A CULTURA HIBERNO-LATINA NA BRETANHA ROMANA E PÓS-ROMANA: EVIDÊNCIAS A PARTIR DAS OGHAM STONES

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A CULTURA HIBERNO-LATINA NA BRETANHA ROMANA E PÓSROMANA: EVIDÊNCIAS A PARTIR DAS OGHAM STONES DOMINIQUE SANTOS*

A História é uma ciência bastante dinâmica. Sem deixar de lado a premissa de que o conhecimento histórico produz verdades e certezas de caráter relacional (MARTINS: 2009), é frequente observarmos na historiografia mudanças de posicionamentos acerca das mais diversas questões, muitas vezes não somente devido a descoberta de evidências documentais, mas por causa de novas inquietações. Se referindo a esta característica, Beneditto Croce (1866-1952), por exemplo, afirmava que toda verdadeira história é história contemporânea. Lucien Febvre (1878-1956), por sua vez, dizia que toda história é filha de seu tempo. Esta especificidade do exercício historiográfico é claramente perceptível nos juízos emitidos pela historiografia irlandesa acerca da presença romana na então chamada Hibernia, localidade que corresponde as atuais República da Irlanda e Irlanda do Norte. De 1850 até 1921-22, quando a problemática da independência era a principal pauta das discussões irlandesas, movimentos como o celtic revival e a liga gaélica trouxeram à tona um debate acompanhado de várias interpretações que enfatizavam um passado pagão irlandês idealizado. Patrick Henry Pearse frequentemente se reportava ao Táin Bó Cuailnge, épico em língua gaélica, e a imagem de Cú Chulainn, herói máximo desta narrativa, como símbolos da resistência irlandesa (PEARSE, 1916: 23-24). Há uma passagem no romance Ulisses, escrito em 1922, obra mais conhecida do escritor James Joyce (1882-1941), na qual a grandeza de Roma é ironizada e lê-se: “que era sua civilização? Vasta, concedo: mas vil. Cloacae: esgotos” e também “o romano, como o inglês que lhe segue as pegadas, levou para cada nova plaga em que pôs o pé (nas nossas ele nunca o pôs) só sua obsessão cloacal” (JOYCE, 2000: 172). Predominava a interpretação de que a Irlanda permanecera sempre separada do mundo romano. A partir de 1962, pelo menos, passamos a contar com leituras mais sistemáticas, que englobaram também outras questões, como as apontadas por Daniel Binchy em suas reflexões

*

Professor titular de História Antiga na Universidade de Blumenau- FURB e Coordenador do Laboratório Blumenauense de Estudos Antigos e Medievais (www.furb.br/labeam). As reflexões que compõem este texto foram possíveis graças ao projeto de pesquisa de número 667/2012 “Culturas, fronteiras e identidades: repensando a Antiguidade entre o Mediterrâneo e o Mar da Irlanda”, subsidiado pela FURB − Universidade de Blumenau.

