A Corporation Nouvelle, o projecto da exposição em Barcelona e a Internacional Simultaneísta
Descrição do Produto
Mecenas/Sponsor
20 | 11 | 2015 — 22 | 2 | 2016
Made in Portugal Ana Vasconcelos
11 A Corporation Nouvelle, o projecto da exposição em Barcelona e a Internacional Simultaneísta
Apresentação Teresa Gouveia
Joana Cunha Leal
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Delaunay e Estocolmo Annika Öhrner
81 Portugal Mural, Portugal Simultâneo — Duas obras de Sonia Delaunay Margarida Mafra
110 Almada Negreiros e Sonia Delaunay Sara Afonso Ferreira Mariana Pinto dos Santos
135
AMADEO DE SOUZA-CARDOSO (1887-1918) Estudo para Exposições Itinerantes – Nova Corporação
| Study for Travelling Exhibitions – New Corporation, c. 1915, pormenor | detail
Made in Portugal Ana Vasconcelos
195 Corporation Nouvelle, the Barcelona Exhibition Plans and the Simultaneist International
Presentation Teresa Gouveia
Joana Cunha Leal
193
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Delaunay and Stockholm Annika Öhrner
226 Portugal Mural, Portugal Simultâneo — Two Works by Sonia Delaunay Margarida Mafra
241 Almada Negreiros and Sonia Delaunay Sara Afonso Ferreira Mariana Pinto dos Santos
249
LISTA DE OBRAS | LIST OF WORKS
261
LISTA DE DOCUMENTOS | LIST OF DOCUMENTS
267
Capa e folha de rosto do catálogo da exposição Sónia e Robert Delaunay em Portugal e os seus amigos Eduardo Vianna, Amadeo de Souza-Cardoso, José Pacheco, Almada Negreiros, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, abril/maio de 1972 | Cover and title page of the catalogue of the exhibition Sonia and Robert Delaunay in Portugal and their friends Eduardo Vianna, Amadeo de Souza-Cardoso, José Pacheco, Almada Negreiros, Lisbon, Fundação Calouste Gulbenkian, April/May, 1972
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A Corporation Nouvelle, o projecto da exposição em Barcelona e a Internacional Simultaneísta Joana Cunha Leal IHA, FCSH, Universidade NOVA de Lisboa
J’AIME VRAIMENT VOTRE ART, C’EST DOMMAGE QUE VOUS FASSIEZ TANT DE POLITIQUE. Amadeo de Souza-Cardoso, 28 de Agosto de 19161
Em 1918, Robert Delaunay compôs a capa do livro Tour Eiffel do poeta chileno Vicente Huidobro. Editado em Madrid, onde ambos então residiam, o livro retirava o título do poema escrito em francês que fora publicado em primeira mão no ano anterior na revista Nord-Sud dirigida por Pierre Reverdy, de que Huidobro fora um dos principais colaboradores nos anos da sua estada em Paris.2 Em 1917 o poema surgira com uma dedicatória a Max Jacob, mas na versão madrilena de 1918 a dedicatória elege Robert Delaunay. O livro de catorze páginas feitas de papel grosso e tingidas de várias cores apresentava-se como uma empresa comum.3 Na capa do livro (cujas primeiras versões foram realizadas a pochoir,4 e que conheceu igualmente versão litografada - 22) a silhueta da Torre Eiffel arranca de um conjunto de três discos simultâneos que se entrelaçam. É no limite destes discos de cores saturadas – com destaque para o vermelho, o verde e o azul – que surgem inscritos a pochoir os quatro pontos cardeais: «nord, sud, est, ouest». 22
ROBERT DELAUNAY (1885–1941) Nord, Sud, Est, Ouest | Norte, Sul, Este, Oeste
| North, South, East, West, 1918 O Círculo Delaunay
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A imagem remete-nos para a série de famosas pinturas da
Os projectos de exposições e publicações da «Corporation Nou-
Torre Eiffel de Robert Delaunay, mas também para A Prosa do
velle» são matéria bem conhecida desde a publicação da corres-
Transiberiano que reuniu o texto do poeta Blaise Cendrars à pin-
pondência de Almada Negreiros, José Pacheco, Amadeo de Souza-
tura de Sonia Delaunay numa publicação apresentada ao público
-Cardoso e Eduardo Viana com Sonia e Robert Delaunay, num livro
parisiense em 1913 como o «primeiro livro simultâneo». Relembra
organizado e prefaciado por Paulo Ferreira.7 O volume publicado
igualmente os poemas homónimos dedicados a Robert Delaunay
em 1972 em francês apresenta-se como «contribuição para a his-
por Guillaume Apollinaire e Cendrars, nomeadamente nas versões
tória da arte moderna portuguesa (anos 1915-1917)». O interesse
publicadas em 1917 pela revista Portugal Futurista a partir de ma-
da documentação publicada supera porém esses limites nacionais.
nuscritos na posse de Sonia Delaunay. O poema de Apollinaire,
Na realidade, a recolha de Paulo Ferreira tornou sensível uma re-
numa versão algo diferente da que o próprio poeta publicará em
serva extraordinária de diálogos, cruzamentos, projectos e modos
1918, destaca a marcação dos pontos cardeais: «du nord/au/sud
de circulação transnacionais comuns às vanguardas artísticas e li-
/zenith nadir/et les grands cris de l’est/l’océan à l’ouest/se gonfle/la
terárias no início do século XX. Neste caso, e como demonstram os
tour/àlaroue/s’adresse»[donorte/ao/sul/zénitenadir/eosgrandes
estudos de referência de Pascal Rousseau,8 o que está em causa é
gritos do este/o oceano a oeste/enche-se/a torre/à roda/fala].
o encontro e a partilha dos artistas sediados em diversos pontos do
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país nos anos da Primeira Guerra Mundial – os Delaunay instalados A enunciação dos pontos cardeais surgiu poucos anos antes
em Vila do Conde com Eduardo Viana desde finais de Maio de 1915
nos materiais desenhados por Robert Delaunay, e por Amadeo de
(e o norte-americano Sam Halpert que os visita brevemente em
Souza-Cardoso, para a divulgação do álbum que acompanharia
1915),9 Almada Negreiros e José Pacheco em Lisboa, Amadeo de
as «Expositions Mouvantes» [Exposições Itinerantes], segundo
Souza-Cardoso em Manhufe, na quinta de seus pais, desde o Verão
o projecto delineado no âmbito da «Corporation Nouvelle» [Nova
de 1914 –, e o facto de esse encontro e partilha terem dado origem
Corporação], que o casal Delaunay e os seus amigos portugueses
a projectos de exposições e edições que previam, à partida, a co-
constituíram.
laboração dos poetas G. Apollinaire e B. Cendrars (ambos mobili-
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ROBERT DELAUNAY (1885–1941) Projet Bulletin de souscription pour l’Album nº 1 des Expositions Mouvantes Nord-Sud-Est-Ouest | Projeto Boletim de subscrição do Álbum n.º 1 das Exposições Itinerantes Norte-Sul-Este-Oeste, Verso e Frente | Subscription Bulletin for Album no. 1 of the Travelling Exhibitions North-South-East-West project, c. 1916, Back and Front
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zados na frente de combate do exército francês), e do pintor russo
exemplares seriam numerados e assinados pelos artistas, sendo
Daniel Rossiné (mais conhecido por Wladimir Baranoff-Rossiné).
ainda intenção dos editores desdobrar a edição de modo a criar
Dados como a dimensão internacional da «Corporation Nouvel-
uma alternativa impressa em «papel de luxo».
le», a rede de comunicações que a suporta e o diálogo dos artistas
Robert Delaunay fez igualmente o projecto para um folheto de
empenhados na sua construção são testemunhados pelo teor das
divulgação do álbum da «Corporation Nouvelle»,11 cujo cabeçalho
cartas e pelos materiais desenhados que chegaram até nós. Entre
reproduz a composição do disco de cor com marcação dos pontos
estes materiais encontra-se o desenho de Robert Delaunay para
cardeais. Norte, sul, este, oeste, sublinha aqui o horizonte de cir-
o «Bulletin de souscription pour l’Album nº 1 des Expositions Mou-
culação internacional programado para as «Expositions Mouvan-
vantes Nord-Sud-Est-Ouest» [Boletim de subscrição do Álbum n.º
tes», tal como sublinha o perfil transnacional do círculo da «Cor-
1 das Exposições Itinerantes Norte-Sul-Este-Oeste] de 1916 (data
poration Nouvelle».
atribuída; 23). Este desenho contempla o que deveriam ser as duas
Como Robert Delaunay explica nos vários pontos que redige
faces do boletim (frente e verso à maneira de um postal). Na fren-
para o folheto – fixados em diversos documentos com ligeiras dife-
te, destaca-se o círculo colorido que é «imagem de marca» dos
renças12 – «o álbum n.º 1 é o catálogo que acompanha os trabalhos
Delaunay, sobre o qual o pintor inscreveu os quatro pontos cardeais
– pinturas, poemas, objectos, esculturas ou puras manifestações
que dariam título ao próprio álbum. À sua esquerda são indicados
artísticas nas Exposições Colectivas e individuais Norte Sul Este
os nomes dos artistas e poetas que nesse álbum colaborariam.
Oeste» (ponto 1). Trata-se de uma publicação que resulta do «es-
No verso do boletim há outras informações importantes: além do
forço individual e colectivo» e que «representa cada um dos artis-
título da publicação, e da indicação de que um segundo álbum com
tas que executou ele mesmo, pelo seu métier próprio, as obras»,
novas colaborações estaria em preparação por ocasião da ven-
não se trata portanto, diz, de um «produto mecânico de fotogra-
da deste primeiro, inclui a identificação da «Corporation Nouvel-
fias» (ponto 2). O álbum tem um «sentido inédito», na medida em
le» como chancela responsável pela edição destinada sobretudo
que a sua «forma nova de edição não se encontra em nenhuma
à venda por subscrição. Ficamos também a saber que todos os
[outra] obra artística moderna» (ponto 3). Trata-se de uma «ideia
10
O Círculo Delaunay
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artística e prática [que] nasceu da necessidade de entreajuda das artes mais que nunca em perigo, mais do que nunca uma realidade universal» (ponto 4). O projecto pretende que «todos e cada um de nós [os artistas envolvidos] contribu[a] para a grande construção das formas[,] para as indestrutíveis relações mundiais do pensamento [,] para as tendências individuais» (ponto 5). Finalmente, uma chamada de atenção para o facto de a «Corporation Nouvelle do Norte ao Sul[,] do Este ao Oeste» corresponder a uma «unidade espiritual [e a uma] unidade prática» que «trabalha oferecendo aos artistas toda a liberdade de expressão e de ideias» (ponto 6). O esforço individual e colectivo associado ao espírito de entreajuda que os constrangimentos causados pela guerra impunham parece ter uma dupla dimensão artística já que, ao mesmo tempo que garantia a livre manifestação das diferentes tendências individuais (linha reforçada com as exposições), submetia os artistas participantes a uma disciplina prática através da técnica de pochoir.13 Tanto a estratégia editorial quanto o pré-anúncio da venda por subscrição e a decisão de produzir o álbum a pochoir revelam até que ponto A Prosa do Transiberiano... de Sonia Delaunay e Blaise Cendrars constitui um antecedente relevante para o novo projecto. Como sinalizou já Rosemary O’Neill, a técnica de pochoir permitia,
O todo individual e colectivo desta obra representa cada um dos
tal como permitira a essa publicação de 1913, combinar «a riqueza
artistas que executou ele mesmo pelo seu próprio métier as suas
das cores pintadas à mão com a possibilidade de produzir múltiplas
obras – nesta obra Única cada um e todos que nela trabalharam
imagens usando escantilhões, técnica igualmente usada na arte
têm os mesmos direitos no que diz respeito à venda do álbum das
popular».14 Ou seja, o pochoir possibilitava impressão em série de
EXPOSIÇÕES NORTE SUL ESTE OESTE. Este sentido inédito, este
álbuns originais (pintados à mão, numerados e assinados), e seria
sabor, esta forma nova de edição não se encontra em nenhuma ou-
a base do comum na obra. Tratando-se de um processo partilha-
tra obra artística moderna […].15
do e transversal, aliviava a distinção hierárquica entre os artistas – pela sua dimensão mecânica e pelo facto de, uma vez cortado o
O que mais aproximava o álbum do universo da arte popular, i.e.
escantilhão, qualquer um poder aplicá-lo –, e conferia a todos os
o facto de ser uma obra colectiva, era precisamente o que mais
mesmos direitos sobre a obra. Escreve Delaunay:
contribuía para o seu «sentido inédito». No âmbito do projecto de publicações da «Corporation Nouvelle», Robert Delaunay realizou a pochoir, em 1916, cinco «For24
AMADEO DE SOUZA-CARDOSO (1887-1918) Estudo para Exposições Itinerantes – Nova Corporação
| Study for Travelling Exhibitions – New Corporation, c. 1915
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mes-poèmes» [Formas-poemas] a partir de textos de Cendrars,
Apesar de vários materiais gráficos associados ao álbum e às
Apollinaire e G. Poiret, tal como criou a lápis e guache, ainda em
«Expositions Mouvantes» estarem datados de 1916, não restam
1915, «Nouvelles formes-poèmes. La mort de Michel Govanov»
muitas dúvidas de que as orientações gerais do projecto da «Cor-
[Novas formas-poemas. A morte de Michel Govanov] descritos
poration Nouvelle» ficaram definidas na passagem dos Delaunay
como «Forme-poème inspirée d’une coupure de journal. Maquet-
por Lisboa no final da Primavera de 1915.18 N’A Brazileira do Chiado,
te pour le pochoir des «Formes-poèmes» des éditions “Corpora-
os Delaunay encontraram-se com vários artistas e poetas envol-
tion Nouvelle”» [Forma-poema inspirada de um recorte de jornal.
