram para o aumento da interação entre os mundos e para o choque de diferentes culturas. Este contato nem sempre foi positivo, gerando conflitos de diversas ordens, sejam religiosas, étnicas, culturais ou geográficas. Essa seria, talvez, uma das principais heranças da natureza política global no período pós Guerra Fria. Neste contexto, os refugiados são uma modalidade de grupo social que surgiu como reflexo desses conflitos que marcaram todo o mundo. São pessoas que foram obrigadas a sair de seus países e procurar abrigos em outras nações devido a problemas de diversas ordens, como é o caso das guerras civis. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) é um órgão internacional das Nações Unidas que busca encontrar soluções duradouras para pessoas que se encontram nessas situações. Apesar dos esforços no trabalho em prol da causa dos refugiados, o órgão ainda encontra muitos problemas com a manutenção de seu sistema em sua dimensão global. Em Portugal esta realidade não é diferente, e um dos meios de mobilizar a sociedade para colaborar com a causa é por meio de um processo de comunicação efetivo e contínuo, que ajude a divulgar o problema e sensibilizar as pessoas. No ano de 2012 foi realizada uma ação do Conselho Português para os Refugiados (CPR) em conjunto com a Universidade Técnica de Lisboa, a fim de fortalecer e dar suporte às ações dos órgãos envolvidos, na tentativa de fomentar as estratégias de atuação em prol dos refugiados, especialmente no que tange a seus pontos mais deficitários. Segundo um estudo realizado pelo Observatório da Imigração do então nomeado Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME)1, há um conjunto de representações negativas na sociedade portuguesa no que diz respeito à representação do “Outro”, isto é, os grupos minoritários. A pesquisa revela uma tendência a associação desses grupos à criminalidade, o que por diversas vezes também é reforçado pela representação que é feita pela mídia (CUNHA, 2004 apud SILVESTRE, 2011). Assim, este projeto se propõe a analisar as campanhas de comunicação desenvolvidas por alunos do curso de Ciências da Comunicação da Universidade Técnica de Lisboa como atividade integrante da disciplina Comunicação Integrada, 1

Atualmente denominado Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI).

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ministrada pela professora Sónia Sebastião em 2012. Os projetos surgiram como parte de uma demanda apresentada pelo ACNUR, que propunha a criação de uma campanha de comunicação integrada com ênfase na causa das crianças refugiadas, em especial o caso português, no intuito de auxiliar o órgão máximo de auxílio aos refugiados a suprir suas demandas de comunicação para dar visibilidade à causa em âmbito internacional. As campanhas se fundaram na produção de peças e materiais de fomento a causa dos refugiados em três diferentes suportes: website/blog, spot televisivo e ação de marketing de guerrilha (Public Relations Stunt). Os objetos de análise para este estudo serão as duas primeiras campanhas do ranking eleito pelo Conselho Português para Refugiados (CPR), respectivamente, Saída de Emergência e Resgate um Sorriso. Elas se pautaram pela necessidade do ACNUR de somar esforços em ações de reintegração dos refugiados nos países nos quais buscam reconstituir suas vidas, com a intenção de dar visibilidade à condição dos refugiados em Portugal e pelo mundo, de forma a conquistar o apoio da população. Diante disso, o presente trabalho terá como tarefa analisar os Planos de Comunicação desenvolvidos, bem como os objetivos de cada um, a partir do briefing que foi apresentado pelo órgão. Serão, portanto, identificados e avaliados os ângulos de abordagem, as propostas e aplicações das peças de cada campanha, bem como a correlação entre as mídias propostas. Para tanto, os planos serão avaliados quanto à identificação de públicos-alvo, a coerência dos objetivos traçados de acordo com as necessidades apresentadas pelo ACNUR e, por fim, suas estratégias de ação e execução. Como parte integrante da análise será realizado um mapeamento e caracterização do grupo de refugiados, a fim de compreender suas reais necessidades e, a partir daí, observar a pertinência das ações propostas em cada plano de comunicação, tendo como base teórica a Teoria do Reconhecimento. Busca-se assim, observar as representações que são reproduzidas pela sociedade portuguesa com relação aos refugiados – sendo a mídia uma das esferas competentes – e compreender de que forma esses aspectos são contemplados pelas campanhas em questão.

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CAPÍTULO I 1. Caracterização do ACNUR O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), também conhecido como a Agência da ONU para Refugiados, foi criado pela Assembleia Geral da ONU em 14 de dezembro de 1950 para proteger e assistir as vítimas de perseguição, da violência e da intolerância, em especial os refugiados europeus vítimas da II Guerra Mundial. Ao longo das décadas, o órgão expandiu seu trabalho e atua hoje em mais de 110 países. O ACNUR tem o mandato de dirigir e coordenar a ação internacional para proteger e ajudar as pessoas deslocadas em todo o mundo e buscar soluções para cada caso. Com mais de 60 anos de atuação, seus principais objetivos são auxiliar e dar suporte às pessoas que fogem de guerras ou perseguições, para que possam reconstruir suas vidas. Conforme descrito em seu site oficial, o ACNUR foi criado para proteger os refugiados, pessoas deslocadas internamente, apátridas e promover soluções duráveis para assegurar a sobrevivência de milhões de vidas. Ao ACNUR é atribuído o mandato de assegurar que qualquer pessoa, em caso de necessidade, possa exercer o direito de buscar refúgio em outro país e, se as circunstâncias o permitirem, ajudá-los a voltar para casa. (ACNUR, 2013).

A Organização também possui a permissão, junto ao Comitê Executivo do ACNUR e a Assembleia Geral das Nações Unidas, de intervir em benefício de outros grupos de pessoas, o que inclui os apátridas, isto é, pessoas cuja nacionalidade é controversa e, em alguns casos, também pessoas deslocadas internamente. O ACNUR recebeu duas vezes o Prêmio Nobel da Paz (1954 e 1981), já ajudou mais de 50 milhões de pessoas e é hoje uma das principais agências humanitárias do mundo. Conta com uma equipe de aproximadamente 6.300 pessoas e busca auxiliar as cerca de 45,2 milhões de pessoas que se encontram atualmente em necessidade de proteção. Seu site oficial em português tem como função tornar-se ferramenta para o desenvolvimento e promoção dos direitos dos refugiados das Américas e nos países de língua portuguesa. Em sua página, os objetivos são assim descritos:

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• servir como instrumento para a promoção e divulgação de marcos normativos e legislação sobre refugiados em países lusófonos; • transformar-se em uma base de dados relevante com informação em português, útil para a proteção dos refugiados em países de língua portuguesa; • consolidar-se como principal fonte de informação em português sobre refugiados, atividades do ACNUR e seus associados pelo mundo, particularmente no continente Americano.

Dentre outras ações, o site também produz boletins informativos, discussões online, páginas de notícias e também está presente nas redes sociais (Facebook, Twitter e G+). Uma das ações de destaque da página do ACNUR na Internet é a seção “Histórias com rosto”, em que são publicadas reportagens de reinserção de refugiados, casos de superação e lições de vida que servem de inspiração para outros leitores. Em relação às campanhas globais produzidas pelo órgão, tem também o apoio da atriz americana Angelina Jolie, nomeada em 2011 a Embaixadora da Boa Vontade do ACNUR. Desde 2012 ela atua como Enviada Especial da Agência da ONU para Refugiados, desempenhando funções diplomáticas e interagindo com interlocutores relevantes em grandes crises e questões globais de deslocamento.

1.1. Identificação do problema social Segundo o Relatório de Tendências de Asilo 2013 - Níveis e tendências nos países industrializados2, somente na Europa foram reivindicados mais de 484 mil pedidos de asilo no ano de 2013, valor 32% maior do que no ano anterior. O estudo, que foi divulgado pelo United Nations High Commissioner for Refugees (UNHCR) apontou que juntos, os Estados-membros da União Europeia receberam 82% de todas as solicitações do continente, seguidos da Austrália, Japão e Estados Unidos, conforme pode ser visualizado na tabela abaixo:

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UNHCR Asylum Trends 2013 - Levels and Trends in Industrialized Countries. Disponível em: http://www.unhcr.org/5329b15a9.html. Acesso em 8 de abril de 2014.

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GRÁFICO 1: Pedidos de asilo reivindicados nas regiões selecionadas - 2011-2013. (UNHCR. 2013).

Síria, Rússia, Afeganistão, Iraque e Sérvia foram os países com o maior número de requerentes de pedidos de asilo nas 44 nações industrializadas que foram selecionadas pelo estudo de acordo com sua relevância para o cenário dos refugiados incluindo também países fora da Europa. As proporções de cada nacionalidade podem ser melhor visualizadas no gráfico a seguir:

GRÁFICO 2: Principais nacionalidades de requerentes de asilo - 2013. (UNHCR, 2013)

Em média, um a cada quatro refugiados no mundo é afegão, situação que coloca o Afeganistão há 32 anos na posição de maior gerador de refugiados do mundo. 95% dessa população encontra-se no Paquistão e Irã. (2012, Estatísticas Globais). Em 2012, ano em que foram realizadas as campanhas objetos deste estudo, 45,2 milhões de pessoas foram deslocadas forçosamente em todo o mundo como resultado de perseguições, conflitos e violência generalizada e/ou violação de direitos humanos. Dentre esses, 15,4 milhões eram refugiados, sendo 10,5 milhões sob o 13

mandato do ACNUR e 4,9 milhões de refugiados palestinos registrados pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA). Em contrapartida, no mesmo ano constatou-se o fim da deslocação de apenas 2,7 milhões de pessoas, incluindo 526 mil refugiados e 2,1 milhões de deslocados internos. O Paquistão é o país que mais acolhe refugiados no mundo (1,6 milhões), seguido do Irã (868.200) e Alemanha (589.700). No referente às pessoas deslocadas dentro de seus próprios países, a marca de 28,8 milhões no ano de 2012 é a mais alta desde há mais de duas décadas. No final deste período registrou-se 355.500 pedidos de asilo nos países industrializados europeus, sendo a segunda maior taxa da última década. Somente em Portugal, de acordo com o Relatório de Tendências de Asilo 2012, o país recebeu 299 pedidos de asilo. O maior nível foi registrado em 2003, com recorde de 505 mil pedidos. Estes dados, que revelam grande crescimento do problema em uma ordem internacional, chamam a atenção para as causas de uma adversidade social que afeta milhares de pessoas em todo o mundo. A causa dos refugiados foi o tema para a produção das campanhas a que nos propomos analisar e que, portanto, também será objeto de análise do presente estudo, a fim de mapear e compreender o contexto em que se insere - mais especificamente no contexto português – e que será o assunto abordado nos próximos tópicos.

1.1.1. Refugiados De acordo com a Convenção de Genebra de 1951 (Convenção das Nações Unidas relativa ao Estatuto dos Refugiados)3 um “refugiado” é toda a pessoa que, em razão de fundados temores de perseguição devido à sua raça, religião, nacionalidade, associação a determinado grupo social ou opinião política, encontra-se fora de seu país de origem e que, por causa dos ditos temores, não pode ou não quer regressar ao mesmo.4

Esta é a realidade das milhares de pessoas por todo mundo que tiveram de sair de suas casas às pressas para sobreviver, abandonando seus familiares, pertences e suas histórias. De acordo com os dados do relatório anual Tendências Globais 3

Para as questões relacionadas à América Latina, tem-se a Declaração de Cartagena (1984), que consagram definições mais amplas sobre os refugiados. 4 Convenção de 1951 sobre o Estatuto dos Refugiados. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/abc/onu/acnur.htm. Acesso em 6 de abril de 2014.

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divulgados em 2013, durante o ano de 2012 foram registrados cerca de 7,6 milhões de novos casos de deslocação forçada, sendo 1,1 milhão como refugiados e 6,5 milhões como deslocados internos – o que significa que havia um novo refugiado ou deslocado a cada 4,1 segundos no mundo. Deste total, 46% são crianças (ACNUR, 2013). Este período registrou o maior número de aparecimento de novos casos em um único ano desde 1999. A Declaração Universal dos Direitos do Homem define em seu artigo 3º que “todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”, direitos esses que não são de fato garantidos às vítimas de perseguições, conflitos armados e catástrofes naturais, como é o caso dos refugiados. Considerando o progressivo aumento do número de pessoas deslocadas por conflitos, em especial no continente africano, em 1967 entrou em vigor o Protocolo de Nova Iorque relativo ao Estatuto dos Refugiados, que conferiu à Convenção de Genebra uma dimensão universal. Após aderir ao Protocolo Adicional de Nova Iorque em 1975, Portugal criou também, um ano mais tarde, o Direito de Asilo no catálogo dos Direitos Fundamentais da Constituição da República Portuguesa, que garantiu asilo aos estrangeiros e apátridas perseguidos.

1.1.2. Refugiados em Portugal Atualmente, a execução da política de asilo portuguesa é conduzida pelo ACNUR e Conselho Português para Refugiados (CPR), que se orientam pela Lei n.º 27/2008, de 30 de Junho de 2008, do Ministério da Administração Interna. Dessa forma, os cidadãos estrangeiros que chegam a Portugal ficam sob proteção do CPR enquanto aguardam decisão do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). A organização é parceira operacional do ACNUR em Portugal e desenvolve um trabalho primordial de asilo e ajuda aos refugiados com o objetivo de “promover uma política de asilo mais humana e liberal, a nível nacional e internacional”. Os Estatutos de Proteção concedidos em Portugal se respaldam no acervo jurídico da União Europeia, a saber, a Diretiva 2004/83/CE do Conselho, de 29 de abril, e a Diretiva 2001/55/CE do Conselho, de 20 de julho. Além destes mecanismos, há também as normas nacionais, que são a Constituição da República Portuguesa, Lei de Asilo (Lei n.º 27/2008 de 30 de Junho) e a Lei de Estrangeiros.

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Em 20 anos de existência, o CPR presta suporte jurídico, psicológico, médico e realiza trabalhos de reintegração, como ensino da língua portuguesa e serviços de emprego e formação profissional. Outra importante frente de trabalho do CPR é a sensibilização da sociedade para a causa dos refugiados por meio de cursos, congressos, sessões de esclarecimento em escolas e universidades, e eventos, como o Dia Mundial do Refugiado, que é comemorado no dia 20 de junho. Para o alojamento inicial dos requerentes de asilo, o CPR possui o Centro de Acolhimento para Refugiados (CAR), que se configura como um destino seguro e que oferece atividades de integração, moradia, formação e lazer. O Centro conta com espaços dedicados a crianças, prática de esportes, estudo e formação, respeitando os hábitos e costumes dos países de origem dos requerentes. Nos casos mais delicados, como o caso das crianças refugiadas, quem se responsabiliza é o Centro de Acolhimento para Crianças Refugiadas (CACR), dedicado também aos casos especiais de menores não acompanhados. Segundo dados do CPR, dos 299 pedidos recebidos em 2012, 54 foram de crianças e 31 de menores não acompanhados. Neste ano foi registrado o número recorde de 21.300 pedidos de asilo por menores não acompanhados ou separados dos pais em todo o mundo - os menores de 18 anos constituem 46% da população refugiada. Essas informações podem ser encontradas com maiores detalhes no gráfico “Pedidos de asilo em Portugal 2012”, no Anexo 1 deste trabalho. Um menor não acompanhado é, de acordo com o ACNUR, aquele “que está separado de ambos os pais e para o qual não se encontra qualquer pessoa que, por lei ou costume, em relação a ele, assuma a responsabilidade”. Entre os principais problemas das crianças refugiadas está a vulnerabilidade à violência, abandono, tráfico, recrutamento militar forçado, exploração sexual, dentre outros abusos. Além do CPR, há em Portugal outras organizações com o mesmo propósito em servir os refugiados, como o Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS – Jesuit Refugee Service), uma organização internacional da Igreja Católica fundada em 1992 sob responsabilidade da Companhia de Jesus, e que a partir de 1998 assumiu uma intervenção mais direta com a população migrante. O JRS tem como missão “acompanhar, servir e defender os refugiados, deslocados à força e todos os migrantes em situação de particular vulnerabilidade”. No caso português o órgão máximo governamental que diz respeito às questões dos refugiados é o Ministério da Administração Interna (MAI), que delega 16

funções aos órgãos que possuem funções específicas como serviços de fronteiras, cessão de vistos e autorização de residência, integração, pedidos de asilo, dentre outros. Essas funções e tarefas estão prescritas no Organograma Institucional para a Imigração e Asilo, disponível no Anexo 2. 1.2.3. Refugiados em Portugal – Estatísticas Segundo o Relatório Anual de Imigração, Fronteiras e Asilo (RIFA) do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal (SEF), em 2012 foi verificado aumento de 8,73% do número de pedidos de asilo no país, sendo registrados 299 solicitações por cidadãos de 45 nacionalidades - 108 em território nacional e 191 nos postos de fronteira -, conforme pode-se verificar abaixo no Gráfico 3. Acresce ao número acima indicado os 27 refugiados acolhidos no âmbito do Programa Nacional de Reinstalação, nacionais do Sudão, Eritreia, Libéria, Somália, Etiópia, Congo, Guiné e Afeganistão; sendo oito menores não acompanhados. Já no quadro de “recolocação intracomunitária de beneficiários de proteção internacional”, seis foi o número de pessoas acolhidas pelo abrigo do Projeto “Eurema”.

GRÁFICO 3: Requerentes de asilo por área geográfica (RIFA, 2012).

