A Concordância de terceira pessoa do plural: a variedade insular do PE (Funchal)

May 30, 2017 | Autor: Aline Bazenga | Categoria: Portuguese, Sociolinguistics, Language Variation and Change, Madeira, Variationist Linguistics
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A CONtrffiKffiANtrilA

VHKffi&fu

c744

EM

Aconcordânciaverbalemvarieda naveie;lua> Iaua), de I ol em palavras ,o oboa (baua), e caminhou, avô (caminhua, avua) e de /a/' precedido de [k] ou [g] (carro> cuarro; gato> guato), (ii) a palatalizaçâo de / I / antes de [i] ou [j] (aquilo> aquiiho); (iii) a reduçâo de [a] âtono em posiçâo final de palavra em [i] ou a sua elisâo e que'afeta todas as paiavras, independentemente da sua classe lexical (cinco> cinque, falà> fale); (iv) assimilaçâo da fricativa final /S/ em contexto de sândi externo seguido de fricativas, resultando em realizaçôes [i] ou [j] (as vacas> lajl vacas).

r.ogal rasal --+ eJe,r rùeg[È]) r:ia.rpedlè]

;'Ni

L

27

de exemplo:

Esquema l. Processo morfofonolôgico padrâo de PN6

sujeito pronominal.

Quando considerados os contextos fonéticos adjacentes (forma verbal seguida de palavra iniciada por vogal, consoante nasal, consoante nâo nasal e de pausa), observa-se a seguinte distribuiçâo das ocorrências (Tabela 4):

titulo

[i]

Relativamente ao fator presença ou ausência de sujeito, a variante em

-EM realiza-se em 54,60/o de contextos com sujeito expresso e em 45,4o/o de sujeito nulo (Tabela 5), na ordem inversa do que ocorre em localidades que se situam na zonâ dos dialetos centro-meridionais do PE estudadas por Mota; Miguel; Mendes (2012), em que se verificou que 54o/o das ocorrências estâo em frases com sujeito nulo,24o/o, com sujeito nominal e 20% com sujeito pronominal.

85

Tabela 5. Variante flexional Variante PN6 nào-padrâo

:

-EM nâo-padrâo

e

Sujeito expresso (anteposto e posposto) 41

EM tÉjl

/N/ é associado ao nûcleo (cxccto, porvelltura em [u], embora esta variante seja melhor entendida couro lruto de desnasalizaçào posterior) e o nircleo, apôs a inserçâo cla glide, é novamente simplificado. De outro modo, torrra se dilicil explicar a labialidade das formas [o], [u] e Iu]. Estas formas sâo, claramente, resultado da evoluçâo da forma reconstituida.[aw]. [u] é mais um Nestas palavras,

variâvel linguistica tipo de sujeito

175 fale; tenho > tenhe; falamos>falames; temos> temes).

B9

Tabeta 9. Variantes nâo-padrâo em vogal oral (isomôrficas de P3) e variâvel

linguistica posiçao do

vogal

i

3018803,4o/o

i

ditongo

pacirâo

i

805i880 88%

suj eito

indicativo

2121

t{l 34 1,90/o

17l34l'8o/o

vogal -E

5121.

à

Tabela 10. Variantes.nâo-padrâo em vogal oral (isomôrficas de P3)

direita da forma verbal Pausa #

+ vogal

i

Pretérito imperleito tlo

indicativo

vogal -A

direita (Tabela 9), observa-se ser aquele em que a palavra seguinte se inicia por vogal (Tabela 10) o que mais parece favorecer a realizaçâo da variante flexional em vogal oral'

29148 oc.60,4Vo

Presente do

ditongo padrâo

Considerando o efeito do contexto fonético

de variantes nâo-patlrâo ctn vogal oral

Variante em vogal oral

vogal

Os resultados lerram a considerar que o contexto em que o sujeito se apresenta na sua forma canônica (anteposiçâo) parece ser aquele que mais favorece a realizaçeo.desta variante, embora nâo de forma muito significativa.

e contextos fonéticos à

l. Realizaçâo

(isomôrficas de P3) e paradigmas verbais

Posposiçâo do Sujeito

Anteposiçâo do Sujeito

Tabela I

III2T 2t2l

Nestes paradigmas, a distinçâo entre P3 e P6 na morfologia verbal padrâo resulta apenas da ancoragem ou nâo do autossegmento /N/.

