A Construção da Narrativa do Repórter Brasil: Uma Análise do Texto e da Edição do Telejornalismo Público

July 22, 2017 | Autor: C. Cardoso de Que... | Categoria: Jornalismo, Public TV, Telejornalismo, Edição De Texto
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XIV CONFERÊNCIA BRASILEIRA DOS ESTUDOS DA FOLKCOMUNICAÇÃO “O ARTESANATO COMO PROCESSO COMUNCACIONAL” I X En con t ro R eg io na l de Co mu n icaçã o

A Construção da Narrativa do Repórter Brasil: Uma Análise do Texto e da Edição do Telejornalismo Público1 Allana MEIRELLES Vieira2 Caio Cardoso de QUEIROZ 3 Iluska Maria da Silva COUTINHO4 Resumo Este artigo tem como proposta analisar o telejornal feito pela TV Brasil, o Repórter Brasil, a partir dos pontos de vista da edição e do texto. De que forma eles contribuem para a construção de um telejornalismo diferenciado, por se tratar de uma emissora pública faz parte dessa avaliação. Análises quantitativas e qualitativas, combinadas com a pesquisa bibliográfica a partir de referenciais teóricos como o de COUTINHO e VIZEU, possibilitaram um olhar crítico e uma observação aprofundada das questões. Este trabalho faz parte de um projeto maior e, portanto, apresenta resultados ainda parciais. Palavras-chave Telejornalismo; TV pública; Edição; Texto.

Este artigo tem como proposta analisar a edição e o texto utilizados no telejornal Repórter Brasil, da TV Brasil. A observação do noticiário como um todo e das matérias inseridas nele será feita, sob o ponto de vista destas duas etapas jornalísticas, finalizadoras da construção da narrativa. A avaliação do telejornalismo da Empresa Brasil de Comunicação se mostra necessária, pois em se tratando de uma empresa pública, pode contribuir para uma produção de maior qualidade. Além disso, faz-se a verificação do comprometimento da 1

Artigo apresentado no GT 1 “Jornalismo” do IX Encontro Regional de Comunicação, Juiz de Fora - MG, 04 a 07 de maio de 2011. 2 Estudante de graduação do 5º período da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal de Juiz de Fora. Bolsista do projeto de Avaliação do Telejornalismo da TV Brasil. email: [email protected] 3 Estudante de graduação do 4º período da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal de Juiz de Fora. Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET Sesu/MEC. email: [email protected] 4 Orientadora do projeto de Avaliação do Telejornalismo da TV Brasil. Jornalista diplomada, doutora em Comunicação, professora do Curso de Jornalismo da Facom-UFJF e coordenadora dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação da UFJF, email: [email protected]

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a TV Brasil com os princípios jornalísticos, potencializados por se tratar de uma empresa com interesses diferentes das emissoras comerciais. Assim, colabora-se ainda na conscientização dos produtores e consumidores da informação. Esta análise se baseou no estudo de pontos que foram observados na construção do telejornal. A partir de então, elementos como a programação visual, a inserção de diferentes vozes nas matérias, o texto e a edição das matérias veiculadas passaram a ser estudados. Partindo de publicações sobre cada um desses temas, as análises qualitativas desses telejornais passaram a ter um caráter qualitativo reforçado. A edição e o texto do Repórter Brasil manhã e noite foram analisadas a partir de edições destacadas e sem continuidade necessária. A escolha por essa metodologia foi feita para que não tivéssemos alguma distorção, no período analisado, sobre o conteúdo geral do telejornal por algum acontecimento ou cobertura especial em específico. Sendo assim, as edições assistidas respeitaram a distribuição semanal do telejornal, mas sem continuidade da data.

TV pública x TV comercial

Os canais de televisão no Brasil são concessões públicas, portanto, devem se comprometer com o interesse público e a responsabilidade social. Entretanto, na prática nem sempre é isso que se vê. As emissoras, ditas comercias, são guiadas pelas leis do mercado. Interesses econômicos estão envolvidos na produção jornalística – proprietários e patrocinadores influenciam o produto final. Já a TV pública é de responsabilidade do Estado, o que não significa ser portavoz deste. Independência comercial e política devem fazer parte de sua linha editorial. Ela deve garantir acesso igualitário a todos, tanto em termos de veiculação como de conteúdo. Pluralidade, inclusão, diversidade, qualidade e identificação devem fazer parte de seu objetivo real. Enquanto a TV comercial possui recursos para investir em tecnologia e pessoal, mas acaba por comprometer a qualidade devido ao atendimento de interesses de 2

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investidores no lugar do interesse público; a TV pública possui independência mercantil, mas, muitas vezes, carece de recursos tecnológicos, prejudicando a produção.

