A cultura e a língua como fator de reforço das relações entre Timor-Leste e Portugal

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PAULINO, Vicente. 2015. A cultura e a língua como fator de reforço das relações entre Timor-Leste e Portugal. Comunicação apresentada na conferência do Grupo Parlamentar de Amizade Timor-Leste e Portugal, no dia 15 de Junho de 2015 na Assembleia República Portuguesa em Lisboa (está aguardar a publicação em versão do livro organizado pelo Parlamento Nacional de Timor-Leste).

A cultura e a língua como fator de reforço das relações entre Timor-Leste e Portugal1 Vicente Paulino2

1. A transversalidade dos princípios de reconhecimento

Timor-Leste e Portugal são hoje indiscutivelmente um actor singular e plural de reconhecimento dos laços históricos que os unem no passado. Se, para muitos, essa expressão é sobretudo visível por ser uma grande potência cultural a nível nacional, a nível de lusofoneidade e internacional, alicerçada na afirmação de identidade comum e na cooperação bilateral única e responsável; além disso, não se afasta a progressiva influência, enquanto actor histórico-cultural e político-cultural, em muitos cenários de cooperação sustentada pela “relações dialógicas” que sempre em busca do seu caminho de definição enquanto territórios inculturados pelos diversos conceitos que denominam o objecto político sem fronteiras. Evidencia-se, com efeito, o reconhecimento da transversalidade dos princípios de cooperação bilateral culturalmente estabelecidos, é traduzido pela abrangência progressiva, não apenas nos grandes espaços, mas de outras extensões da cirurgia cultural na projecção dinâmica operatória fundamentada pela exibição da cultura local ao global, e que até da nossa contemporaneidade comandada pela formação das novas humanidades. Trata-se de uma centralidade valorativa tendencial gradualmente reconhecida pela nossa própria existência enquanto fazemos parte do universalismo da humanidade com interesses comuns. A intensificação diversificada e globalizante das problemáticas e o protagonismo acrescido de uma cooperação bilateral, que tendencialmente cultural, continua a ser um processo de consciencialização progressiva para conferir a evidência de uma comunhão epistemológica do senso comum na afirmação de uma identidade cultural, histórica e religiosa.

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O texto foi apresentado na conferência do Grupo Parlamentar de Amizade Timor-Leste e Portugal, no dia 15 de Junho de 2015 na Assembleia República Portuguesa em Lisboa. 2 Doutorado em Estudos de Literatura e Cultura, especialidade em Cultura e Comunicação pela Universidade de Lisboa. Professor Auxiliar Convidado da Universidade Nacional Timor Lorosa’e, e Investigador Colaborador do CEMRI da Universidade Aberta de Lisboa – [email protected].

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PAULINO, Vicente. 2015. A cultura e a língua como fator de reforço das relações entre Timor-Leste e Portugal. Comunicação apresentada na conferência do Grupo Parlamentar de Amizade Timor-Leste e Portugal, no dia 15 de Junho de 2015 na Assembleia República Portuguesa em Lisboa (está aguardar a publicação em versão do livro organizado pelo Parlamento Nacional de Timor-Leste).

O reconhecimento da existência de interesses comuns de Timor-Leste e Portugal é derivado por uma evidência empiricamente verificável a partir da convergência de dois aspectos fundamentais. Trata-se, em primeiro lugar, da identificação de interesses colectivos alargados ao conjunto das práticas culturais (efectuadas e/ou realizadas) intergeracionalmente consideradas, pois coexistem entre umas às outras. Em segundo lugar, trata-se da verificação de que no plano das políticas externas de dois países, os interesses comuns sobre a produção cultural e disseminação da mesma, não podem ser expressados apenas consequentemente pela densidade de correspondência diplomática no processo de formulação das políticas culturais entre ambos, mas na densidade de definição dos objectivos prioritários de acções culturais que se conduzem a gente capaz de pensar na cultura e língua como icónicos primários do estado-nação e com elas podemos formar “novas humanidades na era globalização tecnológica” (vide Fidalgo, 2008)

