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22/10/2016

A construção da rede sindical rural entre os PCs de Itália e Brasil (1955­1965)

Nuevo Mundo Mundos Nuevos Nouveaux mondes mondes nouveaux ­ Novo Mundo Mundos Novos ­ New world New worlds Colloques | 2016 Redes internacionales de apoyo y solidaridad con grupos, actores y movimientos político­sociales latinoamericanos, 1955­1995 – Coord. José Manuel Ágreda Portero, Dorothée Chouitem et Massimo De Giuseppe

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A construção da rede sindical rural entre os PCs de Itália e Brasil (1955­1965) The construction of rural trade network by communist parties of Italy and Brazil (1955­1965) [10/10/2016]

Résumés Português English A literatura sobre história política tornou­se recentemente focada sobre experiências e atividades concretas  de  grupos  e  agentes.  Desde  os  anos  20,  a  União  Soviética,  através  do  seu  Partido Comunista  e  da  Internacional  Comunista  (Comintern),  criou  várias  redes  de  discussão  e mobiliação.  Aqueles  contactaram  vários  partidos  e  organizações  europeus  e  latino­americanos, transmitindo  por  Moscou  informes,  teorias,  linhas,  documentos,  planos  e  propostas.  Além  do Krestintern  (Peasantry  International),  no  contexto  rural,  outras  organizações  relevantes  foram  a União  das  Federações  Sindicais  do  Mundo  (UFSM)  e  a  União  Internacional  Sindical  dos Trabalhadores  Agrícolas  e  Florestais  (UISTAF).  Neste  trabalho,  irei  descrever  o  relacionamento entre  italianos  e  brasileiros  naquelas  organizações.  No  Brasil,  o  Partido  Comunista  do  Brasil (PCB)  criou  a  União  dos  Lavradores  e  Trabalhadores  Brasileiros  (ULTAB)  para  promover  a expansão  do  comunismo  e  encorajar  membros  a  participar  nos  assuntos  rurais.  Na  Itália,  os comunistas  Ilio  Bosi  e  Vincenzo  Galetti  revigoraram  a  atividade  do  Partido  Comunista  Italiano (PCI) colocando ênfase sobre a organização regional de sindicatos no Terceiro Mundo, pela UFSM e  UISTAF.  Desde  os  anos  50,  Bosi  e  Galetti  trabalharam  a  produzir  conversações,  eventos  e parcerias  entre  PCI  e  PCB.  Nesse  período,  os  contatos  envolvem  membros  do  PCB  como Lyndolpho Silva, Jose Silva e Nestor Vera. The  literature  about  political  history  has  become  recently  focused  on  concrete  experiences  and activities  of  groups  and  agents.  Since  the  late  1920s,  the  Soviet  Union,  through  its  Communist Party  and  Communist  International  (Comintern),  created  various  discussions  and  mobilization networks.  These  had  contacted  with  various  europeans  and  latin­american  parties  and http://nuevomundo.revues.org/69678

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organizations, transmitting by Moscow informers, theories, lines, documents, plans and purposes. Beside Krestintern, in the rural context, others relevant organizations were World Federation of Trade  Unions  (WFTU)  and  Trade  Union  International  of  Agricultural,  Forestry  and  Plantation Workers (IAFPW). In this paper, I will describe the relationship between italians and brazilians in these organizations. In Brazil, PCB (Communist Party of Brasil) has created the ULTAB (União dos  Lavradores  e  Trabalhadores  Brasileiros)  to  promote  the  expansion  of  communism  and encourages  members  to  participate  in  rural  affairs.  In  Italy,  communist  Ilio  Bosi  and  Vincenzo Galetti  reinvigorated  activity  of  PCI  (Communist  Party  of  Italy)  by  putting  focus  on  organizing regional federations of unions in the Third World,  by  WTFU  and  IAFPW.  Since  the  1950s,  Bosi and Galetti worked to produce conversations, events and partnership between PCI and PCB. In this period, the contacts evolve PCB members as well as Silva, Jose Silva e Nestor Vera.

Entrées d’index Keywords : Communism, PCB, PCI, Italy, Brazil Palavras Chaves : comunismo, PCB, PCI, Itália, Brasil

Texte intégral 1

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Numa  interessante  coincidência,  os  anos  de  1950  foram  cruciais  para  a  Itália  e  o Brasil no plano da questão agrária. Embora possuíssem várias peculiaridades próprias de  seus  respectivos  processos  de  formação  histórica,  suas  estruturas  fundiárias  eram extremamente concentradas. Mas foram exatamente naquele tempo que começaram a irromper diversos movimentos agrários de contestação política. Os quais se alastraram por  diversas  regiões,  principalmente  as  áreas  agrícolas  do  Sudeste  e  Nordeste  do brasileiro, e, Sul (Sicília, Calábria e Puglia) e Centro italiano (Emilia­Romagna). Além da intensa e gigantesca mobilização das “massas rurais”, os agentes políticos externos  (mediadores  políticos)  exerceriam  grande  papel  na  configuração  de  tais movimentos.  E  aqui  vemos  uma  outra  semelhança  entre  os  dois  contextos  :  tais mediadores  eram  na  sua  grande  maioria  militantes  comunistas,  vindos  do  meio urbano. E o detalhe mais notável é que muitos desses militantes, brasileiros e italianos, procuraram estabelecer relações, espaços de debate e intercâmbio de experiências, redes de cooperação e solidariedade. Neste  texto  procuro  demonstrar  a  importância  da  rede  sindical  de  caráter internacional tecida entre quadros do então Partido Comunista Brasileiro (PCB), como Lyndolphho  Silva  e  Roberto  Morena,  e  lideranças  sindicais  do  Partido  Comunista Italiano como Rocco Posca, Ilio Bosi, Umberto Fornari e Vincenzo Galetti.

Lyndolpho e o início da costura do movimento sindical 4

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Lyndolpho  Silva  nasceu  no  interior  de  São  Paulo  (Barretos)  e  foi  morar  muito  cedo município  do  Rio  de  Janeiro,  morou  quase  toda  sua  juventude  em  Mendes.  Ainda jovem foi para Cruzeiro do Sul, em São Paulo, onde trabalhou em frigoríficos e padarias locais. Em 1942, de volta ao Rio de Janeiro, começou a trabalhar no centro do Distrito Federal, numa fábrica têxtil, foi quando teve os primeiros contatos com o PCB, filiando­ se a ele em 1947. 1 Em 1952, por “deliberação partidária”, Lyndolpho começou a militar no campo, junto aos  “posseiros”  de  Campo  Grande,  Santíssimo  e  Senador  Camará,  bairros  que pertenciam  à  “jurisdição”  do  Comitê  Distrital  de  Bangu  do  PCB.  A  este  organismo, subordinava­se a “célula” em que Lyndolpho atuava. 2 Nas  muitas  declarações  que  deu  sobre  a  sua  própria  militância,  Lyndolpho  pouca coisa  diz  a  respeito  de  sua  atuação  no  Sertão  Carioca,  exceto  ao  que  se  refere  à  sua participação  da  luta  na  Fazenda  Coqueiros.  É  provável  que  H.  R.  Faria  já  estivesse atuando  ali  antes  de  sua  chegada.  Diz  ele  que  antes  de  “chegar  lá”,  “já  existia  um movimento  e  uma  associação  de  posseiros  na  região”,  a  Associação  de  Lavradores  da

