A Crise da Representação

May 30, 2017 | Autor: Silas Carmo Teixeira | Categoria: Historiografía, História Da Historiografia
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História da Historiografia Geral
A Crise da Representação
Silas Carmo Teixeira
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Resumo:
O presente trabalho tem como finalidade explicar como a aceleração do tempo, a crise da verdade e da representação, entre outros eventos, ajudaram a criar a necessidade de se questionar a história (veracidade da história, para que serve a história), de buscar por uma resposta a todas essas questões, e de como essas respostas eram problematizadas criando cada vez mais teorias (historicismo especificamente) para explicar esses problemas.

Na idade média e moderna já havia a construção do questionamento de qual seria a função da história, como podemos saber se ela é verdadeira e o que é a história. Seu significado mudava com o tempo criando ainda mais questões a serem respondidas e problematizadas. Na idade Média era comum pensar história como agente pedagógico, com objetivo de ensinar o homem a não repetir os mesmos erros do passado. O passado era reivindicado como exemplo, como orientador do "presente", a história era vista como "história mestra da vida".

"Aquilo que chamamos retrospectivamente de "aprender com os exemplos" era convicção de que existia uma correlação estável entre determinadas ações e seus resultados positivos ou negativos. Identificar estas correlações, transpô-las para diferentes contextos e aplica-las como receitas em situações do dia-a-dia eram as formas básicas como as sociedades medievais usavam o conhecimento sobre o passado. A pratica de aprender com exemplos sobreviveu muitos séculos sem ser questionada, porque a crença de que o tempo é um grande agente natural e inevitável de mudança no mundo cotidiano não estava institucionalizado até o início da era moderna." (Gumbrecht. "Depois de aprender com a história" Em 1926 – Vivendo no limite do tempo, 1997 p.460).

Na idade moderna começa a ser sentida, com mais intensidade, a sensação da perda do significado da história como "mestra da vida", a intensificação da perda desse significado já estava sendo construída desde o início da época medieval. Inevitavelmente no séc. XVlll se perde a ideia da história como mestra da vida; o aceleramento do tempo a invenção da imprensa entre outros acontecimentos e invenções fizeram com que as pessoas começassem a questionar a função da história, pois se ela não serve para ensinar para que serviria? A experimentação do tempo também muda, a aceleração do tempo entre outros fatores influenciou as pessoas a sentirem o tempo como algo em constante movimento, com "futuro" indefinido podendo ser positivo ou negativo.

Após o auge da sensação da crise (da perda do significado da história) no séc. XVlll e XlX, a história da historiografia tenta buscar o verdadeiro passado (verdade), essa duvida da "verdade" na história foi respondida várias vezes, mas fracassava mais tarde. Surgiu então outra pergunta na idade moderna: para que serve a história? Além dos questionamentos da história como verdade, as pessoas não sabiam o que fazer com a grande bagagem de informação histórica que tinha, para que ela serviria? Além do questionamento da sua veracidade, teria um proposito ou uma função (exata, cientifica) para ela?

Para tentar suprir os questionamentos desta crise, no séc XVIIl, historicistas, filósofos da história e antiquários utilizaram de seus métodos para tentar resolve-los. Cada qual com seu método, tinham o objetivo de manter a história como uma vertente que poderia ensinar "algo que se poderia confiar, algo verdadeiro", sem mudanças, sabendo eles que dependendo das perspectivas, essa história poderia ser mudada.
"J. M. Chladenius aplicou este modelo à história e deixou claro que toda narrativa histórica é escrita a partir de um certo ponto de vista individual (sehePunkt). Essa tese leva a duas consequências importantes. Primeiro, se vários historiadores relatam o mesmo evento de maneiras muito diferentes, não estamos autorizados a inferir que seus relatos sejam falsos, e que a história, em geral, seja o campo dos erros e das mentiras. Apenas devemos levar em consideração que suas histórias são moldadas por suas perspectivas individuais, ou seja, por diferentes circunstâncias sociais, psicológicas, locais e temporais. Com base nos relatos e documentos apresentados, temos que elaborar uma imagem nova e mais completa do evento passado. A segunda implicação é: mesmo um relato histórico extremamente crítico, que leve em consideração cada documento disponível, é afetado pela situação particular em que foi escrito." (Scholtz, Gunter. "O advento da consciência histórica e o conceito de historicismo" p.65).