2. Semântica de cooperação bilateral no mapeamento cultural

É necessário fazer o rebalancing na política de cooperação entre Timor-Leste e Portugal, nomeadamente no que se toca ao “mapeamento cultural”, pelo que se reflecte a cultura como um dos factores de reforço das relações bilaterais, considerando-a como centralidade da profunda relação com a outros sectores, como justiça, saúde, turismo e etc. Essa política devia ser entendida não como um alinhamento de saltos altos, mas como um realinhamento inevitável na valorização dos princípios históricos e laços de amizade que se fazem brilhar a glória de dois povos no mundo, e que hoje se posiciona na região geopolítica mais vantajosa, onde o cruzamento de diferentes culturas e as relações comerciais continuam a ser cruciais, quer na ásiapacífico, quer na europa transatlântica. Timor-Leste e Portugal devem fortalecer a sua credibilidade política e económica na produção e disseminação dos valores culturais nos países que têm relações diplomáticas, ou com outros países que têm legados históricos comum (Por exemplo, Japão – cem anos da entrada dos jesuítas; na Malásia – Malaca; Tailândia; e Indonésia) incluindo também as outras instituições internacionais. Para isso, é necessário dar a importância das regras de “governança da cultura local” em que a primazia de “ancestralidade cultural” não pode ser instrumentalizada ideologicamente, mas como centro de reconhecimento da sua primazia existencial enquanto 2

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elemento de afirmação da identidade de um povo e de uma nação. É por isso que as vezes, muito difícil consolidar uma governança da cultura local efectiva à governança da cultura global quando cada país não apresenta ideias próprias nesse sentido. Timor-Leste e Portugal (incluindo outros países de língua oficial portuguesa) são centros de biodiversidade cultural e linguística que se encontram visivelmente na ordem de produção, e continuam a ser um assunto de debates académicos, de instituições governamentais e sociedades civis. Entretanto, a semântica da cooperação bilateral no âmbito da cultura entre dois países deve ser revista, uma vez que esta não é homogénea. O Portugal, como é óbvio, tem múltiplas faces com a sua posição geográfica de europeianista e transatlântica. Timor-Leste tem assumido como um país “mestiço na língua e na cultura” (Paulino, 2011)3 que fica firmado no espaço de encruzilhadas culturais e torna-se também como um país de democracia sólida e funcional com um forte processo de negociação política de reconciliação concertada. É necessário preocupar-se com o futuro de relações bilaterais, nomeadamente com as questões de legitimidade democrática na resposta à crise económica e financeira que afecta o mundo globalizado. No entanto, a questão central aqui é saber se se pode alcançar uma mútua relação entre Timor-Leste e Portugal mais integrada, relativamente no que diz respeito a nacionalização dos sucessos e a bilaterização de cooperação que em determinada circunstância não são concretizadas, se não estabelecesse uma política de harmonização do diálogo entre ambos na densidade temporal e de pluralidade do tempo histórico que empregam à noção cultural como, por um lado, disciplina intelectual independente e colectiva, por outro, como instrumento de negociações diplomáticas Sabe-se que os dois países já injectaram vários acordos de cooperação desde finais do ano de 1999 até a presente data, sendo assim, é necessário injectar um novo impulso nas relações bilaterais, centrado na produção artística e cultural, incluindo a disseminação da mesma. É necessário que Portugal considera Timor-Leste como um país preponderante na preservação das identidades de portugalidade na Ásia através de registos dos seus patrimónios materiais e imateriais, e continue a considerar como um parceiro estratégico insubstituível na ordem da política bilateral, comunitária e internacional, baseado nos conceitos de relações intercultural, 3

Esta asserção é revelada por Vicente Paulino ao jornalista Paulo Barbosa do Jornal Tribuna de Macau, datada de 25 de Fevereiro de 2011, cujo título “A língua portuguesa entre encruzilhadas culturais: as pluralidades da lusofonia”.