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Fazenda Coqueiros. 3 Segundo Lyndolpho, estes “estavam muito cheios de razão porque

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eles têm muitos anos lá e sabiam disso, mais de 30 anos [...] E era fácil você defender o direito  desse  pessoal...deles  se  defenderem  inclusive  pelo  tempo  que  eles  tinham  nas terras.”4 Mesmo  militando  há  pouco  tempo  na  região,  Lyndolpho  conseguiu  aprovar  duas “Teses”  no  I  Congresso  dos  Lavradores  do  Distrito  Federal,  realizado  na  sede  da Associação de Lavradores da Fazenda Coqueiros em 1953. Todas referentes ao “benefício pessoal  do  lavrador”  :  a  de  nº  2  propunha  “não  ser  admitida  a  retomada  da  terra trabalhada em culturas ou criação” ; e a de nº 3 defendia a proibição da “exploração, em parceria,  ente  o  proprietário  e  o  lavrador”. 5  Nesse  mesmo  ano  começou  a  atuar  em instâncias  nacionais  do  movimento  rural,  sendo  eleito  membro  permanente  da  I Conferência Nacional dos Trabalhadores Agrícolas. Isso lhe conferiu certo peso para que no ano seguinte se tornasse diretor da Associação de Lavradores da Fazenda Coqueiros. Foi  nessa  condição  que  assinou,  por  exemplo,  o  manifesto  de  convocação  da  II Conferência Nacional dos Trabalhadores Agrícolas de 1954. 6 Ainda em 1954, tornou­se um  dos  redatores­chefe  do  jornal  Terra  Livre,  principal  instrumento  de  agitação  e propaganda no campo do PCB, 7 e participou da criação da Associação dos Lavradores do Sertão Carioca (ALSC), sendo eleito seu vice­presidente. 8 O  próprio  Lyndolpho,  numa  entrevista  dada  ao  prof.  Luiz  Flávio  Costa  em  1994, resumiria assim a guinada em sua vida como militante, a ida do Sertão Carioca para o âmbito nacional : “Em 1954, por ocasião da realização da II Congresso Nacional de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas, foi criada a União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil, aquela que ficou conhecida como ULTAB, uma entidade com base nacional, que pretendia continuar um trabalho, já iniciado, de organização dos trabalhadores rurais. Esse trabalho de organização dos trabalhadores do campo, aqui em nosso país, iniciou­se aí por volta de 1945 por decisão do Partido Comunista, naquele tempo do Brasil e, posteriormente, Brasileiro. Partia do entendimento de que a aliança operário­camponesa era um instrumento fundamental na luta pelo poder e pelo socialismo no país.”

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Dos militantes comunistas que atuaram no Sertão Carioca, Lyndolpho Silva era o que talvez  tivesse  maior  inserção  junto  à  direção  nacional  do  PCB.  Por  conta  disso,  Luiz Sanches  argumenta  que  Lyndolpho  era  primordialmente  um  homem  do  aparato partidário  no  movimento  dos  trabalhadores  rurais,  disciplinadamente  imbuído  da tarefa de defender as posições do Comitê Central no interior do movimento. 9 Portanto, na  prática,  isso  exigia  que  Lyndolpho,  como  líder  sindical  e  redator  do  Terra  Livre, agisse no sentido de fortalecer o movimento sindical no campo por meio da criação de organizações e da realização de eventos, como as Conferências e Congressos de âmbito regional  e  nacional.  Em  função  disso,  tornava­se  imperativo  que  as  organizações criadas no Sertão Carioca não se limitassem à resolução de problemas que só dissessem respeito  aos  seus  lavradores.  É  nítida  a  preocupação  de  seus  dirigentes,  entre  eles Lyndolpho  Silva,  em  fazer  com  que  essas  organizações  se  constituíssem  elas  mesmas em  engrenagens  da  rede  sindical  que  os  comunistas  procuravam  tecer  por  todo  país. Por  isso  mesmo  a  assembléia  de  fundação  da  Associação  de  Lavradores  do  Sertão Carioca,  “realizada  com  19  pessoas  e  o  apoio  de  80  lavradores”,  tratou,  entre  tantas coisas, justamente de eleger 11 delegados à II Conferência Nacional. 10 Nesse evento foi criada a ULTAB – União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil. E o seu primeiro presidente eleito foi o próprio Lyndolpho. Segundo ele um dos principais motivos para isso teria sido sua atuação no Sertão Carioca : “ é critério do Partido, naturalmente, critério natural, quer dizer, de colocar na frente da União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil, na frente do trabalho da União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil ... pessoas na direção, aqueles companheiros que tiveram um certo destaque, mas não só destaque... mas a importância do trabalho que desenvolveram mesmo sem muito destaque, vamos dizer assim publicamente, mas desenvolveram algum trabalho com alguma eficiência em algum lugar onde atuavam. Então, pra você ver o seguinte : quem constitui a executiva da ULTAB, propriamente dito, que veio para cá, foi o Tibúrcio, eu, e o José Portela... Tibúrcio lá de Goiás, que participou da campanha... da luta...que se não me falha a memória foi a luta de

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Formoso...veio o Portela que era arrendatário aqui na Alta Sorocabana, companheiro de toda época de colheita e venda de algodão, tinha luta séria ali na região...alguém de luta de posseiros, nas quais ele participou...e eu, que na verdade estava começando um trabalho de organização dos trabalhadores do campo, na área sobretudo de posseiros, no Estado do Rio de Janeiro. Então, esses...não é a toa, entendeu, que foram esses os companheiros que integraram aqui a direção da executiva... do trabalho do dia a dia da ULTAB.”11 11

Em  1955,  como  dirigente  da  ULTAB,  Lyndolpho  deixou  o  Distrito  Federal  para militar  no  interior  de  São  Paulo,  onde  daria  especial  atenção  à  categoria  dos  “bóias­ frias”. 12