Dentre os países requerentes, destacam-se Guiné (65), Nigéria (27), GuinéBissau (17) e Congo (17), seguido da Síria (22), Sri-Lanka (14) e Colômbia (10). No continente europeu a principal nacionalidade requerente de asilo foi a Bielorrússia (15). Durante o ano em questão foram concedidos 14 estatutos de refugiados e 97 Autorizações de Residência por Razões Humanitárias/Proteção Subsidiária, a maioria 17

cedidas à cidadãos originários de países africanos (71), dos continentes europeu e asiático (9) e americano (6). Ressalta-se também a solicitação de oito pedidos de asilo por menores desacompanhados (até 17 anos de idade), todos provenientes do continente africano. (2012, RIFA). O RIFA é a principal referência para análise e caracterização das dinâmicas e processos imigratórios em Portugal e permite a proteção dos cidadãos na garantia de seus direitos, bem como o cumprimento das normas prescritas pela legislação vigente no país. De acordo com a análise apresentada, há uma pequena expressão de pedidos de asilo em território português o que pode representar um impedimento para identificação de tendências ou padrões claros, ao longo da última década, sobre este fenômeno no país. Já em relação ao trabalho de proteção às minorias cabem, além do Estado (primeiro setor), também às organizações do “terceiro setor”, àquelas que trabalham em conjunto com as ações do Estado e também com as empresas privadas (segundo setor). De forma geral o termo se refere às entidades da sociedade civil com fins públicos e não lucrativos, que serão melhor caracterizadas no tópico a seguir, com especial ênfase no caso português. CAPÍTULO II 2. O terceiro setor em Portugal A multiplicação das diversas formas de organizações pelo mundo corroborou para o aumento da expressividade do terceiro setor, especialmente nas últimas quatro décadas, chamando a atenção também das políticas públicas de diversos países com relação às novas formas de intervenção em prol de grupos excluídos. (CHAVES E MONZÓN, 2007 apud QUINTÃO, 2011). Com o surgimento de novas designações, trouxe à tona as transformações nas formas de organização da sociedade civil, o que provocou também um processo de ressignificação do próprio terceiro setor. Esta é a ideia apresentada pela pesquisadora portuguesa Catarina Quintão (2011), que defende a necessidade de se compreender os novos formatos e papeis das instituições do terceiro setor, diante de uma nova questão social e dos novos modelos de desenvolvimento ocidental. É válido lembrar que a proteção social em Portugal estava anteriormente atrelada às funções da Igreja Católica, que atuava em colaboração com o Estado. E foi 18

na monarquia liberal que houve a confluência dos ideais republicanos e socialistas, possibilitando o surgimento de novos atores e classes. Esta recomposição, segundo Catarina Quintão, teve em Portugal algumas peculiaridades marcadas por momentos históricos que devem ser levados em consideração, a saber: a Revolução de Abril de 1974, “marcado pelos primeiros passos de construção de um sistema político democrático, por ideais de criação de um sistema económico socialista e por uma forte instabilidade política e social”; a adesão de Portugal à Comunidade Econômica Europeia, no início dos anos 80, distinto pela introdução de políticas econômicas liberais alinhadas ao contexto internacional; e a entrada do país na União Europeia, “período de estabilidade e integração econômica, social e política (...) além da integração às dinâmicas europeias do terceiro setor”. (QUINTÃO, 2011, p. 12-13). A estes fatores acrescentam-se ainda as influências internacionais como o Relatório de Beveridge e da Conferência da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que contribuíram para a atualização das concepções sobre a assistência social portuguesa. A readequação do terceiro setor pode ser melhor percebida nos tempos atuais, especialmente após a crise econômica dos anos 80, em que se questionou com maior rigor a insuficiência dos estados democráticos de direito e dos sistemas de proteção social. Aliado ao crescimento da desigualdade, pobreza e exclusão social, as organizações tendem a recolocar suas missões e valores, bem como seus propósitos de existência na sociedade. Para Quintão (2011), o terceiro setor seria entendido enquanto ocupante do espaço intermediário entre as três esferas: o Estado, o mercado e a esfera doméstica. A autora apresenta ainda o conceito moderno que orienta as organizações deste tipo dentro e fora da Europa, designação que, segundo ela, trouxe importantes avanços teóricos neste contexto. A abordagem europeia atual, portanto, se caracteriza por: i) reconhecer o enraizamento histórico e princípios destas organizações, relacionados à solidariedade social, ii) concebê-lo a partir de uma lógica econômica e plural, que poderá mobilizar recursos das demais esferas, iii) posicioná-la enquanto ocupando um espaço econômico social e político intermediário e híbrido entre o setor público, privado e a esfera doméstica; e iv) enfatizar o caráter plural e aberto do terceiro setor, de modo a privilegiar uma abordagem analítica da realidade social em detrimento de uma concepção do terceiro setor como um campo circunscrito por um conjunto de 19

critérios. (QUINTÃO, 2011, p. 7). Como resultado do processo de readequação do terceiro setor, dentre outros fatores, observa-se o surgimento de novas organizações e diferentes formas jurídicas de legitimação de suas lógicas de organização e intervenção. Da mesma forma, também emergem grandes organizações que intervêm em uma escala global e que assumem as seguintes tendências: reafirmação dos princípios democráticos, nomeadamente, através de novas práticas de representação e participação dos diferentes stakeholders (trabalhadores, utentes/clientes, parceiros, voluntários, associados, etc.) na gestão das organizações, recurso à economia de mercado e a instrumentos de eficiência e eficácia econômica e empresarial, como meio de realização das suas finalidades sociais e não como meio de maximização do lucro, foco no interesse público comum mesmo assumindo formas tradicionais de organizações de interesse coletivo dos seus membros (cooperativas e mutualidades). (QUINTÃO, 2011. p. 11)

Deste modo, compreende-se o terceiro setor enquanto um campo legítimo e dotado de grande importância política e de expressão das minorias, especialmente no que se refere ao fornecimento de bens e serviços, e que se vincula às demais esferas pública, privada e doméstica -, e à pluralidade das práticas culturais; sendo, portanto, variável dentro de cada situação (FERREIRA, 2000). Essas instituições contribuem para reforçar o cumprimento dos direitos sociais e incitam a manutenção deste sistema pelo mundo, especialmente em áreas de fraca proteção social. Tendo em vista a conceitualização do terceiro setor no contexto em que as campanhas foram produzidas, parte-se agora para uma abordagem da mídia portuguesa no referente ao trabalho que é realizado na construção das narrativas a respeito dos refugiados, assunto que conduz o próximo tópico. 2.1. A mídia portuguesa Ainda que Portugal não seja atualmente um destino de grande importância para os refugiados no cenário europeu, os problemas relacionados à imigração e preconceitos étnicos na sociedade portuguesa são considerados por muitos uma questão incontornável. Conforme apresenta Carvalho (2007), a imagem que as comunidades de refugiados têm perante a opinião pública depende das representações que circulam na sociedade e, em grande medida, também aquelas que são reproduzidas pela mídia. Aos meios de comunicação de massa, inclusive, a Unesco atribuiu em 1978 o importante papel de contribuir para a erradicação da discriminação racial, 20

reconhecendo a importância desta instância na formação de opinião e reprodução de conceitos a respeito dos refugiados. Em Portugal, aliado ao crescimento e desenvolvimento econômico, o país vivenciou profundas alterações nas últimas décadas - como a entrada na União Europeia em 1986 e outros aspectos que favoreceram o aumento da imigração - que podem ser associados ao aumento consequente da discriminação, decorrentes do conflito de reajustamento da sociedade portuguesa a uma sociedade de caráter plural e multicultural (MARQUES, 1999 et al., apud CUNHA, 2002). No mesmo período, o país também presenciou a privatização da mídia, o que alterou profundamente o cenário da comunicação portuguesa e provocou o surgimento de uma tensão entre a concepção de serviço público e a visão das empresas privadas, dando origem, mais tarde, ao paradigma de análise dos meios de comunicação de massa – o conceito da agenda-setting. Embora o conceito já tenha sido revisto e discutido por autores mais recentes, é inquestionável a influência da mídia na formação de opinião da população, conforme apresenta Francisco Rui Cádima: tendo em conta que a cobertura efetuada pelos media pode condicionar a percepção do “outro”, algumas práticas jornalísticas podem contribuir para empobrecer a diversidade multiétnica e conduzir à intolerância, indicar estratégias políticas mais latas de inclusão ou exclusão das minorias na vida política, influenciar a formação da ação política dominante e enquadrar a compreensão dos vários acontecimentos. (CÁDIMA et al. 2003, p. 6)

Dessa forma, a mídia é aqui tomada enquanto um sistema legitimado na esfera pública e também como local de debate podendo, portanto, reforçar tendências latentes na sociedade, uma vez que ao apresentar à sociedade definições das minorias étnicas e sexuais, ao expor imagens simplificadas do Outro, com base no recurso a estereótipos, tanto podem contribuir para reforçar a percepção das minorias como ‘espaços ideológicos-políticos, como realidades alienígenas, constituindo um corpo estranho’ (FERNANDES: 1995:24), como construir instrumentos de ‘valorização das diversas narrativas culturais’ (CARNEIRO: 1999:7). (CUNHA et al. 2002).

Dessa forma, vale avaliar, antes de tudo, as inferências apontadas por alguns autores a respeito do modo como os refugiados são retratados pelos meios de comunicação portugueses, isto é, um conjunto de representações negativas sobre as comunidades de refugiados, conforme identifica o estudo apresentado pelo Observatório da Imigração (CÁDIMA E FIGUEIREDO, 2003). Isso se dá também, 21

segundo Haddad (2004), devido ao crescimento da população dos chamados “falsos refugiados”, que são os imigrantes econômicos (HADDAD, 2004 apud SILVESTRE, 2011). A esse aspecto, a pesquisadora Liisa Malkki (1995) acrescenta a constante generalização das características dos indivíduos, negligenciando, na maioria das vezes, o fato de as migrações forçadas serem constituídas por uma multiplicidade situacional e por um vasto conjunto de processos e práticas sociais, políticas e culturais (MALKKI, 1995 apud SILVESTRE, 2011, p. 19). Segundo a autora, a exclusão dos contextos e trajetórias individuais na comunicação conduz à invisibilidade dos processos políticos e históricos, o que culminaria, por sua vez, na geração de determinados grupos de refugiados; ou pelo menos na representação social dos refugiados enquanto um grupo homogêneo. Nas palavras do pesquisador Francisco Rui Cádima, reitera-se que “o discurso sensacionalista, a linguagem do espetáculo do real, a atualidade trágica e a catástrofe, o fait-divers, a curiosidade e o monstruoso, etc., vão preenchendo o campo narrativo dos media, deixando pouco espaço ao rigor, à contextualização e, enfim, ao humano” (CÁDIMA et. al., 2003, p.4);

que é o que se parece verificar na cobertura jornalística que é feita pelos meios de comunicação portugueses a respeito das comunidades de minorias étnicas. Considerando então a construção das representações sociais pela mídia, Serge Moscovici (1996) explica que elas podem ter origem em dois processos: objetivação e ancoragem. Conforme explica o autor, a objetivação consiste na ‘passagem de conceitos ou ideias para esquemas de imagens concretas’, transformando um conceito abstrato na materialidade de uma figura. Por sua vez, a ancoragem é o processo de ‘constituição de uma rede de significações em torno do objeto relacionando-o com valores e práticas’, ou seja, atribui-se um sentido a uma determinada imagem localizando-a nas categorias de pensamento préexistentes. (MOSCOVICI, 1961 apud CÁDIMA, 2003. p. 8).

Dessa forma, no intuito de compreender as representações sociais dos grupos minoritários em Portugal, tem-se na mídia portuguesa um importante conjunto de relações que são construídas e reproduzidas em distintos contextos socioculturais, que também devem ser levados em consideração. Vale dizer que estes discursos são, na verdade, construções ideológicas estabelecidas por cada grupo social e não somente reflexos da realidade social (VAN DIJK, 1997 apud SILVEIRA, 2011), como se acreditaria no conceito dos meios de comunicação enquanto “espelhos do real”.

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No entanto, em um estudo realizado no Reino Unido, observou-se uma forte ligação entre a representação da mídia e a opinião pública em torno da problemática dos refugiados, associadas especialmente ao racismo e ao surgimento de tensões entre as comunidades (IRCAR, 2004 apud SILVESTRE, 2011). Em investigação semelhante, Buchanam (2003) constata a frequente associação dos temas à criminalidade e aos custos de asilo para a nação acolhedora, o que dificultaria, segundo o autor, o entendimento do fenômeno da migração forçada, como é o caso dos refugiados, por parte da sociedade. Nestes estudos, os autores percebem ainda que quando não há relação à criminalidade, os meios de comunicação tendem a enfatizar i) as atrocidades e violências físicas e materiais; ii) os relatos da tragédia humana em que os contextos históricos e políticos se encontram ausentes; iii) e, por fim, as narrativas técnicas e heroicas sobre a intervenção humanitária (MALKKI, 1997 apud SILVESTRE, 2011, p. 61). Em levantamento realizado por Cádima e Figueiredo, os assuntos de maior inserção nos veículos portugueses no ano de 2003 a respeito de imigrantes e minorias étnicas tratavam, respectivamente, dos seguintes tema: Delitos (12,2%), Acolhimento (8,5%), Convivência (5,6%), Exploração de Máfias (5,6%) e a Luta contra as máfias, exploração e tráfico ilegal (5,1%); o que reforça esta tendência já exposta por outros autores. (CÁDIMA E FIGUEIREDO, 2003, p.45). É válido notar, conforme analisa Malkki (1997), que as representações que são produzidas pela mídia geralmente secundarizam o saber do próprio refugiado, silenciando sua voz o que, para a autora, desqualificaria os meios de comunicação enquanto fonte de informação credível. A ausência da autorrepresentação de forma ativa nos discursos midiáticos contribui para a exclusão simbólica desses indivíduos, configurando um grande paradoxo em seu discurso “pois embora se pretenda informar, nega-se o conhecimento que deriva da voz na primeira pessoa”. (SJÖBERG e RYDIN, 2008 apud SILVESTRE, 2011, p. 61). Apenas em estudos mais recentes, como o conduzido por Cunha (2004), é observado uma mudança de postura da cobertura midiática, com ênfase nos processos de integração, políticas inclusivas e o progressivo interesse pela cultura desses grupos. Essa alteração talvez tenha partido também do ponto de vista sociológico, provocado pela impossibilidade de identificar a experiência dos refugiados no discurso midiático - como se acreditava na visão funcionalista da sociedade. Conforme apontado no estudo de Silvestre (2011), autores como Roger Zetter (1991), Prakash Shah (2000) e 23

Chimni (2009) acusam como sendo insuficientes as definições sociológicas contemporâneas do “ser refugiado”, embora reconheçam a importância dos instrumentos legais construídos até então. Do mesmo modo, existem os discursos que foram construídos pelos próprios órgãos de proteção dos refugiados, que de certa forma abrangem uma parcela maior de indivíduos – e entre eles também não-refugiados – o que contribuiria, segundo esses autores, para o desentendimento e descaracterização dessa população em estudos políticos e sociológicos. Do lado da imprensa cobra-se, portanto, que possa atuar de forma responsável com a causa dos refugiados, uma vez que possui influência na formação de opinião e reprodução de conceitos sociais. Nesse sentido, a fraca visibilidade que antes era dada pela imprensa às questões ligadas à imigração e minorias étnicas passam a ganhar maior notoriedade e espaço midiático, com foco diferenciado, porém ainda passível de indagações, como será visto mais a diante. Isto posto, vale ainda ressaltar a menção da instância midiática - bem como os discursos público e político -, enquanto uma das esferas responsáveis por promover a integração de cidadãos em situação de refúgio, no texto do relatório da Comissão Mundial sobre as Migrações Internacionais (CMMI) de 2005. Porém, conforme observa Cunha (CUNHA, 2004 apud FIGUEIREDO, 2003), embora a questão devesse ser tratada com maior apreço pela imprensa, ainda se nota com frequência um conjunto de representações negativas do “Outro” ao se falar dos refugiados. Em reportagens mais atuais, o autor relata que os meios de comunicação parecem ter optado por um discurso mais neutro e fatual. Para ele, trata-se da busca por uma argumentação mais assertiva, relacionada mais às situações de cada cidadão do que em questões de segurança – embora a criminalidade ainda continue sendo o principal tema das peças jornalísticas referentes à imigração e minorias étnicas em Portugal. Diante disso, os relatos contemporâneos passaram a retratar como vítima o imigrante, baseados em uma perspectiva social em detrimento de um enquadramento policial (CUNHA et al. 2006). Uma das consequências notáveis desta postura midiática é o distanciamento do sujeito refugiado, ainda que esteja presente na narrativa jornalística. Isto porque embora tenha resultado em um certo tipo de aprofundamento no tratamento da questão pela mídia, a capacidade de

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autorrepresentação dos próprios refugiados é, então, remetida para o universo singular do relato da sua história pessoal. (VAN DIJK, 1998 apud SILVESTRE, 2011, p. 71). Ademais, estudos preliminares publicados pela Observatory Against Ethnic and Sexual Discrimination, apontam a existência de interdependência entre as temáticas de discriminação presentes no espaço público e as relações que se estabelecem entre as agendas política, pública e midiática. Isto significa que, ao mesmo tempo em que dá visibilidade a essas temáticas, os meio de comunicação tendem a apagar os contextos sociais e políticos desses fenômenos, fazendo da exploração das diversas formas de violência as imagens de síntese de um grupo em situação de “ilegitimidade” social. Por outro, lado, o estudo conclui que as imagens estereotipadas e as formas de jornalismo mais intimistas tenderiam a “acentuar, entre as audiências, as dificuldades inerentes ao discernimento entre conhecimentos fatuais e conhecimentos estruturais, influenciando a percepção do porquê, e de quem a sociedade, e cada um dos seus cidadãos, discrimina”. (OBERCOM, 2002, p.23). Com isso, desmistifica a ideia dos meios de comunicação como “espelhos do real”, mas reforça a teoria do distanciamento do “Outro” – o refugiado - retratado junto à sociedade de uma forma geral. Considerando os apontamentos acima apresentados, pretende-se avaliar no corpus selecionado para este estudo, em que medida as campanhas levam em consideração o real contexto da população refugiada em Portugal, bem como as representações que esta comunidade tem junto à sociedade portuguesa. Vale lembrar que esta representação é aqui entendida como sendo a projeção deste grupo que é observada nos meios de comunicação social. Para tanto, o próximo tópico se dedicará a apresentar e contextualizar o corpus que será analisado posteriormente.

