A comunicação pública, a utilização das novas mídias e o reflexo na informação que chega ao cidadão: O caso da Câmara Municipal de Palmeira – Paraná

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A comunicação pública, a utilização das novas mídias e o reflexo na informação que chega ao cidadão: O caso da Câmara Municipal de Palmeira – Paraná

Edson Gil Santos Júnior1

RESUMO: Este artigo utiliza da implantação do novo portal da Câmara Municipal de Palmeira, para discutir o papel da assessoria de imprensa no poder público em face a possibilidade de uso de novas mídias, como também a necessidade e o dever de divulgação de atos oficiais. De mediador de sugestões para a imprensa, o assessor de imprensa assume um papel de produtor e gerenciador de dados nas mais diversas mídias. De acordo com a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ, 2007. p.3), o segmento cresceu e os jornalistas em assessorias passaram a exercer atividades multimídias.

PALAVRAS-CHAVE: Comunicação Pública. Novas Tecnologias. Jornalismo.

1. Introdução Por conseqüência do avanço tecnológico, juntamente com o do jornalismo e da comunicação em geral, pelo advento das novas formas tecnológicas de transmitir informações, a assessoria de comunicação pública também se transforma acompanhada de leis que exigem a transparência no meio público, como também de uma maior participação popular no processo. Neste contexto, o cidadão comum não necessita exclusivamente dos veículos de comunicação privados para saber o que acontece no meio público, pois estes órgãos já contam com veículos próprios de informação direta com a população. 1

Especialista em Gestão Pública pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e graduado em Comunicação Social – Jornalismo, pela mesma instituição. Email: [email protected]

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Esse novo comportamento é fruto da própria transformação da sociedade que exige o amadurecimento de nossas organizações e impõe que se dê satisfação aos seus vários públicos e à comunidade em geral. A evolução também impulsiona o jornalista a buscar qualificação e competência para agir com sucesso num segmento cada vez mais competitivo. (FENAJ, 2007, p. 7)

O assessor de comunicação não é apenas o agente que sugere pauta para a imprensa, mas sim, que se utiliza dos veículos de comunicação oficiais e das redes sociais, fermentando a discussão entre os gatewatchers, garantindo mais visibilidade ao fato noticiado e até por meio da mobilização da opinião pública, romper o gatekeeper e divulgar o trabalho realizado pelo poder público na maioria dos veículos possíveis. Divulgar as ações de agentes públicos eletivos e a transparência na utilização de recursos está em constante ascensão na gestão governamental brasileira. Com a intenção eleitoral futura ou pela exigência da Lei de Responsabilidade Fiscal, os órgãos públicos utilizam a comunicação para inserir o cidadão no contexto político-econômico tanto das cidades, como do estado ou mesmo da federação. A função da comunicação governamental vem sendo analisada por vários teóricos, os quais apresentam definições que a valorizam, por exemplo: a Comunicação Governamental pode ser entendida como Comunicação Pública, na medida que ela é instrumento de construção da agenda pública e direciona seu trabalho para a prestação de contas, o estímulo para o engajamento da população nas políticas adotadas, o reconhecimento das ações promovidas nos campos políticos, econômico e social, em suma provocar o debate político. Trata-se de uma forma legítima de um governo prestar contas e levar ao conhecimento da opinião pública os projetos, ações, atividades e políticas que realiza e que são de interesse público (BRANDÃO, 2006, p. 6).

