A COPA DO MUNDO DE 2014 EM NATAL E SEUS IMPACTOS E LEGADOS PARA O FUTEBOL POTIGUAR

July 11, 2017 | Autor: E. Esporte Socied... | Categoria: Megaeventos Esportivos, Futebol
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Título do artigo: A COPA DO MUNDO DE 2014 EM NATAL E SEUS IMPACTOS E LEGADOS PARA O FUTEBOL POTIGUAR Nome do proponente: Fábio Fonseca Figueiredo, professor doutor do Departamento de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/Brasil

2 Introdução A realização de um megaevento esportivo em uma localidade gera processos sociais que derivam a questionamentos, debates e opiniões favoráveis e contrárias a sua realização. Pode gerar também um sentimento de orgulho por parte de uma nação que hospeda um megaevento já que haverá uma ampla exposição da localidade na mídia, que apresentará ao mundo os costumes e aspectos da cultura local. No que se refere a prática esportiva, as conquistas dos atletas nas competições internacionais realizadas no seus países representa um símbolo da identidade nacional (TOLEDO, 2012). Um megaevento esportivo sugere que haja uma maior difusão do esporte nas localidades que recebem o evento, o que provoca maior interesse nas pessoas em praticar uma ou diversas modalidades esportivas. Para além dos impactos e legados econômicos e urbanísticos, um megaevento esportivo deve deixar como legado imaterial que se visualiza na maior possibilidade de as pessoas a praticarem o esporte nos espaços públicos. No entanto, o que se percebe é que quanto mais os eventos esportivos se tornam megas, menos há de relação com o esporte e com as pessoas. O artigo apresenta um caso de desconcentração do futebol no Rio Grande do Norte, motivada pela necessidade de deslocamento do América (clube de futebol profissional de Natal) para a cidade de Goianinha. Além da introdução e considerações finais, o artigo está dividido em três parte e a primeira delas apresenta a passagem do evento esportivo para megaevento esportivo, movimento que distancia estes megaeventos do esporte enquanto prática sociocultural. A segunda sessão analisa a forma como a cidade de Natal, Brasil, entrou na rota dos megaevento esportivos globais já que a cidade será uma das sedes da Copa do Mundo de 2014. Na sua terceira parte, o artigo mostra um caso que poderia ser pensado pela política pública esportiva, a desconcentração (não planejada) no futebol profissional no Rio Grande do Norte, a partir da demolição do antigo estádio para a construção de uma arena multiuso que será palco de quatro jogos da copa de 2014.

Megaeventos esportivos globais e seu distanciamento do esporte Nos primeiros jogos olímpicos da era moderna, realizados em Atenas/Grécia no ano de 1896, o mentor daqueles jogos, o Barão de Coubertin, instituiu o lema ‘o importante era a competição esportiva. Por mais que os atletas alimentassem o desejo de vencer seus oponentes e superar os recordes e obstáculos nas competições, eles deveriam cultivar o sentimento que em uma competição se privilegia a prática esportiva, a superação do corpo

3 aos desgastes físicos provocados pelas provas e, ainda, a habilidade lúdica proporcionada pelo esporte. Com o passar dos anos o sentido das competições esportivas foi tomando outras conotações, distanciando-se da filosofia esportiva pretendida por Coubertin, que era privilegiar o esporte pelo/para o esporte. O primeiro caso de grande envergadura no qual um evento esportivo perdeu a sua relevância esportiva ocorreu nos XI Jogos Olímpicos de Verão e IV Jogos Olímpicos de Inverno, ambos disputados no ano de 1936 na Alemanha. Naquela ocasião, o império nazista que se formara mostrou ao mundo o seu poderio econômico e bélico através da pujança daqueles jogos. A Alemanha sagrou-se campeã e o reich apresentou o que posteriormente seria a sua ideologia nacionalista, a supremacia da raça ariana. Nas décadas seguintes, os países dos blocos capitalistas e socialistas rivalizavam o recebimento dos eventos esportivos e, durante os jogos, as disputas esportivas entre essas nações assumiam uma conotação de propaganda oficial de suas concepções políticoideológicas, o que alimentara ainda mais a guerra fria entre as duas nações hegemônicas, Estados Unidos e União Soviética (SIGOLI e DE ROSE JR., 2004). As animosidades presenciadas pelos atletas desses países das disputas olímpicas e em demais eventos esportivos culminou com dois boicotes internacionais, o primeiro deles motivado pelos países que se alinhavam aos Estados Unidos nos XXII Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Verão na cidade de Moscou, capital da então União Soviética comunista. Nos jogos olímpicos seguintes, os países do bloco socialista declinaram a sua participação já que aquelas olimpíadas foram realizadas em Los Angeles, um dos templos capitalistas nos Estados Unidos. Na sociedade contemporânea, os eventos de porte internacional como a Copa do Mundo de Futebol, promovida pela Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), e os Jogos Olímpicos, pertencentes ao Comitê Olímpico Internacional (COI), privilegiam aspectos que distanciam os eventos do esporte. A perspectiva de alta rentabilidade dos investimentos utilizados nestas competições são preponderantes na definição de onde, como e quem irá hospedar os eventos. Tais eventos, agora denominados megaeventos, movimentam elevadas cifras econômicas, o que faz das competições objeto de desejo das localidades que travam uma intensa disputa para sedia-los. Estima-se que a copa de 1994, realizada nos Estados Unidos movimentou USD 4 bilhões com todos os negócios daquele megaevento. As olimpíadas de Sidney/Austrália (2000) gerou USD 6,3 bilhões (BARCLAY, 2009). Os promotores desses

