A CULTURA REGIONAL NAS MICARETAS BRASILEIRAS: ESTUDO COMPARATIVO DO FOLIANÓPOLIS E DA MICARETA DE FEIRA

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA

FERNANDA DE PIETRO ANTUNES

A CULTURA REGIONAL NAS MICARETAS BRASILEIRAS: ESTUDO COMPARATIVO DO FOLIANÓPOLIS E DA MICARETA DE FEIRA

São Leopoldo 2015

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FERNANDA DE PIETRO ANTUNES

A CULTURA REGIONAL NAS MICARETAS BRASILEIRAS: ESTUDO COMPARATIVO DO FOLIANÓPOLIS E DA MICARETA DE FEIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Publicidade e Propaganda, pelo Curso de Comunicação Social da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS

Orientadora: Profª. Ms. Taís Flores da Motta

São Leopoldo 2015

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AGRADECIMENTOS

À Deus, pois Ele é o grande responsável por tudo aquilo que sou e tenho presente em minha vida. Ele é quem guia meus passos e me faz enxergar o mundo como um lindo caminho a ser percorrido, junto daqueles que eu amo.

À minha família, por seus incansáveis estímulos ao longo deste trabalho. Sem eles não haveria tanta dedicação e persistência durante minha jornada acadêmica na Unisinos. Eles são os responsáveis por inúmeras vezes me manterem firme em meus objetivos.

Ao Jhow, que esteve presente do início ao fim de minha pesquisa. Foi aquele que que esteve literalmente ao meu lado em todas as minhas angústias, alegrias, faltas de motivação, empolgações e nas inúmeras horas dedicadas ao TCC.

Aos meus amigos, os quais estimularam o término deste trabalho e que esperam ansiosamente pelo grande final desta etapa acadêmica. Aqueles que compreenderam algumas de minhas ausências e souberam se fazer presentes durante esta jornada.

À Taís, a qual me orientou minunciosamente ao longo do trabalho de conclusão e também me auxiliou profissionalmente dentro de nossa equipe de trabalho. Seu apoio e incentivo será sempre lembrado com carinho.

Aos entrevistados desta pesquisa, os quais auxiliam na construção do trabalho, através de suas vivências, experiências, percepções e opiniões.

À Unisinos, onde pude aprender e trabalhar dentro da área que meu coração escolheu para dar o seu melhor.

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso tem por objetivo compreender o papel da cultura regional nas micaretas da região sul e nordeste do Brasil, a partir de um estudo comparativo entre a Micareta de Feira e o Folianópolis. Para isto, através do conhecimento de autores da área, como Canclini (2010, 1997, 1982), Giácomo (1997), Armstrong (2001), Zitta (2011), Leal (2007) e Várzea (1984), apresenta definições sobre cultura, eventos e micaretas. Assim busca reconhecer indícios culturais dentro deste tipo de evento, bem como o envolvimento de seus participantes ao longo da festividade. Após o desenvolvimento do referencial teórico e com base na metodologia escolhida, a qual foi construída através da Pesquisa da Pesquisa, Pesquisa de Contextualização, Pesquisa Teórica e Pesquisa Exploratória, apresenta os resultados de uma pesquisa empírica que compara as duas festas apresentando semelhanças e diferenças entre ambas. Por fim, através da reflexão em torno conhecimento teórico e empírico, mostra que as micaretas ainda possuem influência da cultura regional, mas apresentam inúmeras peculiares entre si, afinal possuem focos e objetivos distintos.

Palavras-chave: Cultura. Micareta. Evento. Folianópolis. Micareta de Feira.

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 6 2 CONTEXTUALIZAÇÃO................................................................................................................ 10 2.1 Micareta........................................................................................................................................... 10 2.2 Folianópolis ..................................................................................................................................... 12 2.3 Micareta de Feira............................................................................................................................. 14 3 EVENTOS ......................................................................................................................................... 18 3.1 Definição ......................................................................................................................................... 18 3.2 Tipologia ......................................................................................................................................... 22 4 CULTURA ........................................................................................................................................ 24 4.1 Cultura Regional ............................................................................................................................. 24 4.2 Cultura na cidade de Florianópolis.................................................................................................. 29 4.3 Cultura na cidade de Feira de Santana ............................................................................................ 32 5 METODOLOGIA ............................................................................................................................ 36 5.1 Pesquisa da pesquisa ....................................................................................................................... 36 5.2 Pesquisa de contextualização .......................................................................................................... 40 5.3 Pesquisa teórica ............................................................................................................................... 42 5.4 Pesquisa exploratória – âmbito da organização .............................................................................. 42 5.5 Pesquisa exploratória – âmbito dos participantes............................................................................ 43 6 ESTUDO DAS MICARETAS: A VISÃO DA ORGANIZAÇÃO E DO PÚBLICO .................. 47 6.1 A visão dos organizadores: semelhanças e diferenças das micaretas Folianópolis e Micareta de Feira....................................................................................................................................................... 47 6.2 A visão dos participantes: duas micaretas ....................................................................................... 49 6.3 Principais resultados – reflexão geral.............................................................................................. 56 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................... 63 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 67 APÊNDICE A – Perguntas da Pesquisa Exploratória – âmbito organização ............................... 72 APÊNDICE B – Questionários respondidos na Pesquisa Exploratória – âmbito organização ... 73 APÊNDICE C – Questionário preliminar das entrevistas da Pesquisa Exploratória – âmbito participantes ........................................................................................................................................ 75 APÊNDICE D – Planilha de categorias da Pesquisa Exploratória - âmbito participantes .......... 76

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1 INTRODUÇÃO

O mercado do entretenimento vem ganhando forças dentro do cenário atual brasileiro. A cada ano novas festividades são incorporadas na vida cotidiana, a fim captar novos públicos e trazer diversão para a população de determinadas regiões1. Dentro deste contexto estão as micaretas, também conhecidas como carnavais fora de época. A cultura regional também proporciona diferentes estilos de festas e manifestações culturais. Cada localidade possui suas peculiaridades. Cada região conta com elementos culturais que a influenciam e a tornam singulares. A cultura se demonstra incorporada na prática das festividades, podendo aparecer em diferentes contextos, desde uma prática da comunidade local até em elementos regionais aderidos por visitantes dentro destas festas. O presente trabalho tem como objetivo principal compreender o papel da cultura regional dentro das micaretas da região sul e nordeste do Brasil. Desta maneira, busca reconhecer as características das micaretas brasileiras, aprofundando esta pesquisa com base no estudo comparativo entre o Folianópolis (micareta que ocorre na capital catarinense, Florianópolis - SC) e a Micareta de Feira (micareta que acontece na cidade de Feira de Santana – BA). Portanto, esta pesquisa mostra como é a estrutura atual das micaretas estudadas, atentanto à seus diferenciais e semelhanças. Além disto, se busca refletir sobre o termo cultura, o qual possui inúmeros significados no momento atual. Assim, se desenvolve uma busca por elementos culturais que pudessem estar contidos (direta ou indiretamente) dentro das micaretas. Esta procura auxilia na identificação de possíveis indícios da cultura regional que as micaretas podem possuir no Brasil. Outro ponto explorado neste trabalho é a questão da percepção dos participantes das micaretas estudadas em relação a este tipo de evento, bem como os elementos de interação utilizados entre os participantes e as micaretas. Algumas perguntas foram norteadoras para a realização desta pesquisa acadêmica, as quais serviram como estimuladoras pela busca dos objetivos ao longo do trabalho. Dentro do campo temático das micaretas se procura identificar quais são as principais diferenças e semelhanças entre as micaretas de estados diferentes, sendo um estado da região sul brasileira (Santa Catarina) e outro da região nordeste (Bahia). No que se refere a cultura, nesse contexto, o desejo foi saber como se configura a cultura dessas regiões onde as micaretas 1

Segundo dados comparativos da Revista Eventos, de 2001 à 2013, o número de eventos anuais no Brasil cresceu em 80,4% (ABEOC, 2014, p. 12)

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estudadas ocorrem, identificando se a cultura regional configura as micaretas, e no caso de isto realmente acontecer, como isto se desenvolve. No que se refere aos participantes das micaretas, se busca verificar como se dá o envolvimento deles com as micaretas analisadas e o que lhes atrai neste tipo de evento, visto que, muitas vezes, os participantes se deslocam de seus estados de moradia somente para ir às micaretas. Para que nossa problemática ficasse melhor explicitada criou-se um esquema sinóptico para este trabalho, conforme quadro abaixo: Objetivo geral Compreender o papel da cultura regional nas micaretas da região sul e nordeste do Brasil. Eixos da problemática

Micareta

Cultura regional

Participantes

Definições de cultura

Dimensões a investigar

Características de duas micaretas de diferentes regiões brasileiras

A percepção dos participantes

Perguntas geradoras

Objetivos Específicos

Quais são as principais diferenças e semelhanças entre micaretas de diferentes estados?

Elementos regionais dentro das micaretas O que faz parte da cultura das regiões onde ocorrem as micaretas? A cultural regional configura as micaretas? De que forma?

Descrever a estrutura dos eventos.

Compreender a cultura regional e sua inserção nas micaretas estudadas

Comparar as diferenças e semelhanças entre as micaretas escolhidas.

Identificar indícios da cultural regional nas micaretas.

Elementos de interação da micareta com seus participantes Como ocorre o envolvimento dos participantes das micaretas analisadas com o evento? O que atrai o público de micaretas (a ponto de fazer as pessoas se deslocarem de seus estados para participar do evento)?

Verificar a percepção dos participantes em relação as micaretas

Fonte: Quadro elaborado pela autora.

A principal justificativa para a escolha da temática a apresentada neste trabalho é a importância da realização de um estudo mais profundo sobre as micaretas devido a elas representarem um evento brasileiro tradicional, cuja exploração do tema ainda é precária2. Se observa ainda que esta temática não tem destaque na região sul do Brasil, vista a pouca oferta de deste tipo de festividade e a quase inexistência de pesquisas na área, na referida região.

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Conforme exposto no capítulo metodologia. Item 5.1 Pesquisa da Pesquisa

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Também há estudos dentro da área da comunicação sobre variados tipos de eventos, desta forma, o estudo das micaretas pode contribuir no aprimoramento do conhecimento neste tipo específico de festividade. Apesar deste trabalho ser uma pesquisa acadêmica visando a busca de enriquecimento do conhecimento na área da comunicação, ele possui motivações pessoais da pesquisadora sobre os temas abordados, sendo eles: eventos, micareta, cultura e elementos culturais regionais. No primeiro capítulo temos uma contextualização sobre o assunto central da pesquisa, a fim de auxiliar na compreensão sobre o que são micaretas. Para isto, autores como Sebe (1986), Miranda e Silva (2012), Pinto e Jesus (2010) e Gaudin (2000) foram utilizados como base de pesquisa. Neste capítulo também consta um histórico sobre as duas micaretas estudas: o Folianópolis e a Micareta de Feira. O Folianópolis é um caso de micareta da região sul que está completando dez anos em 2015, mostrando o quanto está se consolidando em um território em que micaretas são pouco conhecidas e frequentadas por moradores locais (FOLIANÓPOLIS, 2014). Já a Micareta de Feira é a micareta mais antiga do Brasil, acontecendo anualmente desde 1937 na região nordeste do país, onde possui reconhecimento local e serve como referência para eventos do mesmo estilo devido a seu tempo de realização. O segundo capítulo possui a conceituação sobre eventos, abordando sua definição, prática e tipologia, dentro dos dias atuais. Os autores que ajudaram na construção deste capítulo foram Giácomo (1997), Zitta (2011), Sampaio (2014) e Allen et al (2008). O capítulo tem como objetivo relacionar as micaretas dentro da temática de eventos, com a finalidade de se compreender suas estruturas específicas de festividades e possíveis atrativos proporcionados a seus participantes. No terceiro capítulo busca-se a compreensão sobre o que é cultura, direcionando a atenção dos estudos principalmente à cultura regional, isto é, aquela que se desenvolve em determinada região possuindo indícios em comum, ou até mesmo divergentes, dentro de sua comunidade. Para este capítulo foram utilizados autores como Canclini (2010, 1997, 1982), Armstrong (2001), Xavier e Maia (2010), Trigueiro (2005), Magalhães (2014) e Santaella (2003). Nesta parte do trabalho, também é possível conhecer a cultura das cidades onde as micaretas estudadas ocorrem. Sendo assim, o leitor poderá compreender aspectos que perpassam a cultura de Florianópolis e de Feira de Santana. Dentre os autores estudados sobre Feira de Santana foram utilizados Piazza (1983), Leal (2007) e Várzea (1984). Em relação ao Florianópolis, foram usados autores como Tavares (1961), Domingues e Keller (1958) e Santo (2003).

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O quarto capítulo retrata o âmbito metodológico realizado ao longo desta pesquisa acadêmica. Nesta construção foram utilizados autores como Bonin (2008), Fonseca Júnior (2011) e Bardin (1995). Ele demonstra o caminho desenvolvido para o alcance dos objetivos deste trabalho. Além disto, ele aborda as formas de coleta e análise de dados empíricos. Este capítulo mostra que a metodologia se iniciou com a pesquisa da pesquisa, a qual tinha o intuito de coletar informações sobre o que já existe de estudos nas temáticas que são propostas neste trabalho. Conhecendo o que já foi explorado, foi possível identificar o que ainda havia de necessidade de ser pesquisado e o que já estava, de certa forma, saturado sobre as temáticas propostas. Em seguida se realizou a pesquisa de contextualização, cujo foco era o conhecimento sobre as micaretas analisadas neste trabalho. A terceira etapa metodológica envolveu a pesquisa teórica, que trouxe fundamentos provenientes de autores sobre os assuntos de interesse desta pesquisa acadêmica, assim sendo, foi possível embazar o trabalho a partir da conceituação teórica. Em seguida, foi a pesquisa exploratória, junto dos organizadores das duas micaretas, os quais trouxeram elementos de sua percepção sobre as festas em que trabalham, e também junto de alguns participantes das micaretas, que foram questionados sobre as festividades. Após isto feito, se realizou uma análise e uma posterior reflexão sobre os dados coletados em todas as etapas desta pesquisa acadêmica.

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2 CONTEXTUALIZAÇÃO

Neste capítulo serão apresentados os conceitos sobre micareta, evento conhecido como “carnaval fora de época”. Também será feito um histórico sobre a micareta Folianópolis, a qual ocorre na cidade de Florianópolis (no estado de Santa Catarina) e a Micareta de Feira, cuja realização se dá em Feira de Santana (no estado da Bahia). O objetivo deste capítulo é descrever a estrutura deste tipo de evento, a fim de conhecer as principais características.

2.1 Micareta De acordo com Gaudin (2000), a origem deste tipo de evento pode ser ligada a duas antigas festas: a serração da velha e a mi-carême. A primeira é uma tradicional festa ibérica, cuja quaresma3 era simbolizada por um boneco de uma velha senhora feia, magra e comprida, com sete pés. Ela era comparada com o tempo de abstinência deste período religioso. A cada semana, um pé era arrancado do boneco e, na metade das sete semanas, o próprio boneco era serrado pela metade (BAROJA apud GAUDIN, 2000). Segundo Sebe (1986, p. 85), no Brasil esta festa é uma celebração com o intuito de espantar a morte, pois “a inspiração da micareta está ligada à dramatização de uma velha (símbolo de morte, doenças e desgraças) que seria serrada entre gritos e uivos do público em geral”. A segunda festa de origem das micaretas, a mi-carême4, é um evento de origem francesa, visto que na cidade de Paris acontecia um desfile popular para a eleição da rainha das lavadeiras, a qual quando eleita, desfilava em um carro alegórico de fortuna pelas ruas da cidade (FAURE apud GAUDIN, 2000). No Brasil, esta festividade também ficou conhecida como a festa dos operários. Moraes (1987, p. 164) afirma que na época “cada fábrica elegeria sua rainha e damas de honra que desfilariam pela avenida no sábado de aleluia”. As duas festas mencionadas acima não se confundiram com o carnaval ao chegar no Brasil. Somente em 1914 a micarême foi festejada como um segundo carnaval brasileiro do ano, na cidade de Salvador (Bahia), no Clube Fantoches da Euterpe (GAUDIN, 2000). A festividade surgiu como uma “promoção comercial para salvar do fracasso total o carnaval, que vinha perdendo terreno na aceitação popular” (VIANNA apud GAUDIN, 2000, p. 48). No entanto precisou encarar algumas dificuldades, principalmente com autoridades católicas,

3 De acordo com o dicionário Michaelis, quaresma é o “período de quarenta dias, compreendido entre quartafeira de Cinzas e domingo de Páscoa, em que a Igreja Católica honra com jejuns, abstinência de carnes e outros sacrifícios a paixão e morte de Jesus Cristo”. 4 Segundo o dicionário Priberam, esta “palavra francesa significa meia quaresma”.

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que condenaram a data da festa, visto que ela ocorreu originalmente no domingo de páscoa. Gaudin (2000, p. 50) explica que “mesmo assim, a micarême foi adotada por quantos gostavam da folia e teve longos anos de glória na capital da Bahia. As críticas e condenações da Igreja, porém, fizeram com que a festa fosse transferida do domingo de Páscoa para outro domingo, fora do período de abstinência religioso”. Atualmente as micaretas não estão mais ligadas somente ao período próximo da páscoa. Bem como, não ocorrem somente nas proximidades da cidade de Salvador e no estado da Bahia. No entanto, os carnavais fora de época, como também são conhecidas as micaretas no Brasil por seus participantes, ainda possuem “uma história ligada ao carnaval de Salvador e à evolução dos trios elétricos e das bandas de trios baianos” (GAUDIN, 2000, p. 47). As micaretas atualmente são eventos compostos de trios elétricos (nos quais as bandas se apresentam), em sua maioria, pois raramente há o uso de um palco fixo. Os foliões5 vestem o abadá, isto é, uma camiseta que identifica quem participa da festa, a qual é obrigatória e funciona como uma caracterização da festa. O ritmo que predomina nestas festividades é o axé, mesmo que atualmente as bandas o misturem com outros ritmos como o funk e o reggae. Na estrutura, normalmente, há a opção de o participante ficar dentro de um camarote (área vip), em cima do trio (cujos ingressos são limitados e muitas vezes concedidos apenas a convidados vips) ou na pista (espaço que se participa próximo ao trio elétrico). Segundo Brito (2014, p. 25), “as micaretas tornaram-se mais uma opção no calendário dos artistas, nos quais as bandas de axé procuram transformar os eventos em um ‘mini carnaval de Salvador’, mostrando seus repertórios, brincadeiras ao público nacional”. Nos últimos anos, dentre as maiores micaretas brasileiras, segundo dados do site Intravel Turismo, estão o Carnatal, festa realizada em Natal (Rio Grande do Norte), cuja realização já existe a 23 anos; Micareta de Feira, cuja realização é em Feira de Santana (Bahia) e é a mais antiga micareta brasileira; o Carnalfenas, evento que ocorre na cidade de Alfenas (Minas Gerais) e é conhecido como a maior micareta indoor6 do Brasil; o Fortal, cuja festa é em Fortaleza (Ceará) e para tal festividade já foi até mesmo construído um espaço próprio, chamado de Cidade Fortal; Sauípe Folia, o qual acontece na Costa do Sauípe (Bahia) e tem um público selecionado (classe AA), devido a micareta acontecer dentro de um 5

De acordo com o dicionário Michaelis, folião é o “amigo da folia”, “indivíduo folgazão”, “membro de grupo carnavalesco”. 6 Micareta que ocorre em local fechado.

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complexo hoteleiro; Pré-Caju, micareta de Aracaju (Sergipe), cuja realização é próximo do Reveillon; Carnabeirão, festa que ocorre em Ribeirão Preto (São Paulo) e é considerada uma das maiores do estado; e o Carnaporto, festa realizada em Porto Seguro (Bahia), cujo ponto principal é ocorrer como uma prolongação do carnaval, visto que sua realização é feita dias após o feriado. A região sul do Brasil acolhe poucas micaretas. No entanto, nesta localidade se destaca o Folianópolis, cuja realização é na cidade de Florianópolis (Santa Catarina) conhecida popularmente como a micareta mais bonita do Brasil.

2.2 Folianópolis A micareta Folianópolis acontece desde maio de 2006 na cidade de Florianópolis, no estado de Santa Catarina. O evento ocorre todo ano na Passarela Nego Quirido, a qual é conhecida por ser o sambódromo da cidade. Neste ano, o evento comemora seus dez anos e para este momento, escolheu a temática de “micareta de cinema”7. Segundo dados coletados pelo Folianópolis, a micareta recebe uma média de 15 mil participantes por noite do evento (FOLIANÓPOLIS, 2014). Um dos principais objetivos da festa é trazer a cultura do axé music para a capital catarinense, promovendo desta forma, a interação deste gênero musical com o público da região sul do país (BRITO, 2014). O Folianópolis chegou a ser considerado como a melhor micareta brasileira em 2010, a partir da votação de foliões de todo país dentro de uma enquete do Carnasite8 (site com informações e enquetes sobre micaretas do Brasil). Dentre as bandas que normalmente compõem o evento estão Chiclete com Banana, Ivete Sangalo, Tomate, Cláudia Leite, Asa de Águia e Saulo. Esta festa prioriza bandas de axé music em seu cronograma de shows. O público desta micareta é diversificado e proveniente de inúmeras regiões brasileiras, dentre as quais se destacam Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul,

Bahia,

Distrito

Federal,

Minas

Gerais,

Espírito

Santo,

Sergipe

e

Ceará

(FOLIANÓPOLIS, 2013). Além disto, outros países também fazem parte da festa, como a Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile (FOLIANÓPOLIS, 2013). O Folianópolis movimenta a cidade, trazendo consigo, durante o evento, cerca de 5 mil novos empregos estejam relacionados à esta micareta (FOLIANÓPOLIS, 2014). O evento é responsável por aproximadamente 15 milhões de reais na economia local da capital catarinense, durante o evento (FOLIANÓPOLIS, 2013).

