À CULTURA BRASILEIRA, FILOSOFIA OU ENSAIO

June 1, 2017 | Autor: Rafael Silva | Categoria: Theodor Adorno, Ensaios, Cultura Brasileira
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO–UNIRIO FACULDADE DE FILOSOFIA

Professora: Nilton Santos

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FILOSOFIA DA CULTURA BRASILEIRA II

Aluno: Rafael Silva

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Data: 30/06/2106

À CULTURA BRASILEIRA, FILOSOFIA OU ENSAIO?

A forma do ensaio preserva o comportamento de alguém que começa a estudar filosofia e já possui, de algum modo, uma ideia do que espera. Ele raramente iniciará seus estudos pela leitura dos autores mais simples, cujo common sense costuma patinar na superfície dos problemas onde se deveria se deter; em vez disso, irá preferir o conforto com autores supostamente mais difíceis, que projetam retrospectivamente sua luz sob os mais simples ... A ingenuidade do estudante que não se contenta senão com o difícil e o formidável é mais sábia do que o pedantismo maduro, cujo dedo em riste adverte o pensamento de que seria melhor entender o mais simples antes de enfrentar o mais complexo (Adorno, O Ensaio como Forma)

Para uma estrita e absoluta filosofia da cultura brasileira, seria necessário trazer à letra todo o conhecimento objetivo e universal prévio já produzido sobre esse objeto, a cultura brasileira. Afinal, a verdadeira philia pela sophia não pode deixar de fora desse amor detalhe algum. Do contrário, seria nada mais que um amante desatento. Consequentemente, teria de ser evidenciado também, e pormenorizadamente, todo o conhecimento objetivo e universal sobre o Brasil, objeto, digamos assim, “mais primordial”, sem o qual uma cultura acerca de si não seria possível. Como se esse montante objetivo e universal já não fosse suficiente, o conhecimento outrossim objetivo e universal sobre a Europa, continente a partir do qual o Brasil veio a ser por determinado propósito histórico, não poderia ficar de fora. E assim por diante. Teríamos de recuperar os gregos, os sumérios, mais ainda, os macacos e, como primórdio inultrapassável, o Big Bang.

Com efeito, não faltariam letras, palavras nem conceitos para essa gigantesca empresa do tamanho da história do universo. Agora, tempo para as suas escrita e leitura, certamente seria escassíssimo. Já aqui surge um desestímulo em começar a filosofar sobre a cultura brasileira. De que forma, então, poderia ser iniciado um pensamento minimamente positivo sobre essa cultura sem que se seja obrigado contemplar todo o conhecimento universal atinente a esse objeto específico? O filósofo alemão Theodor Adorno, no seu “O ensaio como forma”, tem a dizer que “o ensaio pensa em fragmentos, uma vez que a própria realidade é fragmentada”. Então, se de fato a realidade é, digamos assim, partida, não deve haver problema em se tomar a cultura brasileira como uma parte em si e por si mesma, ainda que uma visão totalizante, melhor dizendo, tradicional, diga o contrário. Todavia, como podemos estar certos de que não seremos negligentes com a relação que esta parte que é a cultura brasileira tem estabelecida com o restante das partes, qual seja, o todo da história universal? Se, como diz Adorno, “o ensaio encontra sua unidade ao buscá-la através dessas fraturas, e não aplaina a realidade fraturada”, poderia também o objeto ensaiado encontrar a sua unidade se for buscado por meio da fratura que o separa do todo, e até mesmo mediante suas próprias fraturas? Há que que se ensaiar para ver! Quanto à certeza de sucesso, o alemão é categórico: “o ensaio não apenas negligencia a certeza indubitável, como também renuncia ao ideal dessa certeza. Torna-se verdadeiro pela marcha de seu pensamento” apenas. Pensemos então ensaisticamente as vantagens do ensaio em relação à filosofia tradicional na abordagem da cultura brasileira. E pensemos com Adorno. Todavia, para nos afastarmos da rigidez normativa da filosofia tradicional, doravante o filósofo não mais será “encarcerado” por aspas. Para não nos perdermos, quer dizer, para não nos misturarmos demasiadamente nesse ensaio, o pensador alemão, daqui para frente, falará em itálico somente. Arriscar ensaiar a cultura brasileira é um desafio diante das exigências do pensamento acadêmico tradicional, que em verdade exigiria uma filosofia da cultura brasileira, e não uma “forma alternativa” de pensar tal objeto. E isso porque a corporação acadêmica só tolera como filosofia o que se veste com a dignidade do universal, do permanente, e hoje em dia, se possível, com a dignidade do originário. Porém, como pode a cultura de um país, particular e dinâmica por essência,

