A COP 21 E O CLIMA FUTURO DO PLANETA TERRA

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A COP 21 E O CLIMA FUTURO DO PLANETA TERRA Fernando Alcoforado* O ano de 2014 foi o mais quente do planeta desde o início dos registros em 1880, revelou o relatório divulgado pela Agência Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos. Dezembro também marcou uma temperatura média na superfície da Terra e dos oceanos sem precedentes nos últimos 134 anos para este período do ano. Globalmente, a temperatura média da superfície dos mares foi a maior da história, 0,57°C acima da média do século XX, enquanto a da superfície da terra ultrapassou em 1°C esta mesma média. As regiões polares da Terra são locais onde a mudança climática está tendo impactos visíveis e significativos. O gelo marinho no Ártico diminuiu drasticamente nos últimos anos. As plataformas de gelo da Antártica estão se desintegrando e rompendo. A Antártica é a maior massa congelada com 90% do gelo da Terra. A maior parte do gelo fica na Antártica Oriental que é mais alta, mais fria e menos propensa a derreter. Na Antártica Ocidental, parte do gelo está em depressões vulneráveis a derretimento. Dados da Agência Espacial Europeia indicam que o continente antártico desprendeu 160 bilhões de toneladas métricas de gelo por ano de 2010 a 2013. A humanidade se defronta com uma fronteira temporal que não é 2100, mas bem mais cedo, 2030! Esta data não é arbitrária. Em 2030, viveremos em um planeta que terá cerca de 9 bilhões de habitantes dos quais dois terços vivendo em uma Terra saturada de poluição e dejetos já afetada por uma alta sensível de temperaturas. Em 2030, estaremos entrando em uma fase de penúria em relação ao petróleo e de forte tensão sobre outros combustíveis fósseis, em um contexto de redução dos recursos naturais e empobrecimento de terras cultiváveis. A concentração de gás carbônico na atmosfera que era de 280 ppm (partículas por milhão) em volume no início da era industrial poderá alcançar no século XXI valores entre 540 e 970 ppm. Este aumento da concentração de gás carbônico é responsável por 70% do aquecimento global em curso. O mundo está diante de um desafio que é o de não permitir o aquecimento global no século XXI superior a dois graus centígrados sem o qual terá que arcar com as consequências catastróficas resultantes das mudanças climáticas. Para evitar que o aquecimento global ultrapasse 2ºC será preciso uma radical descarbonização da economia mundial. Trata-se de uma tarefa de difícil realização, mas ainda possível. Neste sentido, o mundo precisa limitar todas as emissões de gás carbônico (CO) a um trilhão de toneladas. Um compromisso global objetivando limitar o aumento do aquecimento global a 2ºC deverá ser firmado em dezembro deste ano, na Conferência do Clima de Paris, a COP 21. Os estudos do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) da ONU recomendam a redução de emissões de gases do efeito estufa responsáveis pelo aquecimento global da ordem de 60% a 70% até meados deste século. Em outras palavras, as emissões per capita devem convergir para não mais do que duas toneladas de CO equivalente (COe) em 2050. Para alcançar este objetivo terá que haver em todos os países do mundo um gigantesco esforço no sentido de diminuir drasticamente as emissões de gases do efeito estufa. Até outubro, os países apresentaram propostas de corte de emissões, conhecidas como INDCs (da sigla em inglês Contribuições Pretendidas Nacionalmente Determinadas).