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http://folianopolis.com.br/gravity-landing/folianopolis-2015-no-escurinho/#blueticket http://www.carnasite.com.br/folianopolis-e-eleita-melhor-micareta-de-2010/14416

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O evento apresenta modalidades diferentes de ingressos. Sendo eles: corredor da folia, bloco, camarote balada, camarote grupo/empresarial e carro de apoio. As principais diferenças entre eles são as seguintes: Corredor da folia: garante a presença do público na arquibancada, isto é, fora do evento em si. Nesta modalidade o participante pode apenas assistir a festa à distância. Não há nenhum tipo de estrutura oferecida ao participante além de banheiros e bares. O ingresso para este local é unissex e custa R$ 50,00 para os três dias de micareta9. Bloco: “também chamado de pista, permite ao folião seguir os trios elétricos por todo o percurso, possuindo um abadá por dia com ambiente segurado contra acidentes pessoais” (BRITO, 2014, p. 53). Este tipo de ingresso custa R$ 250,00 (feminino) e R$ 290,00 (masculino)9. O participante que escolhe este ingresso conta com banheiros químicos, praça de alimentação e bares, os quais ficam distribuídos ao longo do percurso por onde passam os trios elétricos. Camarote balada: além de conter os benefícios do bloco, ainda possui uma estrutura melhor e com visão privilegiada (pois é mais alto que a pista), permitindo aos foliões verem mais de perto seus ídolos. Quem compra este ingresso pode descer para a pista sempre que desejar. A infraestrutura deste tipo de ingresso conta com praça de alimentação e banheiros próprios. Também possui uma pista eletrônica exclusiva, conhecida como Espaço Pacha. O valor destes ingressos é de R$ 390,00 (feminino) e R$ 470,00 (masculino)9. Carro de apoio: funciona como um camarote móvel, isto é, um camarote (espaço privilegiado da festa) em cima de um trio elétrico. “Esta área é exclusiva para 50 homens que podem convidar até 2 mulheres cada por dia que estejam participando do evento” (BRITO, 2014, p. 54). Esta modalidade de ingresso conta com bebida liberada (vodka, cerveja, água e refrigerantes). Neste ambiente, o custo para os foliões é de R$ 1.500,009 e somente os homens podem adquirir este tipo de ingresso. As mulheres, apenas podem ser convidadas pelos homens. Camarote grupo/empresarial: não possui venda de ingressos como os demais. Ele é mais restrito. Segundo Brito (2014, p. 54), “O Camarote Grupo/Empresarial possui a capacidade de 25 a 50 pessoas com possibilidade de ações entre clientes e patrocinadores, exposição de marca e decoração do ambiente para os três dias de festa com ambiente segurado contra acidentes pessoais, bares e banheiros exclusivos. Este produto não dá acesso ao Bloco, portanto não permite 9

Valores referentes ao segundo lote para o evento de 2015.

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ao folião seguir os trios elétricos. É bastante utilizado para confraternizações de fim de ano das empresas com seus colaboradores”. Para dar uma continuidade ao Folianópolis, também é realizado um evento paralelo, conhecido como a Macarronada do Léo. Isto é, um almoço oficial da micareta, que ocorre na praia de Jurerê Internacional, em algum beach club conhecido (normalmente é feito no Café de la Musique). Esta festividade está em sua sexta edição e seus ingressos são comprados separadamente do Folianópolis. O valor deste almoço, em 2015, foi de R$ 50,00 por pessoa. Atualmente o Folianópolis é organizado pelo Grupo All10, empresa produtora de shows e eventos no ramo do entretenimento, cuja principal atuação é na região sul do país. De acordo com Gaudin (2000), o grupo All também detém o controle da empresa Blueticket (plataforma de e-commerce de ingressos online, que também realiza vendas por telefone e ponto físico). Esta empresa, junto de produtoras de eventos baianas, deu origem a primeira edição do Folianópolis (FOLIANÓPOLIS, 2014). Neste ano, o grupo All contará com a parceira da Penta Entretenimento, Ner Entretenimento e Outravia Entretenimento.

2.3 Micareta de Feira A Micareta de Feira acontece na cidade de Feira de Santana na Bahia desde 1937 e foi a pioneira no quesito carnaval fora de época. De acordo com Gaudin (2000), uma forte chuva impediu o carnaval de acontecer em 1937 na cidade e a partir disto o povo feirense decidiu postergar a festa de carnaval por algumas semanas, gerando assim, o primeiro carnaval fora de época. O sucesso desta prorrogação do carnaval deu tão certo, que se manteve nos demais anos a micareta em Feira de Santana (GAUDIN, 2000). Vale ressaltar também que “atualmente, a Micareta é a segunda maior festa da Bahia e o governo municipal se aproveita dessa proporção para gerar riquezas, principalmente com o turismo e os investimentos dos empresários” (MIRANDA; SILVA, 2012, p. 4). A festa acontece a muitos anos, porém “só não aconteceu em duas ocasiões: a primeira durante a Segunda Guerra Mundial, da qual alguns soldados feirenses também participaram, e a outra em 1964, em razão do Golpe de Estado” (MICARETA DE FEIRA). A festa começou com bailes a fantasia e com grupos conhecidos na época na Bahia, tais como Zé Pereira, Filhos do Sol, Cadetes do Amor, As melindrosas, Flor de Carnaval e Cruz Vermelha (PINTO; JESUS, 2010). No ano de 1954, a Micareta de Feira de Santana resolveu inovar e trazer para a folia o seu primeiro trio elétrico, chamado Patury. O carro foi 10

http://www.grupoall.com.br/

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criado por José Urbano Cerqueira (o qual era um fabricante de instrumentos), Joaquim Bacelar (o qual fabricava a Patury, uma aguardente de cana) e Péricles Soledade (MICARETA DE FEIRA). A partir deste ano, a micareta sempre passou a contar com trios elétricos. Atualmente a festa atingiu grandes proporções de público e traz inúmeras bandas de sucesso brasileiro para seus dias de micareta. Dentre suas principais atrações musicais recentes, estão as bandas Chiclete com Banana, Harmonia do Samba, Voa Dois, Netinho, Psirico e Timbalada. No início, a festa acontecia em clubes fechados, nos quais apenas uma pequena parcela de pessoas tinha acesso. Porém, com o passar do tempo, “os clubes deixaram de suportar a ascensão da folia e os desfiles, marchinhas, princesas, alegorias e toda a diversão tomaram conta das ruas do centro comercial” (MIRANDA; SILVA, 2012, p. 2). Em 1937 surgiu a primeira rainha da Micareta de Feira, a qual desfilou em um carro alegórico (PINTO; JESUS, 2010). Os autores acrescentam ainda que “Nesse período, a acirrada disputa pelos títulos de rainha e princesas era justificada pela importância que exerciam no período micaretesco. Coroadas no palanque oficial do sítio da folia, as autoridades e foliões as saudavam, rainha e princesas iniciando o cumprimento de uma longa maratona, começando pelos clubes que as queriam como atrações em seus bailes” (PINTO; JESUS, 2010, p. 6). Com isto, nota-se que a escolha da rainha era um acontecimento importante perante a comunidade onde a micareta acontecia. Provavelmente havia certa expectativa em relação ao concurso de escolha da rainha e das princesas. “Com o passar dos anos o entusiasmo inicial na coroação da rainha e princesas foi apagando-se e nos dias atuais o folião desconhece as atribuições de rainhas e princesas da Micareta de Feira de Santana” (PINTO; JESUS, 2010, p. 6). Em contraponto com a afirmação dos autores, o site da Micareta de Feira anuncia que ainda hoje existe a escolha da corte da festa, a qual conta com uma rainha, duas princesas e um rei momo (FEIRA DE SANTANA, 2015). No ano de 2015, a rainha e rei momo receberam dois mil reais para representarem a festa, e as princesas, receberam mil e quinhentos (FEIRA DE SANTANA, 2015). Isto demonstra que a festa ainda escolhe suas representantes e lhes dá certo prestígio dentro dos dias da festividade. A Micareta de Feira acontece atualmente no mês de abril e tem duração oficial de quatro dias. Ela tem início na quinta-feira e término no domingo, mas alguns blocos começam seus desfiles na quarta-feira, aumentando assim o tempo de festa.

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Hoje em dia a Micareta de Feira é composta por dois grandes circuitos de festa: Circuito Maneca Ferreira e Circuito Quilombola. O primeiro é o conhecido como o circuito oficial e é por onde desfilam os trios independentes e blocos convencionais da festa. Nele se encontra o Point Universitário e as grandes atrações da micareta. Ele é situado na Avenida Presidente Dutra, tendo início na Igreja Capuchinhos e fim na JJ Seabra, assim sendo o circuito mais longo. Já o Circuito Quilombola, localiza-se na Avenida João Durval e conta com a participação de blocos afros, escolas de samba e afoxés11. “A tradição do povo de origem afro, dos orixás, da busca por justiça e também os encantos do candomblé fizeram parte dos enredos dos desfiles dos afoxés” (MICARETA DE FEIRA, 2015). Além dos circuitos, a micareta conta ainda com o Espaço Charles Albert, na Kalilândia, um ambiente mais alternativo onde ocorrem atividades para crianças e idosos, com base nos antigos carnavais. A Micareta de Feira possui também a Micareta de Bairros, a qual acontece no final de semana da festa, nos bairros Tomba e Rua Nova, contando com duas atrações musicais por noite. Para participar da Micareta de Feira, o participante pode optar pelas seguintes modalidades de entrada: bloco, camarote de grupo, camarotes privados ou pipoca12. Vejamos: Bloco: Durante o período da Micareta de Feira muitos blocos desfilam pelas ruas de Feira de Santana, os quais são independentes, isto é, funcionam através de instituições privadas e tem custos. Normalmente uma ou mais bandas puxam os blocos/trios elétricos. Dentre eles destacamos os seguintes: Bafo de Baco, puxado pelo Timbalada, o qual é o mais tradicional da micareta, com 22 anos de existência; Auê, puxado pelas bandas Harmonia do Samba e Parangolé, existe há 16 anos e conta com um repertório voltado ao pagode; Cerveja e Cia, bloco puxado pela Ivete Sangalo, o qual também faz parte do carnaval baiano e se faz presente na Micareta de Feira. O valor dos blocos varia, mas em 2015, por exemplo, o valor de uma combinação (isto é, um bloco por dia) dos blocos Auê, Bafo de Baco e Cerveja e Cia, custa R$ 350,00. Camarotes de grupo: espaço privilegiado durante a festa, o qual comporta grupos de pessoas. Eles ficam situados ao longo dos circuitos e tem vista direta para os desfiles. Próximo a estes locais são instalados bares e restaurantes exclusivos. Os valores deste tipo de

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Segundo o dicionário Michaelis, afoxé é uma “festa pública, nos terreiros de candomblé; rancho carnavalesco na Bahia”. 12 De acordo com Miranda e Silva (2012), pipoca é o participante da micareta que festeja na rua, sem pagar ingresso .

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camarote variam. Em 2010, a média estava em R$ 2000,00 para camarotes de 20 pessoas e R$ 1200,00 para camarotes de 12 pessoas (PINTO; JESUS, 2010). Camarotes privados: espaços bem localizados ao longo dos circuitos, os quais pertencem a empresas privadas (como, por exemplo, o Central Mix13 e o DiCamarote14). Contam com serviços de open bar, praça de alimentação própria (com serviços de pizzarias, tapiocarias, lanchonetes e restaurantes) e mirantes da avenida por onde desfilam os trios elétricos. Além disto, também possuem decoração, pista de dança, boate com DJs e sanitários exclusivos (PINTO; JESUS, 2010). Os camarotes, em 2015, poderiam ser pagos por dia, uma média de R$ 280,00 (feminino) e R$ 320 (masculino), ou pagos por pacotes (com entrada de quinta-feira à domingo), média de R$ 910,00 (feminino) e R$ 1100,00 (masculino)15. Pipoca: é a modalidade gratuita, isto é, opção para não pagantes curtirem a festa. Não contam com nenhum tipo de vantagem e utilizam os lugares de livre circulação. É importante ressaltar que, “Durante muitas décadas, a Micareta tinha um caráter de festa democrática e com total investimento municipal. Dessa forma, as pessoas participavam da comemoração sem precisar desembolsar uma determinada quantia para ter direito a um espaço privilegiado. No entanto, com a expansão da indústria carnavalesca, ocorreu uma reconfiguração no ato de festejar, já que os blocos de trio (blocos representados por grandes empresários) tiveram o aval do poder público para se apropriar das ruas e provocar a segregação, do maior símbolo da festa de rua: o folião pipoca” (MIRANDA; SILVA, 2012, p. 6). A partir desta reconfiguração, a Micareta de Feira passou a contar com espaços pagos e isentos (apenas na opção pipoca). Isso causou mudanças no cenário da festa, visto que ela tinha o caráter mais popular antes destas mudanças. “Atualmente o município possui duas secretarias responsáveis pela gestão da festa: Secretaria de Esporte, Lazer e Cultura e a Secretaria de Turismo e Desenvolvimento Econômico” (MIRANDA; SILVA, 2012, p. 4). A Micareta de Feira possui sua coordenação feita por órgãos públicos, diferentemente de outras micaretas do Brasil.

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http://centralmix.net/#micareta http://www.dicamarote.com/ 15 Valores baseados no quarto lote de ingressos do DiCamarote de 2015. 14

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3 EVENTOS

Este capítulo abordará elementos dentro da temática de eventos como sua definição (unida à sua realidade prática) e tipologia. Isto auxiliará na compreensão das micaretas enquanto eventos. Acredita-se que com base na compreensão do que são os eventos, se torne mais viável o desenvolvimento dos objetivos propostos neste trabalho.

3.1 Definição A conceituação sobre os eventos pode variar entre um autor e outro, pois não há uma definição exata sobre esta prática. Giácomo (1997, p. 15) diz que “existe uma variedade heterogênea e contraditória entre os conceitos do que é evento”. Porém alguns autores tentam conceituar os eventos a partir de seus estudos. De acordo com Zitta (2011, p. 23), “evento é um acontecimento onde se reúnem diversas pessoas com os mesmos objetivos e propósitos sobre uma atividade, temas ou assunto”. A autora ainda acredita que o evento “é uma oportunidade para atrair a atenção do público da mídia falada, escrita e televisiva sobre a instituição ou produto objeto do evento” (ZITTA, 2011, p. 333). Segundo Giácomo (1997, p. 54), o evento - enquanto sinônimo de instrumento de comunicação e reunião de pessoas, não representando evento a partir um fato – pode ser definido como “acontecimento previamente planejado, a ocorrer num mesmo tempo e lugar, como forma de minimizar esforços de comunicação, objetivando o engajamento de pessoas a uma ideia ou ação”. A autora acredita ainda que os eventos buscam alcançar sempre um objetivo ligado a comunicação, com base na maior interação junto ao público, com a intenção de lhes engajar em ações ou ideias. Além disto, os eventos não parecem significar acontecimentos isolados ou até mesmo banais na vida de seus participantes. “Eles afetam praticamente todos os aspectos de nossas vidas, sejam eles sociais, culturais, econômicos, ambientais ou políticos” (ALLEN et al., 2008, p. 13). Isto é, os eventos são capazes de interferir em diversos campos da vida humana. Seus impactos vão desde uma transformação cultural até uma mudança econômica no local onde é inserido. Acredita-se que os eventos sejam capazes de impactar tanto de forma direta quanto indireta, pois os eventos são “um investimento no conceito e na imagem da empresa” (ZITTA, 2011, p. 269). Os eventos estão presentes na vida das pessoas e parecem ganhar espaço dentro do cotidiano. “Atualmente os eventos são mais essenciais à nossa cultura do que jamais foram” (ALLEN et al., 2008, p. 3). Este pensamento é trazido pelos autores levando em conta o

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tempo que as pessoas gastam com lazer e devido a maneira com que pensam minunciosamente seus gastos nos dias atuais. Um fator que precisa ser levado em consideração nos dias atuais, quando se pensa na criação de um evento, é o preço cobrado. Afinal, “diante da diversidade das experiências de lazer oferecidas aos consumidores, o preço pode ser uma influência importante” (ALLEN et al., 2008, p. 115). “Os eventos se tornaram tão abrangentes que é quase impossível avaliar com precisão o tamanho deste setor” (ALLEN et al., 2008, p. 264). Assim, se nota que o mercado de eventos está ganhando cada vez mais destaque na sociedade. De qualquer maneira, “no âmbito dos negócios, entendemos que qualquer evento – ainda que indiretamente – tem sua realização para um resultado comercial” (ZITTA, 2011, p. 254). Em geral, os eventos podem se assemelhar em alguns aspectos. Giácomo (1997, p. 59) até mesmo acredita que todos eles tenham “a característica da versatilidade, necessitando sempre criatividade, planejamento, controle e muito bom senso”. Estes itens mencionados tornam o evento suscetível a alcançar seus objetivos, junto de seus participantes. Atualmente um dos esforços na área de eventos é mesclar interesses globais com os locais. “O desafio para muitos eventos é subsistir neste ambiente cada vez mais global, ao tempo que expressam a singularidade das comunidades locais e respondem aos seus interesses e inquietações” (ALLEN et al., 2008, p. 43). Cabe planejar um evento visando a satisfação dos futuros participantes, sem deixar de lado os interesses da comunidade onde será feita a festividade. É necessário um balanceamento de expectativas, necessidades e realizações. Também é importante lembrar que a comunidade onde o evento se realiza é fundamental para o sucesso (ou não) do desta atividade (ALLEN et al., 2008). A região de acontecimento do evento pode influenciar em sua realização. “As mudanças demográficas afetam profundamente as sociedades e, consequentemente, os tipos de eventos” (ALLEN et al., 2008, p. 263). Hoje em dia alguns eventos já são realizados de forma virtual, porém os com participação ao vivo ainda possuem forte procura. “Eventos ao vivo podem cada vez mais se tornar a forma pela qual as comunidades confirmam sua própria identidade local, individualidade e singularidade cultural” (ALLEN et al., 2008, p. 43). Este fato demonstra que esta modalidade de evento tem um caráter cultural envolvido em seu meio, pois representa mais que uma festividade, sendo capaz de representar a própria comunidade local. Quando um evento é pensado, ele precisa ter uma finalidade. Assim é necessário estrategicamente que se estabeleça um modo de como se deseja que o evento seja visto pelos seus participantes (ALLEN et al., 2008). A este processo, segundo os autores, se dá o nome

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de posicionamento estratégico. Este posicionamento quando bem planejado ajuda na concepção positiva dos participantes em relação à festividade. “A opinião favorável dos convidados sobre o evento, sua duração e o local é o foco principal do anfitrião” (ZITTA, 2011, p. 146). A autora destaca que a opinião dos participantes sobre o evento é importante e devido a isto o posicionamento do evento precisa ser bem estruturado. Para que um evento aconteça é necessário que haja uma sequência de ações planejadas, a fim de que o evento seja bem sucedido. “Alguns autores dividem o evento em três fases: pré-evento, evento e pós-evento, processo que também pode ser entendido como concepção, planejamento, execução e avaliação” (GIÁCOMO, 1997, p. 68). As fases mencionadas caracterizam como um evento ocorre desde quando ele é pensado até seu desfecho final. Cada fase envolve uma série de pequenas atividades. Estas funções são executadas por um responsável pelo evento, o qual pode adquirir outras nomenclaturas, tais como organizador, coordenador, promotor, dentre outras. Esta função exige “competência e experiência no ramo. O promotor é o responsável pela ideia do evento e, em consequência, por todos os participantes” (ZITTA, 2011, p. 155). Zitta (2011) esclarece que o organizador do evento pode ser uma pessoa física ou uma empresa especializada neste tipo de serviço. A autora menciona que esta pessoa (ou empresa) tem atribuições práticas pela estrutura geral (desde a concepção até os procedimentos realizados após o evento), mas lhe cabe a responsabilidade de priorizar também seus participantes. “Havendo controle, planejamento e profissionalismo haverá comprometimento” (ZITTA, 2011, p. 158). A autora menciona isso se referindo aos organizadores, bem como as demais equipes envolvidas nos eventos. Sampaio (2014, p. 9) reconhece ainda que “as empresas organizadoras de eventos estão cada vez mais preparadas”. O autor adverte ainda que é necessário às produtoras de eventos que elas “estejam em constante busca pela excelência, capacitando e qualificando os seus profissionais” (SAMPAIO, 2014, p. 9). Com a finalidade de executar um evento, alguns fatores de estrutura precisam ser pensados e planejados antecipadamente. De acordo com Giácomo (1997), fazem parte deste planejamento os seguintes itens: produto (podendo ser ideológico ou material), local onde ocorrerá o evento, data a ser desenvolvido, tema a ser abordado, cronograma de atividades, análise dos participantes, estratégias de comunicação a serem exploradas com a ação, recursos financeiros para tornar o evento viável de acontecimento, instalações e montagem de estrutura do local, dentre outros. Deve ser lembrado que “o planejamento é a base para todo evento bem-sucedido” (ALLEN et al., 2008, p. 64). Porém para que o planejamento se desenvolva na prática, é

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necessário que sejam pensados todos os custos para a realização do evento. “O orçamento é a peça básica do evento; se a despesa ultrapassa a receita logicamente, o evento dará prejuízo. A previsão orçamentária precisa ser feita com, pelo menos, três orçamentos, com o objetivo de comparar preços, avaliar qualidade e melhores condições de realização” (ZITTA, 2011, p. 269). O orçamento serve para nortear financeiramente o que pode ser feito (ou não) dentro do evento. Ele garante a viabilização do evento com base em custos e receitas. Para que o planejamento seja realmente realizado, os promotores do evento contam com apoio logístico, o qual engloba “todos os itens que permitirão a operacionalização do evento, fornecendo subsídios aos apoios administrativos de pessoal e externos” (ZITTA, 2011, p. 128). Mesmo com planejamento para que tudo saia conforme o previsto nos eventos, na prática nem tudo acontece como se deseja. Inesperadamente alguns contratempos podem intervir no desenvolvimento e execução do planejado. “Por maiores que sejam as previsões e o planejamento, as surpresas são inúmeras, algumas delas terrivelmente preocupantes” (GIÁCOMO, 1997, p. 99). A autora menciona com isto que algumas situações não podem ser previstas ou imaginadas antes. Certas dificuldades podem surgir quando menos se espera. Cabe ao organizador do evento estar sempre prevenido em relação a contratempos, afinal ele sabe que qualquer incidente pode influenciar negativamente o evento (ALLEN et al., 2008). “Infelizmente, em ocasiões, há surpresas como acontecimentos tristes, tragédias e resultados alarmantes, por falta de visão dos organizadores, situações que, se melhor pensadas, poderiam ter sido previstas” (ZITTA, 2011, p. 152). Isto exige uma visão ampla do organizador do evento sobre inúmeras situações que possam surgir. O responsável pelo evento “precisa criar mecanismos de controle dos possíveis problemas que venham a surgir” (ALLEN et al., 2008, p. 196). Isto ajuda na prevenção de situações inesperadas que possam ocorrer ao longo do evento. Afinal, “cada ação necessitará de uma solução, de um controle previsível” (ZITTA, 2011, p. 152). Estes controles podem auxiliar no desenvolvimento duradouro dos eventos. Afinal todos passam por um ciclo de vida, isto é, os eventos passam por estágios (introdução, crescimento, maturidade), os quais com o passar do tempo precisam se atualizar (rejuvenescimento) ou podem sofrer prejuízos (declínio), segundo os autores Allen et al (2008). Por fim, cabe ressaltar que “o setor de eventos está em ascensão, ativando uma grande cadeia produtiva que envolve diversos segmentos de negócios” (ABEOC, 2014, p. 28). Isto resulta em mudanças por onde eles ocorrem, trazendo consigo as marcas dos eventos por onde passam. Além disto, “a indústria de eventos é um segmento capaz de pautar o governo para

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que haja investimentos na elaboração de políticas públicas para as áreas de segurança, saneamento, mobilidade urbana, aeroportos, estádios e no setor do turismo de modo geral” (SAMPAIO, 2014, p. 9). Sendo assim, os eventos demonstram que podem impactar verdadeiramente as regiões onde são realizados. Afinal, de 2001 à 2013, a quantidade de eventos anuais no Brasil teve um crescimento de 80,4%, enquanto o número de participantes subiu 153,2% e a receita destas festividades aumentou em 215,8% (ABEOC, 2014, p. 12).