pretender tais universalidade e permanência? Não pode! Por isso o ensaio, pois ele não quer procurar o eterno no transitório, nem destilá-lo a partir deste, mas sim eternizar o transitório. Já aqui podemos propor que essa eternização da transição, inerente à forma ensaio, deve ser procurada, e com sorte encontrada na própria atividade cultural. Ao contrário do que se pensa, a cultura é muito menos instituição pétrea do que transição fluida. Tal fluidez, não obstante, apresenta dificuldades para a filosofia tradicional. Já o ensaio, por ser uma forma impertinente de pensar as coisas, se revolta sobretudo contra a doutrina, arraigada desde Platão, segundo a qual o mutável e o efêmero não seriam dignos da filosofia; revolta-se contra essa antiga injustiça cometida contra o transitório. Mesmo que a filosofia tradicional diga que se ater ao transitório ao se pensar a cultura brasileira é dar oportunidade ao equívoco, e que de fato venhamos a nos equivocar nessa senda ensaística, afinal, humanos, demasiado humanos, o ensaio não utiliza equívocos por negligência, ou por desconhecer o vetor cientificista que recai sobre ele. Antes, o equívoco vem reforçar a virtuosa aventura de se estar desbravando terras nunca antes pisadas, ou, no mínimo, andando sobre elas de formas nunca antes “andadas”. Aqui não é demais lembrar Hegel, por mais sistemático e tradicional que ele tenha sido no seu pensar: o acerto é o que surge do processo de muitos erros. Aposto que nenhum filósofo tradicional conseguiria definir a cultura brasileira de uma só tacada, sem antes se equivocar muitas vezes, sem incorrer em muitos, digamos assim, “acidentes científicos”. Por isso a forma ensaística não deve se preocupar com o risco ou com a “estratégia do equívoco”. Até porque, na alergia contra as formas, consideradas como atributo meramente acidentais, até mesmo o espírito científico acadêmico aproxima-se do obtuso espírito dogmático, o que certamente é muito pior. Já o ensaio recua, assustado, diante da violência do dogma. Com efeito prefere o risco do equívoco do que o perigo mortificante da substância inerte e inquestionável. Além do que, em se tratando de cultura, ou seja, instituição produzida por uma não sei que quantidade de acertos e erros de milhões de indivíduos e movimentos, fechar-se ao equívoco é privar-se de no mínimo metade da gênese desse objeto. Podemos ir mais longe até. Quem já não ouviu falar no famosos “jeitinho brasileiro”? Pois é, essa instituição cultural, bem conhecida de todos e praticada pela maioria -ou do contrário não seria deslavadamente tácita-