A TV Brasil

Diante de uma enorme discussão sobre uma percepção crítica da produção jornalística brasileira, foi criada, em dezembro de 2007, a emissora pública TV Brasil. Tendo como discurso fundamento a realização de um novo modelo de telejornalismo – contrário à concepção comercial –, o canal “veio atender à antiga aspiração da sociedade brasileira por uma televisão pública nacional, independente e democrática. Sua finalidade é complementar e ampliar a oferta de conteúdos, oferecendo uma programação de natureza informativa, cultural, artística, científica e formadora da cidadania” (TV Brasil, 2010). A Empresa Brasil de Comunicações (EBC), em sua Carta de Princípios, ao criar a TV Brasil, baseia-se no fato de que, sendo financiadas por empresas e instituições que se orientam pela lógica econômica ou política, as emissoras comerciais e estatais não possuem autonomia para o desenvolvimento de seu conteúdo. Desta forma, a TV Brasil viria suprir uma lacuna no sistema de radiodifusão brasileira, já que a Constituição de 1988 prevê uma complementaridade entre a comunicação privada, estatal e pública.

O Repórter Brasil

O principal telejornal da TV Brasil, o Repórter Brasil (RB), é exibido em duas edições - a partir das 8 horas e das 21 horas – desde sua primeira transmissão, em dezembro de 2007. Enquanto o RB manhã é veiculado de segunda a sexta, com um âncora em estúdio, o RB noite vai ao ar de segunda a sábado, tendo três apresentadores nos dias úteis e apenas um aos sábados. De Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, é apresentado o noticiário noturno da TV Brasil.

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Este telejornal possui características que o diferencia de outros, como, por exemplo, a pluralidade. Apesar de ainda haver uma certa centralização das produções nas principais capitais, o que se percebe é a tentativa de mostrar diferentes “Brasis” no telejornal. Matérias produzidas em diversas partes do país, temas pouco vistos nos noticiários da grande mídia ganham espaço no da TV Brasil. Por fazer parte de uma emissora pública, o telejornal possui uma independência comercial que o permite se diferenciar no que diz respeito aos conteúdos veiculados. Por outro lado, erros técnicos e de produção podem ser observados com certa freqüência.

A Edição Telejornalística

A etapa final da elaboração de uma matéria é a edição. É nela que cada elemento constituinte do VT5 ganha sentido e se transforma em uma narrativa. Segundo Coutinho, “a alquimia final, na qual os elementos capturados na reportagem ganham unidade e sentido, é operada na edição do VT, da matéria ou reportagem que vai ao ar, uma atividade que reúne o editor de texto, jornalista, e o editor de imagens, radialista.” (COUTINHO, 2003, p.167). Selecionar, organizar, priorizar fazem parte das funções do editor. Os componentes da reportagem chegam fragmentados e precisam ser colocados no lugar de forma a constituir uma narrativa clara, interessante e ética. “o telejornalista lida com a necessidade de ordenar o aparente caos da fita bruta, em que imagens, entrevistas, passagens e o áudio do off são gravados de forma cuja lógica está ligada ao momento de captação dos registros e não à sua estrutura narrativa. Alia-se a isso a questão do tempo disponível, a possibilidade de alteração das informações até o momento de exibição, as diferenças em qualidade e adequação das entrevistas/depoimentos coletados e ainda a linha editorial do telejornal, e mesmo a marca ou padrão estilístico e/ou político da emissora em que aquele programa está inserido.” (COUTINHO, 2003, p.167)

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VT é a denominação dada ao material mais elaborado, que pode conter offs, sonoras, passagens e outros recursos.

