A derivação regressiva em português, Valter Kehdi

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81

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Alguns etnonirnos esl6vicos (Estudo hist6rico-etimoI6gico)

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159

A repeti~60 como clemente condutor do t6pico discursivo

Maria Lticis da Cunha victoria de Oliveira Andrade

179

ANDRADE, Maria Lucia da C.V. de Oliveira. A repetI(:/io como elemento condutor do topico disausivo.

Filohgia e Lingilfsdca Portuguese, n. 2, p. 205-213, 1998.

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A DERIVA\AO REGRESSIVA EM PORTUGUES

____ (1989) Part A. In HALLIDAY, M. A. K. & HASAN, R. Language, context, and text: aspects oflanguage in a social-semiotic perspective, Series Editor: Frances Christie. Oxford, Oxford University Press. HASAN, R. (1989) Part B. In HALLIDAY, M, A. K, & HASAN, R. Language, context, and text: aspects oflanguage in a socist-serniotic perspective. Series Editor: Frances Christie. Oxford, Oxford University Press. KEENAN, E, O. & SCHIEFFELlN, G, G. (1976) Topic as a discourse notion: a study of topic in conversation of children and adults. In CHARLES, N. (ed.). Subject and topic. New York, Academic Press, p. 335-84, KOCH, I. G, V. et alii (1992) Organizacao t6pica da conversacao. In ILARI, R. (org.) Cramatica do portugues r;7/ado: nivcis de analise linguistic». vol. II, Carnpinas, Editora da UNICAMP, p,357-439. KOCH, I. G. V (1993)A repeticao como mecanisme estruturador do texto falado.lnKOCH, I. G. V e SCHLIEBENLANGE, B. (orgs.) . Linguistik' in Bresilisn. Tubingen, Niemeyer (no prelo), _--,---,-_ (1994) Funcoes ret6ricas e interativas da repeticao. Boletim ds ABRALlN, 15 de julho de 1994, p. 153-8. MARCUSCHI, L. A. (1990) A repeticso nn IJIJgua tJ!ada e sua correlscdo com 0 topico discursive. Recife, UFPE, versao prelirninar. _ _---,_ (1992) A repeticio na lingua tsled«: formas e tinicoes. Tese para Professor Titular. Recife, UFPE.

0

Concurso de

ABSTRACf: The purpose of this paper is to observe how,after the digression, the use ofrepetition is a conductor element of the discourse topic. The digression is a kind of topic movement that suspends momentarily the previous discourse topic, bringing a peculiar cadence to the text development. For the study of repetition, to follow the Marcuschi's theoretical proposal (1992) typology is divided in two levels: formal and functional. Keywords: digression, repetition, discourse topic.

Voitel'Kehdi•

RESL:MO: 0 objetivo deste artigo e tentar elucidar alguns problemas ligados aos deverbais regressivos da lingua portuguesa, tais como: 0 levantamento dos criterios que perrnitern dis­ tinguir esses substantivos de outros primitivos, 0 carater sincr6nico ou diacrfinico desse feno­ rneno e 0 estatuto das vogais finais.

Palavras-chave: derivacao regress iva, metafonia, deverbais, sufixo zero.

m portugues, a sernelhanca do que ocorre em outras lfnguas rornanicas, os substantives deverbais distribuem­ se em tres grupos bern diferenciados: os que sao forma­ dos por derivacao regressiva (cara, de cscsr; ataque, de atacai); os que resultam do acrescimo de urn sufixo ao radicalltema verbal iconstrucso, desm oronamen to) , designados como deverbais sufixais: e, finalmente, os resultantes da deslccacao do acento tonico com relacao a forma verbal correspondente (replica (subst.) e replica (verio). stiplica (s.) e suplice (v.), e que representam urn caso de alternancia acentual. Relativamente a estes iiltimos, cumpre esclare­ cer que nao devem ser confundidos com os do prirneiro grupo, pois nao houve reducao de nenhum elemento formal; assirn, e estranho que, em alguns de nossos dicionarios etimol6gicos, esses deverbais sejarn apresentados como regressivos'. Acrescente-se, ainda, que os p6s-verbais formados por alternancia acentual sao cultos e, portanto, tardios em nossa Ifngua, que e confirmado pel a nao-alteracao das

E

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Universidade de Sao Paulo.