3.2 Tipologia Atualmente muitos pesquisadores buscam categorizar os eventos, a fim de estudá-los de forma mais complexa. A ideia é identifica-los a partir de certas semelhanças. “Existem muitas maneiras diferentes de classificar ou agrupar os eventos, incluindo tamanho, forma e conteúdo” (ALLEN et al., 2008, p. 4). Desta maneira, entende-se que os eventos podem ser reunidos com base na quantidade de seus participantes, no estilo ou na temática a ser abordada. Em relação ao porte do evento, isto é, seu tamanho, é destacado que as definições não são exatas, pois não há uma regra que dite qual evento pertença a qual porte específico (ALLEN et al., 2008). Acredita-se que as micaretas, possam ser classificadas como eventos de grande porte, pois conseguem “atrair um número significativo de visitantes, uma ampla cobertura da mídia e importantes benefícios econômicos” (ALLEN et al., 2008, p. 5). Além disto, os eventos de grande porte são classificados desta maneira por apresentarem um conjunto de atividades ao longo de sua programação (ALLEN et al., 2008). Normalmente as micaretas envolvem mais de uma atividade, as quais podem ocorrer paralelamente ou simultaneamente. Dentre estas atividades se encaixam os shows, cujo ponto central é o encontro de artistas de um segmento musical, os quais contam com a presença ativa do público (ZITTA, 2011). Este conceito de eventos de grande porte é reforçado quando as micaretas criam pacotes para o evento, os quais podem incluir ingressos, hospedagem, alimentação, bebidas, dentre outros. A criação de pacotes dentro de eventos gera a oportunidade de se unirem atrações locais (ou das proximidades da região) com o evento (ALLEN et al., 2008). Esta ferramenta utilizada em grandes eventos “pode ser um meio eficaz de colocar o festival em seus mercados atuais e ainda atrair turistas” (ALLEN et al., 2008, p. 115). Os eventos, segundo Zitta (2011), também podem ser classificados por áreas de interesse (artístico, científico, educativo, cívico, religioso, social, lazer, turístico, dentre outros). “Pode ocorrer, ao mesmo tempo, um evento social ou de lazer, artístico, cultural, entre outros, dependendo de toda programação planejada e, principalmente do objetivo que se

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deseja alcançar” (ZITTA, 2011, p. 25). Desta maneira, um evento pode ter mais de uma área de interesse. No caso das micaretas, as principais áreas de interesse seriam artística, lazer e social. Pois a artística diz respeito a espetáculos envolvendo música e dança, enquanto o de lazer promove o entretenimento do público e o social tem como base o encontro de pessoas que buscam a interação (ZITTA, 2011). As áreas de interesse se assemelham a temática do evento. Ou seja, a determinação artística em relação ao seu formato e estilo que tornará único o evento perante outras festividades (ALLEN et al., 2008). No caso das micaretas, a temática pode variar de acordo com a festa. Este tipo de evento pode adotar um tema específico ou ter como temática apenas o conceito de carnaval fora de época, o que já o torna singular frente a outros eventos semelhantes, como festivais de músicas e shows. As micaretas também são consideradas festas temáticas, segundo Zitta (2011, p. 106), pois se tratam de “eventos especificados pelo encontro de afinidades do público-alvo”. A autora chega até mesmo a mencionar que os carnavais fora de época se enquadram nesta tipologia. Este tipo de evento é planejado para um grande público, com o apoio de promotores de eventos e patrocinadores (ZITTA, 2011). Eles normalmente são realizados em espaços ao ar livre e necessitam de cuidados redobrados em relação à segurança e aprovações públicas para acontecerem (ZITTA, 2011).

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4 CULTURA

Neste capítulo se abordará a temática da cultura regional, visando compreendê-la e identificando como ela permeia o cotidiano das pessoas. Além disto, a cultura da cidade de Florianópolis e de Feira de Santana também serão exploradas. Isto levará a posterior compreensão de possíveis indícios da cultura dentro das micaretas mencionadas neste estudo.

4.1 Cultura Regional O termo cultura possui atualmente inúmeras definições. Nem sempre há um acordo sobre a definição do termo por parte dos pesquisadores em relação a este tema. No entanto, segundo Santaella (2003, p. 30), “há consenso sobre o fato de que cultura é aprendida, que ela permite adaptação humana ao seu ambiente natural, que ela é grandemente variável e que se manifesta em instituições, padrões de pensamento e objetos materiais”. Sendo assim, nota-se que a cultura é variável e adaptada ao povo de determinada localidade. A autora apesar de não conceituar a cultura, deixa claro que os elementos culturais podem estar permeados desde o pensamento do povo até os objetos por ele usados. Canclini (2010, p. 77) complementa o pensamento de Santaella, ao dizer que “a cultura é associada a identidades locais”. “Não existe um paradigma único para estudar os processos culturais e sua inserção social, e os desacordos se manifestam, por exemplo, em estilos e ênfases de pesquisa diferentes em cada ciência social” (CANCLINI, 2010, p. 78). Canclini concorda com Santaella ao afirmar que não existe uma maneira única de se conceituar a cultura, bem como seus processos e implantação. Ele explica que isto se inviabiliza devido as pesquisas na área possuírem focos diferentes. Porém ressalta que uma parte do que ele compreende por cultura está associado ao comportamento desenvolvido com certa regularidade pelas pessoas (CANCLINI, 2010). O termo cultura possui uma amplitude de terminologia. Defini-lo em um conceito fechado pode se tornar uma atividade restritiva. Segundo Armstrong (2001, p. 79), “A pesquisa realmente científica sobre cultura seria possível, mas implicaria mapeamento de diversas culturas, com a curiosidade sempre concentrada na comprovação de uma hipótese estreita, em uma série de culturas, após a qual se passaria por raciocínio linear a outra hipótese. Mas perderia-se assim toda a intimidade com a realidade entrelinhas da cultura, tudo aquilo que se sente mas que não se sabe dizer logo em palavras”.

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Lévi-Strauss (1996) afirma que a cultura é uma criação acumulativa da mente e desta forma não pode ser considerada como definível, afinal trata-se de algo que se elabora constantemente. O autor mostra que a cultura é sempre flexível, se reinventando e agregando elementos com o passar do tempo. Complementando isto, Armstrong (2001, p. 79) aponta a cultura como “uma circulação de mensagens e sentidos”. O autor propõe que a cultura também se forma a partir da troca, não sendo unilateral. Justamente por causa destas trocas culturais, ela se torna variável e capaz de se adaptar ao povo de localidades próximas. Para auxiliar na compreensão do que é cultura, Canclini (1997, p. 17) afirma que “a cultura é um processo de montagem multinacional, uma articulação flexível de partes, uma colagem de traços que qualquer cidadão de qualquer país, religião e ideologia pode ler e utilizar”. A opinião do autor vai de encontro com as demais mencionadas acima, porém ele ainda adiciona a ideia de a cultura deve ser algo que pode ser utilizado por qualquer pessoa e em qualquer local. Também se deve levar em conta que “costumes, crenças, ferramentas, técnicas difundem-se de uma região para outra, de um povo para outro” (SANTAELLA, 2003, p. 43). Com isto, se percebe que a cultura é regional, isto é, ela varia de acordo com a localidade onde se desenvolve. As pessoas de determinados locais tendem a reproduzir elementos em comum dentro de seu cotidiano, tais como comportamentos, crenças e atitudes semelhantes. No entanto isto não impossibilita de que hajam trocas significativas entre pessoas de culturas distintas. “Os atores sociais podem estabelecer novas interconexões entre culturas e circuitos que potencializem as iniciativas sociais” (CANCLINI, 2010, p. 28). De acordo com Canclini (2010), as pessoas são capazes desenvolver uma espécie de identidade imaginária, a qual permite que o relacionamento do indivíduo em diversos cenários diferentes. Afinal, “hoje a identidade, mesmo em amplos setores populares, é poliglota, multi-étnica, migrante, feita com elementos mesclados de várias culturas” (CANCLINI, 1997, p. 142). A cultura regional pode aparecer dentro de elementos que compõem as festas, de forma direta e indireta. “Ainda que cada sociedade possua as suas peculiaridades, é possível compararmos umas com as outras porque compartilham de uma mesma lógica social e intelectual” (CANCLINI, 1982, p. 22). Desta forma, as micaretas podem possuir características próprias, mas também diferenças entre si. Segundo Canclini (2010, p. 46), os próprios artistas “querem aproveitar os benefícios de outras audiências, conhecer e apropriarse do diverso que pode enriquecê-los”. Desta forma, para as bandas também se torna enriquecedor participar de micaretas diferentes, visto que poderão conhecer uma realidade que lhes traz novos elementos de conhecimento e troca.

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Xavier e Maia (2010, p. 335) trazem a questão das festas carnavalescas dentro da cultura brasileira, ao mencionarem que “As festas criaram um conflito entre preservar aspectos da cultura regional e conciliá-la com os padrões do carnaval de Salvador, o que é almejado pelo público, lembrando que os investidores também cobram isto, pois sabem o que pesa mais nos retornos que conseguirão. Este conflito ultrapassa as características da folia e se manifesta na geografia do espaço dos cortejos, circuitos, percursos dos trios e seus respectivos blocos”. Os autores destacam justamente esta relação, considerada por eles como um item de conflito, sobre como conciliar o local com o desejado pelo público e pelos investidores, isto é, como fazer uma relação entre elementos locais com elementos mais massivos, conhecidos e famosos dentro do território nacional. Segundo Canclini (1982), os elementos que motivam as festividades tem vínculo direto com o cotidiano do povo, isto é, as motivações das festas são relacionadas com o estilo de vida da população local. A cultura do povo se reflete nas festividades das quais eles fazem parte. O autor acrescenta ainda que “as atividades de cada festa e a forma como são realizadas são conhecidas por todo povo como parte de seu repertório de crenças e da sua tradição” (CANCLINI, 1982, p. 116). Isto mostra que a cultura regional tende a estar ligada com suas festas. Assim sendo, a cultura de cada região pode estar dentro de suas festas, demonstrada em pequenos elementos e através de diferentes comportamentos dos públicos que as frequentam. Além disto, Armstrong (2001, p. 96) lembra que “a cultura é, primeiramente, determinada pelo passado e pelo período em que o indivíduo vive absorvendo elementos cuja disposição ele não controla”. Desta forma, captar elementos culturais se torna algo natural, cujo desenvolvimento se dá ao longo do tempo e da história das regiões. Acredita-se que o povo absorva influências da história do local onde vive, reproduzindo comportamentos e costumes semelhantes. Também vale ressaltar que “as práticas culturais herdadas são praticamente inconscientes e, por tanto, além do controle do planejamento racional” (ARMSTRONG, 2001, p. 80). Sendo assim, o consumo cultural também tende a ter um lado inconsciente, a partir das vivências da pessoa. Estas experiências também são provenientes de tradições familiares e festivas, vividas em grupo no passado, com a finalidade de dar continuidade dos grupos sociais (CANCLINI, 1997). Canclini (2010, p. 28) salienta que “é certo que a maior parte da produção e do consumo atuais são

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organizados em cenários que não controlamos”. Neste caso ele está se referindo ao consumo de elementos culturais. Segundo Magalhães (2014, p. 3), “A cultura brasileira apresenta, em virtude da grande extensão territorial, das variações climáticas e populacionais, das diferenças linguísticas representadas pelos diversos sotaques e expressões típicas, um complexo no qual se pode afirmar que coexistem diversas culturas. Tal multiplicidade revela-se na imagem que outros países tem do Brasil e do próprio conceito estereotipado que brasileiros propagam sobre diferentes regiões”. Assim percebe-se que o povo brasileiro abrange diferentes culturas dentro de seu território. A cultura brasileira é variada justamente para se adaptar ao povo de diferentes cenários dentro do país. Conforme o autor menciona, a região tende a influenciar o povo e seus costumes. Com isto, a cultura brasileira se torna diversificada e rica de elementos culturais. Canclini (2010) complementa esta ideia ao relatar que a diversidade de bens culturais e comportamentos dão continuidade a vida em sociedade. O autor ainda menciona que “convivências tão intensas e frequentes como as que nosso mundo exige serão incompreensíveis se compartimentarmos as sociedades” (CANCLINI, 2010, p. 32). O autor reconhece as diferenças existentes dentro da sociedade, mas compreende que isto não deve ser um fator de divisão do povo, a partir de sua cultura. Segundo Canclini (2010, p. 108), “o Brasil apresenta uma sociedade nacional mais disposta à hibridação”. Isto é, Canclini demonstra que o país é mais disponível a trocas culturais entre os povos do que outros lugares do mundo. Além disso, ele reconhece que o país tem muitas limitações em relação a suas desigualdades e diferenças entre classes sociais e regiões, porém ressalta que foram as trocas culturais entre os antepassados que formaram o Brasil (CANCLINI, 2010). Sampaio (2014, p. 9) comenta esta riqueza cultural brasileira, ao mencionar que “O Brasil tem incontáveis atrativos turísticos reconhecidos no mundo inteiro, como nosso povo, nosso folclore, nossa gastronomia, nossas festas populares, nossa vegetação, nosso clima, entre outros. Temos uma identidade cultural muito forte, o que nos dá uma imensa visibilidade, tanto nacional como internacional”.

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O autor destaca o quão valorizado o país é, tanto internamente quanto no exterior. Ele fala do reconhecimento que o Brasil tem a partir de sua cultural local. Sampaio enumera elementos próprios do Brasil que o tornam singular perante outros países. De acordo com Trigueiro (2005), há uma cultural global, cuja existência se dá somente pela falta de uma uniformidade cultural. Assim, se torna ainda mais provável de que existam características comuns e divergentes de uma localidade para outra. “É difícil saber o que é próprio” (CANCLINI, 1997, p. 17). Sendo assim, se torna árduo descobrir o que efetivamente pertence a qual região. Zitta (2011, p. 191) acredita que “podemos falar uma mesma língua, mas a linguagem é diferente. Os hábitos, usos e costumes contribuem para isso, assim como o conhecimento e a experiência de cada um também”. A autora reforça o pensamento de Trigueiro e Canclini em sua afirmação. Trigueiro (2005) menciona que não há uma cultura uniforme, isto é, padronizada. Canclini (2010) relembra que cabe ao cidadão ampliar seu comportamento ativo, a fim de reinventar a sociedade. Isto mostra que enquanto os cidadãos forem buscando o desenvolvimento de seu comportamento na sociedade, não será possível de haver uma uniformidade cultural. Esta uniformidade cultural também não parece ser o caminho desejado pela sociedade. Afinal, cada vez mais há um desenvolvimento cosmopolita dentro das cidades, o qual é impulsionado pela globalização da economia das comunicações (CANCLINI, 2010). Isto pode ser visualizado dentro das cidades, pois “as novas administrações urbanas vem promovendo a melhoria e a diversificação da oferta cultural” (CANCLINI, 2010, p. 164). Segundo o mesmo autor, dentre as novas tendências culturais também se encontram os gostos mais cosmopolitas (CANCLINI, 2010). Isto é, as preferências culturais atuais estão mais ligadas à diversificação, à variação de estilos de vida e a aceitação de diferenças. Ribeiro (2002, p. 37) acrescenta que “no cotidiano, cada um distribui o tempo de acordo com os eventos que fazem parte da sua rotina”. Estes eventos são variáveis de uma região para outra. Por exemplo, uma festividade que é celebrada em uma região (como a semana farroupilha no Rio Grande do Sul), pode não ter relevância em outro estado. Isto ressalta que “as formas de pensamento e de vida constituídas em relação a territórios locais ou nacionais são só uma parte do desenvolvimento cultural” (CANCLINI, 1997, p. 207). Trigueiro (2005, p. 2) também relembra que “As manifestações populares (festas, danças, culinária, arte, artesanato, etc) já não pertencem apenas aos seus protagonistas. As culturas

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tradicionais no mundo globalizado são também do interesse dos grupos midiáticos, de turismo, de entretenimento, das empresas de bebidas, de comidas e de tantas outras organizações socais, culturais e econômicas”. Assim se deve analisar que as manifestações culturais são atualmente consideradas fontes de interesse de diferentes grupos, cada qual com seu foco. Complementando isto, Canclini (2010) menciona que a industrialização da cultura tem auxiliado na homogeneização das culturas em um determinado local, a partir de gostos semelhantes por algo. O autor ainda menciona que “as nações se convertem em cenários multideterminados, onde diversos sistemas culturais se interpenetram e se cruzam” (CANCLINI, 1997, p. 142). As manifestações culturais atingem organizações diversificadas com a finalidade de promover âmbitos específicos dentro de uma região. Dentre as empresas deste ramo, “as empresas que promovem entretenimento e turismo tem suas localizações cada vez mais abstratas, ou seja, são empresas que já não pertencem a um território” (TRIGUEIRO, 2005, p. 4). No entanto o autor menciona ainda que “os produtores culturais populares locais continuam enraizados no seu chão, no seu lugar, porém sem perder de vista o mundo de fora” (TRIGUEIRO, 2005, p. 4). O trabalho desenvolvido por estes profissionais se torna possível a partir de altos investimentos econômicos, unidos à novidades tecnológicas, os quais facilitam atuais megaexposições e eventos pelo mundo (CANCLINI, 2010). Por fim, percebe-se que uma única definição de cultura restringiria o seu significado que possui tamanha amplitude. Além disto, a cultura possui características diversificadas de acordo com o local onde está inserida e não há motivos para se pensar nela de forma única. Canclini (1997, p. 101) até mesmo sinaliza que “temos que pôr um ponto de interrogação no que significa pertencer a uma cidade”. Afinal, hoje em dia a cultura demonstra estar em constante construção e o fato de se pertencer a uma cidade não parece mais ter importância para se localizar o significado do cidadão pertencer à determinada cultura.

4.2 Cultura na cidade de Florianópolis A cidade de Florianópolis está situada na região sul do Brasil, no estado de Santa Catarina. A cidade possui uma área total de 436,5 km2 e é considerada de porte médio (RUFINO, 2006). A Secretaria Municipal de Turismo afirma que a cidade “conta com uma parte insular (ilha de Santa Catarina) e outra parte continental incorporado à cidade em 1927” (PREFEITURA MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS).

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De acordo com a Secretaria Municipal de Turismo “os primeiros habitantes da região de Florianópolis foram os índios tupis-guarani” (PREFEITURA MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS), os quais viviam da pesca, coleta de moluscos e agricultura. A cidade foi efetivamente descoberta “em 1515 por João Dias de Solis, navegante espanhol, em viagem pelo sul do Brasil” (VÁRZEA, 1984, p. 5). Ao chegar, ele e sua tripulação encontraram os indígenas que aqui moravam, os quais sempre atenderam as necessidades essenciais dos europeus recém chegados (PIAZZA, 1983). Depois disto, algumas expedições marítimas também desembarcaram na ilha, porém sem permanecer por lá. Nestes momentos, apenas alguns tripulantes desertavam de suas obrigações e ficavam pela ilha (VÁRZEA, 1984). Piazza (1983, p. 89) complementa isto, dizendo que “náufragos e desertores, que, ali, unidos às indígenas, contribuíram para o desenvolvimento do território catarinense”. Desta forma, entende-se que através destas trocas culturais, entre os moradores já existentes no Brasil e aqueles recém chegados, aos poucos foi se consolidando o estado de Santa Catarina. “A verdadeira história da Ilha e de todo o Estado começa, pois, segundo conspícuos historiadores, com a pequenina colônia fundada por Francisco Dias Velho Monteiro” (VÁRZEA, 1984, p. 6). O autor acrescenta ainda que Monteiro era um agricultor de Santos, o qual ao saber notícias da índole mansa dos indígenas e do comércio da ilha de Florianópolis, resolveu seu mudar para lá, junto de seus familiares (VÁRZEA, 1984). Além disto, a população também tem descendência do povo do Arquipélago de Açores (RUFINO, 2006). Durante certo período a colonização açoriana era considerada “um evento ao qual se atribuía localmente pouca ou nenhuma importância” (LEAL, 2007, p. 141). Com o passar dos tempos, isto parece ter sido modificado, frente a identificação do povo com os açorianos. De acordo com Leal (2007), atualmente muitos moradores da ilha afirmam ser açorianos, querendo referir-se a característica de serem nativos, isto é, nascidos nas terras de Folianópolis. “Os colonizadores açorianos, contrariamente ao que viria a suceder com os colonos alemães e italianos, teriam fracassado nas suas tentativas de aproveitamento agrícola do território” (LEAL, 2007, p. 142). Os açorianos não cultivaram da mesma forma a agricultura catarinense como os demais colonizadores que vieram após sua chegada na região. Eles até mesmo “eram vistos como estruturalmente preguiçosos e supersticiosos” (LEAL, 2007, p. 142) quando comparados com os outros imigrantes mencionados acima. Mesmo que os açorianos tenham esta imagem na ilha catarinense, pode-se dizer Florianópolis adquiriu heranças culturais duradouras deste povo. Segundo Piazza (1983, p. 155),

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“No elenco de manifestações da cultura popular açoriana ainda subsistente no litoral catarinense se alinham as técnicas de pesca, o folguedo do ‘boi-na-vara’, o carro-de-bois, a olaria de cerâmica utilitária e decorativa, a renda-de-bilro, os ‘pão-por-Deus’ – como manifestação de literatura popular e de arte decorativa –, danças (geralmente denominadas fandangos), as festividades do Divino Espírito Santo, além, evidentemente, do grande substrato linguístico”. Segundo Lago (1968, p. 107), “a colonização estrangeira em Santa Catarina foi fator fundamental na evolução econômica e social”. Afinal os imigrantes trouxeram novos elementos para a região, os quais foram se desenvolvendo e prosperando com o passar dos anos. O autor afirma ainda que Santa Catarina tem características semelhantes à Europa, pois mantém padrões culturais elevados (LAGO, 1968). Florianópolis atualmente é conhecida por ser uma cidade turística, devido a beleza de suas 42 praias. Segundo Lago (1968, p. 131), “é uma das capitais atlânticas de crescimentos demográfico vegetativo dos mais elevados”. Devido a isto, a ocupação na cidade é maior no período do verão, sendo que a maior concentração de pessoas se dá entre dezembro até o feriado de carnaval (RUFINO, 2006). Além disto, a cidade também recebe visitantes durante feriados prolongados. Desde 1970 Florianópolis começou a receber ainda mais turistas, dentre eles, os principais são provenientes de São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná (RUFINO, 2006). Este fator provavelmente se dá devido à proximidade destes estados com Santa Catarina e a facilidade de acesso (rodoviário e aéreo). Também não se pode esquecer que entre os turistas da ilha está o público argentino, uruguaio, chileno e paraguaio, os quais normalmente tem preferência de estadia pelo norte de Florianópolis (RUFINO, 2006). Um ponto que merece destaque na cidade é o comércio, o qual “é crescente, multiplicam-se serviços urbanos, sobretudo os atinentes às funções administrativas e culturais” (LAGO, 1968, p. 176). Nota-se a preocupação pela expansão da cidade em alguns pontos, como os mencionados acima. Lago (1968) destaca ainda que o setor comercial tomou a proporção de atender a demanda de consumo da própria população da ilha. Em relação as pessoas do estado de Santa Catarina, elas tendem a ser hospitaleiras. “O catarinense, geralmente, por sua alma expansiva e boa, depois de algumas palavras com um estranho qualquer, faz-se logo seu amigo” (VÁRZEA, 1984, p. 34). Esta característica pode ocorrer devido a vários fatores, mas demonstra que o povo tende estar aberto a novas pessoas. A convivência nesta localidade se assemelha com a que é partilhada dentro de famílias, nas

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quais há afetuosidade (VÁRZEA, 1984). O povo parece ser amigável e acolhedor com as pessoas, mesmo com aquelas a quem não conhece. A população catarinense também é reconhecida por adotar características e traços de personalidade similares. Várzea (1984, p. 6) diz que o povo catarinense “é muito sociável e dado a festas e divertimentos, sendo um desses tipos de povos que raramente experimentaram bisonharia ou tristeza”. Além disto, o autor ainda menciona que a população catarinense é adepta de festejos religiosos e festas populares (VÁRZEA, 1984). Isto mostra que a população de Florianópolis tende a participar de festas, sendo elas de diferenciados tipos e com inúmeras motivações. Em relação ao modo de vestimentas dentro de Florianópolis, Várzea (1984, p. 34) diz que “em poucos lugares do Brasil haverá maior simplicidade e modéstia, sem deixar de existir contudo graciosidade e chiquismo”. Sendo assim, nota-se um estilo mais modesto e despretensioso, o qual não perde traços de bom gosto. Um dos problemas enfrentados em Florianópolis é a questão da marginalização. Devido a grande quantidade de desempregos e situação de pobreza, se formaram na ilha muitas áreas marginalizadas, cuja localização normalmente se dá próxima a morros (LAGO, 1968). O autor explica que “por força de vários fatores, o subemprego prolifera em Florianópolis, forçando novas nomenclaturas identificadoras de ocupações sem remuneração fixa” (LAGO, 1968, p. 177). Quem já esteve na capital catarinense pode comprovar isto através da quantidade de vendedores ambulantes vistos nas ruas e praias de Florianópolis.