Por outro lado, o contexto [+vogal] corresponde, na sua maioria (15 das 2l ocorrências de variantes -A e -E, realizadas foneticamente pelas vogais âtonas [-e] e [-i]), às realizaçôes fonéticas [a] e [e]. Este encontro intervocâlico na fronteira de palavra (sândi extemo) resulta na elisâo das finais verbais âtonas e a ressilabificaçâo das duas silabas em contato, como exemplificado, a seguir: il. âs luercÈariils ttr altlua lethirla às r-xrze (FN{lBlb'l) lfifare + aJl--+ ftrJr vaJ] tr. os r:utlos finhrr âs cÈstar quËutÈs

8148 oc.1,6,60/o

I)rctérito inrperl'cito tlo conjuntivo

[ti3e -

uJ]-+

(IN{l(lXM}

| ti Jrq"l

c. das corisetSrêr:cias tlue rlai potle rrdlii" {p61;ç;2111

'b contexto precedendo pausa (. '.) é o que mais favorece a ativaçâo do padrâo com ditongo nasal" (MOTA; MIGUEL; MENDES' Atendendo

a que

2012,p. 171) e que, no âmbito da fonética sintâtica (sândi externo) podem ocorrei alteraçôes fonéticas, nomeadamente quando a palavra seguinte se inicia por vogal ou consoânte nasal, podemos considerar que, do ponto de vista da realizaçâo da forma verbal requerida em contexto sintâtico de concordândas 49 ocorrências com vogal oral final nas formas ciaverbal de P6, apenas

ll

verbais correspondem à nâo aplicaçâo da regra de concordância' desprovidas da ambiguidade (8 ocorrências em 49, seguidas de consoante nâo nasal e 3

ocorrências seguidas de pausa). Esta questâo serâ abordada posteriormente, quando considerada a hipôtese da cI, jâ referida na anâlise das variantes em -EM e -U, mas na sua versâo mais recente e desenvolvida em Mota (2013).

As variantes em vogal oral nâo-padrâo de PN6 (isom6rficas de P3) correspondem majoritariamente a verbos com VT lal e lel, representadas p-or -A e -E, respetivamente, cuja distribuiçâo pelos paradigmas verbais figura na Tabela 11, em contexto de palavra seguinte iniciada por vogal (21 das 29 ocorrências), registrando-se ainda um exemplo com o verbo ir (quan-

fprrlir: -

edrir] ->

drth'rr]

Observa-se, ainda, que muitas das ocorrências com vogal oral -E cor-

respondem ao item verbal inacusativo existir. Atendendo unicamente ao contexto de sujeitos pospostos, registra-se um total de 20 ocorrências de existir em 34, ou seja 58, B% (ll dados com ditongo padrâo de PN6 e 9 dados nâo-padrâo com vogal oral -E), no presente do indicativo (19 dados), registrando-se apenas uma ocorrência no Imperfeito do indicativo (voltou a se provar que existia ainda substânclas - FNCB2H). Para além do verbo existir, observa-se a ocorrência de alguns itens verbais, tais como,ter (2 dados) evirno Imperfeito do Indicativo, cujos radicais

contêm a consoante nasal palatal (-nh-) e que em principio deveriam induzir a realizaçâo do segmento nasal do PN6 padrâo, como afirma Barbosa (1965, p. 82), a propôsito da nasalizaçâo de vogais em contato com consoantes nasais: "il semble que celle-ci [a nasalizaçâo] soim de règle lorsque la consonne nasale précède la voyelle, et que par contre dane le type uoyelle + consonne la voyelle se maintienne souvent pratiquement orale".

do vai aqueles pa agarrar o coisa - FNCCIM):

90

[p-r

91

Tabela 5. Nûmero de ocorrências de variantes p6

(4) Variante

1a9-padf o_lldlferentesparadigmasverbais(Funchal)

a. eles

- U'tonservadora' vinho brincar (FNCBIM)

b. os meus avôs ero padrinhos da minha irma Gorele

No caso das variantes sem ditongo, coloca-se a questâo de estar em jogo um processo similar ao descrito para a variedade de Braga (RODRIGUES, 2012, p.221), em que, contrariamente ao padrâo, /N/ é associado ao nricleo. As formas [o] e [u] resultariam de um processo de desnasalizaçâo do ditongo nasal em [w] e posterior reduçâo do ditongo nas vogais labiais. A forma [û] corresponderia apenas a um processo de reduçâo do ditongo mas sem a ocorrência de desnasalizaçâo.