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multicultural, pluridimensional e intercontinental. É por isso mesmo que precisa reforçar a “participação de Portugal e de Timor-Leste em processos de integração regional, permitindo a aproximação entre a Europa e o Sudeste Asiático para a intensificação das suas relações”, que já está emanada no quadro de acordo bilateral de cooperação, estabelecido em 20 de Maio de 20024. Aliás, a evolução das relações bilaterais estabelecidas entre Timor-Leste e Portugal é politicamente organizada em projectos de grande escala, de matriz humanamente cultural e económica que tem reflectido através da história, mas em certos casos não beneficiam os timorenses. Em virtude deste, é necessário reforçar a política de diplomacia cultural, porque ela em si assume como um instrumento importante de aproximação entre os povos, contribuindo para abrir mercados para a indústria cultural e para o estabelecimento de vínculos culturais e linguísticos. É também uma ferramenta útil para estimular os diálogos políticos e económicos, fomentando o entendimento mútuo e criar a confiança e respeito entre as nações. A semântica da cooperação no mapeamento cultural entre Timor-Leste e Portugal e ainda com outros países de parceiros estratégico do desenvolvimento tem ser assentada em cinco princípios fundamentais: apropriação – os projectos e agendas culturais propostos sejam implementados de forma apropriada e tal apropriação deve ser conjugada com a política de dignificação dos interesses comuns; alinhamento – garantindo que todos os projectos voltados a valorização e promoção da cultura (inclusive a política de consolidação da língua portuguesa) devem ser alinhados com as prioridades e programas do governo; harmonização – harmonizar o maior compromisso entre Timor-Leste e Portugal com medidas construtivas e mais eficaz para fazer-brilhar as suas múltiplas identidades e culturais no mundo; resultados - todos os projectos culturais e educativos terão a ser desenvolvidos para alcançar os resultados desejados de acordo com o plano de implementação, considerando também os prazos como indicadores para obter o bom resultado; responsabilidade mútua – assegurando que os dois países são responsáveis pela projecção da política cultural e enquanto tal é necessário ter a maior nível de transparência, de entendimento e de confiança mútua.

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Vide o “ACORDO QUADRO DE COOPERAÇÃO ENTRE A REPÚBLICA PORTUGUESA E A REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE TIMOR-LESTE”, feito em 20 de Maio de 2002 – http://d3f5055r2rwsy1.cloudfront.net/images/stories/acordos/timor_aqc.pdf (acesso em 6/6/2015).

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Na dialéctica de cooperação bilateral estabelecida entre Timor-Leste e Portugal, por um lado, valorização dos atributos das soberanias, e os objectivos de acrescentamento da genética da diplomacia intelectual e genética da diplomacia do estado independentemente se traduz por um determinado grau de consciencialização, cujo contexto se concretiza na liberdade de “agir comunicacional” e na “acção afectiva” (vide Habermas, 1987) culturalmente fundamentada pela epistemologia da arte dialógica e/ou relações dialógicas; e por outro lado, as exigências determinadas por uma interdependência crescente e pela decorrente necessidade de cooperação, registam-se momentos de transição no processo de desenvolvimento das sociedades na exibição da cultura local ao global. Diante disso, se evidenciam os elementos conducentes à consciencialização das pessoas para o carácter de gradual inevitabilidade do compromisso, entre os objectivos idealizados e as necessidades imperativas. Pela mesma consideração, os programas bilaterais de colaboração cultural entre Timor-Leste e Portugal deve ser assentado e reforçado em seguintes actividades:  A difusão da língua e cultura através das instituições governamentais e privadas, incluindo instituições escolares desde pré-escolar até ao ensino superior;  Estabelecer intercâmbio de materiais e investigadores nos sectores culturais e educativos, ou seja, da instrução e do património cultural;  Estabelecer intercâmbio de docentes e investigadores universitários;  Estabelecer intercâmbio de arquivistas e bibliotecários;  Estabelecer intercâmbio de exposições,  Realizar os eventos culturais como os ciclos cinematográficos e manifestações artísticas e culturais;  Estabelecer intercâmbio na pesquisa conjunta sobre os temas como museológico, actividades de restauro, missões arqueológicas;  Reforçar a política de concessão das bolsas de estudo;  Estabelecer a cooperação no sector dos intercâmbios juvenis e do desporto.

