A construção de Rondônia nos textos da revista Veja durante a década de

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MESTRADO ACADÊMICO UNIVERSIDAD PABLO DE OLAVIDE - SEVILLA HISTÓRIA, DIREITOS HUMANOS, TERRITÓRIO E CULTURA NO BRASIL E AMÉRICA LATINA. PORTO VELHO, 2010.

A CONSTRUÇÃO DE RONDÔNIA NOS TEXTOS DA REVISTA VEJA DURANTE A DÉCADA DE 1980.

Dissertação apresentada para obter o grau de Mestrado por: Flávio Leite Costa. Orientador: Dr. Juan Andreo García.

Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o Outro. Mario de Sá Carneiro.

(Lisboa, fevereiro de 1914)

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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

FICHA CATALOGRÁFICA BIBLIOTECA PROF. ROBERTO DUARTE PIRES C837c

Costa, Flávio Leite. A construção de Rondônia nos textos da revista Veja durante a década de 1980. / Flávio Leite Costa . - Porto Velho, Rondônia, 2015. 113 f. Dissertação (Mestrado Acadêmico: História, Direitos Humanos, Território e Cultura no Brasil e América Latina) – Universidad Pablo de Olavide. Orientador: Prof. Dr. Juan Andreo García 1. História de Rondônia. 2. Imprensa e História. 3. Revista Veja. 4.Mídia. I. Garcia, Juan Andreo. II.Título. CDU: 930.2(811.1) CDD:981.1

Bibliotecária Responsável: Cledenice Blackman CRB 11/907

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INTRODUÇÃO

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I CAPÍTULO

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FONTES E METODOLOGIA

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A seleção das fontes.

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A construção do método.

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II CAPÍTULO

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CONTEXTO HISTÓRICO-ESPACIAL

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1 – O Brasil na década de 1980.

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2 – Rondônia aproximação histórica.

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III CAPÍTULO

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IMPRENSA NO BRASIL

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IV CAPÍTULO

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RONDÔNIA ATRAVÉS DE VEJA

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Rondônia.

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Rondônia em política.

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Rondônia, migração e economia.

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Rondônia e meio ambiente.

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V CAPÍTULO

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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RESUMO Este trabalho tem como objetivo abordar elementos vinculados a história de Rondônia através da perspectiva da revista Veja. Tendo como recorte da pesquisa a década de 1980, considerada por muitos no Brasil a Década Perdida, o trabalho acompanha as publicações de matérias vinculadas ao recém criado Estado de Rondônia. O levantamento bibliográfico acerca das ações da imprensa na história do Brasil possibilitou uma releitura dos elementos em questão, considerando não só o momento histórico, mas as estruturas de poder vinculadas aos órgãos transmissores das mensagens. Essas leituras consideraram ainda algumas estruturas políticas locais encontradas em produções referentes a história regional. Pode ser observado, diante das leituras, que a abordagem do veículo de comunicação em questão não se desvincula de problemáticas políticas, sociais e econômicas de momentos específicos. No início da década há uma abordagem positiva para a região, sendo que ao fim da década o discurso encontrado é de teor negativo. Palavras-chave: 1. História de Rondônia. 2. Imprensa e História. 3. Revista Veja. 4.Mídia ABSTRACT This paper aims to approach elements linked to the history of Rondônia through the eyes of Veja magazine. Having as a cut of the research the 1980s, considered by many in Brazil as the Lost Decade, the work follows the publications of matters related to the newly created State of Rondônia. The bibliographical survey about the actions of the press in the history of Brazil allowed a re-reading of the elements in question, considering not only the historical moment, but the power structures linked to the transmitting organs of the messages. These readings also considered some local political structures found in productions referring to regional history. It can be observed from the reading that the approach of the communication vehicle in question does not separate from the political, social and economic problems of specific moments. At the beginning of the decade there is a positive approach to the region, and at the end of the decade the discourse found is negative. Keywords: 1. History of Rondônia. 2. Press and History. 3. Veja magazine. 4.Media RESUMEN Este trabajo tiene como objetivo abordar los elementos relacionados con la historia de Rondônia a través de la perspectiva de la revista Veja. Teniendo como parte de la investigación la década de 1980, considerado por muchos en Brasil la Década Perdida, el trabajo sigue las publicaciones de materias relacionadas con el recién creado estado de Rondônia. La investigación bibliográfica sobre las acciones de la prensa en la historia de Brasil permitió una reinterpretación de los elementos en cuestión, teniendo en cuenta no sólo el momento histórico, pero las estructuras de poder vinculados a los órganos transmisores de los mensajes. Estas lecturas también consideraran algunas estructuras políticas locales que se encuentran en las producciones relacionadas con la historia regional. Se puede observar en las lecturas, que el enfoque dado por el vehículo en cuestión no se desvincula de los problemas políticos, sociales y económicos de momentos específicos. Al principio de la decada hay un enfoque positivo para la región, y al final de la década el discurso encontrado es de contenido negativo. Palabras clave: 1. Historia de Rondônia. 2. Prensa e Historia. 3. Revista Veja. 4.Mídia

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INTRODUÇÃO

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Em setembro de 1986, quando esse pesquisador ainda com 10 anos de idade teve incluído em seu vocabulário a palavra “Rondônia”, iniciou-se uma trajetória de contato com um mundo completamente novo, e novo não só para quem hoje está a escrever essas linhas, mas para alguns milhares de brasileiros que, pelo mesmo trajeto, ou trajetos diferentes, conseguiram chegar a essa região, que passou a ser nova também para outros tantos que aqui já viviam e foram obrigados a receber, conviver ou até desaparecer devido aos que aqui estavam chegando. O asfalto da BR 364, que mais parecia uma serpente negra aos olhos de seus usuários, era um privilégio para alguns, um problema para as sociedades indígenas que aqui viviam, e uma fonte alimentadora de migrantes para as estradas vicinais. A grande maioria dos que aqui chegavam nesse período depositava suas esperanças e sorte nas vicinais que ofereciam poeira ou barro e mesmo assim, as pessoas vinham, às vezes muitas famílias unidas, outras, só o pai a mãe e os filhos; existia ainda os que vinham solitários, na expectativa de conseguir mais do que a terra doada pelo INCRA. A grande maioria sem ter o que oferecer materialmente e sem nem mesmo saber ao certo o que os esperava nessa região. Muitos conseguiram ficar, outros tiveram de ficar, e houve ainda aqueles que, ao descobrirem que a realidade de Rondônia nem sempre era equivalente ao sonho, retornaram aos seus lugares de origem. Essas memórias, que lapidaram a cabeça desse pesquisador durante pelo menos duas décadas, podem parecer um mero desabafo de alguém que demorou quase a metade desse período para começar a entender o que significa Rondônia para ele. O mesmo só começou a entender isso quando passou a ver essa região de outros lugares, de lugares onde as pessoas suspiravam antes de pronunciar “Rondônia”, onde as pessoas não acreditavam que alguém viveria aqui sem ter ao menos uma malária, sem ter visto uma onça perto de casa, sem ter conseguido um pedaço de terra dos projetos de colonização do governo, e se a pessoa não tivesse passado por esse último estágio, então ela era garimpeira ou, na pior das hipóteses, pistoleiro. A principio tudo parecia simples desinformação, mas, com o passar do tempo, quem estava longe de Rondônia começava ver que isso era, na verdade, a informação. E esses comentários não eram frutos da imaginação de alguém que queria ofender os que viveram, vivem ou passaram por Rondônia, esses comentários eram feitos com base naquilo que eles viam, liam ou ouviam sobre Rondônia.

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Isso começou a ficar mais claro quando, ainda no curso de graduação em História, ao realizar uma atividade de catalogação de revistas, a capa de uma delas chamou-me a atenção, não pelo só pelo fato de ela ter como chamada a frase “Rondônia: uma nova estrela no oeste”, mas por todo um contexto. Primeiro porque já havia me deparado com a mesma revista quando ainda era aluno do ensino fundamental, em uma escola pública, no interior de Rondônia; é claro, ela tinha sido publicada pelo menos uns cinco ou seis anos antes, porém, na ocasião, não me contive em comentar com a bibliotecária que eu não conhecia aquela “Rondônia”. Ela sorriu, não falou nada e hoje eu nem consigo imaginar o que ela deve ter pensado. Segundo, porque eu já estava há cinco anos sem vir a essa região e meus familiares nem moravam mais aqui, no entanto ainda me sentia como se fizesse parte dela. Acredito que, naquele momento, descobri que minha infância e juventude estavam tão vinculados a esse lugar como meu presente está hoje. Mesmo assim, como aluno de graduação, não me senti maduro o suficiente para pensar em um trabalho sobre Rondônia, ao menos até 2004, quando cursei algumas disciplinas do curso de Jornalismo na Universidade Federal de Rondônia e tive a oportunidade de estabelecer discussões muito agradáveis com a professora Bete Kimie, principalmente sobre o papel da grande imprensa na construção das imagens da região amazônica. Infelizmente não pude continuar o curso e, posteriormente, ela se afastou para o Doutorado e perdemos o contato, mas continuei maturando essa idéia por um período. Em 2009, quando a UNIR, com a Universidad Pablo de Olivade e Universidade de Múrcia, lançaram o edital para seleção do Mestrado Acadêmico História, Direitos Humanos, Território e Cultura no Brasil e América Latina, alguns colegas de trabalho insistiram para que eu me inscrevesse. A princípio relutei, mas como estava precisando de algo que me tirasse do marasmo da sala de aula, resolvi aceitar o desafio. Só tinha um problema: O que eu iria trabalhar? Falar sobre imprensa era uma possibilidade, mas muito remota, devido às dificuldades de encontrar e selecionar as fontes, principalmente considerando que eu estava a 800 quilômetros da capital que era o único lugar onde se poderia ter acesso às fontes da imprensa local. Na tentativa de encontrar um tema para ser apresentado na seleção de mestrado, retornei ao material que tinha utilizado durante as aulas no curso de Jornalismo e encontrei o esboço dos trabalhos realizados sobre a Grande Imprensa e a construção de uma imagem para a região amazônica. Se era possível fazer um trabalho referente

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à região amazônica, por que não sobre Rondônia? Fui então à procura das fontes. Infelizmente, na cidade onde estava residindo no momento, elas era extremamente escassas, o que já estava fazendo com que eu desistisse do trabalho, até recordar que a revista Veja dispõe de uma biblioteca virtual com todas as suas edições disponíveis e que o sistema de busca do site possibilitava a seleção, dentro das revistas, só das matérias relacionadas a Rondônia. Ou seja, as fontes já não seriam mais o problema. Surgiu então uma outra questão: Qual a relevância desse trabalho para a sociedade, e mais, para Rondônia? Não sabemos quantas, e nem é proposta do trabalho saber isso, milhares de pessoas das que vieram para Rondônia leram alguma revista Veja, mas sabemos que, durante as décadas de 1970, 1980 e 1990, essa revista foi praticamente líder de vendas em sua categoria no Brasil. Sabemos também que o objetivo dessa revista era o de formar opinião e, considerando essas informações, é fundamental tentarmos responder aos seguintes questionamentos: Qual o tipo de opinião que ela quer formar? Quais os objetivos dessa opinião? Será que alguém será beneficiado por essa opinião? E respostas a esses questionamentos são necessárias, porque sabemos que é fato que a imprensa, principalmente no Brasil, tem uma grande parcela de influência no que acontece na sociedade. Se ela conseguiu eleger um presidente, e tirá-lo, posteriormente, o que mais ela pôde fazer nas entrelinhas de sua redação durante períodos anteriores? É que respostas para esses questionamentos não podem ser dadas objetivamente, sem entendermos o contexto histórico do período em que os textos foram construídos, e por isso a necessidade do desenvolvimento dessa pesquisa. A relevância social desse trabalho pode ser observada a partir do momento em que o mesmo possibilita ao leitor entender como funcionaram os mecanismos que levaram à produção dos textos referentes a Rondônia. Ademais, quando refletimos acerca da construção da cidadania em uma sociedade, que tem os meios de comunicação como referência, é importante saber quais são os objetivos dos textos construídos em revistas e jornais, principalmente em um período tão conturbado como as décadas de 1970, 1980 e 1990. No caso específico de Rondônia, isso é importante para se poder compreender até que ponto aqueles que vieram para Rondônia resolveram se aventurar espontaneamente ou foram lançados a uma aventura construída através de um discurso. É importante lembrar ainda que, considerando o período em questão, os discursos podem ser entendidos, não só pelo que eles apresentam, mas também pelo que eles omitem.

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Considerando que esse trabalho também é um discurso produzido em um contexto histórico específico, com um objetivo específico e fruto de uma pesquisa, às vezes exaustiva, devido à carga de leitura e ao tempo disponível, sendo, às vezes, decepcionante devido aos resultados alcançados. E aqui é importante frisar que a decepção surge ao observamos que, na maioria das vezes, o que vemos, lemos e ouvimos sobre Rondônia foram construções direcionadas com objetivos dúbios, sem uma preocupação com os resultados futuros. Então a decepção se torna angústia para o pesquisador por saber que, na construção desse texto, por mais sério, coerente e fundamentado que seja, a complexidade do tema sempre demonstrará que houve e haverá lacunas na tentativa de elaborar possíveis respostas aos questionamentos levantados acima, e que o mesmo só poderá servir como um ponto de referência para aqueles que querem rever a visão construída sobre Rondônia durante esse período. Na construção desse texto, alguns cuidados foram tomados para levar a uma melhor compreensão do mesmo. O primeiro foi estabelecer um recorte temporal significativo para o trabalho tendo sido definida a década de 1980 como ponto inicial. A significação desse período está relacionada a questões regionais, nacionais e externas. Regionais, porque Rondônia está se definindo como Estado e passando por um processo de transformação nunca visto antes; nacionais, porque isso faz parte de um projeto político mais amplo que o próprio Estado e colocado em prática durante uma década em que o Brasil está se reestruturando democrática e economicamente; e externas, porque muitas medidas adotadas pelo governo Militar durante a primeira metade dessa década ainda tinham como fundamentação os problemas relacionados aos discursos do mundo capitalista contra o mundo comunista. O segundo cuidado, e não menos importante, foi organizar os capítulos estabelecendo uma contextualização prévia para o entendimento do capítulo seguinte; nessa organização ficou estabelecido que o texto apresentasse cinco capítulos. O primeiro capítulo apresenta as fontes trabalhadas durante a pesquisa, o porquê de sua escolha e do recorte temporal, e como seriam selecionados os textos. Esse capítulo mostra também qual a metodologia utilizada e como ela é importante para cada momento da pesquisa. Por sua vez, o segundo capítulo faz uma contextualização da história da década de 1980. É importante ressaltar que essa contextualização inicia-se fazendo algumas observações referentes à política mundial, mas especificamente sobre o contexto da Guerra Fria, principalmente durante a década de 1980 e considerando a influência que

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a mesma tinha em algumas regiões do mundo. Essas observações vêm seguidas de uma contextualização histórica do Brasil durante esse período, contextualização essa que tentou avaliar não só alguns aspectos políticos, mas também econômicos, sendo que esses dois estão, de certa maneira, vinculados às políticas desenvolvidas pelos países envolvidos na Guerra Fria. E na terceira parte do texto foram trabalhadas as questões relacionadas à história de Rondônia, principalmente considerando que a história regional estava vinculada a todo o contexto nacional e global já observado. O terceiro capítulo esclarece as questões relacionadas à imprensa no Brasil, fazendo um breve histórico de como ela surgiu e a quais grupos políticos e econômicos ela esteve vinculada, principalmente a que conhecemos como grande imprensa. Esse capítulo faz, também, um breve histórico do surgimento da revista Veja, contextualizando o momento histórico em que a mesma estava surgindo. A última parte desse capítulo trabalha com alguns elementos indicadores da construção dos textos jornalísticos e seus objetivos, identificando um dos principais elementos de filtragem de texto para o período em questão. Por sua vez, o quarto capítulo trabalha direto com as fontes, ou seja, com os textos publicados em Veja utilizando duas abordagens. A primeira, organizando os textos em série e quantificando o número de textos relacionados a determinados temas por ano. E a segunda, fazendo uma análise de como eles foram distribuídos e a maneira como eles abordavam Rondônia. Durante esse estágio, houve também a análise da construção do discurso acerca de Rondônia, considerando os termos empregados para a caracterização da região. No quinto e último capítulo foram feitas as considerações finais sobre a pesquisa mostrando a intencionalidade dos textos publicados em Veja durante o período pesquisado e como eles influenciaram na construção de uma imagem, ao final, depreciativa para Rondônia e, de certa maneira, como eles influenciaram para possibilitar alguns dos resultados negativos pelos quais Rondônia passou durante a década de 1980. Já o terceiro cuidado tomado nesse trabalho diz respeito à construção do texto aqui apresentado. O pesquisador optou por escrever o mais claramente possível com o objetivo de desenvolver um texto leve para a leitura e compreensivo, fazendo com que o texto seja acessível não só aos que dominam os jargões do academicismo, mas a todos aqueles que têm o interesse de conhecer um pouco mais sobre Rondônia e sobre as imagens que foram construídas para essa região.

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Ao final desse trabalho ficou claro para esse pesquisador que Rondônia como tantos outros estados e regiões passou e passa pelo dilema de ser aquilo que está acontecendo naquela região, naquele momento e naquele contexto, ao mesmo tempo em que é a imagem de algo distante que não pode ser palpável para muitos, mas que pode ser construída através das informações recebidas pelos vários meios de comunicação disponíveis hoje.

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I CAPÍTULO FONTES E METODOLOGIA

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A seleção de fontes para o desenvolvimento de um trabalho historiográfico passou por transformações significativas nos últimos dois séculos. Até o final do século XIX, a maioria dos historiadores estava vinculada à escola de pensamento conhecida como positivista1. Essa corrente de pensadores tinha como norteadores de suas pesquisas os documentos oficiais. Para alguns autores, os positivistas tinham a necessidade de trabalhar com os documentos pois tinham como objetivo construir uma história verdade. Ou construir piamente um evento, fato ou bibliografia. Segundo Burke: desde os tempos de Heródoto e Tucídides, a história tem sido escrita sob uma variada forma de gêneros: crônica monástica, memória política, tratados de antiquários, e assim por diante. A forma dominante, porém, tem sido a narrativa dos acontecimentos políticos e militares, apresentada como a história dos grandes feitos de grandes homens – chefes militares e reis.2 Esse trabalho com as “fontes oficiais” ou “documentos oficiais” muitas vezes podia comprometer o desenvolvimento das pesquisas em andamento, pois a mesma acabava se limitando à construção da história através de uma única ótica: a de quem construiu o documento. Ou seja, a visão que se criava da sociedade ficava limitada ao que era explícito em documentos oficiais, o que acabava gerando uma visão limitada da sociedade e da economia do período em questão, podendo ainda levar à construção de personalidades, consideradas heróis ou vilões, e à descrição de acontecimentos pontuados cronologicamente na história e com uma posição unilateral. Com a estruturação do materialismo histórico, ainda no século XIX, parece não surgir uma proposta de utilização de novas fontes para o estudo da história, no entanto surge a proposta de se trabalhar as fontes já existentes de uma maneira diferenciada. Essa corrente historiográfica não considerava os documentos oficiais como “verdade absoluta”, mas como uma verdade construída segundo os interesses de uma determinada classe social, a burguesia. As fontes, até então vistas como documentos neutros, meros transmissores dos acontecimentos, passaram a ser vistas como documentos construídos por uma classe social específica, que acabavam sendo

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Vale lembrar que segundo Burke a partir do movimento iluminista alguns pesquisadores já tentavam trabalhar com uma história sociocultural, mas esse grupo acabou sendo colocado na berlinda a partir do desenvolvimento dos trabalho de Leopold von Ranke. A escola dos Annales / 1929 – 1989: A revolução francesa da historiografia 1997, p. 17-9. 2 BURKE, Peter. A Revolução Francesa na historiografia; a Escola dos Annales 1929-1989 / Peter Burke; tradução Nilo Odália – São Paulo: Editora Universidade Estadual Paulista, 1991, p. 17.

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utilizadas para a construção de uma história que estimulava a manutenção de poder por parte de uma determinada classe social. Ironicamente os próprios materialistas acabaram por inovar, ou contribuir para o desenvolvimento de novas fontes para historiografia. Ao propor a criação das organizações trabalhistas, iniciarem a publicação de folhetos, jornais e revistas voltadas para a classe trabalhadora, eles estavam possibilitando o surgimento de novas fontes para a pesquisa historiográfica nas décadas seguintes. A partir do início do século XX, com o surgimento dos Annales, houve uma expressiva expansão do campo de pesquisa historiográfico e, consequentemente, uma renovação, ou ampliação das fontes para o estudo de história. Segundo Febvre, a história pode ser feita com todos os documentos que são vestígios da passagem do homem3. Essa afirmação amplia consideravelmente o número de materiais que podem ser utilizados como fonte. As fontes produzidas pela arqueologia podem ser tomadas como exemplo, geralmente inseridas no campo da história da cultura material, estuda os objetos materiais em sua interação com os aspectos mais concretos da vida humana, desdobrando-se por domínios históricos que vão do estudo dos utensílios ao estudo da alimentação, do vestuário, da moradia e das condições materiais do trabalho humano.4 Os Annales acaba estabelecendo, como fonte histórica, qualquer indício material de uma determinada sociedade, as construções de uma cidade e como elas estão dispostas, os móveis de uma residência, os objetos pessoais de uma família e até mesmo restos de alimentos. Ou seja, nos últimos dois séculos a ampliação das fontes historiográficas são visíveis a olho nu para os pesquisadores em história e é visível também para os leitores de bom senso que se interessem um pouco mais sobre o assunto abordado em uma pesquisa. Considerando essa problemática, o pesquisador contemporâneo deverá ter um cuidado especial ao selecionar suas fontes, independente dessas serem tradicionais ou inovadoras. No desenvolvimento desse trabalho houve um cuidado mais intenso, isso porque as fontes em questão serão selecionadas através de um instrumento que ainda não é muito convencional aos historiadores. A fonte em questão ainda é uma das mais

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REIS, José Carlos. Escola dos Annales: a inovação da história. Paz e Terra, 2000, p. 77. BARROS, José D’ Assunção. O campo da história: especialidades e abordagens. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004, p.30. 4

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comuns aos historiadores, a fonte escrita, ou seja, o que será analisado são os textos veiculados na revista Veja durante a década de 1980. A seleção das fontes, no entanto, pode ser considerada inovadora, isso porque os textos não serão selecionados através das buscas nos arquivos materiais das revistas. O arquivo, que muitas vezes parece mais um depósito e que, durante muito tempo, caracterizou o historiador como um pesquisador que vive em constante contato com antiguidades, pastas de documentos, papéis velhos e ácaros, não foi visitado pelo pesquisador. Os textos aqui trabalhados foram selecionados no arquivo digital da revista Veja, um arquivo que fica disponível 24 horas por dias durante 7 dias por semana e que pode ser acessado de qualquer computador que está conectado à internet. Ou seja, a proposta da pesquisa que surgiu do anseio de conhecermos um pouco mais sobre a história de Rondônia durante a década de 1980, nos levou também a colocar em prática algumas questões relacionadas à construção historiográfica através da exploração de uma fonte específica, no caso, os textos jornalísticos, e da maneira de se trabalhar com essa fonte considerando os recursos tecnológicos contemporâneos. Aqui vale lembrar que uma das primeiras dificuldades encontradas pelo pesquisador foi o de definir o que seria o objeto da pesquisa, Rondônia ou a revista Veja. Segundo os pesquisadores Ivanor Luiz Guarnieri e Fábio Lopes Alves “a utilização da imprensa como fonte, não se limita a pesquisar um ou outro texto isolado, por mais importantes que sejam, mas antes requer uma análise detalhada do seu lugar de inserção e delineia uma abordagem que faz da imprensa, fonte e objeto de pesquisa ao mesmo tempo”5. É desta maneira que a revista Veja se apresenta para o trabalho, como um objeto da pesquisa à medida que é necessário conhecermos sobre ela, seus métodos de produção de texto, seus objetivos econômicos e políticos seus vínculos com as instituições de poder de sua época e, como fonte, a partir do momento em que essas informações serviram como subsídio para entendermos e conhecermos um pouco mais sobre a história de Rondônia. Então é necessário lembrarmos que o trabalho não tem por objeto criar uma história total sobre Rondônia e, sim, uma história de Rondônia através de um viés, que é o da imprensa escrita, mais especificamente o da revista Veja durante a década de 1980. Vale lembrar também que o fato dos textos da revista serem tomadas como fonte 5

Ivanor Luiz Guarnieri e Fábio Lopes Alves http://www.cei.unir.br/artigo104.html#_ftnref5. 17/02/2010 as 16:36.