sobre São Patrício, bretão cuja história foi definitivamente entrelaçada à História da Irlanda (BINCHY, 1962). É quando começamos a encontrar com mais frequência diálogos sobre esta presença romana na Hibernia. Nos últimos vinte anos, temos acompanhado novas reflexões de historiadores e arqueólogos sobre a presença hibérnica na Bretanha Romana (ROCHE, 1993). Enquanto este texto estava sendo preparado, Peter Crawford e Raoul MacLaughlin divulgaram, dentre as atividades da Classical Association in Northern Ireland, uma palestra intitulada “The Coleraine Hoard: Raid, Trade or Paid?”, ministrada pelos mesmos na Queen’s University, Belfast, na qual criticam a tese de que os romanos nunca foram para Irlanda, inadequada para o contexto atual. Os autores sustentam ainda que as relações romano-irlandesas devem ser vistas para além de, pura e simplesmente, relacionadas ao comércio e aos saques; é preciso compreendê-las como interações políticas mais imbricadas. É neste contexto que esta pesquisa se insere, mas partindo das Ogham Stones tanto da Bretanha Romana como PósRomana. De fato, segundo o que se sabe atualmente, a Hibernia nunca sofreu qualquer invasão das legiões romanas. Do mesmo modo, também jamais foi anexada como província ao Império Romano. Apesar disso, temos inúmeras evidências de contatos culturais, sociais e econômicos entre os povos que utilizavam o chamado Irish Sea, seja a partir dos relatos feitos pelos autores clássicos: César, Tácito, Juvenal, Herodiano etc; de objetos romanos: fibulae, ollae, paterae, dentre outros, encontrados na área correspondente à atual Irlanda; ou da epigrafia, da qual as Ogham Stones, inscrições em pedra contendo as primeiras grafias da língua irlandesa antiga, frequentes em toda esta região, constituem-se parte fundamental. O objetivo deste artigo é analisar algumas destas interações entre a Hibernia e a Bretanha Romana e Pós-Romana. A partir das evidências fornecidas pelas Ogham Stones, é possível pensar em uma cultura Hiberno-Latina antes de Patrício (séc. V d.C) e esta influência da Bretanha Romana na Hibernia não foi um Cursus Unicus. Ogham Stones é o termo utilizado pelos pesquisadores para se referirem a um conjunto de monumentos de pedra erigidos na Irlanda, Ilha de Man, País de Gales, Inglaterra e Escócia. Estes monumentos contêm inscrições em Ogham, alfabeto utilizado para grafar as primeiras formas da língua irlandesa, por isso terem recebido a denominação de Ogham Stones. Apesar da nomenclatura, e de estarmos diante de uma tradição epigráfica, o alfabeto Ogham não se restringiu à utilização em pedras. Centenas de outros objetos também podiam conter estas inscrições: pedaços de madeira, ossos, cruzes, artefatos portáteis etc. Muitos destes objetos

utilizados para a grafia de alguma mensagem em Ogham foram encontrados em lugares diferentes daqueles para os quais inicialmente foram projetados, incluindo as próprias pedras. Daniel MacManus, professor de língua irlandesa na Trinity College Dublin, afirma que, em várias ocasiões, estes objetos foram reaproveitados para as mais diversas finalidades, como por exemplo, na construção de ringforts, igrejas, oratórios, cabanas de pedra, alicerce para muros, ou até mesmo para funcionarem como banco para viajantes (MACMANUS, 1991). Na literatura específica da área é comum o termo “oghamista” para se referir a pessoa que concebia as inscrições. Trata-se de alguém com uma preparação erudita na tradição irlandesa e no conhecimento do idioma irlandês antigo. Segundo R.A.S. Macalister, que catalogou boa parte das Ogham Stones existentes conhecidas até meados do século passado em seu CIIC - Corpus Inscriptionum Insularam Celticarum, de modo a garantir a qualidade do empreendimento, um erudito elaborava o modelo da escrita. Posteriormente, o protótipo era cunhado em uma peça de madeira ou rascunhado em uma tablet de cera, e depois levado ao profissional que transpunha a inscrição para a pedra. O processo podia, inclusive, ocasionar equívocos, uma vez que a pessoa que provavelmente fixava os dizeres ao seu destino final nem sempre tinha a compreensão adequada do significado do que estava escrevendo (MACALISTER, 1996). Não há uma cronologia absoluta para este corpus documental, uma vez que não é possível utilizar dendrocronologia, termoluminiscência, carbono 14, ou outros métodos modernos de datação para saber a idade exata destas pedras e de suas inscrições. Contudo, a partir de evidências filológicas, sabemos que as primeiras Ogham Stones recuam provavelmente ao século V, sendo que é possível que o alfabeto utilizado nas inscrições já tivesse sido inventado e estivesse em uso no bem antes. A maior parte das Ogham Stones está localizada no sul da Irlanda, sobretudo nos condados de Kerry, Cork e Waterford, de onde conhece-se o registro de 247 inscrições. O condado com mais Ogham Stones é Kerry, cerca de 130 inscrições (MOORE, 2010). O alfabeto Ogham é utilizado para grafar sobretudo a língua irlandesa antiga, no entanto, há inscrições bilíngues, a maior parte na região do atual País de Gales, que apresentam também a versão latina escrita com caracteres romanos (MACMANUS, 1991: 98-99). Estas são as inscrições que recebem maior atenção em nossa pesquisa. Ao todo, o corpus documental relacionado com as inscrições em alfabeto ogâmico na Bretanha romana ultrapassa o número de 80 itens, ainda excetuando-se os monumentos acerca dos quais há dúvida se possuíam ou não alguma inscrição desta natureza. Por questões cronológicas, considerando a proximidade com a cultura romana, levando em consideração as