Conciliando isso com o grau efectivo da convencionalidade expressa e do nível de acolhimento cultural, Timor-Leste e Portugal no contexto normativo mais alargado das relações bilaterais, como é óbvio, frequentemente estão em modulação restritivas da acção singular e 5

PAULINO, Vicente. 2015. A cultura e a língua como fator de reforço das relações entre Timor-Leste e Portugal. Comunicação apresentada na conferência do Grupo Parlamentar de Amizade Timor-Leste e Portugal, no dia 15 de Junho de 2015 na Assembleia República Portuguesa em Lisboa (está aguardar a publicação em versão do livro organizado pelo Parlamento Nacional de Timor-Leste).

plural em relação à política cultural, que instiga as extensões de projecção das dinâmicas operacionais em torno da consideração dada à humanização de sentidos culturais, constituindo desta forma, um “património comum” e tal pode ser compreendido pela forma como a concretização das “ideias culturais” através da identificação do “interesse comum da humanidade” e de “dois povos e dois estados soberanos”. Com efeito, os tratados de cooperação bilateral entre Timor-Leste e Portugal retratam à imensidão do céu “a haver estrelas de cores” como a província de toda a cultura da humanidade.

3. Língua e cultura

O espaço de discussão sobre as relações entre língua e cultura tem sido progressivamente preenchido pelas preocupações dos sociolinguistas no que respeita às questões da variação linguística. A grande importância atribuída à variação das línguas, em interacção com a variação das sociedades, abriu campo para o estudo dos factores intervenientes nesta variação, internos e externos, históricos e resultantes do contacto entre línguas, e para o desenvolvimento das perspectivas teóricas nesta área. A língua é um veículo de acção social, por isso que, ela não está dissociada da cultura, ou seja, uma não existe sem a outra, não é mais importante, apenas se complementam. A língua é utilizada para transmitir a cultura e os laços culturais de um povo. A cultura não pode ser vista como um conceito inerte e estático, mas, como um conjunto polivalente e dinâmico reformulado e adaptado ao sabor do tempo e à vivência social. É preciso, portanto, justificar que ao falarmos da relação de língua e cultura, não nos referimos meramente ao estudo da língua e sua evolução ou ao estudo de cultura, mas sim ao estudo globalizante como a filosofia, comunicação, sociologia, antropologia e até aos estudos de literatura. Embora no contexto linguístico haja uma diferença entre fazer afirmações histórica acerca da língua e sua evolução ou identidade linguística, que assumem um carácter pessoal e seleccionam elementos de forma arbitrária, como as que podem aparecer e apoiar a tese pré-estabelecida pelas ex-colónias na escolha da língua, dita oficial. Esta forma de afirmação arbitrária vem reforçar a história do passado com base numa teoria de favorecimento das ideias e dos patrimónios coloniais.

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PAULINO, Vicente. 2015. A cultura e a língua como fator de reforço das relações entre Timor-Leste e Portugal. Comunicação apresentada na conferência do Grupo Parlamentar de Amizade Timor-Leste e Portugal, no dia 15 de Junho de 2015 na Assembleia República Portuguesa em Lisboa (está aguardar a publicação em versão do livro organizado pelo Parlamento Nacional de Timor-Leste).