CAPÍTULO III

3. Plano de comunicação integrada para o ACNUR Para a realização deste estudo foram selecionadas as duas primeiras campanhas eleitas pelo ranking do Conselho Português para Refugiados (CPR), respectivamente: “Saída de Emergência” e “Resgate um Sorriso”. Ambas foram realizadas no ano de 2012 no âmbito da disciplina “Comunicação Integrada”, 25

ministrada pela professora Sónia Sebastião, do curso de Ciências da Comunicação da Universidade Técnica de Lisboa. O planejamento das campanhas se iniciou a partir de uma análise da situação dos refugiados no mundo e em Portugal, além de um levantamento das campanhas realizadas anteriormente pelo ACNUR. Foram avaliados e descritos os materiais e conceitos já utilizados pelo órgão, a fim de identificar os ângulos de abordagem mais relevantes para a realização das campanhas. Posteriormente foram fixados os objetivos comunicacionais, estabelecidos o público-alvo e as técnicas de comunicação a serem utilizadas. Por definição, as técnicas deveriam contemplar a produção de um spot para veiculação em TV, uma ação de guerrilha (Public Relations Stunt) e a produção em plataforma digital. Assim sendo, o material a ser analisado será constituído pelos blogs das campanhas, que foram as plataformas digitais utilizadas para agregar os demais produtos (os vídeos do spot televisivo e ação de guerrilha). Além disso, também serão estudados os projetos dos Planos de Comunicação Integrada, que foram fornecidos e autorizados pelos próprios autores dos trabalhos. 3.1. Briefing O briefing das campanhas solicitadas pelo ACNUR e pelo CPR foi transmitido pela diretora e assistente de Informação Pública, Mónica Jeanne Frechaut. Em reunião de apresentação das instalações do Centro de Acolhimento da Bobadela (CAR) e do Centro de Acolhimento de Crianças Refugiadas (CACR), ambos em Lisboa, a diretora da instituição expôs o histórico de atuação do ACNUR em Portugal, suas funções e atuação nas comunidades locais e internacionais. Segundo apresentado, o foco das campanhas deveria centrar-se na causa das crianças e menores refugiados, com o objetivo de sensibilizar e despertar a consciência da população. Um dos principais entraves da atuação do ACNUR em determinadas comunidades é o problema ainda persistente de rejeição a cidadãos de outras culturas, raças e nações. Práticas xenofóbicas5 e discriminações são as principais responsáveis

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Xenofobia é o medo irracional, aversão ou a profunda antipatia em relação aos estrangeiros, a desconfiança em relação a pessoas estranhas ao meio daquele que as julga ou que vêm de fora do seu país.

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pela exclusão do convívio social enfrentada pelos refugiados nos dias de hoje em diversas partes do mundo. Dentre outras barreiras enfrentadas pelo órgão, a falta de informações sobre a real causa dos refugiados e suas carências são geradoras de visões deturpadas e negativizadas sobre os mesmos. Outro problema apontado durante as reuniões de briefing foi a busca por recursos para financiamento dos espaços dedicados aos refugiados. Em Portugal, embora o CAR e CARC apresentem instalações bem projetadas e já construídas, carecem de incentivos para se manterem em funcionamento e, para tanto, dependem das doações dos simpatizantes da causa. Diante dos problemas centrais apresentados pelo ACNUR, estipulou-se-se como objetivo central das campanhas humanizar a causa dos refugiados por meio da sensibilização, na tentativa de traduzir a difícil trajetória das crianças não acompanhadas e dos danos provocados pelo trauma vivenciado. De uma forma geral, as campanhas deveriam dar maior visibilidade ao problema em si, na tentativa de provocar engajamento por parte do público-alvo. Esperava-se, portanto, que as campanhas tivessem por finalidade incentivar a aceitação desse grupo social – xenofilia – aumentando o contato e esforço de reintegração para com os refugiados. Considerando a dimensão universal da problemática dos refugiados, que atinge diversas etnias, religiões e faixas etárias, o target definido para a conceitualização das campanhas foi abrangente ao público geral. Isto porque intencionava-se atingir o maior número de pessoas, utilizando-se de representações em níveis globais, tal qual a atuação dos órgãos em questão. 3.2. Descrição do corpus 3.2.1. Saída de Emergência O primeiro projeto escolhido para a análise foi a campanha de sensibilização sobre os menores não acompanhados Saída de Emergência, realizado em maio de 2012 pelo aluno do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), Hugo Aparício, com a colaboração dos estudantes Teresa Batista, Ricardo Duarte e Pedro Fraga. Eleito o primeiro colocado no ranking do Conselho Português para os Refugiados, apresenta uma proposta de sensibilização da causa dos menores não acompanhados em Portugal, guiada pelo mote “Há sempre uma saída”. As informações e o plano de comunicação integrada (vide Anexo 3) foram cedidos pelo

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próprio autor, que contribuiu para a realização deste trabalho, e pelas informações contidas na plataforma digital do projeto.6 Segundo a proposta apresentada, a delicadeza da situação dos refugiados por si sustenta a justificativa da realização de um trabalho de comunicação que leve em consideração o tratamento social em que se encaixam. De acordo com o autor, “as pessoas estão habituadas, de uma maneira geral, a olhá-los [os refugiados] como intrusos e no fundo não percebem que são seres humanos angustiados em busca de, pelo menos, paz”. Dessa forma, o trabalho se propõe a informar e sensibilizar a sociedade para a causa dos refugiados, trazendo novas abordagens comunicacionais, diferentes das realizadas anteriormente. O objetivo exposto no plano apresentado é dizer, por meio de uma metáfora, que “há sempre uma saída”, transmitindo a ideia da fuga de uma situação de perigo para outra mais segura – representada pela chegada ao país acolhedor. A campanha Saída de Emergência trata do tema em questão “sem a habitual sobrecarga de dramatismo”, mantendo, portanto, a coerência das mensagens entre as várias técnicas e formatos que foram trabalhados (publicidade, ação de guerrilha, panfletagem e plataforma digital). Voltada para o público geral, focou-se especialmente nos menores não acompanhados, seguindo uma vertente mais informacional e não moralista, conforme argumentos apontados no próprio plano que a constituiu. 3.2.1.1. A campanha Para a realização da campanha, primeiramente foi feito um levantamento das ações do ACNUR em Portugal, bem como das tramitações legais que lidam com a situação dos refugiados no país. Foram destacadas a ação de arrecadação de fundos realizadas no Estádio Jamor, em Lisboa; a campanha “Refugiados em Portugal: a sua história é a nossa história”, que comemorou o aniversário do Conselho Português para os Refugiados (CPR); ciclos de palestras e exposições com o tema (em Lisboa e Cascais); e o Dia Mundial do Refugiado, com a ação “Concentração dos Chapéus-dechuva – Proteger os Refugiados”, que ocorreu no dia 20 de junho, seguido de um

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Blog Saída de Emergência. Disponível em: http://comunicacaorefugiados.wordpress.com. Acesso em 29 de abril de 2014.

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Sarau no Centro de Acolhimento para os Refugiados, no bairro da Bobadela, em Lisboa. Conforme analisa o autor, a simplicidade das leis de imigração portuguesas são facilitadoras para a instalação de estrangeiros no país. No entanto, casos de refugiados, fugitivos e vítimas de perseguição pertencem a outro âmbito e por isso ficam a cargo do Conselho Português para os Refugiados (CPR). A partir destas observações, a concepção da campanha se baseou na figura de uma porta de saída de emergência, uma vez que simularia a busca por uma saída, ou seja, por uma solução para o problema dos refugiados. A analogia por meio da metáfora da saída de emergência foi um recurso que tinha por intenção facilitar a compreensão dos diversos públicos que se desejava atingir. O logotipo foi, então, inspirado nos ícones das saídas de emergências convencionais, tendo uma criança no lugar do boneco, reconhecida pelo urso de pelúcia que carrega em suas mãos, conforme pode ser observado na imagem abaixo. A peça foi responsável pela identidade da campanha como um todo e acompanhou o desenvolvimento das demais ações, que serão apresentadas a seguir.

IMAGEM 1: Página inicial do blog exibe a logo em vários idiomas e as abas com informações sobre os refugiados e os materiais da campanha. (SAÍDA DE EMERGÊNCIA, 2012).

Com duração de 52’’, o spot publicitário se constitui na história de três crianças, de diferentes idades, que jogam um jogo de tabuleiro. O vídeo retrata uma cena comum do cotidiano dessas crianças, que brincam em um quarto rodeadas de brinquedos. O objetivo do jogo, conforme descrito, é que as crianças pudessem

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suportar o trajeto, enfrentando situações boas e ruins, até alcançar a Saída de Emergência, assinalada em uma das cartas. Ao lançar os dados e retirar suas cartas, as crianças avançam o percurso e se deparam com cartas que indicam situações como “brincar”, “andar de bicicleta”, “conflitos” e “trabalho infantil”. Essas cartas são exibidas no vídeo por meio de infográficos que também trazem a identidade e iconografia do projeto. Assim, o vídeo retrata as reações das crianças ao se depararem com cada situação e, por meio de planos mais fechados, enquadram com maior detalhe as expressões das crianças aos estímulos positivos e negativos. Ao final, uma delas retira a carta da saída e “escapa pelo portal”. O spot é então finalizado com uma imagem congelada da comemoração da criança vencedora. A carta da saída de emergência representa neste caso a passagem, isto é, a mudança de vida desses indivíduos. Os percalços que enfrentam durante o jogo são as incertezas das vida, representadas pelo fator “sorte”, que é decido no dado. A trilha sonora Graceful, de Akashic Records, cobre as imagens de forma a sugerir uma evolução, com ritmo um pouco dramático que evolui para notas mais alegres, a medida em que o jogo se desenrola, culminando no momento em que a criança vence o jogo. Então, é exibido o logo do CPR, que é seguido pela marca Saída de Emergência, acompanhada pela frase-slogan do projeto: “Há sempre uma saída!”. Desse modo, o vídeo nos leva a induzir que, embora existam obstáculos, há sim, uma solução, uma saída. Semelhante à situação dos refugiados, o jogo parece fazer analogia ao fato de que essas pessoas não tiveram escolha no destino que tiveram de enfrentar. Mas oferece a alternativa e a esperança de que há uma saída de emergência, e chama a atenção da sociedade que pode exercer um papel fundamental na reinserção social destes indivíduos. Conforme descrito no planejamento, “com este mix de comunicação aplicado pretende-se que a informação se torne viral e que chegue ao maior número de pessoas possível. Foi evidenciado que é urgente despertar as pessoas, mostrando que os refugiados não são inimigos, são apenas sobreviventes”. O vídeo produzido foi hospedado em um blog, em que foram agrupadas outras informações a fim de contextualizar os leitores a respeito da situação dos refugiados, como motivos de abandono dos países de origem, condições de vida e processos de pedido de asilo. Embora o projeto tenha planejado a criação de uma página de

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divulgação no Facebook para a promoção do word-of-mouth e compartilhamento dos materiais do blog, esta ferramenta não foi de fato criada. Já na ação de guerrilha - Public Relations Stunt -, o projeto levou às ruas de Lisboa um portal feito de isopor, simulando uma parede de tijolos, que transmitiria a ideia de uma saída de emergência. De um lado do muro havia uma placa indicativa com o logo Saída de Emergência. O objetivo era chamar a atenção tanto dos que conheciam como dos que desconheciam a condição de refugiado. Conforme se esperava, a porta colocada em um local público suscitaria a curiosidade das pessoas. O vídeo da guerrilha tem um forte apelo de felicidade e superação, embalado pelo jazz de Bella Huse, Heart of Everyone, que mostra as pessoas interessadas e interagindo com o portal em uma das principais avenidas da capital lusitana. Algumas pessoas chegam a atravessar a estrutura, brincando com o cenário que simulava a saída de emergência. A imagem abaixo apresenta frames com detalhes dos vídeos do spot televisivo e da ação de guerrilha:

IMAGEM 2: À esquerda, uma criança interage com a instalação da ação de guerrilha Saída de Emergência e à direita as crianças brincam com o jogo de tabuleiro no spot televisivo da campanha. (SAÍDA DE EMERGÊNCIA, 2012)

Para reforçar o teor informativo da ação de guerrilha, ao lado do portal também foi alocado um painel intitulado “Admissões”, contendo as condições necessárias para requerer o estatuto de refugiado. No chão, uma seta desviando o sentido do portal indica: Requerentes de Asilo. Dessa forma, a ação consegue evidenciar a temática que está sendo abordada, inclusive com o próprio logo da campanha, que traz o desenho de uma criança, a fim de especificar a questão dos menores não acompanhados. O autor também distribuiu panfletos informativos para as pessoas que interagiram com a instalação. 31

Além da placa afixada no portal, em português, o painel trazia a mensagem em outras quatro línguas (inglês, italiano, espanhol e francês), a fim de potencializar a compreensão dos transeuntes, especialmente devido à grande circulação de turistas na rua em que a ação foi realizada. Durante o planejamento da guerrilha foi considerado um estreitamento com órgãos parceiros para verificar a disponibilidade de figuras públicas para abraçar a campanha. Foram mencionados nomes como o do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, do ex-jogador de futebol português Luís Figo, da jornalista Bárbara Guimarães e da atual esposa do Primeiro Ministro de Portugal, Mercedes Balsemão. Esta estratégia visava promover a campanha por meio de vídeos promocionais que criassem identificação com pessoas públicas. Além disso, também seriam elaborados cartazes publicitários utilizando-se dessas personalidades, mediante a disponibilidade de adesão de cada um; no entanto o approach e confecção dos cartazes também não pôde ser concretizado na execução das ações propostas. Durante o processo de criação e operacionalização da campanha, foram feitas reuniões e visitas às instalações do CPR que colaboraram para a construção da mensagem e mensuração do feedback do “cliente”. Para avaliação do impacto, foi proposta a construção de um dossiê com clipping de mídia espontânea, bem como os contadores de acessos do site da campanha e também dos sites relacionados (ACNUR, CPR, Câmara Municipal de Lisboa, SWATCH, Fundação Luís Figo, SIC Esperança, JC Decaux e Príncipes do Nada). Como ação final, sugeriu-se ainda a aplicação de questionários para tentar captar

a

receptividade

das

pessoas

ao

tema,

e

até

mesmo

da

identificação/conhecimento acerca da campanha. 3.2.2. Resgate um sorriso A segunda campanha analisada, que foi também a segunda colocada no ranking do CPR, foi produzida pelos alunos Alisson Paiva, Letícia Mainardi Tamiozzo, Maria Luiza de Lucena Basso e Natália Granitoff. O plano de comunicação integrada com fins sociais Resgate um Sorriso foi idealizado e executado em maio de 2012, tendo como mote a frase “Um dia sem sorrisos é um dia perdido”, de Charlie Chaplin. Os dados obtidos para a análise da presente pesquisa levou em consideração a experiência própria de participação no processo de

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construção desta campanha, bem como o plano de comunicação produzido, que se encontra no Anexo 4 ao final do trabalho. O planejamento da campanha Resgate um Sorriso propôs uma solução para a dificuldade de adaptação e integração dos refugiados nas comunidades acolhedoras, que em grande parte decorrem da falta de conhecimento a respeito da real condição dos refugiados, além da prática de xenofobia, ainda presente em muitos lugares. Dessa forma, apresentou uma ação que seria conduzida pelos sonhos das crianças, realçando sua inocência e vulnerabilidade, bem como suas aspirações para o futuro. Com isso, o projeto Resgate um Sorriso pretendia sensibilizar e dar visibilidade à causa dos refugiados em Portugal, humanizando-as com foco nas histórias das crianças vítimas de conflitos e perseguições. A intenção era conquistar maior apoio da população, especialmente no tangente à integração social. Diante da dimensão global do problema dos refugiados, optou pela utilização de representações mundiais a fim de atingir um target que abrangesse não somente a comunidade portuguesa, mas também a comunidade internacional. 3.2.2.1. A campanha Via de regra o planejamento se iniciou com o mapeamento e análise da situação dos refugiados em Portugal e no mundo. O projeto se baseou na Declaração Universal dos Direitos do Homem, que define em seu artigo 3º que “todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”.7 Dessa forma, ressalta a luta dos refugiados, em especial as crianças e menores não acompanhados, vítimas de conflitos, perseguições e catástrofes naturais. O plano destaca a importância do papel do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e da Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados que entrou em vigor em 22 de abril de 1954, estabelecendo padrões para o tratamento dos refugiados. Também avalia a missão e valores do CPR, responsável por conduzir as tramitações dos refugiados no país, bem como as instalações de acolhimento que disponibilizam. Parceiro do ACNUR em Portugal, o CPR tem como objetivo “promover, através de análises, trabalhos e trocas de

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Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em http://www.cne.pt/dl/1_declaracao_universal_direitos_homem.pdf. Acesso em 13/03/12.

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informações, uma política de asilo mais humana e liberal, a nível nacional e internacional”, conforme descrito em seu site oficial.8 Dentre as campanhas anteriormente realizadas pelo ACNUR no mundo, foram ressaltados o Dia Mundial do Refugiado de 2011, com o tema “Vamos calçar os sapatos dos refugiados e dar o primeiro passo para entender sua situação”; a polêmica campanha dos Refugiados (BBDO), com o tema “Se você acha que é terrível remover um caracol de sua casa, então você deve saber que isso acontece com 21 milhões de pessoas”; e outras ações conduzidas pelo chefe do ACNUR, António Guterres, e da atriz Angelina Jolie. A idealização da campanha se pautou pela necessidade de facilitar a integração dos refugiados na comunidade portuguesa. O conceito do resgate do sorriso de uma criança foi a base na qual a campanha se apoiou, reconstruindo de forma leve, e por vezes descontraída, a retomada de uma vida normal de uma criança vítima de perseguições e conflitos armados. Conforme apontado no plano de comunicação, a principal meta era “promover maior respeito e integração aos refugiados, para que possam ‘se libertar’ e levar uma vida normal, com melhores expectativas”. A primeira peça produzida foi o spot televisivo com duração de 45” que retrata as etapas pelas quais uma criança refugiada passa desde a saída de seu país de origem até a chegada no Centro de Acolhimento para Refugiados (CAR). A “evolução” é retratada pela expressão em close do sorriso dessa criança, gravado em stop motion, que acompanha a história representada por desenhos de criança exibidos em uma faixa ao fundo. Os desenhos, que se iniciam em preto e branco, ganham cores a medida em que a história de superação é contada. Esta peça, com tom mais dramático, possui o fundo preto e é reproduzida ao som da trilha Prelude Nº 1, de Johann Sebastian Bach, e foca principalmente na existência dos centros de colhimentos dedicados aos refugiados em Portugal. A animação é acompanhada pelas seguintes frases, que contextualizam os dramas das crianças refugiadas e o trabalho do CPR junto aos requerentes de asilo no país: Todos os dias, / milhares de crianças / perdem suas casas, pais / e sorriso / Com as guerras civis / são obrigadas / a procurar novos lares / e nações. Mas, mesmo ao encontrar, / não voltam a sorrir. / Por isso, / o Conselho Português para Refugiados / construiu um centro de acolhimento / só para elas. / Para que não deixem de ser criança. / Para que voltem a sorrir. Mostre que você é diferente. / Junte-se à causa.