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primária, as análises das mesmas serão contrapostas aos trabalhos sobre Rondônia que já analisam a história de Rondônia. Essa correlação é de fundamental importância para o desenvolvimento da análise crítica dos textos.

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A seleção das fontes. A primeira consideração a ser feita em relação à seleção das fontes diz respeito à utilização dos recursos digitais. Segundo Chartier, o ingresso na era da textualidade eletrônica cria novas modalidades de construção, publicação e recepção dos discursos históricos. A textualidade eletrônica de fato transforma a maneira de organizar as argumentações históricas ou não, e os critérios que podem mobilizar um leitor para aceitá-las ou rejeitá-las. (...) Permite uma articulação aberta, fragmentada relacional do raciocínio, tornada possível pela multiplicação das ligações hipertextuais. (...) E o leitor já não é mais obrigado a acreditar no autor; pode, por sua vez, se tem vontade e tempo, refazer total ou parcialmente o percurso da pesquisa6. O leitor mais curioso pode ir além do percurso da pesquisa, pode refazer a própria pesquisa, pode resgatar as fontes já trabalhadas e ainda se enveredar por outras ainda não exploradas; em suma, ao considerarmos a exposição de Chartier, fica evidente que, ao utilizarmos as novas tecnologias como recurso para pesquisa, existe a necessidade de criar um trabalho que consiga contemplar a exploração das fontes e as necessidades do leitor. Nesse trabalho, a identificação das fontes iniciou-se com o processo de busca e coleta. Essa busca foi realizada considerando os seguintes aspectos: a) a citação da palavra Rondônia nos textos; d) o ano de publicação; b) o grau de relevância de Rondônia dentro dos textos; c) o vínculo do texto a um dos itens: política, migração/economia ou meio ambiente. A citação da palavra “Rondônia” no texto foi realizada através de uma pesquisa on-line. A revista Veja dispõe de um banco de dados, o Acervo Digital VEJA7, onde podem ser encontradas as edições de número 1 à penúltima publicada. A pesquisa nesse banco de dados pode ser feita por uma expressão exata, por uma palavra exata, por um grupo de palavras, com a exclusão de determinadas palavras, e com referência a um determinado período, como pode ser observado no quadro que segue.

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CHARTIER, Roger. A história ou a leitura do tempo. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009, p. 59/60. 7 http://www.veja.com.br/acervodigital/home.aspx. 08:28 29/01/2010.

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Esse tipo de pesquisa possibilita agilidade para o pesquisador que, em poucos minutos, pode identificar inúmeras possíveis fontes. Possíveis fontes porque nem todas as citações encontradas fazem referências aos textos sobre Rondônia, elas podem estar associadas à publicidade de empresas privadas ou até mesmo de órgãos governamentais. Vale lembrar também que a ferramenta em questão identifica a palavra pesquisada no texto, independente do número de vezes em que ela for repetida, por exemplo, se um texto traz a palavra “Rondônia” dez vezes, aparecerem dez links para serem pesquisados. Com essa primeira busca realizada, inicia-se a fase de seleção de fonte. A primeira atitude nessa etapa foi a abertura prévia dos links, descartando aqueles em que “Rondônia” estava vinculada à propaganda de empresas privadas. Em seguida foi feita uma leitura prévia dos textos, selecionando-as a partir dos critérios citados nos itens a, b, c e d que estão relacionados acima. Após essa seleção prévia, os textos foram organizadas pelo ano de publicação.

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http://www.veja.com.br/acervodigital/home.aspx. 08:28 29/01/2010.

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Com esse prévio contato com as fontes, iniciou-se um outro estágio da pesquisa, o do refinamento das fontes a serem trabalhadas. Essas estavam vinculadas direta ou indiretamente a um dos seguintes temas. a) Política; b) Migração e economia; c) Meio ambiente. A definição desses três temas leva em consideração o contexto histórico da década de 1980. Politicamente o Brasil foi marcado pelo processo de transição de governo; foi o fim de um governo formado por militares e o início de um governo eleito democraticamente, ademais a própria mudança de Rondônia da condição de Território para Estado já seria elemento suficiente para um recorte com os temas relacionados à política. As questões relacionadas à migração e à econômica estão vinculadas devido à correlação existente entre as duas. Um dos fatores observado nos textos é que a migração é estimulada pela necessidade de desenvolvimento econômico dos migrantes e a dinâmica econômica da região se reconfigura com a chegada dos migrantes. Por sua vez, as questões relacionadas ao meio ambiente são recorrentes, principalmente no final da década, e, para uma melhor análise da mesma, deveremos recorrer as duas questões já trabalhadas anteriormente.

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A construção do método. Recentemente, os pesquisadores Ivanor Luiz Guanieri e Fábio Lopes Alves publicaram na Revista Eletrônica do Centro de Estudos do Imaginário da Universidade Federal de Rondônia o artigo ‘Imagens do cotidiano e temporalidades: historiografia e imprensa’. Esse trabalho faz algumas considerações, entre outras, sobre a metodologia a ser utilizada em um trabalho que tem como fonte os periódicos. Uma que cabe ressaltar aqui diz que A variedade de fontes impressas é enorme, e as suas possibilidades de pesquisa são amplas e variadas. Assim, não é aconselhável prenderse a um único procedimento metodológico, de forma rígida, para a verificação empírica, ou tomar determinada técnica como se fosse um dogma exclusivo de acesso à fonte, pois a variedade de impressos confere um número variado de possibilidades de abordagem, o que exige uma postura atenta para o surgimento do inusitado que, como tal, não pode ser previsto por nenhuma técnica friamente constituída. Salientese: é importante ter em mãos um ferramental teórico, capaz de apontar procedimentos na condução da pesquisa, mas não se aferrar a ele a tal ponto de deixar passar despercebido algo que brota da fonte impressa e é capaz de elucidar uma série de questões, nem sempre claras, quando do início das investigações. Por isso não é viável sugerir um procedimento metodológico ou mesmo técnicas de pesquisa que dêem conta de tantas possibilidades.9 Ou seja, o procedimento metodológico e as técnicas adotadas pelo pesquisador deverão focar possibilidades e ter coerência no seu desenvolvimento. As possibilidades são a de identificar como se deu a construção do discurso da revista Veja nos campos da política, migração e economia e meio ambiente para Rondônia. Já a coerência só existirá através do desenvolvimento do método. Para focar as possibilidades, houve o recorte das fontes que foram utilizadas no trabalho; este considerou a palavra “Rondônia” no período que se inicia em 01 de janeiro de 1981 e se estende até 31 de dezembro de 1990. Após a primeira pesquisa, houve a necessidade de separar os textos jornalísticos ou informativos das publicidades de empresas privadas. Esse cuidado foi necessário para sintetizar a pesquisa, tendo em vista que, se fossem consideradas também as propagandas de instituições privadas, o tempo necessário para a realização do trabalho se estenderia por alguns anos.

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Ivanor Luiz Guarnieri e Fábio Lopes Alves http://www.cei.unir.br/artigo104.html#_ftnref5. 17/02/2010 as 16:36.

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Outro cuidado que foi tomado diz respeito à identificação, em cada texto, da palavra Rondônia. Como em alguns textos essa palavra aparece mais de uma vez, houve a necessidade de examinar o sistema de busca e identificar a quantidade de textos que citavam Rondônia, nesse momento passando a desconsiderar a quantidade da citação de “Rondônia” e considerando os textos que se relacionavam à Rondônia. A identificação dos textos levou a organização dos textos em série, e agora cabe ressaltar que, segundo Barros, O campo da ‘História Serial’ refere-se a um tipo de fontes e a um ‘modo de tratamento’ das fontes. Trata-se nesse caso de abordar fontes com algum nível de homogeneidade, e que se abram para a possibilidade de quantificar ou de serializar as informações ali perceptíveis no intuito de identificar regularidades.10 Considerando essa afirmação, o método inicial será o de serialização das fontes, possibilitando que, posteriormente, o manuseio das mesmas seja facilitado e que as regularidades ou irregularidades sejam observadas com mais clareza. A partir dessa serialização, surge a possibilidade de uma abordagem quantitativa das fontes, de maneira que possa indicar as nuances dadas a determinados textos durante a década de 1980. Nessa análise é importante lembrar novamente a observação feita por Barros quando afirma que a história Quantitativa deve ser definida através de um outro critério: o seu campo de observação. O que a História Quantitativa pretende observar da realidade está atravessado pela noção do ‘número’, da ‘quantidade’, de valores a serem medidos.11 A mensuração aqui implicará a quantidade de textos que trabalha com cada tema proposto anteriormente, de maneira que seja feita uma reflexão sobre o porquê da recorrência ou não dos textos. Outra observação que devemos fazer referente ao método diz respeito à objetividade, considerando principalmente a afirmação da pesquisadora Maria Helena Capelatto que faz questão de ressaltar que O historiador mantém o compromisso de buscar a verdade, mas há muitas verdades. Por essa razão constata que é impossível ser completamente objetivo; a objetividade continua sendo um critério fundamental da análise histórica, mas seu culto mítico já é questionado.

BARROS, José D’ Assunção. O campo a história: O campo da história: especialidades e abordagens, p. 147. 11 BARROS, José D’ Assunção. O campo a história: O campo da história: especialidades e abordagens, p. 149. 10

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Algo semelhante aconteceu no campo da imprensa onde também se reverenciou a objetividade. A maioria dos jornalistas admite hoje que o fato jornalístico é construído sendo, pois a objetividade relativa. 12 Apesar de a objetividade ser considerada relativa tanto na história quanto na imprensa, isso não provocou a banalização do método durante a realização da pesquisa. Vencidos os estágios da serialização e quantificação, inicia-se o da análise das fontes. A análise é de suma importância, pois evitará que a história quantitativa se torne uma História Descritiva, não problematizada13. Considerando que as fontes em questão são discursos criados por uma revista para serem compreendidos pelos leitores ou como afirma Barros são ‘objeto de significação’ e ‘objeto de comunicação’, a análise do discurso contemplará o intratexto, o intertexto e o contexto, sendo que O ‘intratexto’ corresponde aos aspectos internos do texto e implica exclusivamente na avaliação do texto como objeto de significação; o ‘intertexto’ refere-se ao relacionamento de um texto com outros textos; e o contexto corresponde à relação do texto com outros que o produziu e que o envolve.14 Isso leva a uma abordagem que implica três tempos de leitura. As primeiras leituras abordando o contexto histórico da década de 1980, tanto no plano micro que é Rondônia quanto no plano macro, o mundo. A segunda que aborda as questões relacionadas à imprensa no Brasil, entendendo o seu funcionamento. E a terceira, a leitura ou releitura das fontes primárias, considerando o que foi trabalhado anteriormente. A partir dessa última, fazer a análise considerando as peculiaridades do micro e do macro, as peculiaridades da imprensa no Brasil e os vínculos que ela mantém com determinados grupos. Na identificação do funcionamento discursivo dos textos, o método a ser utilizado é o proposto pela pesquisadora Patrícia Ceolin Nascimento que é reconhecido através de três enfoques básicos:

12

CAPELATO, Maria Helena Rolim. A Imprensa na história do Brasil. São Paulo: Contexto / EDUSP, 1988, p. 22. 13 O pesquisador José D’ Assunção Barros expõe essa questão e alerta sobre o perigo de se retornar a História Factual. O campo da história: especialidades e abordagens. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004, p.150/1. 14 BARROS, José D’ Assunção. O campo a história: O campo da história: especialidades e abordagens. Petrópolis, RjJ: Vozes, 2004, p. 137.

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1. identificação dos principais mecanismo narrativos do texto, como ironia, opinativos, etc.; 2. pontuação das palavras e expressões que possam sinalizar para o campo semântico trazido na leitura da reportagem, ou seja, que possam apontar para o sentido da cadeia significante; e 3. descrição das imagens (ilustração em geral e fotos) utilizadas nas reportagens, com ênfase nas legendas e na posição que determinada imagem ocupa na página.15

A análise do funcionamento do discurso contemplará prioritariamente as reportagens que tenham Rondônia como plano primário. As reportagens em que Rondônia é citada em segundo plano serão consideradas e analisadas, mas respeitando a representatividade do discurso sobre Rondônia na própria reportagem. Isso é necessário para não criarmos uma falsa imagem de que Rondônia está sendo o norte para outros assuntos, quando, muitas vezes, o que podemos ver é o inverso.

15

NASCIMENTO, Patrícia Ceolin. Jornalismo em revistas no Brasil: um estudo das construções discursivas em Veja e Manchete. São Paulo: Annablume, 2002, p. 89.

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II CAPÍTULO CONTEXTO HISTÓRICO-ESPACIAL

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A década de 1980 foi marcada por uma série de acontecimentos que levam a uma reflexão sobre qual a dinâmica da história em um curto período de tempo, principalmente quando esse curto período de tempo já está se processando sobre a égide de um mundo em que as fronteiras espaciais ainda são estabelecidas pelos Estados- Nação, mas as fronteiras ideológicas e econômicas vão além do mensurável pelo Estado. Um elemento que pode nos auxiliar no entendimento de como se configuram essas fronteiras ideológicas e econômicas é o que convencionamos chamar de Guerra Fria; segundo Hobsbawm, a história desse período foi reunida sob um padrão único pela situação internacional peculiar que o dominou até a queda da URSS: o constante confronto das duas superpotências que emergiram da Segunda Guerra Mundial na chamada “Guerra Fria”.16 Desenvolvida sob a concepção de que o mundo estava construindo uma política bipolarizada, a Guerra Fria teve como principais pontos de referência os Estados Unidos da América do Norte que preconizavam o modelo econômico capitalista fundamentado em um modelo político democrático, e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que adotava uma economia socialista fundamentado em um modelo político proveniente da Revolução Proletária de 1917. Ideologicamente essa disputa advinha de um contexto que Em suma, enquanto os EUA se preocupavam com o perigo de uma possível supremacia mundial soviética num dado momento futuro, Moscou se preocupava com a hegemonia de fato dos EUA, então exercida sobre todas as partes do mundo não ocupadas pelo Exército Vermelho. (...) Como a URSS, os EUA eram uma potência representando uma ideologia que a maioria dos americanos sinceramente acreditava ser o modelo para o mundo. Ao contrário da URSS, os EUA eram uma democracia. É triste, mas deve se dizer que esses eram provavelmente mais perigosos (...). O governo soviético, embora também demonizasse o antagonismo global, não precisava preocupar-se com ganhar votos no Congresso, ou com eleições presidenciais e parlamentares. O governo americano precisava .17 Ou seja, enquanto a Ditadura Proletária impunha o seu modelo econômico e social, muitas vezes espalhando terror e medo para se manter como potência, assumia

HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914 – 1991. / Tradução Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 223. 17 HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914 – 1991. / Tradução Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 231-2 16

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essa responsabilidade como um governo centralizador e não democrático. Já a democracia Americana tinha como obrigação convencer eleitores e representantes de que a URSS e o socialismo eram os grandes inimigos. E, para além das fronteiras dos EUA, ainda existiam outras nações que também deveriam ser convencidas do grande perigo que era o mundo socialista. As crises políticas nas várias partes do mundo e que se desenvolveram durante as décadas de 1960 e 1970, muitas vezes estiveram vinculadas a essa bipolarização. Os golpes militares que assolaram a América Latina em países como Bolívia, Argentina, Chile, Brasil e Uruguai, tiveram como pano de fundo o discurso de que era necessário um governo que impedisse o avanço da ideologia comunista no mundo americano. Na Ásia, a Guerra da Coréia e, posteriormente, a do Vietnã também estavam diretamente vinculadas a essas discussões, até mesmo o Oriente Médio se viu envolto na discussão da bipolarização, como indica a invasão do Afeganistão pela URSS. A década de 1980, por sua vez, levou a um contraponto do que foram alguns desses problemas; o Oriente Médio passou a criar, ou a se voltar, para inimigos mais próximos: a Guerra Irã – Iraque e, posteriormente, a Guerra do Golfo. As coréias continuaram divididas, mas o Vietnã consolidou-se como socialista. Já a América Latina passou por um processo de redemocratização, ou melhor, de transferência de governos militares para civis, essa redemocratização, no entanto, se foi tão estimulada pelos EUA foi em um período tardio como indica o trabalho de Skidmore: Embora as críticas do governo Cárter e do Congresso americano às violações dos direitos humanos tivessem suscitado ressentimento no Brasil - dentro e fora do governo aqueles que trabalhavam pela redemocratização do país acharam que as pressões americanas ajudaram muito. Diplomatas americanos informavam com freqüência sobre conversas com brasileiros que expressavam gratidão pela posição dos Estados Unidos. Não obstante, ninguém pensava que o efeito fosse mais do que marginal18. Então podemos inferir que, na década de 1980, o contexto político da Guerra Fria ainda se mantinha, mas o controle ideológico já não se dava com tanta ênfase como nas décadas anteriores. Esse afrouxamento no controle ideológico foi consequência, em partes, da própria situação econômica criada pela Guerra Fria.

18

SKIDMORE, T. Brasil: de Castelo a Tancredo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, p. 385.

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Para entendermos essa situação econômica, primeiro temos de esclarecer que a fronteira econômica extrapolava os limites territoriais da Nação. Um exemplo disso pode ser observado quando Hobsbawm afirma que Uma nova divisão internacional do trabalho, portanto, começou a solapar a antiga. A empresa alemã Volkswagen instalou fábricas na Argentina, Brasil (três), Canadá, Equador, Egito, México, Nigéria, Peru, África do Sul e Iugoslávia (...). Novas indústrias do Terceiro Mundo abasteciam não apenas os crescentes mercados locais, mas também o mercado mundial.19 Essa nova divisão internacional do trabalho acabou vinculando as economias de regiões distintas, afinal, se não houvesse consumo dos produtos da Volkswagem, os países empregadores sofreriam, assim como a empresa empregadora sofreria em seu país-sede e, indiretamente, influenciaria na economia do mesmo. Outro aspecto destacado por Hobsbamw é que economicamente as duas Superpontências estenderam e distorceram demais suas economias com a corrida armamentista maciça e muito dispendiosa,20. Corrida essa que, além de onerar os cofres públicos e privados para a realização de pesquisa com intuíto de desenvolver novas tecnologias de guerra, não impossibilitou a formulação de políticas econômicas que desfalcassem economicamente os países de terceiro mundo como podemos observar a seguir: Só uma generalização era bastante segura: desde 1970, quase todos os países dessa região (terceiro mundo) haviam mergulhado profundamente em dívida. Em 1990, iam dos três gigantes da dívida internacional (60 bilhões a 110 bilhões de dólares) – Brasil, México e Argentina – passando pelos outros 28 que deviam mais de 10 bilhões cada até as arraias-miúdas que deviam 1 ou 2 bilhões.21 Mas esse foi apenas um dos problemas econômicos desse período, os países desenvolvidos também sentiram o peso de uma crise econômica, e isso ficou a olho nu. Quanto à pobreza e à miséria, na década de 1980, muitos países mais ricos e desenvolvidos se viram outra vez acostumando-se àa visão diária de mendigos nas

HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914 – 1991. / Tradução Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 275. 20 HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914 – 1991. / Tradução Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 247. 21 HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914 – 1991. / Tradução Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 411. 19

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ruas, e mesmo com o espetáculo mais chocante de desabrigados protegendo-se em vãos de portas e caixas de papelão, quando não eram recolhidos pela polícia.22 Vinculado ao contexto econômico da Guerra Fria é importante afirmar também que a crise do petróleo de 1973 teve repercussão negativa mais para a economia americana do que para a soviética; na verdade, esse foi um dos poucos momentos em que a URSS pode se imaginar superando a economia americana, isso porque essa crise acabara de quadruplicar o valor de mercado das gigantescas novas jazidas de petróleo e gás natural que haviam sido descobertas na URSS desde meados da década de 1960.23. Além disso, segundo Hobsbawm, o fortalecimento da OPEP sugeriu um enfraquecimento no domínio internacional dos EUA24 e isso acaba criando um novo desgaste nas concepções ideológicas trabalhadas no contexto da Guerra Fria. O mundo continua a ter dois pólos como referência econômica, no entanto existe a necessidade do vínculo com a OPEP que não é sobreposto, mas também não se subjuga aos EUA ou à URSS. A política econômica e ideológica fundamentada durante a Guerra Fria começa a se desgastar, a década de 1980 passa a ser então o memento de transição para novos modelos de economia e de política. Segundo Hobsbawm, “Para fins práticos, a Guerra Fria terminou nas duas conferências de cúpula de Reykjavik (1986) e Washington (1987)”25, essa afirmação coloca a queda do Muro de Berlim, em 1989, como um marco histórico representativo. Se considerarmos algumas discussões que passam a assolar as cúpulas mundiais a partir da década de 1980, podemos afirmar que não só a Guerra Fria estava por ser finalizada como já surgiam outras questões para mobilizar as grandes potências econômicas do mundo. O relatório de Brundtlandt, divulgado em 1987, pode ser observado como um exemplo, segundo o pesquisador Pedro Jacobi, O relatório é o resultado de uma comissão da ONU e parte de uma abordagem em torno da complexidade das causas que originaram os problemas socioeconômicos e ecológicos

HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914 – 1991. / Tradução Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 396. 23 HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914 – 1991. / Tradução Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 241. 24 Hobsbawm discute essa questão nos capítulos 8 e 9 da Era dos Extremos. 25 HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914 – 1991. / Tradução Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 246. 22

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da sociedade global26, que acabou resultando na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – a Rio 92. Em suma, a dinâmica dos movimentos históricos para a década de 1980 pode ser observada como uma das consequências da Guerra Fria e associada à necessidade do desenvolvimento de políticas que tirassem da berlinda as questões ambientais. Nesse contexto, o desenvolvimento econômico deve, também, respeitar as limitações ecológicas e a ideologia política que já não se configura através da luta entre inimigos de nações socialistas ou capitalistas e, sim, entre inimigos que defendem a construção de um mundo que trabalha com a convivência coerente entre seres humanos e natureza e os que se utilizam da natureza sem medir as consequências futuras para a humanidade.

