A construção monástica em Portugal

July 7, 2017 | Autor: Saul António Gomes | Categoria: Monastic Studies, Monasticism
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FICHA TÉCNICA Título: História da Construção – Arquiteturas e Técnicas Construtivas Coordenação: Arnaldo Sousa Melo, Maria do Carmo Ribeiro Imagem da capa: Bibliothèque Royale de Bruxelles, Chroniques de Hainaut, ms 9242, folio 232 Edição: CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória» LAMOP – Laboratoire de Médiévistique Occidentale de Paris (Université de Paris 1 et CNRS) Apoios: UAUM – Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho ISISE – Instituto para a Sustentabilidade e Inovação em Estruturas de Engenharia SAHC – Mestrado Erasmus Mundus em Análise Estrutural de Monumentos e Construções Históricas FACC – Fundo de Apoio à Comunidade Científica – Fundação para a Ciência e a Tecnologia Design gráfico: Helena Lobo www.hldesign.pt isbn: 978-989-8612-08-3 Depósito Legal: 366514/13 Composição, impressão e acabamento: Candeias Artes Gráficas – Braga Braga, Novembro 2013 O CITCEM é financiado por Fundos Nacionais através da FCT-Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do projeto PEst-OE/HIS/UI4059/2011

SUMÁRIO

Apresentação  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Arnaldo Sousa Melo e Maria do Carmo Ribeiro

7

Présentation  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Arnaldo Sousa Melo e Maria do Carmo Ribeiro

11

El Foro de Segobriga y la formación de la arquitectura imperial en la Hispania Romana: entre innovación y continuidades  . . . . . . . . . . Ricardo Mar e Patrizio Pensabene A construção do teatro romano de Bracara Augusta  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Manuela Martins, Ricardo Mar, Jorge Ribeiro e Fernanda Magalhães

15 41

Os processos construtivos da edilícia privada em Bracara Augusta: o caso da domus das Carvalheiras  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Jorge Ribeiro e Manuela Martins

75

L’emploi de l’opus craticium dans le sud-ouest de la Gaule Antique – le “pan de bois” dans l’Antiquité du sud de la Gaule  . . . . . . . . . . . . . . Christian Darles, Magali Cabarrou e Catherine Viers

99

Il reimpiego nelle cripte del XII secolo in Tuscia  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 Daniela Esposito e Patrizio Pensabene Arquitectura y técnicas constructivas en la miniatura castellana del siglo XIII  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 Rafael Cómez Ramos

Construire dans les campagnes bourguignonnes au XIVe siècle: approche géo-archéologique des savoirs et savoir-faire des maçons dans la seigneurie de l’abbaye de Saint-Seine  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153 Patrice Beck, Jean-Pierre Garcia e Marion Foucher Charpentes médiévales en Provence: traces archéologiques et techniques de construction  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179 Émilien Bouticourt Dos abrigos da pré-história aos edifícios de madeira do século XXI  . . . . . 199 Paulo B. Lourenço e Jorge M. Branco O processo construtivo dos paços régios medievais portugueses nos séculos XV-XVI: O Paço Real de Sintra  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 213 Arnaldo Sousa Melo e Maria do Carmo Ribeiro A construção monástica no Portugal medievo: algumas reflexões  . . . . . . . . 245 Saúl António Gomes A casa rural comum no Norte de Portugal nos finais da Idade Média. Subsídios para o seu estudo  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 267 Manuel Sílvio Conde Droits et techniques constructives. Une mise au point historique  . . . . . . . . 287 Robert Carvais A arte de construir. Artefactos, linguagem e literatura técnica  . . . . . . . . . . . 307 João Mascarenhas Mateus

A construção monástica no Portugal medievo: algumas reflexões

A construção monástica no Portugal medievo: algumas reflexões Saul António Gomes

Lendo a Regra de S. Bento apercebemo-nos que o elemento dominante são os monges congregados em torno do seu abade e que são as suas ocupações diárias, na oração ou no trabalho manual, que verdadeiramente marcam e (re)criam a espacialidade do mosteiro. Os espaços físicos servem o mosaico das funcionalidades da vida monacal, toda ela dedicada ao ofício divino, dia e noite, à celebração das horas e da liturgia, à salmodia e à oração. É a vida em comunidade que impõe a planificação da construção de cada abadia com os seus lugares em que pontifica o abade, nos seus aposentos, na sua mesa ou no capítulo, ou pelos quais se distribuem os oficiais monásticos nomeadamente a celeiraria, a cozinha, a enfermaria, o refeitório, o oratório, a hospedaria, a portaria. Na Regra de S. Bento, pela época em que foi formulada, o claustro é ainda um “não lugar” no plano da abadia, crescendo paulatinamente a sua importância na arquitetura monástica à medida que se progredia para regimes de enclausuramento e de separação entre comunidade e mundo exterior mais rígidos. Um quotidiano monástico beneditino, in illo tempore, constituído por uma ecúmena humana plural, aludindo a Regra a viajantes e hóspedes, a irmãos exclaustrados e excomungados, a sãos e enfermos, a velhos e meninos, aos donatos ricos ou pobres, aos monges e aos artífices, aos irmãos que saem para perto nas suas funções e deveres ou àqueles que viajam para locais distantes, a estranhos e a sacerdotes que se recolhiam ao mosteiro. O mosteiro é o centro espacial de vivências de valores espirituais que são a via da salvação eterna. 

Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

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HISTÓRIA DA CONSTRUÇÃO – ARQUITETURAS E TÉCNICAS CONSTRUTIVAS

Seguindo o fio da tradição cultural religiosa judaico-cristã, na construção de cada mosteiro aplicar-se-á o paradigma referencial simbólico do Templo de Jerusalém. O seu projeto era de ordem divina, revelado aos profetas, cumprindo as suas planificação e edificação normas rigorosas definidas pelo próprio Deus. É isso que se revela nos preceitos bíblicos do Génesis 1 (criação do mundo) e 6, 13-22 (medidas da Arca de Noé), Êxodo 25-27 (regras para a construção do Tabernáculo), de I Reis 6 e 7 (edificação do templo e do palácio de Salomão), do Profeta Ezequiel 4043 (reconstrução da cidade de Deus e do novo templo) ou do Apocalipse 4 (visão do trono de Deus) e 21 (a nova Jerusalém e o tabernáculo de Deus) plasmando-se nestes capítulos e versículos bíblicos a ortodoxia construtiva observadora de proporções áureas e perfeitas entre larguras, comprimentos e alturas, valorizadoras de ortogonalidades absolutas em cidades e edifícios que, não raro, culminam em coberturas cuja realização cabia ao architectus, ao artífice construtor de “tetos”. Para S. Paulo, num topos caro à cultura monástica medieval, cada homem é templo e morada sagrada do Espírito de Deus, memoria da sua imagem e semelhança, e cada fiel deverá ser como o “bom arquiteto” de que se espera que saiba edificar sobre boas fundações ( I Coríntios, 3, 10-17). A construção do templo divino tornase metáfora da salvação do crente. Os lugares de construção são simbólicos, chãos sagrados que elevam para Deus, muros que isolam e garantem o silêncio propícios à oração e à celebração litúrgica dos mistérios divinos. Na tradição religiosa cristã, os mosteiros tornaram-se lugares nevrálgicos na composição cultural da história da salvação dos fiéis. A conhecida planta de um mosteiro, enviada pelo Abade Haito, de Reichnau, a Gozbert, abade de S. Gall, na Suiça, de cerca de 820, servindo expressamente ao estudo e meditação deste sobre o que se entendia por uma abadia perfeita, exemplifica a idealidade de um claustro beneditino. A entrada do visitante no perímetro monástico faz-se pelo ocidente, por entre os edifícios da hospedaria e os destinados à guarda dos animais e das estrebarias. A igreja é o eixo dominante do plano construtivo do mosteiro com ela se conciliando os demais cómodos. A fachada da entrada é consolidada por duas torres possantes e, dentro da ecclesia, várias naves conduzem ao altar-mor e santuário. Naves povoadas de altares e capelas adequados às necessidades de serviço pastoral litúrgico dos monges. Perpendicular à igreja vê-se um claustro ladeado por naves que dão acesso ao dormitório, ao refeitório e a um parlatório. Não se define, nesta famosa planta, a sala capitular. À cabeceira da igreja encontram-se a biblioteca e o scriptorium de um lado, e a sacristia, do outro. Alguns cómodos  Vd. CARRUTHERS, Mary – Machina memorialis. Méditation, réthorique et fabrication des images au Moyen Âge, Paris, Ed. Gallimard, 2002, pp. 9 e seguintes; PLAZAOLA, Juan – Historia y sentido del Arte cristiano, Madrid, BAC, 1996, pp. 3 e seguintes.

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A construção monástica no Portugal medievo: algumas reflexões

aparecem quase colados aos edifícios principais como adega, cozinhas, banhos e latrinas. A abadia perfeita conta também com edifícios para escola, casa de sangrias e casa dos médicos, junto da qual fica um jardim de plantas medicinais, enfermaria e casa de noviciado, com um pequeno claustro ou pátio, aparecendo também um hospital para os pobres com cozinha própria. Sucedem-se, depois, múltiplas oficinas para o trabalho manual dos monges e dos artesãos que os servem (padaria, tanoaria, sala de fazer cerveja, forno, celeiro e tulha, moinhos e pisoarias). A nascente da cabeceira da igreja, paredes meias com os edifícios do noviciado, sobressaem o cemitério com o seu pomar e a horta, uma casa para o jardineiro e capoeiras de criação de aves. Não se entrevê nenhuma muralha ou muro protetor no entorno do perímetro de construção.

Plano de uma abadia beneditina enviado a Haito, abade de Saint Gall, c. 820  Uma reprodução clara desta planta pode consultar-se em AAVV – A Nova História da Arte de Janson. A tradição ocidental, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 9ª edição, 2010, p. 340.

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HISTÓRIA DA CONSTRUÇÃO – ARQUITETURAS E TÉCNICAS CONSTRUTIVAS

O mosteiro é autossuficiente no plano material e no plano da vida cultural e espiritual dos seus habitantes. O modelo proposto, gerado nos ambientes beneditinos do então império carolíngio, reflete as marcas culturais próprias do império de Carlos Magno. É um modelo mais simbólico, para orientação e reflexão, como sublinhava o seu “compositor”, o Abade Haito, do que reprodutivo de algum caso efetivamente edificado Mas ele constitui, enquanto modelo, a base orientadora da construção monástica ocidental especialmente na plenitude dos séculos medievais e desde então até aos tempos da contemporaneidade. Um modelo beneditino suficientemente funcional e prático para servir a outras ordens religiosas e também religioso-militares. Não era uma planta, pela sua amplitude, muito adequada a espaços urbanos, nem os beneditinos, como sabemos, privilegiavam essa proximidade entre as suas casas e as cidades. Bem ao invés, o mosteiro beneditino, na sua multiplicidade de edifícios, acabava por se transformar num polo gerador de novos burgos e aglomerados habitacionais muitos dos quais evoluiriam para vila e urbes de dimensão apreciável. O único desvio a esta tradição dos monges irmãos no hábito de S. Bento de Núrsia será, e apenas paulatinamente e por ação dos poderes superiores da Igreja, o das comunidades femininas cujas abadias tenderão a aproximar-se o mais possível das vilas e cidades amuralhadas onde, em ocasiões de guerra ou de insegurança, as religiosas se podiam recolher e usufruir de maior segurança. Este modelo servirá a outras ordens como a dos cistercienses, mas também premonstratenses e outros cónegos regrantes agostinhos. Estes últimos, todavia, não negando, antes procurando, aliás, pelas características da sua missão pastoral mais interventiva ad populum, os subúrbios urbanos como lugares preferenciais de fixação das suas canónicas e mosteiros. Na sua senda perfilaram-se, como se sabe, a maioria das fundações mendicantes especialmente, em Portugal, franciscanos, dominicanos, carmelitas e ermitas de Santo Agostinho, fenómeno de que não se afastaram muito, salvo exceções pontuais mais radicalmente eremíticas, as casas dos movimentos observantes destas mesmas ordens religiosas. A fundação de um mosteiro num determinado lugar, no contexto da época em que tal acontecimento ocorre, pode corresponder a diversos intuitos. O primitivo eremitismo compondo modelos de vidas exemplares de místicos e santos não recolhe o mesmo significado de fundações de cenóbios destinados a acolherem comunidades de monges. O monaquismo alto-medieval, mormente no território do Noroeste peninsular hispânico, serviu estratégias de cristianização e de inculturação da doutrina evangélica deste território. Foi protagonizado por iniciativas individuais ou de hierarcas nobiliárquicos e eclesiásticos particularmente dos bispos. Os exemplos de S. Martinho de Dume e de S. Frutuoso de Montélios são reveladores desse tipo de fundações. 248