Pode-se dizer que a internet e a abertura política do país representaram um avanço na liberdade e difusão da comunicação para uma maior participação da população no cenário político e consequentemente governamental. De acordo com Cunha (2005): as tecnologias de informação e comunicação, de fato, abriram oportunidades para transformar o relacionamento entre governo, cidadão, sociedade civil organizada e empresas, contribuindo para alcançar a boa governança e, especialmente na dimensão da transparência. (CUNHA, 2005. p.2)

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2. A informação apresentada pelos órgãos oficiais e a força das redes sociais De acordo com a pesquisa feita pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em parceria com a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) 2, três quartos dos assessores de imprensa tinham seu trabalho integralmente ou em grande parte divulgado pela internet, isto é de 74,5%. Mesmo com a relevância da informação, um dado que poderia deixar mais completa a pesquisa, seria o compartilhamento dessas mesmas informações nas redes sociais. Segundo uma pesquisa norte-americana, é registrada uma quantidade expressiva de acesso a certos sites, devido ao trabalho voluntário e em muitos casos despretensiosos, feito pelos gatewatchers (portal de observadores, na tradução literal, mas que são usuários das redes sociais que compartilham links de sites que acham interessante), e que em muitos casos pautam veículos de comunicação pela repercussão dada nas redes sociais, além de multiplicar a quantidade de acessos nas páginas indicadas por eles. Um estudo da Retrevo (2010) confirma que 42% dos americanos começam o dia a consultar as redes sociais (Facebook e Twitter), e 16% dizem ser nestas aplicações que procuram as notícias da manhã. O já referido relatório do PEW (2010) aponta no mesmo sentido: cerca de metade dos americanos optam pela leitura das notícias nas redes sociais porque confiam na selecção noticiosa que os seus amigos fazem. O estudo revela ainda que 75% dos consumidores de notícias online recebem links para essas notícias via e-mail ou redes sociais, e 52% partilha igualmente notícias por esta via. Por fim, o estudo refere que 51% dos utilizadores de redes sociais, como o Facebook, dizem que todos os dias lêem notícias disponibilizadas por algum dos seus amigos, e 23% seguem notícias disponibilizadas nestas redes por media tradicionais ou jornalistas. (CANAVILHAS, 2012, p. 5)

Atualmente nas redes sociais, alguns veículos oficiais ou empresas, por sua assessoria de comunicação se tornam também gatewatchers e disparam neste espaço de interação, as informações pela ótica oficial, oferecendo a leitura do conteúdo, e assim, estimulando o debate e a multiplicação de acessos por ser uma leitura indicada. Para CANAVILHAS (2012), o gatewatcher emerge assim como um elemento central num ecossistema mediático onde a

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Universidade Federal de Santa Catarina. Quem é o jornalista brasileiro? Perfil da Profissão no País. Programa de pós-graduação em sociologia da UFSC, em convênio com a FENAJ. Disponível em http://perfildojornalista.ufsc.br/. Acesso 01/05/2013

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fragmentação motivada pela multiplicação de fontes e o excesso de informação obrigam os media a disputarem a atenção dos leitores. Ao seleccionar uma notícia colocando um link na sua página, o gatewatcher está a dar uma indicação de leitura, pelo que deverá ocorrer um aumento no número de leitores dessa mesma notícia. Na primeira parte do trabalho empírico procuramos verificar se existe uma relação entre a publicação do link para uma notícia e o aumento do número de leitores. (CANAVILHAS, 2012, p.7)

3. Convergência de mídias e a utilização do ciberespaço De acordo com Fidalgo (2004), o jornalismo online conhece certamente menos limites que as formas tradicionais de jornalismo, como também reúne os principais fatores do jornalismo apontados por Otto Groth, a periodicidade, atualidade, universalidade e a publicidade. Além desse fator, o jornalista tem espaço para escrever e fazer quantas linkagens forem necessárias para noticiar um assunto. No caso do poder público, dependendo do assunto, a linkagem pode acontecer até com documentos oficiais que comprovem a veracidade da informação. Nas edições online o espaço é potencialmente infinito. O jornalista pode oferecer caminhos de leitura através de conexões entre os blocos de conteúdo disponibilizados na forma de textos ou de outros elementos de multimídia organizados em camadas de informação. (SPINELLI e RAMOS, 2007, p.7)