26

JACOBI, Pedro. Meio Ambiente e Sustentabilidade. Revista de sustentabilidade. UNIFAP.br / http://www.unifap.br/editais/2006/PMDAPP/sustentabilidade%5B1%5D.pdf [Consulta fechada em 08/04/2010]

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1 – O Brasil na década de 1980. a) Contexto político. Politicamente, a década de 1980 no Brasil deve ser considerada a “Década da Redemocratização”, e não é exagero elegermos toda uma década como a da redemocratização até mesmo porque esse processo, no Brasil, se desenvolveu lentamente. O país que estava sendo governado pelo seu último presidente militar, João Batista Figueiredo, que discutia a possibilidade e a necessidade de uma abertura política, mas não abria mão do compromisso com o Governo Militar como afirma Skidmore: Em seu discurso de posse, Figueiredo comprometeu-se a dar continuidade à liberalização (abertura): "Reafirmo os compromissos da Revolução de 1964 de assegurar uma sociedade livre e democrática". E acrescentou com ênfase: "Reafirmo meu inabalável propósito (. ..) de fazer deste país uma democracia"27. Na construção desse processo de reabertura, ainda em 1979, duas medidas foram importantes, a primeira Dizia respeito à anistia, questão vital para que o Brasil abandonasse o regime autoritário e reintegrasse na sociedade e na política os milhares de exilados políticos que tinham fugido do país ou sido perseguidos no exterior desde 1964. Esta era uma questão para a qual a oposição conseguira mobilizar considerável apoio. Os entusiastas da anistia apareciam onde quer que houvesse uma multidão28. A tolerância dos, até então, considerados inimigos políticos no país indicava uma possibilidade maior de diálogo, ao mesmo tempo que poderia amenizar os ânimos dos mais céticos quanto ao processo de abertura política. A segunda foi o fim do bipartidarismo que implicava no acirramento das discussões políticas para as próximas eleições. As consequências desse acirramento de discussão política acabou por adiar ao máximo a derrocada eleitoral do regime, apoiando-se num Congresso dócil e, sobretudo, dominado pelo PDS, herdeiro da Arena e principal interessado em medidas governamentais que, de resto, poderiam render-lhe votos e, consequentemente, maior poder parlamentar. O casuísmo da legislação eleitoral referente às eleições de 1982 e 1986 não teve outro objetivo, senão prorrogar a sobrevivência política dos

27 28

SKIDMORE, T. Brasil: de Castelo a Tancredo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, p. 412. SKIDMORE, T. Brasil: de Castelo a Tancredo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, p. 422-3.

30

ocupantes de cargos eletivos, retardando ao máximo o fortalecimento dos partidos de oposição não-comprometidos com o regime anterior.29 Para Lima Junior, os marcos legais do desenvolvimento da cidadania no Brasil atual são a emenda Constitucional 15, de 15 de novembro de 1980 que restabelecia eleições diretas para governadores e vice-governadores de Estado e extinguia a figura do senador biônico. Essa vem seguida da emenda 25, de 15 de maio, que restabelece as eleições diretas para presidente e vice-presidente, em dois turnos, e eleições no Distrito Federal30. Considerando as eleições de 1982, que mostrou a fragilidade do governo em eleger um sucessor, não é difícil entender por que a opção por eleições indiretas em 1985, quando o congresso elegeu Tancredo Neves como o primeiro presidente civil após o regime militar. A criação do sistema do voto vinculado e a candidatura nata, ainda em 1982, segundo Lima, tinha como objetivo reduzir a taxa de renovação parlamentar em eleições posteriores. Isso, sem dúvida, auxiliaria na tentativa de uma sucessão presidencial. Mas, se por um lado existia a articulação do governo em se manter no poder, existia também a articulação da esquerda, ou das esquerdas, em renovar os representantes políticos no Brasil, entre essas as mais moderadas foram a Igreja e a OAB, como afirma Skidmore: Era também considerada geralmente a Igreja Católica mais progressista do mundo, reputação que conquistou como defensora dos direitos humanos e de reformas radicais para ajudar os pobres. As lideranças destes últimos defendiam uma "igreja popular" e gozaram de influência na Igreja brasileira durante todo o governo Geisel e nos primeiros anos do de Figueiredo. Os religiosos e leigos conservadores ficaram aguardando melhor oportunidade, enquanto os "moderados" não mereciam confiança para assumir como aliados posições extremas de longo prazo, inclusive as preconizadas pela "igreja popular". A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) foi outra tradicional instituição que se tornou ativa adversária do governo militar. A advocacia foi sempre a profissão de mais prestígio no Brasil e o caminho preferido para a conquista do poder público.31

29

LIMA JR. , Olavo Brasil de (org.). Democracia e instituições políticas no Brasil dos anos 80. Edições Loyola. Rio de Janeiro – 1997, p. 23. 30 Essas questões são discutidas por Olavo Brasil de Lima Junior no primeiro capítulo da obra Democracia e instituições políticas no Brasil dos anos 80. Edições Loyola. Rio de Janeiro – 1997. 31 SKIDMORE, T. Brasil: de Castelo a Tancredo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, p. 362-3.

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As manifestações políticas que se desenvolveram a partir de 1984 também indiciaram a fragilidade do governo; a campanha pelas Diretas já que, a princípio foi boicotada pela imprensa, mostrou que a participação popular era intensa, a ponto da própria imprensa se ver obrigada a cobrir os comícios pró-diretas, segundo Skidmore: Neste ponto ocorreu interessante reviravolta na cobertura jornalística. Quando a campanha começou, a TV, sobretudo a TV Globo, ignorou os comícios, por instruções do governo. Mas, à medida que aumentava o entusiasmo popular, as redes de televisão se deram conta de que estavam perdendo importante matéria jornalística, bem como relevante evento político. Começaram então a cobrir os comícios do princípio ao fim. Subitamente, aquele poderoso veículo, que o governo explorara tão habilmente, estava ajudando a oposição. E a liderança era da TV Globo, à qual o governo militar proporcionara a oportunidade de crescer e gerar polpudos lucros. Era uma dramática demonstração de que o prestígio do governo estava declinando32. A população descontente com o governo, o congresso formando um grupo de oposição que se fortalecia e conseguia expressividade diante da nação e agora a imprensa não seguindo as instruções do governo indicavam que o regime militar não poderia se sustentar por muito tempo. Para além dessas questões ainda existiam os movimentos de grupos que revindicavam soluções para problemas seculares do Brasil, o principal exemplo foi o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Depois de 1964, os proprietários de terras passaram a contar com a cobertura da polícia e dos militares, não dando margem a que os pobres do campo se organizassem. Mas, no início dos anos 80, a situação começou a melhorar. A abertura política em nível nacional encorajou alguns camponeses sem terra e seus líderes a se organizarem para exigir a redistribuição das propriedades33. A partir de 1985, com o governo civil já estabelecido, a sociedade mostrou que estava disposta a se organizar para exigir o que achava que tinha por direito. Havia também evidência de que os brasileiros estavam reconquistando a confiança em sua capacidade de melhorar seu meio de vida através da ação coletiva direta, ingrediente indispensável em qualquer democracia. Muitos dos milhares de mutuários em atraso com o Banco Nacional de Habitação, por exemplo, suspenderam o pagamento de suas hipotecas em protesto contra as taxas de indexação aplicadas a suas prestações. Os 32 33

SKIDMORE, T. Brasil: de Castelo a Tancredo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, p. 368-9. SKIDMORE, T. Brasil: de Castelo a Tancredo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, p. 576.

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empregados de dois bancos do Rio Grande do Sul que declararam falência em 1985 deram outro exemplo: organizaram uma caravana e invadiram Brasília em março, conseguindo persuadir o Congresso e o Planalto a salvarem os bancos (e os empregados). Ativismo semelhante caracterizou o Movimento de Defesa dos Contribuintes, fundado em meados de 1985, e que logo se transformou em plataforma para os pequenos empresários que se sentiam duramente atingidos pelas reformas tributárias do governo Sarney. Houve também um movimento de base política mais ampla liderado por empresários do Rio Grande do Sul e de São Paulo com o objetivo de levantar recursos. Os sindicatos não ficaram atrás, e 230 deles se juntaram34. Essas organizações eram reflexos de todo um processo que se iniciara no final da década de 1970 e se fortalecera no início da década de 1980, e mais, acreditavam que as mudanças políticas eram fundamentais para uma reestruturação do Brasil. Mesmo os eleitores não tendo a possibilidade de eleger o presidente diretamente, eles conseguiram demonstrar esse anseio durante as eleições de 1985: a maioria do eleitorado votara do centro para o centro-esquerda. O PDS e o PFL saíram-se muito mal. O PMDB, onde perdeu foi, principalmente, não para candidatos direitistas, exceto em São Paulo, mas para candidatos esquerdistas. Esta tendência ficou clara no sucesso do PT que conquistou a prefeitura de Fortaleza, capital do importante estado nordestino do Ceará, e chegou em segundo ou terceiro lugar em várias disputas municipais através do país35. Os resultados das eleições de 1985 indicavam que nas próximas eleições para presidente a possibilidade de um partido de esquerda, entre eles o PT com a candidatura de Lula, ganhar as eleições era fato. E isso era desagadavel para grupos da elite política do Brasil, principalmente os que estavam vinculados ao governo e que não tinham o hábito de possibilitar aos eleitores escolherem seus representantes. Para evitar tal situação constragedora, os meios de comunicação, com o incentivo do políticos tradicionais do país, criam o candidato ideal para as eleições presidenciais do 1989, Fernando Collor de Melo. Segundo o pesquisador Antônio Francisco de Freitas, no artigo “Análise do discurso jornalítico: um estudo de caso”, a imprensa num trabalho de ‘marketing’ político previamente traçado, são garantidas suas (de Fernando Collor) entradas gratuitamente em rede nacional em programas como o ‘Fantástico’, o ‘Jornal Nacional’, o programa do ‘Chacrinha’ e o ‘Globo Repórter’. 34 35

SKIDMORE, T. Brasil: de Castelo a Tancredo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, p. 502. SKIDMORE, T. Brasil: de Castelo a Tancredo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, p. 507.

33

Paralelamente a isso, a sua imagem também é "fabricada" em outros importantes veículos da mídia nacional, através de matérias pagas36. Segundo

Freitas

Com

discursos

baseados

em

temas

previamente

encomendados e “plantados”, com o apoio do complexo Globo e com muito dinheiro de origem obscura, Fernando Collor chegou ao Palácio do Planalto37. O primeiro presidente eleito diretamente no Brasil após o fim do regime militar acabou sendo um produto da mídia. Ou seja, a redemocratização do Brasil, que ocorreu durante a década de 1980 inicia-se com a criação de modelos políticos onde houvesse mudanças nas formas de escolha dos representantes. A principio pelo voto direto, eleições de 1982, mas esse quando se torna um problema retorna ao voto indireto – no que diz respeito a escolha do presidente - , 1985, posteriormente ao voto direto novamente, mas tomando o cuidado de não transferir o poder administrativo para grupos considerados radicais, algo que fica concretizado com as eleições de 1989 quando Collor de Mello se elege com a influencia direta dos meios de comunicação.

b) Problemas sócio-ambiental. Diante do contexto de redemocratização surgia também a necessidade de se discutir questões relacionadas ao meio ambiente. Segundo a pesquisadora Beta Bertha Becker A variável ambiental – entendida como recursos naturais, patrimônios natural e cultural, conhecimento e práticas sociais o foi – foi incluída no discurso e na definição de políticas38. Isso pode ser observada através das políticas adotas a partir de 1986, e de cinco pontos considerados importantes. O primeiro foi a implantação da legislação ambiental brasileira, o segundo foi a do Programa Pólo Amazônia, o terceiro a declaração da Floresta Tropical da Amazônia como patrimônio nacional, a quarta a criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente – IBAMA –, e por ultimo a Criação do Programa Nacional do Meio

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FREITAS, Antonio Francisco de. Análise do discurso jornalístico: um estudo de caso. Universidade Federal do Alagoas. http://bocc.ubi.pt/pag/_texto.php3?html2=freitas-antonio-dicursojornalistico.html. [Consulta fechada em 21/06/2010]. 37 FREITAS, Antonio Francisco de. Análise do discurso jornalístico: um estudo de caso. Universidade Federal do Alagoas. http://bocc.ubi.pt/pag/_texto.php3?html2=freitas-antonio-dicursojornalistico.html. [Consulta fechada em 21/06/2010]. 38 BECKER, Berta K. Tendências de transformação do território no Brasil. Vetores e circuitos. Revista TERRITÓRIO, 1(2). Publicação do LAGET/Departamento de Geografia – UFRJ. Pg. 06. ftp://146.164.23.131/terr/N_02/v_2_becker.pdf [Consulta fechada em 08/04/2010]

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Ambiente39. No entanto, essas medidas de caráter político possibilitam soluções burocráticas para alguns problemas relacionados ao meio ambiente mas ainda é necessária alguma ação prática, que mostre algo concreto. As primeiras ações concretas podem ser observadas com a criação dos parques nacionais: Podemos observar que a preocupação em crescente quando identificamos a criação dos Os parques nacionais do Pico da Neblina (1979), Pacáas Novos (1979), Jaú (1980), Serra do Divisor (1989), e as reservas biológicas do Rio Trombetas (1979), do Lago Piratuba (1980) e do Guaporé (1982) foram criados como resultado dessa proposta40.

Essas ações do Estado estavam acompanhadas do surgimento de grupos ambientais que se fundamentaram como de grande importância para o final da década de 1980 como afirma Pedro Jacobi: a estrutura do movimento ambiental brasileiro assume uma configuração multissetorial e mais complexa no final da década de 80, demandando atores com práticas centradas na busca de uma alternativa viável de conservação e/ou restauração do meio ambiente degradado. Nesse quadro, destacam-se algumas organizações ambientalistas que se capacitam cada vez mais para exercer uma nítida influência sobre as agências estatais de meio ambiente, sobre o Poder Legislativo, sobre a comunidade científica e o empresariado41.

Essas discussões, no entanto, não se limitavam às necessidades de problemas que surgiam ou que afetavam somente o Brasil, em 2001, quando o Ministério da Ciência e Tecnologia publicou o periódico número 12 do Centro de Estudos Estratégicos (CEE) que abordava o tema “Biodiversidade, pesquisa e desenvolvimento na Amazônia” a pesquisadora Sarita Albagli afirmou que: E, a partir da década de 1980, começou a ser percebida no contexto de suas interrelações (destruição florestal) com outros problemas ambientais globais, tais como o efeito estufa, a destruição da camada de ozônio e a mudança climática. O alarde em torno do desmatamento tropical e, em particular, da Amazônia, nesse período, coincide, portanto, com a emergência da biodiversidade como questão ambiental

39

Esse itens de maneira positiva para a elaboração ou manutenção de planos que orientavam o regulamentava a exploração ambiental no Brasil, no artigo citado anteriormente Berta Becker já faz algumas afirmações referentes a essa questão. 40 RYLANDS, Anthony B. e BRANDON, Katrina. Unidades de conservação brasileiras. MEGADIVERSIDADE, Volume 1. N° 1. Julho de 200, p. 30 http://www.conservacao.org/publicacoes/files/06_rylands_brandon.pdf [Consulta fechada em 08/04/2010] 41 JACOBI, Pedro. Meio Ambiente e Sustentabilidade. Revista de sustentabilidade. UNIFAP.br / http://www.unifap.br/editais/2006/PMDAPP/sustentabilidade%5B1%5D.pdf [Consulta fechada em 08/04/2010], p, 177.

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global, demarcando a associação entre a defesa das florestas e a proteção da diversidade biológica.42

Essa afirmação indica que, durante a década de 1980, o Estado já tinha conhecimento dos problemas decorrentes da ação do homem no meio ambiente, principalmente na floresta amazônica que, durante parte dessa década, esteve associada ao discurso de novas regiões a serem ocupadas e exploradas pela população. E mais as conseqüências da ocupação da região indicam que, a principio, não houve uma preocupação do estado com esse desmatamento. Diógenes Alves, do INPE, apresentou os resultados mais recentes de seus estudos de diagnóstico do processo de desmatamento da Amazônia, baseados na dinâmica espacial das áreas alteradas, que podem ser detectadas por sensoriamento remoto. Seus resultados apontam para um cenário aproximadamente determinístico e sustentado, em que cerca de 90% do desmatamento ocorreram nos limites de 100 km da malha rodoviária principal, ao redor dos eixos e polos de desenvolvimento definidos nos anos 70 e 8043. Em suma, podemos afirmar que, durante a década de 1980, as questões relacionadas ao meio ambiente estavam se estruturando politicamente, e a própria sociedade estava começando a participar e exigir uma maior atenção para tal questão, mas em termos práticos havia uma distância entre os objetivos e os resultados alcançados.

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Vários Autores. Parcerias Estratégicas, N° 12. Brasília: (Ministério da Ciência e Tecnologia. Centro de Estudos Estratégicos), setembro de 2001, p. 10. 43 Vários Autores. Parcerias Estratégicas, N° 12. Brasília: (Ministério da Ciência e Tecnologia. Centro de Estudos Estratégicos), setembro de 2001, p. 132-3.

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2 – Rondônia aproximação histórica. Rondônia é um Estado situado ao sul da região Norte do Brasil, territorialmente tem seus limites estabelecidos com os Estados do Acre, Amazonas, Mato-Grosso e com a Bolívia, está inserido na região determinada como Amazônia Legal. Sua capital administrativa é a cidade de Porto Velho, sendo que das 52 cidades que formam o Estado essa é que possui o maior número de habitantes. O Estado foi criado oficialmente com a aprovação do projeto de lei complementar n° 221-A/81. Possui uma área territorial de 237.576,167, e sua população média é estimada em 1.503.92844. Esse é o único Estado em território brasileiro que tem o seu nome associado à imagem de uma pessoa, o Marechal Candido Rondon que, no início do século XX, foi o representante do Governo Federal responsável em interligar o extremo sertão do Mato Grosso a outras áreas do Brasil via Telégrafo. Atualmente esse estado tem suas atividades econômicas vinculadas à exploração agropecuária que se fundamentou durante as duas últimas décadas do século XX 45. E que, oficialmente, surgiu para atender às necessidades históricas da região de inseri-la nos centros produtores de riquezas do Brasil.

a) O passado histórico. (até a década de 1980) Em 1943, enquanto o continente europeu sofria com as batalhas da Segunda Guerra Mundial, a África já havia sido praticamente retomada pelos aliados e a Ásia se via envolta na disputa entre Japoneses a Americanos, o Governo brasileiro discutia com o Governo americano maneiras de aproveitar melhor as matérias primas produzidas no Brasil. É nesse contexto que surge o primeiro esboço do que hoje é Rondônia como unidade territorial do Brasil. Segundo os pesquisadores Francisco Matias e Erson Penha de Menezes, a ação japonesa nas regiões de seringais nas Ásia comprometeu o abastecimento de borracha nativa para os Estados Unidos o que levou a uma ampliação dos Acordos de Washington. Nesse processo de ampliação houve a estruturação de uma política em

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Dados do IBGE pesquisados no dia 18/06/2010 no site http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=ro, as 11:16. 45 Isso pode ser observado na discussão realizada no capítulo Colonização Agrícola em Rondônia (19701996) da obra “A Fronteira do Guaporé” de Carlos Santos.

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que o Brasil se comprometeu em abastecer os Estados Unidos com a borracha extraída na região norte em troca de empréstimos financeiros46. Havia, então, a necessidade de explorar a região inserindo-a em uma política nacionalista proposta pelo governo Vargas que tinha como objetivo estimular a ocupação humana das áreas subaproveitadas economicamente, radicar o homem à terra e promover o comércio; uma das maneiras de alcançar esse objetivo era criando os Territórios Federais47. Nesse contexto, em 1943, é criado pelo Decreto Lei n° 5.812, o Território Federal do Guaporé, anexando áreas pertencentes aos Estados do Amazonas e do Mato Grosso. Em 1956, a denominação Território Federal do Guaporé é modificada para Território Federal de Rondônia. Segundo o pesquisador Matias, esse nome já havia sido sugerido no momento da criação mas houve a negativa do então presidente Getúlio Vargas devido a questões ideológicas que distanciavam as duas figuras48. Já o projeto de elevação de território a Estado de Rondônia foi apresentado pela primeira vez ao Congresso Nacional em 1962, sendo vetado. Somente em 1981 houve a aprovação da elevação da situação de Território Federal para Estado de Rondônia. Essa transição foi marcada por um período político conturbado, principalmente se considerarmos todo o contexto político da época como será discutido posteriormente. É importante afirmar que a criação e os processos políticos decorridos ao longo desse período estiveram vinculados a contextos econômicos e sociais diferenciados. Durante a criação do território, o projeto de exploração econômica era a coleta de borracha e havia um empenho do governo federal em transferir mão-de-obra, principalmente do nordeste, para essa região. Após 1945, com o fim da II Guerra Mundial, a importância econômica do Território já não é mais a mesma, mas a necessidade de ocupação por contingentes humanos parece não mudar, e ainda existe a necessidade de manter os contingentes humanos que já haviam se fixado na região. A manutenção desses grupos de pessoas na região pode ser observado com o desenvolvimento das colônias agrícolas em Guajará-Mirim, a colônia agrícola de IATA (1945). Em Porto Velho, aparecem as Essa discussão pode ser encontrada nas obras de Francisco Matias. PIONEIROS – Ocupação humana e trajetória de Rondônia. De Francisco Matias, pág. 83 a 86 e Retalhos para a história de Rondônia de Esron Penhade de Menezes pg. 135 a 139. 47 MATIAS, Francisco. PIONEIROS – Ocupação humana e trajetória de Rondônia. De Francisco Matias, pág. 87. 48 MATIAS, Francisco. PIONEIROS – Ocupação humana e trajetória de Rondônia. De Francisco Matias, pág. 87-8. 46

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colônias agrícolas de Candeias (1948), Nipo-Brasileira (1948) e Treze de Setembro (1948), e, ainda, a de Paulo Leal (1959). Foram criadas também as de Periquitos e Areia Branca, nas margens de Porto Velho.49 No entanto, o sucesso das colônias agrícolas é limitado ao desenvolvimento de uma produção para a subsistência ou para o abastecimento do mercado local, o que possibilitou a manutenção desses grupos de pessoas na região.