vidos no primeiro número da revista Orpheu, cuja publicação em
Maquete para o pochoir das «Formas-poemas» das edições da
Março terá constituído um dos principais motivos da sua vinda a
«Nova Corporação»]. Escreve Delaunay no verso da maquete que
Portugal. Esse grupo inclui Almada Negreiros, Mário de Sá-Carnei-
estas edições poderiam subscrever-se em Paris, Nova Iorque,
ro e José Pacheco. Inclui também artistas próximos desse círculo
Petrogrado (São Petersburgo), Estocolmo, Lisboa, Barcelona, Por-
como Eduardo Viana, que conduzirá os Delaunay a Vila do Conde.19
16
As orientações gerais do projecto são partilhadas por carta com
to, Moscovo, Genebra e Londres.17
Amadeo de Souza-Cardoso, que com elas se solidariza, a ponto de 25
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AMADEO DE SOUZA-CARDOSO (1887-1918)
AMADEO DE SOUZA-CARDOSO (1887-1918)
Estudo para Exposições Itinerantes – Nova Corporação
Estudo para Exposições Itinerantes – Nova Corporação
| Study for Travelling Exhibitions – New Corporation, c. 1915
| Study for Travelling Exhibitions – New Corporation, c. 1915
O Círculo Delaunay
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a resposta enviada a 11 Junho de 1915 já conter dois pochoirs para
1915 (24, 25 e 26), onde as referências à «Corporation Nouvelle»
a publicação.20 Isto é, Amadeo faz saber que concorda plenamen-
e às «Expositions Mouvantes» surgem integradas em compo-
te com a ideia do álbum, tal como concorda que, face ao contex-
sições marcadas pelo colorido forte e pela repetição de signos
to da guerra em que se vive, o trabalho em pochoir será um bom
visuais que incluem, além dos eixos quadrangulares quebrados
modo de reunir esforços, ainda que não tenha qualquer experiência
e entrelaçados já presentes nos pochoirs enviados anteriormen-
nem goste particularmente do trabalho de recortar escantilhões.
te, hastes de cataventos com indicação dos pontos cardeais que
No mesmo dia escreve a Sonia Delaunay, dizendo-lhe igualmente
dão título às exposições. Como sinaliza Rosemary O’Neill, a água
que dos três «belos pochoirs» que lhe haviam pedido, envia dois, e
é um elemento referenciado em todas estas aguarelas, tal como
explica que «para o terceiro, pedi a [Robert] Delaunay que me em-
é clara em duas delas a representação dos arcos de uma ponte ou
prestasse o recorte [o escantilhão] que fez da minha aguarela em
de um aqueduto. Defende a autora que estas aguarelas enfatizam
Vila do Conde ».
a ideia de movimento e viagem23 associada ao projecto da «Corpo-
21
As cartas foram escritas sobre papel previamente colorido pelos
ration Nouvelle – Expositions Mouvantes», projecto «programado
pochoirs simples «de uma pequena folha» que Amadeo mencio-
para produzir exposições a partir de Vila do Conde, perto da cida-
na a Robert Delaunay. Na carta dirigida a Sonia, o pochoir colori-
de do Porto que era acessível por comboio, rio, e pelo mar. A partir
do a vermelho, verde e azul distribui verticalmente os elementos
deste local na costa noroeste da Península Ibérica, as exposições
gráficos, destacando o título «1 album 1» da composição de eixos
itinerantes e os álbuns-catálogo alcançariam uma audiência inter-
coloridos quadrangulares quebrados e entrelaçados. Por sua vez,
nacional».24
o pochoir da carta dirigida a Robert introduz um tom mais escuro
Esta transferência entre o registo local e o foco transnacional re-
para o título «1 album 1» e coloca-o sobre a composição dos eixos
força o «sentido inédito» que Robert Delaunay atribui ao trabalho da
quebrados e entrelaçados. A composição do texto remanescente é
«Corporation Nouvelle». A aproximação ao universo da arte popular
igual em ambos os casos: «editions corporation nouvelle exposi-
introduzida pelo modo de produção e reprodução do pochoir convive
tions mouvantes nord sud est oest» [edições nova corporação ex-
aqui com uma dimensão local introduzida pelo modo como Amadeo
posições itinerantes norte sul este oeste].
joga com signos como a ponte e o aqueduto. Nas mãos do pintor
Apenas cinco dias mais tarde, a 16 de Junho, Amadeo de Souza-Cardoso volta a escrever a Robert Delaunay:
estes signos ganham densidade, funcionando não apenas como referentes de movimento e da viagem, mas também como marcos arquitectónicos das cidades da «Corporation Nouvelle»: Ama-
Por este correio envio-vos as exposições itinerantes e a Nova Cor-
rante, no caso de Amadeo, e Vila do Conde, no caso dos Delaunay.
poração: vocês fazem os pochoirs e reenviam-me os originais para
O aqueduto de Vila do Conde é também reconhecível em Marché au
que os faça pelo meu lado. Para o catálogo de Barcelona, não quis
Minho [Mercado no Minho] de Sonia Delaunay (52), cujas primeiras
fazer desenho; julgo que o texto é suficiente. Dêem-me notícias da
versões datam precisamente de 1915.25 (38) No caso de Amadeo,
galeria Dalman [sic].22
a relação das aguarelas enviadas a Robert Delaunay com trabalhos como Canção d’Açude – Poema em Cor (27 ) e Serrana – Poema
É muito provável que os originais enviados pelo pintor português a Delaunay correspondam ao conjunto de aguarelas datadas de
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em Cor (16) é flagrante, quer pela saturação compositiva, quer, no caso da Canção d’Açude, pela repetição do motivo da ponte.
O acento local sai ainda reforçado no tom dos poemas populares inscritos – «Os moleiros deste açude adoram a virgem toda de
e janelas que, como se verá mais à frente, Amadeo selecciona para a exposição de Barcelona no ano seguinte (34, 35, 36 e 37 ).
branco; Os moleiros deste açude adoram a farinha» ou «Os serra-
As dinâmicas e os equilíbrios criados no âmbito da «Corpora-
nos desta Serra adoram um santo que é de pedra; Os serranos desta
tion Nouvelle» acabaram, pois, por abrir caminhos novos no tra-
Serra adoram os Penedos» – transfigurados em referência erudita
balho destes artistas. No caso dos Delaunay, podemos dizer que os
pelo saber rimbaudiano da linguagem das cores que estes artistas
paradoxos que caracterizaram as acções desenvolvidas antes da
partilhavam. Torna-se assim admissível que estes poemas em
guerra permanecem. Ou seja, mantém-se intacta a sua determi-
cor se destinassem ao álbum em preparação, hipótese ainda mais
nação em resgatar a cultura e a arte popular como base de genuína
plausível se considerarmos a relação que é possível estabelecer
oposição à cultura dominante (que os conduzira à proclamação do
entre os poemas e o conjunto de cinco telas de moinhos, moleiros
«génio» primitivo de Douanier Rousseau).27 Como bem viu David
26
27
AMADEO DE SOUZA-CARDOSO (1887-1918) Canção d’açude poema em cor
| Song of dam poem in Colour, c. 1915 O Círculo Delaunay
43
D3
Cartas de Amadeo de Souza-Cardoso a Robert Delaunay (a da esquerda) e a Sonia Delaunay (a da direita) com pochoir para a capa do Album nº 1 Expositions Mouvantes
D4
– Corporation Nouvelle [Álbum n.º 1 Exposições Itinerantes – Nova Corporação], 11 de
Robert Delaunay, Programa para o Album nº 1 Expositions Mouvantes – Nord-Sud-Est-
Junho de 1915 | Letters from Amadeo de Souza-Cardoso to Robert Delaunay (left side) and
-Ouest – Corporation Nouvelle [Álbum n.º 1 Exposições Itinerantes – Norte-Sul-Este-
Sonia Delaunay (right side) with stencil for the cover for Album no. 1 Travelling Exhibitions
Oeste – Nova Corporação], n. dat. | Programme for the Album no. 1 Travelling Exhibitions
– New Corporation], June 11th, 1915
– North-South-East-Ouest – New Corporation, undated
44
D5
Robert Delaunay, Pochoir para Album nº 1 Expositions Mouvantes Nord-Sud-Est-Ouest [Álbum n.º 1 Exposições Itinerantes Norte-Sul-Este-Oeste], 1915 | Robert Delaunay, Stencil for Album no. 1 Travelling Exhibitions North-South-East-West, 1915 O Círculo Delaunay
45
Cottington esta orientação foi sempre antitética do investimento
Corporation, e a pintura que os Delaunay produzem em Portugal,
que antes e durante a guerra os Delaunay foram fazendo na cria-
enraíza geograficamente as referências populares e paisagísticas
ção de objectos de luxo e moda para o mercado, tal como é antité-
que trabalham. Esse enraizamento reconfigura em grande me-
tica da dimensão celebratória do consumo, do entretenimento e da
dida a posição do seu trabalho no campo artístico internacional.
tecnologia nas várias versões de L’Équipe de Cardiff [A Equipa de
Inaugura-se através dele uma dinâmica contracorrente que ao
Cardiff] (1913) ou em Hommage à Blériot [Homenagem a Blériot]
mesmo tempo que explora os modos de representação que en-
(1914) de Robert Delaunay.28 Verifica-se porém que o trabalho da
contramos em L’Équipe de Cardiff e Hommage à Blériot, os ins-
28
ROBERT DELAUNAY (1885–1941) Nature Morte Portugaise | Natureza Morta Portuguesa | Portuguese Still Life, 1915
46
Quanto à exposição para Barcelona, a carta de 16 de Junho de 1915 dirigida a Robert Delaunay dava já conta da decisão de Amadeo não inserir qualquer desenho na capa do álbum-catálogo que se lhe destinava: «creio que a escrita basta». A composição Album nº 1 expositions mouvantes nord sud est ouest edition corporation nouvelle de 191530 introduz as letras vermelhas definidas a pochoir sobre um fundo branco quebrado pela marcação de um ângulo. Trata-se de uma solução gráfica sofisticada que desdiz os receios do pintor acerca do seu deficiente domínio do meio.31 Das várias tarefas da «Corporation Nouvelle», terá sido confiada a Eduardo Viana a produção do álbum propriamente dito.32 O modo como respondeu a Robert Delaunay já em meados de Março de 1916 sugere porém um certo distanciamento do projecto: Vou pensar em fazer qualquer coisa para o álbum da Corporação. Para os próximos estudos vou retomar o retrato de Madame, que
creve numa cultura de resistência capaz do resgate intencional de
me diz muito, e é justamente por isso que não resulta!33
uma «genuinidade» periférica em grande medida desconhecida. A relação que a representação pictórica estabelece com os padrões
Tal como Amadeo de Souza-Cardoso, Sonia Delaunay reali-
tecnológicos e de consumo da vida moderna deixa portanto de ser
zou estudos para a capa do álbum, embora estes não ultrapas-
celebratória, para passar a ser de afastamento e reserva crítica.
sem um nível muito preliminar. É certo porém que, em Junho de
É isso que vemos em telas de Sonia Delaunay como Marché
1915, lhe cabia já a tarefa de organizar uma exposição destinada
au Minho (1916; 52) e Nature morte portugaise [Natureza morta
a Barcelona. Foi muito possivelmente a notícia dessa exposição
portuguesa] (1916; 42), ou no desenho Jouets portugais [Brin-
que entusiasmou Almada Negreiros a ponto de o fazer dançar na
quedos Portugueses] (1915; 65). É isso também que vemos nas
rua, em pleno Chiado.34
telas de Robert Delaunay como Nature morte portugaise (1915; 9),
As primeiras referências à exposição de Barcelona encontram-
La Grande Portugaise [A Grande Portuguesa] (1916; 11) ou La Ver-
-se nas cartas de Amadeo de Souza-Cardoso que venho citando,
seuse [O Jarro] (1916; 3), muito distantes do foco abstraccionista
datadas de Junho de 1915. Na carta dirigida a Robert Delaunay de
impulsionado pela afirmação do simultaneísmo como descoberta
11 de Junho, depois de abordar as diversas questões relativas ao
da «pura pintura» avançada por Robert Delaunay com o apoio de
álbum da «Corporation Nouvelle», Amadeo escreve sobre as ex-
G. Apollinaire em 1912, mas também muito distantes da celebra-
posições previstas:
29
ção cosmopolita dos meios e das possibilidades da vida moderna que vimos acima, apesar de, em séries como L’Équipe de Cardiff,
Devemos trabalhar bem: Barcelona para o próximo outono, e tam-
se conservarem igualmente intactos os meios da representação.
bém para o inverno. Aqui, impossível, comprometedor mesmo, não
29
SONIA DELAUNAY (1885–1979) Jouets Portugais | Jogos Portugueses
| Portuguese Toys O Círculo Delaunay
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importa que tipo de acção. Ah! Mas diz-me, o que é que vai fazer o
do, chegando mesmo a ser citada nas páginas da revista Vell i Nou
marchand Dalman [sic]? Tem que fazer alguma coisa!
como organizadora da «Exposição de Arte Simultaneísta» anun-
35
ciada a 1 de Março de 1916.45 A 16 de Junho, volta a pedir notícias da «galeria Dalman».36
A ideia de expor na galeria Dalmau surge mencionada na cor-
Amadeo refere-se à galeria de Josep Dalmau, figura que de-
respondência de Junho de 1915, estando, como vimos, os trabalhos
sempenhou um papel fundamental na afirmação de Barcelona
preparatórios para a «Exposition Mouvante» e respectivo álbum
como pólo da vanguarda europeia ao desenvolver um importan-
em preparação desde essa data. No entanto, o primeiro contacto
te programa de exposições internacionais a partir de 1912.37 Cabe
com Josep Dalmau só se fará quase um ano mais tarde.46 Ainda
aqui a famosa «Exposió d’Art Cubista», que entre Abril e Maio des-
que o contexto de guerra em que se vivia possa multiplicar as cau-
se ano levou à cidade obras de August Agero, Marcel Duchamp,
sas deste atraso, a verdade é que ele permanece algo misterioso.
