A Contribuição dos Naturalistas Europeus do Século XIX e de Memorialistas do Século XX para a Conservação e a Promoção do Patrimônio Natural e Arqueológico do Norte de Minas (Parte 2)

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29/05/2016

história e­história

ISSN 1807­1783                atualizado em 22 de março de 2011

 

 

Editorial Expediente De Historiadores Dos Alunos

A Contribuição dos Naturalistas Europeus do Século XIX e de Memorialistas do Século XX para a Conservação e a Promoção do Patrimônio Natural e Arqueológico do Norte de Minas (Parte 2) por Thiago Pereira

Arqueologia Perspectivas

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Professores Entrevistas

2.4. A CONTRIBUIÇÃO DOS MEMORIALISTAS E INTELECTUAIS DO SÉCULO

Reportagens

XX: As escavações da SECMC, A Pré­História do Norte de Minas por

Artigos

Leonardo Campos.

Resenhas Envio de Artigos

Atualmente o norte de Minas Gerais tem recebido significativos

Eventos

estudos; destaca­se o setor de Arqueologia da Universidade Federal de Minas

Curtas

Gerais (UFMG), a Universidade de São Paulo (USP), esforços e propostas de

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trabalhos acadêmicos da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES); mas de acordo com Campos (1988. p.75), historicamente, a Sociedade de Educação e Cultura de Montes Claros (SECMC), foi a primeira entidade criada em Montes Claros – MG, cidade pólo, com o objetivo de estudar a Pré­História da região, em todas as suas implicações. Formada por intelectuais como Simeão Ribeiro Pires, Arthur Jardim de Castro Gomes, Luiz Pires, Konstanti Christoff, Francisco Santos e Plínio Ribeiro dos Santos, que foi presidente da instituição. A extinta entidade realizou trabalhos em vários sítios como a Lapa Pintada de Montes Claros – MG, encontrando vários fósseis humanos, com profundidade de até dois metros; esqueletos quase completos; mas não procurou obter datações para os diversos níveis das escavações realizadas. A contribuição da SECMC pelo seu papel histórico e pioneiro integra um movimento maior, que seria a contribuição da “nova história social”, herdeira direta das propostas da Escola dos Annales na frança[6]. No século XX, o Brasil teve uma forte tradição de história local e regional, escrita por amadores, funcionários públicos e intelectuais em geral, sobre os mais diversos temas; para Martins Filho (2006), em Minas Gerais, parte destes trabalhos possui qualidade razoável. O livro de Leonardo Campos, O Homem na Pré­História do Norte de Minas da década de 1980, citado no decorrer deste trabalho é a mais clara exemplificação da contribuição destes intelectuais e/ou funcionários públicos que contribuíram para o registro dos estudos da Pré­história regional. Campos faz

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apontamentos das diversas visitas de peritos nacionais e internacionais, como os antropólogos Alan Lyle Bryan e Ruth Ghuhh, da Universidade de Alberta, Canadá em convênio com o Setor de Arqueologia do Museu de história Natural da UFMG, que escavaram a Lapa Pequena de Montes Claros – MG em 1977; trabalhos arqueológicos na mesma cidade pelo Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB); sobre a Missão Franco­brasileira em Montalvânia – MG nos anos 1970; destaque para pioneiros naturalistas amadores como Ubirajara de Coração de Jesus – MG; além do próprio Leonardo Campos visitar inúmeros sítios da região e fazer menção dos relatos e viagens dos naturalistas europeus no decorrer do século XIX.

Figura 15 – Pinturas rupestres na Lapa de Santo Antônio no município de Capitão Enéas – MG, visitado por Leonardo Campos em suas visitas à sítios do Norte de Minas. Fonte: Arquivo Pessoal de Thiago Pereira, 2009. O trabalho de Campos nos anos 1980 integra o período dourado das histórias locais e regionais, que ocorreu na segunda metade do século XX, sobretudo nas três últimas décadas deste século; porque no final do século XIX e primeira metade do XX, surgiu “uma grande reação crítica a essas obras que eram vistas com desprezo pelos defensores da história global” (MARTINS FILHO, 2006. p. 59). A recuperação do prestígio se deu por dois fenômenos distintos, mas que culminaram na mesma direção: a valorização do passado e de estudos históricos locais. O primeiro foi no âmbito das universidades, com o surgimento de novas questões e métodos de pesquisa, destacando a já mencionada “nova história social”, herdeira dos Annales e da Escola inglesa de Lecester nos anos 1960. O segundo fenômeno refere­se à população em geral; as pessoas têm mostrado interesse e curiosidade pelo conhecimento da História, o que para http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=arqueologia&id=44