A construção monástica no Portugal medievo: algumas reflexões

O processo de ocidentalização dos modelos culturais e cultuais neste espaço dos confins europeus favoreceu a expansão dos modelos claustrais beneditinos e seus aparentados. Infanções, ricos-homens, a família real e outras famílias condais, como, ainda, bispos e altos dignitários eclesiásticos, patrocinam novas fundações monásticas nas quais estabelecem geralmente os seus panteões. Nalguns desses mosteiros preservar-se-á a memória genealógica dessas famílias e redigem-se annales e cronicões adequados a esse nível de registo da memória social. Por outro lado, as fundações de mosteiros assumiam intuitos de foro económico e social. Integraram o esforço de apropriação, povoamento e de exploração dessas terras, a sua transformação agrária, integrando populações de migrantes, muitas delas oriundas dos territórios conquistados aos muçulmanos, desenvolvendo tecnologias transformadoras inovadoras, animando as redes de transportes e de comércio, impulsionando a metamorfose das paisagens agrestes em campos de cultivo e de pastoreio. O mapa monástico português medieval não era uniforme quanto à distribuição das casas conventuais pelo território. No Norte, especialmente no Entre Douro e Minho, predominará a carta monástica beneditina, a canonical regrante e a cisterciense numa distribuição dominantemente rural. No litoral estremenho português, os cistercienses e as ordens religioso-militares, assim como as casas das novas ordens mendicantes e eremíticas, estas últimas estendendo-se ao Alentejo, localizar-se-ão de acordo com as lógicas de circulação viária que aproximam vilas e cidades e muito frequentemente escolhem localizações nos subúrbios desses centros urbanos. No Algarve, todavia, dominado pelos cavaleiros da Ordem de Santiago, a presença conventual não militar, até aos finais da Idade Média, é excecional e episódica, assinalando-se uma célula claustral franciscana em Tavira (1312) e outra em Loulé (1328), tão-somente. Seria preciso esperar pela centúria quinhentista para a cartografia conventual algarvia se renovar e densificar. As assimetrias no mapa conventual português medievo são reais. Há dioceses que se revelaram pouco propícias à instalação do clero regular, como Viseu, por exemplo, e o caso referido do Algarve com sede diocesana em Silves. A fundação de casas monásticas dependia de muitos fatores devendo realçar-se a capacidade e a necessidade de expansão interna de cada ordem, assim como os apelos e pressões externos sobre as mesmas, protagonizados, estes, pelos interesses de prelados, reis e nobres, municípios e benfeitores outros enriquecidos interessados no estabelecimento de monges ou frades em determinados lugares.  Vd MARADO, Catarina Almeida – Antigos conventos do Algarve. Um percurso pelo património da região, Lisboa, Edições Colibri, 2006.

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HISTÓRIA DA CONSTRUÇÃO – ARQUITETURAS E TÉCNICAS CONSTRUTIVAS

E essas fundações variaram em escala e projeto com as épocas. As grandes abadias beneditinas, cistercienses e canonicais exigiam, geralmente, vastas áreas para fixação e um modelo económico de patrimonialização extenso. Dentro das suas grandes cercas, em geral, organizava-se e hierarquizava-se todo um espaço entre construções de edifícios e agros e campos de cultivo e de silvicultura. A planta setecentista que nos chega do Mosteiro de Refoios do Lima, de cónegos agostinhos, é muito elucidativa a este respeito. (Ver planta).

Mapa do Mosteiro de Santa Maria de Refoios do Lima (1770) (TT – Mosteiro de Santa Maria de Refoios do Lima, Livro 6) 

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Disponível em: http://digitarq.dgarq.gov.pt/details?id=1459313 (acedido em 16.09.2013).

A construção monástica no Portugal medievo: algumas reflexões

Os claustros mendicantes, por outro lado, não rejeitando liminarmente uma rede patrimonial de sustento e riqueza, especialmente se de claustros femininos se tratava, todavia, apresentavam maior diversificação entre si, bipolarizados, a certo momento, entre observantes e claustrais, e sempre com comunidades de escalas demográficas muito assimétricas entre si. Estas diferentes escalas de unidades monásticas espelham tanto a história de cada comunidade, e o respetivo processo fundacional, quanto testemunham a vocação e as funções a que se destinavam essas casas. Os Séculos XII e XIII foram, no espaço português, propícios a políticas régias e nobiliárquicas extremamente generosas para com a Igreja e, dentro desta, para com as ordens regulares. Depois disso, a fundação ou dotação de grandes abadias será uma verdadeira exceção em Portugal, surgindo fundações mais modestas quanto a património, espaço de localização e escala de projeto arquitetónico construtivo. Um mosteiro reflete a capacidade de investimento dos seus fundadores e benfeitores. Em Portugal, nas centúrias finais da Idade Média, só os reis, pelo seu pingue património, conseguiram impulsionar fundações de grande escala como sucedeu, por exemplo, com o Mosteiro da Batalha ou o Mosteiro dos Jerónimos. Outras fundações de duques, condes e demais nobreza revelam maior contenção de investimento e menores gastos. No ano de 1400, Portugal contava com 205 mosteiros e conventos dos quais 161 masculinos e 44 femininos. No final de Quatrocentos, esse número ascendia a 272 casas, subindo para 215 as casas masculinas e para 57 as femininas. Sabemos que o monacato feminino português conheceu um surto significativamente mais expressivo na Época Moderna. Não cumpre, aqui, todavia, elucidar esses dados. Para o período medieval, todavia, o Século XV, sobretudo nos seus dois terços finais, aparece como um tempo bastante propício à fundação e construção de novos mosteiros. Neste fenómeno teremos de contabilizar as casas conventuais levantadas nos arquipélagos atlânticos da Madeira e dos Açores. Muitas destas unidades, não o percamos de vista, são, no seu início, pouco mais do que ermitérios e hospícios, congregando escassa população de religiosos, ganhando robustez à medida que se institucionalizavam e captavam as benfeitorias e as esmolas dos fiéis. (Vd. Quadro I)

Os números que apresentamos foram obtidos a partir da informação contida em SOUSA, Bernardo Vasconcelos e (Dir.), PINA, Isabel castro, ANDRAE, Maria Filomena e SANTOS, Maria Leonor Ferraz de Oliveira Silva – Ordens Religiosas em Portugal. Das origens a Trento. Guia histórico, Lisboa, Livros Horizonte, 2005. 