Albert Gleizes, Juan Gris, Marie Laurencin, Metzinger, Le Faucon-
É certo que, por exemplo, as referências à falta de materiais (pa-
nier e Fernand Léger. Como afirma Mercè Vidal, a exposição res-
pel, cores) são constantes na correspondência publicada por Pau-
pondia ao interesse crescente do meio artístico de Barcelona pelo
lo Ferreira. Por sua vez, a longa carta que Amadeo dirige a Robert
cubismo, espoletado pela notícia dos escândalos associados aos
Delaunay a 16 de Junho de 1915, já diversas vezes mencionada, ao
Salons parisienses de 1911, e alimentado quer pelo protagonismo
mesmo tempo que permite saber que fez «fotografias de três pe-
de Picasso, quer pela maturação do projecto artístico nacional do
quenos quadros no Porto, que devem estar prontas dentro de dois
Noucentisme.40 Neste contexto, a exposição organizada por Dal-
dias e que poderão servir para o catálogo de Barcelona», permite
mau deu origem a um intenso debate crítico, com mais de vinte
também saber que precisa que alguns quadros para a exposição
artigos de fundo a debater o cubismo e a exposição publicados na
sejam trazidos de Paris pela sua mulher, Lucie, que estando de
imprensa catalã.
partida para a cidade, estava na realidade ainda em Manhufe.47
38
39
41
Outras exposições tornaram a galeria Dalmau uma referência
Entre o final do Verão e o início do Outono de 1915, Amadeo de
no panorama internacional, nomeadamente a mostra do trabalho
Souza-Cardoso visita duas vezes os Delaunay em Vila do Con-
de quinze artistas polacos estabelecidos em Paris nesse mesmo
de: uma primeira passagem por «La Simultanée» é anunciada a
ano de 1912,42 mas a sua importância crescerá ainda nos anos da
Robert Delaunay em carta de 9 de Setembro.48 A segunda visita
guerra, quando as actividades de Dalmau passam a beneficiar da
parece corresponder a uma estada mais longa: Amadeo agradece
neutralidade de Espanha no conflito, e do número crescente de ar-
a «charmante hospitalité» dos Delaunay em carta de 24 de Ou-
tistas que se refugiam na cidade.
tubro.49 Contudo, até ao final desse ano de 1915 a grande notícia
43
Fixada em Barcelona como «criadora de moda» desde o eclo-
será, não a esperada exposição na galeria Dalmau, mas o convite
dir da guerra, Berthe Delaunay, mãe de Robert Delaunay, terá um
dirigido por Arturo Ciacelli a Robert Delaunay, em Dezembro, para
papel importante na ligação do casal aos círculos de vanguarda
expor na Nya konstgalleriet em Estocolmo. O convite foi imediata-
barceloneses. O seu papel mediador foi já evidenciado por Pascal
mente partilhado com Amadeo no início de Janeiro, que responde
Rousseau: Berthe Delaunay promove a obra do seu filho e de Sonia
a Robert Delaunay:
e mantém-los informados sobre o meio artístico na cidade.44 Será também através dela que o contacto com Dalmau é estabeleci-
48
Quanto à exposição em Estocolmo, quero muito enviar pequenas
tado de inacabamento de muitos dos seus trabalhos. Isso mesmo
coisas: vocês dir-me-ão como fazer para enviar as telas e em que
explica Amadeo a Robert Delaunay apenas seis dias antes da inau-
altura – mas disso falaremos. Parto para o Porto na terça-feira e,
guração, a 18 de Março de 1916:
na quarta, irei dormir a vossa casa e fico para a preparação das cores. A minha mulher não pode ainda ir; virei buscá-la mais tarde.
Caro amigo,
Levo comigo um par de lençóis e de cobertores. Estou ansioso de
As lojas estavam já fechadas à hora que cheguei ao Porto, pelo que
me ver livre do óleo; dá-me neurastenia.
me foi impossível fazer a troca das cores. Estando impossibilitado
50
de terminar os quadros a tempo, preciso adiar a expedição das telas
Como bem se sabe, Amadeo não chega a fazer qualquer envio
para a exposição. Dar-vos-ei uma palavra assim que tenha termi-
para a exposição inaugurada a 24 de Março de 1916 na Nya konst-
nado os meus quadros. Quanto à exposição, estou convencido de
galleriet, que, embora centrada na obra de Sonia Delaunay, apre-
que teremos uma venda segura.54
sentou também quatro telas de Robert. A exposição foi entusiasticamente noticiada por Almada Ne-
A 20 de Março, Amadeo dá conta a Robert da sua desistência:
greiros nas páginas d'A Ideia Nacional, a 6 de Abril, como «extra-
«Eu não devo e não posso fazer a expedição dos meus quadros
ordinária festa simultaneísta de Sotokolmo [sic] onde juntamente
neste momento, por isso não contem comigo»,55 mas logo depois,
com uma exposição dos quadros de Madame e Mr. Delaunay foi lida
e apesar de a Alemanha ter declarado guerra a Portugal no dia 9
a “prose du transsibérien et histoire de la petite jehanne de france”
desse mesmo mês de Março de 1916, segue o diálogo entre ambos
de Blaise Cendrars e ainda as primeiras symphonias simultane-
sobre novas exposições a realizar em Estocolmo e Christiania.
ístas dos musicos modernos». Curiosamente, 51
o miolo do catálogo impresso por Ciacelli (cuja capa composta a pochoir tem o auto-retrato de Sonia Delaunay; 30) cita na lista de obras a publicar brevemente pelos Delaunay, logo a seguir a «Le panama por Mme Delaunay-Terk e Blaise Cendrars», a edição de «Poèmes Portugais por Mme Delaunay-Terk e José de Almada Negreiros».52 Como escreve Annika Öhrner, e ao contrário da ideia corrente de que o esfriamento das relações entre Amadeo e os Delaunay estaria especificamente associado à decisão de estes últimos exporem na Nya konstgalleriet, deixando para trás o pintor português,53 verifica-se que a sua ausência se ficou a dever sobretudo ao es30
SONIA DELAUNAY (1885–1979) Auto-retrato (para o catálogo da exposição de Estocolmo)
| Self-portrait (design for the catalogue of the Stockholm exhibition), 1916 O Círculo Delaunay
49
Por sua vez, em vésperas da inauguração na Nya konstgalleriet
relações com os amigos portugueses e da programação de uma
a preparação da mostra na galeria de Josep Dalmau é intensifica-
inesperada acção de propaganda oficial de arte francesa em Bar-
da. A exposição seria aliás publicamente anunciada por Almada
celona para 1917.
Negreiros no artigo d'A Ideia Nacional, que enaltecia a exposição de Estocolmo:
Voltarei a esta questão, mas sublinho desde já o facto de a proposta apresentada a Josep Dalmau apenas conter uma menção à «Corporation Nouvelle» no contacto inicial. Segundo Pascal
V. [José Pacheco] deve saber que vae abrir em Barcelona uma
Rousseau, Sonia Delaunay teria explicado que:
exposição simultanista, onde além de madame Delaunay-Terk et monsieur Robert Delaunay apenas ha mais trez portuguezes que
«Para além das minhas obras e as do senhor Delaunay, haverá as
são: Cardozo, Eduardo Vianna e este seu amigo.56
de pintores de Moscovo, Portugal América, Suíça e Itália. Muitas destas obras já as temos aqui e outras esperamos recebê-las.»
A informação dada por Almada Negreiros em relação ao núcleo de artistas chamados a Barcelona acabaria por não ser totalmente
O grupo apresentar-se-ia no catálogo com o nome de «Corporation Nouvelle de arte que reúne artistas do Norte, Sul, Este e Oeste».61
exacta. Como demonstrou já Pascal Rousseau,57 o eixo de relações nórdicas estabelecido por via de Arturo Ciacelli terá estado, e essa
Apesar desta menção inicial, que rememora as participações de
é uma das questões que mais me importará reter no âmbito deste
Sam Halpert e Daniel Rossiné, o que surge em 1916 é uma «Exposi-
texto, na base da transformação da exposição em Barcelona num
ção de Arte Simultaneísta», dado que vai ao encontro da percepção
projecto alargado e bastante mais ambicioso do que as «Exposi-
de Pascal Rousseau de que a exposição de Barcelona se tornara
tions Mouvantes» programadas no âmbito da «Corporation Nou-
uma peça fundamental no combate dos Delaunay para se imporem
velle».
no campo artístico internacional e criarem um superior contrapon-
Que a grande mostra de Barcelona tomara um lugar central no círculo dos Delaunay é bem perceptível através da correspondên-
to ao reconhecimento generalizado da relevância do cubismo e, em parte, também do futurismo.62
cia trocada com Amadeo de Souza-Cardoso,58 Arturo Ciacelli e,
Foi como «Exposição de Arte Simultaneísta» que, imediatamen-
sobretudo, Josep Dalmau, a partir de Março de 1916. A sequência
te a 1 de Março de 1916, o evento fora anunciado nas páginas da re-
de correspondência assinada por Dalmau60 elucida-nos quanto
vista Vell i Nou. Aí se lê que a exposição deveria decorrer em meados
aos termos de um processo que vai da reiterada manifestação de
de Abril e traria à galeria de Josep Dalmau um conjunto diversifica-
interesse por parte do galerista em acolher «A exposição da arte
do de produções artísticas: «Não se trata de uma moderna escola
simultaneísta proposta por Madame Delaunay» ao adiamento da
pictórica, mas de um conjunto simultâneo de artes reunidas para
sua calendarização e subsequente derrocada de todo o projecto.
causar uma impressão.»63 Assim, a galeria seria decorada segundo
Tal insucesso não decorrerá tanto das dificuldades criadas pela
princípios simultaneístas e far-se-iam concertos improvisados so-
entrada de Portugal na guerra – que obrigou Robert Delaunay
bre os motivos dessas decorações e demais obras expostas. Todo o
a deslocar-se para Vigo, já que como cidadão de um país aliado po-
evento seria acompanhado de conferências, esperando-se que re-
deria ser chamado a combater –, nem dos contornos ambiciosos
plicasse o sucesso de exposições simultaneístas anteriores, espe-
que o projecto entretanto ia ganhando, mas do esfriamento das
culativamente atribuídas a Paris, Londres, Lisboa e outras capitais.
59
50
D6
D8
Amadeo de Souza-Cardoso e Lucie
31
Folha de uma agenda de Amadeo,
Pecetto no Tibidabo, Barcelona | Amadeo
D7
AMADEO DE SOUZA-CARDOSO (1887-1918)
na última linha referência a Arturo
de Souza-Cardoso and Lucie Pecetto at
Casa do Ribeiro, Manhufe, n. dat. | House
Retrato de Eduardo Viana
Ciacelli, diretor da Nya konstgalleriet,
the Tibidabo, Barcelone, (1914)
of Ribeiro, Manhufe, undated
| Portrait of Eduardo Viana, 1912
Estocolmo | Page from one of Amadeo’s notebooks with a reference
D10
Frente de bilhete-postal de Lucie Pecetto
D11
D9
à mãe de Amadeo, Miramar, 3 de
Amadeo de Souza-Cardoso e Solá
Lucie Pecetto e Amadeo de Souza-
Setembro de 1917 | Front of a postcard that
no Tibidabo, Barcelona | Amadeo de
Cardoso, Manhufe | Lucie Pecetto and
Lucie Pecetto sent to Amadeo de Souza-
Souza-Cardoso and Solá at the Tibidabo,
Amadeo de Souza-Cardoso, Manhufe, 1915
Cardoso’s mother, September 3rd, 1917
Barcelone, 1914
O Círculo Delaunay
at the bottom to Arturo Ciacelli, director of Nya konstgalleriet, Stockholm
51
D13
Fotografia de Robert Delaunay em frente às suas pinturas, com dedicatória a D12
[Eduardo] Viana | Photograph of Robert
32
Samuel Halpert ao lado do seu cavalete
Delaunay in front of his paintings,
AMADEO DE SOUZA-CARDOSO (1887-1918)
| Samuel Halpert at his easel
dedicated to [Eduardo] Viana
PAR ÍMPAR 1 2 1 | EVEN ODD 1 2 1, c. 1916
D15
Objetos simultâneos, na parede do lado esquerdo Jouets portugais e à direita
D17
primeira composição para Zénith, com
Excerto de carta de Amadeo de Souza-
poema de Blaise Cendrars, fotografia
-Cardoso a José de Almada Negreiros,
tirada na casa «La Simultanée», Vila do
publicada na secção Arte e Artistas da
Conde. 1915-1916 | Simultaneous objects,
revista A Ideia Nacional, p.9, nº20, 13 de
D14
Jouets portugais on the wall on the left and
Abril, 1916 | Excerpt from a letter from
Jantar em casa de Sonia e Robert
on the right, the first essay for Zénith with
Amadeo de Souza-Cardoso to José de
Delaunay, rue des Grands-Augustins, Paris
a poem by Blaise Cendrars, photo taken at
| Dinner at Robert and Sonia Delaunay’s
Delaunay’s house “La Simultanée”, Vila do
D16
Art and Artists of the magazine A Ideia
house, rue des Grands-Augustins, Paris
Conde, 1915-1916
Sonia Delaunay, 1915
Nacional, p.9, n.º 20, April 13th, 1916
52
Almada Negreiros, published in the section
A descrição deste evento é, em grande medida, confirmada
… Sr. José de Almada Negreiros – Na secção Arte e Artistas (Ideia Na-
pelo conteúdo de uma carta que Sonia Delaunay dirigiu a Josep
cional) firmada por V. escapou um erro de informação referente á
Dalmau a 3 de Março de 1916, parcialmente publicada por Rous-
Exposição de Barcelona – em via de organisação deixando enten-
seau. Sabemos através do seu texto que Sonia propõe a cola-
der que esta acção de arte se limita ao horisonte de uma escola.
boração de Cendrars nas conferências, e que, seguindo a atenção
No interesse da Exposição e por conseguinte nosso, venho pedir-lhe
ao mercado de moda e outros bens de consumo, desejava fazer
o favor de retificar no próximo numero da Ideia Nacional, fazendo
dias de exposição especiais com a apresentação de «objectos de
saber ao publico que esta acção artistica é orientada independen-
arte com decoração adequada, por exemplo uma mesa de jantar
temente de toda e qualquer escola onde tomam parte artistas de
com outras composições de objectos de interiores dispostos de
diferentes nacionalidades e personalidades distinctas.
maneira absolutamente nova e inesperada que poderia intitular-
Creia-me de V., etc.