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Site oficial do CPR. Disponível em: http://www.cpr.pt/. Acesso em 17 de março de 2014

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Resgate um sorriso./ www.resgateumsorriso.wordpress.com

A transição das cores dos desenhos ao fundo, em sintonia com a proposta dos sonhos idealizados pelas crianças, mostra uma ideia de superação, e não foca somente no sofrimento e angústias dos refugiados - como geralmente são retratados em outras campanhas – e sim no sucesso da trajetória. Para a ação de guerrilha, foi escolhido um local com grande circulação de pessoas no centro de Lisboa. A estratégia central foi a utilização de uma estátua humana, por estar sempre no foco das atenções dos turistas e pedestres. A ideia é que a estátua, imóvel, pudesse se mexer mediante a interação dos transeuntes de forma alegre, provocando sorrisos. Na imagem abaixo, é possível observar com detalhes as ações desenvolvidas pela campanha Resgate um Sorriso.

IMAGEM 3: i) Detalhe do spot televisivo; ii) A estátua humana durante a ação de guerrilha; iii) Detalhe da mensagem que foi distribuída aos transeuntes. (RESGATE UM SORRISO, 2012)

O vídeo da ação de guerrilha (com duração de 2’18’’) se concentrou na expressão das pessoas curiosas que interagiam com a estátua e que, além da performance, recebiam um papel com a frase mote da ação “Um dia sem sorrisos é um dia perdido”, e o endereço do blog da campanha. A ação foi editada com o ritmo animado da composição de jazz Delhi Belly, da banda MarchFourth Marching Band. Para contextualização, foram colocadas placas indicativas com o lema da campanha e setas que incentivavam as pessoas a interagirem com a estátua humana para “resgatar um sorriso”. Vale notar que a artista portuguesa Marta Faria (Metamorphosis Living Statue), a estátua humana, foi voluntária na campanha e não arrecadou moedas, como de costume, durante a ação. No vídeo, são demonstradas as reações dos pedestres na rua, pessoas de várias idades, que interagem e se divertem com a simpatia da artista de rua, e algumas pessoas que já acessam o site dali mesmo, por meio de seus dispositivos móveis 35

(como tablets e smartphones). As cenas são intercaladas por frases que dão o enredo e contexto da campanha, como se apresenta a seguir: Lisboa, 15 de maio de 2012 / Resgate um sorriso O sorriso é a forma mais simples de expressão / diz, sem nada falar/ Neste dia, uma estátua nos lembrou como sorrir é importante Engaja-te nessa causa!/ resgateumsorriso.wordpress.com.br

Por fim, a ação de comunicação digital se concretizou na criação de um blog9 que se transformou em uma plataforma que reuniu informações sobre os refugiados e todo o material produzido na campanha, bem como em uma forma de promover o engajamento coletivo na causa dos refugiados. O plano também previa que o site deveria ser uma ferramenta que pudesse direcionar os leitores para os sites oficiais dos órgãos envolvidos, como ACNUR e CPR, a fim de não competir com a relevância das informações e ações já realizadas por eles.

3.3. Estratégias de ação Partindo da análise dos planos Saída de Emergência e Resgate um Sorriso, anteriormente apresentados, pretende-se avaliar o conjunto de ações propostas e verificar se eles se sustentam enquanto um plano de comunicação integrada. Dessa forma, os produtos serão analisados enquanto planos de comunicação, a fim de diagnosticar se contemplam os elementos propostos inicialmente pelo Conselho Português para os Refugiados (CPR), no sentido de afetar os públicos, e o problema enfrentado pelos refugiados no contexto da sociedade portuguesa. E, como pressuposto, a elaboração de planos é fundamental para a solução de problemas ou, ainda, para exploração de oportunidades de comunicação. Assim sendo, a coerência dessas ações será analisada tendo como referência os principais elementos dos planos de comunicação integrada, tais como apresentados por autores como Margarida Kunsch, Márcio Simeone e Djalma Oliveira. Entre as principais atribuições dessa atividade está, sem dúvidas, o fortalecimento do relacionamento com os diversos públicos com que se relaciona e se pretende atingir; que será um dos focos deste estudo.

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Blog Resgate um Sorriso. Disponível em: http://resgateumsorriso.wordpress.com. Acesso em 1 de maio de 2014.

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Como ponto de partida é preciso considerar a importância do “planejamento e da gestão estratégica de relações públicas no âmbito das transformações sociais, políticas, econômicas e tecnológicas”, como ressalta Kunsch (2006). Segundo a autora, a eficiência e eficácia desses instrumentos está sempre vinculada a contextos mais amplos, como é o caso dos refugiados no contexto português. Sobre esses conceitos, ela explica que eficiência significa fazer bem-feito, de maneira adequada, com redução de custos, desempenho competente e rendimento técnico. Eficácia liga-se a resultados – em função dos quais é preciso escolher alternativas e ações corretas, usando para tanto conhecimento e criatividade para fazer o que é mais viável e certo. Efetividade relaciona-se com a permanência no ambiente e a perenidade no tempo, no contexto, da obtenção dos objetivos globais (KUNSCH, 2003, p. 205).

Neste sentido, as novas configurações do mundo global exigem uma postura diferenciada das organizações, mais responsável, o que demanda planejamentos de comunicação melhor elaborados. Isto porque essas organizações passam a ser pressionadas por diversos segmentos da sociedade civil e, da mesma forma a mídia também o é. Essas instituições passam então a se preocupar mais com as relações sociais que circulam o mundo, como descrito por Margarida Kunsch: As organizações modernas assumem novas posturas na sociedade atual. A velocidade nas mudanças que ocorrem em todos os campos impele as organizações a um novo comportamento institucional perante a opinião pública. Elas passam a se preocupar mais com as relações sociais, com os acontecimentos políticos e com os fatos econômicos mundiais. E, nesse contexto a atuação de relações públicas será fundamental, pois caberá a essa atividade a função de abrir canais de diálogo com os diferentes segmentos da sociedade, administrando estrategicamente a comunicação. (KUNSCH, 1997, p.27).

Dessa forma, é válido inferir que a mudança de postura dos meios de comunicação na cobertura dos temas relacionados às minorias étnicas em Portugal pode também estar vinculada à própria pressão da sociedade e das instituições que a constituem, conforme apresentado por Kunsch. Enfatiza-se, ainda, a importância do planejamento estratégico da comunicação como ferramenta fundamental no trabalho de divulgação e sensibilização da sociedade em prol da causa dos refugiados. Ainda segundo a autora, o planejamento é uma das principais ferramentas para certificar-se da eficácia das ações de comunicação, pois traça um raio X da real situação da organização em seu contexto mercadológico, social e até mesmo administrativo. No caso das campanhas

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analisadas, entende-se por mercado o contexto dos refugiados em Portugal e no mundo, uma vez que não se trata de uma instituição privada com fins lucrativos. Kunsch chama a atenção para o que considera a principal função das relações públicas, que seria a de “ajudar as organizações a se posicionarem perante a sociedade, demonstrando qual é a razão de ser do seu empreendimento (...) bem como definirem uma identidade própria e como querem ser vistas no futuro”. (KUNSCH, 2006, p. 6). Henriques (2006) acrescenta que a atividade está ligada à disputa pela visibilidade e, portanto, também pelo interesse público, que é o que as campanhas em questão buscam fazer, em sintonia com os objetivos apresentados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Sobre este aspecto, Habermas critica o papel das Relações Públicas pela “fabricação de consensos” que seria, na verdade, a promoção de interesses privados em detrimentos de interesses públicos, sugerindo ou exigindo a aceitação de uma ideia. A formação da opinião pública, no entanto, é um processo racional resultante de um longo processo de debates, o que não ocorre de fato nos “consensos” promovidos pela mídia. Vale lembrar que, segundo o autor, a visibilidade nem sempre promove o debate, e somente por meio da discussão social será possível transformá-la em representação. Para esta finalidade, Kunsch ressalta ainda que a elaboração de qualquer projeto deve se pautar pela orientação metodológica das fases do processo do planejamento de relações públicas que, conforme explicita, centra-se em quatro pilares básicos: levantamento de informações sobre a realidade situacional a ser planejada; planejamento e programação das ações; implantação ou execução; e controle e avaliação dos resultados. Isto significa que as ações das relações públicas devem, a partir do planejamento, encontrar as melhores estratégias comunicacionais para prever e enfrentar as reações dos diversos públicos com que trabalha. Especialmente porque, “lidam com comportamentos, atitudes e conflitos, valendo-se de técnicas e instrumentos de comunicação adequados para promover relacionamentos efetivos”. (KUNSCH, 2006, p.6). Assim sendo, as possibilidades de se realizarem planos estratégicos de comunicação vão depender das condições, oportunidades, interesses de cada organização e do contexto no qual se inserem. Como apresenta Djalma Oliveira (2002), o planejamento deve levar em consideração certos princípios básicos, que são: 38

a) a contribuição aos objetivos máximos da empresa (isto é, hierarquizar os objetivos máximos da empresa; b) precedência do planejamento, que significa que planejar é uma função administrativa que deve vir antes das outras (organizar, dirigir, controlar); c) maior penetração e abrangência, o que pode provocar várias modificações nas características e atividades da empresa; d) maior eficiência, eficácia e efetividade, ou seja, procurar maximizar os resultados e minimizar as deficiências. (OLIVEIRA, 2002 apud COLOMBINI, 2006 p. 15). Além destes princípios, ele acrescenta ainda que a elaboração de um planejamento deve seguir as seguintes fases: 1. Diagnóstico estratégico: identifica as expectativas e desejos dos acionistas, conselheiros e elementos da alta administração; as ameaças e oportunidades que estão no ambiente da empresa; os pontos fortes, fracos e neutros da empresa e a análise dos concorrentes; 2. Missão da empresa: estabelece o motivo central do planejamento estratégico, os propósitos atuais e potenciais, a postura estratégica, as macroestratégias e as macropolíticas; 3. Instrumentos prescritivos e quantitativos: definem como chegar na situação desejada com o estabelecimento dos objetivos, metas, estratégias e políticas funcionais, projetos e planos de ação; 4. Controle e avaliação: avaliação do desempenho; comparação do desempenho real com os objetivos e metas estabelecidos; análise dos desvios e tomada de ação corretiva. (OLIVEIRA, 2002 apud COLOMBINI, 2006). O autor acredita que estes são alguns passos importantes para o êxito de um bom planejamento, que deverá também priorizar a visão estratégica de suas ações, em prol dos objetivos traçados e alinhados à cultura e ao contexto dos quais participam. É necessário, portanto, que haja sinergia entre a organização, os públicos e as ações de comunicação propostas. Por fim, o planejamento estratégico de relações públicas voltado para a comunicação excelente deve cumprir e avaliar criteriosamente as seguintes etapas do processo, que são apresentadas por Margarida Kunsch:

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1. Identificação da organização; 2. Compromisso e comprometimento da administração superior; 3. Identificação dos públicos estratégicos (stakeholders); 4. Identificação da missão, da visão e dos valores da organização; 5. Análise estratégica (avaliar o posicionamento da organização por meio da análise ambiental externa, setorial e interna); 6. Pesquisas e auditorias em relações públicas/comunicação organizacional; 7. Elaboração do briefing (resumo das informações colhidas); 8. Análises e construção de diagnóstico situacional da comunicação vigente; 9. Definir a missão, a visão e os valores da comunicação organizacional; 10. Estabelecimento

de

filosofias

e

políticas

de

comunicação;

11.

Determinação de objetivos e metas; 12. Delinear as estratégias gerais da área de comunicação/relações públicas; 13. Relacionar os projetos e programas específicos de comunicação/relações públicas; 14. Planejar os projetos e programas específicos prioritários, selecionando, também, os meios de comunicação mais pertinentes; 15. Fazer o orçamento geral; 16. Divulgar o plano para os públicos envolvidos; 17. Implantação; 18. Controle das ações; 19. Avaliação. (KUNSCH, 2006, p. 12).

Embora existam diversas outras abordagens e paradigmas a respeito dos planos de comunicação integrada, este trabalho se aterá aos apontamentos acima apresentados, que serão adotados como referência para fins de comparação e análise dos planos os quais este estudo se propôs a examinar. Neste sentido, o presente trabalho se confiará a investigar se houve, por parte dos planos elaborados, eficiência e eficácia no sentido de corroborar para a causa apresentada pela Agência da ONU para Refugiados - o ACNUR -, considerando sobretudo o contexto no qual se inserem. Tem-se portanto como pressuposto que um plano de comunicação ideal deve compreender, além das características mencionadas no último tópico, também as representações midiáticas. Conforme exposto no briefing, a problematização dos refugiados em Portugal se devia, entre outros fatores, ao desconhecimento e baixa aceitação da sociedade portuguesa em relação aos refugiados. Desta forma, buscou-se identificar junto à mídia a concepção que é reproduzida em meio à população a que nos referimos. A visão da sociedade portuguesa será então aqui concebida como sendo a projeção que é percebida nos meios de comunicação, uma vez que é produtora e reprodutora dos discursos que circulam na sociedade.

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Assim, no intuito de compreender a função jornalística referente à formação de padrões, referências e discursos sociais, recorre-se ao conceito que define os meios de comunicação como uma “janela para o mundo”. Essa metáfora, embora tenha sido utilizada por França (2006) referindo-se à televisão mais especificamente, revela a crença da entrada desses meios na intimidade doméstica dos espectadores, os conferindo acesso ao mundo exterior. No entanto, a própria autora alerta que, na verdade, “não é ‘o mundo’ que passa em frente a janela – é a rua, a hibridação confusa e perigosamente instável das ruas”. (FRANÇA, 2006, p. 43). Dessa forma, problematiza a construção das realidades possíveis, do Outro, enfim, das tentativas da reprodução do real, que é constantemente verificada no fazer midiático. Um vez que possui seus mecanismos próprios de atuação, não se pode desconsiderar que a mídia tem também discursos e que estes discursos não são despretensiosos, pelo contrário, reiteram e reproduzem escolhas estratégicas que serão disseminadas e compartilhadas entre os diversos grupos de espectadores. E por isso, se faz importante analisar as abordagens dos planos de comunicação, levando em consideração também a representação midiática dos refugiados no contexto português, conforme apresentado no início deste trabalho. Dessa forma, os próximos tópicos se aterão à análise dos planos descritos, com base na revisão bibliográfica exposta, que dá base para este estudo. Considerando os apontamentos acerca da mídia portuguesa e do requisitos que definem um plano de comunicação excelente, parte-se, então, para uma observação mais detalhada das campanhas Saída de Emergência e Resgate um Sorriso.

CAPÍTULO IV 4. Análise Para a decomposição dos planos de comunicação selecionados, propôs-se a criação de quatro categorias de análise a fim de que se possa avaliá-los, por meio de observação e análise qualitativa, conforme se explica a seguir. A primeira categoria “Eficiência e Eficácia das Ações” foi o eixo condutor no que diz respeito às observações acerca das qualidades técnicas dos projetos, orientados pelos “critérios da gestão estratégica de relações públicas” apresentados por Margarida Kunsch (2006).

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Segundo a autora, um projeto será eficiente se for feito de forma adequada, com redução de custos e desempenho competente, ou seja, com alto rendimento técnico; a eficácia, por sua vez, será avaliada por critérios que dizem se foram escolhidas as alternativas corretas, valendo-se do conhecimento e criatividade para se atingir o mais viável e correto possível. (KUNSCH, 2003, p. 205). As outras duas categorias foram definidas a partir das quatro fases para a realização de um plano de comunicação excelente, trazidos por Djalma de Oliveira no capítulo anterior; a saber, i) a “Coerência com a missão da empresa” e ii) os instrumentos prescritivos e quantitativos, que aqui denominaremos de “Instrumentos de Planejamento”. A primeira visa medir o motivo central do planejamento, propósitos e postura estratégica; enquanto que a segunda categoria medirá o estabelecimento de objetivos, metas, estratégias e políticas funcionais, bem como os projetos e planos de ação mobilizados para se atingir seus objetivos centrais. As demais etapas e critérios apresentados no capítulo 5 deste trabalho são entendidos aqui como consequência destas três categorias selecionadas, que dirão da qualidade e eficácia das campanhas junto a seus públicos. Além disso, também será mobilizada uma quarta categoria de análise, “Planejamento, Impacto e Reconhecimento”, que avaliará as campanhas em suas dimensões simbólicas, a partir de recursos intangíveis de mensuração de seus impactos por meio da Teoria do Reconhecimento, que será explicado mais adiante. Dessa forma, as categorias apresentadas terão como objetivo orientar a descrição dos planejamentos, que serão avaliados sobretudo com o intuito de responder à questão inicialmente levantada nos objetivos deste trabalho, que é mensurar a eficiência e eficácia dos planos e verificar se contemplam os objetivos do ACNUR/CPR no cumprimento de suas tarefas. Para tanto, será necessário, antes de tudo, retomar os objetivos apresentados no briefing do órgão, para que se possa aferir a eficácia desses planos. O objetivo geral que orientou as produções das campanhas era, grosso modo, sensibilizar a sociedade portuguesa para a causa dos refugiados por meio da divulgação e humanização, uma vez que a falta de conhecimento sobre a condição dos refugiados foi identificada como sendo uma das principais causas da dificuldade de reintegração desses indivíduos no país acolhedor. A fim de medir o impacto destas campanhas em seu público-alvo, buscou-se, portanto, identificar quais eram as representações acerca dos refugiados que 42

circulavam na sociedade portuguesa. Dessa forma, encontrou-se na bibliografia consultada (CÁDIMA E FIGUEIREDO, 2003) um rico campo para coleta das informações a respeito da mídia, uma vez que esta se constitui enquanto sistema legítimo na esfera pública, na medida em que suscita o debate, a circulação de informações e conceitos, e reflete as representações sociais que permeiam a sociedade. Baseado nisso, e também na revisão bibliográfica apresentada, esta pesquisa se firmará em uma análise qualitativa adicional às categorias previamente selecionadas, a fim de buscar as respostas pretendidas. A seguir, tem-se a análise descritiva das campanhas Saída de Emergência e Resgate um Sorriso, de acordo com as nomeadas categorias de análise: 1) Eficiência e Eficácia das Ações, 2) Coerência com a missão do ACNUR, 3) Instrumentos de Planejamento e 4) Planejamento, Impacto e Reconhecimento. 4.1. Saída de Emergência A primeira campanha, Saída de Emergência, chama atenção por diversos aspectos. Embora tenha focado mais no tratamento da própria sociedade portuguesa em relação aos refugiados, o autor ressalta a baixa burocracia do Estado português no trato e acolhimento de imigrantes. Por isso, parte do pressuposto de que, uma vez atendidos pela legislação portuguesa, gozam dos mesmos direitos e deveres que qualquer cidadão não sendo, portanto, justificável qualquer tipo de segregação: É desta forma que Portugal contempla o refugiado no panorama legal, tornando-o possuidor de direitos tal como outro cidadão nacional. Deste modo e uma vez adquirido o estatuto de refugiado dissipam-se as razões para qualquer espécie de segregação social. (SAÍDA DE EMERGÊNCIA, 2012).