A União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil 12

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Era  o  órgão  oficial  da  União  dos  Lavradores  e  Trabalhadores  Agrícolas  do  Brasil (ULTAB),  entidade  ligada  ao  PCB.  Tinha  sido  concebido  como  principal  instrumento de agitação e propaganda dos comunistas no campo. Segundo Luiz Flávio Costa, “seu surgimento prendia­se às necessidades levantadas pelo Partido Comunista no sentido de  que  era  preciso  criar  um  órgão  que  pudesse  orientar  as  lutas  e  socializar  as experiências no campo”. 13 Segundo o que consta no seu estatuto, essas seriam as “finalidades” da ULTAB : a)  Organizar  os  pequenos  e  médios  produtores  agrícolas,  bem  como  empregados rurais, sem distinção de cor, sexo, raça, concepções políticas, filosóficas ou religiosas, em defesa dos seus interesses e direitos ; b) Promover e estreitar os sentimentos de fraternidade entre todos os trabalhadores ; c) Conceder, na medida das possibilidades, assistência jurídica, médica, dentária e outras ; d) Colaborar com os poderes públicos e com as entidades de modo geral no estudo e solução dos problemas atinentes à vida rural ligados aos interesses de suas filiadas e da Nação ; e) Promover e realizar congressos e conferências. Participar, quando for do interesse da entidade, de reuniões internacionais ; f)  Divulgar  por  todos  os  meios  e  modos  ao  seu  alcance,  conhecimentos  e ensinamentos tendentes à melhoria da prática rural ; g) Assistir e orientar as filiadas em matéria de ordem econômica, jurídica e técnica, bem como adotar medidas no sentido de facilitar a aquisição do material necessário ao exercício das atividades rurais. Por  algum  tempo,  foi  para  a  ULTAB  mais  do  que  um  órgão  de  divulgação  de  suas diretrizes, tendo cedido até mesmo sua sede para que aquela pudesse desenvolver seus trabalhos. 14  Seu  público­alvo  era  os  trabalhadores  do  campo,  de  poder  aquisitivo baixíssimo, e como não tinha verbas de publicidade o Terra Livre dependia quase que integralmente  dos  recursos  que  lhe  despendia  a  tesouraria  do  Partido  Comunista Brasileiro.  O  qual  nem  sempre  podia  fazê­lo,  daí  as  inúmeras  falhas  em  sua periodicidade. A maior delas foi sem dúvida o período que coincidiu com a grave crise interna  ocorrida  por  conseqüência  do  XX  Congresso  do  Partido  Comunista  da  União Soviética em 1956, quando houve as denúncias dos crimes de Stálin. Os conflitos entre o grupo “renovador”, liderado por Agildo Barata, e o grupo “stalinista”, encabeçado por Diógenes  Arruda,  Francisco  Grabois  e  João  Amazonas,  em  torno  do  relatório  de Kruschev  teriam  levado  o  partido  à  beira  da  desintegração.  Lindolpho  Silva  assim comento o caso : “Quando estourou a questão ao do culto do Kruschev sobre a questão do Stalin...entrou também o problema do combate ao culto à personalidade. Essa questão toda refletiu no interior da Direção Nacional, e sobretudo da Comissão executiva, dessa mesma direção, de tal maneira, que paralisou o Partido. Alguns queriam efetivamente enfrentar o problema, outros não queriam, porque estavam demasiadamente comprometidos com esse passado todo, né...isso paralisou o

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Partido e como conseqüência, as finanças do Partido também caíram. A direção impotente diante...de seu trabalho, do trabalho coordenado e direção do Partido...começou a...como se diz, a se livrar de alguns quadros...pesando alguns do ponto de vista político, outros do ponto de vista financeiro...né ?”15 22

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Em  maio  de  1957,  Barata  romperia  com  o  partido,  levando  com  ele  outros “renovadores”.  Além  disso  o  partido  também  perdeu  Bruzzi  Mendonça,  o  único deputado federal pelo partido, a maior parte dos intelectuais da imprensa comunista, grande  parte  da  intelectualidade,  como  também  muitos  dirigentes  regionais, principalmente de São Paulo. 16 A crise financeira seria atribuída exatamente à saída de Agildo  Barata,  que  por  muito  tempo  foi  o  responsável  pelas  finanças  do  partido.  No caso específico da imprensa comunista, a crise financeira somou­se a perda de muitos de  seus  profissionais.  Por  um  certo  momento  depois  dessa  crise  o  Terra  Livre,  o Imprensa  Popular,  o  Voz  Operária  e  o  Notícias  de  Hoje  (São  Paulo)  deixariam  de circular. 17 A  linha  geral  da  atuação  do  Terra  Livre  tinha  como  princípio  fundamental  a necessidade de veicular a política pecebista no campo e potencializar o trabalho de seus militantes.  Dentro  desta  linha  o  jornal  procurava  exercer  funções  que  estivesse  em conformidade  com  a  atuação  da  ULTAB  no  campo.  Segundo  Leonilde  Medeiros,  os papéis  exercidos  por  esta  eram  :  porta­voz  dos  trabalhadores  do  campo  junto  aos poderes constituídos ; mediadora jurídica dos trabalhadores do campo ; mobilizadora e porta­voz  dos  trabalhadores  rurais  no  espaço  público  ;  e  “educadora”  (formadora  de dirigentes mediante a generalização das experiências). 18 No  Terra  Livre  a  preocupação  de  implementar  cada  um  daqueles  princípios  da ULTAB ficava bem nítida, por exemplo, quando publicava freqüentemente modelos de documentos necessários à fundação de sindicatos e outros procedimentos necessários para sua constituição. 19 No  caso  do  Sertão  Carioca,  é  bem  nítido  o  esforço  do  jornal  em  impulsionar  os “lavradores” a criarem as suas próprias organizações. Próprias em certo sentido, já que se  buscava,  na  verdade,  que  estas  organizações  orbitassem  em  torno  da  ULTAB  e, conseqüentemente,  do  PCB.  Em  todo  caso,  ganhava  sempre  amplo  destaque  as iniciativas  dos  lavradores  que  apontassem  para  tal  caminho.  Certa  feita,  o  jornal noticiou  que  em  Campo  Grande  a  primeira  medida  de  um  grupo  de  lavradores ameaçados  pelo  grileiro  Benedito  Velasco  teria  sido  “se  organizar  e  participar  da segunda  Conferência  Nacional  de  trabalhadores  Agrícolas”,  já  tendo  marcado  “uma reunião  na  qual  será  fundada  uma  Associação  para  a  defesa  de  seus  direitos”. 20  Em outra  ocasião,  ao  cobrir  a  realização  do  2°  Congresso  dos  Lavradores  do  Distrito Federal, o Terra destacava que : “Através dessa importante reunião, maior desenvolvimento tomarão as lutas dos posseiros, arrendatários, pequenos e médios proprietários e assalariados agrícolas do DF no sentido de sua organização e unidade e da defesa de seus direitos e reivindicações.”21

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Em  certos  momentos  os  papéis  de  porta­voz,  mobilização  e  “educação”  eram realizados  simultaneamente  pelo  jornal.  Foi  o  que  ocorreu  quando  da  cobertura  da fundação  da  Associação  dos  Lavradores  do  Sertão  Carioca.  Segundo  o  repórter  que assinava  a  matéria,  o  “Terra  livre  deu  uma  grande  contribuição  à  formação  desta Associação, transmitindo experiências e as lutas dos lavradores de outros Estados”. 22 O nome  deste  repórter  era  Lyndolpho  Silva,  que  era  também  vice­presidente  daquela Associação e principal liderança da ULTAB. Mas teria sido o Terra Livre um jornal realmente influente junto aos trabalhadores do campo ? A proposta de se tornar a voz dos “camponeses” e importante ponto de apoio de  suas  lutas  teria  realmente  conseguido  superar  os  limites  da  mera  retórica partidária  ?  Os  depoimentos  de  ex­lideranças  camponesas  disponíveis  sobre  esse assunto nos levam a responder negativamente. Ressalta­se desde já que a imagem que se constrói sobre o Terra Livre é indissociável da imagem da ULTAB. Tais ex­lideranças, inclusive do próprio PCB, são unânimes em afirmar que tanto a ULTAB como o Terra Livre eram na verdade órgãos de cúpula. Segundo Francisco Julião :