-se “arte da mulher” e que interessa muito ao público». Sonia
Manhufe. Amarante, 9 abril 1916
64
65
promete enviar a Dalmau fotografias de objectos que entretanto criara (vide fotografia D15), mas referindo que o projecto incluía um
Voltarei a esta nota de Amadeo de Souza-Cardoso. Para já, su-
programa de música simultânea definido a partir dos seus contac-
blinho que o projecto de exposição em curso motivou também Jo-
tos em Estocolmo a quem, diz, pedira já «o filme e a partitura» que
sep Dalmau, que em carta de 17 de Abril de 1916 envia indicações
se integrariam na exposição. Ou seja, o programa para Barcelona
precisas a Sonia Delaunay quanto ao que poderia esperar.68 Escla-
incluiria a participação de Arturo Ciacelli, como compositor, cine-
rece, por exemplo, que será impossível cobrar entradas de acesso
asta experimental e galerista (ver texto de Annika Öhrner). Além de
ao espaço da galeria, pelo que se esperava cobrir os custos asso-
tomar parte do evento através de «performances de música de
ciados à exposição a solução seria antes cobrar pelas conferên-
piano improvisada que assegura[ria] um fundo rítmico à projecção
cias. Esclarece também que a ideia de vender «catálogos ilustra-
dos filmes coloridos» que criou com a sua mulher (a artista sueca
dos» poderia ter maior sucesso caso se optasse por subscrições
Elsa Ström), Ciacelli garantiria também a participação de artistas
antecipadas, e, por fim, que apesar de os pintores cubistas terem
suecos e noruegueses na exposição destinada à galeria Dalmau.
vendido algumas obras, seria melhor não contar com vendas:
66
67
A ideia de expor em Barcelona tornar-se-ia central também para Amadeo de Souza-Cardoso. Embora devesse conhecer o
No entanto, se expuserem objectos decorativos, sejam tecidos ou
projecto da exposição-evento que Sonia Delaunay apresenta
outros, terei mais esperança. Não tenho dúvida de que a vossa arte
a Dalmau, Amadeo parece desconhecer porém o modo como a
terá um grande interesse em Barcelona, mas creio-me no dever de
«Exposição de Arte Simultaneísta» foi anunciada nas páginas do
vos alertar ainda que o ponto de vista «Venda» é muito susceptível,
Vell i Nou. É pelo menos isso que se depreende da correcção à no-
e prefiro afastar-vos dos vossos cálculos, já que se vos dissesse
tícia de Almada Negreiros n’A Ideia Nacional:
o contrário, poderia prejudicar-vos.69
O nosso presado amigo e collaborador artistico José de Almada-
Anexos a esta carta seguiam dois documentos importantes:
-Negreiros recebeu do pintor Amadeo de Souza-Cardoso a seguin-
a planta das galerias Dalmau e a súmula de «Conditions pour
te carta:
L’exposition d’art Simultaniste proposé par Madame Delaunay»
O Círculo Delaunay
53
[Condições para A exposição de arte Simultaneísta proposta por
As escolas morreram. Nós, os novos, só procuramos agora a ori-
Madame Delaunay], que deveria ser assinada por todos os partici-
ginalidade».74
pantes. Neste documento Dalmau clarifica as mútuas obrigações,
No primeiro de uma série de artigos que publicará mais tarde na
por exemplo «toda a publicidade respeitante à exposição, catálo-
mesma revista Vell i Nou, a 15 de Dezembro de 1917, com o título
gos, anúncios, etc…» estaria a cargo dos artistas, mas o espaço da
«El Simultanisme del Senyor i la Senyora Delaunay», Robert subli-
galeria seria gratuitamente cedido, assim como cumpriria ao ga-
nhará precisamente essa dimensão essencial do simultaneísmo:
lerista tratar da iluminação e montagem da exposição. E porque 70
Dalmau ignorava ainda a dimensão da exposição que recomenda
O sucesso do Simultâneo em arte não é a descrição de um qualquer
abrisse em Maio ou Outubro, oferece na sua carta a possibilidade
objecto, nem de objectos nem de coisas; mas pelo contrário, é a
de os artistas disporem de um espaço anexo à galeria, se bem que
descoberta do TODO por um métier adequado, oposto ou anterior à
para tal fosse necessário o pagamento de uma indemnização de
divisão, ao fragmentário, e ao Impressionismo, Neo-Impressionis-
100 francos por implicar esvaziar o espaço e esconder os objectos
mo, Fauvismo, Cubisme, Futurismo, Sincronismo, numa palavra, a
que nele se armazenavam (os negócios de Josep Dalmau incluíam
todas as escolas até aos nossos dias.
a venda de antiguidades).
Insisto na palavra «pintura». O Cubismo não é nem pintura, nem
71
literatura, nem arte.
Longe do que Amadeo de Souza-Cardoso pretende na carta publicada n’A Ideia Nacional em Abril, o que a exposição-evento
Ou melhor, é a destruição destas artes, porque o Cubismo não traz nem Futurismo nem o Constructivo.75
de Barcelona deveria configurar através da novidade dos objectos decorativos e apresentações multimédia seria o espectacular
A ideia da «descoberta do todo através de um métier adequa-
aparecimento de uma Internacional Simultaneísta liderada pelos
do» confirma o simultaneísmo como sinónimo de «pintura pura»,
Delaunay na cena internacional dos anos da guerra.
tal como confirma a dimensão de «verdade artística» que Robert
72
Como cedo divulgara a revista Vell i Nou, o simultaneísmo não
Delaunay lhe atribuía desde 1912. Béatrice Joyeux-Prunel de-
podia ser tomado como mais um movimento artístico, ou «esco-
monstrou já como Delaunay «reinterpret[a] a sua produção desde
la», à semelhança do que Robert Delaunay entendia ser o cubismo,
1906 à luz do simultaneísmo que pretende ter pressentido nesse
por exemplo. O sentido desta refutação tem uma dupla dimen-
ano e aplicado desde 1911, numa antedatação evidente»,76 ao mes-
são. Em primeiro lugar, corresponde à afirmação essencialista
mo tempo que nos elucida sobre os termos em que o pintor vinha
Nes-
divulgando a sua obra internacionalmente: a transformação do si-
te sentido, está longe do individualismo pluralista (a orientação
multaneísmo numa empresa de promoção no seio da qual o mode-
«independentemente de toda e qualquer escola onde tomam
lo das iniciativas federativas do Blaue Reiter e da galeria Der Sturm
parte artistas de diferentes nacionalidades e personalidades
ressurgia, se bem que a sua horizontalidade fosse agora substituí-
distinctas») louvado por Amadeo, tanto na carta citada quanto
da por uma formatação piramidal (com Robert Delaunay no topo).77
do simultaneísmo como descoberta da «pintura pura».
73
na entrevista que concederá ao jornal O Dia em Dezembro desse
Em segundo lugar, e complementarmente, a insistência na im-
ano de 1916 – em que à pergunta «Pode dizer-nos a que esco-
portância do métier está associada à valorização que os Delaunay
la de pintura pertence?», responde «Eu não sigo escola alguma.
vinham fazendo da arte popular e dos modos de produção artesa-
54
nais, e bem assim à dimensão política que atribuem a esse resgate
do Este ao Oeste», e, por outro lado, a articulação entre o local e
como tomada de posição contra a cultura burguesa dominante.78
o transnacional. É que, ao contrário do que se sinalizou quanto à
Uma posição que, como vimos atrás, acabará paradoxalmente por
preparação do álbum da Corporation, a Internacional não tinha,
conviver com a celebração do consumo, da cultura de massa e do
nem poderia ter, enraizamento geográfico. O espaço social da In-
entretenimento.
ternacional Simultaneísta é histórico. O seu enraizamento estava
Mais ainda, e como notou David Cottington, este compromisso
definido historicamente: é o campo onde emergiram as próprias
com uma prática artística baseada na atenção ao métier ataca-
vanguardas antes da guerra. Nesse universo de referência, a nova
va também directamente o intelectualismo que Robert Delaunay
dinâmica contracorrente que procura o resgate da «genuinidade»
associa ao cubismo. Nas suas palavras, «o mundo não é a nossa
periférica da arte popular e da paisagem portuguesas não en-
representação recriada pela razão (cubismo), o mundo é o nosso
contra lugar. Isso poderá explicar em grande medida a decisão de
métier». O que para Delaunay contrapunha o idealismo concep-
Robert Delaunay não mostrar nada da sua produção portuguesa
tual do «realismo profundo» proposto por Albert Gleizes e Jean
em Barcelona, nem no grande artigo ilustrado que publica no Vell
Metzinger em Du cubisme (1912) era a sua confiança na possibi-
i Nou a 15 de Dezembro de 1917, nem na exposição que finalmente
lidade de refundar a pertinência da visão retinal ou, como escreve
fará a convite de vários artistas catalães em 1918. Tal como, inver-
Gordon Hughes, «a tentativa de desenvolver um modelo de visão
samente, poderá explicar que o faça no ano seguinte, com Sonia,
para a pintura radicalmente reconcebido». A pesquisa em tor-
em Bilbao, uma vez ultrapassada a urgência do resgate histórico
no dos contrastes simultâneos servia, pois, a construção de uma
do simultaneísmo (refiro-me à exposição no Salão da Associação
«pintura pura» associada a uma nova verdade da visão.
de Artistas Bascos com a qual Josep Dalmau levara os Delaunay a
79
80
81
estabelecer contacto). A Internacional Simultaneísta que reaparece agora em Barcelo-
Ainda que descontando o lado putativamente involuntário, ou
na partilha portanto vários dos «princípios fundadores» definidos
menos informado, de alguns recrutamentos, a Internacional Si-
para a «Corporation Nouvelle», mas corresponde a um projecto
multaneísta liderada pelos Delaunay corresponde sobretudo a uma
anterior que coloca a pesquisa essencialista de Robert Delaunay
tentativa de mobilização transnacional contra o triunfo histórico do
à cabeça de múltiplas potenciais manifestações do simultaneísmo
cubismo e do futurismo como primeiros sinónimos de vanguarda
(das performances musicais ao cinema experimental, da pintura
(e por extensão o dos seus protagonistas, com destaque para Pa-
aos objectos de consumo). Não creio, pois, que devam confundir-
blo Picasso, cujo triunfo Barcelona festeja como seu). Barcelona
-se, ainda que a importância dada ao trabalho colectivo, concreta-
emerge aqui como centro artístico nos anos da guerra, e a Inter-
mente à artesania do pochoir, central na produção das obras sob
nacional Simultaneísta integra a manifestação dessa centralidade,
a chancela da «Corporation Nouvelle», sobreviva no âmbito da In-
independentemente do facto de o desafio que colocava às relações
ternacional Simultaneísta.
de poder instituídas antes da guerra não ter tido quaisquer reper-
Assim sendo, o que sobretudo parece alterar-se com a trans-
cussões.
formação do evento é, por um lado, a horizontalidade da «unida-
Essencial em todo este processo de transformação da «Cor-
de espiritual [e a] unidade prática» a que nas palavras do próprio
poration Nouvelle» numa Internacional mobilizadora foi, como vi-
Delaunay correspondia a «Corporation Nouvelle do Norte ao Sul[,]
mos atrás, o eixo das relações nórdicas proporcionado por Arturo
O Círculo Delaunay
55
Ciacelli.82 Como esclarece Annika Öhrner neste catálogo, Ciacelli
estou ainda a reduzir e transformar a página do Concerto, a de Blai-
declara-se em Estocolmo representante da «Secção do Norte»
se Cendrar [sic] […]. Pense um pouco no prefácio do Álbum.85
do que descreve como uma «Filial da acção de arte de Paris». A 25 de Março de 1916, ao mesmo tempo que reporta o grande su-
O próprio Amadeo de Souza-Cardoso trabalha com pochoirs até
cesso que teria obtido na véspera com a inauguração da exposição
4 de Agosto deste ano de 1916, altura em que decretará o radical
da Nya konstgalleriet, Ciacelli declara aos Delaunay o seu interes-
abandono da disciplina que cimentara a «Corporation Nouvelle».
se pelas «vossas manifestações do lado do sul», rematando num
Nesse início de Agosto de 1916 já nada restava do entusiasmo
francês muito rudimentar: «Estou tentar organizar os artistas
que manifestara pela exposição de Barcelona nos meses anterio-
modernos daqui, para enviarem as suas obras para organizar uma
res. Nas cartas que escreve a Robert e Sonia Delaunay no final de
secção do Norte nas vossas exposições internacionais».83
Março, imediatamente após ter desistido do envio de obras para
O eixo norte-sul que o círculo dos Delaunay estruturava nes-
Estocolmo, o marchand (Dalmau) continuava no centro das suas
te projecto de Barcelona implicava finalmente, não um simples
atenções: pergunta a Sonia se este se encarregaria dos envios das
alargamento da estrutura desierarquizada da «Corporation Nou-
obras, cartões e desenhos ao mesmo tempo que sugere fazer um
velle» (prevista logo no projecto dos álbuns, como vimos), mas a
envio conjunto – «Levarei as minhas coisas até vossa casa para as
emergência de uma rede potenciada pela liderança dos Delaunay
reunir com as vossas» – e informa que está a fazer o pochoir para
e destinada a reforçar a sua posição relativa no panorama da van-
o catálogo.86
guarda internacional como contraponto ao protagonismo histórico de cubistas e futuristas.
A 7 de Abril de 1916 responde também a Robert Delaunay (então já em Vigo), concordando com a necessidade de concentrar esforços para a acção artística:
Como vimos, Sonia Delaunay manteve intacta a ideia de vender «catálogos ilustrados», feitos a pochoir, na exposição de Barcelo-
Permaneço muito entusiasta, e aguardo o catálogo para Barcelo-
na. Eduardo Viana vai manter-se aparentemente fiel ao trabalho
na. Estou pronto desde há bastante tempo e creio que é necessário
com escantilhões, e em meados de Abril dá conta a Robert De-
desenvolver mais acção. Já não restam impedimentos. Vigo está
launay da ideia de fazer ele próprio um álbum: «O meu segundo
muito bem, não se afaste mais. Quanto a Christiania-Estocolmo,
pochoir, que acabei há pouco (o dos brinquedos) será o primeiro da
dê-me os detalhes, mas antes, e sobretudo, Barcelona. 87
série que vou continuar. Gostava que visse este trabalho que terminei: creio que representa um progresso no meu novo métier.»84
O interesse de Amadeo pelo projecto de Barcelona volta a des-
Poucos dias mais tarde dá boas notícias sobre o andamento do ál-
tacar-se numa carta de início de Abril, em que, depois de respon-
bum da Corporation delineado em 1915:
der a Robert Delaunay sobre envios para Christiania-Estocolmo associados às novas iniciativas de Arturo Ciacelli lhe pergunta:
56
Por agora, trabalho ao mesmo tempo quatro páginas [do álbum]: o
«Diga-me também se está tão ardente com a acção artística em
seu poema, a página de Cardoso, a de Madame com o seu retrato
Espanha, porque esta última interessa-me vivamente; é algo que
(este não sei se resultará, é muito difícil), a de Almada Negreiros,
me toca de perto.»88
Exporei convosco em Estocolmo; tenho de me apresentar convosco já que não tenho uma grande quantidade de telas para enviar. Para Barcelona, estou pronto. Em suma, estamos de acordo do ponto de vista da acção artística. Agiremos assim que possível. Eu e Madame falamos muito sobre esta questão e estamos decididos a agir, agir.92
A crise da detenção de Sonia Delaunay também não impediu a recepção da carta de Josep Dalmau com os termos da exposição de Barcelona atrás citada, enviada a 17 de Abril. Os meses recomendados pelo galerista para a exposição – Maio ou Outubro – são mencionados por Amadeo numa carta de 29 de Abril, que responde à primeira hesitação de Sonia quanto à exposição «Barcelona-maio» porque preferia uma grande exposição «Barcelona-outubro». Sugere então a Robert que uma pequena exposição no imediato em Barcelona fosse seguida de outra grande exposição em Outubro. E pede: «dêem-me de imediato notícias de Barcelona para que eu saiba com o que conto».93 De novo a 3 de Maio, num postal: «Digam-me […] se haverá exposição Barcelona mês A disposição de Amadeo de Souza-Cardoso e o seu compro-
de maio. Estou pronto; o pochoir também. Devo enviar-vos tudo
metimento com a disciplina colectiva do pochoir não se alterou
isto para esta exposição? E quanto a Lisboa? Têm resposta de Ne-
depois do traumático episódio da detenção de Sonia Delaunay
greiros? Vou escrever-vos uma carta esta noite. Temos de fazer
relatado por Paulo Ferreira a partir das cartas enviadas pelo pin-
Barcelona no imediato e no Outono também, uma grande expo-
tor português a Robert Delaunay.89 Sonia permanecerá retida no
sição.»94
Porto durante mais de dez dias, enquanto Amadeo se encarrega de
Outras cartas vão retomando esta questão nos dias seguintes,
todos os procedimentos necessários à sua defesa. Como já sugeri
até que a 13 de Maio de 1916 Amadeo anuncia a Robert Delau-
noutros estudos, o caso aparecerá fragmentariamente referen-
nay o envio de cinco telas num rolo para o Hotel França em Vigo:
ciado na tela de Amadeo conhecida como Entrada (33).