No entanto, o próprio autor também reconhece que as comunidades de refugiados enfrentam uma situação muito delicada no país e seria, por isso, traz uma proposta de abordagem diferenciada ao projeto. Conforme apresentado, pretende conduzir a campanha sem carga dramática, com orientação mais informacional, porém não moralista. E por isso utiliza da figura da metáfora para facilitar o entendimento e para dar maior suavidade no trato com o tema. Como se nota, a campanha busca um enfoque diferente daqueles que são comumente praticados no meio jornalístico, como exposto por Cádima e Figueiredo (2003), que são orientados pelos fait-divers, isto é, “das notícias factuais”, que 43

acabam por tomar o espaço do rigor, da humanização e contextualização das reportagens produzidas. A fuga para um lugar mais seguro, representada então pela saída de emergência, foi o maior apelo da campanha, pois chama de forma direta a atenção da sociedade portuguesa para a importância da reintegração. O uso de simbolismos, que é uma forte marca na campanha em questão, remete às possibilidades que podem ser abertas às pessoas nessas situações, em especial as crianças e menores não acompanhados. A própria alusão à porta, que pode ser entendida concomitantemente enquanto símbolo da partida e da chegada, aproxima-se da realidade daqueles cidadãos que chegam ao país em busca de soluções para os problemas dos quais tiveram de fugir, geralmente as guerras, catástrofes naturais e conflitos civis. No entanto, consegue fazê-lo sem apelar para os discursos sensacionalistas da tragédia e das calamidades, também mencionado por Cádima e Figueiredo (2003). Da mesma forma, as cartas utilizadas no jogo - com alusões à situações boas e ruins - remetem à existência de obstáculos, no entanto, no decorrer da ação deixa claro a mensagem de que eles podem ser superados e reforça, ainda que indiretamente, a importância da aceitação e participação da comunidade para reintegração dos refugiados. Ainda utilizando-se do simbolismo da porta, a ação de guerrilha atuou como um grande chamariz para o problema dos refugiados. O portal, colocado em uma rua de grande movimentação no centro da capital portuguesa, atraiu curiosos durante a ação e foi complementado com um trabalho de comunicação direto, que foi a distribuição de panfletos e a própria explicação boca-a-boca no local da realização da guerrilha. A placa em quatro diferentes línguas denota a intencionalidade do autor em dar ao projeto visibilidade internacional, bem como a escolha do local onde a ação de guerrilha foi realizada. Estes detalhes contribuem para enquadrar o Saída de Emergência dentro dos objetivos traçados pelo CPR, valendo-se, ainda de poucos recursos financeiros e materiais para sua execução. É interessante observar também a estratégia, ainda que não tenha sido efetivada, da associação da campanha à nomes de figuras públicas – que se faz coerente com a ação do ACNUR em nível internacional com a atriz Angelina Jolie, então nomeada a Embaixadora da Boa Vontade do ACNUR. Uma importante consideração acerca do plano Saída de Emergência se faz também no cuidado com a abordagem do sujeito “refugiado”, isto é, na construção do 44

“Outro”, de forma que fosse de encontro àqueles que são reproduzidos pela mídia. Conforme explica o próprio autor, a seleção das três crianças de diferentes idades no vídeo do spot televisivo tinha como objetivo mostrar uma cena que fosse do cotidiano de uma criança qualquer, e não um cenário que pudesse remeter aos conflitos ou problemas de outra ordem. Assim, a busca pela representação do refugiado lança um novo olhar aos conceitos preconcebidos desta comunidade, demonstrando um cuidado para tentar não relacioná-los a nenhum estereótipo, como violência, crimes e mazelas. Considerando a construção das representações sociais pela mídia, conforme apresentado por Moscovici (1996), a campanha conseguiria, dessa forma, transmitir uma identificação positiva em relação a este grupo minoritário. No processo de objetivação, por exemplo, a ação associaria uma imagem comum - de crianças brincando em um quarto rodeadas de brinquedos - ao universo de uma criança refugiada, “transformando um conceito abstrato na materialidade de uma figura”. (MOSCOVICI, 1961 apud CÁDIMA E FIGUEIREDO, 2003). Vale acrescentar, portanto, que a construção de representações se constituem em um processo mais complexo de disputa, construção de debates e discussões recíprocas. Por outro lado, ambas as campanhas estudadas também não lidam com as multiplicidades situacionais e do vasto conjunto de processos e práticas sociais, políticas e culturais envolvidos na questão dos refugiados, como observado por Malkki (1995) a respeito dos meios de comunicação social. Da mesma forma que a mídia se depara com a impossibilidade de dar conta da representação do real, nos parece que também se faz verdadeiro para as ações de divulgação e relações públicas dos órgãos institucionais de proteção aos refugiados. Nos dois casos as campanhas se justificam pela escolha de um discurso “sem a cara” dessas crianças, até mesmo pela questão ética envolvida na divulgação das histórias particulares de crianças e menores refugiados; especialmente no caso da campanha Resgate um Sorriso que optou por não revelar o rosto da criança na ação voltada para a televisão. Depois, também porque pretendiam que as pessoas (o público-alvo) se sentissem aguçadas a buscar outras informações e aprofundar seus conhecimentos sobre este problema global, acessando o portal das campanhas e até mesmo os sites dos órgãos oficiais. Dessa forma, de acordo com os critérios predefinidos, pode-se inferir que o plano Saída de Emergência conseguiu promover as ações a que se propôs, com rendimento técnico compatível às condições que lhe eram possíveis e pertinentes. A 45

utilização de simbolismos e da metáfora foram os principais elementos que conferiram ao planejamento uma efetividade e eficácia no que se refere à sensibilização do público conforme proposto e de acordo com os objetivos traçados inicialmente pelo órgão. Vale lembrar que ambas as campanhas foram desenvolvidas em âmbito de uma disciplina curricular da Universidade Técnica de Lisboa, não dispondo de recursos para a implementação das ações. A falta de financiamento, que poderia ser concebido como um limitador foi, no entanto, potencializador da criatividade e um desafio à exploração de oportunidades de comunicação. Dessa forma, as ações foram desempenhadas dadas limitações de tempo e de condições técnicas de realização, uma vez que foram produzidas com fins acadêmicos e não comerciais/institucionais. Outro importante aspecto a se considerar é que não houve por parte das campanhas um processo contínuo de avaliação, tampouco para posterior “correção” ou ajuste das ações, como se pressuporia em um planejamento ideal. 4.2. Resgate um sorriso Com relação à campanha Resgate um Sorriso, é interessante ressaltar a utilização de símbolos de compreensão global, como foi o caso do sorriso, a fim de propor uma solução para a dificuldade de adaptação e reintegração dos refugiados, especialmente devido à falta de conhecimento a respeito deste grupo social. Tendo isso em mente, as ações foram construídas com foco nos sonhos das crianças em situação de vulnerabilidade, retratando suas aspirações e anseios, como os de qualquer outra criança. Ao trazer o “sorriso” para a campanha e ao tentar provocar sorrisos na rua com a ação de guerrilha, o plano evidencia o apreço pela missão do Conselho Português para os Refugiados (CPR), conforme descrita no site, que é “promover uma política de asilo mais humana e liberal”. Por meio de abordagem leve e descontraída, remontam o trajeto de uma criança nessas condições até seu acolhimento pelo órgão responsável. O objetivo geral da campanha é assim descrito no plano de comunicação: (...) pretende-se mobilizar as pessoas, a fim de aumentar o apoio dos nãorefugiados para com as crianças que enfrentam problemas de integração. O objetivo é promover maior respeito e integração aos refugiados, para que possam “se libertar” e levar uma vida normal, com melhores expectativas. (RESGATE UM SORRISO, 2012).

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Assim, a campanha dá grande importância à divulgação do trabalho que é realizado pelo Conselho Português para os Refugiados, convocando, ainda, o público a colaborar com a causa. Dessa forma, pode-se inferir que a campanha corrobora para posicionar o órgão na divulgação de seu trabalho, bem como de sua missão e razão de ser na sociedade, como revisto por Margarida Kunsch (2006). E isso também se fortalece na medida em que faz alusão direta aos trabalhos de acolhimento e das estruturas do Centro de Acolhimento para Refugiados (CAR) e Centro de Acolhimento para Crianças Refugiadas (CACR), ambos localizados em Lisboa. Da mesma forma que na campanha Saída de Emergência, este plano também se foca na trajetória, na realização e histórias bem-sucedidas, e não no sofrimento, como observado na conduta adotada pela mídia portuguesa. Neste caso, porém, acaba por fazer alusão ao trabalho de acolhimento aos refugiados, que foi o mote do spot televisivo. E, como apresentado por Cádima

e Figueiredo (2003), o tema

“Acolhimento” é o segundo assunto de maior inserção no que diz respeito ao tratamento dos imigrantes na mídia portuguesa, sendo que estes, os produzidos pela mídia, reforçariam o problema da generalização da comunidade dos refugiados ao remeter às “narrativas técnicas e heroicas sobre a intervenção humanitária”. (MALKKI, 1997 apud SILVESTRE, 2011). No entanto, o que se observa na constituição da campanha Resgate um Sorriso é que, ainda que vá ao encontro das temáticas que são reproduzidas pela mídia, ela se justifica por se tratar de uma ação institucional, vinculada ao CPR e que, portanto, teria por objetivo divulgar seu trabalho. E por isso tem o cuidado de criar uma campanha mais imparcial, evitando o sensacionalismo e o risco da representação do “Outro generalizado” e homogeneizado dos refugiados. Já na ação de guerrilha, a campanha apostou fortemente no viés da convergência das mídias, aliado à frase lema do projeto, estimulando os pedestres a acessarem o blog da campanha, sendo que muitos puderam acessar do próprio local, pelo celular. A utilização de uma guerrilha “imparcial” nas ruas, em que somente após acessar o site as pessoas teriam a compreensão do drama dos refugiados, se mostra como uma estratégia eficaz de atrair esse público a interagir e buscar informações complementares na Internet. Esta seria, a propósito, uma das principais funções da ação de guerrilha, que é compreendida como sendo uma estratégia que utiliza meios e ações inusitadas a fim de alcançar engajamento do público. Segundo Levinson

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(2010)10, trata-se de uma estratégia capaz de “atingir as metas convencionais, tais como lucros e alegria, com métodos não convencionais, como investir energia em vez de dinheiro.” (LEVINSON, 2010). No caso da ação Resgate um Sorriso, é notória a utilização da criatividade como elemento fundamental na realização da campanha, que mobilizou poucos recursos a fim de provocar engajamento e resultados abstratos, como a alegria, a sensibilização. A participação da artista de rua Marta Faria - Metamorphosis Living Statue – foi voluntária na ação de guerrilha. A estratégia é, por isso, uma alternativa utilizada por pequenas empresas e instituições, por não demandar altos investimentos como nos meios tradicionais, podendo estabelecer interatividade com os receptores, com vista à mídia espontânea. (MARKETING DE GUERRILHA, 2014). A utilização do sorriso em detrimento do refugiado como foco da ação confirma esta constatação. A ocultação do sujeito refugiado pode ser vista aqui como sendo proposital, na medida em que o “resgate do sorriso” se transforma no mote principal da campanha. Dessa forma, ao contrário do que se acreditaria conforme os conceitos apresentados por Van Dijk (1998) e Silvestre (2011), não provocaria um distanciamento dos sujeito, uma vez que não se prende ao universo singular do relato de suas histórias pessoais. A subtração do “refugiado” na campanha ganha força porque retira a carga de emotividade – e sensacionalismo - que poderia ser empregada no tocante às situações de migração forçada. No entanto não deixa de representá-los, uma vez que traz nos desenhos das crianças e na representação da evolução do sorriso do spot televisivo, as visões e histórias institucionais que foram avaliadas e transmitidas pelo próprio órgão demandante. De forma a evitar relacionar as imagens da campanha às representações já concebidas pela mídia geral, ela busca reproduzir junto à sociedade um novo ponto de vista para a questão dos refugiados, como quem intencionasse introduzir um novo discurso circulante naquele meio (CARVALHO, 2007). Quer pela objetivação, quer pela ancoragem, a produção de um novo discurso não associado à temas marginais e minorias étnicas, segundo Moscovici (1961), seria possibilitada a partir da promoção de maior conhecimento de causa, o que antes era pouco reproduzido e discutido entre as pessoas. Neste ponto, o autor afirma ser possível introduzir um novo conceito, que 10

Marketing de Guerrilha. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Marketing_de_guerrilha#Happening. Acesso em 5 de maio de 2014.

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poderia se materializar em uma figura abstrata, que seria a associação da alegria e de temas cotidianos aos refugiados – ou também o contrário. Além do mais, também se destaca a estratégia de conduzir o público ao site, no qual foram disponibilizados os demais materiais desenvolvidos nesta campanha e em ações anteriores, definições legais, processos para acolhimento e as ações dos órgãos de proteção internacional e portugueses. Se avaliado de uma forma geral, de acordo com os critérios predefinidos neste estudo, a campanha Resgate um Sorriso se mostra eficaz e eficiente no cumprimento de seus objetivos e na mobilização de ferramentas, por meio da convergência das mídias, para o processo de caracterização dos refugiados na sociedade portuguesa. Tendo como estratégia central a subtração do discurso em primeira pessoa e a humanização do sorriso, consegue agregar o público-alvo no que diz respeito à conscientização e sensibilização para com a causa exposta primordialmente pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, o ACNUR. 4.3. Planejamento, impacto e reconhecimento Além das considerações apontadas acima, é interesse observar a pretensão de ambos os planos de promover a divulgação do discurso pró-refugiados, de forma humanizada e diferente dos estereótipos já reproduzidos pelos meios de comunicação de massa, a fim de que possam permear as narrativas sociais com a presença do Outro refugiado. Neste sentido, para abarcar as análises a respeito do impacto dessas campanhas, mobiliza-se aqui o conceito da Teoria do Reconhecimento, que busca compreender a busca por reconhecimento a partir das dimensões da moral e dos conflitos sociais, considerando, porém, suas dimensões “materiais, simbólicas e legais”, como apresenta Mendonça (2009). Para o autor, o reconhecimento é visto como “a luta de grupos minoritários para alterar sentidos partilhados ou valorizar especificidades culturais” (MENDONÇA, 2009, p. 1), que é o que buscavam as campanhas produzidas para o ACNUR. A partir deste ponto, pretende-se então entender em que medida os planos de comunicação impactam seu público-alvo em sua dimensão qualitativa, principalmente no que se refere à inserção de um novo discurso que possa dar visibilidade eauxiliar na busca pelo reconhecimento da população refugiada em meio à população portuguesa. 49

Nas palavras do sociólogo alemão Axel Honneth (2003), ao se questionar a ausência de vínculos entre sujeitos em uma comunidade, trazem à tona discussões acerca dos padrões de injustiça. E esta situação somente poderia ser revertida com a valorização da comunicação informal e da inserção dos grupos minoritários em espaços públicos de debates e discussão de interesses coletivos. Vale ressaltar que nem sempre a visibilidade é desejada, especialmente em casos em que a causa das minorias se confunde com os discursos institucionais de autopromoção. Conforme visto anteriormente, enquanto campo da ciência e do conhecimento as Relações Públicas também teriam por função promover o debate e dar “direito de voz” aos diversos grupos sociais. Mas, como ressaltado por Habermas, esta visibilidade por si apenas não suscitaria a promoção de discussão social, tampouco de representação dos grupos minoritários, o que demandaria um longo processo social. (HENRIQUES, 2006). Honneth acrescenta ainda que o reconhecimento e estabelecimento dos sujeitos na sociedade só se dariam, dentre outros fatores desvinculados do fator econômico, com o aumento da capacidade de reconhecimento de seus membros, afinal, “é por meio do reconhecimento que os sujeitos podem garantir a plena realização de suas capacidades e uma auto-relação íntegra, uma vez que as identidades são construídas relacionalmente”. (MENDONÇA, 2009). Assim, considerando o contexto dos refugiados em Portugal e no mundo, e as ações realizadas pelos planos Saída de Emergência e Resgate um Sorriso, elas se reforçam enquanto suscitadoras da questão do problema dos refugiados no mundo, pautando pela importância da reintegração dos cidadãos nos países acolhedores, a fim de que possam resgatar seu espaço social, enfim, seus direitos. Para tanto, convocam a própria sociedade a fim de sensibilizá-la para que tomem conhecimento do que denominam a “real condição” dos refugiados, uma vez que identifica e luta contra as narrativas midiáticas estereotipadas acerca dessa questão. Se analisada sob a ótica da Teoria do Reconhecimento, uma questão se faz importante. Honneth defende que o reconhecimento se constrói em três domínios, a saber: o amor, os direitos e a estima social. E seria exatamente o não-reconhecimento nestes três âmbitos o responsável pelas denegações dos direitos e desvalorização social de certos sujeitos. No entanto, o próprio autor ressalta que essas formas de desrespeito impedem a auto-realização do sujeito, mas também podem fomentar uma reflexividade, que nasce da indignação moral. Tal compreensão reflexiva pode ser coletivizada e se desdobrar em

50

lutas sociais por reconhecimento, que são essenciais para a evolução moral da sociedade. (MENDONÇA, 2009).