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HISTÓRIA DA CONSTRUÇÃO – ARQUITETURAS E TÉCNICAS CONSTRUTIVAS

Quadro I. Fundações de comunidades religiosas em Portugal até 1500 Decénios

Masculinos

Femininos

Total

[Antes de 1400]

161

44

205

1401-10

6

-

6

1411-20

2

-

2

1421-30

7

2

9

1431-40

6

-

6

1441-50

10

-

10

1451-60

7

3

10

1461-70

1

1

2

1471-80

7

1

8

1481-90

5

1

6

1491-1500

3

5

8

Totais

215

57

272

Neste mapa conventual lusitano assomavam, pelo maior número, as abadias beneditinas (58 no total), as canónicas regrantes de Santo Agostinho (38 casas), superando-as os claustros franciscanos, com 71 conventos. Bastante aquém destes valores estavam os cistercienses, com 24 abadias, os dominicanos, com 20 casas, os Eremitas da Serra da Ossa, com 18 unidades e, no fim, com menos de uma dezena de mosteiros, um conjunto de Ordens, igualmente muito diferentes entre elas pelas representações que tinham em Portugal, destacando-se, ainda assim, os eremitas de Santo Agostinho, os cónegos de S. João Evangelista, os jerónimos, os trinitários e os carmelitas, seguidos, com escassíssima representação, pelos premonstratenses, pelos cónegos do Santo Sepulcro, de Santo Antão e de Roncesvales, e, finalmente, por mercedários. As Ordens Militares, por seu lado, contavam com apenas quatro estruturas monásticas centrais. (Ver Quadro II). Quadro II. Mosteiros em Portugal por Ordens no Século XV

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Ordens

Masculinos

Femininos

Total

OSB

40

18

58

OCit

16

8

24

CRSA

34

4

38

Premonstr.

2

-

2

Stº Sepulcro

2

-

2

Santo Antão

3

-

3

A construção monástica no Portugal medievo: algumas reflexões

Roncesvales

1

-

1

S. João Evg.

6

-

6

S. Paulo

18

-

18

OFM

53

18

71

OP

14

6

20

OESA

6

1

7

OSH

5

-

5

Ord Carm

4

-

4

Trinitários

6

-

6

Mercedários

1

-

1

Ord. Militares

4

2

6

Totais

215

57

272

A geração de uma ordem religiosa, como a fundação de um cenóbio, assume-se, no seu começo, como um projeto de comunhão evangélica. Estabelecem-se espaços sagrados que propiciem, pela reserva da clausura, pelo silêncio, pela abstinência e morigeração no comer e no vestir, pela oração contínua e reiterada, a salvação da alma de cada monge. Definem-se como votos maiores os da pobreza, da castidade e da obediência. A profissão solene do monge exige a formulação desses votos e associa o religioso à casa em que professa. Dando cumprimento aos preceitos evangélicos, e ao exemplo de Jesus Cristo que nada tinha de seu, os padres fundadores, como sucedeu entre beneditinos, cistercienses, cartuxos, franciscanos e pregadores, entre outros, exaltam os valores da humildade, da austeridade e do regramento de vida. Na arquitetura das casas conventuais deveriam transparecer esses princípios tão caros aos santos fundadores. Entre os dominicanos, as Constituições primitivas, elaboradas entre cerca de 1220 e 1230, determinavam que as igrejas e os demais cómodos dos frades deveriam ser pequenos, simples, sem ostentação: “XXXV. De edificiis. Mediocres domos et humiles habeant fratres nostri ita quod murus domorum sine solario non excedant in altitudine mensuram .XII. pedum et cum solario .XX. ecclesias .XXX. et non fiat lapidibus testitudinata nisi forte super chorum et sacristiam. Si quis de cetero contrafecit pene gravioris culpe subiacebit. Item in quolibet conuentu tres fratres de discrecioribus eligantur sine quorum consilio edificia non fiant.”

 Constitutiones Primaevae S. Ordinis Praedicatorum, Ed. Convento de S. Domingos de Fiesole, 1962, p. 23.

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HISTÓRIA DA CONSTRUÇÃO – ARQUITETURAS E TÉCNICAS CONSTRUTIVAS

Este legado fundacional da contenção e da “pobreza” será recordado e testemunhado pelas gerações dos frades pregadores contemporâneos de S. Domingos, alegando-o como argumento favorável à sua canonização mas também como legado moral às gerações futuras da Ordem dos Frades Pregadores. Uma das testemunhas ouvidas no processo de canonização de Domingos de Gusmão, Fr. Estêvão Hispano, provincial da Lombardia, recordava justamente que o padre fundador reprovava construções de aparato, exigindo aos seus irmãos que habitassem em celas pequenas e sem superfluidades: “Et volebat quod haberent viles domos et parvas… Item dixi quod cum haberent fratres apud S. Nicolaum [Convento de S. Nicolau de Bolonha] cellas vilissimas et parvas et Fr. Rodolphus, qui erat procurator fratrum in absentia eiusdem, Fr. Dominici quasdam cellulas elevatas coepit cum fletu pluries praedictum fratrem Rodolphum et Fratres alios reprehendere dicendo sibi et aliis fratribus: vultis tam cito paupertatem reliquere et magna palatia aedificare”. Et ipse Rodolphus Faventinus: “Et volebat quod haberent parvas domos et viles vestes et etiam in ecclesia nolebat quod essent panni serici sed essent indumenta de bucaranno vel aliquo alio panno.”

Idênticas preocupações de simplicidade e moderação se encontram nos textos normativos de outras Ordens seja na Regra de S. Bento de Núrsia, seja na Carta caritatis cisterciense, seja na ecúmena conventual de Francisco de Assis, seja ainda nas demais ordens religiosas medievais. Todas as ordens religiosas geraram e expandiram modelos construtivos com princípios uniformes. Uma uniformitas que pretendia ser agregadora e identificadora dessas mesmas congregações e instituições. O princípio desta uniformitas todavia não se revela apenas ou sobremodo na malha edificada dos complexos monásticos. Antes de constituir um preceito regulamentar das arquiteturas de espaços e lugares monásticos, essa uniformidade traduzia a unidade espiritual, expressa na comunhão de um ordo e de uma liturgia próprios. São as funcionalidades litúrgicas  Ibidem, p. 34, nota 44. Vd. MEERSSEMAN, G. – “L’architecture dominicaine au XIIIe siècle. Législation et pratique”, Archivum Fratrum Praedicatorum, XVI (1946), pp. 136-190; GILARDI, Costantino G. – “Ecclesia laicorum e Ecclesia fratrum. Luoghi e oggeti per il culto e la predicazione secondo l’Ecclesiasticum officium dei Frati Predicatori”, in Aux origines de la Liturgie Dominicaine. Le Manuscrit Santa Sabina XIV L 1 (Dir. BOYLE, Leonard E. e GY, Pierre-Marie), Roma, École Française de Rome, 2004, pp. 379-443.  V.g., Cister. Cf. AUBERT, Marcel – L’architecture cistercienne en France, 2 vols., Paris, 1947; IDEM – “Existe-t-il une architecture cistercienne?”, in Cahiers de Civilisation Médiévale, 1958, pp. 153158; PRESSOUYRE, Leon, L’espace cistercien, Paris, Comité des travaux historiques et scientifiques, 1994; VALLE PÉREZ, C. – “La arquitectura cisterciense: sus fundamentos”, in Cistercium, 1978, pp. 275-289; JORGE, Virgolino Ferreira – “Mosteiros Cistercienses Femininos em Portugal. Notas sobre a tipologia dos sítios e das igrejas”, in Cistercium, Nº 217, Ano LI (Outubro-Dezembro 1999), pp. 853-864.