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“Todo mundo estava percebendo que a ULTAB não era mais que um apêndice do Partido Comunista, que pretendia chegar ao campo através dessa organização e não chegou, porque ela estava completamente fora da realidade, da cultura e da vida dos camponeses. Por isso, considero que não vingou. Vingou através dos jornais – tinha o papel de denunciar. Mas não passava disso, não teve capacidade para organizar e unir as massas camponesas.”23 28

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Se  no  depoimento  de  Julião  –  a  liderança  que  talvez  tenha  sido  o  maior  rival  dos comunistas no campo – o Terra Livre é poupado de críticas mais sérias, o mesmo não acontece  no  depoimento  de  Irineu  Moraes,  liderança  camponesa  do  PCB  no  interior paulista. Para ele nem o Terra Livre nem a ULTAB trabalhavam no campo : “era coisa de cúpula mesmo, que não ajudava nada. 24  “Para  dizer  a  verdade,  a  ULTAB  só  tinha essas  cinco  letras.  A  ULTAB  era  uma  organização  que  significava  a  representação nacional dos camponeses pelo partido. Mas de fato, era só uma organização de cúpula, só tinha essas cinco letras e nada mais”. E o que tinha o próprio Lyndolpho Silva a dizer sobre isso ? Já como ex­militante do partido ele reconheceria as afirmações de seus ex­“companheiros” : “A ULTAB era uma criação de cúpula, com pouca base, que depois se desenvolveu. Não possuía sede [...] utilizávamos a sede do jornal Terra Livre. Os três elementos da direção da ULTAB [ele, Geraldo Tibúrcio e José Porfírio] viajavam para o interior, quando era preciso, quando chamavam, quando podíamos, ms era um trabalho muito tênue [...]. Na verdade, a gente só começou a se apoiar novamente nos dois pés lá pelo ano de 1959, quando se realizou a I Conferência da ULTAB.”25

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Entretanto, em 1959 ainda se ouvia críticas no interior do partido, especialmente de militantes  ligados  ao  campo,  quanto  a  persistência  de  uma  linha  sindical  comunista que  ainda  subestimava  o  “trabalho  de  massas  e  o  trabalho  sindical  em  particular”  e superestimava o trabalho de cúpula. Essa linha teria sido intensificada com a definição da política de frente única sancionada pela “Declaração de 58”, quando a ação contra a estrutura sindical corporativista foi abandonada em favor da luta pelo reconhecimento dos  sindicatos  oficiais,  federações  e  eleições  de  dirigentes  em  Confederações  de Trabalhadores. 26 Mesmo  assim,  penso  que  tais  depoimentos  continuam  a  deixar  uma  questão  em branco  :  afinal,  quais  eram  nesses  órgãos  de  cúpula  os  mecanismos  de encaminhamento das reivindicações dos trabalhadores do campo ? Pode­se pensar que se  trata  de  uma  pergunta  sem  sentido,  pois  se  eram  órgãos  de  cúpula conseqüentemente  não  haveria  nenhum  espaço  para  o  encaminhamento  das “verdadeiras”  reivindicações  de  quem  constituía  a  base.  Entretanto,  estudos  mais recentes  têm  demonstrado  que  algumas  organizações  representativas  dos  “novos” movimentos sociais, que sempre se pautaram pela defesa das decisões a partir da base por  exemplo,  também  possuem  mecanismo  de  mediação  semelhantes  aos  das organizações  ligadas  a  antiga  e,  segundo  R.Ricci,  “pouco  ativa”  estrutura  sindical pré­64. 27

A luta pela reforma agrária na Itália 32

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Ainda vivendo os rescaldos da II Guerra Mundial, vivenciando ainda uma serie crise economica, a Italia. Os índices de inflação e de desemprego galopavam. Guido Fabiani lembra que o caos tem importantes desdobramentos no plano político. O governo era dominado pelos liberais, que socorridos pelo grosso dinheiro advindo do  plano  Marshall,  buscavam  modernizar  a  estrutura  social  italiana,  destruindo  por completo o legado fascista, mesmo que para isso, significasse destruir alguns direitos trabalhistas. A oposição de esquerda, até por isso, era feroz. Mas esta se encontrava dividida entre social­democratas,  socialistas,  comunistas.  Mas  eram  estes  últimos  que  detinham  a hegemonia sobre o CGIL (Confederazione Generale Italiana del Lavoro) e buscavam se expandir  pelo  meio  rural.  Outras  associações  importantes  eram  a  Federmezzadri

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(Federazione  Nazionale  coloni  e  mezzadri)  e  a  Federbraccianti  (Federazione  nazionale de braccianti e salariati agricoli). A crise acaba se espraiando pelo campo, onde ainda no final da década de 1940. Por um  lado,  a  imensa  maioria  da  agricultura  italiana  sofria  com  as  tecnicas  arcaicas  e formas  de  gestao  atrasadas,  em  especial  na  chamada  "Italia  meridional".  Por  outro lado,  os  efeitos  de  tal  situacao  era  enormemente  potencializados  pela  grande concentracao de terras. Na Calábria, por exemplo, um quarto das terras era dominado por pouco mais de 200 proprietários. 28 Tais fatores conjugados serviram de catalizador para um imenso movimento de luta pela terra e reforma agrária que passa a tomar conta do meio rural italiano já a partir de meados da década de 1940 – quando a II Guerra ainda se desenrolava. Entre 1949 e 1950, o Governo tentará debelar os movimentos por meio de bastante repressão. Mas o volume da insatisfação e amplitude das ações “camponesas” parecia ser imparável. E a radicalidade só aumentava. O governo intervém nesse caso de maneira abusiva. Os episódios de violência iam dos blocos das estradas, à destruição de feixes à danificação de máquinas agrícolas. Linhas inteiras de vidro foram cortadas, numerosa palha jogada no fogo, quem não aderisse ao protesto era insultado. Contra  a  polícia  foram  disparados  diversos  tiros  de  arma  de  fogo,  se  registrando lançamentos de bomba à mão e sequestro de pessoas. Um proprietário foi espancado por 500 manifestantes. A reação do filho resultou em tragédia. Neste clima imediato foi levada à aprovação um projeto de lei sobre a reforma dos contratos de arrendamento e de aluguel. 29 Em  Melissa,  na  região  de  Crotone  (Calábria),  a  penúria  dos  trabalhadore  rurais acabou dando ensejo a uma série de conflitos. Quase quinhentos camponeses partiram resolvidos a ocupar fazendas devolutas, repartiram as terras entre eles e iniciaram ali mesmo o cultivo e trato dos lotes. Em Palermo, as forças públicas de segurança tiveram que intervir para impedir uma onda de invasão de terras. Em Brescia, um fazendeiro idoso chegou a ser morto. Guido Fabiani diz que as lutas dessa época eram bem diferentes daquelas vivenciadas no período 1919­1920. Se ali a invasão de terras era fruto de um ato de desespero, as refregas  do  período  1949­1950  demonstravam  a  apropriação  do  próprio  ato  da “invasão” como estratégia de luta, um meio de obter mais e mais terra. Além disso, por conta  da  grande  influência  de  forças  políticas  de  esquerda  (PCI,  PSI)  junto  aos movimentos, os “camponeses” não almejavam apenas um remédio momentâneo para o seu problema imediato (um lote de terra que fosse), eles queriam muito mais : queriam revolucionar  a  própria  estrutura  fundiária  e  social  como  um  todo,  que  eles identificavam como as grandes produtoras de injustiça. 30 Em  1952  surge  a  Alianza  Contadina  (Aliança  Camponesa),  mais  um  grupo pressionando por transformações efetivas no campo italiano. Além da reforma agrária, os  grupos  “camponeses”  lutavam  por  melhorias  dos  contratos  e  dos  salários  e  mais crédito para a compra de instrumentos, maquinários, sementes etc. Como  forma  de  resposta,  os  governos  liberais  de  De  Gasperi  procurou  minorar  a situação  parcelando  e  distribuindo  um  significativo  número  de  lotes  rurais, beneficiando  200  mil  famílias.  Embora  longe  de  resolver  os  problemas  fundiários  e agrícolas da Itália houve uma melhoria das condições de vida no campo e um aumento da própria produção agrícola. Alessandra Zarconi assim sintetiza todo aquele momento : “No curso de 1950 foi aprovada a reforma agrária : previa a eliminação do latifúndio via expropriação (sob indenização) de cerca de 700 000 hectares no Mezzogiorno, pela criação de uma pequena propriedade camponesa, sem nenhuma concessão à cooperativa. Não se verifica um excessivo fracionamento, [o] que determina a falência da reforma. Analogamente ao que ocorreu depois da eliminação dos fascistas, a resposta nesse momento é a emigração, desta vez até a Itália Setentrional.”31