Acompanhado as novas tecnologias e as novas tendências midiáticas, o poder público atualiza suas ferramentas de comunicação para além de transmitir as dados oficiais para os distribuidores de informação, com veículos próprios, se apropriam de interfaces utilizadas pelos meios de comunicação. Esta adaptação a realidade pós-moderna deixa de ser unilateral e agregada a não passividade completa dos usuários, já percebe mesmo que ainda de maneira tímida, a manifestação popular meios digitais. Assim, os sites de órgãos públicos no ciberespaço, são um canal de interação entre governantes e governados. Os processos interativos estão em diversos campos da comunicação contemporânea e podem ser percebidos de diversas formas. Essa é a essência da sociedade pós-moderna, ser interativa, pois a passividade já não faz parte do seu perfil comportamental. (RENÓ, 2011. p.75)

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A linguagem, a maneira de atrair e principalmente de prender a atenção do leitor/espectador/usuário não é mais a mesma de 20 anos atrás. As novas tecnologias, aliadas fluidez do ciberespaço, como as convergências entre as antigas e novas mídias, proporcionam ao usuário uma experiência em comunicação e interação. Além disso, como comenta Jenkins (2009, p.38), as novas tecnologias midiáticas permitem que o mesmo conteúdo flua por vários canais diferentes e assuma formas distintas no ponto da recepção. O que possibilita ao usuário uma gama de opções de canais de informação considerada inviável nas mídias antigas, como o jornal, rádio ou TV, mas de acordo com o autor, sem que isso prejudique os outros meios existentes, pois cada um tem o seu papel. O cinema não eliminou o teatro. A televisão não eliminou o rádio. Cada meio antigo foi forçado a conviver com os meios emergentes. É por isso que a convergência parece mais plausível como uma forma de entender os últimos dez anos de transformações dos meios de comunicação do que o velho paradigma da revolução digital. (JENKINS, 2009. p.41)

Mas com a interatividade e as opções de conteúdo mais limitadas nos meios já obsoletos, comparados com a internet, é plausível, como afirma Jenkins (2009, p.46) crer que a promessa desse novo ambiente de mídia provoca expectativas de fluxo mais livre de ideias e conteúdos. Inspirados por estes ideais, os consumidores estão lutando pelo direito de participar mais plenamente de sua cultura. Por um lado a convergência representa uma oportunidade de expansão dos conglomerados das mídias, já que o conteúdo bem-sucedido num setor pode se espalhar por outras plataformas, Por outro lado, convergência representa um risco, já que a maioria dessas empresas teme uma fragmentação ou erosão em seus mercados. Cada vez que deslocam um espectador, digamos da televisão para a internet, há risco dele não voltar mais. (JENKINS, p.47)

A informação na internet se utiliza da hipertextualidade para compor o conteúdo. De acordo com Renó (2011, p.58), o hipertexto é definido como um ambiente não linear, que oferece ao usuário a possibilidade de criar seus caminhos de arquitetura de leitura. O conceito de hipermídia apresenta diversos hipertextos de formas diferentes, que reúne uma diversidade de informações midiáticas (foto, vídeo, som, etc).