4.3 Cultura na cidade de Feira de Santana A cidade de Feira de Santana está localizada no estado da Bahia, a cerca 108 quilômetros da capital baiana, Salvador, e possui mais de 580.000 habitantes, conforme informa a prefeitura da cidade16. A cidade está “localizada na área de contato entre regiões naturais distintas: os tabuleiros sedimentares e os sertões cristalinos” (DOMINGUES; KELLER, 1958, p. 232). A cidade formou-se a partir do século 17, através da rede hidrográfica do local, isto é, os rios da cidade tiveram contribuição para a formação de um povoado (QUEIROZ; SÁ; ASSIS, 2004). A cidade, também conhecida como Princesa do Sertão, era considerada como “uma fazenda na estrada das Boiadas, próxima do arraial de São José das Itapororocas e pertencia a comarca de Cachoeira” (SILVA, 2001, p. 1), no século XVIII. Anos depois Feira de Santana

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tornou-se uma das três principais feiras da Província e posteriormente conquistou o título de cidade (SILVA, 2001). A feira referida acima diz respeito a uma feira de venda de gado, a qual era comum no estado da Bahia (SANTO, 2003). O principal produto da feira era o gado, mas outros produtos também eram comercializados, tais como cereais, farinhas, frutas e objetos domésticos (DOMINGUES; KELLER, 1958). Os elementos vendidos na feira ajudam a compor os pratos típicos da Bahia, cuja riqueza cultural culinária é reconhecida por todo país. De acordo com Tavares (1961, p. 130), “foi o negro quem nos trouxe os elementos mais fortemente integrantes da cozinha baiana”. O autor destaca que dentre os principais pratos baianos estão: vatapá, caruru, acarajé, xinxim de galinha, camarão, quibebe, feijão de azeite, mocotó, bobó de inhame e moqueca (TAVARES, 1961). Feira de Santana também utiliza estes pratos baianos em seu dia-a-dia e é conhecida por seus pratos utilizando alimentos de caça (TAVARES, 1961). Feira de Santana chegou a ser “o maior mercado de gado bovino do estado” (DOMINGUES; KELLER, 1958, p. 233). Sendo assim, tinha um fluxo grande de comércio. Aliás, a cidade sempre foi reconhecida devido ao seu caráter comercial, o qual se iniciou com o comércio de gado e produção agrícola (SILVA, 2001). Além disto, também se tornou “pouso de viajantes e tropas vindos do alto sertão baiano, do Piauí e de Goiás (DOMINGUES; KELLER, 1958, p. 233). Isto se deu, devido a cidade ficar na passagem para localidades próximas, como Cachoeira (DOMINGUES; KELLER, 1958). Posteriormente, também surgiram plantações de fumo e algodão (SANTO, 2003). Muitos moradores da cidade são considerados pecuaristas, devido a serem donos de fazendas na região. Eles “são sempre absenteístas e residem nas cidades” (DOMINGUES; KELLER, 1958, p. 240). Isto mostra que eles optaram pela vida em uma região urbana, mas continuam ligados a vida do campo, com suas fazendas e cultivo de gado, na área rural de Feira de Santana. Atualmente em Feira de Santana, segundo Santo (2003, p. 13), “sua economia continua baseando-se no comércio. A pecuária ainda é importante, mas está voltada para o abastecimento regional. A indústria passou a se desenvolver nas duas últimas décadas, porém o número de empregos diretos gerado é pequeno”. Isto demonstra que a cidade provavelmente conta com muitos trabalhadores sem renda fixa na parte industrial, visto que eles devem ser contratações indiretas. A indústria em Feira de Santana tem segmentos distintos. Dentre as indústrias mais importantes da cidade

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destacam-se: usinas de beneficiamento do algodão, a fábrica de óleo de mamona, fábricas de cordas de sisal, trapiches de fumo, serrarias e torrefações de café (DOMINGUES; KELLER, 1958). Segundo o site da prefeitura de Feira de Santana17, “o nome da cidade é uma homenagem dos considerados fundadores. No século XVIII, o casal Domingos Barbosa de Araújo e Anna Brandoa ergueu uma capela na Fazenda Sant’Anna dos Olhos D’Água, em homenagem à sua santa de devoção, Senhora Sant’Anna”. A cidade é diversificada em relação ao credo religioso. Na Bahia ainda existem muitos candomblés, os quais são alvo de inúmeros turistas. Tavares (1961, p. 153) lembra que é necessário “que o visitante saiba que não vai se divertir, indo a um candomblé, mas assistir a uma cerimônia religiosa, dentro de um critério de muita seriedade e de muito respeito”. Porém, no princípio da formação de Feira de Santana a igreja que se instalou nesta região foi a católica (SILVA, 2010). Com o passar do tempo, protestantes, batistas, fundamentalistas, congregacionais, presbiterianos, iurdianos e assembleianos também conquistaram o povo local (SILVA, 2010). Feira de Santana, por estar dentro do estado da Bahia, também conta com elementos característicos do estado. De encontro a isto, Tavares (1961, p. 4) reflete que “há muita coisa que a Bahia tem e que não se mostra assim de primeira vez”. Acredita-se que a frase tenha sido utilizada a fim de despertar a curiosidade sobre a riqueza cultural do povo baiano. A cultura baiana é rica na pluralidade de elementos. Segundo Armstrong (2001), a herança cultural baiana envolve deste o carnaval juvenil até a cultura religiosa (das igrejas à candomblés), sem deixar de lado a capoeira e as conhecidas baianas. Uma das práticas baianas que até hoje é realizada é a capoeira. “Os capoeiras se expandem em gestos, em movimentos, em baile que será sempre surpresa. É dança que é luta” (TAVARES, 1961, p. 177). Tavares (1961, p. 21) afirma que “o africano trouxe ao povo baiano a vitalidade e a alegria”. Estas características normalmente são ouvidas na sociedade como símbolos das pessoas da Bahia. Além disto, a Bahia sempre foi reconhecida devido as suas múltiplas formas, isto é, sua cultura plural. Segundo Armstrong (2001, p. 85), a região “sempre foi baseada no policulturalismo e na mestiçagem preponderante”. Possuindo desta maneira, uma cultura ampla. O autor menciona ainda que “a cultura nunca foi isolada” (ARMSTRONG, 2001, p. 85).

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Dentre as festas populares baianas, além do carnaval, outra que se destaca é a festa de Nossa Senhora dos Navegantes (também conhecida como Iemanjá), a qual acontece na manhã do primeiro dia do ano, junto de um desfile de centenas de barcos (TAVARES, 1961). Além dela, no mês de janeiro também é comemorada a festa do Bonfim, na qual o povo festeja através de atos religiosos suas graças à Deus (TAVARES, 1961). Pensando-se a Bahia como um todo, o autor Armstrong (2001, p. 101) até mesmo brinca ao afirmar que “o jovem turista que vem passar seis meses na Bahia, aprende algumas manobras de capoeira, os passos das danças, uns aspectos da vivência do Candomblé, algumas revelações românticas”. O autor menciona isto se referindo ao envolvimento que as pessoas baianas são capazes de proporcionar em sua região, envolvendo a todos com sua cultura e traços locais.

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5 METODOLOGIA

O presente trabalho foi desenvolvido primeiramente com a grande temática de micareta. A partir disto, foi se verificando a necessidade de especificar mais que abordagens seriam adequadas a este tema e quais pontos específicos deveriam ser estudados. Para o que o desenvolvimento do trabalho transcorresse da melhor maneira possível, foram utilizados os instrumentos descritos abaixo.

5.1 Pesquisa da pesquisa A partir da definição do tema a ser estudado, iniciou-se a pesquisa da pesquisa. Esta etapa metodológica trata-se de uma busca por estudos já existentes dentro do contexto que se visa pesquisar. Segundo Bonin (2008), esta operação oferece elementos para a elaboração da problemática, bem como para a autoconstrução do pesquisador. Com base nos estudos acadêmicos já feitos é possível se ter uma direção a se aprofundar o conhecimento a cerca do novo objeto de pesquisa. A autora menciona ainda que “esta operação contribui para pensar possibilidades e propostas que se mostrem férteis para o aprofundamento na pesquisa em construção” (BONIN, 2008, p. 123). A pesquisa começou com a divisão das principais temáticas do trabalho em categorias (eventos, micaretas, festas populares, manifestações populares, marketing experiencial e recepção). No entanto, quando a pesquisa se iniciou foi preciso fazer uma alteração de algumas categorias (retirada de festas populares e recepção) e acréscimo de outras (cultura e regionalidade). Isto foi necessário para que as temáticas pesquisadas estivessem de acordo com o possível tema do trabalho de conclusão. Por fim, optou-se por cinco categorias de pesquisa: eventos, manifestações culturais, cultura, micaretas e regionalidade. A partir disto, deu-se início a busca por textos acadêmicos correspondentes aos eixos temáticos estipulados. Os locais de procura foram a Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós)18, Revista Brasileira de Comunicação Organizacional e Relações Públicas (Organicom)19 e Biblioteca Online de Ciências da Comunicação da Universidade da Beira Interior (BOCC)20. Além disto, foi utilizado o Google Acadêmico21 para encontrar mais textos relacionados as temáticas propostas – principalmente 18

http://compos.org.br/ http://www.revistaorganicom.org.br/sistema/index.php/organicom 20 http://www.bocc.ubi.pt/ 21 O Google Acadêmico é uma ferramenta de busca virtual que permite o acesso a trabalhos científicos de diversas áreas de conhecimento. 19

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a categoria “micaretas”. A busca também foi complementada com alguns livros22 de pesquisas recentes ligados a área de eventos, os quais contém dados da situação brasileira atuais. A busca tinha como objetivo encontrar trabalhos acadêmicos das áreas a serem pesquisadas, os quais possivelmente pudessem agregar conhecimento ao trabalho de conclusão em desenvolvimento. Alguns textos encontrados falavam sobre as temáticas propostas, porém não abordavam muito aquilo que se buscava. Sendo assim, estes textos não foram contemplados na análise da Pesquisa da Pesquisa. Foi feita uma leitura superficial nos trabalhos encontrados, a fim de selecionar apenas o que pudesse ser útil ao trabalho. Na busca foram utilizadas as seguintes palavras-chave: micareta, manifestação cultural, regionalidade, regionalismo, cultura, popular e evento. Dentro das temáticas pesquisadas observou-se os seguintes elementos: Eventos: foi a temática com mais trabalhos acadêmicos encontrados, sendo oito no total. Isto provavelmente ocorre devido a amplitude do tema e sua ascensão profissional dentro do Brasil. Segundo Nakane (2014, p. 1), “de 2001 a 2013, o número de eventos passou de 327.520 para 590.913 realizações no país, fomentando um aumento de 80% no período e projetando uma taxa significativa de crescimento médio anual de 5%”. Há vários trabalhos que incluem eventos, dentro de seus mais diversos tipos (esportivos, culturais, populares, dentre outros) e abordagens (estrutura, tamanho, repercussão, estudo de casos, entre outros). No entanto, mesmo que os trabalhos tenham focos e objetivos distintos, foi possível observar que todos os textos selecionados tentam contextualizar os eventos e/ou aquilo que os rodeia. Micaretas: este tema exigiu uma busca maior, devido a terem poucos trabalhos dentro desta área. Provavelmente devido a este tipo de evento ser mais específico, não haja tantos estudos sobre ele. É possível notar que os trabalhos encontrados, sobre este assunto, abrangem desde o histórico destas festas até estudos de caso. A leitura destes trabalhos foi de grande importância para a identificação do que já existe de estudos sobre este evento que se assimila a um carnaval fora de época. Manifestações populares: é uma temática que envolve muitos pontos que podem ser estudados. No entanto, selecionados por falam sobre manifestações populares brasileiras (em especial o carnaval e o folclore) e sobre o que é o popular na atualidade. Esta busca trouxe trabalhos que estão dentro de outros contextos (como o funk, por exemplo), mas cujo ponto observado foi o “popular”. 22

“Turismo em Pauta (especial eventos Brasil): Quem pensa e faz o turismo acontecer” e II Dimensionamento Econômico da Indústria de Eventos no Brasil – 2013”

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Regionalidade: apresentou-se como uma temática mais complexa de se encontrar. Os trabalhos que abordam assuntos locais de uma determinada região normalmente são extremamente focados em estudos de caso. Sendo assim, buscou-se localizar trabalhos cujo foco fosse o estudo da região onde estão localizados e traços da região sul do país. Cultura: também conta com uma vasta quantidade de trabalhos acadêmicos. Porém sua abrangência é grande, o que torna necessário que haja certo filtro de trabalhos que podem ser úteis à pesquisa. O ponto principal deste tema foi descobrir o que envolve a cultura. Dentre os textos encontrados sobre as temáticas foram selecionados: oito estudos sobre eventos, dois sobre micaretas, dois sobre manifestações culturais, quatro sobre regionalidade e três sobre cultura. Todos os trabalhos foram escolhidos a partir de artigos, publicações em revistas, teses, resenhas e livros. Nem todos os trabalhos encontrados foram inclusos na análise da pesquisa da pesquisa, devido a não terem relevância ao tema do trabalho de conclusão. Alguns textos abordavam restritamente o que se buscava e por isto não foram inclusos no resultado final. Com base nesta pesquisa da pesquisa partiu-se para a segunda parte de exploração dos resultados, cuja parte central é a leitura dos estudos que melhor se encaixam com o trabalho de conclusão. Após o levantamento de dados, dez textos foram escolhidos para serem lidos, sendo eles: Título Carnaval: Blocos, Maracatus e a política dos editais II Dimensionamento Econômico da Indústria de Eventos no Brasil - 2013 Turismo em pauta: Quem pensa e faz o turismo acontecer Vira, virou a micareta emplacou! Da mi-carême ao carnabeach: história da (s) micareta(s) A espetacularização das culturas populares ou produtos culturais folkmidiáticos A música que incomoda: o funk e o rolezinho Culturas regionais brasileiras em um ambiente corporativo

Autor

Fonte

Temática

Danielle Maia Cruz

Repositório UFC

Eventos

Revista Eventos

Sebrae

Eventos

Revista Turismo em Pauta

CNC

Eventos

Clarissa Valadares Xavier e Carlos Eduardo Santos Maia

Revista UFG

Micareta

Benoit Gaudin

Scielo

Micareta

Osvaldo Meira Trigueiro

BOCC

Manifestações populares

Felipe da Costa Trotta

Compós

Manifestações populares

Ana Lúcia Magalhães

Revista Organicom

Regionalidade

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Música e mídia locativa: apropriação do lugar através de conexões musicais geolocalizadas Música popular e crítica da mídia: sobre critérios de análise da canção popular nas mídias

Diego Brotas

Compós

Regionalidade

Herom Vargas

Compós

Cultura

Fonte: Quadro elaborado pela autora.

A seleção ocorreu de acordo com a relação mais próxima ao tema do trabalho de conclusão. De cada temática foram escolhidos de um à três estudos. Dentro dos textos escolhidos para leitura, já foram destacados trechos que podem contribuir futuramente na pesquisa geral do trabalho de conclusão. Isto é, foram marcados/destacados trechos que estejam dentro do contexto da pesquisa que será desenvolvida. A partir da análise dos textos selecionados percebemos que o evento micareta é explorado em sua origem, porém não há detalhamentos sobre como ele efetivamente ocorre. Também não foram encontrados estudos detalhados sobre alguma micareta específica. Há somente trabalhos sobre o carnaval (festa que se assemelha à micareta), os quais normalmente mencionam estados do nordeste e sudeste. Também foram encontrados estudos sobre a origem dos trios elétricos. Identificou-se que o estudo das micaretas, fora da Bahia, são pouco explorados e trabalhados no meio acadêmico. Há pouco conteúdo sobre como estes eventos ocorrem. O estudo mais profundo é sobre algumas micaretas que ocorrem na região nordeste do Brasil23. Os trabalhos sobre eventos são amplos. Normalmente fazem uma breve descrição sobre o que é evento, e logo após tratam de um evento específico. Há vários estudos de caso sobre megaeventos (como a copa do mundo), mas eventos locais são pouco explorados. O relacionamento do público dentro de uma festa/evento não é normalmente mencionado/explorado. Foram encontradas algumas características do que pode envolver o público, porém são dados mais superficiais. Foi encontrado um breve relato sobre como se dá o relacionamento entre o fã e o artista24. Há uma possível relação entre a personalidade das pessoas e seus gostos/escolhas (principalmente musicais). Esta probabilidade é um pouco citada no trabalho “A música que incomoda: o funk e o rolezinho”, quando o autor faz uma breve relação do estilo musical com seu público. 23

Os estudos podem ser encontrados no trabalho “Fortaleza em tempo de carnaval: blocos, maracatus e a política dos editais”, os quais falam principalmente do Fortal (micareta de Fortaleza) e Carnatal (micareta de Natal). 24 “Música popular e crítica da mídia: sobre critérios de análise da canção popular nas mídias”.

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As pesquisas sobre manifestações culturais abordam diferenciados acontecimentos, rituais, histórias, crenças e hábitos do povo brasileiro. Há também o começo de uma exploração do termo “folkcomunicação”25. O conceito cultura é sempre mencionado e discutido entre os autores. O estudo parece até mesmo clichê se não explorado de forma específica. Os trabalhos “Culturas regionais brasileiras em um ambiente corporativo” e “Música popular e crítica da mídia: sobre critérios de análise da canção popular nas mídias” trazem definições para o termo “cultura”. No entanto, o termo é tratado de maneira geral e ampla, isto é, não é explorado nos detalhes de sua amplitude. Um tema que chama atenção são as características peculiares entre o povo de locais diferentes. Bem como a maneira que se relacionam com determinados eventos. Outro assunto que merece destaque é a evolução/crescimento de certos eventos, como o carnaval. São notáveis os avanços, modificações e melhorias que ocorreram desde que foram criados até os dias atuais 7. Não foram encontrados trabalhos sobre o axé – estilo musical que predomina as micaretas. Há estudos recentes sobre outros tipos de música (funk26, sertanejo27 e rock28), mas o axé só foi mencionado (dentro dos trabalhos lidos) na origem das micaretas. A música popular brasileira parece estar sofrendo mudanças, assim como o conceito de “popular”. Isto pode ser visto claramente no trabalho “A música que incomoda: o funk e o rolezinho”. A espetacularização das manifestações culturais também é bastante comentada em um dos trabalhos lidos – “A espetacularização das culturas populares ou produtos culturais folkmidiáticos”. Acredita-se que esteja ocorrendo uma visibilidade maior sobre eventos culturais e que valorizem traços locais do povo.