4 eventos, as suas entidades e parceiros econômicos internacionais, buscam diversas formas de exploração econômica a partir dos eventos, assim, associam-se a elites das localidades sedes dos megaeventos e se inserem ao projeto das cidades de se tornarem global cities (HARVEY, 1996). Os próximos dois maiores megaeventos esportivos da atualidade ocorrerão no Brasil, a Copa de 2014 da FIFA e os Jogos Olímpicos e Paraolímpico de 2016 do COI. Sediar a copa e as olímpiadas demonstra o poderio econômico brasileiro no contexto de crise econômica internacional, reafirma a sua hegemonia na região latino americana e insere o país no rol dos players econômicos internacionais. A importância que a sociedade brasileira tem dado aos megaeventos se explica pela grandeza destes, que pode se materializar em oportunidades para as doze cidades que hospedarão a Copa de 2014 e o Rio de Janeiro, sede dos Jogos de 2016. A literatura acadêmica especializada relaciona a relevância dos megaeventos esportivos a impactos e legados passiveis de ser auferidos (DACOSTA et. al., 2008). O discurso oficial do governo justifica o seu esforço na atração de megaeventos esportivos internacionais através dos legados sociais, normalmente vinculados à geração de ocupação, renda e inclusão social das camadas mais vulneráveis da população brasileira. Outro aspecto bastante mencionado como legados de megaeventos esportivos são atrelados a vantagens econômicas geradas, principalmente, nos setores turísticos, da construção civil e de serviços (PRONI e SILVA, 2012). Ainda, e talvez o mais conclamado dos legados, as obras nas cidades para a melhoria e reestruturação da mobilidade urbana, construções/reformas de portos e aeroportos e demais obras, do setor público e da iniciativa privada, que dão novos contornos ao espaço urbano das cidades. Dentre estas obras, está a construção de praças esportivas, o que segundo os promotores são de fundamental importância para a realização dos eventos, em conformidade com os parâmetros internacionais exigidos pelas entidades que os promovem. Apesar de necessárias em certos casos, estas praças esportivas, denominadas de arenas multiuso, não se adequam a algumas localidades onde se realizam os grandes eventos esportivos. As principais críticas formuladas a estas arenas se referem a dois aspectos: a) elevados custos de construção e de sua manutenção; e b) restrição de acesso ao uso das praças esportivas pela população local. Se os megaeventos que ocorreram nas cidades de Barcelona/Espanha (1992), Sidney/Austrália (2000) e Alemanha (2006) são considerados exitosos no que tange aos usos dados as praças esportivas no pós-evento, Grécia, Portugal e, mais recentemente, a

5 África do Sul são casos de países que receberam megaeventos esportivos, construíram as modernas arenas multiuso exigidas pela FIFA e COI para os seus megaeventos, e, no entanto, estas arenas se tornaram obsoletas no pós-evento. A Grécia sediou os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Verão em 2004 na sua capital, Atenas, e, para o COI e seus negócios de marketing esportivos, aqueles jogos no país helênico significava o retorno das competições olímpicas às suas origens. O governo grego havia orçado em USD 1,5 bilhões os jogos de 2004, porém, ao final, os gastos com aquele megaevento foram dez vezes superiores ao anunciado inicialmente. Nos anos posteriores aos jogos olímpicos gregos, as arenas esportivas construídas encontram-se praticamente sem uso, abandonadas e deteriorando-se devido aos elevados custos de manutenção, o que inviabiliza a conservação dos equipamentos por parte do Estado. A parceria públicoprivada que viabilizou a construção das praças esportivas foi desfeita pois os grupos econômicos que assumiram a administração das arenas devolveram ao Estado grego os “cavalos de Tróia” que se transformaram aqueles equipamentos multiuso (OLIVEIRA, 2012). Também no ano de 2004 houve a Eurocopa, competição futebolística que congrega as principais seleções do continente europeu. Como país sede, Portugal construiu e/ou remodelou dez estádios com capacidade média para receber mais de quarenta mil espectadores, todavia o campeonato de futebol luso registra média de público pouco superior a dez mil (LFPF, 2013). Conforme Durão (2011), entre o orçamento previsto inicialmente para os estádios e o valor efetivamente gasto houve um incremente de 230,8%, ou seja, foram gastos 665 milhões de euros. Como alternativas à contenção de gastos com a manutenção de alguns estádios, especula-se em Portugal a demolição dos estádios das cidades de Aveiro e no Algarve devido aos prejuízos econômicos absorvidos pelas freguesias locais que administram aqueles equipamentos esportivos. O terceiro e mais exorbitante caso de insucesso das arenas multiuso no pós-megaevento é o da África do Sul. Aquele mundial se notabilizou por ser o primeiro evento esportivo de grande porte internacional realizado no continente africano. Dos custos orçados inicialmente, R$ 519 milhões de reais, houve um incremento de 1.709% sobre a primeira estimativa, e do montante, o custo com as arenas multiusos obtiveram um acréscimo de 1.008%. A principal e mais cara arena construída para aquela copa, a Green Point, custou R$ 1 bilhão e acumula prejuízos com a manutenção, arcados pela prefeitura da Cidade do Cabo, próximos a R$ 100 milhões. O único clube de futebol local que usa o estádio, Ajax Cape Town, possui média de público inferior a cinco mil torcedores, ou seja, menos de 10% da capacidade da arena que é de sessenta mil lugares (COTTLE, CAPELA e MEIRINHO, 2011).