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A construção monástica no Portugal medievo: algumas reflexões

e pastorais dessas Ordens que lhes determinam e explicam as opções por lugares e modelos de edificação. Esta tendência geral, de conformidade a modelos conventuais regularmente institucionalizados, não elimina, ainda assim, casos diferenciadores. As gerações de monges que sobrevieram à dos padres fundadores, por regra, afastaram-se da observância absoluta e escrupulosa dos ditames ascéticos desses mesmos fundadores, adaptando as suas casas, refeitas, ampliadas ou novas fundações, às expectativas das sociedades em que se estabeleciam. Uma tendência que evoluirá sempre no sentido do enaltecimento dos lugares identitários de origem, verdadeiros santuários de peregrinação e de revitalização para os professos dessas mesmas ordens religiosas; tendência, também, que levará a que as edificações monásticas cresçam em monumentalidade e aparato assim satisfazendo o apreço das sociedades epocais em que se inscrevia cada nova fundação. Nalguns casos os projetos construtivos foram interrompidos ou abandonados, substituídos por novas fundações vizinhas ou relativamente próximas dos lugares iniciais da obra. Isso sucedeu com as abadias de Alcobaça e de Salzedas, por exemplo, como também, por necessidade de mudança de edifícios edificados em leitos de cheias com os Mosteiros de Santa Ana e de Santa Clara-a-Velha de Coimbra. Há casos, ainda, de fundações falhadas (lembremos a casa cisterciense de Bouças) ou de abandonos de estabelecimentos primitivos, por transferência das comunidades para outros lugares, como sucedeu com Santa Clara de Entre os Rios, mudada para o Porto. As construções monásticas tenderão a alongar-se no tempo, dependendo da capacidade de financiamento das obras, da disponibilidade dos materiais adequados aos projetos, da oferta da mão-de-obra qualificada e necessária. São conhecidos os casos, em Portugal, de mosteiros verdadeiramente nunca completados ou que só tardiamente, e por vezes em tempo de restauro monumental já contemporâneo, foram finalizados. lembremos, a título de exemplo, os Mosteiros da Batalha e dos Jerónimos, “refeitos” ou concluídos no decurso dos restauros oitocentistas e já depois da exclaustração dos seus frades. O imaginário monástico medievo português associa frequentemente o estabelecimento de um mosteiro a explicações de foro lendário ou hagiográfico. Sonhos tidos pelos religiosos, visões sobrenaturais e aparições angélicas – lembrando o anjo de bronze da visão de Ezequiel – enraízam e “sacralizam” os catos fundacionais. O cisterciense Fr. Hilário das Chagas, no século XVI, alude aos cordéis estendidos milagrosamente” sobre a mata onde se ergueria a abadia de Alcobaça, mosteiro, citamos, “que se fizesse por milagre, mostra-se bem, porque avendo muytos bichos peçonhentos que mordião os que andavão cavando na obra e arrancando a mata, nunqua nenhum perigou nem por ysso deixou de trabalhar. E os bois que acarre255

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tavão a pedra, viam-nos hyr e vir, da pedreira ate ho Mosteiro, sós sem vir nem hyr nynguem com elles, sendo duas legoas, somente se carregavão láa, scilicet, na pedreira, e os descarregavão no Mosteiro.”10 Lembre-se aqui os “milagres” da Rainha Santa, D. Isabel de Aragão, do dinheiro para pagamento das jornas dos obreiros de Santa Clara-a-Velha de Coimbra, convertido maravilhosamente em rosas, ou, neste caso ao invés, das rosas dadas pela mesma Santa Rainha aos obreiros da igreja do espírito Santo de Alenquer, convertidas em dinheiro11. Tenhamos, ainda, em conta, as lendas mais “profanas” como é o caso da lenda da seta disparada por D. João I, para encontrar o lugar de implantação do futuro Mosteiro da Batalha, ou a famosíssima “história” que inspirou o maravilhoso conto de Alexandre Herculano, intitulado “A Abóbada”, o qual envolve a dedicação sacrifical de Mestre Afonso Domingues, o primeiro mestrede-obras desse convento. O corpus lendário monástico português, como se sabe, é bastante mais vasto, em parte original, em parte inspirado por tópicos bíblicos, em parte, ainda, apoiando-se em intertextualidades hagiográficas correntes e comuns entre as ordens religiosas. Os programas construtivos monásticos impunham a organização dos estaleiros que se montavam no cenário paisagístico escolhido para a fundação. Recrutava-se o pessoal necessário à obra, orientada pelo mestre-de-obras. Cabouqueiros, carreteiros ou carreiros, pedreiros e canteiros constituíam o grosso dos efetivos de cada edificação. Edificações de grande vulto, como sucedeu com o Mosteiro da Batalha, obrigavam a uma contabilidade financeira organizada e com oficiais especializados nessa área. O empreendimento avançava com a escolha e transporte para o local da obra dos materiais de construção trazidos frequentemente de pedreiras e de florestas relativamente distantes. Construir em granito, no norte, ou em basaltos e calcários, no sul, exigia diferentes instrumentos de trabalho e diferentes soluções construtivas também. Havia que aprovisionar o estaleiro, ainda, com cais, areias, argilas, água e outros recursos materiais que obrigavam, frequentemente, à construção de fornos de cozedura de olarias ou de fundição de metais. O abastecimento de água era vital para o bom funcionamento do estaleiro e o decurso das obras. Havia que garantir, ainda, um conjunto de cómodos destinados a albergar a população mesteiral envolvida no cenário da construção, com edifícios destinados ao apoio à vida no local

10 Biblioteca Nacional de Portugal – Alcobacenses, Códice CCCLXXIII/92, fls. 9-11vº; publicado por GOMES, S. A. – “A Congregação Cisterciense de Santa Maria de Alcobaça nos Séculos XVI e XVII: Elementos para o seu Estudo”, in Lusitania Sacra, 2ª série, 18 (2006), pp. 375-431: 427. 11 LA FIGANIÈRE, Frederico Francisco de – Memorias das Rainhas de Portugal. D. Theresa – Santa Isabel, Lisboa, Typographia Universal, 1859, pp. 308-310.