5.2 Pesquisa de contextualização Após a etapa da Pesquisa da Pesquisa, iniciou-se a Pesquisa de Contextualização, cujo foco inicial era compreender o que são micaretas e posteriormente detalhar duas micaretas (uma da região sul e outro de outra região brasileira). O Folianópolis foi escolhido primeiramente devido a acontecer na região sul do país, o que é pouco comum, visto que estas festas ocorrem normalmente em outras localidades brasileiras. Por já existir um estudo sobre o Folianópolis (com o foco na questão estratégica 25

“A espetacularização das culturas populares ou produtos culturais folkmidiáticos” “A música que incomoda: o funk e o rolezinho” 27 “Música popular e crítica da mídia: sobre critérios de análise da canção popular nas mídias” 28 “Show de rock como dispositivo de confronto” 26

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da festa, visando o público argentino), foi pensado em se ampliar os horizontes da pesquisa, buscando integrar elementos culturais/regionais a esta festividade. Para a melhor compreender do assunto, também se buscou comparar uma micareta do sul (Folianópolis) com outra de outro estado do Brasil. Como existem inúmeros carnavais fora de época ao longo do ano no país, foi feita uma pesquisa prévia sobre semelhanças e diferenças destas festas, conforme o quadro29 abaixo:

Carnatal

Público Pornoite 30 mil Não informado Não informado 40 mil

Folianópolis

15 mil

Fortal

Não informado

Julho

4

Micareta de Feira

400 mil

Abril

4

Precaju Sauípe Folia

300 mil 6 mil

Janeiro Setembro

2 3

Micareta Carnabeirão Carnalfenas Carnaporto

Qtd de dias 3

Ribeirão Preto

Ano de origem 1996

3

Alfenas

1996

Fevereiro

3

Porto Seguro

2008

Dezembro Outubro/ Novembro

4

Natal

1991

3

Florianópolis

2006

Fortaleza

1992

Período Abril Outubro/ Novembro

Local

Feira de Santana Aracaju Costa do Sauípe

1937 1990 2002

Fonte: Quadro elaborado pela autora.

O quadro foi elaborado com as principais micaretas brasileiras atuais, de acordo com as fontes encontradas sobre o assunto. Após o reconhecimento das principais, foram pesquisados dados sobre as festas, a fim de uma comparação pudesse ser feita. O importante era localizar algum elemento significativo para esta futura comparação. Os dados foram coletados em diversos sites, pois normalmente as informações não se encontravam concentradas. Havia também muita informação confundida com propaganda das festas. Por exemplo, algumas delas sugerem que são “a melhor micareta do Brasil”, mas não justificam o porquê disto. Com base nestes dados, a micareta escolhida para ser comparada com o Folianópolis foi a Micareta de Feira. Esta escolha ocorreu por alguns elementos, tais como ser a micareta mais antiga do Brasil, ser atualmente a maior micareta brasileira e ter sido a primeira pioneira neste estilo de festa no país. 29

Quadro elaborado pela autora a partir de dados encontrados sobre as micaretas. Ver as seguintes fontes na referência bibliográfica: Carnaporto, Carnasite, Central Mix, Costa do Sauípe, Revista Folianópolis, Intravel Turismo, Mapa do axé, Micareta de feira, Night Digital, Portal quero meu ingresso, Portal de notícias da Globo e Sauípe Folia.

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5.3 Pesquisa teórica Paralelamente a isto, a Pesquisa Teórica começou a ser trabalhada. Neste ponto, foram feitas leituras sobre cultura, eventos e micaretas. Segundo Stumpf (2011, p. 54), este tipo de pesquisa trata-se de “um conjunto de procedimentos para identificar, selecionar, localizar e obter documentos para a realização de trabalhos acadêmicos e de pesquisa”. Esta estapa da pesquisa contou com diversos autores, os quais auxiliariam a compreender os objetivos propostos no trabalho. Durante a leitura teórica foi importante se atentar a dados que pudessem demonstrar posicionamentos dos autores sobre a temática deste trabalho (STUMPF, 2011). Com este referencial teórico houve base acadêmica para se pensar no trabalho como um todo. A teoria auxiliou na montagem do trabalho, pois trouxe elementos fundamentados que complementam o tema escolhido.

5.4 Pesquisa exploratória – âmbito da organização Nesta fase da pesquisa foram elaborados objetivos a ser alcançados através de um questionário, cuja aplicação se deu com os organizadores das duas micaretas estudadas neste trabalho. Os objetivos foram pensados visando a obtenção de elementos que ainda não haviam sido encontrados sobre as duas micaretas (Folianópolis e Micareta de Feira). Com base nisto, os objetivos estabelecidos foram: Identificar indícios da cultura regional nas micaretas estudadas; Conhecer características próprias das duas micaretas estudadas; Observar mudanças desde a origem das micaretas até os dias atuais. A partir destes objetivos, foram criadas perguntas que pudessem auxiliar na compreensão dos mesmos (conforme apêndice A). Buscou-se não utilizar muitas perguntas a fim de que o questionário não se tornasse maçante ao entrevistado. A ideia era ter algo mais sucinto e objetivo, a fim de se obter retorno dos organizadores das festas. O questionário foi enviado por e-mail para os organizadores oficiais das micaretas estudadas. Os responsáveis pelo Folianópolis responderam rapidamente em menos de 24 horas. Porém os coordenadores da Micareta de Feira demoraram mais de três semanas para darem retorno e não responderam todas as perguntas, devido a estarem envolvidos na organização de outro evento da cidade.

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5.5 Pesquisa exploratória – âmbito dos participantes Esta etapa se iniciou a partir da necessidade de se conhecer melhor as duas micaretas estudadas neste presente trabalho. Afinal, esta etapa “enriquece a tentativa exploratória, aumenta a propensão a descoberta” (BARDIN, 1995, p. 30). A autora salienta que esta etapa metodológica se concentra em três pontos: pré-análise (sistematização das ideias iniciais e operacionais), exploração do material (operacionalização da pesquisa) e tratamentos dos resultados (análise do material coletado) (BARDIN, 1995). Inicialmente se pensou em interrogar mais profundamente os organizadores dos dois eventos. Porém, como foi difícil de obter retorno da organização da Micareta de Feira na primeira etapa do trabalho, se pensou em questionar participantes dos dois eventos. Isto também auxiliaria na percepção dos participantes em relação ao evento. Com base nesta metodologia, se pensaram objetivos a serem alcançados com a pesquisa exploratória. Portanto, para se analisar posteriormente o conteúdo, se contam com objetivos específicos (FONSECA JÚNIOR, 2011). Sendo eles: Compreender como a festa se desenvolve na cidade; Verificar a percepção dos participantes sobre o evento; Compreender o relacionamento dos participantes com a micareta; Identificar indícios da cultura regional na festa. Os critérios para a escolha da amostra dos participantes foram os seguintes: sexo, pessoas residentes da cidade onde a festa ocorre e pessoas de fora da cidade (que já foram à festa). Com isto, se estabeleceu que a necessidade de abordar quatro participantes de cada micareta (isto é, um homem e uma mulher residentes da cidade da micareta, mais um homem e uma mulher não residentes). Os participantes foram encontrados, primeiramente, a partir da proximidade com a pesquisadora. Como não foi possível encontrar todos os entrevistados desta forma, se recorreu ao Facebook das micaretas, onde mais quatro participantes foram escolhidos e aceitaram participar da entrevista. Os entrevistados da Micareta de Feira foram: Dênis30, possui 24 anos, é solteiro, mora em Salvador (BA), não tem o costume de frequentar micaretas e sua família mora em Feira de Santana; Maria31, tem 38 anos, é solteira, nasceu em Salvador (BA) e costuma viajar para participar de micaretas; Sandra31, possui 27 anos, é solteira, mora em Feira de Santana e é bem envolvida com a Micareta de Feira; Daniel31, tem 33 anos, mora em Feira de Santana, é casado e possui um filho. Os entrevistados do Folianópolis foram: Carla31, tem 39 anos, mora 30

Dênis, Maria, Sandra, Daniel, Carla, Edu, Taila e Leandro são nomes fictícios, a fim de preservar a identidade das fontes desta pesquisa.

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em São Leopoldo (RS), é separada, possui um filho de 15 anos e adora micaretas; Edu31, possui 33 anos, é solteiro, atualmente mora em Curitiba (PR), mas é natural de Natal (RN), onde já frequentou várias micaretas; Taila31, tem 25 anos, é solteira, atualmente mora em Florianópolis, mas é natural de São Leopoldo e só conheceu uma micareta além do Folianópolis; Leandro31, possui 22 anos, mora em Florianópolis, é solteiro e nunca havia participado de micaretas antes do Folianópolis de 2014. A princípio a pesquisa seria aplicada via rede social digital (Facetime ou Shype), devido aos entrevistados serem de outros estados. Porém, os entrevistados se negaram a participar via os meios citados, devido a se sentirem constrangidos ou até mesmo envergonhados, visto que estariam “frente a frente” com a pesquisadora. Desta maneira, a pesquisa sistemática foi feita através da rede social Facebook, por via de conversas online, ou pela rede do Whatsapp, também de forma online. Os participantes foram informados sobre a necessidade de realização da entrevista sobre a micareta (de acordo com a que o participante tenha ido) e depois disto foram combinados horários em que os entrevistados estivessem disponíveis para responder. Durante a entrevista a pesquisadora guiou a entrevista por um questionário preliminar de perguntas (de acordo com o apêndice C). Com base nas respostas obtidas, alguns aspectos foram aprofundados. Vale ressaltar que esta “técnica de análise de conteúdo adequada ao domínio e ao objetivo pretendido, tem que ser reinventada a cada momento” (BARDIN, 1995, p. 31). Desta forma, Bardin (1995) relembra ainda que tudo aquilo que as pessoas dizem ou até mesmo escrevem pode ser analisado mediante análises de conteúdo, com base em suas palavras. Após as entrevistas, foram pensadas categorias para análise do conteúdo das entrevistas. “A categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com critérios previamente definidos” (BARDIN, 1995, p. 117). Estas categorias visam então reunir assuntos mencionados relativos a um mesmo assunto. As categorias utilizadas foram: - Indícios da industrialização da cultura: A cultura atualmente pode estar sendo modificada para atender demandas maiores. De acordo com Canclini (2010), a industrialização da cultura ajuda na homogeneização das culturas, com base em gostos semelhantes. Com certas modificações, os traços culturais podem sofrer alterações ou até mesmo serem deixados como segundo plano. Esta categoria teve como objetivo reunir as

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opiniões dos entrevistados sobre estas mudanças que podem estar presentes nas micaretas estudadas. - Envolvimento da comunidade: O local onde a festa ocorre pode trazer uma relação diferente com seus públicos. Sendo assim, buscou-se observar com esta categoria que tipo de relacionamento os participantes possuem com as micaretas estudas, visando identificar se a festividade faz parte da cidade ou trata-se apenas de mais uma festa. - Estrutura: Devido às micaretas possuírem uma estrutura diferenciada de evento, buscou-se perceber elementos estruturais percebidos pelos participantes. Assim como analisar quais pontos são importantes para o participante e quais são as suas possíveis dificuldades dentro das festas. - Elementos da cultura regional: Esta categoria tinha a finalidade de identificar possíveis traços da cultura regional dentro das micaretas. Como as festas fazem parte da cultura do povo, se teve a intenção de visualizar elementos culturais que possam estar presentes dentro das festas. - Pontos de contato: Para conhecer melhor os participantes da festa e suas motivações, procurou-se identificar os principais pontos de contato, isto é, elementos que possam ter influenciado à participação dos entrevistados nas micaretas. - Percepções dos participantes: Cada pessoa que frequenta um evento possui uma percepção diferente sobre o mesmo. A ideia desta categoria foi reunir observações e pensamentos dos entrevistados sobre as micaretas. Dentro desta parte estão informações adicionais sobre elementos das festas regionais estudadas. - Tipo de participação: Quando o participante opta por um determinado tipo de entrada na festa, ele está automaticamente escolhendo o ambiente do qual quer fazer parte. Desta maneira, se buscou conhecer as preferências dos participantes dentro das micaretas e as influências desta escolha. - Características dos participantes: Devido às micaretas estudadas acontecerem em ambientes diferentes, as pessoas que participam das festas podem apresentar diferenças e semelhanças. Esta categoria visou conhecer características dos integrantes de cada uma das festas. A planilha de categorias (que pode ser vista no apêndice D) auxiliou na compreensão dos resultados das entrevistas. Através dela se tornou mais fácil identificar opiniões semelhantes e/ou contraditórias sobre as micaretas estudadas. Segundo Bardin (1995, p. 44), esta análise de conteúdo também “procura conhecer aquilo que está por trás das palavras”. Com base nas entrevistas e contando com a separação em categorias foi possível chegar a

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algumas conclusões sobre as micaretas estudadas, este tipo de evento e a cultura regional onde ocorrem. A análise deste conteúdo das entrevistas ocorre basicamente através da análise de suas mensagens (FONSECA JÚNIOR, 2011).

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6 ESTUDO DAS MICARETAS: A VISÃO DA ORGANIZAÇÃO E DO PÚBLICO

Nesta etapa da pesquisa foram reunidos os resultados sobre as percepções dos organizadores das duas micaretas estudadas. Após isto, foi feita uma reflexão sobre as opiniões dos participantes das festas. Esta parte do trabalho traz o relato sobre as ideias diferentes e semelhantes dos envolvidos ao longo dos estudos.

6.1 A visão dos organizadores: semelhanças e diferenças das micaretas Folianópolis e Micareta de Feira Dentre as respostas recebidas, alguns pontos diferenciam as duas festas. Por exemplo, seus diferenciais: enquanto a Micareta de Feira valoriza seu tempo de realização ininterrupta (78 anos de festa), o Folianópolis destaca sua organização e estrutura, sem deixar de lado a percepção de seu público como diferenciado devido a sua beleza e educação. Por outro lado, ambas festividades também possuem elementos em comum, como a participação do público local durante o evento. A micareta de Feira destaca que além do público da própria cidade de Feira de Santana, os moradores das demais cidades da microrregião também se encontram presentes ao longo da festa. No Folianópolis os organizadores percebem a presença da população de Florianópolis devido a compra de ingressos dos moradores locais, através do site da Blueticket. Para aproveitar esta regionalidade que se encontra nas festas estudadas, os organizadores buscam utilizar elementos culturais locais. Durante os três dias do Folianópolis, a única atração musical diária (isto é, que se repete durante a festa) é a cantora Diana Dias, a qual é catarinense (nascida em Florianópolis) e considerada como uma representante do axé na região sul do país. A organização desta micareta também percebe que a utilização do sambódromo da cidade ajuda na questão cultural local da festividade. Já a Micareta de Feira busca contar com segmentos musicais provenientes de matrizes africanas ao longo de sua festa, cuja abertura tem alusão a festejos juninos, típicos da região onde a festa ocorre. Além disto, 70% dos grupos escolhidos para se apresentarem nesta micareta são locais. Ao longo dos anos as duas festas escolhidas passaram por mudanças. Segundo seus organizadores, uma das diferenças é a estrutura do evento. Outros pontos que também se modificaram foram o crescimento de público, a organização da festa e a alteração dos grupos musicais. A Micareta de Feira destaca ainda que já estão em seu quarto formato de evento, a fim de que possam acomodar melhor seus foliões. O Folianópolis mostra que com o tempo também conseguiu destaque na mídia local e nacional. Atualmente eles são considerados

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como a micareta mais bonita do Brasil, estando entre as cinco maiores do país, contando com uma organização e estrutura exemplares. Porém nem tudo sai conforme o esperado nos eventos. A organização do Folianópolis salienta que se pudesse mudaria o controle de cambistas ao longo da micareta e mapearia os indivíduos de má índole. Os questionários (conforme apêndice B) permitiram que as informações mencionadas acima fossem encontradas, com base em seu trabalho de organização e coordenação dentro das micaretas estudadas neste presente trabalho. Infelizmente o organizador da Micareta de Feira não respondeu as últimas três perguntas do questionário. A resposta foi solicitada mais de uma vez, porém não houve retorno. Devido a isto, se escreveu o texto com base no que conseguimos de respostas. Para melhor visualização do comparativo entre as respostas se pode verificar no quadro abaixo: Micareta de Feira Diferenciais

Elementos da cultura

"É um carnaval fora de época que vem sendo realizado ininterruptamente há 78 anos." "Os segmentos musicais de matrizes africanas como também a abertura do ciclo de festa alusivo aos festejos juninos."

Folianópolis "Estrutura, organização, gente bonita e educada." "Ela acontece no Sambódromo da cidade, a Passarela Nego Quirido."

Participação local

"Efetiva, não só de Feira de Santana como da microrregião."

"Sim...através do mapeamento de vendas através do site da Blueticket."

Mudanças na festa ao longo dos anos

"A evolução da própria festa quanto à organização e grupos musicais e por conta do crescimento da mesma estamos no 4º sitio pra que acomode melhor a participação dos foliões."

"Estrutura, crescimento do público, alcance na mídia local e nacional, organização, aumento de atrações."

Apresentação de grupos locais

"Sim, todos os dias. 70% dos grupos que tocam no evento são locais."

Hábitos preservados

Não respondido

O que mudaria na festa

Principais características e atrações

"A cantora Diana Dias é local e manezinha, representante do Axé no Sul do país." "O formato do evento com trios elétricos, abadás, atrações de axé... esses itens são diferenciais da micareta em relação aos demais eventos."

Não respondido

"Acho que nada (risos)... no máximo o controle de cambistas que infelizmente acontece e o mapeamento de indivíduos de má índole."

Não respondido

"A micareta mais bonita do Brasil, uma das 5 maiores do país, exemplo de organização e estrutura. Atrações do Folianópolis 2015: Ivete Sangalo, Saulo, Tomate, Durval Lelys, Psirico, Timbalada, Diana Dias, Batom na Cueca, Jammil e Banda EVA."

Fonte: Quadro elaborado pela autora.

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6.2 A visão dos participantes: duas micaretas Os entrevistados relataram que está ocorrendo certa elitização na Micareta de Feira. Com o passar dos anos, a ideia da organização foi aumentar os espaços, trazer mais atrações, conquistar mais empresários, conseguir maiores patrocínios, dentre outros. Isso acabou descaracterizando a festa que antes era mais tradicional. "Quando você explora muito a festa, no sentido econômico, você acaba desfigurando a característica do rito, da festa em si." (Dênis - Micareta de Feira). O entrevistado ainda salientou que nos últimos anos houve a chegada de muitas pessoas de fora da cidade e menos envolvimento dos moradores locais, o que ocasionou a perda de identidade da micareta (Dênis - Micareta de Feira). A Micareta de Feira, que antes apresentava uma identidade própria, parece estar mais padronizada com outras festividades. Segundo Maria, a micareta “perdeu a sua tradição e não é mais uma festa que chama a atenção." (Maria - Micareta de Feira). Quando se fala em padronização, quer dizer que a festa deixou de ser única, com características marcantes e traços característicos da própria cidade. Além disto, houve uma crítica dos participantes da Micareta de Feira sobre o uso dos camarotes dentro da festa. Eles percebem esta parte estrutural da festa como um meio de elitização inserido na festividade popular da cidade. Segundo Sandra, os camarotes são compostos de pessoas brancas, bonitas, provenientes da elite da cidade, cujo foco é a ostentação e a separação dos demais integrantes da micareta (Sandra – Micareta de Feira). Os entrevistados até mencionaram que em anos anteriores não havia tantos camarotes na festa. “E em Feira de Santana, conheço muita gente que tira o dinheiro de contas para pagar camarote. Só para tipo ostentar lá, mas ficar devendo até o colégio do filho. Entende? É o que mais tem.” (Sandra - Micareta de Feira). Por outro lado, os participantes do Folianópolis enxergam os camarotes como uma forma de selecionar as pessoas dentro da festa. Isto é, “o valor do ingresso é caro, mas por ser caro não é qualquer um que entra. Acaba não entrando rafuagem, só gente bacana.” (Carla Folianópolis). Este fato mostra que os participantes do Folianópolis justamente tendem a gostar desta separação de classes durante a festa. Os frequentadores da micareta de Florianópolis comentaram que percebem as pessoas do Folianópolis como diferenciadas, principalmente quando se compara esta festa com outras micaretas. "O povo é diferenciado. Há traços mais delicados no povo. O pessoal tem a fisionomia diferente do pessoal do nordeste e da Bahia. (...) As pessoas são mais loiras, mais brancas, não tem tantos negros, tem olhos mais claros..." (Edu - Folianópolis). Carla disse também que nota que os participantes do Folianópolis são jovens, bonitos e bronzeados do sol

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(Carla – Folianópolis). Estas observações foram baseadas principalmente nas características físicas. No entanto, Carla acrescenta ainda que também percebe outras diferenças. Segundo ela, as pessoas são “Diferenciadas no sentido de educação, de como chegar nas outras... Claro, acaba tendo aquele drogadito no meio dos outros, mas tu acaba fazendo amizades lá. Por exemplo, tu passa por alguém, esta pessoa já mexe contigo e mesmo que tu acabe não ficando (beijando na boca), vocês já acabam conversando. Todo mundo interage. Acho que isso é o diferencial de quem vai lá." (Carla - Folianópolis). Além disto, os entrevistados do Folianópolis não demonstraram insatisfação com possíveis indícios de industrialização da cultura. Acredita-se que o fator cultural não seja de grande influência nesta micareta, pois as pessoas que a frequentam mal citaram elementos culturais dentro da festividade. “Não achei nada cultural dentro da festa.” (Carla Folianópolis). Em comunhão com esta ideia, Edu acrescentou que não achou a micareta catarinense com a cara de Florianópolis (Edu – Folianópolis). Acredita-se que isso seja demonstrado pela falta de elementos regionais na festa. Porém vale lembrar que alguns participantes mencionaram que perceberam algumas características da região no Folianópolis. “A micareta lembra a cidade, as pessoas, a alegria das pessoas e a bagunça.” (Leandro Folianópolis). Alguns

entrevistados

não

mencionaram

características

culturais

dentro

do

Folianópolis. Edu, que é natural de Natal, fez até mesmo um comparativo com outras micaretas que ele já foi anteriormente. “Eu achei que quando chegasse no Folia ia encontrar uma réplica do temos no nordeste: muito público, gente na rua, trânsito intenso, movimentação... Mas na verdade achei que é apenas uma festa com camiseta. ” (Edu Folianópolis). Ele relatou que imaginava ver o Folianópolis como uma festa da cidade, onde todos se envolvem, assim como disse já ter visto em Natal. O rapaz disse que no nordeste este tipo de evento “(...) acaba movimentando as ruas, os cidadãos... As ruas são bloqueadas e todo mundo participa. Costuma que as pessoas que não estão no evento participam de alguma forma. Por exemplo, a galera se reúne em apartamentos e sacadas para ver os trios passarem pelas ruas. Assim também curtem a micareta. Além disso, os trabalhadores são liberados para poderem participar da festa. As empresas tendem a liberar as pessoas mais cedo do trabalho para as pessoas participarem da festa e também fugirem do trânsito para voltarem para suas casas, já que tem ruas bloqueadas." (Edu - Folianópolis).