Na segunda metade da década de 1950, surge a possibilidade de a região passar a figurar novamente na economia nacional graças à descoberta do minério de cassiterita em antigas áreas de seringais. E segundo Pereira, dois fatores contribuíam para isso: 1) o fato de Rondônia possuir uma das áreas de maior reserva estanífera do mundo; 2) os preços desse minério favoreciam a abertura de novos garimpos e a conseqüente atração de garimpeiros de várias regiões do País.50 A extração de minério na região foi importante estimulador da economia, da manutenção de pessoas e fator de atração de migrantes para a região, no entanto havia a ausência de estrutura de transporte e telecomunicação com outras regiões do país o que só passou a ser sanado a partir da década de 1960 com o projeto de abertura da BR hoje conhecida como 364. Essa rodovia tinha como objetivo interligar as capitais do Mato Grosso, Rondônia e Acre, criando assim uma alternativa de escoamento da produção de Rondônia que até então era via fluvial ou aérea. Segundo Pereira, parece não restar dúvida que um marco importante na trajetória do desenvolvimento sócio-econômico de Rondônia ocorre em 1965, com a consolidação da rodovia BR-364, que liga Porto Velho a Cuiabá, mesmo ainda desprovida de pavimentação asfáltica51. E é justamente a partir desse período que Rondônia passa a receber um maior contingente populacional e surgem novos projetos de colonização e ocupação para a região.

Segundo Francisco Matias, a abertura da BR 364, a descoberta de manchas de terras agricultáveis em Rondônia, o modelo agroexportador implantado na região sul

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PEREIRA, Sdniei de Moura. Região amazônica: estrutura e dinâmica da economia de Rondônia. Tese de doutorado defendida na Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Economia. Campinas 2007, p. 104. 50 PEREIRA, Sdniei de Moura. Região amazônica: estrutura e dinâmica da economia de Rondônia. Tese de doutorado defendida na Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Economia. Campinas 2007, p. 107. 51 PEREIRA, Sdniei de Moura. Região amazônica: estrutura e dinâmica da economia de Rondônia. Tese de doutorado defendida na Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Economia. Campinas 2007, p. 129.

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do país, Mato Grosso do Sul e São Paulo junto com a propaganda oficial do governo fez com que grande número de migrantes se dirigisse para Rondônia.52 Com o objetivo de ordenar a ocupação da região, foram criados os Projetos Integrados de Colonização – PIC – e os Projeto de Assentamentos Dirigidos – PAD – coordenados pelo INCRA. Para o desenvolvimento desses projetos de colonização foram criados os Núcleos Urbanos de Apoio Rural – NUARs – que, segundo o pesquisador José Januário surgiram como uma grande “favela” no meio da floresta, nos projetos de colonização, lugar onde as pessoas ficam aguardando serviço e terra para trabalhar. Os diversos núcleos urbanos que não evoluem à condição de cidade mantêm-se como núcleos de excluídos, lugar de pobreza, lugar dos expropriados da terra53. Os NUARs deram origem a algumas cidades de Rondônia, sendo que as últimas a chegaram à situação de município foram as de Nova Colina (apresentava o solo de maior produtividade), Nova Riachuelo, Vale do Paraíso e Nova União pertencentes ao PIC Ouro Preto, que, no final da década de 90, foram elevados à categoria de município54. Esse processo de exploração de recursos naturais, evolução política e ocupação da região que hoje é Rondônia e que, constantemente está associado a fatores externos, é fundamental para entendermos como se fundamentou Rondônia durante a década de 1980.

b) Rondônia na década de 1980. A década de 1980 foi importante para a história de Rondônia por, pelo menos, três peculiaridades. A primeira, porque a região saiu do status de Território Federal para de Estado da União, o segundo, porque durante esse período houve o maior crescimento demográfico proveniente da migração, e terceiro, e não menos importante, porque esse período marca as primeiras discussões que levantam os problemas ecológicos que a região estava sofrendo ou viria a sofrer. A elevação de Rondônia a Estado, que já foi identificada anteriormente, foi importante à medida que deu autonomia para a região autogerir seus recursos e criar MATIAS, Francisco. PIONEIROS – Ocupação humana e trajetória de Rondônia. Porto Velho : Ed. Maria, 1998, p. 124-5. 53 AMARAL, Januário. Latifúndios do INCRA. Porto Velho: EDUFRO, 2007, p. 62. 54 Anotação de trabalho disponibilizado pela professora doutora Lílian Mosser durante aula da disciplina Território e Fronteira em novembro de 2009. 52

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seu quadro de lei, no entanto o pesquisador Francisco Matias enfatiza que Não se pode deixar de esclarecer que a criação do Estado de Rondônia fez parte de um projeto político do governo federal, em decorrência da necessidade do presidente João Batista de Oliveira Figueiredo obter maioria parlamentar no Senado e na Câmara Federal, a partir das eleições de 15 de novembro de 198255. E esse objetivo acabou por se concretizar porque, com a criação do Estado de Rondônia, foram criadas mais três vagas no Senado e o número de deputados federais pelo Estado subiu de dois para oito. Os senadores eleitos foram todos do partido do governo, já os deputados federais foram cinco da situação e três de oposição. Esse numerário acabou sendo significativo para o Governo principalmente se considerarmos as votações de leis polêmicas para a época como a emenda Dante de Oliveira. O cenário político do Estado, no entanto, não era tão agradável, o governador em exercício, Jorge Teixeira, não tinha sido eleito por voto direto, fora nomeado pelo Governo Federal através de um dispositivo legal, que era o 5° Artigo da lei de criação do estado. A falta de diálogo entre o governador, que também era líder do partido governista – PDS – no Estado, e os membros do próprio partido criou uma divisão que só foi sanada no ano de 1985, quando o recém empossado presidente da República, José Sarney, afasta Jorge Teixeira do cargo e nomeia Ângelo Angelim. Mas o momento político que realmente marcou a autonomia de Rondônia como Estado foi as eleições de 1986, em que foram eleitos, pela primeira vez, diretamente, os representantes desde a escala de vereador a governador. Essas eleições foram marcadas também pelo casuísmo. Segundo o pesquisador Lima Junior, poucas foram as situações em que os partidos disputaram isoladamente a preferência do eleitor56 e isso pôde ser observado em Rondônia. Os dois senadores eleitos eram do PMDB, os deputados federais eram três dos PFL e cinco do PMDB, ou seja, não houve um candidato da bancada federal que fosse do PDS e mais, ao observarmos atentamente, descobrimos que três candidatos reeleitos pertenciam anteriormente ao PDS, desses, dois foram para o PFL e um para o PMDB, o que confirma a análise de Lima Junior para Rondônia.

MATIAS, Francisco. PIONEIROS – Ocupação humana e trajetória de Rondônia. Porto Velho : Ed. Maria, 1998, p. 142. 56 LIMA JR. , Olavo Brasil de (org.). Democracia e instituições políticas no Brasil dos anos 80. Edições Loyola. Rio de Janeiro – 1997, p. 52. 55

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No entanto, é importante lembrar que Rondônia foi o estado que mais cresceu em número de eleitores no período de 1982 a 1986, segundo os dados citados no trabalho de Lima Junior; nesse período houve um crescimento de 91,7% de eleitores57, esse crescimento, é claro, influenciou o perfil político da sociedade. Nas eleições de 1990, o casuísmo volta à cena novamente, agora, segundo Matias, o que menos importava durante essas eleições eram as legendas partidárias a liderança individual era a responsável pelo seu desenrolar58. A disputa era pelos cargos de deputados federais, estaduais, uma vaga par senador e a de governador do estado. O ultimo disputado em dois turnos, sendo que iriam para o segundo turno os dois mais votados. No entanto, durante o processo eleitoral, o primeiro colocado no primeiro turno foi assassinado, abrindo um precedente para a disputa ser entre o segundo e o terceiro mais votado. Podemos então afirmar que, durante a década de 1980, Rondônia se consolidou como uma região em que as disputas política estavam centradas mais nas figuras do que nos partidos, e que o próprio aumento do número de eleitores na região acabou favorecendo para fundamentar essa característica. No que diz respeito ao processo migratório, a década de 1980 é caracterizada, principalmente, pelo elevado crescimento demográfico de Rondônia: Nesse período, Rondônia era a unidade federada nacional que apresentava o maior ritmo de crescimento, pois sua taxa de expansão se encontrava em torno de 16,03% a.a. No período 1980/91, a população residente total regional apresentou crescimento superior ao nacional, com taxas que giraram em torno de 4,97% e 1,93% a.a., respectivamente. E Rondônia continuou sendo a unidade federada que mais cresceu, pois, em que pese sua taxa de crescimento populacional declinar em relação ao período anterior, seu ritmo de expansão foi cerca de 7,89% a.a..59

Esses dados são compartilhados também na pesquisa do geógrafo Carlos Santos que cita como fonte o IBGE e identifica que a população de Rondônia, em 1980, era de 491.025 e, em 1991, estava em 1.130.87460. O processo migratório, na verdade, havia se iniciado na década anterior e fazia parte do plano governamental que 57

LIMA JR. , Olavo Brasil de (org.). Democracia e instituições políticas no Brasil dos anos 80. Edições Loyola. Rio de Janeiro – 1997, p. 97. 58 MATIAS, Francisco. PIONEIROS – Ocupação humana e trajetória de Rondônia. Porto Velho : Ed. Maria, 1998, p. 210. 59 PEREIRA, Sdniei de Moura. Região amazônica: estrutura e dinâmica da economia de Rondônia. Tese de doutorado defendida na Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Economia. Campinas 2007, p. 137. 60 SANTOS, Carlos. A Fronteira do Guaporé. Porto Velho: Edufro, 2007, p. 96.

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tinha como objetivo colonizar oficialmente Rondônia através da expansão da fronteira agrícola, essa, por sua vez, iria inserir a região no modelo de desenvolvimento capitalista do país61. Grande parte dos migrantes foi expulsa, em sua maioria, de suas áreas de origem pela concentração fundiária, pela fragmentação dos estabelecimentos rurais, ou, ainda, pelo intenso processo de mecanização, que liberou farta mão-de-obra, ocasionando intensa proletarização da força de trabalho62. Sendo assim, o objetivo desses migrantes em Rondônia era conseguir a posse de terra, o que já não era possível em outras regiões do país. Para incentivar, acompanhar e organizar esse processo migratório, o Governo Federal criou o POLONOROESTE – Programa de Desenvolvimento da Região Noroeste do Brasil que tinha como objetivo a integração da região à nação através da pavimentação da BR 364 e da criação de projetos de infra-estrutura que facilitariam o escoamento da produção63. Ou seja, o processo de migração para Rondônia estava associado a questões econômicas, à necessidade dos excluídos econômicos de outras regiões conseguirem prosperar financeiramente e as questões políticas nas quais havia a necessidade de integrar a região ao modelo político capitalista. Apesar do POLONOROESTE identificar os problemas ambientais como algo a ser trabalhado, como podemos observar na obra de Carlos Santos,64 os resultados do processo migratório estimulado pelo plano não conseguiram alcançar esse objetivo. Segundo Pereira, o POLONOROESTE consistiu num programa de desenvolvimento regional que resultou num rotundo salto negativo: “despejou 500 mil migrantes em Rondônia em apenas 5 anos, sem orientação ou assistência. A maioria vinha do sul do país, trazendo práticas agrícolas inadequadas para a realidade amazônica. O desconhecimento do solo e do clima, a falta de planejamento e de apoio levaram ao fracasso do programa, que gerou problemas sociais e destruição ambiental”65.

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PEREIRA, Sdniei de Moura. Região amazônica: estrutura e dinâmica da economia de Rondônia. Tese de doutorado defendida na Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Economia. Campinas 2007, p. 147. 62 SANTOS, Carlos. A Fronteira do Guaporé. Porto Velho: Edufro, 2007, p. 76. 63 AMARAL, Januário. Latifúndios do INCRA. Porto Velho: EDUFRO, 2007, p. 64. SANTOS, Carlos. A Fronteira do Guaporé. Porto Velho: Edufro, 2007, p. 85. 64 SANTOS, Carlos. A Fronteira do Guaporé. Porto Velho: Edufro, 2007, p. 86-7. 65 PEREIRA, Sdniei de Moura. Região amazônica: estrutura e dinâmica da economia de Rondônia. Tese de doutorado defendida na Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Economia. Campinas 2007, p. 14.

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O planejamento governamental não foi eficiente na organização e orientação dos migrantes o que gerou, além de problemas sociais, outro problema, que só passou a ser debatido com mais afinco, em Rondônia, a partir da segunda metade da década de 1980: os problemas ambientais. Em 1985, Pereira afirma que já havia sido detectada uma perda de 21% da cobertura florestal original o que gerou pressão de ambientalistas, levando o governo do Estado a elaborar estudos que auxiliassem no desenvolvimento local com menor impacto ambiental. O resultado desses estudos foi a criação do PLANAFLORO – Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia – em 199066. O PLANAFLRO, por sua vez, tentava colocar Rondônia em nova perspectiva de desenvolvimento, trabalhando com o conceito de desenvolvimento sustentável. O plano tinha como objetivo principal conservar a biodiversidade de Rondônia, criando uma base para a utilização sustentável, visando a benefícios diretos para a população67. Ou seja, a partir desse período, passa a existir uma redefinição para os objetivos do Governo Federal diante de Rondônia. No início da década, a região tinha de se integrar ao Brasil elevando-se a Estado, recebendo migrantes e criando uma estrutura produtiva semelhante a das regiões Sul e Sudeste do país; já no fim da década, o Estado deveria criar políticas públicas que mantivessem a estrutura ambiental da região, possibilitando o desenvolvimento social e incluindo as comunidades tradicionais da região.

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PEREIRA, Sdniei de Moura. Região amazônica: estrutura e dinâmica da economia de Rondônia. Tese de doutorado defendida na Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Economia. Campinas 2007, p. 154. 67 PEREIRA, Sdniei de Moura. Região amazônica: estrutura e dinâmica da economia de Rondônia. Tese de doutorado defendida na Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Economia. Campinas 2007, p. 154.

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III CAPÍTULO IMPRENSA NO BRASIL

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No início do século XIX, com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, surge um dos primeiros esboços do que viria a ser a imprensa periódica no Brasil. A publicação dos dois principais periódicos nessa época, apesar de serem considerados de orientação divergentes, convergem-se em um item: a contraposição entre a ‘Gazeta do Rio Janeiro’ (enquanto jornal oficial) e o ‘Correio Braziliense’ (que fazia críticas ao governo). (...) uma comparação atenta indica que, além dessa evidente dicotomia oposição/situação, existiam convergências entre estes dois periódicos. Tanto a Gazeta quanto o Correio defendiam idêntica forma de governo (monárquica), a mesma dinastia (Bragança), apoiavam o projeto de união luso-brasileira e comungavam o repúdio às idéias de revolução e ruptura68. Uma imprensa que estava vinculada ao poder instituído, para o período, a Casa Real Portuguesa, e que era acessível a uma minoria, como afirma Romancini, “O público leitor, entretanto, era minoritário, devido ao analfabetismo da maior parte da população69”. Nesse contexto, é importante frisar que, durante o período de consolidação da Independência do Brasil, a opinião publica era um recurso para legitimar posições políticas e um instrumento simbólico que visava transformar algumas demandas setoriais numa vontade geral. (...) a opinião como peso para influir nos negócios públicos, ultrapassando os limites do julgamento privado.70 Essa característica está vinculada à elitização dos periódicos impressos para o período, pois eram os membros do governo ou pessoas que tinham um padrão social diferenciado que conseguiam se alfabetizar e, posteriormente, ter acesso a esse tipo de fonte de informação. Durante o Segundo Reinado, com a criação do jornal “A Província de São Paulo” inicia-se um tipo de imprensa que se tornaria dominante, - a que mantém – preocupação política, ao mesmo tempo em que objetiva estruturar-se como empresa71. Ainda durante o Segundo Reinado, com a modernização dos meios de transportes no Brasil, no caso, o trem, os recursos provenientes da exploração do café e com a chegada dos imigrantes, a imprensa brasileira passa por um novo processo de dinamização. Primeiro, porque as notícias começaram a circular mais rapidamente e com maior eficiência e, principalmente, resolvendo o problema de volumes a serem 68

Vários Autores. História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg. 30. 69 Citado por Richard Romancini e Cláudio Lago em História do Jornalismo no Brasil, pg. 31. 70 Vários Autores. História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg. 33. 71 ROMANCINI, Richard. História do Jornalismo no Brasil / Richard Romancini, Cláudio Lago. Florianópolis: Insular, 2007, pg. 59.

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enviados para determinadas regiões. Segundo, porque o capital proveniente do café gerou a possibilidade do surgimento de outros periódicos que não estavam necessariamente vinculados às idéias da Monarquia. E no caso do processo migratório, porque haveria a possibilidade de novos consumidores, e, mais que isso, os migrantes assumiram, em muitos lugares, a responsabilidade de criarem impressos alternativos que estavam vinculados a realidades de seus grupos. É importante ressaltar ainda, que entre os jornais que surgiram no período “A Província de São Paulo” mostra claramente o poder da influencia econômica nos jornais. Isso porque o jornal pregava um discurso não partidário, mas que por intermédio de seus acionistas publicou atos oficiais do PRP, como afirma a pesquisadora Ana Luiza Martins, e acaba engajando nas campanhas das Republica e da Abolição, como afirma Richard Romancini72. E mesmo quando assume o discurso pró República, o jornal não perde os vínculos com a elite econômica paulista. Para o período republicano, a imprensa no Brasil passa por novas transformações, algumas inovadoras e positivas, outras nem tanto. Os processos de inovação tecnológica, por exemplo, foram positivos, pois permitiram o uso de ilustração diversificada – charge, caricatura, fotografia -, assim como o aumento das tiragens, melhor qualidade na impressão, menor custo do impresso propiciando um ensaio da comunicação de massa73, sendo que esse desenvolvimento técnico foi seguido ainda dos investimentos, mesmo que tímidos, na alfabetização. A alfabetização trouxe para o governo algo que não era esperado para aquele momento: a possibilidade de fazer dos meios impressos um veículo de comunicação e de formação de opinião sem precedentes até aquele momento no Brasil. Para solucionar esse problema, o governo Republicano recorre a um mecanismo inesperado, principalmente se considerarmos o apoio que a imprensa desempenhou para a instalação da República; o mecanismo foi o decreto do Governo Provisório de censura à imprensa, de 23 de Dezembro de 1989. Esse documento foi seguido da repressão contra formadores de opinião e órgãos da imprensa74. Se considerarmos essa informação, podemos entender porque o caráter opinativo da 72

Vários Autores. História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg, 73 e ROMANCINI, Richard. História do Jornalismo no Brasil / Richard Romancini, Cláudio Lago. Florianópolis: Insular, 2007, pg. 59. 73 Vários Autores. História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg, 83. 74 Vários Autores. História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg,85.

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imprensa tende a perder força e o teor informativo acentua-se75: a opinião em um regime de censura pode causar problemas tanto para a instituição que a veicular, como para a pessoa que estiver se expressando. Mesmo com a estruturação da República e a aparente liberdade que surgiu com o fim do Governo provisório, segundo Romancini A reorganização da imprensa não implicou, porém, numa independência do meio, de modo geral, em relação à República oligárquica, consolidada na presidência de Campos Salles (1898-1902). Ao lado de jornais de oposição, como o ‘Correio da Manhã’, fundado em 1901 por Edmundo Bittencourt, vicejam aqueles que têm a opinião comprada pelos governantes76. Afirmação semelhante pode ser observada na obra de História da Imprensa no Brasil: mas a imprensa foi também extremamente cortejada pelo governo, que, afinado com seus interesses de classe – isto é, aqueles que a elite agrária de São Paulo e Minas Gerais -, aliou-se e mobilizou-a para sua propaganda e serviço77. O que confirma a tendência que já foi observada anteriormente da associação entre poder instituído, poder econômico e imprensa. É nesse contexto que, segundo Ana Luiza Martins, se fortalece no Brasil a idéia de mercado jornalístico, ou seja, escrever na imprensa torna-se fonte de renda, os jornalistas podem encarar essa profissão como algo economicamente viável, além disso, os anúncios tornam-se importantes, pois podem estimular o consumo78. Durante o governo de Getúlio Vargas, o cerceamento à liberdade de imprensa foi constante, as possíveis ações da grande imprensa79 contra o governo podiam gerar represálias violentas como a destruição de redações de jornal e a prisão dos responsáveis pela publicação. No entanto, essas contendas parecem ter sido sanadas no momento em que imprensa e o governo encontraram um inimigo comum naquele contexto: o comunismo. Nesse ponto é importante ressaltar que a imprensa oficial no

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ROMANCINI, Richard. História do Jornalismo no Brasil / Richard Romancini, Cláudio Lago. Florianópolis: Insular, 2007, pg. 67. 76 ROMANCINI, Richard. História do Jornalismo no Brasil / Richard Romancini, Cláudio Lago. Florianópolis: Insular, 2007, pg. 80. 77 Vários Autores. História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg,86. 78 Vários Autores. História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg, 94-5. 79 O termo grande imprensa será usado aqui a partir do referencial da pesquisadora Ana Luiza Martins que afirma que de forma genérica designa o conjunto de títulos que, num dado contexto, compõe a porção mais significativa dos periódicos em termos de circulação, perenidade, aparelhamento técnico, organizacional e financeiro. Vários Autores. História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg, 150.