A língua e a cultura de uma nação são elementos distintivos nacionais que podem ser descritos como “espelho do povo e da nação” (Paulino, 2011:80) e são reconhecidos como um histórico no processo de afirmação identitária (Paulino, 2012a). A língua é um traço cultural adquirido em função do indivíduo pertencer a determinada sociedade, mesmo que para isso não haja disposição natural. A relação entre língua, cultura e comunicação deve ser compreendida pela sua interdependência, porque não é fácil provar um grupo de línguas que não tem qualquer correspondência necessária com um grupo racial ou uma área cultural (Paulino, 2012b). As línguas sem qualquer parentesco partilham de uma só cultura significa que estas línguas estão pautadas nas encruzilhadas culturais e só com elas podemos pensar no “próximo futuro”. A descrição de evolução étnica e sociolinguística do povo timorense, desde os seus primórdios, permite-nos notar que existe o hibridismo cultural (Hall, 2001 e 2002; Traube, 1986). Este hibridismo cultural faz parte do resultado de uma miscigenação racial e adicionada por diversas línguas nativas (Thomaz, 2002; Gunn, 1999 e 2001). É por isso que, designamos Timor como uma manta de retalhos etnolinguística, com importantes cisões políticas e sociais que pretende dar a mão ao projecto da construção do Estado-nação. Neste sentido, podemos afirmar que “o mais importante símbolo nacional é a língua. Assim, a língua não é em si mesma uma afirmação estática, mas, sobretudo, está ligada à dinamização do sentimento de pertença, muitas vezes partilhada com a etnicidade, a religião e a história comum.

3.1. Consolidação da língua portuguesa

O projecto bilateral de cooperação relativo à consolidação da língua portuguesa em todas escolas básicas e todos os dispositivos governamentais deve ser reforçado “não no sentido de arrogância intelectual”, mas nas “acções afectivas” de dois países com elevado sentido de missão cultural. Uma vez que se enquadra no quadro legal dos acordos estabelecidos e tal contribui para “a difusão da língua portuguesa, bem como para o reforço dos especiais laços de amizade e solidariedade que ligam os dois Estados, assim como para o desenvolvimento cultural, científico e técnico de Timor-Leste, no quadro do respeito recíproco pelos valores culturais próprios e para

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um melhor conhecimento colectivo da ciência entre o povo português e o povo timorense e a intensificação das iniciativas que reforcem a mútua cooperação5”. A verificação destas realidades, a par do processo evolutivo das sociedades e das inerentes capacidades de intuição valorativa, conduz, designadamente, no plano das suas interacções e transacções culturais, a uma alteração das perspectivas sobre a percepção das necessidades de dois países e/ou países “parceiros estratégicos de desenvolvimento” que em termos de interesses e consequente articulação destes com objectivos definidos por políticas de realização concreta da “diplomacia cultural” à génese de uma ordem regularmente reconhecida pela forma como o relacionamento se estabelece e se faz sentir. Os timorenses devem aprender o português, pois dizia Mari Alkatiri (dnoticia.pt, 10/6/2011): ela não é do colonialismo mas língua do povo e não de qualquer regime político. É afirmar a identidade de Timor-Leste ligada à sua História, acrescenta ainda que “Se temos escolas de referência que estão a ter bons resultados, porque é que não ampliamos lentamente esse tipo de escolas, com o mesmo sistema de educação onde a língua portuguesa é usada como língua simultaneamente de ensino e de instrução desde a pré-escolar” (Mari Alkatiri, in Lusa, 4/3/2015). Rui Maria de Araújo, por sua vez, afirma que “Vamos todos apoiar esta ideia: Vamos todos dotar o Ministério da Educação de meios para poder ter professores em todas as escolas de TimorLeste para ensinar português e em português” (Lusa, 7/5/2015) e não para implementar as línguas maternas. “Iremos, portanto, prosseguir os esforços e promover novas iniciativas no sentido de reforçar e promover a posição da língua portuguesa no sistema mundial, incluindo esforços de âmbito nacional, com a expansão do ensino da língua nas escolas de ensino privado, incluindo as escolas católicas e as universidades privadas” (Xanana Gusmão, in Lusa, 17/7/2014). Portanto, o problema de consolidação e de manutenção do português como língua de cultura e de língua oficial de Timor-Leste dependerá muito da política educacional, da mobilização dos vários sectores da sociedade timorense, da disposição da comunidade e do apoio dos países lusófonos em construir o futuro comum que é, sem dúvida, a lusofoneidade no mundo (vide