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A função de editar inclui uma grande responsabilidade, já que além de construir uma narrativa, ela pode deturpar os fatos, como defende Sebastião Squirra. Uma sonora6 fora de contexto, uma imagem ambígua, um texto mal formulado ou mal intencionado podem mudar todo o sentido da informação. “a edição, no telejornalismo, pode ser aplicada em direção editorial que distorça radical ou sutilmente a realidade observada, ter enfoques que acomodem um único e definido (e nem sempre conhecido) modelo de opinião, descontextualizar depoimentos, alterando o significado original (sem consultar os depoentes), acolher intenções manipuladoras discretas (e dificilmente perceptíveis pela audiência) e, sobretudo, expressar recortes da realidade com posições [que embutem posições políticas, culturais, de grupos etc. aprioristicamente assumidas e que valorizam específicos aspectos da realidade, distorcendo a estrutura dos fatos em favor de visões sectárias] enviesadas de grupos políticos, empresas, governos, órgãos públicos e privados etc.” (SQUIRRA, 2008, p.2)

Assim como em todas as outras etapas de elaboração jornalística, a edição tem em si indícios que revelam a linha editorial do veículo e do programa.

O Texto Telejornalístico Conciso. O que se espera de um texto jornalístico destinado à veiculação televisiva é que ele consiga transmitir a maior quantidade de informações, de maneira clara, no menor espaço possível. Claro que, para isso acontecer, uma série de regras foram estabelecidas para guiar os profissionais durante o seu fazer jornalístico. Sendo a televisão um meio dinâmico em sua natureza, além de conciso, seu texto precisa ser claro e dinâmico. A clareza é lembrada por EMERIM (2010) como a maneira utilizada pelo jornalista para que o telespectador não precise voltar no texto para entender novamente, já que ele não poderá retornar no vídeo para ver de novo a matéria, salvo casos específicos. Segundo ela, o texto precisa ser “de fácil compreensão, que não seja descritivo e nem apresente frases de efeito que podem desconstruir o

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Sonora é a denominação dada a fala de uma fonte que aparece em reportagens televisivas.

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sentido e transformar a informação isenta num direcionamento de interpretação ou numa opinião”. Este texto sendo claro e conciso, facilita a transmissão da notícia. Essa coesão e concisão textuais acontecem, na prática, através de uma incessante busca pela utilização da ordem direta nas frases, além de se evitar a adjetivação na tentativa de se construir um texto com a menor carga possível de juízos de valor. Ainda falando sobre linguagem jornalística voltada para veiculação televisiva, Iluska Coutinho, citando Zourmer, lembra que “a distração seria o maior inimigo da compreensão do texto jornalístico em televisão e poderia, inclusive, ser motivada por uma imagem espetacular cujo sentido ou significado concorram com o áudio”. No fazer jornalístico para a televisão, “a alternativa utilizada então pelo jornalista é apresentar o enunciado, sua tese e hipótese no começo da matéria, e desenvolver o conteúdo de forma a chegar ao final em um „como queríamos demonstrar‟”. Além disso, “a utilização do recurso do personagem tornaria a narrativa televisiva mais concreta para os telespectadores por meio da identificação com o problema descrito na matéria”, também segundo COUTINHO (2005). Há outros itens que devem ser levados em consideração durante a construção e a “execução” televisiva deste texto. Para que haja compreensão do que está sendo transmitido, o casamento entre imagem e texto deve ser o mais perfeito, somente assim não haverá conflito entre o que é dito e o que é mostrado. O que o telespectador ouve do repórter deve ser mostrado ao mesmo tempo na tela. Mas sendo este texto constituído de palavras simples e diretas, além de uma boa quantidade (e qualidade) de imagens que lhe sirvam de apoio, outros itens entram em questão, como os diálogos estabelecidos entre texto e edição, o ritmo, encadeamento, coerência textual para com o meio e a organização deste texto.

A Estrutura do Telejornal como um Lugar de Segurança

É possível notar certas diferenças entre o Repórter Brasil e os outros telejornais brasileiros, como por exemplo, a organização das matérias por editorias. Ainda que isto 6

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não se constitua como uma regra, percebe-se o hábito de colocar temas da mesma editoria em sequência. Enquanto, nos outros telejornais há uma hierarquização, partindo, geralmente, das informações mais quentes e consideradas mais importantes. Esta opção do RB pode ter o intuito de fornecer ao público um panorama mais completo sobre o tema ou até pretender certa isenção na escolha do ordenamento das matérias. Entretanto, na prática o que se tem é um prejuízo ao ritmo do programa, que acaba ficando monótono. Assim como os outros telejornais, o Repórter Brasil, geralmente, parte dos assuntos mais sérios, como política e economia, para aqueles mais leves, como cultura e esporte. Essa característica contribui para a função de segurança do jornalismo, apresentada por Alfredo Vizeu. “Dentro desse contexto, minha atitude com relação aos telejornais não é diferente: a forma como são organizados, a sucessão das notícias, o final com uma mensagem de esperança, ou com uma matéria para cima, para levantar o ânimo (VIZEU, 2000) deixam-me mais confiante no mundo, mais informado sobre ele.” (VIZEU, 2006, p. 103)