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Ainda afirma Renó, que a partir da Web 2.0, em que a leitura deixou de ser meramente contemplativa e o usuário teve a possibilidade de definir seus caminhos, e assim, buscar as informações da maneira em que lhe for pertinente. Percebe-se que um dos fatores da não linearidade da leitura no ciberespaço é a fragmentação da informação em links. Nesta perspectiva, os dados ficaram independentes no meio virtual. Para o Renó, não é preciso ler tudo para que tenha significado, ou seja, cada fragmento deve ter seu significado por si só, sua independência significativa. Mas essa leitura fragmentada só é possível com os pontos de ligação entre as ramificações ou desdobramentos do mesmo assunto ou obra e neste contexto que é imprescindível a existência dos links. Tanto pela publicidade dos atos oficiais, como pela transparência do trabalho efetuado, a nova proposta da Câmara Municipal de Palmeira é levar ao cidadão o máximo de informação possível e o ambiente virtual possibilita esta gama expressiva de informações pela ferramenta da internet. Seguindo o conceito da fragmentação que se completa por uma obra no seu todo, o canal se utiliza de uma grande quantidade de links que ramifica o conteúdo e que futuramente estarão interligados. Para Gosciola (2008) o link é o responsável pela ligação dos conteúdos, sem o qual os conteúdos seriam apenas informações isoladas, pequenos memorandos relatando fatos isolados. Com os links, não há mais a necessidade de um assunto ter início, meio e fim, pois o usuário definirá a quantidade de informação que o saciará. Renó (p.59) discorre sobre a estrutura hipertextual em um sistema de nós que oferece escolhas ao usuário de acordo com sua necessidade ou vontade. Segundo o autor, esses nós, que definimos como links, interligam os fragmentos e os caminhos, que podem ser múltiplos, em todos os momentos ou em alguns, de acordo com a estrutura proposta. Juntamente com o material para jornais e rádios, no caso os releases com fotos dos acontecimentos da Câmara Municipal, que também alimentam o portal com notícias, é disponibilizado um banco de áudio para a imprensa, que pode ser usado para os programas de rádio, como também para uma parcela da população que queira escutar o que os vereadores falam no plenário quando fazem uso da palavra.

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Além do recurso em áudio, o internauta pode acessar ao vivo em vídeo, direto do site da Câmara, a transmissão das Sessões Ordinárias, Extraordinárias e Solenes da Câmara Municipal. Para aqueles que não podem ou não querem assistir ao vivo, a assessoria de comunicação da Câmara desenvolve semanalmente o Resumo da Semana, um informativo em vídeo de no máximo sete minutos, que apresenta as principais ações dos vereadores durante a semana e o que de principal foi discutido em plenário.

Publicados no Youtube, os

informativos contam com links de visualização no site da Câmara e é compartilhado no Facebook da Câmara Municipal. Em caráter experimental, três informativos em vídeo foram produzidos entre os meses de março e abril. O primeiro teve 165 visualizações, o segundo 79 e o terceiro, 239 visualizações. O Resumo da Semana tem por objetivo levar ao conhecimento do cidadão de maneira dinâmica e de fácil entendimento, as ações dos vereadores, como os principais fatos que aconteceram na Câmara Municipal no período de uma semana. Aproveitando da possibilidade de convergência das mídias, o uso da modalidade em vídeo divulga as informações de modo a não se preocupar com a imprensa, que já foi devidamente abastecida com textos, fotos e áudios durante a semana, mas sim, focado no cidadão, no público internauta. A hipermídia se preocupa, assim como o videoclipe, em trazer o maior número de informações no menor tempo e com a maior clareza possível, onde o roteirista, o editor e o autor devem considerar a enfermidade da permanência do usuário e o volume de informações à sua disposição em um produto hipermídia. (GOSCIOLA, 2003. p.221)

A intenção do conteúdo do site é atrair a atenção dos internautas e fazer com que a população conheça mais o trabalho dos vereadores. Além de todos os serviços descritos anteriormente, o site da Câmara oferece a Ordem do Dia atualizada em cada dia de Sessão Ordinária ou Extraordinária, de uma a duas vezes por semana. O histórico e o funcionamento da Câmara de Palmeira, como também dados explicativos sobre a Mesa Diretora e Comissões Permanentes estão à disposição dos internautas. Seguindo esta mesma perspectiva de deixar este ciberespaço o mais completo possível de informações do Legislativo, cada vereador contará com um espaço, com um breve histórico e canais de contato para a população.