6 Os exemplos verificados na Grécia, Portugal e África do Sul comprovam que economicamente um megaevento pode resultar em fracasso econômico para as nações que os receberam. O endividamento das contas públicas desses países provocado pelos maciços gastos estatais com os megaeventos propiciou o aprofundamento das crises econômicas naqueles países. Os megaeventos geraram um efeito contrário aos argumentos econômicos do discurso oficial que justifica o esforço em disputar, no cenário internacional, a possibilidade de receber os megaeventos. Conforme Kuper e Szymanski (2010, p. 230): Ao contrário do que alegam funcionários da administração pública, quase sempre esportes e estádios não tem qualquer impacto positivo significativo na economia de uma cidade e, em um contexto regional, podem na verdade contribuir para a redução da parcela da renda regional de uma cidade voltada para o esporte.

Exigência da FIFA e COI para ceder/vender seus megaeventos, a opção pela realização de megaeventos esportivos em mega-arenas multiuso eleva os custos de construção e posterior manutenção destes equipamentos no pós-evento. Este modelo de competições internacionais reafirma a opção pela mercadorização das cidades, o que alimenta o capital imobiliário através da construção das arenas, seus arrendamentos e mudanças de uso. Trata-se, portanto, de um modelo de gerenciamento empresarial das cidades globais, que cria símbolos como as arenas esportivas multiuso e esses espaços serão utilizados da maneira que melhor convém aos seus donatários, sendo, inclusive não utilizados, quando não é economicamente viável a sua utilização no pós-evento. Já os custos de arenas multiuso deficitárias são/serão absorvidos integralmente pelos governos locais (HARVEY, 1996). Os questionamentos referentes ao acesso popular aos equipamentos esportivos construídos para os megaeventos são bastante conflitivos. Quando se avalia este aspecto, as cidades de Barcelona e Sidney são citadas como exemplo de megaeventos que ao final proporcionaram acesso dos cidadãos daquelas cidades às praças esportivas. Vale ressaltar que os equipamentos construídos para aqueles jogos são economicamente viável para o esporte profissional daquelas localidades, o que garante a sua manutenção. Corforme Oliveira e Gaffney (2010), apesar do sucesso das olimpíadas de Barcelona, a gestão empresarial fundamentada na noção da cidade competitiva, marca do denominado Modelo Barcelona, identificou áreas com elevado potencial de valorização na cidade catalã, implementou projetos de revitalização de áreas centrais e portuárias e construiu um pacto consensual em torno da busca do desenvolvimento econômico através do megaevento. Como consequências da implementação do modelo de gestão empresarial urbana catalã, foram diversas as remoções da população residente das áreas onde foram construídas a

7 Vila Olímpica, o Porto Olímpico e no antigo distrito obreiro de Poble Now, que passa por um acentuado processo de verticalização. A cidade de Barcelona se tornou uma das mais caras da Europa devido a sobrevalorização dos preços de moradia, alimentação, vestuário e principalmente serviços. Nesse sentido, os autores questionam o sucesso daqueles jogos olímpicos já que houveram impactos e legados nefastos para a população da cidade (FIGUEIREDO, LIMA e ARAÚJO 2013). Durão (2011) explica que para a Eurocopa de 2004, a construção dos estádios para a prática do futebol profissional em Portugal foi superdimensionada. No entanto, ainda há carências de parques esportivos que permitam a prática de futebol pelas pessoas interessadas, bem como faltam escolas de formação de futebol não profissional, o que segundo o autor “permitiriam o acesso ao futebol de muitos jovens, especialmente em locais complexos ao nível social (p. 240)”. O fundamento econômico-financeira dos megaeventos esportivos se entrelaçam aos objetivos do capital dos grandes conglomerados globais (HARVEY, 1996). Para Rubio (2010) um dos motivos implícitos que fez o Brasil entrar na rota dos megaeventos esportivos foram as projeções econômicas das agências internacionais: O Brasil de 2010 é um país distante desse cenário dos anos 1980. O PIB (Produto Interno Bruto) avançou 8,9% entre janeiro e junho de 2010. Em valores absolutos, o PIB brasileiro somou R$ 900,7 bilhões de abril a junho deste ano. De janeiro a março, a economia acumulou riquezas da ordem de R$ 826,4 bilhões. De janeiro a junho, a indústria cresceu 14,2%, seguida pela agropecuária (8,6%) e pelos serviços (5,7%). Teriam esses dados contribuído para escolha da cidade do Rio de Janeiro a sede dos Jogos Olímpicos de 2016? (p. 14)

Existem evidências econômicas e políticas que quanto mais os eventos esportivos tomam a dimensão de megaeventos globais, menos estes eventos se relacionam ao esporte. Contraditoriamente, o esporte enquanto que deveria ser supervalorizado nos eventos esportivos passa a ser mero coadjuvante, um canal a mais para a exposição das marcas globais, para a realização de acordos bilionários entre os players internacionais e um poderoso canal de transmissão de imagens simbólicas de um capitalismo cada vez mais globalizado. A cidade de Natal, Rio Grande do Norte, será uma das doze sedes da Copa do Mundo de 2014. Seguindo a tendência e exigência internacional para hospedar um megaevento dessa magnitude, foi construído e recém inaugurado um megaequipamento esportivo, que será palco de quatro confrontos entre seleções na próxima copa. A próxima sessão apresenta os reflexos para o futebol potiguar com a chegada do megaevento na capital do estado.