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Este fato mostra que o Folianópolis não parece mobilizar a população de uma maneira geral, acontecendo de forma isolada dentro da capital catarinense. Taila até falou que durante a festa há mais movimento e trânsito na cidade (Taila – Folianópolis). No entanto, não parece haver uma movimentação e envolvimento maior da população com esta festividade em si. Por outro lado, parece haver forte influência cultural dentro da Micareta de Feira. Esta festividade conta até mesmo com apresentações culturais, as quais representam a diversidade do povo. “Durante a micareta tem várias (apresentações culturais), tipo trio de forró, grupo afro, grupo de reggae, artistas da cidade... tem até quadrilha. É uma mistura louca." (Sandra Micareta de Feira). Daniel mencionou que percebe traços característicos de Feira de Santana em vários pontos, como “nos espaços culturais, na venda de artesanato e nas apresentações dos artistas da terra.” (Daniel - Micareta de Feira). Outro ponto citado nas entrevistas desta micareta foram as comidas típicas que a festa possui. Os participantes falaram que as barracas de comida são simples e trazem lanches como pipoca colorida, caldo de cana, churrasquinho e maçã do amor. Mesmo que eles estejam sentindo a falta de antigos elementos culturais na micareta, eles ainda acreditam que o povo é representado neste evento. “As coisas da cultura estão sendo deixadas de lado, mas ainda existem vestígios da baianidade em coisas como lanches e lembrancinhas.” (Maria - Micareta de Feira). A Micareta de Feira busca trazer componentes do povo, caracterizando assim a Bahia. Complementando isto, Sandra mencionou que percebe a “Micareta de Feira mais voltada para o povo da cidade." (Sandra - Micareta de Feira). Em contraponto a moradora de Feira, os entrevistados do Folianópolis avaliaram a micareta do sul como mais voltada para os turistas da cidade. “Floripa é uma cidade que atrai gente de fora. O povo de Floripa chama a atenção. A cidade atrai as pessoas que durante o dia ficam na praia e a noite vão pra micareta.” (Carla – Folianópolis). A cidade, devido a ter inúmeras atrações naturais, acaba conquistando mais adeptos para a festa, os quais aproveitam as belezas da cidade durante o dia e vão para a micareta a noite. Carla exemplificou isso ao relatar que “por exemplo, eu conheci várias pessoas que alugavam casas na beira da praia, com piscina, para poderem aproveitar o tempo que tinham durante o dia vago. Além de curtirem as praias. Aí de noite, iam pra festa." (Carla - Folianópolis). Feira de Santana, apesar de ser mais percebida como uma festa local, também atinge pessoas de outras regiões. Daniel contou que tem amigos do Rio de Janeiro, Aracaju e São Paulo que vem especialmente para a Micareta de Feira (Daniel - Micareta de Feira). Sandra relatou que além dos moradores locais, muitas pessoas frequentam a festa, dentre eles estão

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pessoas do interior da Bahia, assim como de outros estados (Sandra - Micareta de Feira). Em relação ao Folianópolis, Leandro falou que notou a presença de um bom público de fora da cidade, assim como também percebeu várias pessoas da cidade (Leandro – Folianópolis). Os entrevistados do Folianópolis disseram que conheceram pessoas de vários estados do Brasil na micareta, dentre os quais mencionaram os estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Piauí. Carla ainda acrescentou que "das pessoas que eu conheci, não tinha quase ninguém de Santa Catarina e Floripa31." (Carla - Folianópolis). Em relação ao envolvimento dos participantes com as micaretas, se percebe que existem diferenças de relacionamento. Os foliões de Feira acabam conhecendo e participando da festa desde cedo, em alguns casos, desde a infância. “Fui uma vez por volta dos 6 anos, outra na faixa dos 10." (Dênis - Micareta de Feira). O entrevistado relatou que foi desde cedo na micareta para acompanhar sua mãe, a qual não tinha com quem deixar o filho para ir, então acabava levando-o junto. Ele ainda mencionou que a Micareta de Feira funcionava como uma reunião de sua família, além de contar com momentos de encontros com outros amigos da família também (Dênis – Micareta de Feira). Daniel falou que "é impossível não se saber a respeito da festa... Nasci praticamente ouvindo a história e participando também." (Daniel Micareta de Feira). A Micareta de Feira parece fazer parte da vida de todos na cidade. Segundo Daniel, a festa é considerada como tradicional na sociedade feirense, o que faz com que todos esperem e vivam a festividade (Daniel – Micareta de Feira). Em Florianópolis o envolvimento dos participantes é mais superficial. Até mesmo Leandro que sempre morou na cidade relatou que no ano passado foi a primeira vez que participou do Folianópolis, cuja festa foi a sua primeira micareta (Leandro – Folianópolis). Taila que também mora na cidade contou que resolveu ir à festa porque na época estava solteira, então, gostaria de curtir a micareta para aproveitar e conhecer pessoas novas (Taila Folianópolis). Isto demonstra que os participantes do Folianópolis possuem um foco diferente do pessoal de Feira dentro da micareta. O envolvimento da população de Feira de Santana ocorre tanto pela participação, quanto pelo trabalho na festa. Os entrevistados relataram que muitos foliões que participam da festa também auxiliaram em sua organização, “seja através do trabalho informal, vendendo cervejas, comidas, adereços típicos da festa (como um colar, um chapéu, um chaveiro de luzes) ou também através da venda de abadás (camisas de bloco). 31

Floripa é uma expressão de linguagem utilizada pela população para descrever Florianópolis de maneira informal.

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Existem também os que trabalham na limpeza da festa e ganham por isso. E ainda existem os que trabalham com reciclagem, coletando latinhas de alumínio para vender.” (Daniel - Micareta de Feira). Isto demonstra que a população da cidade encontra-se envolvida com a festa desde o seu planejamento até sua execução. As pessoas da cidade também utilizam a festividade como uma forma de renda. Existem também alguns empregos mais duros durante a micareta. Segundo Sandra, “o bloco para sair precisa de cordas. São chamados cordeiros as pessoas que carregam as cordas. Eles geralmente são pessoas bem humildes, de bairros periféricos, normalmente são idosos e ganham por noite trabalhada na micareta. Ganham cerca de trinta reais. (...) Eles levam tombo o tempo todo. Isso quando não apanham de marginais que vão só para bagunçar.(...) Infelizmente é uma realidade triste. Eles ficam morrendo de fome e de sede, caindo e levantando...” (Sandra Micareta de Feira) Esta realidade novamente faz as diferenças sociais de Feira de Santana virem à tona. Daniel ainda destaca que “a festa engloba muito mais pessoas trabalhando do que se divertindo.” (Daniel - Micareta de Feira). Em relação ao Folianópolis nenhum dos participantes mencionou nada sobre o lado profissional que o evento engloba. Isto é, nenhum dos entrevistados falou na entrevista sobre empregos e trabalhos desenvolvidos ao longo da micareta, tanto de maneira formal quanto informal. O contato dos participantes com as festas estudadas também ocorre de maneira diferente entre o Folianópolis e a Micareta de Feira. Por exemplo, a Micareta de Feira acaba tendo público de todas as idades, desde crianças até idosos. “Minha mãe é de Feira de Santana. Então ela costumava ir quando era mais jovem, já que é uma festa relativamente antiga de lá. E acabei tendo que ir algumas vezes.” (Dênis - Micareta de Feira). Enquanto o Folianópolis conta somente com adultos, cujos entrevistados relataram que foram com amigos ou com seus cônjuges. Sandra destaca que "primeiramente ia com meus pais, agora vou com amigos. Se não achar ninguém, vou sozinha." (Sandra - Micareta de Feira). A Micareta de Feira abrange públicos diversificados, ao contraponto de que o Folianópolis possui uma faixa etária mais restrita (somente maiores de idade). Até mesmo no comentário de Sandra se percebe que o público é flexível, pois começam a participar de uma maneira da festa e com o passar dos anos isto se modifica, porém o comparecimento se dá igualmente. Daniel confirmou isto relatando que no início de sua vida ia com seus pais, porém nos seus 14 anos começou a

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frequentar a micareta sem eles, e neste período “já saía em blocos, puxados por trios elétricos, tipo o carnaval... Hoje em dia não vou mais com eles.” (Daniel - Micareta de Feira). Carla relatou que chegou a convidar mais amigas para participar do Folianópolis, porém suas convidadas desistiram “por causa de custos. Elas iam ter que pagar a viagem, a micareta, a hospedagem... Aí elas se enrolaram e acabaram não indo. Acho que também não foram por não saber o quão bom é." (Carla - Folianópolis). Este ponto mostra que o Folianópolis também acaba acarretando em custos maiores para os participantes, em função do valor dos ingressos (percebido como alto pelos foliões) e pelas demais despesas que a festa envolve. Isto ocorre provavelmente em função da festa ocorrer em uma cidade turística e fora da região onde mora parte do público que vai ou deseja ir. Durante a entrevista os participantes de ambas as micaretas também foram questionados sobre as estruturas do evento que participaram. Dênis falou que atualmente a Micareta de Feira está maior do que no período que ele participava, visto que ele não participa mais da festa há muitos anos (Dênis – Micareta de Feira). Maria complementou ao falar que "a Micareta de Feira de Santana era há muito tempo atrás o maior carnaval fora de época do Brasil, ou seja, depois do carnaval de Salvador." (Maria - Micareta de Feira). Ela, que mora na capital baiana, analisou isto em comparação com as festas carnavalescas que já participou em Salvador. Daniel também comparou a Micareta de Feira com o carnaval da capital, ao dizer que nota algumas mudanças em relação aos "trios elétricos, as atrações, os patrocinadores, a dimensão da festa, as comidas, as bebidas e os camarotes all inclusive" (Daniel - Micareta de Feira). Porém ele avaliou que a maior diferença percebida está no percurso, que no carnaval é maior (Daniel – Micareta de Feira). Edu também reparou no pequeno trajeto dos trios elétricos dentro do Folianópolis, “por exemplo no Carnatal o circuito tem cerca de 5km. Aí todo mundo vai atrás do trio, os blocos acompanham os trios. No Folianópolis eles simularam um trajeto de micareta. Lá o percurso é bem curto e se dá voltas com o trio, devido a festa ser em um espaço fechado." (Edu - Folianópolis). O entrevistado falou que “as micaretas do nordeste geralmente são na rua, então todo mundo na cidade acaba se envolvendo no evento.” (Edu - Folianópolis). Com este comentário ele exemplifica novamente que não percebe o envolvimento da comunidade regional com a festa. Devido a micareta ser em um local isolado, no sambódromo, isto acaba não permitindo a participação daqueles que não compram ingressos para o evento. Na Micareta de Feira, Maria elogiou o fato das atrações ocorrerem em um trajeto mais demarcado. "A festa é num só roteiro, conseguíamos aproveitar todas as atrações." (Maria Micareta de Feira).

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O fator segurança foi mencionado por dois entrevistados da Micareta de Feira como um ponto de atenção ao longo do evento. De acordo com Maria, a organização da festa se preocupa com as melhorias de estrutura, mas acaba deixando de lado a segurança dos foliões que festejam na rua (pipoca), deixando-os vulneráveis (Maria - Micareta de Feira). "A pipoca é perigosa pelos ladrões, pelos marginais e pela polícia também." (Sandra - Micareta de Feira). Sandra comentou na entrevista que a própria polícia é perigosa durante a festa, pois quando desejam manter a ordem dentro da micareta, em vários casos, acabam machucando pessoas inocentes, dentre as quais se encontram crianças e idosos (Sandra – Micareta de Feira). Maria relatou que também percebe “a festa perigosa em certos pontos, como na pipoca, por exemplo.” (Maria - Micareta de Feira). “Feira cresceu muito e consequentemente a festa também. Quando a cidade cresce muito, a violência aumenta. Além disso, a festa é famosa.” (Dênis - Micareta de Feira). O entrevistado disse que percebe a violência como uma consequência do aumento da cidade e da festa, mas deixa claro que mesmo como este problema de segurança, a festa continua conhecida. Sendo assim, a violência não parece interferir na participação dos foliões na Micareta de Feira. Os participantes do Folianópolis não mencionaram nada em relação a segurança do evento. No entanto, fizeram elogios sobre outros elementos estruturais da festa. “O que eu mais curti, fora uma menina que fiquei lá, foram as bandas, o estacionamento, as locomoções (que são boas e não são lotadas) e o camarote.” (Edu - Folianópolis). Outra crítica que houve sobre o Folianópolis foi em relação ao preço e temperatura da cerveja. Este pode parecer um item que pode parecer despercebido nos dias da festa, porém foi mencionado e pode servir de ponto de atenção aos organizadores para as próximas edições da micareta. Dentre outras percepções dos participantes do Folianópolis está a questão de preferência da população de Florianópolis, isto é, seus gostos, favoritismo de atividades e predileção por determinadas opções de lazer. “Olha, eu acho que o pessoal de lá curte a praia, o sol, o mar... mas não gosta de micareta não.” (Carla - Folianópolis). A entrevistada acredita que os moradores da capital catarinense tendem a ter outras preferências ao invés de participar de micaretas. Complementando isto, Edu acrescentou que "o axé com certeza não é o ritmo do sul do país. Acho o sul com cara do sertanejo, do pop rock, do rock. Agora do axé? Não acho a cara da região não." (Edu - Folianópolis). O rapaz pensa que o ritmo principal desta micareta não tem relação com os gostos da população do sul do Brasil. Em contraponto a isto, Carla falou que “então lá, na festa, o axé anima ainda mais a festa. Dá um up! Anima!" (Carla Folianópolis). Apesar deste ritmo musical não parecer fazer parte da vida das pessoas da

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região sul do país, na festa eles demonstram gostar das músicas. “Eu me diverti muito, dancei muito, ri muito... As pessoas estavam curtindo a festa... Todas no mesmo clima.” (Taila Folianópolis). Os participantes de Feira de Santana também gostam muito da festa da cidade. “A festa é maravilhosa, só quem participa sabe o quanto é bom estar ali.” (Daniel - Micareta de Feira). Sandra ainda relatou que normalmente chove durante os dias da Micareta de Feira, porém isto não afasta os foliões, que aproveitam ao máximo os dias de festividade (Sandra – Micareta de Feira).

6.3 Principais resultados – reflexão geral A partir desta reflexão sobre as opiniões dos entrevistados, foi possível relacionar os relatos dos participantes das micaretas, com a parte teórica deste trabalho, sem deixar de lado os comentários dos organizadores de ambas as festividades. Dentro desta análise geral de conteúdos, chegou-se a algumas reflexões a seguir expostas. Conforme o conceito principal de Gaudin (2000) sobre micaretas, elas podem ser confundidas com o carnaval, porém ocorrendo em outro período do ano. Percebe-se que os participantes e organizadores desta modalidade de evento também o percebem como uma festa semelhante ao carnaval. Isto pode ser facilmente visto nas falas de Daniel ao longo das entrevistas, cujo participante faz comparativos entre a micareta e o próprio carnaval (Daniel – Micareta de Feira). O organizador da Micareta de Feira também a classifica como um carnaval fora de época, acreditando que o seu diferencial é o tempo ininterrupto de micareta ao longo de tantos anos (ORGANIZADOR FEIRA). Ainda hoje as festas vivem o dilema trazido por Xavier e Maia (2010), sobre a dúvida de manter elementos culturais regionais ou reproduzir moldes do carnaval de Salvador. Zitta (2011) mencionou que os eventos são acontecimentos para reunir pessoas que possuem desejos semelhantes sobre a festividade. Isso auxilia na compreensão do porquê tantas pessoas se reúnem detro destas festas, pois o evento serve também como reunião de foliões que buscam se divertirem. Dênis complementa isto ao relatar que “quando acontecia a micareta, muita gente do interior e principalmente da capital ia para lá.” (Dênis - Micareta de Feira). Desta forma, esta reunião de pessoas demostra o motivo do deslocamento de participantes até às micaretas estudadas, afinal elas possuem objetivos e/ou propósitos semelhantes ao da população onde a festa se desenvolve. Segundo Canclini (1982, p. 22), estas pessoas, de diferentes sociedades “compartilham de uma mesma lógica social e intelectual”.

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Mesmo que ambas as micaretas estudadas possuam certo número de participantes da própria cidade, a questão de turistas foi mencionada inúmeras vezes. Taila até relatou que “pelas pessoas que eu conheci lá, todas eram turistas.” (Taila - Folianópolis). Complementando esta informação, a revista do Folianópolis confirmou vários estados de onde costumam ter participantes durante a festa (FOLIANÓPOLIS, 2013). Este tipo de atração de pessoas de fora das cidades visa benefícios econômicos, bem como visibilidade midiática (ALLEN et al., 2008). Esta questão da quantidade de turistas dentro das micaretas estudadas também pode ser influenciada pelas cidades onde elas ocorrem. Afinal, a localização geográfica pode alterar os tipos de eventos que nele se realizam (ALLEN et al., 2008). Sendo assim, acredita-se que os participantes do Folianópolis também sejam influenciados a participar desta festa devido a ela ocorrer em uma cidade turística conhecida no Brasil. “Florianópolis é uma cidade turística e consegue abrir um bom público de fora pra vir pra festa.” (Leandro - Folianópolis). Afinal, conforme Sampaio (2014), o Brasil possui incontáveis atrativos, dentre os quais estão o povo, o clima e a vegetação. Por outro lado, a Micareta de Feira pode contar com a participação local mais ativa do que a de fora da cidade. Isto se explicaria possivelmente pela percepção de Sandra, ao constatar que esta festa é mais voltada ao povo feirense (Sandra – Micareta de Feira). Como Feira de Santana possui menos atrativos naturais, seus participantes tendem a ser atraídos pela própria festa em si, e não por belezas que a cidade possua, como a situação de Florianópolis, onde os participantes da micareta são atraídos pela festa e pelos atrativos da cidade. “A festa é bem aguardada por todos que participam.” (Daniel - Micareta de Feira). O entrevistado reforça a ideia de um dos autores mencionados neste trabalho de que os eventos “afetam praticamente todos os aspectos de nossas vidas” (ALLEN et al., 2008, p. 13). Isto ocorre porque ao longo desta espera pela festa os participantes ajudam a torná-la viável, assim como podem servir de mão-de-obra, compram ingressos, organizam-se com seus amigos, dentre outros preparativos prévios à micareta. Sgundo Daniel, os moradores de Feira aguardam pela festa ao longo do ano, pois a cidade a vive a micareta mesmo fora de seus dias de realização (Daniel – Micareta de Feira). Assim sendo, este tipo de evento também afeta diretamente a vida cotidiana da população. Canclini (1982) lembra que isto é possível, pois as motivações da população sobre uma festividade tem a ver com seu estilo de vivências. Afinal, as pessoas distribuem o seu tempo diário de acordo com as atividades que fazem parte de suas vidas (RIBEIRO, 2002).

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Conforme mencionado anteriormente por Miranda e Silva (2012), a Micareta de Feira é concebida como a segunda maior festa da Bahia, o que segundo os autores gera interesse do poder público. Os participantes notam isso, Dênis até avaliou que “a mudança é no investimento para a festa em si. Então aparecem camarotes, empresários, divulgação…” (Dênis - Micareta de Feira). O entrevistado se referiu justamente sobre as novas visões financeiras em relação a festividade. Isto é, Dênis destacou que com o passar dos anos, a micareta também passou a contar com interesses maiores, visando aumentar a arrecadação de fundos financeiros, através de diversos meios, como investimentos em camarotes, patrocínio de empresários, divulgação de marcas, dentre outros. Assim percebe-se que há cada vez mais interesse financeiro em festividades culturais. Brito (2014) mencionou que um dos objetivos do Folianópolis é trazer o ritmo do axé para o sul do país. Em contraponto a isto, as entrevistas mostram que o próprio público não reconhece o ritmo musical como característico do povo local, mas em alguns casos, eles até gostam do novo gênero. Como no caso de Taila, que relatou que "as bandas eram muito boas” (Taila - Folianópolis). Vale ressaltar que justamente o estilo determinará a festa como diferenciada (ALLEN et al., 2008). Para aumentar ainda mais esta singularidade da micareta de Florianópolis, a organização contrata a cantora Diana Dias (nascida em Santa Catarina), cujo estilo musical é o axé (ORGANIZADOR FOLIA). Gaudin (2000) mencionou que as micaretas tiveram início no período após o domingo de páscoa. A Micareta de Feira ainda mantém este aspecto em relação a data no calendário anual, mas o Folianópolis não segue a mesma tradição, realizando a festa meses depois da celebração religiosa. Os entrevistados falaram que percebem o Folianópolis como uma micareta de público diferenciado. O próprio organizador da festa comentou que as pessoas educadas e bonitas são um dos diferenciais da micareta (ORGANIZADOR FOLIA). Em alguns relatos dos participantes entrevistados foram mencionadas características de paquera e relacionamentos afetivos, sobre esta festa. Como no comentário de Carla, quando questionada sobre o que lhe atraia na festa, em que ela respondeu “a música, a festa, conhecer pessoas novas, beijar muito” (Carla - Folianópolis). Além disto, Edu também menciona uma mulher com quem se envolveu afetivamente durante o Folianópolis, ao falar sobre outro assunto questionado (Edu Folianópolis). De acordo com Brito (2014), há no Folianópolis a modalidade do carro de apoio na festa, cujo público-alvo é somente o masculino, acompanhado de mulheres convidadas durante a festa. Isto já demonstra que a própria organização da festa visa incentivar a paquera, fazendo com que os homens possam aproveitar seu ingresso para

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conquistar afetivamente as mulheres durante a micareta. A micareta da capital catarinense parece ter como um de seus pontos fortes o incentivo sobre relacionamentos durante a festa. Os vídeos de divulgação desta festa também mostram pessoas bonitas (principalmente mulheres), as quais incentivam o clima de paquera32. Por outro lado, a Micareta de Feira parece ter o caráter mais familiar, visto que permite a participação de pessoas de todas as faixas etárias. Confirmando a informação do site da micareta, Dênis afirmou que realmente existe “o circuito Charles Albert, que é destinado a crianças e idosos” (Dênis – Micareta de Feira). Já o Folianópolis nem mesmo autoriza a entrada de menores de 18 anos, restringindo assim seu público. Uma das diferenças estruturais entre a Micareta de Feira e o Folianópolis foi a questão do tipo de local onde elas ocorrem. Enquanto a Micareta de Feira abrange a cidade de maneira mais generalizada (envolvendo diferentes circuitos e espaços temáticos), o Folianópolis engloba apenas um local fechado. Conforme Zitta (2011), as festividades realizadas ao ar livre, como no caso da Micareta de Feira, necessitam de maiores cuidados, principalmente em relação à segurança e leis. Isso remete aos comentários de Edu, quando ele mencionou que “as micaretas do nordeste geralmente são na rua” (Edu – Folianópolis) e que “no Folianópolis eles simularam um trajeto de micareta. Lá o percurso é bem curto e se dá voltas com o trio, devido a festa se em um espaço fechado.” (Edu - Folianópolis). O entrevistado justamente faz este comparativo sobre a diferença do percurso das micaretas mais abrangentes com o Folianópolis, onde o trecho é menor. Um ponto que merece atenção nas micaretas estudadas é o tempo de realização. Os participantes entrevistados comentaram que desejavam mais tempo de festa ou que a cidade se mobilizasse mais durante os dias da festa. Daniel mencionou que apesar da Micareta de Feira ocorrer de quarta-feira a domingo, muitos moradores da cidade só conseguem participar no final de semana devido a estarem trabalhando nos demais dias (Daniel - Micareta de Feira). Zitta (2011) afirma que a satisfação dos participates sobre o tempo de duração das festas deveria ser um dos focos dos organizadores destes eventos. Giácomo (1997) argumenta que durante os eventos podem ocorrer imprevistos, chamados pela autora de surpresas. Estes imprevistos podem exemplificados pelos casos de citados pelos entrevistados, como a questão de violência dentro da pipoca, a qual foi relatada por Maria (Maria – Micareta de Feira). Outros exemplos de imprevistos foram citados pelo

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Os vídeos das últimas edições da festa podem ser conferidos através dos links https://www.youtube.com/watch?v=o2PrLHaHE-4 e https://www.youtube.com/watch?v=9FwLZM3bHBo.