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Vide o “ACORDO DE COOPERAÇÃO ENTRE A REPÚBLICA PORTUGUESA E A REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE TIMOR-LESTE NO DOMÍNIO DA COMUNICAÇÃO SOCIAL”, feito em 22 de Fevereiro de 2006 – http://d3f5055r2rwsy1.cloudfront.net/images/stories/acordos/timor_accs.pdf (acesso em 6/6/2015)

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PAULINO, Vicente. 2015. A cultura e a língua como fator de reforço das relações entre Timor-Leste e Portugal. Comunicação apresentada na conferência do Grupo Parlamentar de Amizade Timor-Leste e Portugal, no dia 15 de Junho de 2015 na Assembleia República Portuguesa em Lisboa (está aguardar a publicação em versão do livro organizado pelo Parlamento Nacional de Timor-Leste).

Brito & Martins, 2004; Paulino, 2015) com a língua portuguesa e mais culturas diferenciadas de cada membro da CPLP, pois tem assumido outros papéis de extrema importância na comunidade lusófona, tais como: oferecer oportunidade igual ao acesso da educação e à inclusão e a paz social; fortificar os laços de amizade entre países membros da CPLP com a oferta de prestação dos serviços ao nível cultural, educativo ou de negócios na sociedade global; e incluindo a preservação dos usos e práticas culturais nas línguas com intuito de manter viva a sigla de ―unidade na diversidade‖ para justificar que somos um povo enfeitado pela babel da língua e pela cultura (vide Paulino & Santos, 2014:21), como então designada em posição de representação que emerge a afirmação de identidade nacional que viva nos versos de Luís de Camões que trouxeram Timor ao conhecimento do mundo: Alí também Timor que lenho manda; Sândalo salutífero e cheiroso. E, esta afirmação camoniana é uma consciência de reconhecimento e o fruto de uma evolução semântica que atravessa no tempo e isso fortifica a civilidade timorense no espaço e no mundo. É por isso que “The name of Timor was famous for its sandalwood and still alludes to tropical fragrance” (Paulino, 2012c:89).

3.2. Realizações de eventos

Percebendo que a diplomacia timorense e portuguesa promovem a divulgação da cultura e das artes timorenses e portuguesas em suas múltiplas dimensões para estimular a cooperação cultural e o ensino da língua portuguesa Se, por um lado, ressalta a singularidade de cultura de dois povos e duas nações, por outro, revela as afinidades que a unem a outros povos – particularmente significativas, já que Timor-Leste e Portugal já acolheram vários eventos culturais como “obrigações planetárias” de carácter intrageracional. Fundamentando assim, a teorização do conceito de “equidade intergeracional” (Brown-Weiss, 1989:21) e “equidade intelectual e diplomacia de ideias” (vide Portella, 1983; Mitchell, 1986; Ninkovich, 1981) no reforço das relações políticas e diplomáticas culturais entre dois povos e dois estados. A promoção e divulgação da cultura timorense em Portugal são feitas pelos grupos como “Bei Gua – caminho dos antepassados” e outros grupos corais timorenses. Estes grupos são embaixadores culturais de Timor-Leste em Portugal. Enquanto a promoção e divulgação da cultura portuguesa e timorense realizadas em Timor-Leste são feitas pela Embaixada de Portugal 9