8 A Copa do Mundo de 2014 e seus reflexos para o futebol potiguar Em outra oportunidade (FIGUEIREDO e ARAÚJO, 2013), demonstramos que o governo federal apresentou duas justificativas técnicas para a escolha de Natal como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014. Uma dessas justificativas foi a localização geográfica já que Natal é a cidade mais próxima da Europa, o que facilita o tráfego aéreo internacional. A estrutura hoteleira da capital potiguar também contribuiu para a sua inserção como uma das sedes da FIFA já que a cidade conta com uma disponibilidade de 28 mil leitos, sendo uma das maiores redes hoteleiras do país. Às duas justificativas técnicas, agregamos uma política que, no nosso entendimento, foi preponderante para a escolha de Natal como uma das sede do megaevento. O atual presidente da câmara dos deputados federais, Henrique Eduardo Alves (PMDB), é um forte aliado político do ex-presidente Lula, o que, per si, supõe-se que houveram diálogos políticos à respeito da inclusão da cidade na rota da copa no país. Imagem 1: Posicionamento do Arena das Dunas, Machadão e Machadinho

Fonte: Secopa Rn (2014)

O fato de Natal participar como cidade hospedeira de um megaevento internacional pode projetar a cidade à escala internacional. As autoridades locais associam a realização de quatro partidas da Copa de 2014 à possibilidades de difundir o turismo internacional, o que reafirma à cidade a condição de destino turístico. No âmbito do futebol profissional, receber

9 um megaevento pode significar o fortalecimento das agremiações locais a partir do desenvolvimento de uma gestão esportiva racional, que leve em consideração o equilíbrio financeiro dos clubes e disponibilize condições de trabalho satisfatória para os atletas profissionais (BSFC, 2014). Para Natal estar apta para a copa, o antigo estádio João Cláudio de Vasconcelos Machado (Machadão), inaugurado em 1971, e o Ginásio Poliesportivo Machadinho foram demolidos. No espaço urbano da cidade que comportou os antigos equipamentos esportivos foi construída e recém inaugurada o Complexo Arena das Dunas, ver imagem 1 abaixo, um equipamento multiuso que cumpre as exigências pré-determinada em contrato pela FIFA. Imagem 2: Complexo Arena das Dunas no primeiro dia de funcionamento

Fonte: Secopa Rn (2014)

O Complexo Arena das Dunas, ver imagem 2, foi possível a partir de uma parceria públicoprivada (PPP) mantida com a Construtora OAS, que firmou com o Governo do Rio Grande do Norte um contrato de concessão de vinte anos. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) disponibilizou uma linha de financiamento no valor de R$ 396 milhões para a construtora e o restante dos R$ 417 milhões serão financiados diretamente pelo governo do estado do Rio Grande do Norte (SECOPA, 2014).

10 Em entrevista concedida a um periódico de circulação local o secretário da Secopa, órgão da administração estadual encarregada do monitoramento da construção do Arena das Dunas, ressaltou que aquele equipamento por ser multiuso seria rentável economicamente: O Arena inaugurado no último dia 26 de janeiro se sustentará e não se tornará um temido elefante branco. A nossa arena é realmente multiuso. Tem espaço para eventos, restaurantes, bares, academia, loja e serviços de um modo geral. Na verdade, nós produzimos um equipamento com essa gama toda de utilidade. Para ter uma ideia, estamos vislumbrando a possibilidade de fazer eventos pequenos, médios e grandes, ou seja, eventos que vão de 200 pessoas a 40 mil (JORNAL DE HOJE, 2014).

A tabela 1 relaciona a renda liquida do dois maiores clubes de futebol profissional do Rio Grande do Norte, ABC e América, ambos de Natal, no campeonato brasileiro entre 2008 e 2013, certame que os clubes potiguares mais arrecadam. Na última coluna da direita se apresenta o percentual da arrecadação dos dois clubes a partir dos custos necessários para a manutenção do Arena das Dunas. Tabela 1: Renda líquida1 de ABC e América no Campeonato Brasileiro (2008-2013) Ano 2008

ABC (R$)

América (R$)

1.127.161,60 (B)* 498.679,26 (B)*

Total (R$)

(%) relação manutenção Arena das Dunas

1.625.840,86

39%

2009

647.535,28 (B)

831.370,90 (B)

1.478.906,18

35%

2010

763.962,86 (C)

448.054,11 (B)

1.212.016,97

29%

2011

666.292,19 (B)

186.257,11 (C)

852.549,30

20%

2012

683.786,48 (B)

209.369,45 (B)

893.155,93

21%

2013

796.110,78 (B)

256.404,82(B)

1.052.515,60

25%

Fonte: Blog do Marcos Trindade (2013), elaboração própria * Divisão do campeonato brasileiro que os clubes participaram no ano correspondente

A irracionalidade técnico-econômica na construção de um equipamento esportivo como o Arena das Dunas pode ser comprovada com as estatísticas do futebol profissional praticado em Natal, conforme apresentadas na tabela acima. Para um equipamento multiuso como o