incrições mais detalhadas, e tendo em vista os monumentos encontrados nas áreas de maior colonização irlandesa, decidimos nos concentrar em três Ogham Stones da região que corresponde ao atual País de Gales, que passou a contar com intervenção militar e administrativa romana a partir do ano 48 d.C. e a presença irlandesa por volta de meados do século IV, algo que se intensificou no período pós-romano. A numeração de referência adotada neste artigo segue o catálogo de Macalister como padrão. Passamos à análise, então, das seguintes Ogham Stones: CIIC 358; CIIC 380; CIIC 409.

CIIC 358/MACALISTER (1945)

ECMW 138/NASH-WILLIAMS (1950)

Este primeiro monumento foi encontrado no adro de uma igreja a 200 metros ao sul de uma estrada romana. Nos estudos ogâmicos, é comum que cada inscrição seja referenciada pelo número de algum dos catálogos disponíveis, como fizemos aqui utilizando a classificação estabelecida por Macalister, mas a nomenclatura da mesma também pode ser atribuída a partir da própria inscrição, da localização em que foi encontrada, ou as duas coisas. No caso específico desta primeira inscrição, trata-se da Castell Dwryan Stone, ou CDWYR, porque este era o nome da igreja no condado de

Carmarthen, no País de Gales, onde foi descoberta em 1895. A Vortipor Stone, como também é chamada, desde 1921 está no Carmarthenshire Museum. O monumento tem as dimensões 2.11 x 0.61 x 0.30 m e foi datado por Nash-Williams de 540-550, por Jackson de 550 e, mais recentemente, por MacManus de 533-566. A parte latina da inscrição diz “MEMORIA VOTEPORIGIS PROTICTORIS”, já em Ogham temos o nome “VOTECORIGAS”. Podemos traduzir o fragmento em latim para “o memorial de Voteporix o protetor” ou “o memorial de Voteporix “protetor””. O latim Voteporigis seria a forma masculina do nominativo britônico Uoteporix; a inscrição ogâmica, por sua vez, é um nome próprio. Possivelmente, a forma no genitivo singular em irlandês antigo de Voteporigis (JACKSON, 1953: p. 169). Embora tenhamos apenas o nome da pessoa comemorada, acreditamos que dificilmente seria possível outra interpretação senão a de que a inscrição é o equivalente irlandês do que lê-se em latim, no entanto, sem mencionar a palavra “protictoris”. Sugerimos que, ao ler “Votecorigas”, nesta Ogham Stone, o leitor compreenda: “O memorial de Votecorix”. A discussão relacionada com esta inscrição é bastante complexa, pois parte dos especialistas acredita que a pessoa comemorada neste monumento é o Demetarum tyrannus Vortipori, sobre o qual o monge Gildas narra na parte 31 de sua obra De Excidio et Conquestu Britanniae. Macalister, por exemplo, afirma que “há pouco espaço para dúvidas de que este monumento comemora o rei satirizado por Gildas” (Macalister, 1945: 343). MacManus, no entanto, não interpreta da mesma forma. De acordo com ele, não há convicção sobre a questão. Nenhum dos indivíduos comemorados neste tipo de monumento teve sua existência histórica comprovada, o que, inclusive, é um dos impedimentos para que possamos estabelecer uma datação absoluta destas inscrições (MACMANUS, 1991: 52). Para os propósitos desta pesquisa, interessa o fato de que estamos diante de uma inscrição bilíngue da Bretanha pós-romana, que expressa claramente o intuito de comemorar esta pessoa tanto com letras capitais romanas em latim quanto com o alfabeto ogâmico em irlandês antigo, o que sugere uma comunidade hiberno-latina vivendo neste contexto. A interpretação de Thomas Charles-Edward é interessante para sintetizar a questão. Segundo este autor, provavelmente “protector” diz respeito a ressignificação de um título relacionado com a administração imperial romana para o contexto pós-romano na Bretanha e a própria existência deste tipo de inscrição comemorativa já evidencia trocas culturais entre estas populações locais e os romanos, de onde este hábito epigráfico foi aprendido (CHARLES-EDWARD, 2000: 168). Passemos,

então, ao segundo monumento que será analisado nesta pesquisa, uma inscrição que comemora Icorix.

