A correlação das medidas sintáticas com o fluxo de veículos automotores no município de Chapecó/SC

May 28, 2017 | Autor: V. Marques Caldeira | Categoria: Space Syntax, Mobilidade Urbana
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A CORRELAÇÃO DAS MEDIDAS SINTÁTICAS COM O FLUXO DE VEÍCULOS AUTOMOTORES NO MUNICÍPIO DE CHAPECÓ/SC

Victor Marques Caldeira Universidade Federal de Santa Catarina Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo RESUMO O estudo da sintaxe espacial possibilita a busca por correlações entre a estrutura do espaço organizado e o uso que a sociedade o dá. Dessa forma, esse trabalho busca analisar as principais medidas sintáticas de forma global na cidade de Chapecó, com o objetivo de buscar correlações com o volume de tráfego de veículos automotores em pontos de contagem de tráfego localizados na região central do município. Com base nessa análise, o trabalho busca identificar a existência de correlações, bem como a medida sintática que melhor corresponde à avaliação e expectativa desses casos naquela cidade.

1. OBJETIVO DO TRABALHO Este trabalho tem por objetivo uma breve apresentação da teoria da sintaxe espacial, através da revisão de textos bibliográficos da área e de sua aplicação com a finalidade de avaliar correlações entre as medidas sintáticas do Município de Chapecó (axiais e por segmento) e o fluxo de veículos em 15 pontos da região central da cidade.

2. A TEORIA DA SINTAXE ESPACIAL A teoria da sintaxe espacial se apresenta como uma ferramenta que é capaz de investigar e correlacionar a sociedade humana com o espaço, observando pela perspectiva de uma teoria geral da estrutura do espaço habitado (BAFNA, S. 2003). Ainda de acordo com o autor, o ponto de partida da sintaxe espacial é o fato das sociedades humanas utilizarem o espaço como forma característica e fundamental para sua própria organização, de forma que o mesmo não é meramente produto do acaso. Dessa forma, a conformação do espaço apresenta uma configuração que pode ser correlacionada com características que a criaram, tanto pelos indivíduos em sociedade, como individualmente. Segundo Hanson, J. e Hillier, B. (1987), as teorias espaciais argumentam que a conformação urbana só pode desempenhar um importante papel na sociedade por existir uma forma de correspondência entre as zonas espaciais e as identidades da sociedade geradora das mesmas. Dessa forma, apesar de não ser possível identificar um fator ou regra própria para sua conformação, a chamada "não correspondência estruturada" é capaz de apontar para uma série de seqüências lógicas para a aparente desordem do crescimento urbano. Ou seja, através da teoria da sintaxe espacial, pode-se tolerar muito mais desordens locais e mesmo assim ainda ter seu comportamento passível de reprodução.

2.1.Os mapas axiais Antes de entrarmos propriamente nas medidas sintáticas, é necessário o estabelecimento de um conceito importante: os mapas axiais. De acordo com Bafna, S. (2003), uma das principais questões da teoria da sintaxe espacial teria sido a redução de qualquer configuração espacial urbana para uma estrutura de grafo que a pudesse representar teoricamente. O problema principal aqui é a conversão de entidades continuas, como vias ou plantas de edifícios, em uma estrutura discreta. Para resolver tal problema, costuma-se utilizar os chamados mapas axiais que, para sua construção, podem ter o procedimento descrito com a seguinte seqüência: deve-se traçar a maior linha reta possível que passe pela parte permeável entre dois espaços convexos adjacentes. O procedimento deve ser repetido iterativamente até que todos os espaços convexos do sistema sejam cruzados pelas linhas axiais.

2.2.As medidas sintáticas As medidas sintáticas analisadas neste artigo são basicamente três: conectividade, integração e escolha. De acordo com Peponis, J. et al. (1989), as medidas podem ser definidas como:  



Conectividade: a quantidade de segmentos ou linhas axiais que se conectam com o segmento em analise. Quanto maior a conectividade de uma linha, maior o número de encontros ou cruzamentos com outras do sistema. Integração: é a função da quantidade média de linhas ou mudanças de direção que são necessárias ser tomadas para acessar de um determinado espaço, todos os demais do sistema. É uma medida de distância sintática, ou seja, medida em passos topológicos ou distâncias angulares e não em distâncias métricas. Ou seja, quanto mais integrada um linha do sistema, maior é a facilidade de acesso a todos os outros espaços do mesmo. Escolha: segundo Peponis et al. (1989) e Hillier et al. (1987), a escolha indica quantos dos caminhos diretos que conectam todos os pares de origem e de destino do sistema são acessados passando pelo ponto particular em análise. De acordo com os autores, um espaço integrado não necessariamente possui elevados valores de escolha.