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Brasil teve um papel fundamental na construção de uma imagem positiva de Getúlio Vargas o que acabou influenciando sua popularidade durante toda a sua trajetória política80. Mas foi a partir do final da década de 1940, no entanto, que a imprensa brasileira se consolidou como um elemento de peso nos direcionamentos políticos do país. Principalmente a partir das eleições de 1950, quando Getúlio Vargas retorna ao poder. Nesse período, alguns jornais se eximiam das discussões relacionadas à política e de citar o nome de Getúlio Vargas por já terem sofrido represálias durante o seu governo anterior81, mas dois jornais se encarregaram de fazer o discurso, positivo e negativo, do novo período do governo getulista. O jornal de situação para o período foi o Última Hora, que surgiu pelas mãos do repórter Samuel Wainer. Segundo Ana Maria de Abreu Lourenza, em suas Memórias, Wainer relembra que argumentou: a imprensa pode não ajudar a ganhar, mas ajuda a perder. É possível que tenha sido nesse momento que começara a nascer a Última Hora82, esse jornal surgiu de um esquema político que garantiu as despesas do UH – que – contara com Ricardo Jafet, industrial e banqueiro paulista, presidente do Banco do Brasil no segundo Governo de Vargas; Walter Moreira Salles, banqueiro e futuro embaixador do Brasil nos Estados Unidos; Euvaldo Lodi, presidente da Confederação das Indústrias do Estado Novo ao segundo mandato de Vargas; Juscelino Kubitschek, governador de Minas e futuro presidente da República; conde Francisco Matarazzo Jr.(...)83. Essas alianças mostram que poder econômico e poder político estão mais uma vez se fechando em um mesmo objetivo: o de criar elementos que possibilitem sua manutenção no poder. Aqui é importante lembrar também que, mesmo surgindo como apoio de um grupo seleto da sociedade, o padrão de informação trabalhado no Última Hora tinha como objetivo alcançar as massas e isso pode ser justificado se observarmos como era pautado o jornal. O primeiro caderno era dedicado às políticas estatais de um estado intervencionista que fariam diferença no Essas questões são discutidas no capítulo “A Grande Imprensa Na Primeira Metade do Século XX” de Tânia Regina de Luca. Vários Autores. História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg,159-75. 81 Segundo Ana Maria de Abreu Loureza o nome de Getúlio Vargas não era citado no O Estado de São Paulo, porque o DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda – confiscara o jornal por cinco anos durante o Estado Novo. Vários Autores. História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg, 188. 82 Citado em História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg, 188. 83 Vários Autores. História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg,191. 80

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cotidiano do povo miúdo das ruas: transporte, habitação, carestia. Além disso, crimes espetaculares principalmente se envolvessem amantes apaixonados e uma pitada de ‘garçonière na pauta. O segundo caderno cobria comportamento, teatro, cinema, no jargão jornalístico, as variedades84. Ou seja, o jornal UH utiliza-se da estratégia de fazer com que o leitor se identifique com o jornal conseguindo, dessa maneira, ser consumido e influenciar, através de suas informações, na opinião do leitor sobre determinados assuntos, entre eles, a política. Por sua vez, o jornal de oposição com o título Tribuna da Imprensa, surge da iniciativa de Carlos Lacerda com o apoio do governador de Milton Campos, um dos fundadores a UDN. O jornalista saudou Vargas com as seguintes palavras: O Sr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar85. E esse tom de crítica ferrenha a Getúlio Vargas segue durante todo o processo eleitoral, após as eleições, até o suicídio do presidente em 1954. Essa oposição dos grupos chamados de conservadores era justificada, por eles, devido à possível aproximação do governo com os trabalhadores, que poderia levar à instauração de uma “República Sindicalista”, no Brasil. O que, a princípio, era apenas a disputa entre dois jornais para convencer os leitores de qual grupo político era o correto, com o tempo se tornou uma guerra ideológica: de um lado o Última Hora apoiava as ações do governo através de um discurso populista e que era bem recebido pelas massas; e de outro lado a Tribuna que tecia críticas ferrenhas ao governo e defendia uma política conservadora. Diante de tal situação, uma coisa ficou clara: Na disputa entre Tribuna e UH, os ânimos foram tão exacerbados que se matou um presidente da República86. Com o trágico acontecimento de 1954, a Tribuna perde expressividade, pois é acusada pelas massas de ter levado Getúlio Vargas ao suicídio. Esse fato impossibilita que o grupo oposicionista a Getúlio dê um golpe para tomar o poder. A experiência trágica da ação da imprensa e o fim do governo parecem ter servido de lição para alguns grupos políticos. Não que esses deixassem a imprensa de lado, os vínculos

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Vários Autores. História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg, 191. 85 Vários Autores. História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg, 105 86 Vários Autores. História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg, 204.

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econômicos e políticos da elite financeira e administrativa ainda existiam, mas se sabia que, ao mesmo tempo em que a imprensa poderia auxiliar na promoção, ela poderia auxiliar na decadência de figuras políticas. O governo instituído sabia que a imprensa poderia ser um problema, mas não arriscava ferir os princípios democráticos da livre opinião. Essa característica se manteve até o governo de João Goulart. Durante esse período, a grande maioria da imprensa fez oposição ao governo Jango. Uma exceção é o jornal Última Hora que, ainda sob a direção de Samuel Wainer, é um dos poucos que apoia o presidente. Não por acaso, sofria um boicote publicitário em função de suas posições políticas87. Segundo Romanici, o radicalismo da imprensa pode ser observado, por exemplo, o título do editorial do ‘Correio da Manhã’, jornal que apoiara a posse de Jango, é ‘Basta’, no dia do golpe88. A ação do Correio da Manhã não foi isolada; na verdade, a grande imprensa apoiou o golpe, e encarava o mesmo como uma das possibilidades de manutenção de poder, principalmente no que dizia respeito às propostas de avanço social do governo Jango que eram vistas por muitos como um caminho para o comunismo. O que ficou claro a partir de 1964 é que o comunismo não seria mais problema no Brasil, que discussões referentes à política de participação social não deveriam acontecer e que a ação, ou função da imprensa, não seria tecer críticas ao Governo. Os exemplos foram O Correio da Manhã, que tinha apoiado os militares e passou a ter problemas com o governo após fazer uma série de denúncias sobre irregularidades do Governo; o Última Hora, que já enfrentava problemas financeiros e não conseguiu apoio nas camadas governistas e nem na iniciativa privada e foi vendido para o grupo Folha. Nesse ponto do trabalho é necessário fazer um adendo às questões relacionadas às revistas semanárias no Brasil. O gênero Revista, no Brasil, teve um pouco mais de dificuldades para se estruturar, pois havia um problema em conciliar ideais e viabilidade econômica: O idealismo, porém, quase sempre sucumbia diante das exigências do mercado, condenando ao desaparecimento as pequenas folhas e as revistas sem estrutura econômica segura. Nesse particular, a questão do

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ROMANCINI, Richard. História do Jornalismo no Brasil / Richard Romancini, Cláudio Lago. Florianópolis: Insular, 2007, pg. 115. 88 ROMANCINI, Richard. História do Jornalismo no Brasil / Richard Romancini, Cláudio Lago. Florianópolis: Insular, 2007, pg. 117-8.

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financiamento revelava-se decisivo. A publicidade e o sistema de venda de assinaturas procuravam garantir o empreendimento.89 No entanto, a partir da década de 1950, dois grupos começam a se destacar nesse sentido; esses estavam vinculados à família Bloch e à família Civita. A primeira lança, em 1952, com o título de Manchete, revista que, para a época, apresentava uma característica moderna, pois trabalhava muito com imagens e, segundo a pesquisadora Patrícia Coelin, ficou marcada por publicar reportagens históricas 90. Por sua vez, a família Civita lança-se no mercado em 1950, com a publicação das revistas da Disney O pato Donald e, posteriormente, a Capricho. Segundo o pesquisador Thomaz Souto Corrêa, a primeira surgiu porque o irmão mais velho de Vitor, César Civita, havia negociado com a Disney os direitos para a Argentina e Brasil, e a segunda, porque sentiu a fascinação das mulheres pelas histórias mostradas em fotonovelas. Isso indica que inovaram na maneira de publicar as revistas e encontraram algo que favorecia o consumo das revistas, ou seja, são grupos relacionados à imprensa que já se preocupam em trabalhar como empresa geradora e mantenedora de recursos. O grupo Civita, que deu origem à editora Abril, ampliou o leque de opções de publicações de revistas, sempre direcionadas a públicos específicos como a Manequim, voltada para o público feminino e a Quatro Rodas, para o público masculino. Segundo o pesquisador Thomaz Souto Corrêa, O jornalismo de serviço em revistas foi visto no início como um jornalismo de segunda categoria, esquecendo – quem era dessa opinião – que se tratava de uma maneira eficiente de servir e de fidelizar o leitor, dando-lhe informações úteis para sua vida pessoal91. Posteriormente foi editada a revista Cláudia que, ao trabalhar com temas relevantes ao mundo feminino, um jornalismo de atualidade e de boa qualidade, conseguiu assumir a liderança no mercado. Outra revista que marcou o grupo Abril foi a Realidade, essa editada já durante o regime militar, a partir do ano de 1966, retratou um Brasil que se transformava, tratando de assuntos que, em pleno regime militar, sob censura, não apareciam em outras revistas: a maconha, o clero de esquerda, o casamento de padres, o racismo, a

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Vários Autores. História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg, 105. 90 NASCIMENTO, Patrícia Ceolin. Jornalismo em revistas no Brasil: um estudo das construções discursivas em Veja e Manchete. São Paulo: Annablume, 2002, pg. 17. 91 Vários Autores. História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg, 211.

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fome. Mostrou um país que também não saía com profundidade na imprensa da época: as mazelas do Nordeste, uma Amazônia desconhecida, os problemas das grandes cidades92. Mas a revista que mais se destacou, e se mantém no mercado como líder no seu setor, foi sem dúvida a Veja, o semanário lançado em 1968, e que só conseguiu se manter com seus próprios recursos seis anos após a primeira publicação. Os objetivos da Veja ficaram claros na carta de número 1, assinada por Vitor Civita: O Brasil não pode mais ser o velho arquipélago separado pela distância, o espaço geográfico, a ignorância, os preconceitos e os regionalismos: precisa de informação rápida e objetiva a fim de escolher rumos novos. Precisa saber o que está acontecendo nas fronteiras da ciência, da tecnologia e da arte no mundo inteiro. Precisa acompanhar o extraordinário mundo dos negócios da educação, do esporte, da religião. Precisa, enfim, estar bem informado. E este ó o objetivo de ‘Veja’.93 Informar rompendo as barreiras geográficas, sociais e culturais era objetivo ousado para a época, o que levou a revista a se calçar com uma equipe de profissionais comprometidos, eficientes e dinâmicos, selecionados entre profissionais de vários setores e várias regiões do Brasil, e treinados em um curso de jornalismo intensivo realizado em São Paulo.94 A partir de 1971, a Abril montou um departamento de assinaturas com o objetivo de estabelecer um contato direto com o consumidor, apoiado pela campanha publicitária que já vinha sendo feita desde antes do seu lançamento, e que foi considerada uma das mais caras para o gênero, possibilitou que ela se estruturasse a ponto de, em junho de 2007, conseguir vender 1096 mil exemplares, contra 428 mil de seu concorrente direto, a Época95

a) Veja e política para imprensa após 1968. Três meses após a primeira edição da revista Veja, foi editado no Brasil o AI5, que, entre as suas determinações, estabelecia a censura à imprensa. Para a editora 92

Vários Autores. História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg, 266. 93 Vários Autores. História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg, 219-7. 94 Discutido no capítulo A era das revistas de consumo, Vários Autores. História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg, 20732. 95 Dados retirados de Vários Autores. História da imprensa no Brasil. LUCA, Tânia Regina de / MARTINS, Ana Luiza, (organizadores). São Paulo: Contexto, 2008, pg, 229.

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Abril, isso era um problema duplo. Primeiro, porque dificultava a realização de um dos principais objetivos da revista que era veicular a “realidade” dos fatos, principalmente dos vinculados à política. Segundo, porque essa situação acabou aumentando os problemas financeiros que a revista vinha passando devido aos cortes das publicidades governamentais96. Segundo a pesquisadora Maria de Aparecida de Aquino, O AI-5 foi um marco divisório na história da censura nesse país. A partir de 13 de dezembro de 1968, a censura à imprensa escrita viveu períodos de maior ou menor intensidade e variou seu modo de atuação de acordo com o periódico, a extensão de suas denúncias e com a intensidade de sua resistência97 Ou seja, Veja surgiu justamente em um momento em que, além de se preocupar com a qualidade das matérias e com o mercado consumidor, teria de se preocupar também com o que essas matérias representariam para o Governo. A censura exercida pelo governo teve o seu período crítico entre a instituição do AI-5 e a saída de Mino Carta da redação. Em entrevista publicada na obra Eles mudaram a Imprensa. Depoimentos ao CPDOC, o jornalista Mino Carta afirmou que, em 1975, houve um acordo entre o Governo Militar e a editora Abril, no qual ficou estabelecido que a burocracia governamental não iria interferir nos pedidos de empréstimos da empresa desde que a Veja deixasse de ser “inimiga” do Governo. Como Mino Carta era o redator chefe da revista, tinha autonomia para selecionar as matérias a serem publicadas e não tinha interesse em mudar a sua postura diante da situação, o mesmo acabou tendo que sair da revista98. O desligamento de Mino Carta da revista levou à saída da censura da central da Veja, e o teor de crítica à política também se exauriu. A direção da revista ficou sob a responsabilidade de José Roberto Guzzo, que contratou Hélio Gaspari como diretoradjunto; esse trocou mais de 90% da redação da revista, incluindo nomes importantes como Millôr Fernandes. Foi nesse período, entre 1979 e 1991, que a Veja se consolidou no mercado como o principal semanário do Brasil.

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Esse tema é discutido na dissertação de Mestrado de Nilton Hernandes. A revista Veja e o discurso do emprego na globalização Uma análise semiótica. Dissertação de Mestrado apresentado ao Curso de Pós-Graduação em Lingüística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade d São Paulo. São Paulo – 2001. pg, 20-2. 97 AQUINO, Maria Aparecida de. Censura, Imprensa e Estado autoritário (1968-1978): o exercício cotidiano da dominação e da resistência: O Estado de São Paulo e Movimento / Bauru: EDUSC, 1999. 98 ABREU, Alzira Alves de; Lattman-Weltman, Fernando; Rocha, Dora (orgs). Eles mudaram a imprensa: depoimentos ao CPDOC. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2003, 189-93.

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b) A construção do texto jornalístico. A construção do texto jornalístico, a princípio, se dentém em transmitir informação para o leitor, no entanto temos de lembrar que toda a informação parte de um transmissor que, antes de tudo, dentém uma gama de conhecimentos que o receptor necessariamente não compartilha. O pesquisador Nilto Henandez, ao fazer uma análise semiótica do discurso jornalístico, ressalta que todo discurso é “social”,(...), “é a materialização de formações ideológicas”, ou seja, da visão de mundo de uma dada classe social. Para cada formação ideológica corresponde uma formação discursiva, definida como “conjunto de temas e figuras que materializam uma determinada visão de mundo”. Como os veículos de comunicação de massa pertencem a sólidos grupos empresariais, o discurso veiculado só pode ser favorável e de reforço ao próprio capitalismo. Um jornalista de qualquer grande mídia no Brasil utiliza, por exemplo, nos discursos analisados, idéias que remetem ao livre arbítrio do indivíduo (tema caro ao capitalismo), com o uso de figuras ou termos concretos que ilustram esse universo semântico, como o homem bem posicionado socialmente em relação ao mal posicionado. O profissional de comunicação está preso a esses temas e figuras – de maneira consciente ou não, concordando ou não. Já o texto é o lugar da união do plano de conteúdo (já entendido como discurso) com o plano de expressão99. Considerando essa afirmação e ao observamos os vínculos estabelecidos entre a revista Veja e o Governo militar, como ocorreu, mais claramente, a partir de 1976, podemos afirmar que essa revista estava a serviço do poder instituído. Essa afirmação é confirmada também pela análise da pesquisadora Clauninéia Justino Franchetti que destaca que as classes dirigentes, por meio de órgãos de opinião da sociedade civil, expõem os seus planos e os projetos, políticos particulares como pertencentes ao conjunto da sociedade, garantindo para si a hegemonia sobre o resto da sociedade. Para fazê-lo, utilizam-se, principalmente dos meios de comunicação (como a imprensa), que funcionam como legitimadores dos poderes político e econômico na sociedade capitalista100.

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HERNANDES, Nilton. A revista Veja e o discurso do emprego na globalização Uma análise semiótica. Dissertação de Mestrado apresentado ao Curso de Pós-Graduação em Lingüística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade d São Paulo. São Paulo – 2001, pg. 33. 100 FRANCHETTI, Claudinéa Justino. Paginas de intolerância política: A guerra psicológica contra o monstro vermelho na revista Lei e Política (1948-1950). Dissertação de Mestrado apresentado no

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Ou seja, o texto jornalístico nesse contexto tem uma função que vai além da simples informação, ele tem de induzir o leitor a criar uma imagem sobre determinadas questões, é claro que não de maneira que fique evidente, pois isso pode fazer com que os próprios leitores comessem a questionar a função da informação. Para evitar que isso aconteça, devemos considerar a afirmação citada por Nilton Hernadez de que “(...) a ideologia como visão de mundo permite relativizar a ‘verdade’, ao mostrar que há vários saberes ligados às diferentes classes, e reconhecer contradições em cada forma de ver o mundo, especialmente na visão dominante, criticando-a e a ela resistindo”. Fiorin completa que a ideologia, entendida como visão de mundo, é “o ponto de vista de uma classe social a respeito da realidade, a maneira como uma classe ordena, justifica e explica a ordem social101”. Especificamente nas edições da Veja ,essa característica pode ser observada nas reportagens especiais e de capa nas quais, constantemente, são citados exemplos de pessoas vinculadas a diferentes classes sociais ou grupos específicos, o que, a princípio, indica uma imparcialidade no discurso, mas que, ao se analisar mais profundamente, comprova-se, ser contrário, se considerarmos o trabalho da pesquisadora Patrícia Ceolin Nascimento. Segundo a pesquisadora, uma das principais características do discurso da ‘Veja’ é pretender-se explicativo. A revista procura “explicar” as coisas do mundo para seus leitores e para isso, recorre frequentemente ao “conhecimento legitimado”, por meio de vozes consideradas autorizadas (professores, especialistas em áreas específicas, universidades, institutos de pesquisa, etc.), e de dados comprobatórios (índices, porcentagens, gráficos, quantidades, datas). Explicar, adiantamos, é próprio de quem julga deter um saber102. E como contrapor um discurso de quem é detentor do saber? Só através de uma contraargumentação de alguém que conhece a fundo essas questões, o que não é o casso da maioria dos leitores que estão buscando na revista justamente uma informação sobre o assunto. Ou seja, a ideologia como visão de mundo, nesse caso a visão criada pela revista, agora torna-se uma verdade para o receptor.

Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de Maringá. Maringá – 2008, pg. 70. 101 HERNANDES, Nilton. A revista Veja e o discurso do emprego na globalização Uma análise semiótica. Dissertação de Mestrado apresentado ao Curso de Pós-Graduação em Lingüística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade d São Paulo. São Paulo – 2001, pg. 34. 102 NASCIMENTO, Patrícia Ceolin. Jornalismo em revistas no Brasil: um estudo das construções discursivas em Veja e Manchete. São Paulo: Annablume, 2002, pg. 174.

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Outra observação importante que deve ser pontuada aqui diz respeito à afirmação do pesquisador Flávio Agnelli Mesquista ao trabalhar com as construções discursivas dos textos jornalísticos. Segundo ele, A constatação inicial é que os semanários brasileiros assumiram um jornalismo muito mais opinativo do que interpretativo. A esse respeito, Ivo José Dittrich e Nilson Lage (2002), destacam que as revistas semanais praticam um jornalismo opinativo muito mais acentuado do que a cobertura interpretativa. Nessa dualidade, os autores definem a interpretação como característica de um texto jornalístico que apresenta fatos propondo ligações entre eles, podendo, assim, levar o leitor a fazer diversos entendimentos (seja por analogia, causa e conseqüência etc). A opinião, por sua vez, na visão de Dittrich e Lage, propõe apenas uma versão diante de vários fatos103. (Mesquita, Angeli pg. 50)

Isso porque, durante a década de 1980, a revista Veja já tentava fazer um jornalismo interpretativo e opinativo. Interpretativo, porque os principais textos da revista apresentavam fatos interligados entre eles, mas era opinativo, porque, por mais que os fatos fossem dissonantes, os elementos discursos eram diferenciados. Nessa diferença, um verbo que atribui sentido a um elemento pode levar o leitor a interpretar o texto de maneira que comprometa outro elemento, fazendo com que o texto jornalístico seja um elemento de manipulação de leitores.

c) Copidesque. O copidesque é um sistema de filtragem de matérias utilizado por algumas empresas com o objetivo de padronizar ou uniformizar a linguagem da revista ou jornal e corrigir pequenos erros gramaticais. No entanto, considerando as relações entre imprensa e poder analisadas até o momento, podemos afirmar que o copidesque, no Brasil, vai além de sua proposta inicial. Durante o regime militar, esse recurso era uma necessidade para todos os meios de comunicação que não queriam ter problemas com o Governo. E foi durante esse período que o ‘copidesque’ tornou-se um filtro ideológico, funcionando como peneira fina para barrar as filigranas da argumentação discursiva que não convinham à linha editorial104, fazendo com que a ação da censura fosse minimizada nessas redações.

MESQUITA, Flávio Agnelli. As fontes jornalísticas no Caso Dossiê – uma análise de enquadramento da cobertura das revistas Veja, Época, IstoÉ e Carta Capital. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Paulista, área de concentração “Gêneros e formatos na cultura midiática”. Bauru – 2008, pg. 50. 104 MELO, José Marques de. A opinião no jornalismo brasileiro. Pretrópolis, Vozes, 1985, pg. 66. 103

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No caso da revista Veja, apesar de Mino Carta ter recusado esse recurso, durante o período em que a supervisionava, após o seu afastamento, tornou-se constante, isso por uma questão de lógica. Afinal Mino Carta havia se afastado, mas praticamente toda a equipe de redação se manteve em um primeiro momento, então os textos produzidos por essa equipe deveriam ser analisados. Na década de 1980, apesar de alguns textos da Veja terem sido assinados por jornalistas específicos, a tendência do copidesque se manteve, como indica o pesquisador José Marques Melo: Apesar da características que a abrasileiram, ela segue os padrões clássicos definidos por Henry Luce para Time em 1982: é uma publicação departamentalizada, que apresenta um resumo das principais notícias da semana em todas as áreas de forma organizada, em secções e subsecções, pratica o jornalismo interpretativo que tenta tirar de cada fato suas ligações com os demais e mostra-lhe os antecedentes e eventuais desdobramentos, procura atingir o leitorpadrão, com um estilo de redação impessoal e elegante, uniforme da primeira à última página, como se toda a revista tivesse sido escrita por uma só pessoa105. Ou seja, a necessidade de uniformização de Veja, associado a necessidade de se manter um controle do que estava sendo publicado em suas edições fortaleceu a utilização do copidesque em sua redação como elemento de filtragem e controle do que estava sendo publicado.

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MELO, José Marques de. A opinião no jornalismo brasileiro. Pretrópolis, Vozes, 1985, pg. 75.