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Os projetos de lei do Executivo e seus andamentos também terão um espaço determinado no site, como também os pareceres das Comissões Permanentes, o Portal da Transparência, uma página específica para licitações e a legislação vigente para que na hora que quiser, o munícipe possa consultar. O munícipe conta ainda com um canal de contato com a Câmara Municipal no botão contato. As reivindicações dos moradores de Palmeira deixados neste espaço são encaminhados para os vereadores. 4. Metodologia aplicada para medição de resultados Além das leituras que discutem o atual cenário da comunicação pública e da comunicação através das recentes convergências tecnológicas, a pesquisa realizada na Câmara Municipal de Palmeira, cidade localizada na região dos Campos Gerais, no interior do Paraná, de aproximadamente 33 mil habitantes (IBGE 2010), analisa os recursos utilizados pelo portal de informações do legislativo, além do trabalho efetuado pela assessoria de imprensa, no envio de notícias para os meios de comunicação, na procura e aceitação do cidadão palmeirense na obtenção de informações de interesse público. Este canal próprio de informações foi reformulado recentemente de um veículo estático e de uma leitura contemplativa, para outro baseado nos conceitos da hipermídia. Para medição dos resultados das mudanças na aceitação, utiliza-se como ferramenta para a obtenção de dados quantitativos de pesquisa, o sistema Google Analytics, que é um serviço gratuito, oferecido pela empresa Google. Com este recurso, ao cadastrar um site, são exibidos dados em estatísticas de visitação e suas origens, destinado para acompanhamento do proprietário ou gerenciador do site analisado. Esta plataforma foi criada principalmente para auxiliar os webmasters para aperfeiçoar os sites para campanhas de comunicação social, em jornalismo, publicidade ou marketing. De acordo com a Google, o sistema Analytics é capaz de identificar a localização geográfica do visitante, a forma com a qual chegou na página (através de links de outros sites, buscador, redes sociais ou diretamente pelo endereço), o sistema operacional, o navegador e suas versões, como também a resolução de tela, Java (linguagem de programação), o

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reprodutor de Flash instalado, entre outros. Como também analisa, em períodos diários, semanais, mensais e anuais. A pesquisa analisa os dados obtidos entre os meses de março e abril, extraídas do sistema Analytics entre os dias 01 de março e 30 de abril de 2013 e será acompanhada bimestralmente. Seguindo a premissa de Lopes (1990) a pesquisa não se limita apenas na quantificação dos dados, considerando que na comunicação, estes resultados são qualificados por uma abstração de análise descritiva. Na teorização da problemática feita desde o início da pesquisa já se delimita o graus de abstração que se pretende alcançar. Portanto são objetivos de descrição ou de interpretação que orientam desde o início a pesquisa que a farão estancar-se ou não na etapa da descrição. A pesquisa que se define como interpretativa desde a etapa de definição do objeto, já fixa em seus objetivos ir além da descrição, antecipando as operações que deverá devolver de acordo com o modelo teórico escolhido. (LOPES, 1990, p.155)

5. A assessoria de imprensa Em meio a este contexto multimidiático e sendo responsável por um canal de informação direto com a população, a assessoria de imprensa mantém também o trabalho de mediador com os veículos de comunicação como feitos antes das novas possibilidades tecnológicas. Como sugere o Manual de Assessoria de Comunicação do FENAJ, que define o trabalho do assessor de imprensa: Serviço prestado a instituições públicas e privado, que se concentra no envio freqüente de informações jornalísticas, dessas organizações, para os veículos de comunicação em geral. Esses veículos são os jornais diários; revistas semanais, revistas mensais, revistas especializadas, emissoras de rádio, agências de notícias, sites, portais de notícias e emissoras de tevê. (FENAJ, 2007, p.7)

A lista de e-mails da Câmara Municipal de Palmeira conta atualmente com os mais de 100 contatos de profissionais e veículos de imprensa, da região dos Campos Gerais e do Paraná. Praticamente todas as notícias enviadas pelo e-mail e consequentemente publicadas no site da Câmara Municipal foram publicadas pelos três jornais da cidade (um semanal e dois quinzenais), como no periódico regional Página Um (diário), e de maneira mais esporádica em outros veículos da região, como o Jornal da Manhã, Diário dos Campos, Jornal de

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Carambeí. As rádios da região também recebem por e-mail os releases, ou tem acesso ao site da Câmara, divulgam as notícias da Casa de Leis palmeirense, entre as principais, a Rádio Ipiranga e Rádio Cruzeiro do Sul em Palmeira, como a Rádio Mundi e Antenasul de alta abrangência nos Campos Gerais.