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em Díli sob a coordenação do Instituto Camões e da Fundação Oriente (incluindo também outras entidades portuguesas sedeadas no território timorense) e tais iniciativas contam sempre com o apoio das entidades públicas e privadas timorenses. No âmbito deste, podemos destacar algumas actividades de carácter “festival do cinema” já realizadas pelas entidades portuguesas em cooperação com a entidade timorense, tais como: em 29 a 31 de Julho de 2011, foi realizado o festival de “Cinema em Díli” cuja exibição estava feita à frente do palácio do governo e no Centro Juvenil Padre António Viera. Este festival estava inserido numa iniciativa cultural denominada “Encontros de Baucau – Artes e Cidadania” que teria sido realizado nos dias 4 a 7 de Agosto de 2011 em Baucau. Um evento que focalizou três temáticas: cidadania, letras e cinema, de grande importância para promover as artes (artes plásticas, pinturas) e reafirmar a identidade timorense do contexto local ao global. Foi um encontro de académicos, artistas e escritores (como Luís Cardoso), que discutiram sobre a participação activa dos cidadãos, por exemplo, na protecção do meio ambiente para o bem-estar da vida comunitária, na valorização dos direitos das mulheres, e na promoção dos jovens com talento. Não deixando, porém, de recordar também que em Julho de 2002, o Instituto Camões, através o Centro Cultural Português em Díli, promoveu o cinema português em Baucau. Tal iniciativa tinha sido executada anteriormente em Aileu com a finalidade de divulgar a produção audiovisual portuguesa e, simultaneamente, a promoção do Português junto do público timorense fora de Díli. Ora bem, os filmes exibidos nas instalações da diocese de Baucau, foram “A Suspeita” e “Fátima”. “A Suspeita” do realizador José Miguel Ribeiro, é o filme de animação português mais premiado internacionalmente, incluindo o “Cartoon D‟Or 2000”, como o melhor filme de animação europeu. O filme do realizador referido foi admirado pelo grande público juvenil daquela cidade, obrigando à passagem da sua versão em 16 minutos. De seguida, foi exibido “Fátima” do realizador Fabrizio Costa, com a participação de Joaquim de Almeida, Catarina Furtado, Diogo Infante, Omero Antonutti e Francisco Brás, entre outros. Contudo, no plano de realização do eventos, percebemos de imediato que há uma diplomacia cultural que capaz de consolidar a posição timorense e portuguesa em lugar destacado no cenário comunitário e internacional, permitindo um intercâmbio entre os proveitos de cunho político, económico e de cooperação.

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Em síntese

Devem fazer o alargamento de cooperação bilateral no âmbito da cultura e língua como factor de preponderância de Timor-Leste e Portugal na produção cultural e disseminação da mesma no espaço lusófono, europeu, asiático, no sentido de construir novas humanidades na cultura. A cooperação com os agentes privados e as instituições culturais deve ser reforçada e baseada no mapeamento e síntese das informações culturais, a fim de orientar a selecção do património comum no repositório cultural e semântico traduzível da própria representação aparentemente universal.

Referências bibliográficas Brown-Weiss, Edith. 1989. In farness to future generations – international law, common patrimony and intergerational equity. Tokyo: The United Nations University. Brito, Regina H. Pires de & Martins, Moisés de Lemos (2004), “Considerações em torno da relação entre língua e pertença identitária no contexto lusófono”, in Anuário Internacional de Comunicação Lusófona, Braga: Universidade do Minho, pp.69-78 Fidalgo. António. 2008. As novas humanidades. In BOCC – Biblioteca online de Ciência da Comunicação - http://www.bocc.ubi.pt/pag/fidalgo_novas_humanidades.pdf (acesso em 31/5/2015) Habermas, Jürgen. 1987. Théorie de l„agir communicationel. Paris: Fayard Gunn, Geoffry. 2001. Língua e cultura na construção da identidade de Timor-Leste. In Timor Lorosa’e; Camões – Revista de Letras e Cultura Lusófonas, Lisboa: Instituto Camões. Gunn, Geoffrey. 1999. Timor Loro Sae 500 Anos. Macau: Livros do Oriente Hall, Geoffrey. 2002. The languages of East Timor some basic facts, Díli: INL-UNTL Hall, Geoffrey.2001. Identidade, língua e política educacional, Díli: Instituto Camões Mitchell, J. M. 1986. International culture relation. London: Allen & Unwind Ninkovich, Frank A. 1981. The Diplomacy of ideas. Cambridge: Cambridge University Press 11

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