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IV CAPÍTULO RONDÔNIA ATRAVÉS DE VEJA

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Rondônia. Quando este pesquisador optou por trabalhar com um tema relacionando Rondônia e imprensa durante a década de 1980, foi incitado, claro, pela curiosidade, mas também pelo contexto histórico do período em questão. Como foi discutido no segundo capítulo, as mudanças econômicas, sociais e políticas decorrentes desse período marcaram profundamente a história de Rondônia. A mudança de Rondônia da condição de Território para a de Estado, fato político que, teoricamente, indicaria um avanço nas discussões políticas da Região, as transformações econômicas ocorridas na região devido ao fluxo migratório, que aumentou consideravelmente na década de 1970, como mostra o Censo do IBGE, registrando uma quantidade de 19.693 migrantes; na década de 1980, essa quantia subiu para 243.481106, e, por fim, um último aspecto que despertou o interesse, e que pode ser observado como um reflexo dos dois primeiros: as questões relacionadas ao meio ambiente. Fazer a abordagem desses temas parece simples, mas fazê-la considerando a ótica de uma instituição como a editora Abril torna o trabalho um pouco mais complexo. Primeiro porque temos de considerar o que foi Rondônia para Veja durante o período em questão e, para isso, vamos observar a presença de Rondônia em Veja. Os dez anos de publicação da Veja que serão trabalhados totalizam um número de 520 edições regulares, iniciada na edição de número 644 e se estendendo até a edição 1162. No sistema de busca foram identificadas, durante esse período, 333 citações de Rondônia.

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SANTOS, Carlos. A Fronteira do Guaporé. Porto Velho: Edufro, 2007.

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Palavra "Rondônia" em todas as edições. 39%

N. de Edições Citações "Rondônia" 61%

É importante afirmar que esse número de citações considera somente a palavra Rondônia, independente da mesma estar associada a reportagens, campanhas publicitárias ou ao número de vezes que a palavra é citada em cada edição. Isso nos leva a fazer um segundo levantamento, esse mais apurado, onde o objetivo passa a ser o número de edições onde podemos encontrar a palavra Rondônia. Edições que citaram Rondônia durante a década de 1980. 26%

N. de Edições. Edições com Rondônia 74%

Esses dados indicam que ao menos 26% das edições da revista Veja apresentam alguma citação sobre Rondônia durante a década de 1980. Se considerarmos que essa revista, primeiro, trabalha com o intuito de, antes de informar, gerar lucro para uma instituição e, segundo, que é voltada para um público de classe média, o que, para o período estudado, não é o perfil da maioria dos habitantes de Rondônia, surge o

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seguinte questionamento: Por que 26% das edições da Veja, durante a década de 1980, citaram Rondônia? Considerando esses dados e o que já foi discutido sobre a revista Veja no capítulo 3, só podemos entender a presença de Rondônia em Veja, se atentarmos para alguns temas trabalhados nos textos. Entre os temas mais recorrentes estão política, migração ou economia e meio ambiente como podemos observar na tabela que segue. Principais temas relacionados a Rondônia durante a década de 1980.

1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral

1900ral

Política

1900ral 1900ral

Migração e Economia Meio Ambiente

Temas mais recorrentes.

Analisando os dados do gráfico acima e contrapondo a afirmação do pesquisador Nilton Hernandez que os consumidores da revista “São leitores com um grau de escolaridade acima da média nacional. Em um Brasil de grande pobreza social e cultural, esse grupo forma uma espécie de elite. VEJA os influencia na tomada de decisões. Algumas decisões podem parecer pequenas, como ver ou não o filme apontado como “imperdível”. Outras escolhas repercutem na maneira de toda uma nação projetar e construir sua história107”, podemos afirmar que, ao citar Rondônia, a revista tem como ponto de referência um público externo a essa região, mas que irá se interessar pelo que foi informado no texto. Uma das maneiras utilizadas para alcançar esse objetivo foi trabalhar com temas que despertassem o interesse dos leitores por estarem vinculados a questões que não eram estranhas aos leitores; um exemplo disso é o que nos mostra Ana Maria Figueiredo ao afirmar que a revista Veja “passou a ser a revista capaz de ampliar, 107

HERNANDES, Nilton. A revista Veja e o discurso do emprego na globalização Uma análise semiótica. Dissertação de Mestrado apresentado ao Curso de Pós-Graduação em Lingüística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade d São Paulo. São Paulo – 2001, pg. 8.

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com certos limites, o espaço público, facultando ao seu o leitor a reflexão sobre as próprias condições de cidadania, ainda tão limitadas pelo momento político108”. É claro que essa afirmação é cabível se considerarmos, principalmente, a primeira metade da década de 1980 da mesma forma que poderemos observar que a importância dos temas abordados serão modificadas seguindo o contexto histórico da época.

108

FIGUEIREDO, Ana Maria Camargo. O olha da revista Veja sobre a teledramaturgia nacional. A imprensa como fonte de pesquisa para a teledramaturgia. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Trabalho apresentado no XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Uerj – de 5 a 9 de setembro de 2005, pg. 1-2.

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Rondônia em política. O tema mais citado na revista foi, sem dúvida, os relacionados à política. Uma breve leitura dos textos já nos leva aos seguintes dados: das 77 ocorrências da palavra Rondônia relacionada à política, 11 são propagandas oficiais do governo federal ou estadual; as outras associam indireta ou diretamente o estado a questões políticas em nível estadual ou federal. A distribuição desses textos no período em questão é de grande importância para entendermos como funcionou essa abordagem. Distribuição das matérias ou informes relacionados a política durante a década de 1980. 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral

Quantida de Matérias e/ou Informes.

Os dados apresentados no gráfico, contrapostos ao que é discutido nos textos, e o contexto político da época, possibilitam o entendimento de alguns pontos considerados chave no trabalho. Iniciaremos com o ano de 1981. Durante esse período, Rondônia ainda é Território Federal, mas as discussões referentes à sua emancipação política já estão maduras, sendo apenas uma questão de tempo. É o que podemos observar na citação da obra de Matias “Não se pode deixar de esclarecer que a criação do Estado de Rondônia fez parte de um projeto político do governo federal, em decorrência da necessidade do presidente João Batista de Oliveira Figueiredo obter maioria parlamentar no Senado e na Câmara Federal, a partir das eleições de 15 de novembro de 1982. Naquele pleito, o Senado da República se renovava em apenas um terço de seus membros e o Estado de Rondônia, por ser recém criado, iria eleger três senadores. Portanto, o governo federal precisava que

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os três representantes do novo Estado fossem do PDS, para contrabalançar uma provável derrota do governo para o PMDB109”. Em Veja, as duas primeiras referências a Rondônia no ano de 1981 informam sobre a intenção de um político paulista, vinculado ao governo federal, ser candidato a deputado federal pelo futuro estado de Rondônia110. Ou seja, a revista já aborda a emancipação de Território como fato, deixando indícios de que a política em Rondônia seria de teor direcionado para o favorecimento de grupos vinculados ao Governo Federal. Não fugindo às características de fundação do Estado por interesses políticos, devemos citar também o texto veiculado na edição de número 693, esse, na seção Eleição, “denuncia” a ação de um empresário, do ramo da construção civil, preparando-se para concorrer a um cargo eletivo por Rondônia; como evidência é indicado que o mesmo comprou e arrendou os dois principais jornais da região e se apossou da secretaria do PMDB111. No que tange à ação da revista, é importante lembrar que, ao comunicar sobre o primeiro político que tinha como objetivo ser representante de Rondônia, o caráter foi de informe, e o mesmo era vinculado a grupos do governo. Já o segundo teve caráter de denúncia e, por sua vez, estava vinculado ao grupo considerado de esquerda ao governo. Já em termo de concretização de resultados, o primeiro não colocou em prática sua transferência para Rondônia, enquanto o segundo, não só colocou em prática, como foi o candidato mais votado para deputado federal nas eleições de 1982112, ou seja, a imagem negativa preconizada pela revista não influenciou nos resultados das urnas. Ainda durante o ano de 1981, é importante observar as nuances dos textos que abordam a criação do Estado de Rondônia. A reportagem de capa da edição 691113, que trabalha com política interna, mostra Rondônia como um argumento de Governo para criticar a “minoria” no congresso. Segundo o Governo, essa oposição “atrapalha o desenvolvimento do processo de abertura política”, e a ação dessa minoria votando MATIAS, Francisco. PIONEIROS – Ocupação humana e trajetória de Rondônia. Porto Velho : Ed. Maria, 1998, pg. 142 110 As informações foram veiculadas na seção Radar das edições 673, pg. 29 e 675, pg. 34 da revista Veja. 111 Informações veiculadas na seção Eleição da edição 693, pg. 24 com resposta na seção de Cartas da edição 696 pg. 10. 112 MATIAS, Francisco. PIONEIROS – Ocupação humana e trajetória de Rondônia. Porto Velho : Ed. Maria, 1998, pg. 150. 113 Matéria veiculada na edição 691 pg. 20 – 31. 109

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contra a criação do Estado pode ser prejudicial para todo o país. Essa posição parece ter surtido efeito, pois, na edição 694114, há a informação de que a bancada de esquerda se retirou do Congresso durante a votação do projeto que criaria o Estado de Rondônia o que mostra que não houve nem desaprovação e nem aprovação da esquerda. Ademais, era fato que a esquerda também sabia que, junto com a criação do estado, seriam criadas também novas vagas para o Congresso e que o contexto político da época, em Rondônia, era favorável ao governo federal. Um terceiro bloco de textos que relacionam Rondônia no ano de 1981 trabalha com algumas medidas políticas que acabam influenciando na região. Entre elas estão a que discute a queda no consumo de energia no Brasil que poderia levar o governo a inviabilizar a construção da usina de Samuel em Rondônia115 e a da edição 694 que informa sobre o empréstimo de 320 milhões de dólares, fornecido pelo Banco Mundial e que seria para o desenvolvimento do Polonoroeste116 – Programa de Integração de Desenvolvimento do Noroeste Brasileiro – segundo o texto, o empréstimo foi assinado um dia antes da criação do estado de Rondônia. Essa sintonia entre a aprovação do empréstimo e a criação de Rondônia pode ser entendida por dois vieses. O primeiro de que havia um projeto econômico bem fundamentado para o desenvolvimento do Polonoroeste, o que pode ser questionado no próprio texto, se considerarmos que o montante necessário para o desenvolvimento do projeto era de 1,4 bilhão de dólares, e a situação econômica do Brasil já não estava bem como foi observado no segundo capítulo. O segundo, a assinatura do acordo financeiro inviabilizava uma tentativa de não aprovação da lei que criava Rondônia; seria incoerente o Congresso discutir a não aprovação, considerando que partes dos recursos para o desenvolvimento já estavam disponíveis. Em suma, o período em que Rondônia ainda era território foi observado politicamente pela revista Veja como uma região de potencial para os interessados em seguir a “profissão” de políticos e como um elemento de suporte para fundamentar alguns interesses do governo.

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A matéria veiculada na edição 694, seção Congresso, pg. 23. Matéria veiculada na edição 676, pg. 93. 116 Edição 694, pg. 73. Discussões relacionadas ao desenvolvimento do Polonoroeste podem ser analisadas nas obras de Januário Amaral. Latifúndios do INCRA. Porto Velho: EDUFRO, 2007. Januário Amaral. Mata Virgem – Terra Prostituta. Porto Velho: ABG Gráfica, 2004 e Carlos Santos. A Fronteira do Guaporé. Porto Velho: Edufro, 2007 115

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A elevação de Rondônia a Estado, a partir de 1982, leva a revista a veicular uma nova forma de texto relacionado ao estado de Rondônia. Surgem os textos referentes à propaganda oficial do governo. O primeiro deles, que apela tanto para imagens quanto para os textos, é veiculado na edição de 13 de janeiro de 1982 e apresenta a chamada “Estado de Rondônia: Uma Nova Estrela Azul na União”117, podemos observá-la como uma ação do Governo com o objetivo de promover o Estado recém criado. Já os mais consistentes trabalhavam com informações do alto escalão do Governo, isso é o caso do informe publicitário publicado na edição 726, em 4 de agosto de 1982. Esse, na verdade, foi uma entrevista com o então ministro da Agricultura, Amaury Stabile em que é feita uma análise do desenvolvimento agrícola no Brasil para o período. É interessante lembrar que entre as afirmações do ministro existe a seguinte: “a migração para as regiões de fronteira agrícola, notadamente Rondônia, Mato Grosso do Sul, juntamente com o norte de Goiás, é um fato, motivado pela disposição e força de vontade de milhares de produtores rurais. Toda essa gente, somada à regularização fundiária executada de forma dinâmica pelo Incra, leva à incorporação de milhares de hectares ao processo agrícola produtivo, de ano para ano118”. Esse informe, que apresenta uma visão positiva para o desenvolvimento agropecuário do país, mostra que ação do governo para o desenvolvimento agrícola em Rondônia está limitada a ações financeiras do período em que a região era território e o que pode ser tirado de positivo vincula-se às questões de regulamentação da questão fundiária. Essa política, no entanto, surtirá efeitos negativos nos próximos anos como veremos ao trabalhar com a questão ambiental. O outro texto que surgiu como informe publicitário data de 19 do Março de 1986, ou seja, durante a administração de um governo indicado pelos militares. Publicado na edição 915, o “Informe do Governo de Rondônia” apresentava as realizações do Governo Estadual, afirmando que o governo em questão estava preocupado com uma “linha de ação conjunta; o governo procurou ouvir as comunidades agrícolas, no sentido de colher subsídios para melhor elaborar um plano de serviço.119” Esse informe é seguido por uma homenagem do Governo do Estado às pessoas que vivem em Rondônia, campanha publicitária de alta qualidade que utiliza textos, imagens e retórica para indicar que as pessoas que vivem em Rondônia

117

Texto publicado na edição 697 de 13 de janeiro de 1982, pg. 11. Informe publicitário publicado na edição 726 pg 114. 119 Informe publicitário do Governo de Rondônia publicado na edição 915, pg. 122. 118

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mereciam ser elogiadas.120 Após esses surge ainda outro Informe do Governo de Rondônia que faz um balanço da administração do último governo de Rondônia não eleito diretamente121. É importante ressaltar que os informes publicitários oficiais de Rondônia referentes a esse período de governo iniciaram suas atividades após a publicação de dois textos que envolviam diretamente o Governo de Rondônia; o primeiro afirmava que o governo correria o risco de responder por legislar em causa própria, caso alterasse um texto referente aos benefícios aos ex governadores122, e o segundo denunciava que o chefe do DER – Departamento de Estradas e Rodagens – de Rondônia utilizava um diploma falso de advogado123. As duas publicações têm como correspondente o jornalista Hélio Teixeira. É importante afirmar ainda que fato semelhante aconteceu posteriormente, quando foram publicados na seção Radar da edição 1046 a informação de que o exgovernador de Rondônia foi intimado a ressarcir os cofres públicos 124, seguido da publicação da edição 1059 que comunicava que o vice-governador de Rondônia foi condenado por ter alterado a idade para poder concorrer a cargo público125, e ainda na seção Radar da edição 1072, a informação de que a primeira-dama foi condenada por falsificar extratos de contas bancárias para justificar a utilização de verbas em projetos comunitários que não foram realizados126. Após esses três textos negativos sobre Rondônia, surge mais uma propaganda oficial do governo de Rondônia, na qual são destacadas as ações dos dois anos de governo127. A partir da publicação da última propaganda oficial do governo de Rondônia durante o ano de 1990, interromperam-se os textos que apresentavam um tom de crítica a Rondônia; até os textos nos quais havia possibilidade de questionar atitudes do Governo de Rondônia são amenizadas pela mídia. Como exemplo claro, podemos observar o texto publicado na seção turismo da edição 1131, em que o governo de Rondônia também está colaborando com o pacote pantanens. ‘Investindo 7 milhões de cruzeiros em publicidade para divulgar o Além do Pantanal’128, a relação custo benefício desse investimento, principalmente se comparado aos estados que 120

Publicado na edição 956 de 31 de Dezembro de 1986 pg. 198-9. Publicado na edição 967 de 18 de Março de 1987, pg. 46-7. 122 Publicado na edição 883 de 7 de Agosto de 1985, pg. 55. 123 Publicada na edição 910 de 12 de Fevereiro de 1986, pg. 22. 124 Edição 1046 de 21 de Setembro de 1988, pg. 45. 125 Publicado na edição 1059 de 21 de Dezembro de 1988, pg. 41. 126 Publicado na edição 1072 de 22 de Março de 1989, pg. 39. 127 Publicado na edição 1073 de 29 de Março de 1989, pg. 81. 128 Publicado na edição 1131 de 23 de Maio de 1990. 121

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serão beneficiados, poderiam gerar textos extremamente críticos para revista, o que não ocorreu. Além dos textos com publicação oficial do governo de Rondônia, houve também os textos que trabalhavam com publicações oficiais do Governo Federal nas quais havia citações relacionadas a Rondônia. Estas dividem-se em dois vieses: o primeiro são os informes do governo federal apresentando as realizações dos governos estaduais; esses passam a ser comuns a partir do ano de 1986, com a característica de trabalhar as ações especificas realizadas em cada estado, indicando o nome do governador e o que foi realizado positivamente até aquele momento e os projetos em realização ou a realizar. Com exceção da edição de 1990, em que o texto focaliza alguns estados que dinamizaram o serviço administrativo e Rondônia é colocado como um dos estados que ainda sofre com esse problema e, é claro, com a falta de recursos financeiros129. Um outro bloco de textos relacionados à propaganda oficial diz respeito às publicidades das empresas governamentais; para Rondônia houve duas: a primeira referente à Eletronorte130 e aos pontos positivos de sua estruturação em Rondônia; a segunda promovendo a COBAL – Companhia Brasileira de Alimentos – e informando que a mesma estava abrindo três novos postos em Rondônia131. Se analisarmos a distribuição dos textos trabalhados até aqui, conforme o gráfico que segue, podemos observar que houve uma preocupação maior do governo federal em divulgar suas ações em Rondônia do que do próprio governo estadual. Ademais, como já foi ressaltado anteriormente, parte das publicações do governo de Rondônia estavam surgindo como uma defesa de críticas veiculadas na própria revista.

129

Publicadas nas edições, 916 de Março de 1986, pg. 137, 967 de 18 de Março de 1987, pg. 111, 1020 de 23 de Março de 1988, pg. 134 e 1122 de 21 de Março de 1990, pg. 99. 130 Publicado na edição 979 de 10 de Junho de 1987, pg. 106. 131 Publicado na edição 986 de 29 de Julho de 1987, pg. 37 e assinada pelo jornalista Moacir de Oliveira Filho.

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Textos com propaganda oficial do Governo em Veja.

Governo de Rondônia. Governo Federal. Governo de Rondônia.

No que diz respeito aos textos que trabalham especificamente o estado de Rondônia, podemos observar os seguintes dados. Distribuição de textos com teor político e especificos sobre o estado Rondônia na década de 1980.

Textos especifico sobre Rondônia.

1905ral 1905ral 1905ral 1905ral 1905ral 1905ral 1905ral 1905ral 1905ral

O pico de textos que relacionam política e Rondônia é o ano de 1982, e isso não é surpresa, até mesmo porque esse é o ano de criação do Estado, e as informações repassadas abordavam problemas pontuais da região, como as chuvas que tornavam o trânsito inacessível na BR – 364132, e aqui é importante ressaltar que, duas edições após a publicação desse texto, a revista publica um outro texto, em caderno especial, onde afirma que o governo já está com a seguinte chamada “Oeste livre da lama. Os atoleiros da BR – 364 têm seus dias contados: as máquinas estão a postos para asfaltar os 1900 quilômetros de Cuiabá até o Acre”. O jornalista Hélio Teixeira afirma que essa é a mais importante obra rodoviária do governo Figueiredo; fundamenta 132

Publicado na edição 704 de 3 de Março de 1982, pg. 24.

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mostrando dados positivos referentes ao crescimento populacional e de produção de Rondônia, Acre e Mato Grosso o que justifica a necessidade de integração da região através do asfalto133. Passando por informes básicos sobre algumas ações do governo134 e o ponto de vista de pessoas importantes135, os textos desse ano trabalharam com informações referentes a políticos e às eleições de 1982. E nesse ponto é importante observar que os textos sempre fazem observações para questões relacionadas ao PDS, partido do governo federal e que tem grande importância na região norte e, principalmente, em Rondônia136. Para o ano de 1983 existe uma queda drástica no número de publicações referentes a Rondônia; o único texto relacionado à política e a Rondônia tem como tema central a Rádio Nacional da Amazônia e Rondônia é citada, pois uma deputada federal de Rondônia teve como base para sua eleição o trabalho que desenvolveu nessa Rádio, prova disso é o fato de ela não ter se elegido mesmo morando em Brasília137. Tendência que segue para o ano de 1984. Já para o ano de 1985 é importante observar o caráter do texto publicada na edição 873, que tem como tema principal a questão da reforma agrária proposta pelo governo federal; apesar do texto tentar indicar que está trabalhando com pontos de vista tanto de latifundiários como de pequenos agricultores, os indícios de crítica à reforma agrária são constantes, por exemplo, ao afirmar que esse modelo, mesmo não sendo comunista, é apoiado pelo PT e Pastoral da Terra e, principalmente, ao afirmar que, se o montante investido para essa reforma agrária fosse investido na agricultura, o Brasil se tornaria o celeiro do mundo. Nesse contexto, Rondônia é observada como um exemplo de reforma agrária onde não houve necessidade de desapropriação de terras e surgiu por espontaneidade dos agricultores que tinham vocação para isso138. Esse caráter conservador do texto é uma característica que a revista sempre manteve, mas que, nesse momento, em que o governo não apresenta, na teoria, as mesmas características dos governos exercidos pelos militares, possibilita que os textos agradem mais aos leitores, nesse caso, os proprietários de terra, do que ao governo que, segundo o texto, está iniciando uma política com o

133

Publicado na edição 711 de 21 de Abril de 1982, pg. 52-5. Texto da seção Radar da edição 743, de 1 de Dezembro de 1982, pg. 46 onde a o informe sobre investimentos no sistema penitenciário de Rondônia. 135 Publicado na edição 737 de 20 de outubro de 1982, pg. 162. 136 Publicado nas edições 725 de 28 de Julho de 1982, pg. 26-7 e 733 de 22 de Setembro de 1982, pg. 31. 137 Publicado na edição 711 de 15 de Junho de 1983, pg. 113. 138 Publicado na edição 873 de 29 de Maio de 1985, pg. 114-7. 134

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objetivo de favorecer os pequenos produtores. Ademais, a maneira como Rondônia é colocada indica que o Estado teve uma colonização inclusiva de pequenos produtores, o que não condiz como os dados apresentados nos primeiro capítulo que mostra que o número de migrantes para Rondônia foi muito maior do que o de beneficiados pelo governo. A série de textos publicada a partir do final de 1985 e 1986 e, posteriormente, no final de 1988 e 1989139, são textos que abordam questões negativas de figuras políticas da região e já foram citados anteriormente, quando há a observação dos textos relacionados a figuras políticas que levam as publicações de propaganda oficial do estado. Já para o ano de 1990, os textos trabalham com as irregularidades encontradas no programa POLONOROESTE, e o assassinato do candidato ao governo do estado de Rondônia, indicando mais uma vez que Rondônia enfrenta, não só problemas de corrupção relacionados à política, mas também de violência. Os outros textos que relacionam Rondônia não trabalham especificamente com o estado ou, quando trabalham, a importância do mesmo em relação ao outros assuntos é bem menor, no entanto elas fornecem subsídios para a compreensão de como Veja direcionou seus discursos ao falar de Rondônia. O gráfico abaixo indica a distribuição desses textos no período em questão. Distribuição dos textos que relacionam o estado de Rondônia durante a década de 1980.