6. O tratamento da informação pelo órgão público e pela imprensa Não cabe à assessoria de imprensa questionar seu assessorado, mas sim ao jornalista. Na região dos Campos Gerais, por exemplo, grande parte das prefeituras ou câmaras municipais contam com jornalistas em cargo de comissão, que executam o trabalho de facilitação da imprensa, que não arriscarão seus empregos por questionar a hierarquia a que ele é submetido. Da mesma maneira que o repórter irá se submeter ao editor ou proprietário de veículo de comunicação privado, pelo mesmo receio de que caso não se enquadre com o perfil editorial do veículo, está fadado em um curto espaço de tempo, procurar outra fonte de renda. Ainda assim, independentemente de questões ideológicas do repórter, pode-se dizer que tanto a verdade quanto jornalismo são relativos, e cabe ao jornalista dos veículos privados, ou mesmo de um órgão fiscalizador, como uma câmara municipal, agir de maneira crítica e questionadora quanto a realidade apresentada pelo Executivo. Genro Filho (1987) explana sobre isso, na maioria dos casos, a informação divulgada por um órgão público é incompleto e precisa de mais fontes, que não é da competência da assessoria oferecer ao repórter, que deve fazer esta abertura de sentido. Assim como os fenômenos imediatos que povoam o cotidiano, os acontecimentos precisam ser percebidos como processos incompletos que se articulam e se superpõem para que possamos manter uma determinada "abertura de sentido" em relação a sua significação. Mesmo que o sentido seja produzido sempre numa determinada perspectiva ideológica, assim como qualquer outra significação atribuída ao mundo social, isso não invalida a importância dessa "abertura de sentido" que lhe é subsistente. (GENRO FILHO, 1987)

Não há sentido de um órgão oficial criticar a si próprio, ou ao trabalho realizado por seus membros, mas isto deveria estar intrínseco no pensamento dos internautas que visitam o site oficial, ou consomem o material postado nas redes sociais, pois o mesmo princípio em

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questionar a realidade, nem sempre é feito pela população em geral, mas acontece via e-mail, comentários no próprio site, como também comentários nas redes sociais. A próxima transição da comunicação pública acontecerá quando o cidadão se manifestar mais perante as informações transmitidas pelos meios oficiais. Para Jenkins (2009) somente com a ampliação da participação que necessariamente desencadeará mais transformações, como também que as contendas e as conciliações resultantes irão definir a cultura pública (do público) do futuro. A passividade do cidadão ainda forte no mundo atual é comentada por Bauman (2001): O que está errado com a sociedade em que vivemos, disse Cornelius Castoriadis, é que ela deixou de questionar. É um tipo de sociedade que não mais reconhece qualquer alternativa para si mesma e, portanto, sente-se absolvida do dever de examinar, demonstrar, justificar (e que dirá provar) a validade de suas suposições tácitas e declaradas. (BAUMAN, 2001).

Mesmo não questionando ainda a ponto de transformar a maneira dos órgãos públicos divulgarem suas ações, de acordo com Gerzson e Müller (2009), a sociedade passa por um momento de reavaliação de sua participação no próprio envolvimento das ações públicas. É indicado que a contemporaneidade tem exigido um reposicionamento desse paradigma referente às relações entre organizações públicas e seus públicos. Por isso, hoje o público está em um processo de transformação como citado pelos autores, e mais exigente que em um período anterior ao avanço tecnológico dos últimos anos: A sociedade está exigente no que se refere aos seus direitos – inclusive o de ser bem atendido. Ao mesmo tempo em que surge essa consciência, as práticas de comunicação pública passam por crises de identidade e se percebe a importância da adoção de práticas mais democráticas e direcionas, em oposição ao viés de massificação historicamente adotado pelo setor público. (GERZSON e MÜLLER, 2009, p. 63)

Duarte (2011) cita uma pesquisa realizada pelo Ibope em 2003, para o Observatório da Imprensa, na qual uma das conclusões foi que, enquanto 44% dos brasileiros gostariam de influenciar nas decisões do país, os outros 56% não demonstraram nenhum interesse pelos feitos políticos.