«Recebeu-as? Diga-mo por favor. As telas quebram-se muito en-
90
Apesar da gravidade da situação, nenhum dos projectos de ex-
roladas.»95 Amadeo crê então que se farão as duas exposições, já
posição foi posto em causa. A 20 de Abril de 1916, Amadeo, já de
que ao mesmo tempo que pede que o mantenham ao corrente das
regresso a Manhufe, escreve a Sonia Delaunay: «quanto às nossas
acções mais imediatas, aconselha também: «Quanto ao livro ou
exposições, fá-las-emos assim que pudermos».91 Nesse mesmo
catálogo, será preciso prepará-lo muito bem para o Outono; ten-
dia escreve a Robert: deverão expor em Lisboa e no Porto logo que
tem meter nele os escritores da Corporação» (referindo-se certa-
possível, e também
mente a Cendrars, Apollinaire e Almada Negreiros).96
33
AMADEO DE SOUZA-CARDOSO (1887-1918) Título desconhecido (Entrada) | Title unknown (Entrance), c. 1917 O Círculo Delaunay
57
As telas enviadas para Vigo surgem discriminadas poucos dias
Reencontramos aqui a selecção das cinco telas de moinhos, moleiro e janela (34, 35, 36 e 37 ) a combinar com o acento local
depois: Titres et mesures
dos poemas em cor que vimos anteriormente como possivelmente
1 Moulins, 40 × 33
destinados ao álbum programado em 1915 (16 e 27 ). Foi a propósito
2 Moulins fil télégraphique, 54 × 39
destes poemas, e desta selecção, que introduzi atrás a questão do
3 Moulins roue dentée, 49 1/2 × 40
enraizamento geográfico das referências populares trabalhadas
4 Meunier, 34 1/2 × 27 1/2
sob a chancela da «Corporation Nouvelle». O projecto multimédia
5 Fenêtre bleue, 27 × 21
da exposição simultaneísta destinada à galeria Dalmau privilegiaria
Prix
porém outras dinâmicas. Amadeo demonstra agora ter consciên-
1…………………….200 F
cia disso, pelo que apenas concebe que o pochoir e as telas que
2………………….…200
enviou sejam mostradas na pequena exposição que acredita iria
3…………………….150
preludiar a grande exposição empurrada para Outubro.98 A devolução das telas começará por isso a ser insistentemente reclamada a
4…………………….150 5…………………….100 […]
97
partir de 19 de Junho, quando a certeza de que nenhuma exposição iria ter lugar em Barcelona antes do Outono se torna uma evidência.
34
35
AMADEO DE SOUZA-CARDOSO (1887-1918)
AMADEO DE SOUZA-CARDOSO (1887-1918)
Moulins fil télégraphique | Moinhos fio telegráfico | Windmills telegraph wire, c. 1915
Meunier | Moleiro | Miller, c. 1915-1916
58
Entretanto, Eduardo Viana, que sofrera directamente os efeitos colaterais da detenção de Sonia Delaunay acabando também ele preso por alguns dias, conhece um período de grande instabilidade agravado pela proximidade da inspecção militar e pela notícia da morte de Mário de Sá-Carneiro nesta Primavera de 1916.99 Assim, os trabalhos que sucessivamente promete aos Delaunay só serão enviados em meados de Junho.100 Cerca de vinte dias antes, ao mesmo tempo que perguntava, em relação a um desenho recebido, «O disco de Delaunay vai servir de capa para o Álbum?», apresenta esses trabalhos como resultado de um esforçado aperfeiçoamento do seu métier e pergunta também «vous me direz si, de ce cotê-là, j’ai fait des progrès» [dir-me-ão se, sob esse aspecto, fiz progressos].101 Os progressos de Viana não mereceram uma resposta amistosa de Robert Delaunay. O mal-estar centrava-se, tal como se centrará no caso de Amadeo, na questão do pochoir, já que, ao contrário do que esperavam os Delaunay, os trabalhos enviados por Eduardo Viana não obedeciam à disciplina do métier definido desde 1915 para os elementos da «Corporation Nouvelle». A resposta de Viana a Sonia é demolidora: Escrevi ontem uma carta a Delaunay – não o Delaunay que conheci, mas o Delaunay, como ele mesmo bem diz, de todas as portas de bistros de Paris. Trata-se de uma resposta à carta grosseira e vulgar de espírito que me dirigiu, e que cheirava ao peido – perdoe-me – de um senhor demasiado gordo que digeriu mal… a história dos pochoirs. […] Por agora trabalho. Não tenho tempo para intrigas, porque, será que percebem que se pode trabalhar dura e diligentemente sem passar o tempo a fazer esse pobre trabalho embrutecedor dos pochoirs? Não compreendo nada de nada. Com que diabo puderam vocês pensar que os estudos que eu vos enviei eram feitos a pochoir? […] Como podem ver pode obter-se o mesmo resultado que com os po37 36
O Círculo Delaunay
AMADEO DE SOUZA-CARDOSO (1887-1918)
AMADEO DE SOUZA-CARDOSO (1887-1918)
Fenêtre Bleue | Janela Azul | Blue Window,
Moinhos 9 | Windmills 9, c. 1915-1916
1915-1916
59
choirs – e com mais sensibilidade – sem nos degradarmos pelo uso
Entretanto, Amadeo é surpreendido com a decisão dos Delau-
de meios mecânicos. O meu Álbum está simplesmente feito como
nay regressarem a Portugal (ver texto de Margarida Mafra). Face
os estudos, com uma matéria nova.
aos pedidos de indicações que lhe enviam, Amadeo confessa co-
102
nhecer mal o Minho (carta de 3 de Agosto) e desaconselha Espinho Na sequência destas palavras, Viana exige a devolução das suas
e as praias à roda do Porto – «c’est horriblement bourgeois» [é
obras (as recentemente enviadas e «o meu grande quadro»), bem
horrivelmente burguês]106. É nesta mesma carta que Amadeo se
como «das estatuetas negras» que entregara aos Delaunay para
solidariza com Eduardo Viana e anuncia a sua recusa em continuar
que estes tratassem da sua venda.
a produzir pochoirs:
Não foi apenas a amizade com Eduardo Viana que sofreu um importante abalo por conta do desfasamento da importância que
Lamento informar-vos que não farei mais pochoirs. Sou absoluta-
uns e outros atribuíam à disciplina do pochoir. Ou seja, a centralida-
mete nulo neste trabalho, é uma escravatura que não quero con-
de do pochoir para os Delaunay – associada, como vimos atrás, à
tinuar a sofrer. Tentei e depressa me arrependi: é uma indústria
importância que davam ao métier, e à valorização da arte popular e
horrível com resultados maus. Falo por mim. É talvez muito bom
dos modos de produção artesanais – tinha uma dimensão política
para outros, mas, no fundo, é substituir a mecânica pela mecânica.
geral, anticultura dominante, mas também específica, por crerem
É preciso algo que não os velhos sistemas, algo de muito variado
que se opunha ao intelectualismo que associavam ao cubismo.
e muito moderno.
Esta dimensão, que revela até que ponto o desígnio essencialista
Eu trabalho. No fundo, tudo se resume a conhecermos bem o nosso
do simultaneísmo se sobrepôs em todas as actividades dos Delau-
métier – a destruição acabou.107
nay, jamais foi inteiramente partilhada por Amadeo ou Viana, para quem o trabalho com escantilhões não superava uma dimensão mecânica e restringia a expressão individual.
Esta declaração alterou significativamente os termos da correspondência que se seguirá. Em final de Agosto o pintor português
Não espanta, assim, que as relações entre o casal Delaunay e
acusa a extrema ironia de Sonia Delaunay, que lhe declara que a
Amadeo de Souza-Cardoso também se alterassem significativa-
oferta do exemplar de La Prose du Transsibérien está reservada
mente neste Verão de 1916. Como vimos atrás, a partir de meados
para quando Amadeo alcançar uma compreensão mais desenvol-
de Junho, Amadeo pede insistentemente a devolução das telas que
vida dos pochoirs.108 Amadeo devolve a ironia: felicita os Delaunay
preparara para «Barcelona-maio».
pelo sucesso internacional e escreve as palavras que serviram de
103
As cinco telas serão finalmente devolvidas a 11 de Julho, já depois de Amadeo enviar a Sonia Delaunay o exemplar de Rimbaud
epígrafe a este texto: «Amo verdadeiramente a vossa arte; pena é que vocês façam tanta política.»
que o maravilhara a ponto de lhe ter pedido em Maio: «Peço-lhe
A partir daqui, as iniciativas de Amadeo de Souza-Cardoso serão
que me deixe o Rimbaud por mais algum tempo; é um grande apoio
desenhadas a solo. O Outono de 1916 reservava ao pintor português
A correspondência
o reatar da correspondência com Walter Pach – o seu amigo norte-
mantém-se num tom bastante amigável nos dias que se seguem,
-americano que o levara em 1913 ao Armory Show – e com ela o
e Amadeo aproveita para relembrar a Sonia a promessa de oferta
ânimo de uma possível exposição em Nova Iorque. Por essa altura,
de um exemplar de La Prose du Transsibérien.
publica o álbum das 12 Reproductions.109 Um álbum de reproduções
para mim! Não tema nada por este livro.»
104
105
60
fotográficas destinado à divulgação da sua obra que representava
agendar numa data favorável da temporada da galeria).114 A gran-
a antítese da tarefa comum do álbum de pochoirs da «Corporation
de exposição simultaneísta era assim necessariamente empurrada
Nouvelle». Esta publicação antecederia as duas exposições indivi-
para o ano seguinte, em benefício de mostras individuais do casal
duais que famosamente, ainda nesse ano, realizou no Porto (1 a 12
Delaunay que Sonia pede a Dalmau para divulgar, «sublinhando a
de Novembro) e em Lisboa (4 a 18 de Dezembro).
importância estratégica das exposições para a dinâmica moder-
110
na».115 O que a troca de correspondência entre Josep Dalmau e Sonia
A 16 de Setembro, a resposta que Dalmau dirige a Sonia trata
Delaunay nos demonstra todavia é que a preparação da exposi-
efectivamente da sua exposição individual fixada para o dia 15 de
ção simultaneísta, agora programada para o Outono, prosseguiu
Novembro. Consequentemente, os detalhes para o catálogo que lhe
o seu rumo inicial até Setembro.111 Ao longo de todo este Verão, o
são pedidos dizem apenas respeito ao título e número das obras a
galerista sugere vários encontros com Sonia, primeiro em Bilbao ,
expor e à tiragem do catálogo.116
112
e depois em Santander. Nenhum deles se concretizará. Apesar
Uma série de atrasos na recepção das cartas de Dalmau, alguns
disso, e apesar da sua recusa em transportar as obras destinadas
mal-entendidos (nomeadamente a insistência de Sonia Delaunay
a Barcelona directamente a partir de Bilbao, a exposição parece
para que Dalmau viesse a Portugal escolher as obras para a expo-
bem encaminhada. Por isso Dalmau não se coibirá de propor ao
sição), problemas com os expeditores das telas expostas em Esto-
Grupo de Artistas Bascos uma exposição dos «artistas simultâ-
colmo, e a entrega total de Sonia ao projecto do mural destinado ao
neos» reunidos pelos Delaunay na cidade. Escreve a Sonia: «Esta
Asilo Fonseca de Valença do Minho (ver texto de Margarida Mafra)
questão foi bem acolhida, e estão muito disponíveis para tratar
condenarão uma vez mais esta mostra ao insucesso. Quando o
deste projecto seriamente e realizar a exposição». Como vimos
contacto com Dalmau é restabelecido em Novembro, ficamos ainda
atrás, esta proposta acabaria por concretizar-se em 1919, num
a conhecer um outro motivo de força maior para o que agora surgia
contexto que envolve já apenas o casal Delaunay. Será neste sa-
como a necessidade de alterar e adiar a exposição dos Delaunay em
lão que a produção portuguesa dos Delaunay é mostrada pela
Barcelona:
113
primeira vez. No início de Setembro de 1916, muito possivelmente na se-
Através da sua amável carta de 10 do corrente, recebida ontem, fico
quência do desentendimento com os pintores portugueses, algo
agora a saber que alterou o plano por ter tido conhecimento de que
de essencial viria a mudar. Uma carta citada por Pascal Rousseau
está agendada para a próxima Primavera uma Exposição de Artis-
dá conta da intenção de os Delaunay fazerem não uma, mas uma
tas Franceses em Barcelona; realmente esta exposição está em
série de três exposições na galeria Dalmau (seguindo afinal a ideia
projecto e creio que ela será um facto nessa data. A este respeito
de Amadeo de que uma pequena exposição não impedia a realiza-
o seu último plano não me parece mal. É porventura uma boa oca-
ção subsequente de uma grande exposição). As primeiras exposi-
sião a aproveitar. […] Passamos portanto os nossos projectos para
ções não incluiriam senão Sonia e Robert Delaunay. Isto é, haveria
a próxima Primavera? Creio que não devemos hesitar em fazê-lo.117
uma primeira exposição de Sonia, uma segunda de Robert Delaunay (que incluiria obras famosas e literatura sobre as mesmas) e só uma
Pese embora o ânimo de Dalmau, o projecto da exposição si-
terceira mostra reuniria o grupo de artistas do círculo Delaunay (a
multaneísta de Barcelona morre com este adiamento final que
O Círculo Delaunay
61
desmobilizará também o eixo nórdico que Ciacelli tentara orga-
para a Internacional Simultaneísta, ou seja, as 16 obras expostas
nizar.118 Quando a gigantesca exposição de Arte Francesa abre no
correspondem à obra parisiense dos anos anteriores à guerra e
Palau de Belles Artes na Primavera de 1917 não há qualquer con-
promovem a narrativa histórica do pintor sobre a sua obra como
tranarrativa que os Delaunay, e em especial Robert Delaunay, au-
verdadeira alternativa ao cubismo e ao futurismo.
sente da exposição, pudessem oferecer.