Neste sentido, pode-se afirmar que a busca por reconhecimento travada pelas minorias étnicas, como é o caso dos refugiados em Portugal e no mundo, se enquadra na situação apresentada por Honneth e, portanto, pode contribuir para a edificação de uma interação voltada para a autorrealização o que, segundo ele, suscitaria em ganhos em termos de individualidade e inclusão. (HONNETH, 2003 apud MENDONÇA, 2009). O autor explica, portanto, que essa mudança é fruto da alteração não somente dos discursos, mas também dos códigos morais, o que se relaciona às dimensões sensíveis e de longo prazo das transformações sociais. Dessa forma, além do efeito de aproximação já verificado, as campanhas poderiam provocar também um movimento de ressignificação e reforço das identidades dos refugiados. Mas não é o que se vê no momento mesmo em que se dá, isto é, no curto prazo. É válido lembrar que este “contrato” produzido na interação social pode tomar rumos “inesperados”, conforme apresentado pelo pesquisador Patchen Markell (2003). Segundo ele, as identidades são moldadas e resignificadas constantemente e, dessa forma, a subordinação de determinados grupos não poderia ser solucionada pela valorização da identidade do oprimido, mas pela desconstrução das estruturas sociais que reforçam os privilégios de certos grupos: ‘Aceitar a existência dos outros [...] faz, da imprevisibilidade e da falta de maestria, inevitáveis condições da agência humana. Tal reconhecimento [acknowledgement] é uma parte crucial da justiça’ (MARKELL, 2003). Lutas sociais deveriam aspirar não a levar ao conhecimento do outro quem se é, mas a gerar uma reflexão sobre auto-entendimentos. (MENDONÇA, 2009).

É importante ressaltar também que, como apresentado por Honneth e Taylor, o reconhecimento é uma luta intersubjetiva e, portanto, “não pode ser concedido, alcançado ou doado”; é sobretudo um processo permanente em que a sociedade reflexivamente se transforma e altera padrões de relação social. (MENDONÇA, 2009). De acordo com essa visão, por exemplo, as políticas de valorização de minorias não poderiam jamais solucionar os conflitos de reconhecimento que permeiam a sociedade. Compreendido enquanto um processo aberto, inacabado e dialógico, a retificação de identidades deve ser considerada, assim como o trabalho das Relações 51

Públicas, como uma atividade em constante movimento. Se considerarmos o contexto português enquanto um ambiente sociocultural hostil em relação à consideração dos refugiados, inferimos que este posicionamento mine a autoestima desse grupo e, portanto, demande de ações de reforço moral neste sentido. Como defendido por Honneth, a validade desses planos se faz importante na medida em que se alicerça no trabalho de reforço das relações e discussões acerca da causa dos refugiados. O autor afirma que somente demandas que potencialmente contribuem para a expansão das relações sociais de reconhecimento podem ser consideradas normativamente embasadas, na medida em que apontam na direção de um incremento no nível moral da integração social (HONNETH, 2003 apud MENDONÇA, 2009).

Por fim, acredita-se que as campanhas reproduzidas pelo ACNUR tenham, com efeito, o potencial de atingir seu maior objetivo pretendido, uma vez que essas lutas por estima e reconhecimento podem “deslocar os quadros interpretativos vigentes para que outras atividades e contribuições sejam percebidas como estimáveis e para que pessoas sistematicamente desrespeitadas sejam vistas como passíveis de estima”. (THOMPSON, 2006 apud MENDONÇA, 2009). No entanto, isto se dá apenas no campo da visibilidade conferida pois, como visto, as campanhas não são passíveis de promover o reconhecimento e a transformação social, ou ainda a entrada para a ordem do discurso, uma vez que se tratam de um longo processo de debate e discussão social. CONSIDERAÇÕES FINAIS Embora a mídia não possa dar conta da representação da complexidade do real, como pretensiosamente parece desejar, ela exerce importante papel na formação de padrões e discursos que são compartilhados diariamente na sociedade. Por possuir mecanismos próprios de identificação e representação, acaba por criar estereótipos e esvaziar de sentido situações bem mais complexas, como é o caso que foi verificado nos estudos de Cunha (2006) e Silvestre (2011). Isto posto, e como apresentado por Cádima e Figueiredo (2006) e Cunha (2002), afirma-se que ela [a mídia] pode tanto reforçar estigmas negativos quanto construir mecanismos de valorização das diversas narrativas culturais. O autor Wilson Gomes afirma que “na esfera da visibilidade pública só circulam materiais e conteúdos organizados segundo códigos e gramáticas 52

características das instituições midiáticas que as controlam”. (HENRIQUES, 2006, p.2-3). Assim, a respeito da alteração no modo como a imprensa contemporânea aborda e constrói as narrativas dos refugiados é importante perceber que, mesmo sendo feito de um novo modo - mais inclusivo -, acabam por contribuir para a invizibilização deste grupo, ainda que ele passe a estar mais presente nas narrativas midiáticas. Se, por um lado, os meios de comunicação social provocam a generalização dos refugiados ao remetê-los às editoriais policiais ou ao suprimir o discurso em primeira pessoa, a própria exposição dos órgãos de proteção aos refugiados também o faz, na medida em que remetem às histórias individuais de cada personagem, colaborando para a não-identificação do “Outro” - da mesma forma que ocorre nos grandes meios de comunicação social. (SILVESTRE, 2011). Sobre as campanhas institucionais, há também a crítica de que muitas vezes o olhar das instituições de proteção de minorias - como as ONGs - acaba se tornando mais metarreferencial do que uma ferramenta de busca por reconhecimento e dos interesses coletivos. (CAILLÉ, 2011). As tentativas de construção do real enquanto “realidade possível”, do “Outro” ou, ainda, dos “Outros”, é o que se pretendia com as campanhas estudadas, no intuito de introduzir novas formas de olhar a população refugiada, em especial as crianças e menores não acompanhados. No entanto, como vimos, os “consensos” e debates públicos são precários e instáveis e por isso há uma crise latente. (HABERMAS, 2004 apud HENRIQUES 2006). Neste sentido, destaca a importância das Relações Públicas e da busca por reconhecimento como atividades contínuas, porque a tensão entre os públicos não pode jamais ser abolida. Ora, se na mídia a população estava acostumada a ter acesso à representação dos refugiados sempre relacionando-os à crimes, pobreza e violência; a partir das campanhas analisadas - que foram produzidas em um ambiente externo ao da grande mídia -, poderiam também conhecer uma nova visão dos mesmos. Ao se ancorar na superação, na alegria, na saída de emergência e no sorriso das crianças, ambas as campanhas obtiveram sucesso em sua realização e na representação dos menores não acompanhados,

vítimas

da

migração

forçada.

Ao

tentar

se

desviar

da

espetacularização da tragédia, da criminalidade relacionada aos imigrantes e aos

53

demais estereótipos, as campanhas buscam apresentar um novo sujeito refugiado à sociedade, um cidadão comum. Com isso parecem criar um novo movimento de circulação de informações, que corrobora com os objetivos traçados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e do Conselho Português para os Refugiados (CPR). Dessa forma, as campanhas se mostram eficazes na construção do Outro refugiado, a fim de sensibilizar a população com relação à reintegração deste grupo social no contexto português. No entanto, não se pode dizer que elas podem, de fato, provocar debates e promoção de reconhecimento, pois para que este novo discurso seja realocado nas agendas públicas, políticas e midiáticas, seria necessário um longo processo de discussão recíproca e concordância racional de opiniões em concorrência aberta. Para além disso, a análise completa do impacto dessas campanhas deparou-se com algumas limitações relacionadas à falta de dados complementares de acompanhamento, desenvolvimento e avaliação das mesmas. A fim de mensurar a eficácia destes planos, verificou-se a necessidade de levantar mais dados a respeito da percepção do público de uma forma geral, como a aplicação de questionários e inquéritos a respeito do conhecimento das campanhas e até mesmo do grau de conhecimento adquirido, se adquirido, após o contato com as ações descritas. Para tanto, utilizou-se do conceito da Teoria do Reconhecimento como um ensaio à reflexão sobre o impacto social destas ações junto aos seus públicos-alvo. Partindo das dimensões “materiais, simbólicas e legais”, percebeu-se que no aspecto qualitativo e intangível, as campanhas exerceram um grande impacto na ressignificação dos sujeitos refugiados, na medida em que dão visibilidade e trazem a tona discussões acerca do problema dos refugiados. A busca por reconhecimento, no entanto, é um trabalho contínuo e longo, dado sua característica “instável e inesperada”, constituída por processos individuais e coletivos. Diante da impossibilidade de se “solucionar” as lutas por reconhecimento, Thompson conclui que elas “fazem parte da própria ação democrática, devendo ser permanentes e abertas”. (THOMPSON, 2006 apud MENDONÇA, 2009). Portanto, a respeito das campanhas Saída de Emergência e Resgate um Sorriso, tendo sido realizadas em âmbito acadêmico e dadas as limitações a isso relacionadas, pode-se inferir que seguem com rigor os pilares para o bom planejamento, como o exposto por Margarida Kunsch (2006) e demais autores, a 54

saber, o levantamento de informações sobre a realidade situacional, planejamento e implantação das ações. Ademais, ao fomentarem a reflexividade (MENDONÇA, 2009), os planos cumprem seu papel de movimentar a busca pelo reconhecimento do grupo dos refugiados junto à sociedade portuguesa, na conquista e legitimação de seus direitos legais, como a livre expressão de ideias e a convivência pacífica. Embora esta seja uma busca permanente, vale reforçar a importância do trabalho realizado em prol das crianças refugiadas, enquanto uma forma de dar oportunidade para que sejam reconhecidas. A respeito disso, Honneth argumenta que ‘espera que, à luz dos horizontes de valor pluralizados das sociedades contemporâneas, todos tenham a chance de ganhar estima’ (THOMPSON, 2006). O reconhecimento revela-se na construção de gramáticas morais em que a conquista do valor se apresente como possibilidade. (MENDONÇA, 2009).

Por fim, pode-se inferir que os planos analisados parecem cumprir com os requisitos para um bom planejamento de comunicação integrada e contemplam os aspectos levantados pela análise qualitativa, no cumprimento de seus objetivos, sobretudo sob a ótica do reconhecimento dos grupos de refugiados. Cumprem ainda o que se espera de uma instituição do terceiro setor, de “reforçar o cumprimento dos direitos sociais e incitar a manutenção deste sistema pelo mundo, especialmente em áreas de fraca proteção social”. (FERREIRA, 2000). Dessa forma, acredita-se que as campanhas Saída de Emergência e Resgate um Sorriso satisfazem seus objetivos formais, bem como os objetivos traçados pelos órgãos demandantes, e que deverão se perpetuar em ações futuras para manter viva a luta em prol dos refugiados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACNUR. Refugiados. Disponível em: http://www.acnur.org/t3/portugues. Acesso em 17 de outubro de 2013. CÁDIMA, R. Francisco, FIGUEIREDO, Alexandra. Representações (Imagens) dos imigrantes e das minorias étnicas nos media. Colecção Observatório da Imigração, Vol. 3, Lisboa, Alto-Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME), 2003. CAILLÉ, Alain. Capital social, reconhecimento e dádiva. In.: MARQUES, Ângela e 55

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61

62

ANEXOS ANEXO 1: Pedidos de asilo em Portugal 2012

63

ANEXO 2: Organograma Institucional de Imigração e Asilo

64

ANEXO 3: Plano de comunicação do Saída de Emergência

65

INTRODUÇÃO Este trabalho constitui uma proposta de campanha de comunicação integrada para o Conselho Português para os Refugiados (C.P.R.). A temática dos refugiados é bastante peculiar por razões que residem na própria condição de refugiado até ao tratamento social e comunicacional que o tema leva. As pessoas estão habituadas, de uma maneira geral, a olhá-los como intrusos e no fundo não percebem que são seres humanos angustiados em busca de, pelo menos, paz. Este plano de

comunicação

pretende

abordar

este

assunto

com

o

objectivo de informar e sensibilizar para a situação dos refugiados. Não obstante, evitar-se-á repetir ângulos de abordagem já anteriormente trabalhados. A campanha “Saída de emergência”, mais adiante descrita, foi uma solução encontrada para tratar este tema sem a habitual sobrecarga de dramatismo. Contudo, o tom da campanha não foi desvirtuado e houve uma vontade rigorosa de manter a coerência da mensagem entre as várias técnicas. Assim, propõe-se a seguir um projecto que utiliza três técnicas de comunicação: a publicidade, a guerrilha e o digital. O intuito desta comunicação é consciencializar a sociedade para a questão dos refugiados, fazê-la perceber que “há sempre uma saída”.

1 – Planeamento em comunicação 1.1 Análise da situação dos Refugiados 1.1.1

Levantamento de campanhas anteriores Em Setembro de 2010 o Alto Comissariado das Nações Unidas para os

Refugiados (ACNUR) desenvolveu uma acção de angariação de fundos que decorreu no Estádio do Jamor, em Lisboa. A acção consistia na venda de um mosquetão, com preços a variar entre os 2 e os 50€, que revertia para a organização com o objectivo de ajudar a sanar dificuldades na educação, saneamento, saúde e outras necessidades dos refugiados. Pela mesma altura, um ano depois, a pretexto do 20º aniversário do Conselho Português para os Refugiados (CPR), realizou-se a conferência “Refugiados em Portugal: a sua história é a nossa história” no auditório da fundação Champalimaud, dirigida pelo Alto- comissário das Nações Unidas, António Guterres. No mesmo mês, o CPR também organizou um Ciclo de Cinema sobre 66

Asilo e Refugiados, bem como uma exposição intitulada “Um abrigo para refugiados”. O ciclo de cinema decorreu no Espaço Memória dos Exílios, em Cascais, e a exposição na Praça D. Pedro IV, Rossio, em Lisboa. A acção sob a forma de exposição consistiu na montagem de uma tenda igual às que dão um lar aos refugiados para que qualquer cidadão possa perceber as condições em que vivem. Em Junho do mesmo ano, aconteceu a na manhã do dia 20 a “Concentração dos Chapéus-de-chuva – Proteger os Refugiados”, no Largo de São Domingos. Ao fim do dia no Auditório Ângelo Vidal D’Almeida Ribeiro, no Centro de Acolhimento para os Refugiados do CPR, na Bobadela, promoveu-se o Sarau do Dia Mundial do Refugiado. 1.1.2

Levantamento da realidade Portuguesa Em Portugal os pedidos de asilo não atingiam as duas centenas até se

registar 275 pedidos de asilo em 2011. Talvez por descomplexidade das leis de imigração, muitos dos estrangeiros que chegam ao nosso país cedo se estabelecem na República Portuguesa. No entanto, outros casos existem de pessoas que fogem de situações de guerra, perseguição político-religiosa, escravidão sexual ou de crianças soldado. Esta integração, em Portugal, é feita pelo CPR que acolhe os requerentes de pedido de asilo. É uma organização não-governamental mas é financiada pelo Ministério da Administração Interna e Fundos Europeus. A

maioria

dos

requerentes

de

asilo

chega



e

são

37

as

nacionalidades que já passaram pelo CPR. A multiculturalidade acarreta questões como hábitos culturais e/ou religiosos bem como o desconhecimento do Português; aspectos sanados pelo espirito de tolerância mantido no Centro de Acolhimento assim como aulas de Português na biblioteca do mesmo. No caso das crianças, consideradas como menores não acompanhados, apresentam uma média de 13 casos por ano. As idades rondam, na generalidade, os 15 ou 16 anos mas existem cada vez mais casos de crianças com idades inferiores. 1.1.3

Identificação de ângulos de abordagem significativos Vários são os ângulos de abordagem possíveis para o tema. No entanto, é

67

intenção fugir das representações sensacionalistas da condição de um refugiado. Contudo, o tom emotivo será mantido mas a tender menos para o dramatismo. A abordagem do tema resulta numa associação da condição de refugiado ao conceito da Saída de Emergência. Esta saída representa precisamente a ideia de fuga de uma situação de perigo para outra mais segura. Independentemente do motivo, os requerentes de asilo encontram no país de chegada uma solução, uma saída. 2. Fixação de objectivos de comunicação 2.1 Mercado-alvo População em geral. 2.2 Objectivos da Comunicação Pretende-se transmitir uma mensagem que sensibilize para o tema dos refugiados, com especial enfoque nos menores não acompanhados, seguindo uma vertente informacional e não moralista. 2.3 Técnicas de Comunicação 2.3.1 Publicidade O spot publicitário idealizado para esta campanha conta a história de três crianças que estão a jogar um jogo de tabuleiro. No decorrer do jogo, a seguir a lançar dos dados e avançar com o marco, retiram a carta correspondente ao número em que ficaram colocados no tabuleiro. Essa carta mostrará o conteúdo dessa casa onde o jogador ficou colocado, podendo esta ser boa ou má, isto é, a situação descrita na carta pode agradar ou desagradar as crianças. Dessas boas e más fazem parte actividades como por exemplo: andar de bicicleta, trabalho infantil, conflitos e a saída de emergência. O objectivo das crianças é chegar à saída de emergência e conseguirem aguentar-se em jogo até lá. Para isto, pensou-se fazer um jogo com planos médio e pormenor para se captar as reacções das crianças aos estímulos positivos e negativos. Encerrará com a mais jovem das crianças a obter a carta de saída de emergência e escapar-se pelo portal. 2.3.2 Digital 68