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Martins Filho são várias as razões para o mesmo (a expansão e sofisticação dos veículos de comunicação, surgimentos de novas mídias como a internet, canais com documentários e turismos históricos como as pirâmides no Egito, a Estrada Real em Minas Gerais etc.); a publicação de livros de divulgação histórica como os do jornalista Eduardo Bueno sobre a História do Brasil, livros de ficção histórica, museus interativos etc. “Tudo isso junto, está conseguindo fazer da consciência histórica e preservacionista do patrimônio histórico­cultural, embora mais tardiamente, um fenômeno parecido com a consciência ecológica, já bastante consolidada” (MARTINS FILHO, 2006. p. 62).

Figura 16 – Família de Índios Botocudos. In: Rugendas. Fonte: Ana Luisa Fayet. CONSIDERAÇÕES FINAIS. A promoção e preservação do patrimônio cultural são primordiais para a formação social, garantido pela constituição brasileira de 1988, no artigo de nº 216, o patrimônio cultural brasileiro faz menção a todos os bens que individualmente ou em conjunto, fazem referência à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. Objetivando esta realidade, o presente trabalho integra uma pesquisa maior como proposta de conclusão de curso sobre a proteção do patrimônio arqueológico norte mineiro, especificamente, um dos sítios pré­históricos do município de Jequitaí – MG. Foi apresentada uma simples retrospectiva histórica sobre a ocupação e o http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=arqueologia&id=44

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povoamento do território norte mineiro por parte das bandeiras como a de Espinoza Navarro, especificamente, a qual exemplifica o objetivo dos portugueses de tomar posse da terra, inicialmente do litoral, e posteriormente, adentrando o território contando desde o inicio com a ajuda dos padres missionários das mais variadas ordens (carmelitas, beneditinos, franciscanos etc.), mas tendo se consagrado, a presença dos padres da Companhia de Jesus, ou simplesmente, jesuítas. Foram utilizados como fontes, estes relatos de bandeiras, os relatos de naturalistas europeus que visitaram a região, isto é, parte da literatura de viagens do século XIX, bem como, trabalhos de memorialistas do século XX, ou seja, parte de significativas fontes da historiografia brasileira. Não foi pretensão do trabalho, findar a discussão, mas uma simples contribuição para a promoção e proteção do patrimônio natural e cultural da região norte do estado de Minas Gerais, expressa especificamente no complexo do atual Parque estadual da Lapa Grande em Montes Claros – MG, devido os relatos de todos os naturalistas utilizados terem mencionado e visitado a gruta; de forma geral, quando mencionada a Lapa Grande, buscou­se demonstrar a importância do patrimônio natural e cultural em suas variadas vertentes encontradas ao longo de todo o território regional, com destaque para o patrimônio pré­histórico e o espeleológico. As obras dos memorialistas do século XX, dentre eles Hermes de Paula, Tupinambá e Campos, foram como que, fio condutor para a seleção da literatura de viagens do século XIX. Preferencialmente foram escolhidos e citados, trechos sugeridos nas obras do século XX, mesmo quando em consulta das obras dos naturalistas; o que legitima a contribuição dos memorialistas da região, além de sugerir novos trabalhos do autor e/ou dos leitores do presente artigo, de obras de outros naturalistas que passaram na região, e que não foram tão detalhadas e pesquisadas neste artigo e nos memorialistas: como a obra Viagem ao Brasil de autoria do Príncipe renano Maximiliano Neuwided e a Contribuições para a Geognóstica do Brasil do barão Eschwenge, apenas apontada sinteticamente. Além de possíveis trabalhos interdisciplinares com perspectivas diversas, como a discussão dos povos indígenas da região a partir dos registros dos naturalistas, da análise do contexto que estes viajantes se encontravam; são algumas propostas que não foram feitas de forma mais tangível por não ser o objetivo deste trabalho. Para Guedes (2010), é possível através dos relatos dos naturalistas viajantes do século XIX, elaborar uma análise histórico­ambiental, uma reconstrução de paisagens, especialmente no que se refere à degradação, o que é perceptível em todos os relatos mencionados neste artigo, com destaque http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=arqueologia&id=44