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Temos, então, um governo que, além de ter que se adaptar aos recursos tecnológicos de informação, é também obrigado a utilizar destes meios para cumprir a lei. Por outro lado, a população, diferente de outrora, busca as informações disponibilizadas de maneira ainda tímida, para entender e participar de decisões, nem que seja, em último caso, por meio do voto, ajudando a não eleger algum representante que se demonstre “indigno” de ocupar um cargo público. Gomes Filho (2005) salienta que informação gera mais informação; ou seja, a partir do momento em que o gestor publiciza dados, a sua divulgação, tanto pelos órgãos oficiais como pela mídia, acaba gerando o debate entre a sociedade, fortificando a democracia. Quanto a isto, o autor discorre: Essa emergência da informação, como conseqüência dos processos de informatização, montou o cenário favorável à promoção da transparência. As pessoas naturalmente tendem a avaliar positivamente a transparência no relacionamento humano. Com o avanço dos processos que definem a globalização, aumentou a transparência, na medida em se derrubaram barreiras, se transpuseram fronteiras e se venceram limites que separavam as pessoas, dando margem a um ambiente de valorização da liberdade. E um ambiente de liberdade oferece as condições para que crie uma cultura da informação. E informação gera mais informação. (GOMES FILHO, 2005, p. 5)

Segundo Duarte (s/d), “a Comunicação Pública ocupa-se da viabilização do direito social coletivo e individual ao diálogo, à informação e à expressão. Assim, fazer comunicação pública é assumir a perspectiva cidadã na comunicação envolvendo temas de interesse coletivo”. Para Lopes (2007), No lugar de uma relação meramente unidirecional, na qual o governo provê o cidadão com as informações que julga pertinente utilizando apresentação e edição que entende adequadas, a teoria política contemporânea entende que o envolvimento dos cidadãos nas políticas públicas deve ser bidirecional. Tal prática, aliada à melhora da transparência governamental, tende a reduzir de maneira considerável a assimetria de informação e, consequentemente, os abusos cometidos pelas autoridades governamentais. (LOPES, 2007, p. 9)

7. Resultados - Acessos ao site da Câmara A transformação, notada na última década, no modo de fazer comunicação no ciberespaço, culturalmente oferece mudanças em uma nova linguagem no jornalismo, como na assessoria de imprensa que já agrega outras funções, estratégias e produtos.

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Esse novo comportamento é fruto da própria transformação da sociedade que exige o amadurecimento de nossas organizações e impõe que se dê satisfação aos seus vários públicos e à comunidade em geral. A evolução também impulsiona o jornalista a buscar qualificação e competência para agir com sucesso num segmento cada vez mais competitivo. Esse profissional deve se superar e dominar conhecimentos sobre outras áreas e, principalmente, deve conhecer tudo sobre todos os meios de comunicação. (FENAJ, 2007, p. 9)

O sistema Google Analytics registrou no site da Câmara de Palmeira, 2.036 visitas em abril, em 834 visitantes únicos, esses visitantes únicos são pessoas diferentes que visitaram a página. No mês de março foram registradas cerca de 800 visitas e 263 visitantes únicos. De acordo com a empresa que presta serviço de manutenção do site da Câmara, eram registradas uma média de 168,7 visitas por mês em 2012, com máxima de 290 acessos/mês e mínimo de 74.

* Dados numéricos comparativos feitos pelo do autor

Além da reformulação do site, foi disponibilizada uma maior quantidade de informações da Câmara, não apenas jornalísticas, mas também jurídicas, funcionais e contábeis. Acreditasse que um dos principais fatores para uma maior quantidade de acesso são as redes sociais, neste caso, exclusivamente o Facebook. De acordo com o gráfico elaborado pela Google Analytics, dos mais de 2.800 acessos ao site da Câmara de Palmeira nos últimos dois meses, 48,67% deles são originados do Facebook e o restante, de outras ferramentas e maneiras de busca no ciberespaço.

