A crítica à “utopia do século XXI”

July 5, 2017 | Autor: Edegar Bernardes | Categoria: Sustainable Development, Sustainability
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A crítica à “utopia do século XXI” Bruno Nogueira Di Pierro Edegar Bernardes Silva João Neves Neto

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título deste artigo faz referência ao livro de José Eli da Veiga intitulado ‘Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI’, o qual, diante de todas as ambigüidades e insuficiências referentes à expressão, é anunciada a utopia protagonista do século XXI (leia-se desenvolvimento sustentável ou suas variantes) em detrimento da utopia socialista do século XX. A sustentabilidade, palavra amplamente adotada atualmente, ganhou diversas definições ao longo dos anos, sendo muitas vezes utilizada de forma indiscriminada dentro de corporações, na mídia e pela população em geral. No entanto, este termo é utilizado alternadamente com o conceito de desenvolvimento sustentável, o qual surge no Relatório de Brundtland elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1987. A propósito, sustentabilidade é um conceito mais antigo e restrito à Ecologia, no qual processos ecológicos apresentam-se em equilíbrio de tal forma que há sustentabilidade entre as formas de vida e os outros componentes do sistema. Por outro lado, desenvolvimento sustentável, de acordo com o Relatório de Brundtland, seria o processo que “satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. É possível notar em diversos artigos e sites a falta acuidade conceitual quanto ao uso dos termos citados acima, sobretudo se a eles

adicionarmos o conceito do tripé econômico, social e ambiental (Triple Bottom Line), formulado por John Elkington em 1994. Divulgado e amplamente aceito durante a Conferência do Meio Ambiente em Johanesburgo em 2002 (Rio+10), o desenvolvimento econômico, social e ambiental em equilíbrio uniu-se ao conceito de sustentabilidade como uma alternativa salvadora do meio ambiente que não comprometesse os fatores econômicos e sociais. Assim, desenvolvimento sustentável e sustentabilidade tornaram-se sinônimos e sua aplicação é encontrada em diversos setores, implícita ou explicitamente, inclusive em documentos oficiais como, por exemplo, na Política Estadual do Meio Ambiente de São Paulo, na qual é dito: “...compatibilização do desenvolvimento econômico e social com a preservação da qualidade do meio ambiente e

do equilíbrio ecológico”. Ainda, no mesmo documento, é citado o desenvolvimento sustentável de acordo com o Relatório de Brundtland. Quando esses conceitos foram definidos, com vistas a dar alternativas à crise ambiental que se instalara em fins do século XX, havia uma preocupação em tentar adaptar os problemas ambientais ao sistema socioeconômico vigente, no caso, o capitalismo tardio. Diante dessa perspectiva, diversas críticas foram feitas questionando a compatibilidade do sistema em si com a conservação do meio ambiente. A princípio, o economista Georgescu-Roegen não criticou diretamente tais conceitos, mas sua elucidação sobre os processos econômicos do ponto de vista físico-energético e a sua incompatibilidade com o sistema Terra trouxe dúvidas sobre a capacidade de um tripé social, econômico e ambiental se sustentar, uma vez que o desenvolvimento econômico (e isso traduz-se em crescimento econômico dentro da Economia Clássica) não pode ser compatível com a conservação do meio ambiente. Como título de curiosidade, Georgescu-Roegen ao final de sua vida revelou seu profundo ceticismo quanto ao conceito de desenvolvimento sustentável e seu oportunismo para justificar a manutenção do pensamento econômico vigente. Mais recentemente, outros autores também avaliaram os conceitos de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade. Fabio Vizeu e colaboradores da Fundação Getúlio Vargas, por exemplo, citam a “falsa noção de conciliação entre o capitalismo e a questão ecológica”. Para Chris Sneddon, “o conceito de Desenvolvimento Sustentável possui bases teóricas ambíguas e não considera de forma profunda as forças estruturais que estão por trás dos problemas ambientais”. E entre outros críticos estão Phil McManus (“políticas, histórias e discursos da sustentabilidade”), Peter Marcuse (“sustentabilidade não é suficiente”),

Debashish Munshi & Priya Kurian (críticas à responsabilidade social corporativa e ao desenvolvimento sustentável). Diante das críticas e divisões de opiniões, estabeleceram-se os atuais conceitos de Sustentabilidade Forte (Economia Ecológica) e Sustentabilidade Fraca (Economia Ambiental). Esta, mais relacionada aos economistas tradicionais, prevê a compatibilidade ou equilíbrio de processos produtivos da economia e do meio ambiente com o auxílio do progresso científico e tecnológico ilimitados; já aquela, defendida por Herman Daly, Robert Constanza e outras pessoas com maior apelo ambientalista, baseia-se na percepção de incompatibilidade entre crescimento econômico e conservação dos recursos naturais, considerando inclusive a possibilidade de um decrescimento ou estagnação econômica, algo que Georgescu-Roegen também sugeriu nos anos 70. Independente das novas percepções que surgem, torna-se claro de aqui em diante a adequação do sistema econômico às necessidades ambientais e sociais e não o oposto, como fora sugerido pelos conceitos anteriormente discutidos. Esse é um dos próximos desafios para as organizações, sociedade e governos para estabelecer novos tipos de relações econômicas, menos agressivas ambientalmente e mais inclusivas socialmente. A Economia, de uma teoria mais abrangente, passou à prática como uma teoria mais tecnicista, na qual recursos, mão-de-obra (com termos abomináveis tais quais ‘Recursos Humanos’ e ‘Mercado de trabalho’) e capital são substituíveis. Assim, é provável que este é o momento de ampliar os horizontes teóricos do campo econômico e pôr em prática soluções de economia alternativas em pequena escala que considerem os campos não somente ambientais e sociais, mas também culturais, espirituais e outros aspectos humanos.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA LUIZ DE QUEIROZ CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GERENCIAMENTO AMBIENTAL

Disciplina: Educação Ambiental

Artigo sobre Sustentabilidade - A crítica à “utopia do século XXI”

Bruno Nogueira Di Pierro Edegar Bernardes Silva João Neves Neto

Piracicaba 2015

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