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para a extração de Salitre nas grutas de Montes Claros – MG e Coração de Jesus – MG; a ponto de nos permitir, compreender a importância deste para a economia regional, como aponta claramente o barão de Eschweges e Spix e Martius; a forma que se extraía o salitre, como menciona Auguste de Saint­ Hilaire, ao detalhar a divisão do trabalho pelos membros da família, o uso de carros que segundo o botânico francês, pareciam como que de crianças, o que torna peculiar a realidade registrada em relação ao restante do território do Brasil que usava naquele momento, uma espécie de bateia; a caracterização da Lapa Grande com a cor da terra presente e da vegetação do entorno feitas por Spix e Martius, a importância dos povos que deixaram todo um patrimônio cultural (pré­histórico) na região, como aponta as palavras do próprio Saint­ Hilaire, da contribuição indígena para o Brasil: O sistema agrícola adotado no império do Brasil, é o dos Tupinambás, Carijóos, Tupiniquins e outras nações indígenas da sub­raça tupy, hoje exterminada; os lusos­brasileiros ainda adquiriram desses selvagens a cultura da raiz que fornece seu alimento principal, e a ela devem uma série de aplicações diversas; o conhecimento de alguns frutos bons e de vários remédios salutares; inúmeras palavras geralmente difundidas entre eles; enfim, a maior parte dos nomes de suas montanhas e de seus rios. Deveriam ter, muito bem um pouco de compaixão dos descendentes desses que foram seus mestres. (SAINT­HILAIRE, Auguste de. 1936. p. 128). Enfim, os registros deixados sobre os impactos ambientais e os sociais, a necessidade de visitas e estudos nestas cavernas como sugere Saint­ Hilaire, ao afirmar a necessidade de visitas de geólogos na Lapa Grande para encontrar prováveis fósseis, contribuem para as recentes discussões do patrimônio natural e do cultural em suas mais diversas vertentes (arqueológico, paleontológico, histórico, etnográfico etc.), objetivando o desenvolvimento sustentável, o que implica admitir a utilização de recursos naturais e culturais para fins sociais. Que o complexo do parque estadual da Lapa Grande, com propostas de educação patrimonial e visitação já em curso, seja referência para prováveis novas unidades de conservação em toda a região, como o significativo patrimônio espeleológico de Coração de Jesus, do Parque Nacional Vale do Peruaçu, do Curral das Pedras, da Lapa Pintada de Jequitaí às margens do caudaloso rio de mesmo nome do município, os quais são apenas alguns dos exuberantes lugares de importância natural e cultural que se preservados e promovidos com propostas como o turismo sustentável e articulado, resultarão em qualidade de vida e promoção de nossa cultura para as gerações atuais e as http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=arqueologia&id=44

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vindouras.

Figura 17 – Jovens e vista panorâmica do Parque florestal do Sapucaia, Montes Claros – MG. “A CULTURA fortalece e ilustra a nossa MEMÓRIA, que é constituída de lembranças, reminiscências, vestígios.” IEPHA / MG 2008. Fonte: Arquivo Pessoal de Thiago Pereira, 2011. REFERÊNCIAS BARBOSA, Vanessa Veloso. ECOTURISMO NA REGIÃO DA LAPA GRANDE. Montes Claros: Editora UNIMONTES, Revista Verde Grande, volume I, nº 2/2005. p. 66­ 81. BRASIL, IBAMA; Superintendência do Rio de Janeiro. Educação ambiental e gestão participativa em unidades de conservação. 3ªed. Rio de Janeiro: IBAMA/NEA, 2008. CAMPOS, Leonardo Álvares da Silva. O homem na Pré­História do Norte de Minas. Belo Horizonte: Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1983. Cartas do padre João de Aspicuelta. Revista do Arquivo Público Mineiro. Ano 6. Belo Horizonte: APM, p. 161­2. COSTA, João Batista de Almeida. Cultura Sertaneja: A conjugação de Lógicas Diferenciadas. In: Trabalho, Cultura e Sociedade no Norte/Nordeste de Minas. Considerações a partir das Ciências Sociais. Montes Claros: Best Comunicação e Markenting, 1997. p. 77 – 95. DEBRET, Jean­Baptiste. Viagem Pitoresca e Histórica Pelo Brasil. Tomo Terceiro. ESCHWEGE, W. L. Von. Pluto Brasiliensis. Tradução de Domício de Figueiredo Murta. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de S. Paulo, 1979. (Reconquista do Brasil, v, 58­ 59). http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=arqueologia&id=44