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organizador do Folianópolis, como o “controle de cambistas que infelizmente acontece e o mapeamento de indivíduos de má índole” (ORGANIZADOR FOLIANÓPOLIS). Junto do Folianópolis ocorre o almoço oficial da micareta, cujos anúncios mencionam que normalmente ocorre em um beach club conhecido da capital catarinense. Isto já demonstra certa elitização da festa, visto que estes locais são reconhecidos por serem frequentados por pessoas com poder aquisitivo maior (principalmente devido a cobrarem valores altos de bebidas, alimentos e/ou entradas) e por muitas vezes contarem com a presença de artistas brasileiros. As festas estão buscando se modernizar, mas por outro lado, estão se tornando mais voltadas para a elite, deixando em segundo plano a população local das cidades onde ocorrem. Zitta (2011) afirmou que as festas sempre possuem o caráter econômico/comercial. Desta forma, cabe aos organizadores das festividades equilibrarem a questão econômica com os interesses de seus participantes, levando em conta as características culturais locais. Dênis ressalta que “quando éramos menores não tinha muito dessa elitização das festas.” (Dênis Micareta de Feira). Os organizadores dos eventos também precisam estar atentos que “o preço pode ser uma influência importante” (ALLEN et al., 2008, p. 115) para os participantes da festa. Esta afirmação se torna concreta na fala de Sandra, que informou que só vai de camarote quando pode, com base em suas finanças (Sandra – Micareta de Feira). E também na de Leonardo que disse que iria novamente à micareta, mesmo sem gostar muito de festas, se o valor do ingresso fosse mais baixo do que o atual (Leandro - Folianópolis). Miranda e Silva (2012, p. 6) citam que antigamente na Micareta de Feira “as pessoas participavam da comemoração sem precisar desembolsar uma determinada quantia para ter direito a um espaço privilegiado”. Isto não se mantém atualmente, pois ambas festas estudadas neste trabalho possuem modalidades de entrada pagas, priorizando espaços. Pensando-se no aspecto de cultura regional, nota-se que alguns rituais locais também estão perdendo força dentro de eventos locais. Pinto e Jesus (2010) falaram sobre como funcionava a escolha de rainhas dentro da Micareta de Feira, porém mostram que este momento da festa perdeu o sentido para os foliões atuais. Sandra lembrou ainda que antigamente “tinham bailes nas pracinhas, como fanfarras. Hoje não tem mais." (Sandra Micareta de Feira). Isto mostra que alguns costumes e rituais regionais tendem a perder seu espaço dentro das micaretas. No entanto, é necessário que haja a valorização da singularidade local dentro de festas, cujas festividades estão cada vez mais globais (ALLEN et al., 2008). De acordo com o organizador da Micareta de Feira, eles possuem cerca de 70% dos grupos

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musicais locais dentro da micareta (ORGANIZADOR FEIRA). Este tipo de ação é algo que valoriza a população da região onde a festa se desenvolve. Alguns entrevistados comentaram sobre indícios de industrialização da cultura dentro das micaretas, isto é, sobre esta padronização das festas, cujos elementos culturais ficam como segundo plano. Canclini (2010) lembra que este fenômeno tem auxiliado na homogeneização das culturas, dentro de um local comum, cuja base são gostos semelhantes entre as pessoas. Porém alguns entrevistados não se mostraram satisfeitos com isto. Dênis, por exemplo, mencionou que este tipo de situação está fazendo a Micareta de Feira perder sua identidade e a característica de rito festivo (Dênis – Micareta de Feira). Santaella (2003) afirma que a cultura devido a ser aprendida ao longo do tempo, se permite adaptar as mudanças de ambiente e das pessoas. Isto vem ao encontro da comparação de Dênis, ao mencionar que "antes da festa era tudo tranquilo, bem interior ainda” (Dênis – Micareta de Feira). Este exemplo mostra como na prática a cidade e seus costumes também se modificaram com o passar dos anos, agregando nesta mudança elementos da micareta. Esta reflexão vem ao encontro com o pensamento de Lévi-Strauss (1996), quando a autora argumenta que a cultura se transforma constantemente, portanto não podendo ser classificada como algo definível terminologicamente. Deve-se lembrar que algumas práticas culturais são herdadas e inconscientes (ARMSTRONG, 2001). Por exemplo, quando alguém adquire hábitos de seus familiares, algo que não se dá conta que faz, cuja participação faz parte de sua vida. Na prática isto pode ser visualizado na vida do entrevistado Dênis, que relatou sua participação na Micareta de Feira desde criança, quando acompanhava a mãe e outros familiares (Dênis – Micareta de Feira). O participante nem mesmo sabia o porquê de ir à festa, porém sua presença na festa se tornou um hábito. Canclini (1997) aponta que estas experiências familiares e festivas buscam a continuidade da vida em sociedade. Este tipo de experiência não foi mencionada pelos entrevistados do Folianópolis. Desta maneira, se percebe que a micareta catarinense não tem traços de práticas culturais provenientes de antepassados do evento. De acordo com Canclini (2010), a cultura também tem relação com a identidade do povo de determinados locais. As pessoas que moram em certas regiões tendem a construir características próprias, as quais podem ser observadas em elementos dentro das micaretas. Por exemplo, Daniel disse que “a Bahia é uma mistura e nada melhor do que em suas festas existam músicas de diversos interesses.” (Daniel - Micareta de Feira). Com isto, ele percebe que dentro da festa esta diversidade se manifesta por meio da música, referenciando assim o povo baiano. O organizador da Micareta de Feira ainda apontou que uma das principais

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mudanças da festa, ao longo dos anos, foi justamente esta renovação de grupos musicais (ORGANIZADOR FEIRA). Em relação ao Folianópolis, Carla acredita que esta identificação de Florianópolis se dá na micareta catarinense através da diversidade de pessoas, as quais são provenientes de inúmeros estados e trazem qualidades em comum, como a educação, a jovialidade e a simpatia (Carla – Folianópolis). Canclini (1997) afirma também que a cultura é uma colagem de traços de pessoas com diferenças entre si, as quais podem ser aderidas por outros com facilidade. Desta forma, acredita-se que dentro das micaretas as trocas culturais ocorram frequentemente. Por este motivo, provavelmente, alguns costumes estejam se confundindo, modificando e até mesmo esquecendo. Carla relatou que dentro do Folianópolis as pessoas sempre interagem, com o intuito de criar amizades na festa (Carla – Folianópolis). Através destas interações, novos laços se criam, permitindo que haja uma troca cultural entre os participantes. Maria falou na entrevista que já frequentou todos os ambientes na Micareta de Feira, o que lhe leva a conhecer pessoas com estilos de vida diferentes (Maria – Micareta de Feira). Este tipo de participação na festa também permite ao participante circular por ambientes culturais múltiplos. Com base no que foi pesquisado ao longo deste trabalho, foi possível de se chegar a algumas conclusões sobre as duas micaretas estudadas, a influência da cultura regional nestas festividades e a percepção dos participantes que normalmente as frequentam. Percebe-se que a Micareta de Feira é mais voltada para a população de sua própria cidade, enquanto o Folianópolis é uma festa que busca mais turistas como seus participantes. Além disto, o Folianópolis também possui uma faixa etária de participantes mais restrita, o que propícia à paquera. Já a Micareta de Feira abrange um grande número de pessoas, com idades diferentes, tendo um caráter mais ligado ao encontro de pessoas, diversão em família e festividade da própria cidade. A cultura regional na Micareta de Feira ainda é mais visualizada do que no Folianópolis, pois conta com elementos locais ao longo do evento, contrapondo-se ao Folianópolis que é um evento mais padronizado (isto é, sem indícios visíveis da cultura local). Os participantes de ambas festividades gostam dos eventos estudados, mas possuem críticas e percepções distintas sobre as festas. Notou-se que o Folianópolis é uma micareta mais elitizada (ou seja, composta por participantes com um poder aquisitivo maior) do que a Micareta de Feira, a qual é mais voltada para o povo de Feira de Santana, englobando toda população de alguma maneira durante (ou até mesmo antes) da festa.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O questionamento que norteou este trabalho buscava compreender se havia influência da cultura regional dentro das micaretas brasileiras da região sul e nordeste. Para isto, buscouse conhecer dois cenários diferentes deste tipo de evento, o Folianópolis (que acontece em Santa Catarina) e a Micareta de Feira (a qual ocorre na Bahia). Com a análise destas duas festividades, foi possível conhecer suas estruturas enquanto evento e fazer comparações entre as duas festas, com a finalidade de identificar semelhanças e diferenças. Além disto, também se conseguiu compreender a cultura regional dos dois locais explorados ao longo da pesquisa, o que auxiliou na constatação de que elementos locais, de certa forma, estão presentes nas micaretas estudadas. Assim foi viável identificar indícios da cultura regional dentro do Folianópolis e da Micareta de Feira. Por exemplo, dentro da micareta feirense se verificou a preocupação em manter tradições locais através de blocos afros, espaços para crianças, escolas de samba e afoxés. Já no Folianópolis há o envolvimento de atrações artísticas locais, como a cantora Diana Dias. Ademais, se desejou conhecer mais a fundo as pessoas que participam deste tipo de festa, a fim de verificar suas percepções em relação às micaretas. Ao longo desta pesquisa acadêmica foram discutidas as temáticas dos eventos, micaretas e cultura. Para basear estes conteúdos, contamos com autores como Canclini (2010, 1997 e 1982), Allen (2008), Gaudin (2000), Giácomo (1997), Miranda e Silva (2012), Xavier e Maia (2010) e Zitta (2011). As micaretas foram abordadas como carnavais fora de época, sendo eventos que ocorrem no Brasil desde 1937. Apesar de terem surgido na Bahia, estas festas ganharam o resto do Brasil, adaptando-se às populações locais. Elas possuem elementos estruturais semelhantes (como trios elétricos, bandas de axé, abadás) e diferentes (tamanho, quantidade de público, modalidades de ingresso). Estas festas se assemelham ao carnaval baiano, cuja similaridade é percebida até mesmo por seus participantes. Os eventos foram estudados como momentos que reúnem pessoas em determinado local, com base em objetivos e desejos em comum. As pessoas que procuram um evento, como as micaretas, normalmente anseiam por diversão, encontros pessoais e experiências. Sem contar, que os eventos apesar de possuírem características de certa forma padronizadas, ainda se preocupam com a utilização de características próprias. Por exemplo, nas micaretas há a diferenciação de outros eventos através dos trios elétricos, uso de camisetas (conhecidas como abadás), participação de cantores/bandas de axé music, dentre outros. Nos eventos se

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verifica a busca dos organizadores por elementos que os tornem singulares perante outros eventos, a fim de cativar cada vez mais seus participantes. Por exemplo, na Micareta de Feira há espaços diferentes com a finalidade de atrair participantes de todas as faixas etárias e no Folianópolis há opção de ingressos privilegiados, como o carro de apoio que dá acesso exclusivo para um número seleto de participantes. Apesar do amplo sentido encontrado para a palavra cultura, nota-se que ela é considerada como um bem da população, a qual é aprendida ao longo dos anos, de geração para geração. A cultura regional é vista como um acúmulo de conhecimentos, experiências, vivências, costumes e hábitos das pessoas, de locais geograficamente próximos. A cultura, devido a ser flexível e constantemente modificada, pode ser transmitida entre as pessoas e permeia diversos ambientes, causando assim trocas culturais. Os objetos de estudo deste trabalho foram o Folianópolis e a Micareta de Feira, os quais foram escolhidos devido a seu tempo de existência (afinal a Micareta de Feira é a micareta mais antiga do Brasil, existindo desde 1937) e devido a sua relevância no local onde ocorrem (o Folianópolis é umas das micaretas mais conhecidas na região sul do país). Com os objetos definidos, se tornou possível a exploração dos âmbitos desta pesquisa. A fim de alcançar os objetivos traçados neste trabalho se contou com uma pesquisa mais aprofundada sobre as temáticas propostas. A metodologia do trabalho possuiu quatro etapas, as quais auxiliaram na busca por pesquisas já desenvolvidas sobre as áreas propostas (Pesquisa da Pesquisa), conhecimento sobre os objetos de estudo (Pesquisa de Contextualização), materiais sobre o que há de teoria sobre os principais conceitos (Pesquisa Teórica), apropriação sobre os eventos estudados (Pesquisa Exploratória) e posterior análise sobre os objetivos propostos no trabalho A metodologia utilizada precisou ser mais ampla devido a conseguir englobar vários ângulos sobre a problemática desta pesquisa. A utilização de apenas um ou dois procedimentos não teriam levado as considerações gerais que este trabalho chegou. Nesta etapa foram utilizados autores como Bonin (2008), Bardin (1995), Stumpf (2011) e Fonseca Júnior (2011). Após este percurso metodológico foi possível se chegar a alguns pontos importantes desta pesquisa, tais como: A elitização das festas está abrangendo as micaretas brasileiras. Apesar das micaretas serem consideradas festas populares, com influência do carnaval, estão aderindo traços de elitização nos dias atuais, tais como ingressos com preços elevados, espaços privilegiados e diferenciação de participantes. O principal aspecto de elitização ocorre através

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dos tipos de ingressos, cujos valores privilegiam quem possui melhores condições financeiras e lhes concebe benefícios exclusivos. A identidade cultural está ficando como segundo plano nas micaretas. Com o passar dos anos as micaretas foram sendo de certa forma mais padronizadas para atender outros participantes. Isso pode atrair mais pessoas, devido ao fato de possuir um caráter mais comercial, porém acaba perdendo os traços da cultura da região. As ações culturais estão cedendo espaço para atrações mais conhecidas. A cultura local está ficando em segundo plano dentro deste tipo de evento brasileiro, comprometendo a identidade cultural das cidades onde as micaretas são realizadas. O envolvimento dos participantes nas micaretas sofre influência cultural regional. As pessoas tendem a ser influenciadas pela cultura do local onde vivem e com isto criam hábitos de relacionamento com as festas. Isto é, aqueles que possuem envolvimento com as micaretas desde cedo (principalmente desde crianças) costumam participar constantemente e ativamente das festas de suas regiões. Já aqueles que não possuem este costume, frequentam as micaretas de maneira mais isolada, ou seja, sem envolvimento pessoal com a festa. Há trocas culturais dentro das micaretas brasileiras. Apesar das micaretas receberem pessoas de diversos estados do Brasil, e até mesmo pessoas do exterior, há uma troca de experiências, vivências, gostos e costumes dentro destes eventos. Neles é possível perceber uma troca cultural entre os participantes, a qual não pode ser vista, mas pode ser sentida por aqueles dela participam. Os participantes das micaretas possuem objetivos e anseios semelhantes, o que lhes faz buscar diversão dentro destas festividades. O axé music ainda predomina como ritmo musical das micaretas. Este estilo de música é o característico das micaretas e possui a maior parte do repertório musical destes eventos. Atualmente ele divide espaço com outros estilos de música, mas ainda é um dos fatores de diferenciação deste tipo de festividade. A Micareta de Feira é uma festa familiar enquanto o Folianópolis é voltado para a paquera. A festa de Feira de Santana abrange todos os públicos da cidade, desde crianças até idosos. Há uma relação de encontro familiar com aqueles que participam dela. Por outro lado, o Folianópolis é uma festa com o caráter mais jovem, o qual incentiva (indiretamente) o clima de paquera entre seus participantes. O Folianópolis atrai mais turistas, enquanto a Micareta de Feira possui mais participantes locais. A capital catarinense conquista seus participantes pela festa, mas além disto atrai inúmeros turistas, que vão à festa e também possuem interesses em aproveitar a cidade de Florianópolis, devido a suas belezas naturais. Já em Feira de Santana, o cenário é

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composto por mais baianos, os quais tem a intenção de festejar um evento da própria cidade. Há a participação de turistas, mas este percentual não parece se comparar com o visto no Folianópolis. Ao longo desta pesquisa, se procurou relacionar questões teóricas com as práticas dos objetos estudados. Acredita-se que estes estudos ainda possam ser aprofundados sob diversos panoramas, os quais enriqueceriam ainda mais a reflexão em torno do tema. Visa-se dar continuidade a este estudo, com a finalidade de explorar as micaretas e a cultura regional dentro deste tipo de evento. Por fim, vale ressaltar que outras pesquisas relacionadas às temáticas propostas no trabalho são importantes para a apropriação mais exploratória dos assuntos abordados. Neste trabalho se focou na cultura regional dentro da região sul e nordeste do Brasil, mas outras pesquisas semelhantes poderiam ser desenvolvidas em outras regiões brasileiras, com base em outras micaretas.

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APÊNDICE A – PERGUNTAS DA PESQUISA EXPLORATÓRIA – ÂMBITO ORGANIZAÇÃO 1. O que você percebe como diferenciais da micareta (nome da micareta)? 2. A micareta traz algum elemento da cultura da cidade em que está inserida? Qual? 3. Você percebe a participação do povo local dentro da micareta? Como? 4. Que mudanças são notáveis desde a criação da micareta até os dias atuais? 5. Há algum tipo de apresentação local nos dias da festa? Comente. 6. Que hábitos são preservados ao longo do tempo nesta micareta? Qual a sua opinião sobre isso? 7. Se você pudesse alterar alguma coisa na micareta (nome da micareta), o que mudaria? Por que? 8. Descreva as principais características e atrações da micareta (nome da micareta).

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APÊNDICE B – QUESTIONÁRIOS RESPONDIDOS NA PESQUISA EXPLORATÓRIA – ÂMBITO ORGANIZAÇÃO

Micareta de Feira 1. O que você percebe como diferenciais da micareta? É um carnaval fora de época que vem sendo realizado ininterruptamente há 78 anos. 2. A micareta traz algum elemento da cultura da cidade em que está inserida? Qual? Os segmentos musicais de matrizes africanas como também a abertura do ciclo de festa alusivo aos festejos juninos. 3. Você percebe a participação do povo local dentro da micareta? Como? Efetiva, não só de Feira de Santana como da microrregião. 4. Que mudanças são notáveis desde a criação da micareta até os dias atuais? A evolução da própria festa quanto à organização e grupos musicais e por conta do crescimento da mesma estamos no 4º sitio pra que acomode melhor a participação dos foliões. 5. Há algum tipo de apresentação local nos dias da festa? Comente. Sim, todos os dias. 70% dos grupos que tocam no evento são locais. 6. Que hábitos são preservados ao longo do tempo nesta micareta? Qual a sua opinião sobre isso? Não respondido. 7. Se você pudesse alterar alguma coisa na Micareta de Feira, o que mudaria? Por que? Não respondido. 8. Descreva as principais características e atrações da Micareta de Feira. Não respondido.

Folianópolis 1. O que você percebe como diferenciais da micareta? Estrutura, organização, gente bonita e educada. 2. A micareta traz algum elemento da cultura da cidade em que está inserida? Qual? Ela acontece no Sambódromo da cidade, a Passarela Nego Quirido. 3. Você percebe a participação do povo local dentro da micareta? Como? Sim...através do mapeamento de vendas através do site da Blueticket. 4. Que mudanças são notáveis desde a criação da micareta até os dias atuais? Estrutura, crescimento do público, alcance na mídia local e nacional, organização, aumento de atrações.

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5. Há algum tipo de apresentação local nos dias da festa? Comente. Sim... a cantora Diana Dias é local e manezinha, representante do Axé no Sul do país. 6. Que hábitos são preservados ao longo do tempo nesta micareta? Qual a sua opinião sobre isso? O formato do evento com trios elétricos, abadás, atrações de axé... esses itens são diferenciais da micareta em relação aos demais eventos. 7. Se você pudesse alterar alguma coisa no Folianópolis, o que mudaria? Por que? Acho que nada (risos)... no máximo o controle de cambistas que infelizmente acontece e o mapeamento de indivíduos de má índole. 8. Descreva as principais características e atrações do Folianópolis. A micareta mais bonita do Brasil, uma das 5 maiores do país, exemplo de organização e estrutura. Atrações do Folianópolis 2015: Ivete Sangalo, Saulo, Tomate, Durval Lelys, Psirico, Timbalada, Diana Dias, Batom na Cueca, Jammil e Banda EVA.

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APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO PRELIMINAR DAS ENTREVISTAS DA PESQUISA EXPLORATÓRIA – ÂMBITO PARTICIPANTES

- Como você ficou sabendo desta micareta? - O que lhe influenciou a participar da festa? - Alguém lhe acompanha neste evento? Quem? - Você normalmente participa desta micareta? Porque? - Você buscou informações sobre a micareta? Onde? - O que você percebe de mudanças na cidade no período da festa e antes dela? - Você acha que esta micareta representa a cara da cidade onde ela se realiza? Por que? - Há algo característico do estado dentro da festa? Exemplifique. - Você já participou de micaretas em outras cidades? - O que você considera característico desta micareta que a diferencie das demais? - O que mais lhe atrai nesta micareta? Por que? - Se você pudesse modificar algo nesta festa, o que mudaria? - Do que você participa dentro desta festa? Cite algumas atividades. - Qual é a sua maneira de entrada na festa? Você compra ingressos? Quais? Por que?