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A Renda Líquida é calculada após as deduções estipuladas pelo Regimento Geral de Competição/CBF que no artigo 76 diz: “A renda bruta das partidas, após deduzidos os tributos legais, sofrerá as deduções: 1) O aluguel de campo; 2) As despesas administrativas da Federação local, justificadas e comprovadas; 3) A taxa de seguro do público presente, cujo valor constará do REC correspondente; 4) As despesas com o pessoal identificado como quadro móvel, a serviço da partida, justificadas e comprovadas; 5) A taxa da Federação local, correspondente a 5% da renda bruta; 6) As despesas com materiais e exame antidoping, a ser pago ao responsável pela coleta, após a partida; 7) A remuneração de árbitros e auxiliares, mediante dedução da renda bruta de cada partida, conforme tabela oficial da CA, após os descontos legais; 8) As despesas de transporte, hospedagem e alimentação dos árbitros; 9) A taxa relativa a seguros da equipe de arbitragem, cujo valor constará do REC”.

11 Arena das Dunas, o custo anual de manutenção se aproxima de 10% do seu custo total, ou seja, R$ 348 mil mensais. No melhor ano de arrecadação dos clubes potiguares no campeonato brasileiro, 2008, o total de renda líquida de ABC e América pagaria apenas 39% dos custos de manutenção do complexo multiuso. No ano de 2013, a renda arrecadada com as partidas dos clubes no campeonato brasileiro da série B implicaria em 25% do necessário à manutenção do equipamento esportivo. A forma como a cidade de Natal se insere na Copa de 2014 reafirma o modelo dos megaeventos globais, gerenciados pelo capital imobiliários internacional que transformam a cidade em um canteiro de obras para adequá-la as exigências de um padrão de turismo internacional que não mantem qualquer relação com o local. Para Harvey (1996): Financiamentos a crédito de shopping centers, estádios esportivos e outras facetas do consumo conspícuo constituem projetos de alto risco que podem facilmente falir em maus tempos e, desta maneira, agravar os problemas de superacumulação e do superinvestimento aos quais tende o capitalismo (p. 60).

Tabela 2: Público e Renda Bruta da Arena das Dunas, 2014 (%) relação capacidade Arena das Dunas Data

Confronto

Público

Ocupação rentável – 40%

42.000 lugares

31.375 lugares

16.800 de 42.000

12.550 de 31.375

26/01/2014 América-RN x Confiança-SE*

19.244

45,8%

61,3%

Viável

Viável

26/01/2014 ABC-RN x Alecrim-RN*

19.244

45,8%

61,3%

Viável

Viável

31/01/2014 ABC-RN x Palmeira-RN

3.645

8,7%

11,6%

Inviável Inviável

05/02/2014 América-RN x Vitória-BA

10.349

24,6%

32,9%

Inviável Inviável

08/02/2014 América-RN x Santa Cruz-RN

2.505

5,9%

7,9%

Inviável Inviável

13/02/2014 ABC-RN x Potiguar-RN

3.370

8%

10,7%

Inviável Inviável

19/02/2014 ABC-RN x Alecrim-RN

3.298

7,9%

10,5%

Inviável Inviável

23/02/2014 América-RN x ABC-RN

11.401

27,1%

36,3%

Inviável Inviável

27/02/2014 América-RN x CRB-AL

9.291

22,1%

29,6%

Inviável Inviável

19/03/2014 América-RN x Ceará-CE

5.421

12,9%

17,3%

Inviável Inviável

8.776

20,9%

27,9%

Inviável Inviável

Média

Fonte: Federação Norte-riograndense de Futebol (FNF, 2014) * Os dois jogos foram realizados no mesmo dia, portanto o público é considerado como se fosse para uma partida

Para que aquele equipamento seja economicamente rentável através da utilização de partidas de futebol profissional, ele deve operar com uma capacidade mínima de 40% de

12 sua ocupação por jogo. O Arena das Dunas disponibiliza 42.000 mil lugares desde a sua inauguração até o período da Copa, no pós-megaevento a sua capacidade será reduzida para 31.375 mil lugares. A tabela 2 relaciona os jogos já disputados no Complexo Arena das Dunas, o público de cada partida e o percentual de cada público por partida em relação a atual capacidade do Arena que é de 42.000 lugares; e estimativas de ocupação quando o Arena tiver a sua capacidade reduzida para 31.375. Na última coluna da direita mostramos a viabilidade econômica de funcionamento do estádio para que se possa utilizar o equipamento esportivo para uma partida de futebol, ou seja, 16.800 lugares ocupados atualmente e projetado para 12.550 quando se diminui a sua capacidade. Conforme a tabela 2, o uso do Arena das Dunas pelo futebol profissional do Rio Grande do Norte na sua inauguração, dia 26/01/2014, foi economicamente viável por haver preenchido mais de 40% da capacidade atual do Arena que é de 42.000 lugares. Em sua simulação hipotética, considerando a capacidade do Arena após a copa do mundo, 31.375 lugares, o uso do equipamento também mostrou-se viável pois preencheu 61,3% dos lugares disponíveis. No entanto, ressaltamos que no primeiro dia de uso do equipamento esportivo houve rodada dupla envolvendo América-RN x Confiança-SE pela Copa do Nordeste e clássico local ABC-RN x Alecrim-RN, pelo Campeonato Potiguar de Futebol. Ainda, devemos levar em consideração os aspectos subjetivos da inauguração do Arena das Dunas, fato que pode ter influenciado no comportamento das pessoas que se dispuseram em ir assistir as duas partidas no mesmo dia. Os demais jogos no Arena das Dunas foram inviáveis desde uma perspectiva econômica já que ainda de acordo com a tabela 2, na capacidade atual do Arena (42.000 lugares) tampouco na capacidade pós-megaevento (31.375 lugares), não se atingiram os 40% de ocupação necessária para ser viável economicamente o uso daquele equipamento para a prática do futebol profissional. Realizados dez jogos no Arena, a taxa de ocupação média é de 20,9%, o que torna o uso do equipamento inviável para os clubes locai. Os prejuízos acumulados nas partidas já realizadas no Arena, computados para ABC e América através do contrato2 de uso do equipamento, fizeram o ABC a retornar a mandar seus jogos no seu estádio próprio, o Maria Lamas Farache (Frasqueirão) com capacidade para 18 mil lugares.