Textos que relacionam Rondônia.

1905ral 1905ral 1905ral 1905ral 1905ral 1905ral 1905ral 1905ral 1905ral

Os anos de pico foram 1982, 1984 e 1990. Para o ano de 1982, a maior parte desses textos está relacionado aos conchaves políticos que estão se formando com o objetivo de fortalecer o partido do governo federal – PDS – nas eleições de 1982, algo

139

Edições números, 883, 884, 910, 912, 940, 1046, 1056 e 1072.

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que se concretizou principalmente para Rondônia, onde o número de senadores e deputados federais eleitos por esse partido agradou ao governo140. Para o ano de 1984, as questões estavam vinculadas às eleições para presidente da república. Em um primeiro momento mostrando que Rondônia apresentava políticos mais interessados em vantagens políticas imediatas do que pensando em estruturação política para o país como um todo141. Aqui é importante ressaltar que, para as eleições de 1986, nas quais houve vagas para governo de estado, deputados e senadores, só há duas citações referentes a Rondônia. A primeira é sobre as definições dos nomes a candidatos a governadores e o principal candidato a governo do estado de Rondônia é observado como de grande tradição política se comparado aos candidatos de outros estados142. E a segunda, em que a revista confirma a vitória do candidato anterior o que é observado como positivo para o governo federal143. Se considerarmos que os vínculos entre governo e imprensa começam a se tornar mais independentes após o fim do regime militar, podemos afirmar que o descaso por esse período eleitoral em Rondônia se justifica, primeiro porque a imprensa não tem de veicular a notícia que agrade ao governo, ou que seja de interesse do governo; segundo, que a viabilidade econômica, considerando a relação custo benefício, ou o que a revista teria de investir para fazer a cobertura dessas eleições e o que ela teria de retorno financeiro com a venda de revista para pessoas interessadas nesse tema, tornava inviável tal atividade. Essa apatia da revista para com Rondônia se repetiu durante as eleições para presidente em 1989, na qual não houve nem dados sobre as intenções de votos para presidente da República que contemplasse especificamente o estado144. É importante lembrar que esse ano a revista Veja realizou um intenso trabalho de condicionamento político com o objetivo de auxiliar a eleição de um dos candidatos à presidência o que, de certa maneira, comprometeu e prejudicou a cobertura das eleições para o período.145

140

Ao total foram as três vagas do Senado e cinco na câmara de deputados. Dados disponíveis nas obra de MATIAS, Francisco. PIONEIROS – Ocupação humana e trajetória de Rondônia. Porto Velho : Ed. Maria, 1998, pg. 149/150. 141 Publicado na edição 816 de 25 de Abril de 1984, pg. 27 e na edição 831 de 8 de Agosto d 1984, pg. 23. 142 Publicado na edição 924 de 21 de Maio de 1986, pg. 37. 143 Publicado na edição 951 de 26 de Novembro de 1986, pg. 55. 144 A enquête que trabalhou com a intenção de votos para o período colocou Rondônia como “outros” estados e foi publicada na edição 1107 de 29 de Novembro de 1989, pg. 64. 145 Tal questão pode ser observada no trabalho de Carolina Fernandes. O imaginário da Veja sobre “os Lulas presidenciáveis”. Dissertação de Mestrado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Letras

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Já no ano de 1990, a revista Veja traz uma seção com o nome “Notas de Campanha”, em que, pela primeira vez após o fim do regime militar, ela parece tentar fazer uma cobertura completa das eleições para senadores, deputados e governadores de estado. Rondônia já aparece como uma curiosidade: é o Estado com o maior índice de candidatos por vaga para deputado federal146; posteriormente a revista informa sobre as táticas políticas utilizadas pelos candidatos, no caso de Rondônia chama atenção a presença de profissionais de jornalismo de renome coordenando a campanha de candidatos a governo147. O que mostra que na eleição para governador do estado, os recursos destinados à campanha são altos. A seção Brasil, por sua vez, faz uma abordagem comparativa das eleições de 1989 e 1990, afirmando que, contrariando o que aconteceu no ano anterior em que o candidato eleito para a presidência foi um político novo, sem históricos positivos ou negativos, e os candidatos favoritos para serem eleitos para governo de estado eram, em sua maioria, políticos antigos que dispunham de experiência. No caso de Rondônia, o candidato mais cotado já era senador da República148. Os outros textos, por sua vez, estão associados aos resultados das eleições, que não apresentam nenhuma surpresa 149

. O que pode ser afirmado até o momento é que os textos da revista Veja que

relacionam Rondônia, na maioria das vezes estão vinculados a questões externas ao próprio Estado, o que acontece quando, até a primeira metade da década, existe uma associação entre Rondônia e os interesses do governo federal em conseguir maioria no Congresso, e na segunda metade da década em que, a princípio, os textos de publicidade oficial ganham espaço e depois passam a manter um regularidade, e só perdem espaço para os textos que apresentam um caráter negativo dos políticos rondonienses, como pode ser observado na comparação dos dados do gráfico que segue.

da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, vinculada a linha de pesquisa: Análises Textuais e Discursivas. Porto Alegre, 2008. 146 Publicado na edição 1146 de 5 de Setembro de 1990, pg. 35. 147 Publicados na edição 1139 de 18 de Julho de 1990, pg. 36. 148 Texto publicado na edição de 6 de Junho de 1990, pg. 36. 149 Publicados nas edições 1150 de 3 de Outubro de 1990, pg. 39 e 1151 de 10 de Outubro de 1990, pg. 38.

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Cruzamento dos texos relacioados a política de Rondonia na década de 1980.

Publicidade oficial do governo. Textos especifico sobre Rondônia. Textos que relacionam Rondônia.

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Rondônia, migração e economia. A opção de trabalhar com os textos relacionados à migração e economia concomitantemente surgiu após as primeiras leituras das fontes e das obras que trabalham com a questão migratória em Rondônia. A leitura prévia das fontes possibilitou ao pesquisador observar que, na maioria dos textos que abordam a questão migratória, existe uma conotação que a mudança possibilitará uma ascensão econômica do migrante, como pessoa, da empresa, no caso de instituição, e do próprio país, se considerarmos o termo “Fronteira Agrícola” constantemente citado nos textos. Já as obras que trabalham com essa questão foram citadas na discussão dos itens 2.a e 2.b do segundo capítulo dessa pesquisa, onde, em suma, podemos observar que o processo migratório está relacionado a condições externas ao que acontece no estado de Rondônia, como pode ser observado com os dados trabalhados pelo pesquisador Carlos Santos a Influência da migração da região Sul que passa de 2970 na década de 1970, para 99289 na década de 1980, segundo tabela publicada na obra Fronteira do Guaporé150. Sobre os textos da revista Veja relacionados à migração e economia, a primeira observação a ser feita diz respeito a como eles estão distribuídos durante a década de 1980. Analisando o gráfico que segue, podemos observar que a primeira metade da década foi a que concentrou a maior parte dos textos, sendo que o pico de publicação foi o ano de 1982, que também foi o ano de criação do estado de Rondônia. O segundo maior ano de publicação é o de 1985, sendo que esse apresenta uma característica importante quanto aos conteúdos dos textos que será discutida posteriormente.

150

SANTOS, Carlos. A Fronteira do Guaporé. Porto Velho: Edufro, 2007, pg. 77.

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Distribuição dos textos relacionados a migração e economia durante a década de 1980.

Textos relacionados a migração e economia.

Organizando os textos em ordem serial, podemos observar que, no início da década, a abordagem do processo migratório é positiva a exemplo do texto“As campeãs. Cidades agrícolas são as que mais crescem” que aborda o crescimento das cidades brasileiras afirmando que foram impulsionadas pela expansão agrícola e enriquecidas em sua população pelas migrações do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul151. O texto afirma que 5 das 20 cidades que mais cresceram nas décadas de 60 e 70 estão em Rondônia, mas que as características essenciais são semelhantes: estão situadas em terras muito férteis e baratas, no centro de vastidões pouco exploradas152. Essa afirmação mostra que essas regiões podem possibilitar prosperidade para os migrantes. Essa imagem é trabalhada com mais afinco ainda na reportagem de capa da Edição número 696, com o seguinte título “As promessas do oeste. A elevação de Rondônia a Estado abre uma nova rota de esperanças para os migrantes e para a consolidação do desenvolvimento brasileiro”. Essa reportagem muito bem elaborada e assinada pelo jornalista Hélio Teixeira é rica em termos ufanistas como “nova fronteira”, “Estado do futuro”, “Malásia brasileira (ao fazer referência à exploração de borracha)”, eldorado”, “vigoroso projeto de distribuição de terras”, “parada de caminhão, hoje cidade com 65.000 habitantes”, “Exército é sinônimo de empresa

151 152

Publicado na edição 651 de 25 de Fevereiro de 1981, pg. 44. Edição 651 de 25 de Fevereiro de 1981, pg. 44.

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responsável pela manutenção das estradas”, “os agricultores de Rondônia podem caminhar até o posto mais próximo do Banco do Brasil e levantar em poucos minutos um empréstimo de 300.000 cruzeiros para financiar sua lavoura”, “Um desbravador integrou a mata no país” o que mostra que, para a revista Veja, nesse momento, tanto a criação de Rondônia, quanto o processo migratório para a região é algo positivo e que deve ser incentivado. Além disso, a maneira como é explicada a necessidade da criação do Estado coloca como se fosse só uma questão de planejamento econômico e político, sem nenhum interesse a não ser o desenvolvimento da nação 153 e, como observamos anteriormente nos itens relacionados a questões políticas, a criação do Estado de Rondônia teve um função política clara para o momento histórico. A edição 728 traz na capa a seguinte chamada “Amazônia: marcha sobre a última fronteira” que apresenta duas reportagens onde aparece Rondônia. A primeira com afirmações de que o fascinante paraíso natural está pontilhado de clareiras que redesenham a paisagem, o perfil econômico e o futuro da Amazônia. Algumas exibem formigueiros humanos dedicados à extração de minérios. Noutras, estendem-se castanhais e plantações de arroz, cacau ou guaraná. Há, enfim, madeiras, gigantescas pastagens e silhuetas de hidrelétricas que emergem do meio das matas154. Durante o texto há a indicação de que os investimentos de grandes companhias para a região pode ocorrer sem criar problemas ambientais. Esse texto vem seguido de uma outra com a chamada “A década da conquista. Em marcha para o Norte, milhares de brasileiros apostam nas riquezas das enormes jazidas minerais e nas vantagens da agropecuária”, esta, assinada pelo jornalista Hélio Teixeira, propaga a imagem positiva para a ocupação da região amazônica, claro, associada a uma visão economicista, em que o objetivo é fazer com que a região gere divisas para o país. Afirmações como a de que a BR 364 liga o Sul desenvolvido ao Norte e Nordeste, criando a abertura de novas fronteiras155 indicam que a intenção do autor é levar o leitor a visualizar a estruturação da região amazônica semelhante a estruturação da região Sul do Brasil. Nos dois textos podemos observar que as citações a Rondônia indicam uma região depreciada e que a ação dos imigrantes e os projetos do governo estão modificando essa visão. No primeiro texto, as palavras utilizadas para a construção

153

Publicado na edição 696 de 6 de Janeiro de 1982, pg. 52-9. Edição 728 de 18 de Agosto de 1982, pg. 80. 155 Edição 728 de 18 de Agosto de 1982, pg. 91. 154

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dessa imagem são as seguintes: Homens assim conquistaram Rondônia e transformaram o inóspito oeste dos anos 50 num formidável celeiro agrícola156. Já na segunda reportagem afirma que Esta sim era – e é – a grande estrada da Amazônia (BR 364), peça vital para o seu desenvolvimento. Nos últimos dez anos, dezenas de milhares de brasileiros subiram a estrada, cruzando no caminho os caminhões que transportavam, sobretudo, a produção agrícola de Rondônia, e, para ser mais enfático ainda, Em Rondônia, a antiga ‘estrada do inferno’, apelido que surgiam com as chuvas, hoje é chamada pelos nativos de ‘estrada da redenção157’, esse discurso, que informava, criava também expectativas para os leitores, ainda mais quando o mesmo vinha acompanhado de exemplos positivos como o dos migrantes e de pessoas respeitadas na sociedade, o que era uma das características que pode ser observada nos textos158. Para o ano de 1983, os textos já não trabalham especificamente Rondônia ou a região amazônica, e sim os problemas econômicos enfrentados no país e a relação da região como esses problemas que, segundo a revista, no que diz respeito à crise, o quadro é agravado quando se consideram as novas fronteiras agrícolas de Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul tão especialmente estimuladas nos últimos anos. Ficando tão distantes dos grandes centros consumidores e dos portos de exportação, o custo de seus produtos é fortemente afetado159. E fica a cargo dos leitores fazerem o trabalho de divulgação da ocupação de Rondônia, como é observado no texto publicado na seção Carta dos leitores; nesse, o leitor afirma que a solução para o problema da seca no nordeste é a ocupação de Rondônia e Mato Grosso160, considerando a filtragem, que toda revista faz para a publicação das cartas e opiniões dos leitores, a publicação desse texto só é permitida porque auxilia na construção de um discurso que incentiva a migração para Rondônia, ou a ocupação da nova fronteira agrícola. O ano de 1984 apresenta mais um texto de grande impacto sobre a questão migratória na região, com o título “Oeste mais perto: a nova BR – 364 integra Mato Grosso e Rondônia ao resto do país”; durante o texto são apresentados exemplos de 156

Edição 728 de 18 de Agosto de 1982, pg. 80. Edição 728 de 18 de Agosto de 1982, pg. 92. 158 No caso dessas matérias a exemplos de migrantes da região sul que conseguiram se estabelecer na terra, de empresários que estão investido no processo de expansão para a região e de autoridades do governo que informam como se da o processo de ocupação. 159 Publicado na edição 753, de 9 de Fevereiro de 1983, pg. 55. 160 Publicado na edição 782 de 31 de Agosto de 1983, pg. 10. 157

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migrantes que tiveram sucesso na região e, mesmo quando há situações que podiam ser consideradas negativas, elas vêm seguidas de um final de sucesso, como o agricultor humilde que sofreu, mas conseguiu prosperar, a empresa de transporte que tinha problemas devido à falta de estrada, mas cresceu ao mesmo ritmo do número de habitantes da região. É importante ressaltar que ainda nesse texto, escrito pelo repórter Cláudio Kuck, é destacado que a pavimentação da BR – 364 facilitará o acesso aos 800 000 hectares do fértil Vale do Guaporé, um deserto humano à espera de conquistadores161, ou o discurso predominante no texto é o que incentiva a migração para as regiões que serão beneficiadas pelo pavimentação da rodovia em questão. Esse texto indica claramente que a revista ainda mantinha característica de fazer apologia às obras realizadas pelo governo, principalmente se considerarmos a abordagem que passou a ser dada a essa questão posteriormente. Duas edições após a veiculação do texto que colocava as cidades a beira da BR – 364 como uma possibilidade para os “destemidos”, a seção Brasil & Negócios, trabalhando com uma reportagem sobre o consumo no país, indica que Rondônia aparece como o estado que apresenta a maior classe E em relação à população162, ou seja, por mais próspera que fosse a região economicamente, ela ainda era considerada subdesenvolvida. Aqui é importante ressaltar que o ano de 1985 foi o segundo que mais apresentou textos associado a esse tema perdendo, só para 1982, e a partir de 1985 surge uma mudança na abordagem referente a migração para Rondônia, a “Fronteira agrícola” que até aqui passava a ser abordada positivamente passa ser observada por uma outra ótica. A seção “Ponto de Vista” da edição 865 é a primeira a levantar tal questão, segundo o autor, presidente da Companhia Agrícola, Imobiliária e Colonizadora do governo de São Paulo, o Brasil passava por um momento de mau aproveitamento das áreas agrícolas, isso porque os pequenos proprietários, atraídos pelas condições sedutoras de expansão agrícola no Mato Grosso do Sul e em Rondônia, venderam suas terras a profissionais liberais, e esses novos proprietários simplificaram seus problemas ao escolher a pecuária como opção mais rentável desperdiçando o potencial produtivo das terras163. Ao invés do texto estimular a vinda de migrantes para região, ele faz uma crítica à mesma, questionando praticamente

161

Publicado na edição 837 de 19 de Setembro de 1984, pg. 88. Publicado na edição 839 de 3 de Outubro de 1984, pg. 96-9. 163 Publicado na edição 865 de 3 de Abril de 1985, pg. 130. 162

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todos os textos publicados até o momento que tinham como referencia o discurso de a Fronteira Agrícola era uma das soluções para e economia do Brasil. Mais duas reportagem destacaram-se em 1985 e são importantes para compreendermos a dinâmica dos discursos da revista Veja para Rondônia. Uma foi a publicada na seção Economia & Negócio da edição 886, e que aborda o crescimento econômico do setor privado no Brasil; no caso de Rondônia é observada a ascensão de um empresário paulista que investiu na exploração de minério. O texto lembra ainda que o Brasil já é o maior exportador de estanho do mundo, mas o crédito da exportação não é vinculado a Rondônia, de onde é extraído o minério, e sim à empresa paulista164. Ou seja, Rondônia dá subsídios para o desenvolvimento econômico do Brasil, mas a partir de uma empresa paulista que migrou com seu potencial para a região norte. A segunda reportagem especial da revista aborda os problemas relacionados à exploração de minérios na região amazônica. O cerne do problema surge do conflito entre grandes empresas, que têm a concessão do governo para explorar o minério, e os garimpeiros que não se retiram da área para as empresas desenvolverem seus trabalhos. A reportagem fundamenta o texto com o parecer dos técnicos do Departamento Nacional de Pesquisas Minerais e veicula os seguintes depoimentos dos representantes das companhias: O governo encara o problema do garimpo como se fosse um problema social, não um atentado ao direito de propriedade e à livre iniciativa e com o aval dos técnicos da DNPM as mineradoras alegam que as atividades dos garimpeiros são essencialmente predatórias das riquezas minerais165, seguido do depoimento dos representantes dos garimpeiros: os garimpeiros contra-atacam com o argumento de que chegaram primeiro. ‘Não existe uma única jazida de ouro ou cassiterita descoberta pelas mineradoras’166. Nessa reportagem, a contraargumentação dos garimpeiros, dos quais muitos fazem parte do processo migratório incentivado, inclusive pela revista Veja como vimos até aqui, são colocados como um problema para o desenvolvimento econômico da região, afinal eles estão impedindo que a exploração de minérios se concretize de maneira sistematizada, que pode gerar mais lucro para o país. Após esse texto, as questões relacionadas à migração e econômica e vinculadas a Rondônia só voltam a aparecer na revista Veja em mais dois casos; o primeiro, que

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Edição 886 de 28 de Agosto de 1985, pg. 100-3. Publicado na edição 896 de 6 de Novembro de 1985, pg. 83. 166 Edição 896 de 6 de Novembro de 1985, pg. 84. 165

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afirma que o governo do Paraná não consegue controlar o êxodo rural daquela região para Rondônia167, mostrando que o processo migratório ainda gera problemas em outras regiões e, em 1988, em que indica uma possível tentativa do governo brasileiro de auxiliar o governo boliviano na repatriação de seringueiros para Rondônia168. Mas o que fica claro ao considerarmos o que foi trabalhado sobre esse tema é que os textos trabalhados até 1984 apresentaram uma abordagem positiva para a migração para Rondônia e, a partir de 1985, essa abordagem começa a ser modificada.

167 168

Publicado na edição 946 de 22 de Outubro de 1986, pg. 59. Publicado na edição 1021 de 30 de Março de 1988, pg. 54.

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Rondônia e meio ambiente. A primeira observação a ser tratada quando mencionamos os textos que abordam questões ambientais é o período em que eles passaram a ser veiculados na revista Veja. O gráfico que segue mostra nitidamente que só a partir de 1984 é que a Veja começa a abordar a questão ambiental relacionada a Rondônia, e mais, é só a partir de 1987 que esse tema consegue um pouco mais de espaço dentro da revista. Distribuição dos textos relacionados a meio ambiente durante a década de 1980.

Textos relacionados a meio ambiente.

Como podemos observar no gráfico, os primeiros textos relacionados a meio ambiente são publicados em 1984. O primeiro, na seção “Fotografia”, com o título “Foco no infinito. Astronautas da Challenger fotografam o Brasil”, afirma que no trabalho de fotografar a Terra do espaço, os astronautas conseguiram identificar o avanço do desmatamento em Rondônia169; esse vem seguido de

outro texto

semelhante o qual afirma que o monitoramento por satélite possibilita que o IBDF – Instituto de Desenvolvimento Florestal – identifique o aumento do desmatamento na região incluindo áreas de reserva. É interessante observar no segundo texto, mesmo com o IBDF afirmando que só em Rondônia há 100 000 pessoas aguardando um lote de terra do governo e não é sensato esperar que elas respeitem áreas de reserva florestal, e a revista afirmando que o ritmo de derrubada de árvores, no entanto, vem crescendo a cada ano pela ocupação do terreno por colonos. A análise da revista é de

169

Publicado na edição 819 de 16 de Maio de 1984, pg. 88.