tem a nos dizer que, em se tratando da cultura brasileira, é de certa forma a cultura do “errinho brasileiro”, do “equivocozinho brasileiro”. Por isso o ensaio, pois só ele não deixará de pensar, mais ainda, de expressar e de expor essa parte essencial da cultura brasileira. Na filosofia tradicional, melhor dizendo, no instinto do purismo científico, qualquer impulso expressivo presente na exposição ameaça uma objetividade que supostamente afloraria após a eliminação do sujeito, colocando em risco também a própria integridade do objeto, que seria tanto mais sólida quanto menos contasse com o apoio da forma. Mas e se a cultura brasileira não for outra coisa além de uma forma, uma forma cultural única aliás, e ainda por cima produzida por seus sujeitos, dispensar o âmbito formal e a “sujeição a que ele está sujeito” não seria querer falar de alho usando a língua do bugalho, como faria o cientista? O ensaio, porém, em vez de alcançar algo cientificamente ... se esforça em espelhar a disponibilidade de quem, como uma criança, não tem vergonha de se entusiasmar com o que os outros já fizeram. E o que é uma cultura senão o que os outros já fizeram? Qual seria, portanto, a melhor forma de mergulhar nessa obra coletiva e monumental que é a cultura brasileira senão com a alegria e a disponibilidade de uma criança? Quanto mais não seja, a vida que é uma cultura não tem como ser tocada devidamente pelo método científico, uma vez que ele é mais morte do que vida propriamente dita. A ciência ressuscita seus próprios axiomas para enterrar a vida com eles. Já quem escreve ensaisticamente compõe experimentando; vira e revira o seu objeto, o questiona e o apalpa, o prova à reflexão; o ataca de diversos lados ... pondo em palavras o que o objeto permite vislumbrar sob as condições geradas pelo ato de escrever. Em uma palavra, dá vida ao seu objeto. Ou ainda, dá mais vida do que ele mesmo, em si, já possui. Por acaso vivificar a cultura brasileira ao pensá-la não é fazer com que seja mais cultura do que se fosse acossada pelo método mortificante do pensamento tradicional? O ensaio não segue as regras do jogo da ciência e da teoria organizadas, segundo as quais, como dizia a formulação de Spinoza, outro filósofo sistemático e dogmático, a ordem das coisas seria o mesmo que a ordem das ideias. O modo como o ensaísta se aproxima da cultura brasileira seria, antes, comparável ao comportamento de alguém que, obrigado a falar a língua do país, em vez de ficar balbuciando a partir de regras que se aprendem nas escolas – leia-se:nas

velhas academias eurocentizadas e nos seus rígidos manuais pós-escolásticos. Quando tiver visto trinta vezes a cultura brasileira, em contextos sempre diferentes, estará mais seguro de seu sentido do que se tivesse consultado o verbete com a lista de significados, geralmente estreita demais para das conta das alterações de sentido em cada contexto. E uma cultura é o que senão contexto; contextos: todos juntos formando algo vivo e dinâmico e de certa forma incontextualizável em uma só visada, em um só axioma, em uma só fórmula? O ensaio mergulha nos fenômenos culturais como numa segunda natureza, numa segunda imediatidade, para suspender dialeticamente, com sua tenacidade, essa ilusão de que a cultura pode ser sintetizada. A cultura, mais ainda a vivaz cultura brasileira, é, antes, um panteão de teses e antíteses que só fazem se multiplicar. Sintetizá-la, com o objetivo de extrair dessa síntese uma verdade universal, como tenta fazer o pensamento científico, é matá-la. Em troca, o ensaio pretende alabar a pretensão da cultura, levando-a a meditar sobre sua própria inverdade, essa aparência ideológica na qual a cultura se manifesta como natureza decaída. Ensaiar a cultura brasileira é fazer dela a única realidade que há para ser pensada e dita. Em suma, é não se permitir escapar desse objeto, de acordo com as regras dele, e não outras, cunhadas em países distantes e há séculos. Quanto mais não seja, sob o olhar do ensaio, a segunda natureza toma consciência de si mesma como primeira natureza. Ensaiar a cultura brasileira é se recusar a deduzir essa cultura a partir da natureza, como se se tratasse de uma outra coisa. Mais ainda, é reconhece a essência natural da própria cultura, porque o ensaio reflete justamente sobre isso: a relação entre natureza e cultura, porém, ao modo de uma relação de uma mesma coisa consigo própria. Já o pensamento científico tradicional pensaria a cultura como a substituição, ou ainda como a subjugação da natureza. Empresa sempre mortificante essa a do velho pensamento acadêmico. Mas a cultura não é, para o ensaio, um epifenômeno que se sobrepõe ao Ser e deve, portanto, ser destruído. Para a ciência, a cultura é ou pura oposição à natureza, ou “impureza pura” a ser decantada definitivamente mediante uma fórmula ou axioma mínimos, que, no entanto, como até hoje vemos, nunca foram cunhados com um mínimo de elegância, sem dizer justiça. Mas a cultura brasileira não se opõe à natureza de forma alguma. Esta constitui inalienavelmente aquela. E sé é impura, o é no sentido estrito de uma hibridez inalcançável por qualquer redução, mas nunca no sentido de sujeira, de