Esta reserva da produção portuguesa é assim inteiramente
Barcelona recebe então 1458 obras vindas de Paris que incluí-
contextual. Como já demonstrou Pascal Rousseau, ela está asso-
am objectos de artes decorativas, escultura e pintura dos últimos
ciada à necessidade de consolidar essa narrativa sobre alternati-
cinquenta anos. A intenção de Robert Delaunay de se consagrar,
va delaunayana e, como o artigo do Vell i Nou, encontra o seu fio
e ao simultaneísmo, como verdadeiro herdeiro da grande tradição
condutor na explanação da construção do simultaneísmo desde
francesa que remontava ao impressionismo, em vez de cubistas
os primeiros passos até 1914. No reverso desta medalha está o
como La Fresnaye (presente na exposição), falha completamen-
elevado apreço que Robert Delaunay tem pelo trabalho que vinha
te. Ainda assim, como demonstrou já Pascal Rousseau, Barcelona
completando nos últimos anos. Isso mesmo explica Delaunay a
acabaria por oferecer dois valiosos momentos de resgate a Robert
Arturo Ciacelli em carta de 7 de Agosto ao anunciar-lhe a próxima
Delaunay: primeiro, o longuíssimo artigo que publica no Vell i Nou
publicação do Vell i Nou:
119
em Dezembro de 1917, onde constrói para si esse desejado lugar de verdadeiro herdeiro da tradição da pintura francesa, ao mes-
Vou enviar-lhe um número especial de uma revista de Barcelona
mo tempo que acusa o cubismo de Picasso (recebido nesse ano
sobre a crítica à minha obra – a minha obra antiga, porque as úl-
em Barcelona com um banquete) de não passar de um complot
timas coisas são para a nova época que virá em que as pessoas
alemão, associado que estava ao galerista Daniel-Henry Kahnwei-
compreenderão mais rapidamente a arte de hoje, a arte da nova
O artigo publicado com o título «El Simultanisme del Senyor i
forma. Estas coisas são ainda demasiado novas para poderem ser
ler.
120
la Senyora Delaunay» corresponde a uma longa carta que escreve
mostradas e eu trabalho como um louco depois.122
a Joan Sacs e mostrava a produção simultaneísta de Robert Delaunay anterior à guerra.121 A produção portuguesa era menciona-
Pouco mais tarde, em carta dirigida a Albert Gleizes em No-
da – «Eu gostava que visse as nossas últimas coisas. Creio que é
vembro de 1917, Robert Delaunay volta a deixar um testemunho do
uma surpresa» – mas nada era mostrado, com excepção do mural
valor que atribui à obra que produzira em Portugal. Declara uma
concebido por Sonia Delaunay para o Asilo Fonseca de Valença do
vez mais ter «trabalhado como um louco nos três últimos anos no
Minho, cujo painel principal surgia mesmo reproduzido nas páginas
reconhecimento da natureza» e acrescenta num tom de orgulho
da revista barcelonesa.
nacionalista e xenofobia que marca a sua correspondência com
Um segundo momento corresponde finalmente a uma exposi-
Gleizes sempre que, directa ou indirectamente, se refere a Picas-
ção. Em 1918, sem dúvida impulsionados pelo impacto do artigo de
so: «Há coisas muito novas que ninguém conhece […] reservo as
Dezembro último, um grupo de artistas catalães convida Robert
minhas obras para França em primeiro lugar, quando se tenha feito
Delaunay a expor no salão municipal de Maio, no Palau de Belles
limpeza.»123
Artes. Por uma vez, Robert Delaunay não perde a oportunidade,
Só um ano e meio depois, em Bilbao, num contexto muito di-
mas o que mostra em Barcelona segue as orientações que definiu
ferente, Robert e Sonia Delaunay conceberiam mostrar os resul-
62
tados desse reencontro com a natureza. Expõem então a pintura portuguesa, dominada por modos representativos repletos de referências populares e paisagísticas locais que teria permitido a Robert refundar a pertinência da visão retinal. Esta produção ainda hoje enche de perplexidade todos os que, seguindo a narrativa modernista instituída, entendem a «conquista da abstracção» como uma superior descoberta ou revelação, sem retorno, na história da pintura. Os Delaunay, sempre desafiaram essa narrativa na sua produção paradoxal, produção certamente feita a partir das pesquisas pictóricas fundadas no simultaneísmo, mas sem dúvida feita também de uma fina percepção de que o espaço social da arte é plural, acomoda múltiplas possibilidades, e de que no campo artístico a afirmação de um artista tem sempre uma leitura política. Pode por isso ser estrategicamente definida.
Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
NOTAS 1
«Amo verdadeiramente a vossa arte; pena é que vocês façam tanta política»; Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Sonia Delaunay, 28 de Agosto de 1916; P. Ferreira, Correspondance de quatre artistes portugais, Paris, PUF, FCG, 1972, p. 186
2
V. Huidobro, «Tour», Nord-Sud, Vol. 1, n.º 7 (Agosto 1917), pp. 24-25. Ver também David Bary, «Vicente Huidobro: El estilo Nord-Sud», Revista Iberoamericana, Vol. XXVIII, n.º 53 (Jan-Jun 1962), p. 87
3
Antonio Martínez Risco, «La figura de la Torre Eiffel como paradigma de la modernidad (a propósito de Tour Eiffel, de Vicente Huidobro)», Servicio de Publicaciones da Universidade da Coruña, 1995, p. 118 (consultado on-line em http://ruc.udc.es/bitstream/2183/9363/1/CC-014_art_6.pdf)
4
Jacques Damase, [Introdução], Robert e Sonia Delaunay [catálogo da exposição], Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1982, s.p.
5
Marjorie Perloff, The Futurist Moment: Avant-Garde, Avant-Guerre, and the Language of Rupture, Chicago, The University of Chicago Press [1986] 2003, pp. 2-43
6
«Poèmes inédits publiés par M.me Sonia-Delaunay-Terk», Portugal Futurista [edição fac-similada], Lisboa, Contexto Editora, 1981 [1917], p. 24
7
P. Ferreira, Correspondance…, 1972 D18
Artigo de Joan Sacs «El Simultanismo del Senyor i la Senyora Delaunay» [O Simultaneísmo do Senhor e da Senhora Delaunay], Vell i Nou, 15 de Dezembro,1917 | Article by Joan Sacs «El Simultanismo del Senyor i la Senyora Delaunay» [The Simultaneism of Mr. and Mrs. Delaunay], Velli Nou, December 15th, 1917 O Círculo Delaunay
63
8
P. Rousseau, La Aventura Simultánea: Sonia y Robert Delaunay en Barcelona, Bar-
aqueduct, and water, he recalls the great Portuguese age of discoveries in the fifteenth
celona, Universitat de Barcelona, 1995 e «“El arte nuevo nos soríe”: Robert y Sonia
century. He connects it with Portugal’s discovery of modernism and Portugal as a new source of modernism.»; R. O’Neill, «Modernist Rendez-vous…», 1999, pp. 73-74
Delaunay en Iberia (1914-1921)», Robert y Sonia Delaunay [catálogo de exposição], Barcelona, Museu Picasso, 2000
24 R. O’Neill, «Modernist Rendez-vous…», 1999, p. 74
9
P. Rousseau, «“El arte nuevo nos soríe”…», 2000, p. 44
25 Veja-se a tela pertencente ao Museu de Grenoble recentemente exposta em Sonia
10
Robert Delaunay, «Bulletin de souscription pour l’Album nº 1 des Expositions mou-
Delaunay [catálogo], Paris, Musée d’Art moderne de la Ville de Paris, e Londres, Tate Modern, 2014-2015, p. 94
vantes Nord Sud Est Ouest», Sonia et Robert Delaunay [catálogo], Paris, Bibliothèque Nationale, 1977-1978, p. 117, n.º cat. 376 11
26 P. Rousseau, «Voyelles. Sonia Delaunay et le langage universel de l’audition colorée», Sonia Delaunay [catálogo da exposição], Paris, Musée d’Art moderne de la Ville de Pa-
Robert Delaunay, «Project de prospectus pour l’Album nº 1 Expositions mouvantes
ris, e Londres, Tate Modern, 2014-2015
Nord Sud Est Ouest, 1916», Sonia et Robert Delaunay [catálogo], Paris, Bibliothèque Nationale de France, 1977-1978, p. 117, n.º cat. 377 12
27
des Estampes et Photographies, Fonds Delaunay, YB3-5016-FOL, boîte 1, cahier 1911-
Cf. Mark Antliff, P. Leighten, Cubism and Culture, New York, Thames & Hudson, 2001, pp. 46-49
[Manuscritos de Robert Delaunay], Bibliothèque Nationale de France, Département
28 Cf. D. Cottington, Cubism in the Shadow of War: The Avant-Garde and Politics in Paris
-1925, M 221026
1905-1914, New Haven and London, Yale University Press, 1998, pp. 179 e ss. e B. Joyeux-
13
Cf. P. Ferreira, Correspondance…, 1972, p. 48
-Prunel, Nul n’est prophète en son pays. L’Internationalisation de la peinture des avant-
14
R. O’Neill, «Modernist Rendez-vous: Amadeo de Souza-Cardoso and the Delaunays»,
-gardes parisiennes, 1855-1914, Paris, Éditions Nicolas Chaudun, 2009, p. 182 e ss.
At the Edge: A Portuguese Futurist [catálogo de exposição], Lisboa, GRI, Corcoran Gal-
29 Cf. textos de G. Apollinaire e R. Delaunay publicados em Du cubisme à l’art abstract:
lery, 1999, p. 71. No original: «the richness of hand painted colors with the ability to
Cahiers inédits de R. Delaunay (Documents inédits publiés par Pierre Francastel),
produce multiple images using stencils, a technique also used in folk art» (tradução da
Paris, SEVPEN, 1957, pp. 151 e ss. O artigo «Réalité, peinture pure» de G. Apollinaire seria publicado em alemão no Der Sturm (n.º 138-139) em Dezembro de 1912.
autora) 15
Segunda versão do ponto 2 do folheto-anúncio: «L’ensemble individuel et collectif de
30 Amadeo de Souza-Cardoso, «Page-ecriture. Pochoir en coleurs», Sonia et Robert Delaunay [catálogo], Paris, Bibliothèque Nationale, 1977-1978, pp. 117-118, n.º cat. 381
cet ouvrage represente chacun des artistes qui a exécuté lui même par son propre métier ses ouvres – à cette ouvre Unique chacun et tous y ayant travaillé ont les mêmes
31
droits en ce qui concerne la vente de l’album des EXPOSITIONS NORD SUD EST OUEST.
32 Cf. P. Ferreira, Correspondance…, 1972, p. 48
Cf. R. O’Neill, «Modernist Rendez-vous…», 1999, p. 72
Ce sens inédit cette saveur, cette forme nouvelle de l’édition l’on ne trouve dans aucun
33 Carta de Eduardo Viana a Robert Delaunay, 14 de Março de 1916; P. Ferreira, Correspon-
ouvrage artistique moderne […]» (tradução da autora); [Manuscrito de Robert Delau-
dance…, 1972, p. 113: « Je vais penser à faire quelque chose pour l’album de la Corpora-
nay], Bibliothèque Nationale de France, Département des Estampes et Photographies,
tion. Pour les études qui suivent, je vais reprendre le portrait de Madame, auquel je tiens beaucoup, et c’est justement pour cela qu’il ne marche pas!» (tradução da autora)
Fonds Delaunay, YB3-5016-FOL, boîte 1, cahier 1911-1925, M 221026 16
Sonia et Robert Delaunay…, Bibliothèque Nationale, 1977-1978, p. 117, n.º cat. 378
34 Carta de Eduardo Viana a Robert e Sonia Delaunay, Outubro de 1915 (data atribuída);
17
Sonia et Robert Delaunay…, Bibliothèque Nationale, 1977-1978, p. 117, n.º cat. 379
P. Ferreira, Correspondance…, 1972, p. 93: «Je lui parle [a Almada] de l’exposition de
18
Cf. P. Rousseau, «”El arte nuevo nos soríe”…», 2000, p. 45
Madame – et qu’est-ce qu’il pense de sa collaboration a la publicité? Il fait tout de suite
19
Veja-se carta de Eduardo Viana em Outubro de 1915, onde se lê: «Mes chers amis,
des danses rythmiques em plein trottoir.»
Je suis passé à la “Brazileira”. Almada m’a vu. Il se met à faire un potin incroyable…»
35 «Nous devons travailler très bien: Barcelone pour cette automne, et aussi pour l’hiver.