Para esta técnica, criou-se um blog onde se expõe a situação dos refugiados. Desde os motivos de abandono dos países de origem, às condições de vida, passando pelo processo de pedido de asilo. Deste modo, pretende-se disponibilizar bastante informação sobre esta realidade. É intenção tentar utilizar-se vários recursos multimédia em suporte de texto, vídeo e/ou animação. Será também iniciada uma página no Facebook sobre a campanha que ajudará a divulgá-la nas redes sociais, pretendendo promover o word-of-mouth e partilhar actualizações do blog/site. 2.3.3 Guerrilha Mantendo os elementos gráficos do logótipo da Saída de Emergência, como uma acção de PR Stunt, pensou-se fazer uma acção de rua para chamar a atenção tanto dos que conhecem como dos que desconhecem a condição de refugiado. Neste sentido, sendo que a saída de emergência se faz geralmente por uma porta, e contando com a dificuldade de instalar uma porta num local público, pensou-se em construir um portal para transmitir essa mesma ideia. Este portal teria um lado menos conservado ou mais modesto com a presença da placa de saída de emergência personalizada no logótipo da campanha, e outro mais cuidado. Com isto, tentar-se-á representar a passagem de uma situação indesejada para outra renovada. No lado identificado com o sinal de saída de emergência ficará igualmente um painel de “Admissões” que versará as condições necessárias para requerer o estatuto de refugiado. Procurar-se-á, ainda, colocar, desviado do local onde se encontra o portal, uma seta a apontar para o mesmo que diga: Requerentes de Asilo. Com tudo isto se pretende deixar evidente a temática em questão e com elementos

que

permitam

identificar

a especificidade

dos

menores

não

acompanhados. Efectuar-se-á um primeiro approach para perceber a disponibilidade de algumas figuras públicas para abraçar a campanha. Foi consultada a lista de parceiros para a construção do novo Centro de Acolhimento para as Crianças Refugiadas e destacou-se o nome de algumas individualidades a contactar, tais como António Costa, Luís Figo, Mercedes Balsemão e Bárbara Guimarães. Não se 69

pressupõe que serão todas usadas, até por possíveis incompatibilidades de agenda dos mesmos, pelo que se contactarão várias para se conseguir uma ou duas. Esta iniciativa

pretende

criar

vídeos

promocionais

e

identificadores

das

personalidades com a causa. Uma outra proposta será a criação de cartazes publicitários da campanha. Esta questão pode relacionar-se com a anterior na medida em que poderá haver mais do que uma versão do cartaz, podendo utilizar numa delas as figuras públicas que aderirem à campanha. Ainda assim, os cartazes jogarão igualmente com os elementos gráficos do logótipo. 3. As etapas de uma campanha de comunicação 3.1. Desenvolvimento de uma campanha 3.1.1. Briefing (apresentado pelo CPR no ISCSP) O briefing aconteceu no I.S.C.S.P. e como representante do Conselho Português para os Refugiados (C.P.R. - cliente), esteve presente a Dr.ª Alexandra Carvalho. Foi feito um enquadramento à situação do refugiado em Portugal e foi esclarecido o processo para obtenção desse estatuto. Para se perceber melhor os processos e a morosidade dos mesmos, a Dr.ª Alexandra passou a descrever a acção do C.P.R. bem como o funcionamento do Centro de Acolhimento para os Refugiados (C.A.R.). Num discurso sobre o Centro de Acolhimento, foi possível ganhar mais contacto com esta condição. Ao ouvir histórias de pessoas que passaram ou estão pelo Centro, trouxe-nos a ideia de que são, obviamente, pessoas como outras quaisquer mas que se encontram num país e muitas vezes cultura bastante diferentes dos seus de origem. Um caso ainda mais particular será o dos menores não acompanhados que, para esta campanha, se revela o principal foco. Assim, o tema da campanha a desenvolver trataria inequivocamente os refugiados mas com especial atenção nos menores desacompanhados. Deste modo estava lançado o mote para começarem a surgir ideias para a campanha. No fundo, a intenção desta campanha de comunicação é a de informar e sensibilizar para a questão dos refugiados. Por se concentrar nas crianças, o tom desta mensagem teria de ser apropriado mas simultaneamente teria de fazer um alerta notório. 70

Como técnicas a utilizar foram definidas a publicidade, comunicação digital e acções de PR stunt. Com este mix de comunicação aplicado pretende-se que a informação se torne viral e que chegue ao maior número de pessoas possível. Foi demonstrado que é urgente despertar as pessoas para estas pessoas que não são inimigos, são apenas sobreviventes. Por conseguinte, o alvo da acção trata-se de toda a população portuguesa, numa fase inicial. Deste modo, os objectivos da campanha passam por mostrar o trabalho desenvolvido pelo C.P.R. e outras organizações que auxiliam os requerentes de asilo durante o processo e informar massivamente para o tema. 3.1.2. Elaboração das mensagens para cada uma das técnicas O processo de criação da mensagem, como seria de esperar, revelou-se longo e difícil. É um tema já bastante trabalhado, não só a nível nacional como internacional, e, por isso, arranjar uma abordagem que rompesse com o trabalho já desenvolvido não foi tarefa fácil. No entanto, os esforços iniciais centraram-se na busca de uma analogia ao tema transmitida sob a forma de metáfora. Contudo, o uso da metáfora revela-se perigoso pela variedade de descodificações da mensagem que podem ser feitas pelos vários receptores. Assim, pensando nas brincadeiras de crianças, a bola de futebol constituiu a ideia inicial. Por ser um objecto que muitas vezes é construído mesmo em meios mais carenciados com recurso a resina de árvores ou simples trapos, acreditou-se ser possível construir a mensagem em seu torno. Não obstante, na hora de tentar articular este elemento com as várias técnicas a utilizar na campanha, percebeu-se que a mensagem poderia tornar-se demasiado ambígua. Seguidamente, trabalhou-se a ideia da simbologia de um ovo. Por ser um objecto frágil, uma germinação de um ser que pode ser efectivada ou não consoante os perigos a que possa estar exposto. No entanto, mais uma vez, por dificuldades de coerência com as restantes acções, deixava comprometido o sentido da mensagem. Foi assim que após estas tentativas, e outras menos relevantes para mencionar, que se chegou ao conceito de saída de emergência. No fundo, o que leva um indivíduo, neste caso particular um menor, a fugir do seu país de origem é precisamente essa busca de uma saída. Uma saída que, sendo melhor ou pior, se espera que seja diferente das contingências anteriores. Deste modo, e por ser uma 71

situação que acontecendo mais ou menos planeada surge sempre em situações de emergência, esta associação ao signo da Saída de Emergência pareceu fazer sentido. Até mesmo por se tratar de uma ideia mais coerente para trabalhar nas outras técnicas. A adaptação para as várias técnicas foi surgindo a par com o desenvolver da ideia. Por estar presente no logótipo uma criança a fugir para uma porta, revelou-se oportuno aproveitar a ideia da porta para criar uma acção de guerrilha. Mesmo que ainda um pouco crua a ideia de início, certo seria que uma porta colocada num local público, alheia de contexto, suscitaria curiosidade. Para isso foi preciso adicionar elementos que ajudassem a clarificar a ideia dos refugiados e não se perceber a porta como uma simples porta. Então, decidiu-se que seria um portal por razões técnicas e que teria um

lado conservado e outro menos cuidado. Aqui

pretendia-se motivar um olhar mais atento para perceber a diferença dos dois lados. Definiu- se igualmente que se colocaria um painel intitulado de “Admissões” para poder descriminar as condições para se ser requerente de asilo, de uma forma sintética e com linguagem corrente. Por fim, e para não esquecer os mais desatentos, imaginou-se uma placa a indicar para o portal que dissesse: Requerentes de Asilo. Para o blog seria igualmente utilizado o logótipo da campanha. Por ser comum a tantas sociedades, acreditou-se desde início que a imagem suscitaria interesse para um olhar mais pormenorizado. Para esta técnica, a digital, tentou-se criar uma “linguagem” a nível do menu de navegação do blog que continuasse associado ao conceito da saída de emergência. Assim, categorias como “Saída”, “Chegada” ou até “Casa de Emergência”, pretendem desafiar o receptor a navegar um pouco mais, tomando assim contacto com a temática em questão. No que respeita ao spot publicitário, a mensagem continua a ser a da saída de emergência. Para se fugir ao dramatismo tendencioso das usuais abordagens à temática dos refugiados, decidiu-se apostar em retractar uma situação tão comum como a de crianças a jogar um jogo de tabuleiro. Fazendo alusão, através de posições obtidas no tabuleiro consoante a jogada, a situações que podem ser motivo de descontentamento para as crianças (como

o

trabalho

infantil

ou

contextos de guerra/crianças-soldado). Aqui, devido à sensibilidade do tema, teria de imperar o cuidado com as palavras que identificassem essas realidades. O objectivo das jogadas é o de alcançar a casa de saída, solução esta que os livraria de 72

estar em condições que não desejam. Deste modo, a mensagem centra-se na metáfora da saída de emergência e foi adaptada às várias técnicas mantendo a sua significância. Pelo menos foi essa a intenção e o cuidado tido no desenvolvimento da mesma. 3.1.3. Produção/Operacionalização Começou por se personalizar o símbolo da saída de emergência para não deixar dúvidas de que se tratava especificamente de menores. Foi criado um logótipo que pelas suas cores (verde e branco) e forma (rectangular) remetem para o símbolo convencional. O intuito era

permitir

aos

receptores

identificar

facilmente o símbolo representado e suscitar curiosidade para a utilização do mesmo sob várias formas de comunicação, tentando prever as diferenças de visionamento nos vários formatos. Para vincular o logótipo à questão dos menores, foi adicionado um urso de peluche à mão do boneco que corre para a porta da saída de emergência. Com este elemento, e contando com o facto de o boneco que retracta a pessoa em fuga também ser mais pequeno que o normal, pretendia-se tornar clara a questão dos menores desacompanhados. Esta imagem tornou-se no logótipo da campanha e acabou por lhe dar nome. Seguidamente foram criados conteúdos digitais sobre a forma de texto, que encaixado nas várias categorias do blog alertam para a temática. Destes conteúdos foram seleccionados e aproveitados alguns dados para servir de base à aplicação nas restantes técnicas. São exemplo disso as condições de admissão para requerer asilo ou os motivos que levam os menores a abandonar o país de origem. A par com este processo, construiu-se uma estrutura em esferovite que representasse o portal. Por dificuldades de orçamento as peças de esferovite não eram as mais apropriadas mas envolveu-se um grande esforço na tentativa de dar vida à ideia preconizada. Para isso, após coladas as placas de esferovite numa estrutura de portal, forrou-se com papel autocolante com o padrão de tijolos a maior parte da estrutura e, no lado mais cuidado da porta - o outro lado da saída, portanto – forrou-se com outro papel com padrão de madeira. Foi reservado um local mais elevado no topo do portal, com ainda mais destaque, para se colar o logótipo da campanha, querendo este simbolizar também a comum saída de emergência. Para expor as admissões de requerentes de asilo, utilizou-se um cavalete que serviu de suporte a um quadro de cortiça que continha as referidas 73

informações. Igualmente desenvolvido no mesmo espaço de tempo, juntamente com a criação do portal foi construído um jogo de tabuleiro para utilizar no spot. Foram criadas cartas que serviriam de suporte para a transmissão das ideias de situações indesejadas a reter do jogo. Após a construção do portal, acabou por se achar interessante incluir o portal no spot para fazer um link ainda mais evidente com a acção de guerrilha. Desta maneira, pretendeu-se que o cenário onde se passa acção fosse o mais vulgar possível para não remeter para o dramatismo das imagens habituais que vemos referentes a refugiados. Uma lacuna que acabou por ficar em relação ao plano inicial foi a questão da utilização de figuras mediáticas para ajudar na difusão da campanha bem como da produção de word-of- mouth. Ficou a dever-se, possivelmente, à fraca estrutura de capital humano envolvido no processo de contacto com as figuras públicas. Uma equipa maior com a devida e cordial insistência teriam conseguido entrar em contacto com uma ou duas das figuras previstas. Não obstante, fica a nota que fazia parte do plano de comunicação a utilização destas figuras para pequenos vídeos ou cartazes alusivos à campanha. É importante referir que fizeram parte deste processo de criação e operacionalização visitas ao CPR que ajudaram a perceber e veicular o sentido

da

mensagem.

Com

esta referência pretende-se denotar, sem

pretensiosismos, que pelo menos houve uma tentativa de ir tendo feedback da parte do “cliente”. 3.1.4. Meios e suportes Os meios previstos para divulgar a campanha seriam a imprensa escrita, televisão, internet e, eventualmente, outdoors / mupis. Neste sentido, em relação à imprensa escrita, os suportes ideais seriam jornais e revistas de grande tiragem com a divulgação da campanha ou notícias sobre o decorrer da mesma. Devido à integração generalizada deste meio no digital, seria igualmente uma mais-valia se estivessem, como se supõe, presentes também na versão online da publicação. Quanto à televisão, uma vez que se trata de uma campanha de sensibilização, o suporte poderia ser qualquer um dos canais nacionais ou até

74

mesmo em vários. Sendo ideal esta ultima ideia de estar em vários canais para poder chegar a públicos ainda mais distintos. Na internet, o blog desempenha uma função crucial enquanto produtor e emissor de conteúdos. A partilha das diferentes acções e conteúdos divulgados premeditadamente sequenciados, poderia alimentar a curiosidade acerca do teor da campanha. Estes conteúdos seriam partilhados na página da rede social Facebook no intuito de coleccionar seguidores e incrementar o word-of-mouth, quiçá tornar-se viral. Os outdoors serviriam como veículo de difusão de cartazes que pudessem servir de teaser numa fase inicial, e de fonte de informação – ou um alerta para

uma

fonte

de informação - numa fase posterior da comunicação da

campanha. 4. Avaliação de impacto da campanha e medição da eficácia Para avaliação do impacto da campanha propõe-se fazer um dossier de imprensa com todo o clipping da campanha. Utilizar os contadores de visita no site para perceber se houve uma ascese no numero de visitas ou não, não só no blog da campanha mas igualmente nos sites lá referidos. Por fim, e para tentar

medir

a eficácia, poderia fazer-se inquéritos para perceber a

receptividade das pessoas ao tema e até mesmo a identificação da campanha. Conclusão Com este trabalho pretendeu-se fazer uma aproximação àquilo que seria um Plano de Comunicação Integrada. O tema foi tratado duma forma diferente do habitual, no entanto, espera-se que a mensagem consiga ser transmitida sem ruído. A “saída de emergência” surgiu para chamar a atenção mas foi feita uma conexão com o tema que se espera eficaz. Assim, espero que pela análise desta campanha se perceba que: há sempre uma saída!

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ANEXO 4: Campanha Resgate um Sorriso UTL - UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO

ALISSON PAIVA ROCHA KELLY CRISTINA DE CAMPOS CARDOSO LETÍCIA MAINARDI TAMIOZZO MARIA LUIZA DE LUCENA BASSO NATÁLIA GRANITOFF

PROJETO ACNUR PLANO DE COMUNICAÇÃO INTEGRADA COM FINS SOCIAIS

Trabalho apresentado à disciplina de Comunicação Integrada do curso de Ciências da Comunicação ministrada pela Prof.ª Sónia Sebastião como exigência para avaliação parcial semestral.

LISBOA, 2010 76

1. O PLANEAMENTO EM COMUNICAÇÃO 1.1 Análise da situação dos refugiados A Declaração Universal dos Direitos do Homem define em seu artigo 3 que “todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”[1]. No entanto, este direito não existe para os refugiados, vítimas de perseguições, conflitos armados e catástrofes naturais, que precisam fugir de seus lares para sobreviverem. Segundo a Convenção de Refugiados de 1951, um refugiado é o cidadão que, “temendo ser perseguido por motivos de raça, religião, nacionalidade, pertencimento a um grupo social ou opiniões políticas, encontra-se fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da protecção desse país”.[2] Com a missão de oferecer protecção e resolver os problemas dos refugiados, foi estabelecido em 1950 o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Naquela época, a Agência das Nações Unidas foi criada com o principal objectivo de ajudar os refugiados europeus vítimas da II Guerra Mundial. Ao longo das décadas, o ACNUR expandiu seu trabalho e já ajudou milhões de refugiados em todo o mundo, actuando hoje em 126 países. A Agência possui 7.685 membros e ajuda 33,9 milhões de pessoas, sendo estas: - 14,7 milhões de pessoas deslocadas internamente; - 10,5 milhões de refugiados; - 3,1 milhões de repatriados; - 3,5 milhões de apátridas; - mais de 837 mil requerentes de asilo e mais de 1,3 mil pessoas de interesse. Convenção de Genebra 1951 A Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados foi adoptada em 28 de julho de 1951, entrando em vigor em 22 de abril de 1954. Estabelece padrões básicos para o tratamento dos refugiados, não permite discriminação por raça, sexualidade e religião. A Convenção também cria uma definição sobre o que é um refugiado e determina o princípio de non-refoulement (“não-devolução”), segundo o qual nenhum país deve expulsar ou “devolver” um refugiado, contra a vontade do mesmo, em quaisquer ocasiões, para um território onde sofra perseguição. 77

A resolução completa da Convenção de 1951 pode ser visualizada no seguinte endereço

electrónico:

http://www.fd.uc.pt/CI/CEE/pm/Tratados/conv-genebra-

1951.htm http://www.fd.uc.pt/CI/CEE/pm/Tratados/conv-genebra-1951.htm. 1.2. Levantamento de campanhas feitas anteriormente (descrição sucinta dos elementos utilizados: cartaz, vídeo, digital, etc). Dia Mundial do Refugiado 2011 Na América Latina e Espanha, foi utilizado o slogan “Vamos calçar os sapatos dos refugiados e dar o primeiro passo para entender sua situação”. A Acção convidava as pessoas a “calçarem” os sapatos dos refugiados, que continham histórias de diversos personagens, refugiados, de diferentes países. A campanha tem grande apelo uma vez que convida as pessoas a conhecer e sensibilizar-se com as situações vivenciadas pelos refugiados. O objectivo é dar visibilidade ao trabalho desenvolvido pelo ACNUR e promover a tolerância e integração aos refugiados. Também foram realizados eventos em comemoração ao Dia Mundial do Refugiado na Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Cone Sul, Cuba, Espanha, México e Venezuela. O trabalho também pode ser visto no site: http://www.ensuszapatos.org http://www.ensuszapatos.org/ Campanha dos Refugiados (BBDO) Em 2007, a Agência da ONU para Refugiados produziu em Toronto (Canadá) uma campanha de grande apelo para conscientizar e sensibilizar as pessoas sobre o trabalho da agência e a situação dos refugiados. A campanha publicitária teve forte repercussão nos países onde foi transmitida, pois exibia um caracol sendo cruelmente retirado com uma pinça de sua casca com os dizeres: "Se você acha que é terrível remover um caracol de sua casa, então você deve saber que isso acontece com 21 milhões de pessoas." O spot foi produzido pela agência BBDO com o objectivo de obter maior apoio da população, sob a expectativa de arrecadar 1,8 milhão de dólares para a ACNUR canadense. O vídeo também foi reproduzido em outros países pela Europa, América

Central

e

do

Sul

e

África.