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A situação conflitiva do meio rural italiano era um dos maiores focos de tensão social de toda a Europa nos anos 50. E isso chamava muito atenção do Brasil, em especial dos

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militantes  comunistas.  Há  que  se  destacar  que  no  início  tal  interesse  se  revelaria  nas matérias  sobre  os  eventos  italianos  fartamente  divulgados  na  imprensa  do  Partido Comunista,  como  a  Tribuna  Popular,  a  Imprensa  Popular,  Voz  Operária,  Classe Operária e Terra Livre. Num  segundo  momento  o  interesse  brasileiro  seria  correspondido  por  um  vivo interesse  italiano  pelo  que  se  passava  no  meio  rural  daqui.  E  quando  se  inicia  a montagem  de  grande  rede  envolvendo  militantes  da  questão  agrária  dos  dois  países, principalmente  os  que  eram  ligados  a  seus  respectivos  Partidos  Comunistas.  São  os casos de Lyndolfo Silva e Vincenzo Galetti, mas de alguns outros nomes.

Algumas lideranças do meio rural italiano 49

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Um  importante  nome  foi  o  de  Gori  Lombardi,  militante  do  Partido  Comunista Italiano.  Foi  um  dos  delegados  da  primeiro  congresso  da  Federal  Comunista Camponesa, em 27 de fevereiro de 1947. Meses depois, Gori organizaria o Comitato di Liberazione  Nazionale  in  Terra  di  Lavoro  (Comitê  de  Liberação  Nacional  da  Terra  de Trabalho).  Junto  a  Corrado  Graziade  de  várias  lutas  camponesas,  organizando marchas de ocupação de terra inculta de Carinola (Campania). Por todo seu empenho ele acaba sendo designado para dirigir a sessão agrária da Federação de Caserta em 2 de junho de 1946. A  base  da  ação  de  Gori  era  a  luta  constante  pela  reforma  agrária,  usando  como principal estratégia a ocupação de terra. O maior alvo dessa iniciativa eram as terras incultas. 32 Tal estratégia de luta nortearia como uma idéia­força as ações das lideranças comunistas que atuavam junto aos “camponeses”. 33 A partir de junho de 1946 ele passa a : “A dirigir a seção agrária da Federação de Caserta. De fato, Gori Lombardi é o homem no qual a federação põe fé e ele não frustrou as expectativas. Na sua intervenção do dia da posse, fez um discurso em que explicita que ‘pela luta de terra inculta é necessário precisar o lugar onde existem, se são verdadeiramente incultas, quais são os marcos, a extensão”.34

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Em  termos  de  estrutura  sindical  dos  trabalhadores  do  campo  outro  nome  de destaque foi o de Eli Bosi, também comunista. Nascido  em  4  de  outubro  no  seio  de  uma  família  paupérrima,  Ilio  Bosi  começou  a militar na fração terceiro­internacionalista do Partido Socialista, contra a maré fascista que  estava  se  consolidando.  Em  1924  foi  para  o  Partido  Comunista,  atuando  de maneira clandestina no Mezzogiorno. Em 1926 foi preso em Catania, sendo condenado em 10 anos sob regime de reclusão. Saiu em pouco tempo após ter a pena abreviada. Seria  preso  novamente  em  1934,  pegando  quase  18  anos  de  cadeia.  Solto  após  a queda  do  fascismo,  Ilio  passou  a  organizar  a  Resistencia  nos  vales  de  Comacchio. Depois seguiu para Milão, como inspetor do Comando Geral da Brigada Garibaldi. Após  a  Liberação  contra  as  forças  nazistas,  Bosi  foi  chamado  a  Roma  pela  direção nacional do Partido Comunista. Logo depois se dirigiu para Ferrara. Eleito constituinte em  1946,  Bosi  foi  confirmado  por  quatro  legislaturas  sucessivas,  período  no  qual  foi secretário  da  Confederterra  e  passou  a  atuar  em  nível  internacional,  participando  de eventos  e  debates  com  organizações  de  outros  países.  Foi  nesse  momento  que  ele conheceu Lyndolfo Silva e a própria ULTAB. Outra  liderança  domovimento  sindical  agrário  italiano  –  e  o  principal  para  os propósitos dessa apresentação – foi Vincenzo Galetti. Galetti  nasceu  em  Bolonha.  O  início  da  sua  trajetória  de  vida  é  incrivelmente semelhante ao de Lyndolpho, e quase na mesma época. Filho de lavradores muito pobres do vilarejo de San Pietro de Casale, foi muito cedo para  a  cidade  de  Galliera,  onde  frequentou  a  escola  –  por  pouco  tempo.  Ainda adolescente se tornou aprendiz de eletricista e, mais tarde, tornou­se operário de uma