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Não tivemos acesso ao contrato, embora já formalizado um pedido junto a Secopa fundamentado na atual Lei de Acesso à Informação. Alguns cronistas esportivos locais lançam informações sobre o documento, porém por falta de dados consistentes, decidimos não reproduzir as informações que circulam na imprensa local sobre as condições contratuais impostas a ABC e América.

13 Os prejuízos econômicos registrados pelo uso do Complexo Arena das Dunas pelas equipes de profissional de Natal (ABC, América e Alecrim) foram recentemente comentadas pelo secretário da Secopa: O Arena das Dunas era uma oportunidade muito boa para desenvolver uma das principais atividades econômicas do estado, que é o turismo. Foi aí que adaptamos o projeto não só da Arena, mas da Copa como um todo. A gente desenvolveu um projeto de forma profissional, pois precisávamos de um plano de uma arena, um estádio que fosse viável para Natal, uma cidade em que o futebol é muito fraco (JORNAL DE HOJE, 2014).

Em um artigo que questiona os projetos formulados pelas administrações públicas para justificar os investimento para a captação dos megaeventos globais, Barckay (2009) explica que os estudos de impacto produzidos se equivocam ao propor que a realidade local será sistematicamente transformada a partir dos megaeventos, caso observado com o futebol profissional praticado em Natal (tabela 2). Proni e Silva (2012) possuem interpretação semelhante já que para eles se por um lado a copa provoca um efeito catalisar no sentido de dar maior dinamicidade à economia, ao mesmo tempo “pode provocar efeitos econômicos indesejados, como o endividamento público e a pressão inflacionária, ou mesmo efeitos ambivalentes (p. 17)”. Destarte a críticas, as administrações públicas analisam como positiva os megaeventos esportivos pelos impactos e legados desses eventos nas localidades. Apesar de havermos demonstrado que, pelo menos até o presente momento, a copa em Natal não será representativa no que se refere ao aspecto econômico para o futebol profissional praticado na cidade, identificamos no Rio Grande do Norte um impacto não planejado pelo governo local, FIFA ou outro agente envolvido com o futebol profissional mas que pode servir como direcionamento para as políticas públicas de incentivo ao esporte. Assim, a próxima seção expõe os impactos da realização da copa de 2014 na cidade de Goianinha, Rio Grande do Norte.

A desconcentração no futebol potiguar: primeiras impressões dos impactos da copa de 2014 em Goaninha/RN Hospedar um megaevento envolve interesses que vai dos atores que promovem o esporte profissional aos torcedores que consomem o produto esporte. Sugere, ainda, que haja uma maior difusão do esporte na sociedade, o que pode provocar maior interesse nas pessoas em praticar uma ou diversas modalidades esportivas ao longo da vida. A Organização Mundial da Saúde (OMS) enfatiza a que as localidades que hospedam os megaeventos

14 esportivos devem utilizar tais eventos como veículos estratégicos para a maior difusão de práticas esportivas na sociedade. A OMS recomenda, ainda, a realização de atividades relacionadas ao esporte tais como dias comemorativos e criação de símbolos atrelados ao esporte, ou seja, ações que estimulem e mobilizem a população à maior prática das atividades físico/esportiva como objetivo de atenção à saúde humana bem como o desenvolvimento de práticas recreativas (OMS, 2009). A entidade revela que cada dólar investido na democratização e massificação do esporte evita o gasto de três dólares com a saúde pública. Assim, a prática de atividade esportiva e recreacional são fundamentais para evitar o risco de doenças coronarianas, diabetes, hipertensão, câncer de cólon e mama e depressão, bem como é essencial para o balanço energético e o controle de peso. Ainda, desenvolve a capacidade lúcida dos praticantes das modalidades esportivas. A inatividade física é o quarto fator de risco mais importante nas causas de morte no mundo (OMS, 2009). A OMS estipula alguns objetivos a serem seguidos pelos países a fim de fomentar a atividade física, dentre estes podemos destacar: a) implementação de transportes e políticas de uso do solo que crie condições apropriadas para o caminhar e o uso da bicicleta; b) mudança no desenho urbano das cidades de modo a facilitar a contínua prática da atividade física; c) compromissos dos gestores locais no sentido do aumento na quantidade de parques e equipamentos destinados à atividade esportiva e recreacional (OMS, 2009). Partindo da premissa de que o acesso da população ao esporte é o legado mais importante de um megaevento em uma localidade, as condições, no que se refere a quantidade e qualidade, das praças esportivas pode ser uma bom parâmetro de análise. O fato de o Brasil ser escolhido país sede da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 implica em uma grande oportunidade para os organizadores dos megaeventos e políticos locais para incentivar a população, através de políticas públicas e do poder simbólico desses eventos, a prática de atividades físicas. Também, para a formação de uma consciência social no sentido de reconhecer os efeitos positivos para as pessoas que praticam atividades físico/esportivas. Em Natal, a falta de praças e espaços públicos esportivos em condições minimamente satisfatória para a prática de qualquer atividade física ou esportiva pode ser um fator preponderante para que a cidade tenha se tornado a capital mais sedentária do país, conforme relatório produzido pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2011). De acordo com a Prefeitura de Natal, das 94 praças esportivas da cidade mais de 95% necessitam de