Além disso, essa função de segurança parece ser reforçada ao longo de todo o programa. Há um certo tom otimista no Repórter Brasil. Questões sociais são temas de muitas reportagens, as quais, em sua maioria, são estruturadas de forma a deixarem uma lição de vida, um exemplo em seus finais. As sonoras selecionadas para fechar essas matérias, geralmente, dizem respeito a falas que demonstram esperança ou que afirmam que as situações, ainda que com problemas, estão melhores do que antes. A abordagem econômica também possui o viés positivo. A escolha por pautas que abordem o crescimento de certo setor da economia, que digam respeito a um segmento que faz sucesso em alguma região do país, ou até que apresentem as melhorias conquistadas através de projetos governamentais são frequentemente exibidas. Pontos econômicos negativos também são falados, porém estes, na maior parte das vezes, são seguidos por outras informações positivas, deixando sempre a impressão de que o Brasil está cada vez mais economicamente desenvolvido. Outra característica que pode ser notada no Repórter Brasil e que se enquadra no conceito de Vizeu sobre o telejornalismo como um lugar de segurança é o didatismo. A 7

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linguagem utilizada pelo noticiário, os recursos gráficos que buscam tornar as informações mais claras, as longas entrevistas apresentadas na edição da manhã e os comentários, principalmente, sobre economia no RB noite fazem parte da tentativa de tornar os assuntos mais compreensíveis e próximos do telespectador. “Por isso, na prática diária da produção da notícia, os jornalistas procuram trabalhar no sentido de tornar mais familiar o mundo em que vivemos, como uma espécie de lugar de segurança num mundo cada vez mais inseguro. Essa preocupação em tornar o mundo da vida mais familiar ocorre muitas vezes no jornalismo, o que definimos como uma função didática do jornalismo (VIZEU, 2002. Apud VIZEU, 2006, P.106).”

Apesar da abordagem de temas pouco vistos em outros noticiários, da preocupação social, da tentativa de reflexão, o telejornal não nos deixa um incômodo quando acabamos de assisti-lo. Pelo contrário, a estrutura do programa como um todo, o olhar aparentemente otimista, o didatismo fazem com que a nossa sensação de segurança permaneça.

A Construção Textual do Repórter Brasil

O Repórter Brasil, em suas duas edições, coloca alguns temas em pauta e, de certo modo, o trata de maneira diferente. Essa modificação na forma pela qual o texto será tratado é reflexo do horário no qual as edições são veiculadas. Na edição matutina, vê-se um ritmo textual diferente no telejornal como um todo. Seu caráter mais agendário do que a outra edição, nos dá, em certa medida, a impressão de uma maior preocupação com relação ao entendimento de situações diárias. Durante o Repórter Brasil Manhã, são muito comuns as entradas de repórteres ao vivo com entrevistados sobre os mais variados temas. Ainda que o jornalista tenha uma parte do texto preparado para ser falado na abertura da entrevista, parte do tempo que ele passa no ar precisa ser preenchido com perguntas e respostas que dependem do entrevistado. Muitas vezes, esse tempo gasto em entrevistas e mesmo o excesso da presença deste formato causa uma lentidão, uma morosidade na execução do telejornal. É gasto um tempo muito grande, se comparado ao jornalismo comercial, na explicação 8