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fábrica local, isso no verão de 1942, bem no meio da II Guerra. Após o armistício de 8 de setembro, passa a ser um dos organizadores da Liberação de Galliera. Após se inscrever no Partido Comunista Italiano na virada do ano de 1944­45 ele se torna o responsável por toda a zona dessa região na Bolonha. Ao longo de 10 ocuparia uma série de cargos no Partido. Por volta de 1954 assume o carto de inspetor do Comitê regional.  No  mesmo  ano  decide  militar  na  estrutura  sindical,  ocupando  importante posição na Confederazione Generale Italiano di Lavoro. Em pouco tempo é transferido pelo  Partido  para  Praga  de  modo  a  ocupar  o  cargo  de  secretário­geral  da  União Internacional dos Sindicatos de Trabalhadores Agrícolas e Florestais (UISTAF). A UISTAF era subordinada a Federação Sindical Mundial35, criada pelo Cominform e que teria o papel de rivalizar com a ONU no seio do blodo socialista É  durante  a  sua  passagem  por  Praga  que  ele  passa  a  se  interessar  mais  pelo  que ocorre  em  termos  de  questão  agrária  na  América  Latina,  principalmente  no  que  diz respeito ao Brasil e a Cuba. Em 1964 volta a Bolonha para assumir um posto no Comite federal do Partido e em 1966 chega ao cargo de secretário­geral da Federação comunista bolonhesa. Além  dos  vários  cargos  no  Partido  Comunista  Italiano  e  nas  organizações supranacionais (como a União Internacional dos Sindicatos de Trabalhadores Agrícolas e  Florestais),  Galetti  ainda  foi  eleito  para  varios  públicos  como  os  de  conselheiro comunal de Bolonha (1064­75) e presidente da Comissão governativa nacional (1975­ 79). 36

As correspondencias entre ULTAB e UISTAF 63

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Das  106  correspondencias  passivas  de  Lyndolpho  Silva,  39  são  de  autoria  de Vincenzo Galetti. O segundo com mais cartas é Eli Bosi, tendo escrito seis. Elas cobrem o período de 1958 a 1970. Outros italianos que aparecem como missivistas no Arquivo Lyndolpho Silva é Rocco Posco, Loris Abbiati e Umberto Fornari.  Os contatos entre as duas entidades começaram quando o secretário da ULTAB era Pedro Renaux Duarte e o da UISTAF Ilio Bosi. As cartas de Bosi já sinalizam aspectos que serão reafirmados poucos anos depois nas correspondências de Galetti. Nos anos 1950, o Brasil, por sua extensão e pelo enorme número de associações e conflitos agrários era o país que mais interessava os militantes comunistas do Velho Continente. Numa carta de abril de 1959, Bosi assim formula a questão : “Es justamente en ese pais donde nuestra atención debe detenerse con mayor cuidado y meditación. Las experiencias que alli se obtengan pueden ser inútiles para todos los trabajadores del campo y la firmeza con que se consoliden las organizaciones y su unidad, permitirá a organizaciones de otros paises contar siempre con el apoyo de los trabajadores brasileros ; estos pueden constituir un sòlido bastión para la unidad y para las luchas de los trabajadores agrícolas y de los campesinos de toda la América Latina o de buena parte de ella”.

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Na  visão  de  Bosi  a  grande  extensão  do  país  tornava  tudo  muito  mais  complexo,  a começar  pela  grande  variedade  de  categorias  de  trabalhadores,  o  que  tornava  o  meio rural brasileiro o mais “complexo do mundo”. Nenhuma  das  cartas  trocadas  entre  Vincenzo  e  Lyndolpho  são  pessoais  –  assim como  as  trocadas  com  Ilio.  As  correspondencias  foram  cambiadas  entre  um representante  da  então  ULTAB  (União  dos  Lavradores  e  Trabalhadores  Agrícolas  do Brasil)  e  UISTAF  (União  Internacional  dos  Sindicatos  de  Trabalhadores  Agrícolas  e Florestais).  Todas  foram  enviadas  de  Praga,  rua  Opletalová  57  (sede  da  UISTAF)  e endereçadas à sede da ULTAB, na avenida Rangel Pestana, 2163, 1º andar – sala 11. Nas cartas de Galleti a Lyndolpho (há outras poucas enviadas a Carlos Marighella, Jose Francisco da Silva, Armando Ziller, Carlos Prestes e Nestor Vera) vários aspectos

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ficam evidenciados. Um  primeiro  é  a  dificuldade  estrutural  e  financeira  das  entidades.  O  que  se  revela pela  dificuldade  de  financiamento  de  eventos  por  elea  organizados  e  da  ida  de militantes  eventos  fora  do  país,  o  que  é  admitido  em  uma  das  cartas  pelo  próprio Galetti. A falta de “pessoal” (trabalhadores da parte administrativa) também se revela na  extrema  demora  da  obtenção  de  resposta  da  parte  da  ULTAB  e  às  indagações  e demandas da UISTAF. Fato este que implicará, por várias vezes, em apelos e críticas de Galetti aos “camaradas” da ULTAB e do próprio Partido Comunista Brasileiro. Por  várias  vezes  Galetti  se  mostra  impaciente  com  a  morosidade  das  informações. São  frequentes  perguntas  como  “E  la  preparazione  della  conferenzia,  come  procede  ? Hai notizie ?” Numa  outra  carta,  no  mesmo  ano,  assim  ele  inicia  o  texto  :  “Carol  Silva.  Vorrei attirare la tua attenzione sul fatto che, dopo il nostro ultimo incontro a Praga, non ho fui avuto notizie del lavoro di preparazione della nostra conferenza”. Em mais uma de agosto de 1961, Galetti, em tom resignado desabafa a Lyndolpho : “Tu te demostrastes muy  interessado  y  me  prometistes  hacerme  conocer  las  decisiones  que  tomarias  con éste propósito”. Um segundo ponto relevado pelas correspondências é o grande interesse dos italianos – e dos europeus em geral – ao que se passava na América Latina. O que se desdobrará na articulação de uma ampla rede de militantes que abarcará países como Peru, Chile, Equador,  México,  Argentina,  Cuba,  Venezuela,  Brasil  e  Haiti.  As  iniciativas  de intercambio conseguiam alcançar lugares mais longínquos ainda, como China e Japão, que sediaram eventos sobre a questão dos trabalhadore agrícolas e florestais. Tratava­se de uma rede de militantes comunistas de caráter mundial. Mas  uma  rede  ainda  precária,  sem  grandes  recursos,  tendo  que  lidar  com  os obstáculos (seríssimo para a época) das grandes distâncias, não só da América Latina em relação à Europa, como no interior mesmo da região do “novo Mundo”. Não obstante, tal rede logrará organizar alguns eventos, tanto “lá como cá”, reunindo militantes  comunistas  dos  diferentes  países.  E  é  sempre  bom  lembrar  que  tal  rede  se mostraria vital na salvação de militantes que passariam a fugir dos regimes militares implantados no Cone sul a partir de 1964. Um  terceiro  aspecto  a  se  destacar  é  que  desde  sempre  a  UISTAF  priorizava  os contatos com os Comunistas brasileiros. E a partir de 1959, ano da Revolução Cubana, as  preocupações  também  passam  a  se  direcionar  com  mais  intensidade  para  a  ilha caribenha. O  quarto  aspecto  a  se  destacar  é  que  a  rede  então  viabilizada  pelos  contatos  com  a UISTAF  ajudavam  a  fomentar  um  intenso  intercâmbio  de  informações  sobre  a conjuntura  europeia  e  a  italiana  em  particular.  Há  que  se  ampliar  mais  as  pesquisas sobre esse aspecto, mas é muito possível que tais contatos tenham influenciado para a leitura  que  o  próprio  PCB  tinha  sobre  o  meio  rural  brasileiro,  e,  mais  precisamente, sobre a questão da luta pela terra no interior do país. É possível que o maior conhecimento do que se passava no universo agrário italiano, observando assim o conturbado processo de reforma agrária naquele lugar na segunda metade  da  década  de  50,  com  frequentes  casos  de  ocupação  de  terra,  tenha  exercido notável impacto em algumas inflexões de orientação do PCB a respeito das estratégias a serem desempenhadas nos conflitos envolvendo posseiros e grandes proprietários pelo domínio de terras. Não parece ter sido ao acaso e nem completa coincidência a decisão deste partido em fomentar a ocupação de terras mais ou menos na mesma época.