CIIC 380/MACALISTER (1945)

A Brynkir Stone, BRYNK, atualmente encontra-se em uma fazenda no condado de Caernarfon, no País de Gales. Foi localizada em SH 4828 4529, depois movida para SH 4834 4541, adotando direções do Guia Nacional de Referências do Reino Unido. O monumento foi encontrado em 1902 a 300 metros do forte de Pen Llystyn, nas proximidades de uma estrada para Caernarfon, onde também ficava o forte romano de Segontium (EDWARDS, 2001: 24), cuja construção foi ordenada por Agricola por volta do ano 80, depois que ele conquistou os Ordovicos, etnia céltica do norte da Bretanha. O monumento tem as dimensões 1.02 x 1.09 x 0.36 m e foi datado por Nash-Williams de 500-599. Lê-se, em latim, a seguinte inscrição: “ICORIFILVS POTENTI NI”; e em Ogham: “ICORIGAS”. Há dois nomes masculinos na inscrição “Icori/Icorigas” e “Potentini”. “Icorigas” é o equivalente na forma genitiva do idioma céltico para o que é apresentado em latim como “Icori” (JACKSON, 1953: 186). Potentini é o genitivo do nome latino Potentinus. Em português, podemos ler a parte romana da inscrição como “Icorix, filho de Potentinus” e a irlandesa como “de Icorix”. Ou seja, um outro memorial, desta vez comemorando um homem de nome céltico, que era filho de alguém com nome romano. Segundo Nancy Edwards, a partir de excavações arqueológicas descobriu-se que Segontium foi abandonado alguns anos depois de sua construção e uma pequena fortificação foi feita a partir da antiga, já no segundo século. Pen Llystyn, que,

provavelmente, servia de base para policiar Ganganorum Promontorium, nome latino da península de Llŷn, foi deliberadamente queimado e abandonado mais ou menos no mesmo período (EDWARDS, 2001: 24). Acredita-se que este caminho entre os dois fortes continuou a ser utilizado nos séculos subsequentes, inclusive com indícios de reocupações e reutilizações da construção (HOGG, 1968). Nossa interpretação é de que o lugar escolhido para eregir este monumento sugere a importância das pessoas mencionadas, afinal, esta inscrição estava localizada justamente em um caminho significativo, que outrora ligava dois fortes romanos.

CIIC 409/MACALISTER (1945)

ECMW 198/NASH-WILLIAMS (1950)

O terceiro, e último, monumento que nos interessa é a Kenfig Stone, KENFIG. Ela foi encontrada em 1578 em Kenfig, Glamorgan, relativamente próximo de Cardiff, capital do País de Gales. Atualmente, é a pedra nº2 do catálogo do Margam Stones Museum, Port Talbot. As dimensões do monumento são 1.35 x 0.52 x 0.35 m e foi datado de 500-599

por

Nash-Williams.

