A configuração mente e corpo em filmes de Ficção Científica

December 30, 2017 | Autor: Gutemberg Lima | Categoria: Cinema, Filosofia da Mente, Ficção Científica
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A configuração da relação "corpo e mente" em filmes de ficção científica.
Gutemberg de Queirós
A ficção científica, principalmente a partir dos anos 70, propõe debates filosóficos de várias vertentes. Mais do que simples produtos midiáticos, as produções cinematográficas desse gênero são ricas em temas de discussões, inclusive o dualismo mente e corpo.
A temática já fora explorada na chamada Filosofia Moderna, de forma implícita por Descartes, na distinção entre corpo ("res extensa") e alma ("res cogitans") Descartes expõe um dualismo da constituição do corpo. (ANDRADE, 2006, p. 55). Andrade (Idem) então questiona "como uma mente imaterial pode ser capaz de controlar (racionalmente) um veículo-corpo físico, material?"
Esse mesmo questionamento pode ser dado na produção de 1971, Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick. O protagonista, Alex, papel Malcolm McDowell, um sociopata de carisma que pratica inúmeros atos de violência com sua gangue. Após ser capturado e preso, é selecionado para testes de um tratamento psicológico.
O processo nomeado de tratamento de Ludovico é constituído por uma longa terapia aversão a atos violentos. Sob doses de drogas, Alex é preso em uma cadeira e forçado a assistir inúmeras cenas de violência. Durante as sessões, ele fica enjoado por conta da medicação. Dessa forma, haverá assimilação da violência com os enjoos. Alex fica incapaz de agir de forma agressiva.
Todo o tratamento exposto, tanto no livro de Anthony Burgess, como no filme, é uma crítica ao Behaviorismo, a psicologia comportamental. O tratamento de Ludovico é uma caracturização dessa psicologia.
O que está em ponto é como a mente de Alex, entorpecida pelo tratamento, interfere no corpo, causando náuseas. A mente, fazendo assimilações de imagens com sensações, afeta drasticamente o organismo material da personagem.
Outra produção aclamada também de autoria de Kubrick, é o filme 2001: uma odisseia no espaço. Nele encontramos uma controvérsia entre os personagens, David Bowman e Frack Poole, interpretados respectivamente por Keir Dullea e Gary Lockwood, se apresentam de forma robótica na trama. Em contrapartida, o computador de bordo Hall 9000, com a voz de Douglas Rain, apresenta desejos, sentimentos, e uma vontade de entender e ser um humano.
Vemos aqui uma contradição de corpos. Bowman e Poole são cientistas, que durante o filme nada demonstram ser humanos, apesar de o serem. Hall, mesmo sendo uma máquina, demonstra mais características humanas que os cientistas. Os dois primeiros personagens possuem o corpo, enquanto o ultimo possui a mente.
Alguns embates com essa temática podem também ser visto em Matrix (1999), dos irmãos Wachowski. Nos é constatado na trama, que todos os humanos vivem exposto em uma falsa realidade, enquanto os corpos, em um estado de hibernação, são utilizados para fins energéticos.
Nesse caso, Matrix é uma falsa realidade, onde a maioria dos seres humanos acreditam viver. Nessa falsa realidade é que se encontra o fator imaterial, a mente. O fator material, os corpos, são mantidos em casulos para serem usados como baterias para as maquinas.
A filosofia da obra levanta inúmeras questões, nos fazendo suspeitar da nossa própria realidade, e como poderíamos encontrar pistas de que o que nós vivemos não é real. Esse pensamento, novamente, no remete a Descartes, em suas reflexões sobre a distinção de sonho e realidade. (ANDRADE, 2006, p. 56-7)
No filme de Spike Jonze, Ela (2013), vemos uma temática comum no gênero da ficção científica, a relação homem-máquina. Nesse romance, Theodore (Joaquim Phoenix), inicia um relacionamento amoroso com Samantha, um sistema operacional, (Scarlett Johansson). Logo eles se embatem com o fato de Samantha não possuir um corpo físico. Na tentativa de suprir tal necessidade, ela convence uma amiga a relacionar-se com Theodore, enquanto ele ouve Samantha falar.
Notamos novamente, assim como em 2001: uma odisseia no espaço, o desejo da máquina em ter um corpo. Entretanto no decorrer da trama, evidencia-se que Theodore não exige de Samantha um corpo. Sua afeição é originada dos sentimentos expostos por ela. Sentimentos são fenômenos mentais, logo, a relação entre as duas personagens se dá quase que exclusivamente no campo imaterial. São nas mentes, e não nos corpos, que o relacionamento em Ela se desenvolve.
Em Transcendence: a revolução (2014), de Wally Pfister, temos um movimento de fatores. O Dr. Will Caster (Johnny Depp), um pesquisador de inteligência artificial, sofre um atentado o envenenando. Sua mulher, Evelyn (Rebeca Hall) faz uso das experiências do marido para transferir a consciência de Will para um computador.
Após conectado com a internet, Will se desenvolve cada vez mais, e por meio de pesquisa com nanotecnologias, chega a controlar outros corpos humanos. Verificamos então mais de um movimento com esse personagem, que transitou a mente, ignorando seu corpo inicial, e agora sua mente transita em outros corpos. Em outras palavras, Will transcende os corpos com a mente.
Vemos também uma fala interessante do personagem Max (Paul Bettany), demonstrado que sua postura materialista da realidade fora abalada:
"Eu passei minha vida tentando reduzir o cérebro a impulsos elétricos. Eu falhei. A emoção humana pode conter um conflito ilógico. Pode amar alguém, e ainda assim odiar seus feitos." (Pfister, 2014)

Nessa curta analise, tentamos mostra como a relação "corpo e mente" atua em produções cinematográficas com alguns exemplos de filmes de ficção científica. Por certos outros gêneros podem ser analisados, e de forma mais profunda. Entretanto na ficção científica, muito provavelmente, essa problemática será utilizada em produções futuras, por ser uma temática que se associa facilmente a relação homem-máquina, temática essa recorrente no gênero que aqui trabalhamos.

Referências:
ANDRADE, Ramon Souza Capelle de. Conhecimento sensorial: uma abordagem ecológica via realismo informacional. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Marília, 2006.




Graduando no curso Bacharelado em Humanidades pela Universidade Internacional da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), Ceará, Brasil. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PIBIC (2014-2015).

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