A história através de métodos passa a ser dividida em relato e acontecimento, o acontecimento era algo que aconteceu e que poderia se perder, pois caso não fosse registrado na sua totalidade, verdadeira e pura, se tornaria história (passado), podendo assim ser descrita por autores "expectadores de fatos" e mais tarde narradores, pessoas que ouviram falar do acontecido, e fizeram o relato".
""Autor", "agente" ou "expectador" são mais confiáveis que "narrador" [Nachsager]: a transmissão oral predomina sobre a escrita. A velha história se inicia, então, quando não há mais testemunhas oculares sobreviventes e nem se pode mais interrogar testemunhas auditivas vinculadas aos acontecimentos. Com a morte das testemunhas estendem-se os limites da velha história, limites que aumentam na mesma medida em que as testemunhas desaparecem." (Koselleck. "Ponto de vista, perspectiva e temporalidade – Contribuição à apreensão historiográfica da história." Passado futuro. Contribuição à semântica dos tempos históricos. 2006 p.168).
O relato (narrativa do acontecimento por pessoas que não experimentaram, mas ouviram falar ou leram) poderia ser passado, por diferentes tipos de perspectivas, este, não era visto da mesma forma por todos, o que poderia se aplicar ao acontecimento onde várias pessoas poderiam experimentar um mesmo acontecimento, mas ter percepções diferentes sobre ele.
"...pois a articulação temporal da história passa a depender do ponto de vista ao qual for relacionado. Chladenius partiu do princípio de que a história e sua representação seriam coincidentes. Mas uma separação metodológica se faria necessária para que se pudesse interpretá-la e julgá-la. "Uma história constitui uma unidade em sim mesma; sua representação, entretanto, é distinta e diversificada."" (Koselleck. "Ponto de vista, perspectiva e temporalidade – Contribuição à apreensão historiográfica da história." Passado futuro. Contribuição à semântica dos tempos históricos. 2006 p.168).

A perspectiva do próprio historiador na pesquisa da história também poderia influenciar na percepção do relato de forma diferente.
"Se o historiador tem que interrogar suas testemunhas, levando em conta o depoimento das melhores e colocando de lado as outras, como pode ser que seu próprio ponto de vista não exerça influência sobre a representação que faz dos fatos? Naturalmente, a questão já emergia antes, não menos sob a influência da doutrina da perspectiva, conhecida já desde o renascimento. Comenius, em 1623, compara a atividade do historiador com a perspectiva do telescópio, colocando sobre os ombros como uma trombeta que aponta para trás. Com esse olhar em direção ao passado, acrescenta, buscar-se adquirir ensinamentos para o próprio tempo e também para o futuro. Seriam surpreendentes as perspectivas curvas, que, por sua vez, mostram tudo sob luz diferente. É por isso que não se deve "confiar que (...) uma coisa se comporte na realidade da mesma forma como ela se apresenta a quem a contempla." (Koselleck. "Ponto de vista, perspectiva e temporalidade – Contribuição à apreensão historiográfica da história." Passado futuro. Contribuição à semântica dos tempos históricos. 2006 p.167,168).
Mas os iluministas e intelectuais da época não estava apenas procurando o conhecimento solido de um acontecimento, mas sim queriam entendê-los, descobrir como a história funciona no mundo de forma geral, e como ela poderia ser usada (uma função para história), surgindo uma teoria que abrangesse todos os fatos, a teoria do progresso. O progresso pode ser definido como um processo cumulativo no qual o estágio mais recente é sempre considerado preferível e melhor, ou seja, qualitativamente superior, ao que o precede. Mas essa teoria não poderia ser aplicada a tudo, no geral como eles queriam, mostrando por exemplo que essa teoria não poderia ser aplicada na cultura, a arte, além de generalizar o progresso para todas as civilizações, pois nem todas civilizações buscam ou tem a mesma visão de progresso.
"Entretanto, pouco a pouco surgiu uma nova visão da história, iniciada com a discussão sobre o pressuposto da filosofia do progresso e suas consequências. Investigações e reflexões levaram alguns filósofos do Iluminismo a notar a dificuldade de falar de progresso em todas as esferas da vida humana e da cultura. " (Scholtz, Gunter. "O advento da consciência histórica e o conceito de historicismo" p.68)
"Os assim chamados antiqui e moderni da Academia não chegaram a um acordo, e o resultado foi a visão de que qualquer obra de arte pode ser perfeita no interior do seu próprio estilo, e que é impossível discutir racionalmente a respeito da beleza de estilos históricos. Podemos discutir a respeito do progresso da ciência e das tecnologias, mas não dispomos de quaisquer critérios racionais para falar sobre o progresso das artes plásticas" (Scholtz, Gunter. "O advento da consciência histórica e o conceito de historicismo" p.68)