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APÊNDICE D – PLANILHA DE CATEGORIAS DA PESQUISA EXPLORATÓRIA ÂMBITO PARTICIPANTES

Indícios da industrialização da cultura "Quando éramos menores não tinha muito dessa elitização das festas." (Dênis - Micareta de Feira) "A mudança é no investimento na festa em si. Então aparecem camarotes, empresários, divulgação…" (Dênis - Micareta de Feira) "Quando você explora muito a festa, no sentido econômico, você acaba desfigurando a característica do rito, da festa em si." (Dênis - Micareta de Feira) "Tem menos pessoas da cidade e mais gente de fora. Assim perde a identidade." (Dênis Micareta de Feira) "Em 1996 e 2000 não tinham tantos camarotes assim na micareta." (Dênis - Micareta de Feira) "Ela perdeu a sua tradição e não é mais uma festa que chame a atenção." (Maria Micareta de Feira) "O que está acontecendo com a maioria das festas de rua: está se transformando numa comunidade de festas particulares onde os camarotes dominam a festa e onde também há falta de organização." (Maria - Micareta de Feira) "Antigamente tinha até mais diferenças (entre bloco, pipoca e camarote), mas a maioria vai nos camarotes pela ostentação, por status. No camarote, querendo ou não, o público é mais diferenciado, porque não é todo mundo que tem acesso. Se bem que hoje em dia está mais acessível que antigamente, apesar de continuarem caros." (Sandra - Micareta de Feira) "(nos camarotes) Gente bonita, open bar, elite branca. Dá para entender? É meio de exclusão. Até então não tinha isso." (Sandra – Micareta de Feira) "(nos camarotes) Povo rico, na maioria de cor branca. Os camarotes não fazem questão de gente simples lá. Querem gente bonita, que ostente. Até para fazerem a fama do camarote, contratam bandas que toquem só lá dentro e até artistas globais. Os camarotes acabam tendo muitos atrativos." (Sandra - Micareta de Feira) "E em Feira de Santana, conheço muita gente que tira o dinheiro de contas para pagar camarote. Só para tipo ostentar lá, mas ficar devendo até o colégio do filho. Entende? É o que mais tem." (Sandra - Micareta de Feira) "Quem compra camarote é rico ou quem pode." (Sandra - Micareta de Feira) "O valor do ingresso é caro, mas por ser caro não é qualquer um que entra. Acaba não entrando rafuagem, só gente bacana." (Carla - Folianópolis) "Sim, iria esse ano de novo, se o valor fosse mais baixo." (Leandro - Folianópolis) Envolvimento da comunidade "Fui uma vez por volta dos 6 anos, outra na faixa dos 10 e em 2011, eu acho." (Dênis Micareta de Feira) "Íamos para ver os trios passando e ouvir som." (Dênis - Micareta de Feira)

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"Também íamos com outros familiares da gente. Era como uma reunião entre a minha mãe e a irmã dela que mora lá. Se é que pode-se assim dizer." (Dênis - Micareta de Feira) "Chegando lá, você acaba encontrando conhecidos. Na época que fomos não tinha mais junção de famílias, essas coisas de ir duas, três famílias juntas pra lá e tal. Não via isso." (Dênis - Micareta de Feira) "A micareta é uma festa tradicional da cidade. Já existe a festa a quase 80 anos. A cidade respira isso." (Daniel - Micareta de Feira) "É impossível não se saber a respeito da festa... Nasci praticamente ouvindo a história e participando também." (Daniel - Micareta de Feira) "(...) muitos foliões que participam da festa geralmente contribuíram para que ela acontecesse (...) Seja através do trabalho informal, vendendo cervejas, comidas, adereços típicos da festa (como um colar, um chapéu, um chaveiro de luzes) ou também através da venda de abadás (camisas de bloco). Existem também os que trabalham na limpeza da festa e ganham por isso. E ainda existem os que trabalham com reciclagem, coletando latinhas de alumínio para vender." (Daniel - Micareta de Feira) "A festa é bem aguardada por todos que participam." (Daniel - Micareta de Feira) "(tempo que frequenta a micareta) Faz 3 anos. No primeiro ano então, não pude ir, mesmo tendo comprado ingressos. Nesse primeiro ano, eu não fui, mas o espírito foi. Eu estava preparada para ir, queria muito ter ido. Mas fui mesmo nos últimos dois anos." (Carla Folianópolis) "Acho que estou vivendo uma nova fase da minha vida, só por isso não tenho mais vontade de ir nesta micareta." (Carla - Folianópolis) "(...)eu estava solteira. Então, queria aproveitar a festa pra conhecer gente nova e quem sabe conhecer alguém bacana." (Taila - Folianópolis) "Fiz amizades por lá. Até porque quando aconteceu a micareta, eu estava namorando, então, as coisas mudam um pouco." (Taila - Folianópolis) "Foi a primeira vez que fui." (Taila - Folianópolis) "(...) a primeira (micareta) que fui, foi o Folia.(...) Nunca tinha passado pela minha cabeça em ir. (...) É que o meu estilo, meu jeito, não é muito de festa. Por isso nunca tinha interesse em ir." (Leandro - Folianópolis) Estrutura "A festa está muito maior do que quando eu fui."(Dênis - Micareta de Feira) "A Micareta de Feira de Santana era a muito tempo atrás o maior carnaval fora de época do Brasil, ou seja, depois do carnaval de Salvador." (Maria - Micareta de Feira) "A festa é num só roteiro, conseguíamos aproveitar todas as atrações." (Maria - Micareta de Feira) "Melhoram a estrutura enquanto o folião de rua fica vulnerável por conta da violência." (Maria - Micareta de Feira) "Eu faria um trabalho de divulgação maior. Faria uma estrutura com uma boa segurança e boas atrações. Mas acho que pensaria principalmente no fator segurança." (Maria Micareta de Feira)

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"A diferença (entre a micareta e o carnaval) mesmo é o percurso que no carnaval da capital é bem maior que a Micareta de Feira. Além disso, acredito que os trios elétricos, as atrações, os patrocinadores, a dimensão da festa, as comidas, as bebidas e os camarotes all inclusive." (Daniel - Micareta de Feira) "Os camarotes englobam boa parte da festa e também servem para quem não quer se preocupar com comida, bebida, segurança, etc. Geralmente nos camarotes existem atrações à parte, bandas diferenciadas." (Daniel - Micareta de Feira) "Na festa existe o corredor principal, chamado de Circuito Maneca Ferreira, que é onde desfilam os maiores nomes da música atualmente. Também existem os circuitos, como o Quilombola, que é onde se tem espaço para a cultura negra e de raízes e o circuito Charles Albert, que é destinado a crianças e idosos. Fora o point universitário, que é onde concentram-se os estudantes e universitários." (Daniel - Micareta d Feira) "Existem pessoas que preferem somente ficar no camarote devido a imensidão da festa." (Daniel - Micareta de Feira) "A micareta começa geralmente em uma quarta-feira e termina no domingo. Mas... se você for levar em conta, a festa só possui mesmo dois dias: sábado e domingo. Tudo isso por conta do comércio que só fecha no sábado e no domingo. Aí é a hora mesmo de acabar com o mito de que o baiano é preguiçoso... A festa engloba muito mais pessoas trabalhando do que se divertindo." (Daniel - Micareta de Feira) "O bloco para sair precisa de cordas. São chamados cordeiros as pessoas que carregam as cordas. Eles geralmente são pessoas bem humildes, de bairros periféricos, normalmente são idosos e ganham por noite trabalhada na micareta. Ganham cerca de trinta reais. (...) Eles levam tombo o tempo todo. Isso quando não apanham de marginais que vão só para bagunçar.(...) Infelizmente é uma realidade triste. Eles ficam morrendo de fome e de sede, caindo e levantando... Eu sempre compro água ou comida para alguns deles no meio do percurso. Tento não pensar muito nisso, porque se não, nem me divirto." (Sandra Micareta de Feira) "A pipoca é perigosa pelos ladrões, pelos marginais e pela polícia também." (Sandra Micareta de Feira) "A estrutura do Folianópolis é muito maior (que outras micaretas), as pessoas são mais bonitas e educadas. Mas principalmente a diferença que vejo é na estrutura." (Carla Folianópolis) "(diferença do Folianópolis com outras micaretas) Sim, primeiro começa pela estrutura. As micaretas do nordeste geralmente são na rua, então todo mundo na cidade acaba se envolvendo no evento." (Edu - Folianópolis) "O tamanho do percurso. Por exemplo no Carnatal o circuito tem cerca de 5km. Aí todo mundo vai atrás do trio, os blocos acompanham os trios. No Folianópolis eles simularam um trajeto de micareta. Lá o percurso é bem curto e se dá voltas com o trio, devido a festa se em um espaço fechado." (Edu - Folianópolis) "Nossa! Muito pequeno! Tanto de percurso quanto de público." (Edu - Folianópolis) "O que eu mais curti, fora uma menina que fiquei lá, foram as bandas, o estacionamento, as locomoções (que são boas e não são lotadas) e o camarote." (Edu - Folianópolis) "A cerveja estava realmente quente. Ah! E o preço alto da cerveja também. Mas acho que estas coisas fogem do controle." (Edu - Folianópolis)

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"(o que não curtiu) Os poucos dias de festa e a cerveja quente.(...) Porque o estilo da festa é muito bom e as bandas também. Acho que seria bacana terem mais dias para aproveitar." (Leandro - Folianópolis) Elementos da cultura regional "Antes da festa era tudo tranquilo, bem interior ainda. Aí, quando acontecia a micareta, muita gente do interior e principalmente da capital ia para lá. Acredito muito que na época que eu ia, era porque muita gente da capital tinha familiar de Feira. Aí se reuniam por lá." (Dênis - Micareta de Feira) "Acredito que as barracas de comida, porque são mais simples e tal.(...) Eram comidas normais de festa, tipo pipoca, cachorro quente, churrasquinho... Também tinha uma barraca que servia maçã do amor. " (Dênis - Micareta de Feira) "Não lembro, mas provavelmente alguma (barraca) vendia cachaça. Aqui não tem bebida típica." (Dênis - Micareta de Feira) "As coisas da cultura estão sendo deixadas de lado, mas ainda existem vestígios da baianidade em coisas como lanches e lembrancinhas." (Maria - Micareta de Feira) "Caldo de cana, espetinho, pipoca colorida, bola colorida para as crianças, etc." (Maria Micareta de Feira) "Na micareta e no carnaval geralmente existe uma mistura de ritmos. A Bahia é uma mistura e nada melhor do que em suas festas existam músicas de diversos interesses." (Daniel - Micareta de Feira) "(características da cidade) "Nos espaços culturais, na venda de artesanato e nas apresentações dos artistas da terra." (Daniel - Micareta de Feira) "Artesanato, comidas típicas do nordeste, bebidas do nordeste, música do nordeste... Tudo relacionado ao nordeste tem espaço nesses lugares (espaços culturais)." (Daniel - Micareta de Feira) "(antigamente) Tinham bailes nas pracinhas, como fanfarras. Hoje não tem mais." (Sandra - Micareta de Feira) "Na Micareta de Feira tem muitas apresentações culturais. (...) Durante a micareta tem várias, tipo trio de forró, grupo afro, grupo de reggae, artistas da cidade... tem até quadrilha. É uma mistura louca." (Sandra - Micareta de Feira) "Só acho a Micareta de Feira mais voltada para o povo da cidade mesmo." (Sandra Micareta de Feira) "Todo mundo que gosta de micaretas fala dela. Ela (Folianópolis) é grande." (Carla Folianópolis) "Floripa é uma cidade que atrai gente de fora. O povo de Floripa chama a atenção. A cidade atrai as pessoas que durante o dia ficam na praia e a noite vão pra micareta. (...) Por exemplo, eu conheci várias pessoas que alugavam casas na beira da praia, com piscina, para poderem aproveitar o tempo que tinham durante o dia vago. Além de curtirem as praias. Aí de noite, iam pra festa." (Carla - Folianópolis) "Não achei nada cultural dentro da festa." (Carla - Folianópolis)

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"(no nordeste) O evento acaba movimentando as ruas, os cidadãos... As ruas são bloqueadas e todo mundo participa. Costuma que as pessoas que não estão no evento participam de alguma forma. Por exemplo, a galera se reúne em apartamentos e sacadas para ver os trios passarem pelas ruas. Assim também curtem a micareta. Além disso, os trabalhadores são liberados para poderem participar da festa. As empresas tendem a liberar as pessoas mais cedo do trabalho para as pessoas participarem da festa e também fugirem do trânsito para voltarem para suas casas, já que tem ruas bloqueadas." (Edu Folianópolis) "Eu achei que quando chegasse no Folia ia encontrar uma réplica do temos no nordeste: muito público, gente na rua, trânsito intenso, movimentação... Mas na verdade achei que é apenas uma festa com camiseta. Pelo menos na minha impressão." (Edu - Folianópolis) "Não, não achei que o Folianópolis tenha a cara de Floripa." (Edu - Folianópolis) "(sobre características regionais) Com exceção da beleza do povo de Santa Catarina, não. Com exceção das pessoas, não achei nada com a cara de Santa Catarina não." (Edu Folianópolis) "O axé com certeza não é o ritmo do sul do país. Acho o sul com cara do sertanejo, do pop rock, do rock. Agora do axé? Não acho a cara da região não." (Edu - Folianópolis) "Floripa é uma cidade turística, tem muita gente diferente, é praia. E tudo isso lembra alegria, diversão... assim como o Folia." (Taila - Folianópolis) "(sobre características regionais) Acho que é essa variedade de pessoas, de todo o lugar do Brasil. Além da cara de verão que tem a micareta, assim como Floripa." (Taila Folianópolis) "Florianópolis é uma cidade turística e consegue abrir um bom público de fora pra vir pra festa." (Leandro - Folianópolis) "A micareta lembra a cidade, as pessoas, a alegria das pessoas e a bagunça." (Leandro Folianópolis) Pontos de contato "Minha mãe é de Feira de Santana. Então ela costumava ir quando era mais jovem, já que é uma festa relativamente antiga de lá. E acabei tendo que ir algumas vezes." (Dênis Micareta de Feira) "Tinha que acompanhar ela (mãe) porque era pequeno, não tinha com quem deixar. E no mais, a festa para crianças era tranquila." (Dênis -Micareta de Feira) "Eu sempre ia com amigos aqui de Salvador e me encontrava com amigos de lá, onde ficávamos hospedados." (Maria - Micareta de Feira) "Eu moro na cidade. Impossível não se saber a respeito da festa!" (Daniel - Micareta de Feira) "Desde criança meus pais sempre me levaram. A micareta acontece todos os anos, logo depois da semana santa. Todos os anos tenho participado." (Daniel - Micareta de Feira) "No início ia com meus pais. (...) Aos 14 anos comecei a frequentar a festa sem eles, já saía em blocos, puxados por trios elétricos, tipo o carnaval... Hoje em dia não vou mais com eles." (Daniel - Micareta de Feira) "Primeiramente ia com meus pais, agora vou com amigos. Se não achar ninguém, vou sozinha." (Sandra - Micareta de Feira) "Com minha melhor amiga, que me convidou, que é uma micareteira." (Carla -

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Folianópolis) "Convidei mais duas amigas que depois desistiram de ir.(...) por causa de custos. Elas iam ter que pagar a viagem, a micareta, a hospedagem... Aí elas se enrolaram e acabaram não indo. Acho que também não foram por não saber o quão bom é." (Carla - Folianópolis) "Bom, eu fiquei sabendo através do Thiago, um amigo meu. Eu já sabia que esta micareta existia, porque já tinha visto sobre ela na internet, mas nunca fiquei atento a datas sobre elas. Aí o Thiago me convidou e disse que já tinha se organizado para ir com outros amigos. Aí acabamos indo." (Edu - Folianópolis) "Eu soube por uma amiga minha que já ia todos os anos e me convidou." (Taila Folianópolis) "Fui com meu namorado e minhas amigas." (Taila - Folianópolis) "A namorada queria ir. Vale essa resposta? (risos). Fui porque minha namorada queria ir mesmo." (Leandro - Folianópolis) Percepções dos participantes "Feira cresceu muito e consequentemente a festa também. Quando a cidade cresce muito, a violência aumenta. Além disso, a festa é famosa." (Dênis - Micareta de Feira) "Infelizmente com estes (foliões da pipoca) os níveis de violência são altíssimos. Eu acho a festa perigosa em certos pontos, como na pipoca, por exemplo." (Maria - Micareta de Feira) "A festa é maravilhosa, só quem participa sabe o quanto é bom estar ali." (Daniel Micareta de Feira) "Todo ano chove na festa, mas mesmo assim o povo não arreda o pé." (Sandra - Micareta de Feira) "Este ano aumentaram o policiamento. A polícia estava demais, batendo a rodo nas pessoas.(...) Claro, eles tem que fazer o trabalho deles, mas este ano, se superaram. Era criança, era idoso... Eles tem que fazer o policiamento, porque micareta é muita gente e sinônimo de aglomeração / tumulto. Mas eles batem mesmo. Tem que ser cauteloso demais." (Sandra - Micareta de Feira) "Olha, eu acho que o pessoal de lá (de Florianópolis) curte a praia, o sol, o mar... mas não gosta de micareta não." (Carla - Folianópolis) "Acho na verdade que (o Folianópolis) é uma festa de Floripa para atrair turistas." (Carla Folianópolis) "(o que atrai na festa) A música, a festa, conhecer pessoas novas, beijar muito." (Carla Folianópolis) "Então lá, na festa, o axé anima ainda mais a festa. Dá um up! Anima!" (Carla Folianópolis) "As bandas eram muito boas e a vibe da festa era muito legal!" (Taila - Folianópolis) "(...) eu me diverti muito, dancei muito, ri muito... As pessoas estavam curtindo a festa... Todas no mesmo clima." (Taila - Folianópolis) "(durante a festa) O trânsito e o movimento da cidade aumentaram." (Taila - Folianópolis) "(mudança durante o período da festa) Não, não percebo nenhuma. Só quando chega perto do horário da festa... Aí nas redondezas da festa, fica um pouco mais movimentado." (Leandro - Folianópolis)

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Tipo de participação "Sou folião. Geralmente participo nos camarotes." (Daniel - Micareta de Feira) "Já frequentei todos estes ambientes (pipoca, camarote e bloco)." (Maria - Micareta de Feira) "No camarote já não se tem mais tempo para curtir o restante... Geralmente apenas dou uma passada pelo point universitário, mas nada demorado." (Daniel - Micareta de Feira) "No camarote existem várias atrações e geralmente quem vai para esse local não quer perder nada." (Daniel - Micareta de Feira) "Blocos, das bandas que eu gosto, pipoca... Vou em tudo que eu puder. Também vou nos camarotes quando eu ganho cortesias ou quando tenho condições de comprar. Até porque eles são caros." (Sandra - Micareta de Feira) "(participa em camarotes) Ultimamente sim, porque os camarotes estão caros. Também compro os blocos que eu quero ir. E na pipoca... Por exemplo, eu vou no bloco do Timbalada, quando acaba meu bloco, vou atrás de outro trio, como o do Wesley Safadão. Não perco nada!" (Sandra - Micareta de Feira) "Eu vou de camarote quando posso e garanto: me divirto mais que todo mundo. " (Sandra - Micareta de Feira) "Na verdade, no primeiro ano que nós íamos, nós compramos ingresso de pista. Porém, não conseguimos ir, porque foi quando estavam queimando aqueles ônibus lá em Floripa. Aí ficamos com medo e não fomos. Também perdemos os ingressos naquele ano. (...) Daí, no segundo ano, a minha amiga ganhou uma promoção e acabamos ganhando os ingressos. Ela ganhou uma promoção do dia dos namorados que nos deu ingressos." (Carla - Folianópolis) "De camarote. (...) Pela estrutura, pela opção de ter mais banheiros, por ter lugar para descansar, por ter mais opções de restaurantes e por ter espaço que te protege da chuva." (Carla - Folianópolis) "Eu danço, eu canto, eu pulo, eu beijo, eu grito, eu saio correndo, eu brigo... eu faço de tudo (risos). Eu me divirto. Eu até durmo (risos). Eu consigo até dormir de tão cansada que eu fico." (Carla - Folianópolis) "(porque escolheu o camarote) Por causa da ostentação, o camarote chama mais atenção do que a pista." (Edu - Folianópolis) "Pista. (...) Porque é onde fica o povo sabe... Tem mais gente e bem perto do trio elétrico. Acho mais divertido." (Taila - Folianópolis) "Pista. (...) Pelo valor e porque acredito que na pista a diversão seria melhor, já que a bagunça seria ali. E comprando camarote teria acesso à pista e iria acabar ficando ali. Isso foi o que fez optar pela pista, além do valor também." (Leandro - Folianópolis) Características dos participantes "(Região dos participantes) Cidades próximas de Feira de Santana e também amigos do Rio de Janeiro, Aracajú, São Paulo..." (Daniel - Micareta de Feira) "Tem muita gente, inclusive de fora." (Sandra - Micareta de Feira) "Sei que vem de gente de outros lugares, como Sergipe, Pernambuco, Minas Gerais... Estes são os estados mais frequentes, eu acho." (Sandra - Micareta de Feira) "Vem muita gente do interior e até de outros estados." (Sandra - Micareta de Feira)

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"Tem gente bonita, bronzeada e jovem" (Carla - Folianópolis) "(...) vem gente de todos os lugares para o Folianópolis. Vem gente de todo Brasil. Há uma diversidade de pessoas." (Carla - Folianópolis) "Conheci gente de Curitiba, Salvador, Minas Gerais, do próprio Rio Grande do Sul, de São Paulo, do Rio de Janeiro..." (Carla - Folianópolis) "Pelo menos das pessoas que eu conheci, não tinha quase ninguém de Santa Catarina e Floripa." (Carla - Folianópolis) "(sobre as pessoas da festa) Diferenciadas no sentido de educação, de como chegar nas outras... Claro, acaba tendo aquele drogadito no meio dos outros, mas tu acaba fazendo amizades lá. Por exemplo, tu passa por alguém, esta pessoa já mexe contigo e mesmo que tu acabe não ficando (beijando na boca), vocês já acabam conversando. Todo mundo interage. Acho que isso é o diferencial de quem vai lá." (Carla - Folianópolis) "(...) tem pouca gente de Florianópolis. Tem muita gente de fora. (...) Por exemplo, eu sou do nordeste, os meninos que foram comigo são do nordeste... Também conheci gente do Rio Grande do Sul, do Piauí, de São Paulo e de outros estados que não lembro agora. Poucas pessoas que vi lá eram de lá mesmo." (Edu - Folianópolis) "As pessoas que vão no Folia são bem diferentes das que vi em outras baladas de Florianópolis." (Edu - Folianópolis) "O povo é diferenciado. Há traços mais delicados no povo. O pessoal tem a fisionomia diferente do pessoal do nordeste e da Bahia. (...) Acho que o diferencial vem um pouco da história, desde a colonização. O sul foi colonizado por italianos, por alemães... então o povo tem estes traços. As pessoas são mais loiras, mais brancas, não tem tantos negros, tem olhos mais claros... O povo é diferente do povo do norte e nordeste." (Edu Folianópolis) "Acho que tem mais turistas. (...) Porque pelas pessoas que eu conheci lá, todas eram turistas." (Taila - Folianópolis) "(...) vem um bom público de fora." (Leandro - Folianópolis) "Vi que foi bastante gente daqui (de Florianópolis)." (Leandro - Folianópolis)

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