2.3.Correlações entre deslocamento e medidas sintáticas Peponis et al. (1989), estudou a correlação de algumas medidas sintáticas com o deslocamento de pedestres em seis cidades gregas, nas quais o autor mensurou as correlações dos valores de algumas medidas sintáticas com o fluxo de pedestres através de contagens realizadas nas cidades. Nesse estudo observou-se uma interessante correlação entre a integração axial das vias e fluxo de pedestres nas mesmas. Já Hillier et al. (1993) identificou que as medidas sintáticas podem influir não apenas no fluxo de pessoas nas vias, bem como na distribuição do uso do solo.

Segundo o trabalho de Penn et al. (1998) no qual os autores verificaram as correlações entre medidas sintáticas e os fluxos de pedestres e veículos em várias regiões de Londres, a integração mostrou-se a medida com maior correlação sintática com o fluxo de veículos automotores, sendo a integração axial de raio 3 a que melhor representou o fluxo em vias não principais e a integração axial de raio 7 nas principais vias de cada região.

3. MÉTODO UTILIZADO Para o desenvolvimento deste trabalho foram utilizadas contagens volumétricas de 15 pontos distintos da região central do município, durante uma hora no pico da manhã. Foram considerados na contagem os seguintes tipos de veículos: automóvel, caminhão, ônibus, e motocicletas. Todos os veículos foram convertidos para Unidades de Veículo Padrão (UVPs), afim de que os mesmos fossem normalizados. Dessa forma, o fluxo de veículos nas vias é apresentado na unidade UVP/hora. Posteriormente, foi construído o mapa axial de toda a região urbana do município de Chapecó e, com base nele, construíram-se mapas axiais avaliando as seguintes medidas sintáticas em passos topológicos: conexão global, integração global e escolha global. De forma análoga, também foi analisado o mapa por segmentos da região avaliando as seguintes medidas sintáticas com distâncias angulares: integração global e escolha global. Com base nesses dados, partiu-se para a verificação da correlação de Pearson entre as medidas sintáticas estudadas e a variação do fluxo de veículos motorizados nos corredores selecionados.

3.1. Caracterização da área de estudos O município de Chapecó situa-se na porção oeste do Estado de Santa Catarina, fazendo divisa com o Estado do Rio Grande do Sul, como pode ser observado na Figura 1. Segundo o IBGE, no ano de 2015, sua população estimada foi de 225.795 habitantes. Desses, 91,6% concentram-se na área urbana. Topograficamente Chapecó possui a seguinte configuração: 10% montanhosa e escarpada, 20% plana e suavemente ondulada, 30% ondulada e 40% fortemente ondulada. Possui um parque industrial diversificado onde predomina a agropecuária e o agronegócio.

Figura 1: Localização do Município de Chapecó (em amarelo) Fonte: Próprio autor (2016). A cidade possui uma urbanização recente, tendo sua fundação ocorrida em 1917, porém com grande crescimento urbano apenas décadas mais tarde, tendo sua malha viária sido planejada em grade parte de suas vias apresenta retilíneas cruzando-se em ângulos retos, conforme Figura 2.

Figura 2: Mapa axial da área urbana do município de Chapecó/SC. Fonte: Próprio autor (2016).

3.2. Contagem volumétrica de veículos Foi realizada contagem volumétrica de veículos em 15 pontos da região central da cidade. Os pesquisadores foram posicionados na parte central dos quarteirões e contavam todo o fluxo que passava transversalmente na via. A localização dos pontos de contagem pode ser observada na Figura 3.

Figura 3 – Localização dos pontos de contagem Fonte: Próprio autor (2016).

O volume de tráfego auferido nos corredores apresentados pode ser observado no Quadro 1.

Identificador do corredor Volume de tráfego (UVP/hora)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1121 1215 964 251 669 579 889 179 162 444 11 449 901 53 104

Quadro 1 - Volume de tráfego no horário de pico em cada interseção

3.3.Análise sintática As análises realizadas neste trabalho podem ser divididas em duas partes: análises axiais utilizando a distância topológica e as análises por segmento, utilizando distâncias angulares. Nas análises axiais, foram consideradas as medidas sintáticas de conectividade, integração e escolha. Para as análises por segmento, foram utilizadas as medidas de integração e escolha globais.

3.3.1. Análise axial com distâncias topológicas Avaliando visualmente os resultados através das análises sintáticas nos mapas axiais, é possível observar que as vias mais integradas da cidade encontram-se na sua região central da malha, o que era esperada por sua característica quadriculada e a única ligação com o bairro EFAPI, localizado mais a oeste. O mapa axial de conectividade global pode ser observado na Figura 4.

Figura 4– Conectividade Global (Axial) Fonte: Próprio autor (2016).