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(moinhos e fornos de pão, entre outros), com oficinas específicas (no Mosteiro da Batalha, por exemplo, a documentação antiga alude à “casa das medidas” e à “casa das vidraças”), bem como estrebarias e currais para os animais de tiro a que se recorria. Alguns estaleiros deram origem a burgos habitacionais. O projeto construtivo assentava em descrição oral e escrita, acordada seguramente entre donos da obra e o mestre da mesma, porventura em exemplos de edifícios conhecidos preexistentes noutros sítios, quiçá pela apresentação de uma maquete ou até de planos escritos de traçaria senão de verdadeiras plantas12. Em Portugal, duas das plantas mais antigas preservadas até hoje na Torre do Tombo, ainda que datando do primeiro terço do Século XVI, respeitam às igrejas dos mosteiros medievais de S. Francisco e de S. Domingos de Coimbra, sintoma de que esse método de projeto, por planta, era praticado senão corrente nas práticas edificatórias portuguesas13. Abertas as fundações, levantavam-se os muros, começando-se geralmente pela edificação da cabeceira da igreja e da sacristia, avançando-se depois para o transepto e naves e, simultaneamente, o claustro e cómodos projetados. Dependendo da obra e da sua dimensão, assim as coberturas se pautavam por madeiramentos e telhados de duas ou mais águas, geralmente muito apontados, ou privilegiavam outras soluções mormente lajeamentos betumados (como sucedeu na Batalha)14. Em muitos mosteiros portugueses usou-se intensamente a madeira, material que vemos ser uma constante nos pedidos feitos pelos monges e frades aos respetivos benfeitores ou patrocinadores, sobretudo o rei, mecenas dominante no espaço português. Isso verifica-se, por exemplo, em casos como S. Francisco de Coimbra15, Cf. BERNARDI, Philippe – Bâtir au Moyen Âge (XIIIe-milieu XVIe siècle), Paris, CNRS, 2011. Vd as reproduções destas plantas no apêndice documental que aqui apresentamos. Para uma sua contextualização histórica, consulte-se: GOMES, S. A. – “A igreja de S. Domingos de Coimbra em 1521”, in Arquivo Coimbrão. Boletim da Biblioteca Municipal, Vol. XXXIX, Coimbra, 2006 [2007], pp. 377-396; IDEM – “O Mosteiro de S. Francisco de Coimbra nos alvores de Quinhentos”, in Arquivo Coimbrão, Vol. XL (2008), Coimbra, pp. 385-444. 14 Para uma leitura acerca dos processos construtivos do Mosteiro da Batalha, permita-se-nos remissão para alguns dos nossos trabalhos sobre o mesmo: O Mosteiro de Santa Maria da Vitória no Século XV, Coimbra, Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras de Coimbra, 1990; IDEM – “Les ouvriers du bâtiment a Batalha”, in Razo, Cahiers du Centre d’Études Médiévales de Nice, Nº 14, L’Artisan dans la Péninsule Ibérique, Nice, 1993, pp. 33-51; IDEM – “Um estaleiro medieval de excelência: o Mosteiro da Batalha”, in A História da Construção em Portugal. Alinhamentos e Fundações (Ed. João Mascarenhas Mateus), Coimbra, 2010 [2011], pp. 49-78; IDEM – “Les bâtisseurs du chantier gothique du Monastère de Bataille (Portugal)”, in História da Construção. Os construtores (Coord. Arnaldo Sousa Melo e Maria do Carmo Ribeiro), Braga, CITCEM – Centro de Investigação Interuniversitária – Cultura, espaço e memória, 2011, pp. 173-190. 15 GOMES, S. A. – “O Mosteiro de S. Francisco de Coimbra nos alvores de Quinhentos”, in Arquivo Coimbrão, Vol. XL (2008), Coimbra, pp. 385-444. 12

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em Santa Clara de Estremoz16 ou num não identificado Mosteiro de Santarém17, ainda que a documentação em causa seja já de inícios de Quinhentos. Concluída a obra estrutural, podia passar-se às tarefas de decoração, também elas trazendo ao estaleiro artistas e artesãos vários, devendo enunciar-se os canteiros e escultores, os pintores, os vidreiros, os marceneiros, os ourives e todos quantos de forma mais direta ou indireta produziam peças artísticas para a ornamentação dos altares e demais espaços de cada mosteiro. Em muitos casos, o gosto pela ornamentação dos altares obrigava a despesas algo sumptuárias, adquirindo-se retábulos e peças artísticas fora do país, sobretudo na Flandres, como se documenta entre as monjas dominicanas de Jesus de Aveiro18. Não faltava, ainda, o cuidado no ajardinamento e arborização do espaço construído, sobretudo nos claustros. Na canónica regrante de S. Jorge de Coimbra, em meados do século XIII, alude-se aos ciprestes plantados no claustro (“Domnus Fernandus qui dedit nobis duo cipresses qui stam in claustra”)19, existindo neste mosteiro hortelão (“Obiit Menendus ortulanus conversus Sancti Georgii”20). Também na Batalha se podia ver idênticos espécimes arbóreos como se documenta em 1401 (“No Moesteiro del Rey que el manda fazer a par donde foi a batalha na crasta onde stam os arciprestes seendo hy frey Lourenço Llamprea doutor en Tiolesia prior do dicto Mosteiro”)21. Pontos de água potável embelezavam o conjunto edificado criando espaços de lazer e de encontro como sucedia com o mosteiro das monjas cistercienses de Celas de Coimbra que celebravam, não raro, os seus contratos notariais, ainda em Quatrocentos, no “alpendere do chafariz da fonte”22. Concluída a construção, o mosteiro tornava-se numa verdadeira “paisagem de oração” dentro de cujos muros, a comunidade pautaria o seu quotidiano pelo silêncio só quebrado para celebração das horas e dos ofícios no coro ou nos altares, coletivos ou privados, salmodias, responsos, procissões e rituais outros que garantiam a autenticidade da vida espiritual que ali se comungava23. TT – Corpo Cronológico, II. Maço 84, Doc. 61. (De 1520). TT – Corpo Cronológico, I, Maço 26, Doc. 13. (Regista a necessidade de se comprar 400 bordos e 167 carros de madeira “pera ho Moesteiro de Santarem”, datando de 1520). 16 17

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TT – Corpo Cronológico, II, Maço 6, Doc. 138. (Ver documento em apêndice).