15 grandes e imediatas reformas; no ano de 2014 apenas dezessete dessas praças foram reformadas e estão aptas para a prática esportiva (NATAL, 2014). Existem dois legados os quais se relacionam com a promoção dos megaeventos esportivos, os legados materiais já apresentados ao longo do texto e os imateriais. Para além dos impactos e legados econômicos e urbanísticos, um megaevento esportivo deve deixar como legado a maior possibilidade de as pessoas praticarem o esporte, quer seja ao nível de competição, quer seja motivado pelo simples ato da recreação. A partir do projeto financiado pelo CNPq3 e ainda em fase inicial intitulado “A copa do mundo de 2014 e os legados para o futebol em quatro cidades sede da FIFA (Brasília, Cuiabá, Manaus e Natal), o desenvolvimento do futebol ocorrido na cidade de Goianinha, Rio Grande do Norte nos chamou a atenção, o qual relacionamos como um impacto não intencional motivado pela realização da Copa do Mundo de 2014 em Natal. Após a demolição das antigas estruturas esportivas de Natal, Machadão e Machadinho para que no local fosse construído o Arena das Dunas em outubro de 2011, as equipes América e Alecrim, clubes profissionais da capital potiguar, tiveram que realizar seus jogos em outros equipamentos esportivos. Comprado recentemente por um grupo empresarial inglês4, O Alecrim comprou a estrutura de um antigo clube de futebol, o Estádio Luiz Bacurau (Ninho do Periquito), na cidade de Ceará-Mirim, localizada na região metropolitana de Natal e distante 25km da capital. Reformulado e com capacidade para receber cinco mil espectadores, o Ninho do Periquito comporta satisfatoriamente as demandas do Alecrim por ser um estádio de baixo valor de manutenção. Em 2011, a dificuldade de se encontrar estádios de futebol levou-se a cogitar a possiblidade de o América mandar seus jogos na cidade de João Pessoa, capital do vizinho estado da Paraíba e distante 180km de Natal. O estádio Frasqueirão, de propriedade do ABC, não foi cedido ao América devido a rivalidade futebolística alimentada pelos dois principais clubes do Rio Grande do Norte. A necessidade do América em ter um estádio para jogar despertou o interesse de algumas cidades da região metropolitana de Natal. No entanto, a falta de estrutura dos estádios oferecidos ao clube natalense impediu, no primeiro momento, que clube se deslocasse para as cidades pleiteantes.

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Edital 91/2013 ME/CNPq, processo 487866/2013-4. Grupo imobiliário Ecohouse.

16 Através de um arranjo institucional costurado entre o Governo de Estádio do Rio Grande do Norte e a prefeitura local foi possível executar as reformas exigidas pela Confederação Brasileira de Futebol no Estádio Municipal de Futebol José Nazareno do Nascimento (Nazarenão) com capacidade de oito mil lugares, localizado na cidade de Goianinha, 58 km de Natal. O estádio passou a receber os jogos do América a partir de novembro de 2011 e desde então é o campo oficial do clube nas competições locais e nacionais. Conforme a prefeitura local, os jogos do América no seu estádio são importantes para a cidade: Nos dias de jogos, bares, lanchonetes e restaurantes ficam lotados, além do consumo em outros tipos de comércios como postos de combustíveis, pousadas e farmácias. Ou seja, geração de emprego e renda em Goianinha (GOIANINHA EM DIA, 2012).

O deslocamento dos clubes de Natal a outras cidades, Ceará-Mirim que recebe jogos do Alecrim e Goianinha onde joga atualmente o América, acarretou prejuízo econômico dos clubes. Como efeito não esperado, o qual denominamos impactos da copa em Natal, houve um incremento substancial nas ligas amadoras de futebol daquelas localidades. Este movimento chamou a atenção dessas ligas de modo que os clubes de futebol semi profissional Globo (sediado em Ceará-Mirim) Palmeira (da cidade de Goianinha) passaram a ganhar destaque no cenário futebolístico potiguar e, atualmente, participam do campeonato norte-riograndense de futebol da primeira divisão. No ano de 2014, o Globo sagrou-se campeão do primeiro turno do campeonato potiguar de futebol. A interiorização forçada e não planejada do futebol no Rio Grande do Norte incentivou a maior prática do esporte naquelas localidades. Partindo de uma perspectiva do futebol profissional, seria mais interessante a construção vários pequenos estádios, de baixa manutenção, nas micro regiões do interior do estado. Os estádios de baixa manutenção possibilitaria o maior acesso à prática esportiva da população sobretudo a de baixa renda, que devido restrição orçamentária não utilizam as academias privadas. Há, portanto, dois modelos de política esportiva bem definidos, um deles relacionado a estratégia de competição das cidades globais e que Natal se insere a esse projeto. O outro modelo, que poderia ser viabilizado é o do maior acesso da população ao esporte, não apenas na condições de espectador mas, e principalmente, na condição de praticante da atividade esportiva.