A correlação entre a medida sintática de conectividade global com o fluxo de veículos automotores medidos nos corredores foi de 0,7120, indicando uma forte correlação entre as vias globalmente mais conectadas e o fluxo de veículos que a mesma recebe. Já quando avaliamos a integração global, a correlação com o fluxo de veículos cai para 0,5753, indicando uma correlação moderada entre essa medida sintática e o fluxo de veículos. O mapa de integração global da cidade de Chapecó é apresentado na Figura 5.

A análise da escolha global desta prioritariamente as vias centrais que cortam toda a cidade no sentido Norte-Sul, bem como fazem ligação com outros municípios nesse mesmo eixo. Além dessas, destacam-se algumas vias que atravessam a cidade no sentido Leste-Oeste passando pela região central e as vias que fazem a ligação com o bairro EFAPI a oeste da cidade. A correlação encontrada entre a medida sintática de escolha global e o volume de veículos foi de 0,7342, o que indica uma forte correlação e, dentre as medidas sintáticas analisadas através de representações axiais, a escolha global foi a que melhor correlacionou-se positivamente com o fluxo de veículos medido nos corredores centrais da cidade. Isso indica que quanto maior a escolha da via, maior tende a ser o fluxo de veículos a solicitando. O mapa axial de escolha global é apresentado na Figura 6.

Figura 5 – Integração Global (Axial)

Figura 6- Escolha Global (Axial) 3.3.2. Análise por segmentos com distâncias angulares Quando realizada a análise da mesma região, porém levando em consideração as distâncias angulares dos segmentos podemos observar que a região central da cidade continua se destacando, porém com intensidade menor quando comparada a análise axial por distância topológica. O mapa dos segmentos pode ser observado na Figura 7. A correlação entre a integração global neste caso e o volume de veículos nos pontos medidos foi de 0,5858, considerada como uma correlação moderada. A correlação apresenta valor ligeiramente mais elevado no cenário da distância angular do que quando utilizada a distância topológica, de forma que ambas apresentam valores de correlação considerados moderados. Já o cenário de escolha global, considerando distâncias angulares, apresentou correlação de 0,5457 (correlação moderada) com o volume de tráfego nos pontos de contagem. O valor é consideravelmente inferior à correlação obtida quando considerada a escolha global por distância topológica. O mapa por segmentos da escolha global por distância angular é apresentado na Figura 8.

Figura 7– Integração Global (Segmentos)

Figura 8– Escolha Global (Segmentos)

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base nas análises realizadas, pôde-se inferir que os modelos axiais que consideram as distâncias topológicas se mostraram mais aderentes ao correlacionar o fluxo de veículos automotores no horário de pico nos pontos localizados no centro da cidade de Chapecó. No Quadro 2 são apresentados os valores da correlação entre cada medida sintática global estudada com o volume de tráfego auferido nos 15 pontos de contagem, em ordem de correlação, da maior para a menor.

Medida Sintática Escolha (Axial/Topológica) Conectividade (Axial/Topológica) Integração (Segmento/Angular) Integração (Axial/Topológica) Escolha (Segmento/Angular)

Correlação com UVPs 0,7342 Forte 0,7120 Forte 0,5858 Moderada 0,5753 Moderada 0,5457 Moderada

Quadro 2 - Resumo das correlações entre as medidas axiais estudadas e o volume de tráfego mensurado Entre as medidas sintáticas estudadas, a escolha axial foi a que obteve a maior correlação com fluxos de veículos automotores. Já a escolha, quando analisada por segmento e distância angular, obteve a mais fraca das correlações analisadas.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAFNA, S. Space Syntax: A Brief Introduction to Its Logic and Analytical Techniques. Environment & Behavior, v. 35, n. 1, p. 17–29, 2003. HANSON, J.; HILLIER, B.The Architeture of Community: Some New Proposals on the Social Consequences of Architectural and Planning Decisions. Architecture et Comportement/Architecture and Behaviour, v. 3, n. 3, p. 251–273, 1987. HILLIER, B.; HANSON, j.; BURDETT, R.; PEPONIS, J.; PENN, A. Creating life: or, does architecture determine anything? Architecture et Comportement/Architecture and Behaviour, v. 3 n. 3 pp. 233-250, 1987. HILLIER, B.; PENN, A.; HANSON, J.; XU, J. Natural movement: or, configuration and attraction in urban pedestrian movement. Environment & Planning B, v. 20, 1993. PENN, A.; HILLIER, B.; BANISTER, D.; XU, J. Configurational modelling of urban movement networks. Environment & Planning B, v. 25, p. 59-84, 1998. PEPONIS, J. et al. The spatial core of urban culture. Ekistics, v. 56, n. 334/335, p. 43–55, 1989.

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