A realizaçâo da variante nâo-padrâo com vogal oral [u] ou nasal [û]

estâ circunscrita ao pretérito imperfeito do indicativo. os paradigmas afetados correspondem, em sua maioria, aos contextos de baixa saliência fônica

(diferença circunscrita ao acréscimo de marca de nasalidade, com alteraçào da qualidade vocâlica ou nâo), exceçâo feita a oito ocorrências (uma do tipo vaiem-se por uâo e sete correspondentes aos contrastes de terceira pessoa do Pretérito Perfeito). Na variedade de Funchar, verificam-se, assim, padrôes de variantes de flexâo de P.6 em co'corrência e que seriam, no caso do imperfeito do indicativo, os seguintes: ditongos decrescentes nasais [Ëw] padrâo e [q] nâo-padrâo; sem ditongo nasal, com as realizaçôes nao-padraà, [ù] e [u], ilustradas pelos exemplos em (2) - ( ).

(2) Variante

a.

sem marca (variante sem ditongo, p3=p6) seguida de vogal:

elas à que chegava à escola

'

b.

(FNCBlM)

seguida de nasal:

[problemasl que penalkamais os seus clientes(FNcc3H)

c. seguida de pausa: os cd de

d.

fora que se lixe (FNCC2M)

seguida de consoante nâo-nasal: fu [foram] passando (FNCAIM) verbo existir:

mas os dias

e.

mas existe tarifârios melhores (FNCA3M) (3) Variante a. mas

- EM 'tonvergente"

jâ trabalharem aqui nestas zonas todas (FNCClH)

b. pessoas a

trabalhar comigo que tinhem vergonha (FNCC2M)

c. elas que vaiem-se [vao-se] matando

(FNCAIM)

(FNCBIM)

A verificar-se esta possibilidade no âmbito da variedade insular de Funchal, esta variante poderia ser considerada como 'tonservadoral resultante da difusâo de alguns aspectos observados em subvariedades dos dialetos setentrionais do pE, geralmente caracterizados por traços que nâo sofreram algumas das mudanças ocorridas no dialeto que viria a constituir o PE padrâo.

No caso das outras variantes, sem ditongo, por um lado, e com di_ tongo de convergência, em verbos com vr ra/, rer e rir dopresente do in-

dicativo (e que se estende a outros paradigmas verbais), por outro, poderâ estar em causa apenas a associaçâo ou nâo do autossegmento flutuante /N/' tal como a representaçâo formulada para o pE padrâo por Mateus; Andrade (2000, p. 133). Segundo esta proposta, as variantes sem diton_ go podem resultar da propriedade de leveza que caracteriza os ditongos nasais finais nâo acentuados, de 3" pessoa do plural em formas verbais do PE padrâo. Estes ditongos, mas também aqueles que ocorrem em formas nominais simples (homem) ou com sufixo -agem (paragem, lavagem)e, sâo considerados pds-lexicais pelo fato de se encontrarem em palavras marcadas pela ausência de constituinte temâtico (por oposiçâo aos ditongos nasais lexicais, gerados no léxico e que atraem o acento para o final de silaba (irmào) e que admitem, como rinico segmento em coda, a fricativa /s/ (irmaos). Nos ditongos pds-lexicais, a semivogal é epentética, atendendo e

A reduçâo de ditongos nasais decrescentes deste tipo também ocorre na variedade insular, mas com menor frequência do que observado em variedades clo sul do Brasil

(SCHWINDT; SILVA; QUADROS, 2012, p. 353). Nessas variedades, a classe lexical parece atuar na reduçâo de nasalidade, sendo as formas nominais mais sujeitas à reduçâo do que as formas verbais de p6.

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