É nesta mesma carta que Viana dá notícias de Sá-Carneiro aos Delaunay; P. Ferreira,
Ici, impossible, même compromettant, n’importe quelle action. Ah! Mais dites-moi, qu’est-ce qu’il fera le marchand Dalman [sic]? Il doit faire quelque chose!»; Vide nota 20
Correspondance…, 1972, pp. 93-94 20 Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Robert Delaunay, 11 de Junho de 1915; P. Ferreira, Correspondance…, 1972, pp. 69-70 21
36 Vide nota 22 37
Correspondance…, 1972, pp. 70-71: «pour le troisième, j’ai prié [Robert] Delaunay de
38 Mercè Vidal, 1912 L’Esposició d’Art Cubista de les Galeries Dalmau, Barcelona, Universitat de Barcelona, 1996
me pretêr la coupure qu’il a faite à Vila do Conde de mon aquarelle.» 22 Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Robert Delaunay, 16 de Junho de 1915: «Par ce courrier je vous envoie les expositions mouvantes et la Corporation nouvelle: vous em
Jaume Vidal i Oliveras, Josep Dalmau: l’aventura per l’art modern, Barcelona, Fundació Caixa Manresa, 1993
Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Sonia Delaunay, 11 de Junho de 1915; P. Ferreira,
39 Mercè Vidal, 1912 L’Esposició d’Art Cubista…, 1996, pp. 21-22 40 Cf. Robinson, William H., Falgàs, Jordi and Lord, Carmen Belen (Editors), Barcelona and Modernity: Picasso, Gaudí, Miró, Dalí, New Haven, Yale University Press, 2007
prendrez des pochoirs et me reverrez les originaux pour que j’en fasse de mon cotê. Pour le catalogue de Barcelone, je n’ai pas voulu faire de dessin; je trouve que l’ecriture
41
suffit. Dites-moi des nouvelles de la galerie Dalman [sic].»; P. Ferreira, Correspon-
42 Jaume Vidal i Oliveras, Josep Dalmau…, 1993, p. 221
Mercè Vidal, 1912 L’Esposició d’Art Cubista…, 1996
dance…, 1972, pp. 71-72
43 Albert Gleizes, com quem Robert Delaunay mantém uma sólida amizade, expõe na ga-
23 O’Neill vai mais longe, afirmando: «Souza-Cardoso emphasizes travel and motion by
leria Dalmau em 1916. Nesse mesmo ano, Dalmau apoia Francis Picabia na edição da
locating spiraling canvases poised for circumnavigation. With the windvane, bridge or
revista Dada 391; Jaume Vidal i Oliveras, Josep Dalmau…, 1993 e Robinson, William H.,
64
escreve a Sonia Delaunay a 28 de Março dizendo: «Je fais le pochoir pour le catalogue
Falgàs, Jordi and Lord, Carmen Belen (Editors), Barcelona and Modernity…, 2007 44 Cf. P. Rousseau, La aventura simultánea…, 1995, pp. 19-20
et vais préparer mes envois. Aussitôt réponse reçue, donnez-moi tous les détails, si le
45 Vell i Nou, 1 de Março de 1916, pp. 15-16. No original: «Per activar els preparatius ha
marchand se charge de mettre les toiles en châssis, comment vous faites les envois de
estat a Barcelona Mad. [Berthe] Delaunay, illustradíssima amateur d’art. Ella portará
toiles, cartons, dessins, etc. Nous ferons les envois ensemble, c’est bien plus pratique.
aquesta obra i organitza la tal Exposició. Després de París, s’han fet exposicions a Lon-
Je porterai mes choses chez vous pour les joindre aux vôtres. Tenez-moi toujours au courant.»; P. Ferreira, Correspondance…, 1972, p. 100
dres, a Lisboa i altres capitals. Arreu una revelació, un interés, una curiositat...» 46 Carta de Sonia Delaunay a Josep Dalmau, 3 de Março de 1916, onde se lê: «A senhora
59 Carta de Josep Dalmau a Sonia Delaunay, 18 de Março de 1916: «Madame, Reçue
[Berthe] Delaunay informou-me que você estaria disposto a fazer uma exposição das
votre lettre 3 étant de voyage. Je parts por Zaragosse lundi prochain j’arrive à Barce-
minhas obras, bem como dos pintores com que estou em contacto actualmente»; ci-
lone; je vous écrire touts les détails necessaires pour notre exposition en project. Notre
tada por P. Rousseau, La Aventura Simultánea…, 1995, pp. 20 e 22
exposition m’interesse car m’interesse beaucoup votre art. L’entusiasme de ma part ni
Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Robert Delaunay, 16 de Junho de 1915: «Ma
manquera pas, c’est tout le necessaire pour son but.»; Bibliothèque Kandinsky, Fonds
femme partira pour Paris bientôt, et elle m’apportera quelques tableaux que j’enverrai
Delaunay – Boîte 1 – Correspondance et documents divers autour de la participation de
47
Sonia et Robert Delaunay à des expositions, 1910-1926 [archives]
d’ici a Barcelone, et nous pourrions tous faire l’envoie ensemble – c’est plus sûr et plus économique. Pour Lisbonne, je compte avoir des gens de Paris.»; P. Ferreira, Corres-
60 Bibliothèque Kandinsky, Fonds Delaunay, Boîte 1, Correspondance et documents divers autour de la participation de Sonia et Robert Delaunay à des expositions, 1910-1926
pondance…, 1972, p. 72
[archives]
48 P. Ferreira, Correspondance…, 1972, p. 74 49 Escreve também: «Je suis arrivé, gardant très bons souvenirs de tous et de tout.»;
61
50 Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Robert Delaunay, 9 de Janeiro de 1916; P. Fer-
51
Pascal Rousseau, La Aventura Simultánea…, 1995, p. 33; a fonte não está especificada.
P. Ferreira, Correspondance…, 1972, p. 76
62 Pascal Rousseau, La Aventura Simultánea…, 1995, pp. 22 e ss.
reira, Correspondance…, 1972, p. 97: «Quant à l’exposition à Stockholm, je veux bien y
63 Vell i Nou, 1 de Março de 1916, pp. 15-16. No original: «Segurament cap a mig mes d’Abril
envoyer de petites choses: vous me direz comment faire pour l’envoi des tableaux et à
tindrá lloc, a les Galeríes Dalmau, una Exposició d’art simultanista. El simultanisme no
quelle époque – mais, de ceci on parlera. Je dois partir pour Porto mardi prochain et, le
ha tingut encara ressó a Barcelona. No és aquesta una moderna escola pictórica, sinó
mercredi, j’irai coucher chez vous et resterai pour le broyage des coleurs. Ma femme
un conjunt simultani de les arts reunides per a causar una impressió. La galería de Casa
n’ira pas encore; je revendrai la chercher plus tard. J’apporterai une paire de draps et de
En Dalmau estará decorada segons els principis simultanistes. S’hi donarán concerts,
couvertures. J’ai hâte de me défaire de l’huile; ça me donne la neurasthénie.» (tradução
improvisacions sobre motius de les decoracions i de les obres exposades. També hi
da autora)
haurá conferencies, que han de despertar un gros interés. Per activar els preparatius
Notícia-carta de Almada Negreiros a José Pacheco, A Ideia Nacional, n.º 19 (6 Abril
ha estat a Barcelona Mad. [Berthe] Delaunay, illustradíssima amateur d’art. Ella portará
1916), p. 6
aquesta obra i organitza la tal Exposició. Després de París, s’han fet exposicions a Londres, a Lisboa i altres capitals. Arreu una revelació, un interés, una curiositat…»
52 [Catalogue S. Delaunay-Terk], Nya konstgalleriet, Stockholm, 1916, Bibliothèque Nationale de France, Département des Estampes et Photographies, Fonds Delaunay, YB3-
64 Pascal Rousseau, La Aventura Simultánea…, 1995, p. 22; a carta pertence a uma colecção particular que não está identificada.
-5016-FOL, boîte 1, cahier 1911-1925 53 Cf. R. O’Neill, «Modernist Rendez-vous…», 1999, pp. 75-76; citando O’Neill, eu própria
65 Cit. in Pascal Rousseau, La Aventura Simultánea…, 1995, p. 24
repeti esta ideia em vários textos; ver por exemplo Joana Cunha Leal, «Trapped bugs,
66 Cf. Pascal Rousseau, La Aventura Simultánea…, 1995, pp. 24-25
rotten fruits and faked collages: Amadeo de Souza-Cardoso’s troublesome modern-
67 Carta de Arturo Ciacelli a Sonia Delaunay, 9 de Março de 1916 – citada por P. Rousseau, La Aventura Simultánea…, 1995, p. 25 (a proveniência não é indicada)
ism», Konsthistorisk tidskrift / Journal of Art History, n.º 2, 2013, pp. 99-114 54 Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Robert Delaunay, 18 de Março de 1916: «Cher
68 Bibliothèque Kandinsky, Fonds Delaunay – Boîte 1 – Correspondance et documents
Ami, Les magasins étant fermés à l’heure où je suis arrivé à Porto, il m’a été impossible
divers autour de la participation de Sonia et Robert Delaunay à des expositions, 1910-1926 [archives]
de faire l’exchange des couleurs. Ne pouvant finir les tableaux à temps, il faut remettre à plus tard l’expédition des toiles pour l’exposition. Je vous ferai parvenir un mot lorsque
69 Vide nota supra; «Par contre si vous exposez des objects decoratifs, soit en étoffes ou
j’aurait fini mes tableaux. Quant à l’exposition, je suis convencu qu’on aura une vente
d’autres, j’aurais plus d’espoir. Que votre art aura un grand interet à Barcelone, j’en suis
sûre.» (tradução da autora); P. Ferreira, Correspondance…, 1972, p. 98
bien convaincu mais je me crois dans le devoir de vous faire remarquer encore que le
55 Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Sonia Delaunay, 18 de Março de 1916: «Je ne dois
point de vue “Vente”, c’est trop susceptible, et je préfere vous l’eloigner de vos calcules,
pas et ne pourrai pas faire mon expédition de tableaux en ce moment, donc, ne comptez
car si je vous disait le contraire, je pouvait etre la cause de vous rendre des prejudices.» (tradução da autora)
pas avec moi»; P. Ferreira, Correspondance…, 1972, p. 99 56 Notícia-carta de Almada Negreiros a José Pacheco, A Ideia Nacional, n.º 19 (6 Abril
70 Bibliothèque Kandinsky, Fonds Delaunay – Boîte 1 – Correspondance et documents divers autour de la participation de Sonia et Robert Delaunay à des expositions, 1910-
1916), p. 6 57
-1926 [archives]
P. Rousseau, La Aventura Simultánea…, 1995, pp. 22 e ss.
58 Logo depois da desistência de enviar qualquer tela para a Nya konstgalleriet, Amadeo
O Círculo Delaunay
71
Carta de Josep Dalmau a Sonia Delaunay, 23 de Junho de 1916 – Bibliothèque Kan-
65
dinsky, Fonds Delaunay – Boîte 1 – Correspondance et documents divers autour de la
87 Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Robert Delaunay, 7 de Abril de 1916; P. Ferrei-
participation de Sonia et Robert Delaunay à des expositions, 1910-1926 [archives]
ra, Correspondance…, 1972, p. 121: «Je suis toujours très enthousiaste, et j’attends le
72
O termo é de P. Rousseau; Cf. La Aventura Simultánea…, 1995, p. 32
catalogue pour Barcelone. Je suis prêt depuis longtemps et trouve qu’il faut développer
73
Cf. Du cubisme à l’art abstract: Cahiers inédits de R. Delaunay (Documents inédits
plus d’action. Il n’y a plus d’empêchement. Donnez-moi de vos nouvelles souvent, très
publiés par Pierre Francastel), Paris, SEVPEN, 1957, pp. 151 e ss.
souvent. Vigo est très bien, ne vous éloignez pas. Quant à Christiania-Stockholm, don-
74
Catálogo Raisonné Amadeo de Souza-Cardoso, Lisboa, Fundação Calouste Gul75
nez-moi des détails, mais avant et surtout, Barcelone.» (tradução da autora)
Entrevista ao jornal O Dia, 4 de Dezembro de 1916; Maria Helena de Freitas (editor),
88 Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Robert Delaunay, Abril de 1916 (data atribuída);
benkian, 2007 (Vol. I – Fotobiografia), p. 254
P. Ferreira, Correspondance…, 1972, pp. 121-122: «Dites-moi aussi si vous êtes aussi
Vell i Nou, 15 de Dezembro de 1917, pp. 672-673; ver também P. Rousseau, La Aventura
ardent pour l’action artistique en Espagne, car celle-ci m’intéresse vivement; c’est une chose qui me touche de près.»
Simultánea…, 1995, pp. 92-93; «La réussite du Simultané en art n’est pas la description d’aucun object, ni des objects ni des choses, mais au contraire, à trouver l’EN-
89 P. Ferreira, Correspondance…, 1972, pp. 52-53
SEMBLE par um métier adéquat, opposé ou en dehors de la division, du fragmentaire, et
90 Joana Cunha Leal, «Uma entrada para Entrada. Amadeo, a historiografia e os territórios da pintura», Intervalo, n.º 4, 2010, pp. 138-153
de l’Impréssionisme, Néo-Impressionisme, Fauvisme, Cubisme, Futurisme, Synchronisme, en un mot, de toutes les écoles jusqu’à ce jour. J’insiste sur le mot «peinture».
91
truction de ces arts, puisque le Cubisme n’apporte ni le Futurisme ni le Constructif.»
Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Sonia Delaunay, 20 de Abril de 1916; P. Ferreira, Correspondance…, 1972, p. 125
Le Cubisme n’est ni de la peinture, ni de la littérature, ni de l’art. Ou alors c’est la des-
92 Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Robert Delaunay, 20 de Abril de 1916; P. Ferreira, Correspondance…, 1972, p. 126: «J’exposerai à Stockholm avec vous; je tiens à être
(tradução da autora) 76 B. Joyeux-Prunel, Nul n’est prophète en son pays…, 2009, pp. 182 e ss.
avec vous, n’ayant pas grande quantité de tableaux à envoyer. Pour Barcelone je suis
77
B. Joyeux-Prunel, Nul n’est prophète en son pays…, 2009, p. 184
prêt. En somme, tout à fait d’accord au point de vue de l’action artistique. On agira tout
78 Cf. D. Cottington, Cubism in the Shadow of War…, 1998, pp. 179-180
de suite après. Moi et Madame avons beaucoup parlé à ce sujet et sommes décidés à agir, agir.»
79 R. Delaunay, Du cubisme à l’art abstract…, 1957, p. 115; ver também D. Cottington, Cubism in the Shadow of War…, 1998, p. 181; «le monde n’est pas notre representation
93 Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Robert Delaunay, 29 de Abril de 1916; P. Ferreira, Correspondance…, 1972, p. 129
recrée par le raisonnement (cubisme), le monde est notre métier» (tradução da autora). 80 R. Delaunay distancia-se dos cubistas numa carta aberta dirigida a Louis Vauxcelles
94 Postal de Amadeo de Souza-Cardoso a Robert Delaunay, 3 de Maio de 1916; P. Ferreira,
publicada no Gil Blas de 28 de Outubro de 1912 (ainda antes da publicação do Du cubis-
Correspondance…, 1972, p. 129; veja-se também a carta escrita no mesmo dia, idem, p. 130
me). A carta respondia a um artigo de Olivier-Hourcade onde era apresentado entre os fundadores do cubismo com Metzinger, Gleizes e Le Fauconnier; Cf. B. Joyeux-Prunel,
95 Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Robert Delaunay, 13 de Maio de 1916; P. Ferreira, Correspondance…, 1972, pp. 132-133: «Les avez-vous reçues? Dites-moi s’il vous
Nul n’est prophète en son pays…, 2009, p. 185 81
plaît. Les toiles s’abîment beacoup en rouleau.»