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____. Brasil, novo mundo. Vol. I. Tradução Domício de Figueiredo Murta. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1996. Introdução de João Antônio de Paula. IBGE. Disponível em: Acesso em: 06 de fev. 2011 às 13h10 min. FAGUNDES, Gisele; MARTINS, Nahílson. Capítulos Sertanejos. Montes Claros. 2002. GOMES, Eduardo; CESAR JUNIOR, Paulo; RIBEIRO, Paulo. SONHAR COM A LAPA GRANDE: e presentear as gerais com o mais belo parque estadual. Montes Claros: Editora UNIMONTES, Revista Verde Grande, volume I, nº 2/2005. p. 60. IEPHA/MG. Diretrizes para a Proteção do Patrimônio Cultural. Belo Horizonte: IEPHA/MG, 2008. KURY, Lorelai. Auguste de Saint­Hilaire, viajante exemplar. São Paulo: Revista Intellèctus, ano II, nº 1, 2003. LAMIM­GUEDES, Valdir. Uma Análise Histórico­Ambiental da Região de Ouro Preto pelo relato de naturalistas viajantes do século XIX. Filosofia e história da Biologia, volume 5, nº 1. p. 97 – 114, 2010. LOPES, Maria Margaret. ‘Cenas de tempos profundos’: ossos, viagens, memórias nas culturas da natureza no Brasil. Rio de Janeiro: História, Ciências, Saúde ­ Manguinhos, volume 15, nº 3, jul. ­ set. de 2008. p. 615 ­ 634. MARTINS FILHO, Amilcar Vianna. Como escrever a História da sua cidade, Belo Horizonte: ICAN, 2006. PAIVA, Clotilde Andrade. População e Economia nas Minas Gerais do Século XIX. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, 1996. PAULA, Hermes Augusto de. As Origens de Montes Claros. Montes Claros em foco. Montes Claros, ano XII, nº 36, 1979. p. 3­6. PESSIS, Anne­Marie. Imagens da Pré­História. Parque Nacional Serra da Capivara. Imagens de la Préhistoire; Images from Pre­History. São Paulo: FUMDHAM/PETROBRÁS, 2006. RAMOS, Marisa Augusta. O sertão Mineiro nas observações de Spix e Von Martius. Ouro Preto: Revista eletrônica de História, volume V, ano 3, nº 1, abril de 2008. SAINT­HILAIRE, Auguste de. Viagem pelas províncias de Rio de Janeiro e Minas. Tradução e notas de Clado Ribeiro de Lessa. 1o tomo. São Paulo – Rio– Recife– Porto Alegre: Companhia Editora Nacional, 1938. http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=arqueologia&id=44

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SAINT­HILAIRE, Auguste de. Segunda viagem ao interior do Brasil. Espírito Santo. Tradução de Carlos Madeira. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1936. SILVEIRA, Yvone; COLARES, Zezé. Montes Claros de Ontem e de Hoje. Montes Claoros: Gráfica Giordani editora Ltda, 1999. 2ª ed. TUPINAMBÁ, Tobias Leal. Monografia Histórico­Corográfica de Montes Claros. Belo Horizonte: Gráfica e editora Cultura, 1988. p. 56­57. MAXIMILIANO, Príncipe de Wied. Viagem ao Brasil nos anos de 1815 a 1817 [ 1820]. Belo Horizonte: Itatiaia: Edusp, 1989. p. 301.

[6] O livro de Martins Filho, (ver nas referências) contribui sobre a discussão de trabalhos de História Local e Regional, bem como o artigo A Micro­História e a Proteção do Patrimônio Arqueológico de Jequitaí: Sítio da Lapa Pintada. Autoria de PEREIRA;LEITE, no subtítulo A Contribuição da História Local traz uma contribuição para a discussão da História local, Nova História Social, herdeira da Escola dos Annales. Encontra­se na Revista eletônica História e História, no link:

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