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que pelo que se observa, as dimensões da área desmata está longe de configurar uma catástrofe ambiental. Quase 98% de toda a área florestal permanecem intocadas170. A revista não admite a possibilidade de Rondônia passar por um problema de cunho ambiental que leve ao desmatamento, ao menos até esse momento. Para o ano de 1985, o tema meio ambiente aparece em dois momentos: um associado ao trabalho de uma antropóloga que trabalha com a etnia suruí171, e é interessante lembrar que o foco do texto é a pesquisadora e não os suruís ou meio ambiente onde eles vivem; o segundo faz referência ao turismo de luxo que está surgindo na floresta172. Nenhum dos textos se aprofunda em discussões que indiquem quais as reais condições de meio ambiente para a região. Para o ano seguinte, o discurso dos textos começa a se modificar; o primeiro que trabalha com os problemas relacionados ao avanço da dengue no Rio e da febre amarela e malária em outras regiões, sendo que a malária é colocada, como um problema grave para Rondônia, que registrou 160 mil casos no ano anterior173, o que indica que o desequilíbrio ecológico que possibilita o aumento dos casos de doenças no Rio de Janeiro e São Paulo pode ter chegado também a Rondônia. Por sua vez, o segundo texto é claro quanto a sua função: divulgar um trabalho televisionado que tinha como objetivo mostrar imagens de paisagens exuberantes e indicar que as mesmas podem ser destruídas174. Rondônia teria um episódio próprio. Apesar de o texto mostrar que Rondônia tem algo de bom para oferecer, no caso, as belezas naturais, quem irá veicular essa imagens positivas será o documentário e não a revista Veja. Para o ano de 1987, a revista divulga o livro sobre fotografias relacionadas às comunidades indígenas de Rondônia. Apesar da tentativa de neutralidade do texto, nota-se a influência do processo de aculturação sofrido pelos indígenas, mas com o objetivo principal de divulgar a publicação do livro175. Surge, nesse ano, o primeiro texto associado a Rondônia: a coluna “Ambiente” com o título “Trincheira verde. A exploração predatória castiga a mata que a campanha ecológica tenta salvar. Esse texto é de caráter ecológico e expõe que, no caso de Rondônia, se o desmatamento e

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Publicado na edição 842 de 17 de Outubro de 1984, pg. 67. Publicado na edição 887 de 4 de Setembro de 1985, pg. 101. 172 Publicado na edição 900 de 4 de Dezembro de 1985, pg. 86-8. 173 Publicado na edição 922 de 7 de Maio de 1986, pg. 122. 174 Publicado na edição 947 de 29 de Outubro de 1986, pg. 155. 175 Publicado na edição 991 de 2 de Setembro de 1987, pg. 125. 171

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as queimadas continuarem no mesmo ritmo, a vegetação nativa estaria extinta em dois anos176. Essa afirmação, é claro, não se concretizou, mas fez com que todos os discursos de ocupação para Rondônia até esse momento fossem revistos. Ademais, na edição de número 1005, um leitor expressa a necessidade desse tipo de matéria para esclarecer alguns problemas ambientais de Rondônia177, é claro que, mais uma vez, o texto do leitor entra em consonância com o objetivo da revista que, para esse momento, é divulgar problemas ambientais relacionados a região amazônica. A partir do ano de 1988, os temas relacionados a meio ambiente ganham mais consistência dentro da revista. Apesar de Rondônia só estar associada a dois textos durante esse período, esses dois são vinculados à coluna Ambiente e apresentam caráter informativo e formador de opinião. O primeiro “Problemas no fogo. As queimadas por todo o país agridem o meio ambiente e com a sua fumaça encobrem um conflito social”. Segundo o texto, as queimadas são realmente um problema, mas sem elas não existe possibilidade dos agricultores se manterem na terra. Rondônia é o exemplo típico desse problema e isso é fundamentado com a entrevista de dois emigrantes que vivem na região e praticam esse tipo de atividade. Além dos produtores, aparece também a visão das organizações como da Federação de Agricultores do Estado de Rondônia, que afirma: Sabemos que o fogo prejudica a ecologia, mas, entre o meio ambiente e a nossa sobrevivência, ficamos com a nossa sobrevivência178. A matéria levanta problemas sérios, relacionados ao meio ambiente, o que indica que o discurso ambiental está se configurando como importante, além do mais, ela tenta não maquiar alguns problemas sociais, principalmente se notarmos o último trecho indicativo do risco que o Brasil corre junto a órgãos de financiamento externo caso não se tomem precauções com os problemas ambientais e indaga quem o Conselho – Conselho de Segurança Nacional – combaterá: os grandes fazendeiros e usineiros ou os pequenos lavradores? O texto publicado posteriormente não perde em importância ou em argumento para o primeiro, com o título “Um decreto real. Governo corta investimentos de agropecuária na Amazônia e proíbe a exportação de toras de madeira”, informa sobre o decreto do Governo Federal que tem por objetivo rever algumas questões relacionadas aos problemas ambientais da região amazônica.

176

Publicado na edição 1002 de 18 de Novembro de 1987, pg. 75-6. Publicado na edição 1005 de 9 de Dezembro de 1987, pg. 18. 178 Publicado na edição 1046 de 21 de Setembro de 1988, pg. 74-8 177

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Nesse contexto, Rondônia é observada como uma região que fornece uma quantidade expressiva de madeira, sendo que, parte, ainda em forma de toras, um estado que já teve cerca de 20% de sua área total queimada, que apresenta projetos que utilizam recursos governamentais, mas não são concluídos e que mantém um grande número de famílias que depende da queimada para plantar. É importante lembrar que mais uma vez a o discurso ambientalista está se sobrepondo às necessidades políticas, sendo que, na matéria, um dos políticos faz a seguinte colocação “O meio ambiente finalmente adquiriu uma dimensão política179”. Para o ano de 1989, é importante lembrarmos, primeiro que foi o ano com o maior número de publicações relacionadas a meio ambiente na revista, segundo, que a maioria desses textos é veiculada na seção Ecologia, ou são matérias especiais vinculados a problemas ambientais. O primeiro texto, veiculado com o título “Falso brilhante”, informa que o decreto assinado pelo então presidente da República pode não ser colocado em prática, pois o mesmo não proíbe definitivamente o uso, ele apenas regulamenta sua utilização, a liberação de órgãos competentes, o que já ocorre em Rondônia, devido à pressão de grupos ambientalistas. O mesmo não aprofunda a discussão e aparece mais como texto informativo do que como texto com objetivo de formar opinião180. Esse texto foi publicado na edição que veiculou uma entrevista do banqueiro Henry Breck, segundo a revista, dirigente de uma poderosa entidade defensora do meio ambiente e que afirma que o Brasil trata mal a floresta e a dívida181. É importante ressaltar que o entrevistado faz afirmações que estão em consonância com questões trabalhadas na revista há algum tempo, principalmente no que diz respeito a Rondônia, nas quais ele deixa transparecer que o problema ambiental é decorrente de um problema social, pois não há possibilidade de alguém pensar em meio ambiente antes de sanar suas necessidades básicas. É importante observar que, a partir desse texto, a maioria dos textos relacionados a meio ambiente apresentam, ou citam a figura de estrangeiros. É o que ocorre no texto que trabalha com o conflito entre os caiapós e os órgãos interessados na construção da usina de Kararaó, ou Belo Monte. Nesse texto, o primeiro a ser citado é o cantor Sting que, chamado de sensato pela revista, ao não querer se posicionar

179

Publicado na edição 1050 de 19 de Outubro de 1988, pg. 76-8. Publicado na edição 1068 de 22 de Fevereiro de 1989, pg. 61. 181 Publicado na edição 1068 de 22 de Fevereiro de 1989, pg. 4-9. 180

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como favorável ou não à causa indígena. É citada também a interpretação do antropólogo americano Darrel Posey diante da ação dos indígenas em enfrentar os representantes legais do governo e da usina. No final da reportagem ainda são apresentados cinco nomes de estrangeiros vinculados a causas ambientalistas e que, de alguma maneira, influenciam nas discussões relacionadas a meio ambiente na Amazônia. Segundo a revista, Rondônia é um exemplo de que a ação desses ambientalistas pode pesar tanto positiva quanto negativamente em determinadas regiões A entidade que Barbara – Ambientalista da National Wildlife Federation – dirige conseguiu que o Branco Mundial sustasse a liberação de milhões de dólares para a conclusão do asfaltamento da estrada BR – 364, no trecho que liga Porto Velho, em Rondônia, a Rio Branco, no Acre. A posição da revista, ao trabalhar com a questão de formadora de opinião, fica clara nas últimas orações do texto, nas quais Veja afirma que O homem branco também quer preservar o verde, e somente um maluco pensaria em colocar fim aos índios, dizimando-os. Mas o progresso tecnológico é inevitável. Vai além da ecologia a passagem do índio para esta época dos aviões e dos radiogravadores. Os tons pejorativos são claros, “homem branco”, “somente um maluco” e “passagem do índio para esta época” e afirmam que, apesar de se discutir ecologia, essa ainda não está em primeiro plano para ser defendida182. No texto que segue, da edição 1075, as informações giram em torno dos dados publicados a respeito do desmatamento na Amazônia. Mais uma vez, a discussão aparece no cenário internacional e, para o Governo, os ambientalistas estão sendo um problema. Nesse contexto, Rondônia surge com uma questão contraditória; segundo a revista, estimava-se que toda a cobertura vegetal do Estado tivesse sido dizimada. De fato, Rondônia é o Estado da Amazônia onde o desmatamento atingiu seu ponto crítico, mas apenas 13% das florestas sucumbiram às queimadas183. Seria, no mínimo, incoerente para o governo, órgãos ambientalistas e, até mesmo, para a revista fazer uma afirmação como essa durante esse período. No ano de publicação da matéria, as vias de acesso para Rondônia eram escassas, com exceção das margens da BR- 364; outras áreas do estado, apesar de estarem ocupadas, e apresentarem um elevado índice de desmatamento, ainda não apresentavam índices que pudessem dizimar a cobertura

182 183

Publicado na edição 1069 de 1 de Março de 1989, pg. 68 - 71. Publicado na edição 1075 de 12 de Abril de 1989, pg. 58-9.

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vegetal da região, até mesmo porque as reservas indígenas e ecológicas já tinham suas áreas demarcadas. A última edição que trabalhou com a questão ambiental relacionando Rondônia, durante o ano de 1989, foi a edição especial 1086, que traz na capa a seguinte chamada “Amazônia: onde está a verdade” e essa verdade já é revelada na “Carta ao leitor” da revista que termina com a seguinte oração A conclusão que se tira, ao examiná-la de perto, é que ela tem sido submetida a abusos ecológicos, na maioria, patrocinados por recurso subsidiados do governo, mas não está em chamas nem à beira do desastre184. No entanto, para chegar a essa conclusão, a revista apresentou argumentos estatísticos e iconográficos em 43 de páginas seguidas especiais sobre a região. As pontuações sobre Rondônia apresentam caráter negativo, pois o estado é colocado como um exemplo de ocupação desordenada. Um exemplo disso é o destaque que se dá ao agricultor de Rondônia o qual sonhava em enriquecer na região, mas vive da subsistência auxiliado pela queima da floresta como tecnologia para aumentar a produção. Segundo esse agricultor, Quem gosta de floresta é índio (pg. 105). Em texto específico sobre Rondônia, a chamada já afirma o termo negativo da matéria. “O eldorado perdido. Em se plantado, nada dá em 83% das terras de Rondônia, e os milhares de migrantes agora tentam a vida nos garimpos”. No mínimo, dois problemas ecológicos podem ser identificados nessa matéria: o primeiro, o desmatamento e, o segundo, os decorrentes do garimpo. Durante esse texto, é trabalhada a questão do fracasso dos projetos de colonização do excedente de migrantes e da tímida ação do governo para com as questões ambientais. No entanto, é importante afirmar que, dentro da região amazônica, segundo a matéria, Rondônia já está passando por uma situação calamitosa, e o endereço que os ecologistas estão procurando está nesse Estado.185 A reportagem com o objetivo de formar opinião consegue, nas entrelinhas, indicar que as questões relacionadas ao meio ambiente na região amazônica estão longe de ser o que os grupos ecologistas afirmam, mas que realmente existe um problema que, até então, está concentrado em Rondônia. Para o ano de 1990, os únicos dois textos que associam Rondônia a meio ambiente trabalham com o mesmo argumento para a região: o primeiro (...) – o turismo 184 185

Carta ao Leitor publicado na edição 1086 de 5 de Julho de 1989, pg. 29. Publicado na edição 1086 de 5 de Julho, pg. 60-103.

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– não representa risco à integridade da floresta – ao contrário dos assentamentos de colonos nas terras improdutivas do Estado de Rondônia ou os garimpos de ouro e cassiterita que contaminaram os rios da região186. O segundo compara Rondônia a um inferno ecológico; o texto afirma que a instalação da ferrovia dos Carajás pode gerar uma repetição em escala reduzida do prejuízo ecológico causado pelo desmatamento no Estado de Rondônia. Na década de 80, as florestas de Rondônia foram destruídas para ceder lugar a assentamentos de colonos – ainda que a terra, ali, não fosse própria para a agricultura.187 Se observarmos as referências a Rondônia, no que diz respeito ao meio ambiente, a imagem veiculada sobre Rondônia é extremamente negativa, e mais, ela se contradiz com o discurso utilizado no início da década quando Rondônia era vista como uma grande possibilidade para migrantes, fazendo justamente o que passa a ser criticado no final da década.

186 187

Publicado na edição 1112 de 10 de Janeiro de 1990, pg. 48-9. Publicado na edição 1135 de 20 de Junho de 1990, pg. 50-1.

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V CAPÍTULO CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Ao fazer as considerações finais desse trabalho, o pesquisador se vê na obrigação de retomar alguns questionamentos feitos na introdução, e volta a ressaltar que o objetivo do trabalho não é responder objetivamente tais questionamentos, pois a complexidade dos mesmos inviabiliza tal ação. Começaremos pelo primeiro questionamento: Qual o tipo de opinião que a revista Veja quer formar? Se considerarmos as três variantes selecionadas para análise durante a realização do trabalho – política, migração/economia e meio ambiente – à primeira vista poderíamos afirmar que a opinião a ser formada deverá ser primeiro, atualizada, ou uma opinião que esteja em sintonia com os acontecimentos recentementes. Considerando o que foi identificado especificamente sobre Rondônia, esse novo estado se apresenta e se transforma constantemente. A princípio existe um discurso político defensor do espaço territorial e político de Rondônia, principalmente na primeira metade da década, apresentando momentos em que Rondônia parece ser a panacéia para os problemas sociais no Brasil. Nesse momento, essas fronteiras políticas bem delimitadas são necessárias, pois é esse espaço que deve ser ocupado e explorado pelos contingentes humanos que estão se transferindo de outras regiões. No entanto, esse discurso passa a ser substituído gradativamente por um discurso que, a princípio, indica problemas sociais provenientes também de um processo de ocupação desordenado na região. O discurso passa a ter uma abordagem diferenciada, levantando problemas relacionados à questão ambiental e à ocupação da região, mas agora Rondônia já não é observada como espaço territorial e político próprio e é inserida em um contexto espacial da “floresta amazônica” e, mais que isto, é abordada como um exemplo da região amazônica que não deve ser seguido. Em seguida, essa opinião deve estar vinculada a elementos que façam parte do referencial de mundo do leitor, como a migração de colonos para uma nova região que não quer criar problemas sociais, evitando a organização de grupos de sem terras, ou de “desocupados”, considerando as perspectivas eleições eleitorais, e indicando possíveis alianças e nomes em evidência. No caso de Rondônia isso pode ser confirmado se considerarmos que no período ainda existia um vínculo entre as questões políticas de Rondônia e Governo Federal, principalmente no ano de 1982, quando observamos que o número de referências a Rondônia em Veja foi superior a qualquer outro período. Da mesma maneira pode-se observar a omissão da cobertura de Veja em eleições de períodos posteriores.

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E ainda, se considerarmos a discussão feita sobre a construção do texto jornalístico no terceiro capítulo desse trabalho, podemos ir mais além. Nesse sentido, a opinião que Veja pretende formar é uma opinião limitada aos espaços ideológicos defendidos pela mesma; ela não pode ser superficial a ponto de ser questionada por alguém que não se identifique como especialista na área, não pode ser aprofundada a ponto de inibir os leitores da revista ou de fazer com que os mesmos sintam-se ignorantes diante do que está sendo veiculado e deve ser ponderada a ponto de não levar o leitor a questionar a revista ou os grupos veiculados a mesma. O segundo questionamento, que não é menos importante do que o primeiro, diz respeito aos objetivos da opinião que Veja está formando. Segundo a Veja, o objetivo é formar um leitor com senso crítico, que conheça a realidade do Brasil como um todo e que possa ter segurança para debater sobre os assuntos abordados pela revista. Agora um leitor com senso crítico deve também ter discernimento do que realmente é confiável ou não em um semanário, em um jornal, ou em um comentário. Se observarmos, por exemplo, na seção Cartas, as referências sobre Rondônia durante o período pesquisado, podemos observar que os comentários estão em consenso com as matérias a quais fazem referência. A primeira, na edição 782188, afirma que Rondônia é a solução para os problemas dos nordestinos, comentando uma matéria sobre a seca do nordeste, mas o autor consegue associar discussões realizadas em outras edições da Veja, o que indica o “senso crítico” do mesmo. A segunda é um comentário sobre a matéria, “Tenebrosas transações” onde o autor expressa sua revolta devido ao governo não ter colocado ninguém de Rondônia em um cargo importante do Basa. Se considerarmos que essa publicação foi em agosto de 1985, podemos observar que a revista está conciliando o desejo do leitor ou consumidor de se expressar, principalmente no que diz respeito à “denúncia” política, postura que a revista adotou principalmente a partir do fim dos governos militares189. A carta seguinte é um informe do governo de Rondônia sobre a exoneração do diretor do DER, denunciado pela própria revista como portador de um diploma falso de Direito190, o que, mais uma vez, indica a postura observada anteriormente. A última carta relacionando Rondônia durante a década de 1980 é um elogio à matéria “Trincheira Verde” que mostra os problemas das queimadas em Rondônia. É importante frisar que a mesma, publicada

188

Texto publicado na edição de número 782, de 31 de Agosto de 1983, pg. 10. Texto publicado na edição de número 884, de 14 de Agosto de 1985, pg. 18. 190 Texto publicado na edição de número 912, de 26 de Fevereiro de 1986, pg. 11. 189

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em Dezembro de 1987, aponta para uma postura de denúncia a problemas ambientais, postura que vai se acirrando cada vez mais para o final da década de 1980. Considerando que há uma filtragem antes das publicações das cartas e que os comentários dos leitores servem, também, para justificar o discurso da revista, podemos afirmar que o objetivo da opinião que Veja vai ajudar a formar é o de manter o leitor vinculado a um cabedal de conhecimentos que não extrapole o da revista, ou que não leve ao questionamento do que está sendo publicado na mesma. E aqui cabe ressaltar novamente como a “opinião” de Veja se modifica com o tempo. Em um primeiro momento, é importante para esse veículo de comunicação fazer com que as pessoas vejam Rondônia como uma fronteira agrícola, que está à espera dos trabalhadores na terra e que, juntos, a região e os trabalhadores, irão prosperarar. Esse discurso predominou até a metade da década de 1980. Mas esse mesmo discurso já não era mais cabível para a segunda metade da década de 1980, quando o que se tem em voga são as discussões que trabalham com o surgimento de problemas ecológicos na região, os problemas das queimadas, da ocupação desordenada, da poluição pelos garimpos. Ou seja, a mesma revista que ajudou a construir uma imagem de Rondônia como um eldorado para os que queriam viver da agricultura e da pecuária, em menos de uma década, passa a veicular matérias que questionam essa atitude. Nesse sentido, o objetivo da opinião parece estar seguindo a necessidade do mercado: o de oferecer algo que vai ser consumido pelo leitor. No que diz respeito ao terceiro questionamento, o de quem será beneficiado com essa opinião, é preciso observar quais são os grupos que mantêm vínculos com a revista e esses são, a princípio, o poder instituído, ou o Governo. A dimensão dos vínculos entre poder instituído e revista Veja pode ser observada de duas maneiras: a primeira, através de um trabalho específico de entrevista entre os administradores da revista e os representantes políticos da época, o que pode ser observado principalmente na entrevista de Mino Carta publicada no livro Eles mudaram a imprensa. Depoimentos do CPDOC191. A segunda é a análise dos textos e intratextos publicados na época, é claro, considerando o contexto histórico do período. Nos textos pode ser identificada uma necessidade de justificar as viabilidades econômicas para determinadas ações, a princípio, através da expansão da Fronteira Agrícola; posteriormente; através dos discursos afirmando que a exploração de minérios em 191

ABREU, Alzira Alves de; Lattman-Weltman, Fernando; Rocha, Dora (orgs). Eles mudaram a imprensa: depoimentos ao CPDOC. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2003, pg. 184-211.

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Rondônia deveria ser sistematizada, apresentando o trabalho positivo de grandes empresas mineradoras e o negativo dos garimpeiros e, por último, o da viabilidade da exploração econômica do meio ambiente corretamente. O que nos leva a inferir que, para esse segundo momento, os beneficiados pelo discurso de Veja foram os grupos econômicos que podiam ‘contribuir’ para o desenvolvimento do país. Ao observarmos os gráficos com a distribuição dos textos que trabalham com temas relacionados à migração e meio ambiente, podemos observar que existe uma substituição natural do primeiro pelo segundo, sendo que, na análise do intratexto, podemos encontrar no segundo tema criticas ferrenhas a ações apoiadas pelo primeiro tema.

Mudança dos temas abordados em Veja.

Migração/Economia Meio Ambiente

Em suma, durante a primeira metade da década de 1980, a Veja, cria um discurso que enaltece e estimula o fluxo migratório para Rondônia, indicando essa região como uma “Nova Fronteira Agrícola”, que devia ser explorada e contribuiria para o desenvolvimento econômico e social do Brasil. Mas, a partir da segunda metade dessa década, esse discurso vai se modificando gradativamente; primeiro, inicia-se um discurso com o tom de alerta para a questão ecológica na região, porém, no final da década, esse discurso apresenta um tom que descaracteriza a imagem de Rondônia como estado; primeiro, porque há criticas ferrenhas ao modelo de ocupação; segundo, porque o estado, que faz parte de Amazônia Legal, acaba sendo observado como um exemplo , que não deve ser seguido, de ocupação para a região amazônica. Atribui-se a culpa desse modelo de ocupação ao governo, no entanto os meios de comunicação foram coniventes com o governo e, ao mesmo tempo em que faziam

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críticas a um modelo não democrático dentro da política, elogiavam a possibilidade de se integrar a região amazônica, incluindo Rondônia, à economia nacional, aliás, na maior parta das matérias relacionadas à economia e migração na primeira metade da década de 1980, Rondônia era vista como exemplo de ocupação da região norte. E a responsabilidade no caso da revista Veja não se dá pelo fato de a mesma informar e, sim, pelo fato da mesma direcionar seus textos para além da informação e fazer com que os leitores criassem um juízo de valor diante do fato informado. Mas, para além dessas questões, é importante ressaltar ainda a omissão deste veículo de informação quando fazemos referência às sociedades indígenas dessa região. Em momento algum, em dez anos de publicações, foram citados os problemas relacionados ao contato cultural entre os migrantes e os indígenas, em um período em que etnias, como a Suruí, haviam sido quase dizimadas. As únicas referências feitas pela revista foram ao trabalho de uma antropóloga vinculada a uma família tradicional de São Paulo que estava realizando um trabalho com os suruís192, ou seja, o sujeito central do texto nem foram os suruís e, sim, a pesquisadora. A outra, na qual a mesma antropóloga presta assessoria a um fotógrafo que estava publicando um livro de imagens sobre os índios de Rondônia, e que aparece mais como uma divulgação do livro do que como uma preocupação com o que realmente estava acontecendo na região. Não há referências aos problemas entre os Uru Eu Wau Wau, os Cinta Largas ou os Araras e a frente de colonização que invadia, inclusive áreas demarcadas pela FUNAI, como reservas indígenas. Isso mostra, no mínimo, uma omissão diante de problemas que eram latentes para o período e que, para uma instituição que se prestava ao trabalho de informar e formar opinião, mostrava-se como “desinformada”.

192

Texto publicado na edição de número 887, de 04 de Novembro de 1985, pg. 101.

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