G. Hughes, Resisting Abstraction: Robert Delaunay and Vision in the Face of Modernism, Chicago, The University of Chicago Press, 2014, p. 30
96 Vide nota supra; «Quant au livre ou catalogue, il faudra le préparer très bien pour l’automne; tâchez d’y mettre des littérateurs de la Corporation.»
82 P. Rousseau, La Aventura Simultánea …, 1995, p. 22 e ss. 83 Carta de Arturo Ciacelli a Robert e Sonia Delaunay, 25 de Março de 1916; Bibliothèque Nationale de France, Lettres et manuscrits reçu par Robert et Sonia Delaunay NAF
97
Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Robert Delaunay, 16 de Maio de 1916; P. Ferreira, Correspondance…, 1972, pp. 133-134
25650: CIACELLI (Arturo). 49 Lettres. 1915-1956. F. 264-317. Cote MF 7022. R. 10 44
98 Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Sonia Delaunay, 19 de Maio de 1916; P. Ferreira,
36; «je suis en train d’organiser les artistes modernes d’ici, pour envoyer leurs œuvres
Correspondance…, 1972, pp. 134-135: «Mon pochoir était destiné au catalogue d’une
pour organiser dans votre expositions internacionales un section cotê du Nord» (tradu-
possible exposition de suite Barcelone. C’est fini pour le moment.» E adverte: «Pour
ção da autora)
l’automne je ferai d’autres choses, d’autres pochoirs. Les toiles que je vous ai envoyées
84 Carta de Eduardo Viana a Robert Delaunay, 14 de Abril de 1916; P. Ferreira, Correspondance…, 1972, p. 144 85 Carta de Eduardo Viana a Robert Delaunay, [final de] Abril de 1916; P. Ferreira, Correspondance…, 1972, p. 146; «Maintenaint, je travaille à la fois quatre pages [do álbum]: votre poème, la page de Cardoso, celle de Madame avec son portrait (celui-là, je ne sais pas s’il réussirai, c’est très difficile), celle d’Almada Negreiros, et je réduis et je transforme la page du Concert, celle de Blaise Cendrar [sic] […]. Pensez un peu à la préface de l’Album.» (tradução da autora)
ne sont pas non plus pour l’automne Barcelone.» «O meu pochoir estava destinado ao catálogo da possível exposição imediata Barcelona. Está acabado por agora. Para o Outono eu farei outras coisas, outros pochoirs. As telas que vos enviei também não são para o Outono Barcelona.» 99 Cf. carta de Eduardo Viana a Sonia Delaunay, [início de Maio de 1916]; P. Ferreira, Correspondance…, 1972, pp. 153-154 100 Carta de Eduardo Viana a Robert e Sonia Delaunay, 23 de Junho de 1916; P. Ferreira, Correspondance…, 1972, p. 161
86 Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Sonia Delaunay, 28 de Março de 1916; P. Ferreira,
101 Carta de Eduardo Viana a Sonia Delaunay, 3 de Junho de 1916; P. Ferreira, Correspon-
Correspondance…, 1972, p. 100: «Je porterai mes choses chez vous pour les joindre
dance…, 1972, p. 160; «Je travaille de neuf heures à sept heures du soir. Je prends tout
aux vôtres» (tradução da autora)
ce temps-là, pas pour faire beaucoup de choses (c’est-à-dire, pas dans ce but-là),
66
2007 (Vol. I – Fotobiografia), pp. 238-239
mais pour perfectionner mon métier, l’augmenter toujours et tâcher de toujours faire mieux. Je découvre toujours du nouveau, et, une fois fini, je crois toujours avoir fait un pas en avant. Je cherche maintenant dans mes études la décision, la netteté. Et vous
111
Carta de Josep Dalmau a Sonia Delaunay, 4 de Setembro de 1916; Bibliothèque Kandinsky, Fonds Delaunay – Boîte 1 – Correspondance et documents divers autour de la
me direz si, de ce cotê-là, j’ai fait des progrès. Je choisis six de mes études pour vous les
participation de Sonia et Robert Delaunay à des expositions, 1910-1926 [archives]
envoyer, et je suis en train de les refaire. Ce serait dégoûtant qu’elles arrivent collées les
112 Carta de Josep Dalmau a Sonia Delaunay, 23 de Junho de 1916; Bibliothèque Kan-
unes aux autres, bien que le tube que j’ai fait faire soit peut-être assez large. Elles iront
dinsky, Fonds Delaunay – Boîte 1 – Correspondance et documents divers autour de
chez Cardoso, et Cardoso vous les enverra.»
la participation de Sonia et Robert Delaunay à des expositions, 1910-1926 [archives]:
102 Carta de Eduardo Viana a Sonia Delaunay, 6 de Julho de 1916; P. Ferreira, Correspon-
«Madame: Je vous confirme ma lettre de 18 Mai dernier; jusqua present je n’ai recu de
dance…, 1972, pp. 189-190; «J’avais écrit hier soir une lettre à Delaunay – pas le Delau-
reponse, je recu cette semaine deux catalogues de vous. Demain je part pour Madrid ou
nay que j’ai connu, mais le Delaunay, comme il a si bien dit, de toutes les devantures
je resterais seulement deux jours. Mon voyage a eté decidé hier, pourtant impossible de
des bistrots de Paris. C’etait la réponse à sa lettre grossière et vulgaire d’esprit, sentant
vous parvenir [sic] avant. Pourriez vous aller a Bilbao? Je y serais le prochain mardi le 27
plutôt le pet – excusez-moi – d’un monsieur trop gros qui a mal digéré… l’histoire des
et j’y resterai trois jours… quatre en plus au besoin. […] Si nous avons l’occasion de nous
pochoirs. […] Maintenant je travaille. Je n’ai pas de temps pour des commérages, car, en
voir nous pourrions terminer nos projects.»
somme, vous concevez qu’on peut travailler fort et dur sans passer son temps à faire ce
113 Carta de Josep Dalmau a Sonia Delaunay, 22 de Agosto de 1916; Bibliothèque Kan-
pauvre travail abrutissant de pochoirs? Je ne comprends rien de tout. Comment diable
dinsky, Fonds Delaunay – Boîte 1 – Correspondance et documents divers autour de la
avez-vous pu penser que les études que je vous ai envoyées étaient faites au pochoir?
participation de Sonia et Robert Delaunay à des expositions, 1910-1926 [archives]; «Ils
[…] Vous voyez bien qu’on peut obtenir le même résultat qu’avec les pochoirs – avec la
m’on dispensé un bon acueill [sic] a ce sujet et ils sont disposes [sic], tres volontaires a
sensibilité en plus – sans s’avilir par des moyens mécaniques. Mon Album est fait tout simplement comme les études, avec une matière nouvelle.» (tradução da autora) 103 Cf. P. Ferreira, Correspondance…, 1972, pp. 136-138 104 Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Sonia Delaunay, 13 de Maio de 1916; P. Ferreira,
treter [sic] ce project serieusement et faire l’exposition.» (tradução da autora) 114 Cf. P. Rousseau, La Aventura Simultánea…, 1995, pp. 40-41; Rousseau não indica nem a fonte nem a data exacta da carta. 115 P. Rousseau, La Aventura Simultánea…, 1995, p. 41
Correspondance…, 1972, p. 132. Para Paulo Ferreira tratava-se muito possivelmente
116 Carta de Josep Dalmau a Sonia Delaunay, 16 de Setembro de 1916; Bibliothèque Kan-
do exemplar montado por Sonia Delaunay descrito por Robert: «Ces reliures sont des
dinsky, Fonds Delaunay – Boîte 1 – Correspondance et documents divers autour de la
ensembles de papiers de couleurs découpés et collés selon un sens plastique né d’un
participation de Sonia et Robert Delaunay à des expositions, 1910-1926 [archives];
état poétique en relation avec le poète des Illuminations»; idem, p. 181, nota 2
«Madame: J’ai recu votre honoré 12 courrant. [muito possivelmente a carta citada por
105 Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Sonia Delaunay, 31 de Julho de 1916; P. Ferreira, Correspondance…, 1972, p. 183
Pascal Rousseau] J’ai fixé la date de votre exposition pour le 15 Novembre prochain. Maintenant vous n’avez que m’indiquer les details pour le catalogue: noms des œuvres,
106 Cf. P. Ferreira, Correspondance…, 1972, pp. 184-185
nombre de tirage etc. Je vous prie les memes details pour les affiches. A son temps a
107 Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Robert Delaunay, 4 de Agosto de 1916; P. Ferrei-
Barcelone je ferais paraitre aux journaux la nouvelle de l’exposition. N’oubliez pas la ca-
ra, Correspondance…, 1972, p. 184; ver também carta de Eduardo Viana a Sonia Delau-
pacité de la salle. Indique moi le nombre de tableaux que vous envoyez et les mesures.
nay publicada por P. Ferreira, 30 de Junho, in idem, p. 163; «Je regrette de vous dire que
Je vous prie de consulter ma première lettre du 15 Abril inclus les conditions et plan de la
je ne farais pas de pochoirs. Je suis absolument nul dans ce travail, c’est un esclavage
salle. J’ai gardé vos critiques et album pour les faire voir a un de mes clients etabli a New
que je ne veux pas subir. J’ai essayé et vitte regretté: c’est une industrie horrible avec
York pour traiter d’un affaire a propos de votre art. Veuillez me dire dans quel sens vous
des résultats mauvais. Je parle pour moi. C’est peut-être très bien pour d’autres, mais,
etes connus a New York et si vous y [sic] avez exposé dans quel caracter avez fait votre
au fond, c’est remplacer la mécanique par la mécanique. Il faudrait autre chose que les
exposition. En attendant de vous lire recevez…»
vieux systèmes, quelque chose de très varié et de très moderne. Je travaille. Au fond,
117 Carta de Josep Dalmau a Sonia Delaunay, 18 de Novembro de 1916; Bibliothèque Kan-
tout se résume à connaître bien son métier – c’est fini la destruction.» (tradução da
dinsky, Fonds Delaunay – Boîte 1 – Correspondance et documents divers autour de la
autora)
participation de Sonia et Robert Delaunay à des expositions, 1910-1926 [archives];
108 Carta de Amadeo de Souza-Cardoso a Sonia Delaunay, 28 de Agosto de 1916; P. Fer-
«Maintenant dans votre aimable lettre du 10 corrants reçue hier j’apprents que vous
reira, Correspondance…, 1972, p. 186; «Chère Madame, Reçu votre très charmante
avez changé de plan a cause de avoir appris qu’aux printemps prochain une Exposition
lettre. Quand je serai sage et que ma compréhension des pochoirs sera plus dévelop-
d’Artistes Français est progectée [sic] a Barcelone; parfaitement cette exposition est
pée, vous me dédicacerez le Transsibérien. C’est très amusant. […] Je vous felicite pour
en proget [sic] et je crois quelle será un fait pour cette époque. A cet sujet votre der-
vos succès à travers le monde; le travail est vainqueur. J’aime vraiment votre art, c’est
nier plan ne me parais pas mal. C’est peut etre une bonne ocasion a profiter. […] Nous
dommage que vous fassiez tant de politique. L’entraide n’etaint pas naturelle et franche
plassons [sic] donc notres projects pour le printemps prochain? Je crois que nous ne
n’about it jamais.» 109 Cf. Maria Helena de Freitas (editor), Catálogo Raisonné Amadeo de Souza-Cardoso, 2007 (Vol. I – Fotobiografia), pp. 235-238 110 Cf. Maria Helena de Freitas (editor), Catálogo Raisonné Amadeo de Souza-Cardoso,
O Círculo Delaunay
devons pas i [sic] hesiter.» (tradução da autora) 118 Ver também P. Rousseau, La Aventura Simultánea…, 1995, p. 40, nota 29 119 Cf. Jaime Briuhega, Las Vanguardias artísticas en España. 1909-1936, Madrid, Istmo, 1981, p. 195 e J. Vidal Oliveira, «La Exposition de Arte Francés de Barcelona de 1917»,
67
Barcelona Zona Neutral 1914-1918, Barcelona, Fundació Joan Miró, 2014, pp. 155-162 120 P. Rousseau, La Aventura Simultánea…, 1995, pp. 56-57 121 R. Delaunay, «El Simultanisme del Senyor i la Senyora Delaunay», Vell i Nou, n.º 57, 15 de Dezembro de 1917, pp. 672-679; o artigo resulta da troca de correspondência que Robert Delaunay manteve com Joan Sacs (pseudónimo do pintor Feliu Elias) a propósito do seu livro La pintura moderna francesa fins al cubisme, publicado nesse mesmo ano. 122 Carta de Robert Delaunay a Arturo Ciacelli, 7 de Agosto de 1917; Bibliothèque Nacionale de France, MF 7151, F 36-41; «Je vous enverai un numero special d’une revue de Barcelone sur la critique à mon œuvre – mon œuvre ancienne car les derniers choses c’est pour la nouvelle époque qui vient oú les gens comprendront plus vite l’art d’aujourd’hui l’art de la forme nouvelle. Ces choses sont trop nouvelles pour les faire voir encore et je travaille comme un fou aprés» (tradução da autora) 123 Carta citada por P. Rousseau, La Aventura Simultánea…, 1995, p. 73; sobre os comentários xenófobos que Robert Delaunay dirige a Pablo Picasso veja-se Bernard Dorival, «Robert Delaunay et Albert Gleizes: Trente années d’amitié (d’après des documents inédits)», L’Œil, n.º 445, Oct. 1992, pp. 30-37
Joana Cunha Leal é professora auxiliar do Departamento de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa. É também investigadora integrada do Instituto de História da Arte da mesma Universidade, onde é responsável pelo grupo de investigação em teoria, historiografia e crítica da arte. As suas áreas de pesquisa incluem a historiografia do modernismo e o estudo dos modernismos e das vanguardas ibéricos. Foi bolseira Fulbright com o projecto de investigação «Other Modernisms? The case of Amadeo Souza Cardoso» (SAIC, 2011). Foi igualmente bolseira do Stone Summer Theory Institute «Beyond the Aesthetic and the Anti-Aesthetic» (Julho 2010) e «Farewell to Visual Studies» (Julho 2011). Tem diversos artigos de investigação publicados em revistas, antologias e catálogos.
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Catálogo da exposição de Robert e Sonia Delaunay no Salão da Associação de Artistas Bascos, em Bilbao, 1919 | Catalogue of Robert and Sonia Delaunay’s exhibition at the Salon of the Association of Basque Artists, Bilbao, 1919
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