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de temas que não demandariam tanto tempo assim.Muitas vezes, esse prolongamento não diz respeito à tentativa de aprofundar o tema, mas aparenta sim, uma falta de material para colocar no lugar. Manter a atenção de um telespectador por algum tempo frente à entrevista de pessoas que, geralmente, tem conhecimento técnico sobre o assunto debatido é algo complicado. O texto do jornal como um todo fica dependente destas entrevistas e ganha uma velocidade diferente, em certos momentos ela chega a ficar arrastada. Este é o tipo de problema que pode gerar distração no seu telespectador, o que pode gerar a mudança de canal ou mesmo a perda de interesse pelo conteúdo da matéria ou da entrevista. Ainda na edição diurna do Repórter Brasil, as matérias veiculadas em VT não possuem um tratamento de organização textual diferente do que é visto nos telejornais comerciais. Seus textos são geralmente feitos em ordem direta e de maneira simples, se descontando as matérias com temas pouco explorados no noticiário comercial, que apresentam excesso de didatismo em busca de uma explicação e justificativa para suas abordagens o tempo todo. Quanto à edição noturna do Repórter Brasil, há algumas características diferentes a serem pontuadas. Entrando ao ar em horário nobre, com mais tempo de duração e uma edição aos sábados, o que não acontece no RB Manhã, o Repórter Brasil Noite ganha um ar diferenciado. Apresentado de três estúdios simultaneamente, o telejornal tem a tarefa complicada de conciliar esses três textos diferentes, fazendo-os casar entre si. Além da necessidade de manutenção de diálogo entre estes textos, o jornal atende a mais pautas chamadas “quentes” do que sua edição do dia. Isso porque ele tem por compromisso servir ao interesse público sem perder em competitividade. Assim, critérios de noticiabilidade citados por Nelson Traquina como os de concorrência, entram em questão. Se as outras emissoras e os outros telejornais cobrem determinadas pautas, o Repórter Brasil, na busca por competitividade não pode deixa-las para trás. A cobertura desses fatos comuns demonstra a preocupação que os profissionais têm com a necessidade de não se fazer nenhum juízo de valor na veiculação da notícia.

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Esta edição do Repórter Brasil, portanto, traz uma construção textual bem diferente. Seu texto é mais ágil e dinâmico do que o da outra edição. As matérias, de uma maneira geral, conseguem se conduzir bem e o formato mais usado durante o telejornal é o VT. Como já dito anteriormente, um dos pontos diferenciais do Repórter Brasil é o agrupamento das matérias por editorias, o que altera consideravelmente a percepção que as pessoas tem do texto. Essa separação em editorias traz um certo cansaço ao telespectador. Por mais que o ritmo e o encadeamento do texto sejam adequados para um formato que é mais didático, comparativamente com o modelo comercial, o excesso de dados e notícias concentrados em poucas temáticas de maneira delimitada traz uma dificuldade de manutenção da atenção do telespectador.

Considerações Finais

As reportagens televisivas são narrativas construídas no processo de edição, a partir de elementos fragmentados, dos quais se destaca o texto. É ele o responsável por amarrar a edição. Em conjunto, estas duas construções permitem a criação de sentido, significados e ideias através da produção jornalística voltada para a televisão. Avaliar a edição e o texto utilizados pelo Repórter Brasil, um noticiário de caráter público, contribui pra entender, consequentemente, as intenções que ele possui. Analisando alguns dos aspectos que o diferenciam e outros que o mantém semelhante ao jornalismo feito pelas emissoras ditas comerciais, o Repórter Brasil se destaca pelo conteúdo apresentado, muitas vezes, pouco explorado pela grande mídia; mas, por outro lado, possui falhas estruturais e técnicas que prejudicam sua imagem e sua audiência. Grandes inovações não são observadas na edição e no texto deste telejornal, que tem o diferencial de possuir como objetivo a utilidade pública. A construção editorial de um lugar de segurança e o seguimento das regras textuais estabelecidas em manuais de telejornalismo são vistas também no Repórter Brasil. Algumas tentativas, talvez por não serem pensadas a fundo ou por falta de recursos, acabam deixando um ar mais de amadorismo do que de ousadia. 10

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Entretanto, a busca confirmada pelo pluralismo e pela abordagem da diversidade cultural e social do país são pontos que fazem com que o Repórter Brasil cumpra em certo aspecto sua função pública. Ainda assim, há várias questões que devem ser refletidas e trabalhadas em prol de um telejornalismo de qualidade, que inclua uma grande variedade de pautas, sim, mas que não se conforme com isso. É importante que se traga o material produzido nas emissoras associadas para serem veiculadas em caráter nacional, como outras emissoras não fazem. Porém, é preciso pensar se estas matérias conseguem atingir um nível de qualidade mínimo em edição e texto, para que se possa superar alguns ruídos inevitáveis a parcela do público como o sotaque, por exemplo. Este artigo faz parte de um projeto maior, que tem como proposta avaliar o jornalismo feito pela TV Brasil e propor mudanças que contribuam para melhorias. Sendo assim, os resultados obtidos ainda são parciais e serão complementados por trabalhos futuros.

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