Considerações finais Vimos que os megaeventos esportivos são instrumentos para a remuneração do capital imobiliário que se utilizam desses eventos para remodelar as cidades através de obras,

17 muitas vezes, sem qualquer relação com as localidades. Estes megaeventos quanto mais possuem uma dimensão mega, menos se relacionam com o esporte que passa a ser mais uma mercadoria entre as muitas disponíveis pelos megaeventos as quais se convencionou chamar de legados. Como uma das sede da Copa de 2014 promovida pela FIFA, Natal, capital do Rio Grande do Norte, se insere nessa lógica de remuneração ao capital imobiliário, de tal forma que são muitas as obras na cidade e, conforme Harvey (1996), a construção do Complexo Multiuso Arena das Dunas é o símbolo maior do recebimento do megaevento esportivo. O fato de Natal receber quatro partidas da Copa de 2014 levou o poder público local a aliarse com a iniciativa privada que construiu o Complexo Arena das Dunas. Após a realização do megaevento, o uso do Arena será de uso exclusivos dos dois maiores clubes de futebol do estado, ABC e América, o que inevitavelmente concentrará ainda mais o futebol profissional no estado. No entanto, o futebol semi profissional praticado na cidade de Goianinha, Rio Grande do Norte, obteve desenvolvimento a partir da chegada do América, clube de Natal, naquela cidade. A proximidade do futebol profissional com as pessoas daquela cidade motivou e, de alguma forma, incentivou a maior prática esportiva. O estádio local, de baixa manutenção, é outro aspecto que contribui para a prática esportiva das ligas amadoras e semi amadoras no local. Este caso ainda necessita de uma análise mais profunda, no entanto, já indica que a desconcentração da política esportiva brasileira pode ser uma alternativa interessante ao maior estímulo das pessoas à prática esportiva.

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18 FIGUEIREDO, Fábio Fonseca e ARAUJO, Marcelo Augusto. A copa do mundo de 2014 na cidade de Natal/RN e os legados para o futebol potiguar. Anais do 37º Encontro Anual da Anpocs, Águas de Lindóia, 2013. Disponível em: . Acesso em: 26 mar. 2014. FIGUEIREDO, Fábio Fonseca; LIMA, Elaine Carvalho e ARAUJO, Marcelo Augusto. Os impactos e legados nefastos dos megaeventos esportivos no Brasil: Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos 2016. Anais do XIV Encuentro de Geógrafos de America Latina, Lima, 2013. Disponível em: . Acesso em: 26 mar. 2014. FNF. Federação Norte-riograndense de Futebol. Disponível em: . Acesso em: 26 mar. 2014. JORNAL DE HOJE. Demétrio Torres diz que futebol do RN é muito fraco e não viabilizará Arena das Dunas. Natal: Jornal de Hoje, 2014. Disponível em: . Acesso em: 26 mar. 2014. KUPER, Simon e SZYMANSKI, Stefan. Soccernomics. Rio de Janeiro: Tinta Negra, 2010. NATAL. Mais 17 praças serão reformadas em 2010. Natal: Prefeitura de Natal, 2014. Disponível em . Acesso em: 26 mar. 2014. OLIVEIRA, Nelma Gusmão de; GAFFNEY, Christopher Thomas. Rio de Janeiro e Barcelona: os limites do paradigma olímpico. Barcelona: Revista Biblio 3w, 2010. Disponível em: . Acesso em: 26 mar. 2014. OMS. Global health risks: mortality and burden of disease attributable to selected major risks. Organização Mundial de Saúde, 2009.Disponível em . Acesso em: 26 mar. 2014. PRONI, Marcelo Weishaupt e SILVA, Leonardo Oliveira. Impactos da Copa do Mundo 2014: projeções superestimadas. Instituto de Economia UNICAMP, Campinas, 2012. Disponível em: . Acesso em: 27 maio 2013. Rio Grande do Norte. SECOPA-RN (2013). Arena das Dunas. Natal, RN, 2013. Disponível em: Acesso em: 24 nov. 2013. RUBIO, Kátia. Postulações brasileiras aos Jogos Olímpicos: considerações acerca da lenda do distanciamento entre política e movimento olímpico. Revista Biblio 3W, Barcelona, 2010. Disponível em: . Acesso em: 26 mar. 2014. SIGOLI, Mário André e ROSE JUNIOR, Dante. A história do uso político do esporte. Revista brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, 2004. Disponível em: . Acesso em: 10 maio 2011. TOLEDO, Luiz Henrique Ritual sem dono, evento sem nome. Os segredos da transformação da Copa do mundo em um Mega Evento. Revista Coletiva, Recife, 2012. Disponível em:

19 . Acesso em 18 Ago. 2013. TRINDADE, Marcos. Estatísticas do Futebol Potiguar. Blog do Marcos Trindade, Natal, 2013. Disponível em: . Acesso em: 10 Jun. 2013.

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