mistura indevida. Ou seja, de uma perspectiva ensaística, natureza e cultura não estão em conflito. Os ideais de pureza e asseio ... trazem as marcas de uma ordem repressiva que é o próprio coração duro das ciências. Cientificamente, exigir-se-ia do pensamento sobre a cultura brasileira uma objetividade tamanha a ponto de haver algo de que seria dito “cultura”, mas, de cultura mesmo, isto é, de vida e de complexidade dinâmica, nada... Falar de uma cultura tão plural e virtuosamente híbrida como a brasileira não pode ser tarefa para métodos rígidos trazidos anacronicamente e analogicamente do velho mundo, pois este nunca teve de se deparar com essa pluralidade toda. Quantas raças, credos, cores, raças, tesões, tensões, cheiros e gostos fazem a cultura do Brasil? Não que qualquer ensaio possa citar todas, muito menos esgotá-las. Vício não do ensaio, mas virtuose plena da cultura brasileira. Mesmo assim, incapaz de dizer tudo sobre a cultura do Brasil, o ensaio é a forma que pode ir muito mais longe, muito mais do que a ciência e a filosofia juntas. E isso porque não faz como a ciência, isto é, não tenta identificar raças, credos, cores, raças, tesões, tensões, cheiros e gostos entre si e, posteriormente, a um único objeto, pois isso, na verdade, em se tratando de cultura, é impossível. Em contrapartida, o ensaio leva em conta a consciência da não-identidade, mesmo sem expressá-la. Como dito antes, aquele que interpreta ensaisticamente a cultura brasileira corre sério risco de ser estigmatizado pelo pensamento tradicional como alguém que desorienta a inteligência para um devaneio impotente. Mas o ensaio percebe claramente que a exigência de definições estritas serve há muito tempo para eliminar ... aquele aspecto irritante e perigoso das coisas, que vive nos conceitos. Aqui, a potência de uma cultura inteira. E quando o ensaio é acusado de falta de ponto de vista e de relativismo ... o que está em jogo é justamente aquela concepção de verdade como algo “pronto e acabado”, coisa que, definitivamente, uma cultura não é nem tem como ser, muito menos a brasileira, jovem e cheia de vida. Se no ensaio a totalidade não deve ser hipostasiada, ele é a forma mais conveniente ao pensamento sobre a cultura brasileira, uma vez que ela não pode e não deve sofrer hipostasia. Do contrário deixaria de ser o que é: vida instituída, em plena e ininterrupta instituição. E se cada formação do espírito, sob o olhar do ensaio, deve se transformar em um campo de forças, pensar ensaisticamente a cultura brasileira é contemplar todas as forças que a constituem em um campo espiritual. E por que não dizer um campo