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Este objetivo só será alcançado se a COP 21 adotar políticas que contribuam para: 1) reformar os setores de energia e transportes; 2) promover o uso de fontes energéticas renováveis; 3) eliminar mecanismos financeiros e de mercado inapropriados aos fins da Convenção; 4) limitar as emissões de gases do efeito estufa no gerenciamento de resíduos e dos sistemas energéticos; e, 5) proteger florestas e outros sumidouros de carbono. Considerando o fato de que os principais responsáveis pelas emissões de gases do efeito estufa no mundo são: 1) a geração de energia elétrica de usinas termelétricas com o uso de combustíveis fósseis com 22% das emissões de gases do efeito estufa; 2) o desmatamento com 18%; 3) a agricultura e pecuária com 14%; 4) a indústria com 14%; 5) os automóveis e aviões por 13%; 6) o uso residencial e comercial de combustíveis com 11%; 7) a decomposição do lixo com 4%; e, 8) as refinarias por 4%, o esforço da comunidade internacional deve ser concentrada na adoção de medidas que contribuam para a eliminação ou redução nesses setores da emissão dos gases do efeito estufa na atmosfera. Para exemplificar, as usinas termelétricas com o uso de combustíveis fósseis devem ser substituídas por fontes renováveis de energia (solar, eólica e biomassa) e, em última instância por usinas nucleares e o desmatamento deve ser combatido com uma fiscalização adequada de áreas florestais e com a punição exemplar dos desmatadores. Deve-se incentivar a substituição do óleo diesel utilizado na agricultura pelo biodiesel, a redução do tamanho da população bovina responsável pela emissão de metano para a atmosfera, a substituição do óleo combustível utilizado pela indústria pelo gás natural menos poluente, o uso do etanol pelos automóveis em substituição à gasolina e a fabricação de carros elétricos em substituição aos veículos movidos com combustíveis fósseis. Deve-se promover a substituição do GLP utilizado nas residências e no comércio pelo gás natural menos poluente. A emissão de gases do efeito estufa resultante da decomposição do lixo pode ser evitada com o uso do metano produzido nos aterros sanitários na geração de energia elétrica, bem como na produção de adubo. Nas refinarias, deferia haver um esforço no sentido de reduzir a produção de derivados de petróleo paralelamente à adoção de medidas voltadas para a redução do consumo de derivados de petróleo. As refinarias deveriam estar voltadas fundamentalmente para a produção de derivados de petróleo de uso mais nobre ou menos poluente. Portanto, para eliminar ou reduzir as emissões de gases do efeito estufa e impedir as mudanças climáticas catastróficas em nosso planeta, urge reduzir o consumo de petróleo com a adoção de políticas visando a execução de programas que contribuam para sua substituição por outros recursos energéticos. Neste sentido, é preciso efetuar a: 1) geração de energia elétrica com o uso de fontes renováveis de energia (solar, eólica e biomassa); 2) substituição da gasolina pelo etanol e do diesel pelo biodiesel em curto prazo no setor de transporte; 3) substituição da gasolina e do diesel pelo hidrogênio a médio e longo prazo no setor de transporte; 4) substituição do óleo combustível pelo gás natural e biomassa na indústria; 5) substituição do carvão mineral pelo gás natural na indústria; 6) substituição do óleo diesel pela biomassa e gás natural no setor energético; e, 7) substituição do GLP pelo gás natural no setor residencial e de serviços. Adicionalmente, é imprescindível a adoção de políticas energéticas visando a execução de programas que contribuam para redução do consumo de petróleo através de ações de economia de energia. As políticas de economia de energia consistiriam no seguinte: 1) produzir vapor e eletricidade na indústria com o uso de sistemas de cogeração; 2) incentivar as 2

montadoras de automóveis e caminhões no sentido de elevar a eficiência dos veículos automotores para reduzir o consumo de combustíveis; 3) expandir os sistemas ferroviários e hidroviários para o transporte de carga em substituição aos caminhões; 4) expandir o sistema de transporte coletivo, sobretudo o transporte de massa de alta capacidade como o metrô ou VLT para reduzir o uso de automóveis nas cidades; 5) restringir o uso de automóveis nos centros e em outras áreas das cidades; 6) incentivar a fabricação de máquinas e equipamentos de maior eficiência para economizar energia e de veículos elétricos; e, 7) utilizar derivados de petróleo principalmente para fins não energéticos, sobretudo como matéria prima industrial. Recentemente, encontro realizado em Lima no Peru delineou os elementos principais do próximo acordo global do clima, a ser assinado em Paris. O texto final, "Chamamento de Lima para a Ação sobre o Clima", aponta os elementos principais do próximo acordo global do clima visando a redução de emissões de gases de efeito-estufa no período pós2030. Espera-se que, em Paris, o mundo chegue, finalmente, a um acordo. O objetivo é evitar que a temperatura média do planeta não ultrapasse 2ºC fazendo as emissões de carbono pararem de crescer nos próximos cinco ou dez anos e levá-las a zero em 2100 . Além da redução dos gases do efeito estufa, espera-se que em Paris seja dado início à formulação de uma nova ordem mundial, uma nova civilização, a ser edificada que contribua para organizar as relações entre os homens na face da Terra, bem como suas relações com a natureza. * Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).

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