Conclusões 79

Os  acontecimentos  referentes  às  lutas  do  movimento  de  trabalhadores  rurais  no Brasil  tiveram  grande  ascensão  nos  anos  1950.  Não  demorou  muito  para  que  ele conseguisse  grande  reconhecimento  no  continente  europeu,  principalmente  por  parte de partidos e associações ligadas ao movimento comunista sob a influência soviética.

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A  recíproca  também  era  verdadeira.  E  o  interesse  do  Brasil  pelo  que  acontecia  na Itália, principalmente o que dizia respeito à luta pela reforma agrária era até anterior, tendo se iniciado ainda na década de 1940, como prova a ampla cobertura dos jornais do Partido Comunista Brasileiro. E  esse  interesse  dos  dois  acabou  se  desdobrando  numa  importante  rede  de colaboração  e  solidariedade  entre  os  dois  movimentos,  destacando­se  aquelas efetivadas  por  militantes  brasileiros  e  italianos  (estes  ligados  ao  Partido  Comunista Italiano).  Sendo  os  principais  nomes  os  italianos  Ilio  Bosi  e  Vicenzo  Galetti, representado a UISTAF e os brasileiros Pedro Renaux e Lyndolpho Silva, representando a ULTAB. Tal rede em pouco tempo acabou se espraiando por vários países da América Latina.  A  questão  agrária  deste  continente  deveu  muito  de  sua  visibilidade  e reconhecimento na Europa por conta dos esforços daqueles militantes italianos. Além  de  toda  a  troca  de  experiências,  idéias  e  observações,  essa  rede  cumpriu importante  papel  na  viabilização  de  exílio  em  favor  de  alguns  militantes  brasileiros perseguidos pelo regime militar instaurado a partir de 1964. Imagem 1 – Lindolfo em evento de apoio a Revolução Cubana.

Acervo : Jornal Novos Rumos, agosto de 1961.

Imagem 2 – Lyndolpho Silva na conferência de Francisco Julião no Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Santo André, SP, ao lado de Miguel Guinle, diretor do Sindicato, 5/7/1961.

Acervo : Arquivo Lyndolfo Silva/UFRRJ. http://nuevomundo.revues.org/69678

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Imagem 3 – Ilio Bosi. Década de 60.

Acervo L’Unità.

Imagem 4 – Galetti em foto do final da década de 1970.

Acervo L’Unità.

Imagem 5 – Galetti em conferência da FSM ocorrida entre os dias 14 e 16 de dezembro de 1962.

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Acervo L’Unità.

Bibliographie

Jornais : Classe Operária Imprensa Popular Novos Rumos Tribuna Popular Voz Operária L’Unitá La Republica

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em 

:

Welch, Cliff e Geraldo, Sebastião. Sebastião. Lutas camponesas no interior paulista : memórias de Irineu Luís de Moraes. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1992.

Notes 1 Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro, p. 5429. 2  Sanches,  Luiz  Elias,  Lyndolpho Silva. Biografia  de  uma  militância,  Itaguaí,  CPDA/  UFRRJ, Dissertação de mestrado em Ciências Sociais, 2000, p. 53 e 72. 3 Ibidem, p. 72. 4 Ibidem. 5 APERJ. Fundo DPS/ 1881 : “I Congresso dos Lavradores do Distrito Federal” (1953), fl. 7, doc. 8. 6 Terra Livre, 2º quinzena de Julho de 1954, p. 3. 7  Costa,  Luiz  Flávio  Carvalho,  Sindicalismo  rural  brasileiro  em  construção,  Rio  de  Janeiro, Forense/ UFRRJ, 1996, p. 50. 8 Terra Livre, 2º quinzena de agosto de 1954, p. 5. 9 Op. cit., Sanches, 2000, p. 70. 10 Terra Livre, 1º quinzena de 1954, p. 6. 11 Entrevista dada a Luiz Flavio Costa, 1994. 12 DHBB, p. 5429. 13 Op. cit., Costa, 1996, pp. 50­1. Outro importante trabalho sobre a atuação do Terra Livre é de autoria  de  Medeiros,  Leonilde  Sérvolo  de,  “Os  trabalhadores  rurais  na  política  :  o  papel  da imprensa  partidária  na  constituição  de  uma  linguagem  de  classe”,  Estudos  Sociedade  e Agricultura, 1995, nº4. http://nuevomundo.revues.org/69678