Biblioteca Pública Municipal do Porto (BPMP) – Obituário de S. Jorge de Coimbra, fl. 39. BPMP – Obituário S. Jorge de Coimbra, fl. 38v. 21 GOMES, S. A. – Fontes Históricas e Artísticas do Mosteiro e da Vila da Batalha (Séculos XIVXVII). Vol. I. (1388-1450), Lisboa, IPPAR, 2002 , Doc. 19, p. 57. 22 MORUJÃO, Maria do Rosário – Um Mosteiro Cisterciense Feminino. Santa Maria de Celas (Século XIII a XV), Coimbra, Universidade de Coimbra, 2001, pp. 33 e 633. 23 Vd. GOMES, S. A. – “Uma paisagem para a oração: o Mosteiro de Alcobaça em Quatrocentos”, in Paisagens Rurais e Urbanas. Fontes, Metodologias, Problemáticas. Actas das Terceiras Jornadas 19 20

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Haveria, naturalmente, que zelar pela manutenção dos edifícios, pela sua renovação, quando útil, ou simples procedimentos de melhoramentos, arranjos e limpezas. No Século XV, o Livro dos Sacristães-mores do Mosteiro de Alcobaça, a este propósito, recomendava os cuidados que os monges deveriam ter para eliminação do mato que nascia nas paredes da igreja: “Como as de fazer ao mato que nace na igreja. Nota que o sancristam ha de requerer en cada huum anno hua vez ao abbade ou ao prior que mande cortar todallas figeiras e todalas silvas e todolos e todolos matos que crecem pelas paredes do moesteiro e de todolos lugares delle ai como pelos telhados e pelos andaimos de cima da egreja. E pera esto há deter o dito samcristam huum cesto grande feitiço em que andem os monges quando cortarem os dictos matos e hua corda e hua relhada e huum podom todo esto há de ter na sacristia gardado o dicto sancristam. E mais ha de mandar varrer muy bem quantas vezes viir que conpre os andaimos de cima da egreja e da capela moor e da charola e da capela dos rex por que se asi nom fezer quando chover nom queira há auga hiir fora e metersea pelas paredes e pelas abobadas que seria grande perda e dano do musteiro.”24

O binómio claustral/observante, mosteiro rico/mosteiro pobre não é expressivo, como se demonstra pela generalidade das casas então levantadas e sobreviventes até aos nossos dias, em matéria arquitetónica, ainda que sublinhado pelas memórias das próprias dessas Ordens – veja-se, a este título, a elucidativa apologia da vida observante traçada pela monja autora do Memorial do Mosteiro de Jesus de Aveiro, afirmado como modelo de observância dominicana mas, na prática, um caso verdadeiramente claustral pelo património e pela riqueza de que gozava o cenóbio25 – que afeiçoaram e agudizaram as clivagens entre aqueles movimentos. O estatuto régio ou alto-nobiliárquico impunha condicionalismos temporais a toda e qualquer casa monástica, mesmo as observantes, nas quais encontramos, salvo exceção, sempre testemunhos de arquiteturas construtivas monumentais e aparatos artísticos ao serviço de rituais litúrgicos caracterizados pela exigência e (Coordenação de Iria Gonçalves), Lisboa, Centro de Estudos Históricos – Universidade Nova de Lisboa, 2007 [2008], pp. 19-56; IDEM – “A vida litúrgica entre os monges de Alcobaça em meados de Quatrocentos: o Regimento dos Sacristães-Mores”, in Mosteiros Cistercienses. História, Arte, Espiritualidade e Património. Actas do Congresso realizado em Alcobaça nos dias 14 a 17 de Junho de 2012, Tomo II, Alcobaça, Ed. Jorlis, 2013, pp. 423-448; IDEM – “Aspetos da vida litúrgica em Santa Cruz de Coimbra na Idade Média”, in Estudos Teológicos. Revista do Instituto Superior de Estudos Teológicos, Ano 17 (2013), Coimbra, pp. 25-64. 24 PEREIRA, Gabriel “Trechos portugueses dos seculos XIV e XV”, in Boletim da Segunda Classe, Vol. V, Lisboa, Academia das Ciências de Lisboa, 1912, pp. 319-335: 334-335. 25 CORALEJO, Gilberto Moiteiro – As Dominicanas de Aveiro (c. 1450-1525): Memória e Identidade de uma Comunidade Textual (Dissertação de Doutoramento em História, policopiada), Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2013.

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pela riqueza. Os reis e a alta-nobreza preferiram sempre eleger os seus panteões entre os claustrais, porque mais monumentais e com escalas mais adequadas à dimensão dos seus poderes ou à expressão dos seus projetos ideológicos como é bem visível no caso do Mosteiro da Batalha. O problema das “teorias da pobreza” parece contrastar com esta realidade. Mas a pobreza é uma realidade exterior à corte régia e às grandes cortes senhoriais do Reino. Mesmo os movimentos “reformados” ou que se reclamavam observantes, e pobres, tinham muito pouco, em boa verdade, de pobreza. Franciscanos, dominicanos, gracianos, paulistas, jerónimos ou loios, e todos os outros, eram em geral terratenentes, usufruíam de uma economia de privilégio, de isenção e de dotação reais que não pararão de se multiplicar ao longo dos séculos.