Link:

http://www.youtube.com/watch?v=MlOLXZFAjg8. http://www.youtube.com/watch?v=MlOLXZFAjg8 Dia Mundial do Refugiado 2010

78

Em 2010, durante o Dia Mundial do Refugiado (20 de Junho), a campanha do ACNUR trouxe a público uma mensagem de apelo do chefe do ACNUR, António Guterres, e da actriz Angelina Jolie. A acção aconteceu durante uma conferência de imprensa na Síria, país que abrigava cerca de um milhão de refugiados, principalmente iraquianos. Neste ano, pela primeira vez, os últimos andares do Edifício Empire State foram iluminados com o azul do ACNUR, em comemoração à data

em

que

se

celebra

o

Dia

Mundial

do

Refugiado.

Link:

http://www.youtube.com/watch?v=U_mPSQg6ALM Analisando as campanhas do ACNUR, pode-se notar que, de um modo geral, os trabalhos utilizam-se de histórias de personagens como fio condutor para a narrativa a ser construída. Certamente, esses trabalhos buscam sensibilizar e envolver os cidadãos com a situação dos refugiados, vítimas de barbaridades e violências geradas pela guerra civil. Essas acções possuem como intuito promover e dar visibilidade aos trabalhos desenvolvidos pelo ACNUR, bem como à situação dos refugiados. Desse modo, convocam os cidadãos a conhecer melhor a situação e enxergar o que de fato ocorre. É importante ressaltar que os refugiados são constantes vítimas de xenofobia e exclusão social nos países onde residem, por isso a importância do trabalho do ACNUR diante dos cidadãos não-refugiados. Um exemplo disso é o slogan “Vamos calçar os sapatos dos refugiados e dar o primeiro passo para entender sua situação” (já descrito anteriormente) e a campanha “Os refugiados querem ter os mesmos problemas que você”, veiculada em 2010 em países da América do Sul. Esta acção, por sua vez, utilizou-se da ironia para mostrar aos não-refugiados a triste realidade dos refugiados. A campanha recebeu diversos prémios internacionais, entre eles o prémio Clio. Em outros trabalhos analisados, são utilizadas imagens e cenas mais dramáticas, geralmente em preto e branco, misturadas a frases de impacto, como trechos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e dados sobre as guerras civis e as condições dos refugiados. Nota-se também que é recorrente a utilização de contrates, ironia e apelo, evidenciando valores como igualdade, respeito e solidariedade

entre

os

cidadãos.

Exemplos:

http://www.youtube.com/watch?v=S5n0DLYbYqc; http://www.youtube.com/watch?v=BFRo0265vUc.http://www.youtube.com/watch?v =BFRo0265vUc 79

1.3. Investigação sobre a situação dos refugiados em Portugal Os cidadãos estrangeiros que chegam em Portugal à procura de asilo passam primeiro pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). O pedido de asilo é analisado em um processo que pode demorar meses, até que a pessoa comprove ser vítima de perseguição em seu país de origem. Em 2011, Portugal recebeu 188 pedidos de asilo. Enquanto aguardam uma decisão, os requerentes de asilo ficam sob protecção do Conselho Português para os Refugiados (CPR), uma Organização não Governamental para o Desenvolvimento, sem fins lucrativos, inaugurada em 1991. O CPR tem como objectivo principal “promover, através de análises, trabalhos e trocas de informações, uma política de asilo mais humana e liberal, a nível nacional e internacional”[3]. A organização é parceira operacional do ACNUR em Portugal e desenvolve um trabalho fundamental de asilo e ajuda aos refugiados no país. Em 20 anos de existência, o CPR já ajudou pessoas de 37 nacionalidades diferentes. As áreas de intervenção são diversas, contando com atendimento jurídico, apoio psicológico e médico, alojamento inicial e apoio social, formação em língua portuguesa, serviço de emprego e formação profissional. Além dessa ajuda aos requerentes de asilo e refugiados, o CPR também atua na sensibilização da sociedade para a questão ao promover cursos, congressos, sessões de esclarecimento em escolas e universidades e eventos como o Dia Mundial do Refugiado (20 de junho). Para as comemorações desta data em 2012 estão programados um sarau cultural e uma concentração de guarda-chuvas. O CPR também disponibiliza materiais sobre a temática para estudantes, investigadores, jornalistas, entre outros interessados. Para o alojamento inicial dos requerentes de asilo, o CPR possui o Centro de Acolhimento para Refugiados (CAR), com capacidade para 42 pessoas e estrutura de dormitórios, sala de informática, biblioteca, etc. No CAR os refugiados se beneficiam de um pequeno subsídio semanal, alimentos, cartão telefónico, bilhetes de transporte e no início do mês passe social. Serviços de lavanderia e banco de roupa, atendimento jurídico e social de emprego e formação e a iniciativa à língua portuguesa. Privilegiase o respeito pelos hábitos e costumes de cada pessoa e cultura e, assim, eles próprios é quem são os responsáveis por sua alimentação. O Conselho também possui um pólo desportivo, creche e o recém inaugurado Centro de Acolhimento para Crianças Refugiadas (CACR) - Casa para o Mundo, destinado aos menores acompanhados. O 80

CACR possui capacidade para 16 crianças, sendo destas 3 de origem portuguesa. O projecto do centro para crianças contou com parcerias do Ministério da Administração Interna / SEF, Câmara Municipal de Lisboa, Swatch, Fundação Luís Figo, JCDecaux, BPI e SIC Esperança. Além do CPR, há outras organizações com o mesmo propósito em servir os refugiados, como o Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS – Jesuit Refugee Service), “uma organização internacional da Igreja Católica, fundada em 1980, sob responsabilidade da Companhia de Jesus. O JRS tem como missão acompanhar, servir e defender os refugiados deslocados à força e todos os migrantes em situação de particular vulnerabilidade”[4]. Em Portugal atua desde 1992 na área de investigação, e em 1998 de forma efectiva, promovendo actividades e projectos na área. Crianças e menores não acompanhados Segundo dados do CPR, em 2011 Portugal recebeu 50 pedidos de asilo de crianças, sendo destas 13 crianças desacompanhadas. Um menor não acompanhado é, de acordo com o ACNUR, alguém “que está separado de ambos os pais e para o qual não se encontra qualquer pessoa que, por lei ou costume, em relação a ele, assuma responsabilidade”[5]. Actualmente, estima-se que entre 2 e 5% da população refugiada sejam crianças desacompanhadas. A situação dessas crianças é bastante complicada, pois elas não possuem protecção de adultos e podem ficar vulneráveis a violência, abandono, tráfico, recrutamento militar forçado, exploração sexual, entre outros abusos. Dessa forma, é necessário haver cuidado especial para com essas crianças, o que foi feito em Portugal com a criação do CACR - Casa para o Mundo, conforme já mencionado. 1.4 Identificação de ângulos de abordagem significativos (para a vossa mensagem) A abordagem da campanha terá como foco os sonhos, de forma a mostrar que toda criança é igual e tem aspirações para o futuro. É importante ressaltar que as crianças refugiadas são vítimas dessa situação devido sua vulnerabilidade diante dos conflitos e perseguições em seus países de origem, o que lhes tira o direito de viver livres e felizes com suas famílias e em seu local de origem. Incapazes de se defender por conta própria, essas crianças são carentes de ajuda e enfrentam dificuldades para se recuperar e readaptar após os traumas sofridos. 81

Estratégias de criação Através do conceito de sonho pretende-se criar peças leves e coloridas que remetam ao futuro idealizado pelas crianças. Mostraremos que, apesar dos grandes traumas sofridos, elas têm o poder de se reinventar e acreditar em um futuro melhor. Os desenhos das crianças serão usados como base para as peças. 2. FIXAÇÃO DE OBJECTIVOS DA COMUNICAÇÃO 2.1. Mercado-alvo A campanha tem como público a população em geral. As acções serão produzidas com o objectivo de atingir toda a sociedade portuguesa, de forma que os produtos de comunicação digital tem uma amplitude ainda maior, a atingir também públicos internacionais. 2.2. Objectivos da comunicação O objectivo da campanha é divulgar a situação dos refugiados com informações sobre a temática e sensibilizar a sociedade portuguesa para a questão, com foco nos menores não acompanhados. Com isso, pretende-se mobilizar as pessoas, a fim de aumentar o apoio dos não-refugiados para com as crianças que enfrentam problemas de integração. O objectivo é promover maior respeito e integração aos refugiados, para que possam “se libertar” e levar uma vida normal, com melhores expectativas. 2.3. Técnicas de Comunicação: Digital, Publicidade, Guerrilha Spot: Produzir um vídeo com os desenhos feitos pelas crianças refugiadas, a retratar seus sonhos e desejos. As imagens serão acompanhadas em pequenas frases de efeito, a reforçar os valores de igualdade, esperança e superação. Guerrilha: Exposição dos desenhos feitos pelas crianças, com frases explicativas sobre o trabalho do ACNUR. A acção será realizada em locais públicos de grande circulação, onde deverá ser montado um painel em branco, a convocar os passantes a deixar uma mensagem, desenho ou qualquer manifestação em favor dos refugiados. Panfletos Informativos: Contendo todas informações sobre o que é um refugiado, o ACNUR, o CPR, o CACR e seus trabalhos. Os panfletos devem ser 82

entregues em locais de grande circulação para a divulgação da guerrilha e os demais processos da campanha. Comunicação digital: Um blog da campanha será criado para abrigar todo o material produzido. 3. DETALHES DA CAMPANHA DE COMUNICAÇÃO A campanha, nesta parte do planejamento, será dividida de acordo com as etapas que percorreu em seu processo de criação, para assim ser compreendida de forma clara e também para mostrar em que se baseou o processo criativo. Serão abordados aqui os detalhes e as escolhas feitas em relação a aspectos técnicos como a integração das mensagens e os meios e suportes. 3.1 Briefing (apresentado pelo CPR no ISCSP) O bom desenvolvimento de uma campanha depende essencialmente de se compreender o que será divulgado, para quem se deve divulgar, quem necessita desse serviço e principalmente qual o tópico central da campanha. Nesse sentido, apresentase abaixo um briefing com todas as informações necessárias para a compreensão da necessidade apresentada bem como para pensar sua solução. O QUÊ? | Campanha de ONG Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados TEMA | Explicação do que são refugiados, o que é o CRP e o ACNUR PÚBLICO-ALVO | população portuguesa HISTÓRICO DA COMUNICAÇÃO | elaborado por vocês no pré-relatório ORIENTAÇÕES GERAIS | Tom: Crianças Refugiadas em Portugal / informar e sensibilizar a população / choque “despertar consciências” MIX COMUNICAÇÃO | Campanha de Comunicação utilizando como técnicas Publicidade (elaboração de spot televisivo), comunicação digital (criação de conteúdos multimédia informativos e emotivos) e Acções de PR Stunt (guerrilha).

83

SPOT PUBLICITÁRIO TV, 45 segundos a 1 minuto; spot radiofónico 20 segundos (facultativo); comunicação digital: num suporte geral configurado para o efeito (website, weblog, página FB) incluir: imagens, vídeos, música, texto, app, widgets (multimedia ao vosso critério); PR Stunt – acções que poderão servir para alimentar os conteúdos da comunicação digital. 3.2 As mensagens de cada técnica Por se tratar de uma campanha de comunicação integrada, a composição dos textos deve ter a mesma essência e trazer sempre uma frase global, que represente a campanha e o ideal de trazer de volta sorrisos. Assim sendo, as componentes textuais de cada técnica foram pensadas como um todo e estão expressas abaixo:



Publicidade

1ª Frase: Todos os dias milhares de crianças perdem seus pais, suas casas e seus sorrisos por conta de guerras e perseguições. 2ª Frase: Desde cedo, são obrigadas a procurar novos lares em outras nações. E, mesmo quando encontram, a dor e a saudade não permitem que o sorriso delas volte a suas bocas. 3ª Frase: O CPR, parceiro da ACNUR em Portugal, pensando na importância do sorriso para vida dessas crianças, construiu um centro de acolhimento só para elas. Para que não deixem de ser crianças, para que tenham uma infância cheia de sorrisos. 4ª Frase: Mostre que você é diferente. Engaje-se nessa causa. 5ª Frase: Resgate um sorriso. www.resgateumsorriso.wordpress.com



Guerrilha

Placa indicativa ao lado das Estátuas Humanas Frase “Resgate um sorriso” e flecha apontada para a estátua. Papéis distribuídos pelas estátuas humanas Frase “Um dia sem sorrisos é um dia perdido.” e o blog da campanha.



Mídia digital

O blog está dividido em abas informativas que contemplam explicações sobre a campanha em si, os seus criadores e desenvolvedores e também acerca da questão dos refugiados mundialmente e em Portugal. Assim, existem diversos conteúdos, não 84

sendo viável expressá-los aqui. Entretanto, eles podem ser checados com o acesso ao link www.resgateumsorriso.wordpress.com. 3.3 O Processo Produtivo O processo de desenvolvimento da campanha foi conjunto para todas as técnicas de comunicação, sendo que a ideia de uma serviu de inspiração para o desenvolvimento de outra. Assim, descreve-se abaixo o processo criativo de cada uma dessas componentes da campanha.



Publicidade: realizou-se a procura e a seleção do modelo, captaram-se as imagens a partir de vídeo e posterior decupagem deste, transformando-o em imagens. Com isso, obtemos o material para produzir a evolução do sorriso das crianças de acordo com sua trajetória de vida. Ilustrações para o fundo foram coletadas. O spot foi desenvolvido com a ferramenta movie maker.



Guerrilha: foi feito contato com as estátuas humanas que ficam no centro de Lisboa e solicitado sua colaboração com a campanha. Após acordo feito, a guerrilha foi operacionalizada nos dias X e Y.



Mídia digital: o blog foi produzido durante o período de aulas, todas as quartas-feiras, a partir de abril. O conteúdo do website é constantemente atualizado, conforme novas notícias sobre a causa dos refugiados vão surgindo.

3.4 Meios e Suportes As peças da campanha foram produzidas já tendo em vista os meios e suportes nos quais seriam veiculadas, assim, abaixo se encontra a descrição dessa aplicação:



Publicidade: O spot foi elaborado para meio televiso, com formato de 45” a 1’. Entretanto, por questões claras de fomento, sua veiculação neste meio fica a cargo do CPR/ACNUR, uma vez aprovada a campanha. O suporte neste caso seria um canal com foco generalista. Contudo, visando uma maior efetividade e produtividade do spot, ele será veiculado em meio digital, através dos suportes Youtube e do Blog da campanha.

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Guerrilha e Mídia Digital: o vídeo sobre a guerrilha seja veiculado em meio digital e o suporte será o blog e Youtube.

4. REFERÊNCIAS ACNUR. Refugiados. Disponível em: http://www.acnur.org/t3/portugues/a-quem-ajudamos/refugiados/. Acessado no dia 11/03/2012. ACNUR. Site oficial.

Disponível em http://www.unhcr.org/. Acessado no dia

13/03/12. Campanha:

http://www.acnur.org/t3/portugues/sobre-o-site/envolva-se/eventos/dia-

mundial-do-refugiado-2011/ . Acessado dia 14/03/2012. CPR - Relatório de actividades 2010 Conselho Português para os Refugiados. Disponível em:

http://www.cpr.pt/

Acessado dia 13/02/2012. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em http://www.cne.pt/dl/1_declaracao_universal_direitos_homem.pdf. Acessado no dia 13/03/12. O que é a Convenção de 1951? Disponível em: http://www.acnur.org/t3/portugues/informacao-geral/o-que-e-a-convencao-de-1951/. Acessado no dia 11/03/2012. SANCHEZ, Giovana. G1Mundo: Maior campo de refugiados do mundo faz 20 anos em crise humanitária. Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/08/maior-campo-de-refugiados-do-mundofaz-20-anos-em-crise-humanitaria.html. Acessado dia 11/03/2012. Serviço Jesuíta aos Refugiados – JRS. História e Missão. Disponível em: http://www.jrsportugal.pt/conteudo.php?AHIBYFMz=AEoBSFMHUQBRTwMDUU 86

xeFQtela9Xr1tela9Xr1&AHIBYFM9=ADABN1Nl&AG4BaFM6UTNRdQMw=AHI BdQtela9Xr1tela9Xr1. Acessado no dia 13/02/2012. [1]

Declaração

Universal

dos

Direitos

Humanos.

Disponível

em

http://www.cne.pt/dl/1_declaracao_universal_direitos_homem.pdf. Acessado no dia 13/03/12. [2] Site da ACNUR. Disponível em http://www.unhcr.org/. Acessado no dia 13/03/12. [3] Conselho Português para os Refugiados. Disponível em:

http://www.cpr.pt/

Acessado dia 13/02/2012 [4] Serviço Jesuíta aos Refugiados – JRS. História e Missão. Disponível em: http://www.jrsportugal.pt/conteudo.php?AHIBYFMz=AEoBSFMHUQBRTwMDUU xeFQtela9Xr1tela9Xr1&AHIBYFM9=ADABN1Nl&AG4BaFM6UTNRdQMw=AHI BdQtela9Xr1tela9Xr1. Acessado no dia 13/02/2012. [5] Site da ACNUR. Disponível em http://www.unhcr.org/. Acessado no dia 13/03/12.

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