O

texto

latino

nos

fornece

a

inscrição

“PVMPEIVS

CARANTORIVS”. Para a língua irlandesa há divergências de interpretações, mas aqui continuamos seguindo o Corpus elaborado por Macalister, no qual se lê a seguinte inscrição, contendo duas palavras: “PAMPES” e “ROL[ACU]N M[A]Q ILLUNA”. Em latim lê-se os dois nomes de um homem chamado: “PVMPEIVS CARANTORIVS”, que em português pode ser traduzido como “Pompeu Carantorio”. A partir da leitura de Macalister não é possível traduzir o trecho ogâmico. Apesar de acreditarmos tratar-se de uma palavra irlandesa, como o restante da inscrição, não podemos afirmar com certeza em qual língua ela está grafada. Uma possibilidade de tradução para o português, claro que simplificada, é “[Inscrição/Memorial/Pedra] de Pompeu, (...) filho de Illuna”. Sendo que foram traduzidos apenas o nome “PAMPES” (Pompeu) e o trecho “M[A]Q ILLUNA” (filho de Illuna). Ou seja, ficou de fora o fragmento “ROL[ACU]N”, para o qual não acreditamos ser possível uma tradução. O interessante desta Ogham Stone é que a inscrição em Ogham está dividida em duas partes, sendo que só a primeira delas, grafada na parte esquerda, no alto da pedra, corresponde ao latim. Ou seja “Pampes” é a versão em irlandês para “Pvmpeivs”. Thomas Charles-Edward lê a parte ogâmica da inscrição como “P [o] P [IA] // ROL [..] N M [AQ] I LL [E] NA”. O autor acredita que o trecho em irlandês está incompleto e que quando podia ser lido em sua totalidade, a inscrição, possivelmente, oferecia ao leitor a palavra “POPIAS”, ou “POPII” (Charles-Edward, 2000: 170). Esta segunda interpretação é ainda mais provável, uma vez que o caso genitivo é o selecionado para grafar os nomes neste tipo de monumento, significando que tratava-se da “inscrição”, “memorial” ou “Pedra” de alguém, cujo nome era declinado do nominativo para o genitivo, expressando pertencimento, uma possibilidade gramatical tanto do latim quanto do irlandês antigo. Esta é uma inscrição muito importante para nos auxiliar a compreender as trocas culturais na Bretanha pós-romana, afinal, a pessoa comemorada na mesma se chamava Pompeu, um nome romano muito conhecido, e era irlandês ou, no mínimo, descendente de irlandês. Segundo o já mencionado Thomas Charles-Edward (CHARLES-EDWARD, 2000: 171), a CIIC 409 evidencia que havia uma comunidade de cultura hibérnica na região, que esta sabia pronunciar na língua irlandesa os nomes romanos e, mais ainda, que estes nomes eram familiares aos irlandeses que habitavam esta localidade na Bretanha.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todas as três inscrições que utilizamos datam de 500-599, ou seja, o século VI, período que, apesar das disputas por nomenclatura, característica de inúmeras propostas de periodizações históricas, preferimos denominar como Bretanha Pós-Romana. No entanto, estas reflexões sobre trocas culturais também se aplicam à Bretanha Romana. James Carney, por exemplo, afirma que o Ogham foi desenvolvido em algum lugar em que o idioma latino era bem conhecido, o que teria ocorrido antes do século IV (CARNEY, 1973). Niall Mac Coitir também defende que o alfabeto Ogham é de origem militar e está relacionado com a produção epigráfica de Vindolanda, por volta de 85 a 122 d.C. (Mac Coitir, 2012). Para Anthony Harvey, o alfabeto já estava em uso no século II (HARVEY, 1990: 13 e 14). MacManus não acredita que seja possível dizer quando o hábito epigráfico de escrever em Ogham foi desenvolvido, mas que isso ocorreu em algum lugar onde havia familiarização com a língua latina e a irlandesa, pois o Ogham é o equivalente da escrita epigráfica romana (MacManus, 1991). Além disso, há inscrições como a CIIC 496, conhecida como Silchester Ogham Stone, que, por questão de tempo, não foi abordada aqui, mas cuja datação pode recuar até 350 e foi grafada por um irlandês chamado Tebicatos, que utilizou para isso uma coluna de estilo romano, reapropriando-a e ressiginificando-a (CLARKE, A., FULFORD, M., RAINS, M & SHAFFREY, R., 2001). Ou seja, o mar dar Irlanda formou um bloco cultural e de comunicação por séculos (HARVEY, 1990); a presença irlandesa na Bretanha Romana e Pós-Romana pode ser comprovada por nomes pessoais, substantivos e conjunções presentes nas Ogham Stones da região (THOMAS, 1973); Irlanda e Bretanha mantiveram contato permanente, trocando experiências culturais (SWIFT, 1997); os irlandeses quiseram ou precisaram adaptar os costumes epigráficos vizinhos (MACMANUS, 1991; Ó CRÓINÍN, 1995); e algo sobre o qual temos frequentemente falado nos últimos anos: Patrício não era irlandês, mas um bretão romano, não pode ser compreendido de forma isolada do Império Romano e suas duas cartas ainda tem muitas interpretações a oferecer (SANTOS, 2013). De igual modo, a história da Hibernia, sobretudo sua tradição epigráfica, emprestada, readaptada e ressignificada da Bretanha Romana, pode ser melhor apreciada, principalmente pelo público brasileiro.

Referências Bibliográficas

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Town

-

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