Com a revolução francesa a crise se intensificou ainda mais, pois o imprevisto da revolução abalou as bases da teoria do progresso, desconstruindo a ideia e compreensão da história na época. Questões eram respondidas e mais tarde criticadas, problematizadas, criando novas questões.
"Como no final do século XVIII os resultados imprevistos da Revolução Francesa geraram ceticismo em relação à possibilidade de construção racional do Estado e da religião, as seguintes perguntas Tornaramse cada vez mais urgentes: Como é possível compreender o curso do mundo em mudança? Podemos acreditar no progresso da sociedade e da cultura? É a razão humana realmente capaz de guiar o desenvolvimento histórico ou deveríamos confiar nas tradições existentes? Respostas diferentes a estas questões levaram a diferentes conceitos de história."(Scholtz, Gunter. "O advento da consciência histórica e o conceito de historicismo" p.69)

Então assim como o antiquário, que foi criticado pelo pirronismo e outras correntes de pensamentos dessa época que tentavam usar o método para responder as questões da crise, o historicismo também "perdeu sua força".
"Qualquer que seja hoje o significado do termo historicismo (do qual se abusou perversamente), ele com certeza inclui as alterações de perspectiva forçosamente decorrentes do transcorrer da história. Novas experiências se agregam, antigas são ultrapassadas, novas expectativa se abrem. Logo colocaram-se novas questões em relação ao passado, que nos levam a repensar a história, a observá-la sob outros olhos, a demandar novas investigações." (Koselleck. "Ponto de vista, perspectiva e temporalidade – Contribuição à apreensão historiográfica da história." Passado futuro. Contribuição à semântica dos tempos históricos. 2006 p.161).
A história fracassou ao se adaptar a ciência legitimando sua veracidade mesmo utilizando métodos para esse fim. Todos os métodos criados para que a história pertencesse e fosse aceita no meio acadêmico como ciência e assim ser uma forma confiável de resgatar o passado como verdade e ensinamento era criticada nem mesmo o historicismo conseguiu responder a essas questões formadas dando continuação a crise, e a criação de novas teorias para responder essas perguntas.

Referência:
GUMBRECHT, Hans Ulrich. "Depois de aprender com a história" Em 1926 – Vivendo no limite do tempo, 1997;
SCHOLTZ, Gunter. "O advento da consciência histórica e o conceito de historicismo;
KOSELLECK, Reinhart. "Ponto de vista, perspectiva e temporalidade – Contribuição à apreensão historiográfica da história." Passado futuro. Contribuição à semântica dos tempos históricos. 2006.



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