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14  Depoimento  de  Lyndolpho  Silva  a  Ricci,  Rudá,  Terra  de  ninguém  :  representação  sindical rural no Brasil, Campinas, ed. da Unicamp, 1999, p. 110 (nota 45). 15 Cunha, Paulo Ribeiro Rodrigues da, “Aconteceu longe demais”, A luta pela terra dos posseiros de  Formoso  e  Trombas  e  a  política  revolucionária  do  PCB  no  período  1950­1964,  São  Paulo, PUC, Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais, 1994, p. 74­5. 16  Rodrigues,  Leôncio  Martins,  “O  PCB  :  os  Dirigentes  e  a  Organização”,  História  Geral  da Civilização Brasileira, tomo III, volume 3, São Paulo, Difel, 1986, p. 425. 17 Ibidem. A situação seria parcialmente restabelecida com o aparecimento do semanário Novos Rumos,  mas  desde  então,  o  PCB,  que  possuíra  uma  das  principais  cadeias  de  jornais  e publicações do país, ficava sem nenhum jornal diário. 18 Op. cit., Medeiros, 1995. 19 Ibidem, p. 51. 20 Terra Livre, 1° quinzena de Setembro/1954, p. 3. 21  Terra  Livre,  2°  quinzena  de  dezembro/1954,  p.  1.  Este  Congresso,  contudo,  não  seria realizado. 22 Terra Livre, 2° quinzena de Agosto/1954, p. 5. 23 Op. cit., Sanches, 2000, p. 90. 24  WELCH,  Cliff  e  GERALDO,  Sebastião.  Sebastião.  Lutas  camponesas  no  interior  paulista : memórias de Irineu Luís de Moraes. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1992, p. 134. 25 Op. cit., Ricci, 1999, p. 110 (nota 45). 26  Ibidem,  pp.  72­74.  Ver  também  MARTINS,  José  de  Souza.  Os  camponeses  e  a  política  no Brasil. Petrópolis : Vozes, 1983, p. 87. 27  Tal  questão  é  discutida  por  Marcelo  Rosa  em  seu  estudo  sobre  os  movimentos  de  luta  pela terra  em  Pernambuco  ­  ROSA,  Marcelo,  O  Engenho  dos  Movimentos  :  Reforma  Agrária  e significação  social  na  zona  canavieira  de  Pernambuco,  Rio  de  Janeiro,  IUPERJ,  Tese  de doutorado em Antropologia Social, 2004. (especialmente a parte 3). 28 Comenta Matteo Sommariga que “na agricultura, portanto, a linha Pella­Einaudi se traduz na manutenção  de  uma  situação  tecnológica  extremamente  atrasada,  em  limitados  programas paliativos, em medidas pela produção que não vai além da tradicional sustentação de preços e da acumulação, numa politica de custos, que tende à resultar numa ‘emigração em massa’, ao invés de contribuir para uma ‘melhor distribuição da terra’” ­ Contro i grandi proprietari terrieri, [em linha]  URL  :  http://cronologia.leonardo.it/mondo34a.htm,  consultado  em  25  de  abril  de  2015, p. 94. 29 “Il Governo si pose in questo caso come un abuso. Gli episode di violenza andavano daí blocchi stradali,  alla  distruzione  di  covoni  al  danneggiamento  di  macchine  agricole.  Interi  filari  di  vitri furono  tagliati,  a  numerosi  pagliai  fu  appicato  il  fuoco,  chi  non  aderiva  allo  sciopero  veniva malmenato. Contro la polizia furono esplosi diversi colpi di arma da fuoco, si registrano lanci di bombe  e  mano  e  sequestri  di  persona.  Un  proprietario  fu  bastonato  da  500  braccianti.  La reazione del figlio sfociò in tragedia. In questo clima immediate fu l’approvazione di un disegno di  legge  sulla  riforma  dei  contratti  di  mezzaadri  e  di  affitto.”  Sommariga,  Matteo.  “Contro  i grandi  proprietari  terrieri”  [em  linha],  URL  :  http://cronologia.leonardo.it/mondo34a.htm, consultado em 25 de abril de 2015. 30 A esse respeito anota Fabiani : “Os camponeses pobres e os assalariados que no período 1919­ 20 haviam visto mais que outros, na invasão da terra do latifúndio, o único meio para solucionar uma situação que era vista por eles como momentaneamente insustentávavel”, p. 102. 31  Zarconi,  Alessandra,  “La  ripresa  del  movimento  contadino”  [em  linha],  URL  : http://mnemonia.altervista.org/antimafia/dopog.php,  consultado  em  24  de  abril  de  2015.  No original  :  “Nel  corso  del  1950  viene  approvata  la  riforma  agraria  :  prevedeva  l'eliminazione  del latifondo tramite l'espropriazione (su indennizzo) di circa 700 000 ettari nel Mezzogiorno, per la creazione  di  una  piccola  proprietà  contadina,  senza  nessuna  concessione  alle  cooperative.  Ne deriva  un  eccessivo  frazionamento  che  determina  il  fallimento  della  riforma.  Analogamente  a quanto  era  accaduto  dopo  la  sconfitta  dei  Fasci,  anche  questa  volta  la  risposta  primaria  è l'emigrazione, questa volta verso l'Italia Settentrionale”. 32 Ele dizia que “per la richiesta di terre incolte è necessario precisare il luogo ove esistono, se sono veramente incolte, quali sono i confini, il moggiatico”. 33  Nesse  sentido  Angelo  Martino  reitera  que  “quindi  quello  di  Gori  Lombardi  è  un  approccio pragmatico alla questione del latifondo. Oltre alle grandi lotte contadine, non disdegnò l’impegno politico nel partito con la volontà di svolgere un ruolo di dirigente, e in questo sogno era sostenuto da Corrado Graziadei e da Enzo Raucci. Come evidenzia Adolfo Villani, era “o período no qual os dirigentes do PCI estavam convencidos que só afrontando o tema da reforma agrária, da relação entre  agricultura  e  indústria,  só  considerando  o  papel  central  dos  camponeses  meridionais  na revolução italiana, se poderia superar os equilíbrios políticos e sociais sobre os quais era baseado o regime fascista”. 34 No original : “a dirigere la sezione agraria della Federazione di Caserta. Infatti Gori Lombardi è l’uomo nel quale la federazione pone fiducia e lui non delude le attese. Nel suo intervento del http://nuevomundo.revues.org/69678

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giorno  dell’incarico,  tiene  un  discorso  in  cui  esplicita  che  “  per  la  richiesta  di  terre  incolte  è necessario  precisare  il  luogo  ove  esistono,  se  sono  veramente  incolte,  quali  sono  i  confini,  il moggiatico”. 35 Segundo Dina  Lida  Kinoshita,  a  FSM  foi  “criada  logo  após  o  fim  da  II  Guerra  Mundial,  foi concebida  à  imagem  da  Organização  das  Nações  Unidas  para  congregar  todas  as  organizações sindicais  numa  única  organização  internacional.  Em  1949  várias  organizações  sindicais  do mundo  ocidental  abandonaram  a  FSM.  O  motivo  imediato  consiste  na  disputa  com  relação  ao apoio  ao  Plano  Marshall.  Na  verdade,  a  grande  disputa  ocorre  em  torno  da  cisão  que  ocorre devido  à  Guerra  Fria.  Em  1949,  os  social­democratas  formam  a  Confederação  Internacional  de Organizações  Sindicais  Livres  (CIOSL)  que,  por  sua  vez,  se  funde  em  2006  à  Confederação Mundial  dos  Trabalhadores  (CMT),  formando  a  maior  central  sindical,  a  Central  Sindical Internacional (CSI).” In ­ Organização Comunista na América Latina no pós II Guerra Mundial : Rastros do Comintern. 36  Lama,  Luisa,  Vincenzo  Galetti,  [em  linha],  URL  : http://www.comune.bologna.it/storiaamministrativa/people/detail/36352/0, consultado em 24 de abril de 2015.

Table des illustrations Titre

Imagem 1 – Lindolfo em evento de apoio a Revolução Cubana.

Légende Acervo : Jornal Novos Rumos, agosto de 1961. URL

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Imagem 2 – Lyndolpho Silva na conferência de Francisco Julião no Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Santo André, SP, ao lado de Miguel Guinle, diretor do Sindicato, 5/7/1961.

Légende Acervo : Arquivo Lyndolfo Silva/UFRRJ. URL

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Imagem 3 – Ilio Bosi. Década de 60.

Légende Acervo L’Unità. URL

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Imagem 4 – Galetti em foto do final da década de 1970.

Légende Acervo L’Unità. URL

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Imagem 5 – Galetti em conferência da FSM ocorrida entre os dias 14 e 16 de dezembro de 1962.

Légende Acervo L’Unità. URL

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Pour citer cet article Référence électronique

Leonardo Soares dos Santos, « A construção da rede sindical rural entre os PCs de Itália e Brasil (1955­1965) », Nuevo Mundo Mundos Nuevos [En ligne], Colloques, mis en ligne le 10 octobre 2016, consulté le 22 octobre 2016. URL : http://nuevomundo.revues.org/69678

Auteur Leonardo Soares dos Santos Professor da UFF e UFRJ Pesquisador do IHJA [email protected]

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22/10/2016

A construção da rede sindical rural entre os PCs de Itália e Brasil (1955­1965)

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