Apêndice documental [1502, Outubro] 15, Mosteiro de Jesus de Aveiro – Missiva de D. Maria de Ataíde, prioresa do Mosteiro de Jesus de Aveiro, solicitando o envio de um retábulo da Anunciação, da Flandres, para o seu Mosteiro, para além de frontais para os altares, cujos custos seriam suportados pela venda de açúcar pertencente à comunidade. TT – Corpo Cronológico, II, Maço 6, Doc. 138 Obs.: O documento encontra-se delido nas margens, tornando inviável, hoje em dia, ler a data do mesmo. A datação que se apresenta, todavia, resulta da registada no sumário tardio lançado, provavelmente em finais do Século XVIII, por amanuense da Torre do Tombo, apresentando este a lição de “1502 Outubro 31”. Ao contrário do milésimo e do mês, todavia, dia 15 é absolutamente visível no original. + Muito virtuoso senhor. Huã carta vossa receby per hum criado de Joham e tudo que me nela diz lhe tenho muito em mercee e lhe peço o ponha assy em obra, mandando as .X. arrovas pera se acabar o retavolo em toda perfeyçam e do que sobejar, se faça o frontal, e aquy [en]vio a medida do comprimento e da altura nam he necessario, porque cada altar sabem quam alto ha de ser. Peço vos senhor por mercee, se ainda se poder fazer seja o frontal da imagem de Nossa Senhora da Anuncyaçam, scilicet, quando a sauda ho anjo, muito devota, honesta e fremosa, nam he mays necessario diz que a quem tudo tam bem emtende e folgou de nos fazer esta mercee que muito [e]stymamos estas irmãas e eu, certyfyco vos estãa tam desejosas de ja ho ver, se Nosso Senhor quiser que nam poderey dize lo, e assy folgaram muito de ter vossa mercee acordo de mandar fazer [o] frontal que faz assaz mingua,, e se sobejar dinheiro do frontal manday nos por mercee trazer huuns cynco covados de grãa pera outro frontal e se o dito nom abastar, eu soprirey de ca,, fycamos em muita enfynda obrigaçam por vossa boa vontade, se perventura o retavolo for acabado, nam leyxe de

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vinr, e as outras cousas se façam mays de vaguar, estas ocupaçõoes me perdoe vossa mercee na qual estas irmãas e eu vos comendamos e da senhora vossa molher, Jhesu Nosso Senhor vossa honra, vida e virtudes crecente [e] mostre muito prazer. Escrita a xb dias de ... ro. (Assinatura) [+ Mari]a d’Atayde pryoressa. // [Sobrescrito] Pero Afonso que ouve o nosso açucar nom nos deu delle nova, nem elle nam vem, peço vos se la he lhe façam requerimento e ho costrangam entregue o açucar, porque elle nam tem fazenda pera ca se aver nada,, em mercee vossa. (assinatura) Maria d’Atayde.

[1527] – Planta parcial da igreja do Convento de S. Francisco de Coimbra (TT -CC-2-138-168, fl. 1)

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Planta da igreja de S. Domingos de Coimbra em 1521 (TT – Corpo Cronológico, Parte 1ª, Maço 27, Doc. 39)

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Mosteiro de Alcobaça: obras de restauro da antiga DGEMN (c. 1930)

Aspeto da nave nascente do claustro real do Mos­ tei­ro da Batalha, em fase de restauro. Fotografia de THOMPSON, Thurston (1868) – The sculptural ornament of the Monastery of Batalha in Portugal

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Idem – “A vida litúrgica entre os monges de Alcobaça em meados de Quatrocentos: o Regimento dos Sacristães-Mores”, in Mosteiros Cistercienses. História, Arte, Espiritualidade e Património. Actas do Congresso realizado em Alcobaça nos dias 14 a 17 de Junho de 2012, Tomo II, Alcobaça, Ed. Jorlis, 2013, pp. 423-448. Idem – “Aspetos da vida litúrgica em Santa Cruz de Coimbra na Idade Média”, in Estudos Teológicos. Revista do Instituto Superior de Estudos Teológicos, Ano 17 (2013), Coimbra, pp. 25-64. Jorge, Virgolino Ferreira – “Mosteiros Cistercienses Femininos em Portugal. Notas sobre a tipologia dos sítios e das igrejas”, in Cistercium, Nº 217, Ano LI (Outubro-Dezembro 1999), pp. 853-864. La Figanière, Frederico Francisco de – Memorias das Rainhas de Portugal. D. Theresa – Santa Isabel, Lisboa, Typographia Universal, 1859. Marado, Catarina Almeida – Antigos conventos do Algarve. Um percurso pelo património da região, Lisboa, Edições Colibri, 2006. Meersseman, G. – “L’architecture dominicaine au XIIIe siècle. Législation et pratique”, Archivum Fratrum Praedicatorum, XVI (1946), pp. 136-190. Morujão, Maria do Rosário – Um Mosteiro Cisterciense Feminino. Santa Maria de Celas (Século XIII a XV), Coimbra, Universidade de Coimbra, 2001. Pereira, Gabriel – “Trechos portugueses dos seculos XIV e XV”, in Boletim da Segunda Classe, Vol. V, Lisboa, Academia das Ciências de Lisboa, 1912, pp. 319-335. Plazaola, Juan – Historia y sentido del Arte cristiano, Madrid, BAC, 1996, pp. 3 e seguintes. Pressouyre, Leon, L’espace cistercien, Paris, Comité des travaux historiques et scientifiques, 1994 Sousa, Bernardo Vasconcelos e (Dir.), Pina, Isabel castro, Andrade, Maria Filomena e Santos, Maria Leonor Ferraz de Oliveira Silva – Ordens Religiosas em Portugal. Das origens a Trento. Guia histórico, Lisboa, Livros Horizonte, 2005. Valle Pérez, C. – “La arquitectura cisterciense: sus fundamentos”, in Cistercium, 1978, pp. 275-289.

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Resumo:

Neste artigo, o autor tece algumas reflexões em torno da problemática da construção monástica no Portugal medievo. Questiona as causas que enformam a composição do mapa do monasticon português naqueles tempos e evidencia os fatores sociais, económicos e políticos que lhe subjazem. Procura averiguar, ainda, a adequação dos projetos construtivos às identidades próprias das ordens religiosas, acentuando, ainda, as características fundamentais dos processos e dos métodos técnicos de edificação de abadias e conventos no território considerado.



Palavras-chave: construção monástica; Portugal; Idade Média; projetos construtivos; ordens religiosas.

Résumée:

Dans cet article, l’auteur présente quelques réflexions sur la question de la construction monastique au Portugal médiévale. Il pose des questions sur les causes qui expliquent la composition de la carte du monasticon portugais en temps médiévaux et il met aussi en évidence les aspects sociaux, économiques et politiques sous-jacente. En plus, il essaie d’examiner l’adéquation des projets constructifs aux identités spécifiques des ordres religieux, en soulignant, également, les caractéristiques fondamentales des processus et des méthodes techniques de bâtir les abbayes et les couvents dans le territoire portugais.

Mots-clés: construction monastique; Portugal; Moyen Âge; projets constructifs; ordres religieux.

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