de futebol, “campo” quase que central nessa cultura? Com efeito, o jogo que é o futebol pode dizer muito do objeto que é a cultura brasileira: nunca previsível, sempre surpreendente, sempre nova e outra, ainda que com o mesmo nome. Ao contrário, quanto mais a experiência espiritual tentasse pensar o futebol cientificamente, como quem busca uma a pedra filosofal ou santo graal universal das partidas de futebol, tanto mais correria o risco do vexame. Já quem ensaia, se cometer uma gafe, é porque o jogo é feito delas também, e não só de acertos previsíveis, em relação aos quais bastaria seguir metodicamente de um a outro até o resultado final conveniente a todas as partidas. Na vida, na cultura, assim como no futebol, a exigência de continuidade na condução do pensamento tende a prejulgar a coerência do objeto, sua harmonia própria. Com o ensaio, o que ganhamos, é a oportunidade de nos livrarmos da pretensões de completude e de continuidade e de resultado, ideais teoricamente superados na contemporaneidade. Sem dizer que a harmonia uníssona da ordem lógica dissimula a essência antagônica daquilo sobre o que se impõe. E uma cultura é o que senão uma colcha harmoniosamente conflituosa de suas próprias contradições? A descontinuidade é essencial ao ensaio; seu assunto é sempre um conflito em suspendo. A vantagem do ensaio em tratar da cultura brasileira está em que só ele tem a ver com os pontos cegos e antagônicos de seus objetos. Ele quer desencavar, com os conceitos, aquilo que não cabe em conceitos ... polarizar o opaco, liberar as forças aí latentes. E uma cultura é o que senão uma universo de forças latentes em constante e plena manifestação? E que forma melhor para expressar essa dinâmica senão o ensaio, uma vez que ele, ao contrário do pensamento tradicional, tem por arte expor a tensão entre exposição e exposto, não para parar por aí, mais, por uma demiurgia expressiva incontrolável e essencial, permitir que a totalidade resplandeça em um traço parcial, escolhido ou encontrado, sem que a presença dessa totalidade tenha de ser afirmada? Com efeito, a totalidade que é produzida pelo ensaio é a totalidade do que não é total, uma totalidade que, também como forma, não afirma a tese da identidade entre pensamento e coisa, mas a afirmação de um pensamento acerca de uma coisa, o que, por consequência, faz essa coisa vir a ser melhor pensada. Afinal, o que são as coisas senão aquilo que delas pensamos? Desde a definição do banquete de Platão,

foram prescritos às ideias como “existindo eternamente”, não se modificando ou desaparecendo, nem se alterando ou restringindo. Porém, paradoxalmente, o ensaio permanece sendo “ideia”, na medida em que não capitula diante do existente, nem se curva diante do que apenas é. Em se tratando de uma cultura, da cultura brasileira, por exemplo, o ensaísta pensa não para parar de pensar, mas porque, enquanto pensa, aquilo sobre o que pensa é mais, e por isso mesmo cada vez mais digno de ser pensado. Agora, não poderíamos eleger o ensaio como a melhor forma de pensar a cultura brasileira se não trouxéssemos à letra uma das características mais especiais dessa cultura: a alegria. Com efeito, o brasileiro é internacionalmente conhecido por sua alegria, sua espirituosidade; inabaláveis seja em que crise for. Temos que no ensaio, as satisfações que a retórica quer proporcionar ao ouvinte são sublimadas na ideia de uma felicidade da liberdade face ao objeto, liberdade que dá ao objeto a chance de ser mais ele mesmo do que se fosse inserido impiedosamente na ordem das ideias. Portanto, sem mistério, podemos ter certeza que o ensaio faz jus à alegria, à liberdade e à felicidade brasileira, muito mais do que qualquer pensamento científico, que, no máximo, nos traria um mínimo, uma fórmula, um axioma, uma verdade de pretensão universal que, não obstante, encontraria poucas adesões particulares, e, portanto, muito pouca alegria. E isso porque só o ensaio corresponde justamente ao princípio de prazer do pensamento. O que foi dito até aqui seria bastante para concluirmos definitivamente que o ensaio é a melhor forma para pesarmos a cultura brasileira? Pode ser que sim, mas não podemos fazer como a ciência e dar uma prova cabal disso, uma vez que o ensaio, de fato, não chega a uma conclusão. Mas isso não deve nos preocupar, afinal, essa sua incapacidade reaparece como paródia de seu próprio a priori. A ciência diria que não concluir é uma heresia, não? Certamente. Mas isso é apenas papo velho e elitista dela. E diz isso porque não consegue compreender – ou, se compreende, não entende- que a lei formal mais profunda do ensaio é a heresia. E isso porque apenas a infração à ortodoxia do pensamento torna visível, na coisa, aquilo que a finalidade objetiva da ortodoxia procurava, secretamente, manter invisível. Sendo hereges, isto é, ensaísticos, portanto, tornaremos visível o que é a cultura brasileira.

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