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A elaboração de uma interface convergente, utilizada no computador ou mesmo em tablets e smartfones, que pode ser acessada em trânsito se necessário e em diversos formatos de mídias, atende o maior número de usuários, e conta ainda com a mobilização dos próprios munícipes como agentes disseminadores das informações como gatewatchers, que com a pretensão, mas sem manipular o usuário (apenas deixando disponíveis as notícias nas redes sociais), motiva o compartilhamento das informações noticiadas. De acordo com CANAVILHAS (2012), que cita um estudo do PEW (2010), confirma que 72% dos americanos consomem notícias nas redes sociais porque gostam de falar com outros consumidores acerca do conteúdo das notícias, um comportamento que justifica a necessidade de integrar as redes no ecossistema como forma de envolver mais os leitores e vai além sobre o comportamento nas redes sociais, quando cita Kovach e Rosenstiel: Este fluxo de atenção cresce à medida que a notícia é partilhada e comentada pelos leitores, gerando se novas ligações entre leitores. A estabilização destas ligações tende a transformar um grupo de leitores numa comunidade, algo que, curiosamente, é coincidente com uma missão do jornalismo: ajudar as comunidades a definirem-se, encontrando uma cultura comum enraizada na realidade (CANAVILHAS apud KOVACH & ROSENSTIEL, 2001).

Zandomênico (2013) cita CANAVILHAS (2012), ao falar da importância do bom relacionamento da assessoria de comunicação com os gatewatchers e a relevância deles no

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processo do gatekeeper, em uma segunda década digital, para obter mais espaço na mídia como no dia-a-dia da comunidade. Há uma década, oferecer uma pauta que conquistasse o interesse do gatekeeper, o jornalista responsável por selecionar as pautas nos veículos de comunicação, estava na lista das inúmeras tarefas desempenhadas pelas assessorias de comunicação. Dez anos depois, podemos dizer que vivemos a “segunda década digital” e os assessores deparam com o gatewatcher, uma figura que não tem dia e hora para exercer as funções de selecionador de notícias e ainda possui o grande diferencial de poder acrescentar análises pessoais. Os gatewatchers, representados pelo público das redes sociais, são, segundo Canavillhas (2010), uma espécie de novos gatekeepers que comentam e selecionam as notícias mais interessantes para os amigos ou seguidores. (ZANDOMÊNICO, 2013)

Ao final do segundo mês de análise, o Facebook da Câmara Municipal de Palmeira contava com 947 usuários, que recebem notícias diariamente, compartilhadas pela assessoria de comunicação da entidade. De acordo com os dados do Google Analytics, uma parcela expressiva dos acessos ao site da Câmara acontece por intermédio da rede social, precisamente 48,67%. A liberdade atual da imprensa, a cobrança da lei pela transparência do uso de recursos públicos, como também as intenções eleitorais dos atuais gestores e membros do legislativo motivam intenção da difusão em grande escala, em âmbito municipal pelo menos, das informações sobre os atos dos agentes públicos. Como visto teoricamente, por esta avalanche de informação em muitos lugares, formas e maneiras, pela convergência na midiatização da informação, agregada ao fato do usuário não precisar sair da sua zona de conforto para acompanhar os trabalhos dos governantes, o cidadão comum passa por uma fase de transição, de mero observador do cenário político, para um crítico dos serviços prestados pelo poder público, em que prestigia quando lhe apetece, mas também reivindica pelos seus direitos e o correto uso dos recursos públicos. 8. Referências BRANDÃO, Elisabeth Pazito. Usos e Significados do Conceito Comunicação Pública, 2006. Disponível em: http://www.rp-bahia.com.br/biblioteca/intercom2006/resumos/R1037-1.pdf. Acesso em: 01 jul. 2011.

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