204

U, p. ex.,

0

verbete reverbero em Machado (1967, p. 2007).

KEHDI, Valter.11 derivscso regressive em portugucs,

vogais -T- e -Li- da peruiltirna silaba e pela datacao corresnondente: cdlculo (sec. XVII) < cslciilu-; fibrTca (sec. XIV) < fabrTca-, etc. 0 deslo­ carnento do acento nas forrnas verbais correspondentes (calculo, fa­ brica) deve-se ao fato de que, nesse perfodo, 0 presente do indicative apresenta obrigatoriarnente forrnas paroxitonas. Assim, em pares como ailculo (s.)lcalculo (v.), nao se pode afirrnar, em portugues, que 0 nome procede do verba ou vice-versa (em latirn, cslciilus e primitivo com relacao a calculor I cskulo ; Cabe, tarnbern, observar que, ernbora nitidarnente diferenciados, esses tres grupos nao constituern cornpartirnentos estanques: Efreqiiente a passagern de urn a outro, como 0 ilustrarn os pares desarmamentol dessrme, replicaraolreplica (entre outros), em que, freqiienternente, se estabelecern diferencas sernanticas entre os do is mernbros. No quadro dos cases de regressao, curnpre, inicialrnente, distin­ guir tres modalidades, que, com frequencia, aparecem confundidas em algumas de nossas grarnaticas. Deve-se destacar urn prirneiro blo­ co, em que 0 substantive se associa a urn verba por reducao de urn elernento deste ultimo: csc« (de caral). Sornente a esses e que se deve dar a designacao de "deverbais regressivos", dos quais, adiante, fala­ remos mais detidarnente. Na verdade, esses deverbais nao procedem do infinitivo, com elirninacao do -I'. Oiez ja os relacionava com as for­ mas rizotonicas do presente do indicative, no que foi seguido por varios romanistas (cf., p.ex., esp. consuela (s.) (consolal) e fl'. soutien (s.) (soutenil). Em latim, alguns substantivos participiais, con~o cantum, provinham de um verba primitivo, no caso canere; com a posterior expansao dos freqUentativos em -tare (cantare) , foi facil e3tabelecer uma ligac;:ao mais estreita com cantu1T1. Do desaparecimento de canere resultou a interpretac;:ao de que cantum (forma rizotonical provinha de can tare, 0 que justifica a designac;:ao de "regressivos". Nao se deve confundi-los com exemplos como legislar, deduzido de legisladOl-; como o sufixo -done atrela a radicais verbais, supos-se que, dada a existen­ cia de legislador, deveria haver um verba correspondente, legislar. Do mesmo modo, de saramp/io se formou sarampo, atribuindo-se a -ao 0 206

Filologia e Lingiiistics Portuguese, 11,2. p. 205·213. 1991;,

valor de sufixo aurnentativo. Essas formacoes nao sao representadas por deverbais e so podern ser explicadas diacronicarnente: charnerno­ las "forrnacoes regressivas", designacao proposta por Meyer-Lubke". Mencionem-se, por firn, os cases de "abreviacao" vocabular", que consistern no ernprego de urna parte do vocabulo pelo todo (como extra por extrsordinerioextrstino, foto por fotografia), processo mui­ to freqilente na linguagern moderna e ao qual prefeririamos denorni­ nar "reducao vocabular": trata-se de urn fenorneno essencialrnente sincronico, sisternatizavel (note-se que nos dois exernplos propostos houve elirninacao de prefixo e radical, respectivamente) e no qual nao ocorre mudanca de classe, diferentemente das duas modalidades acima. Neste artigo, enfocarernos os substantives deverbais regressi­ vos, que, diferentemente das forrnacoes regressivas e das reducoes vocabulares, apresentarn maier cornplexidade com relacao aos aspec­ tos formais. Na realidade, esses substantives, pouco numerosos no latim clas­ sico e, posteriormente, mais abundantes, forarn forrnados pela adjuncao das terrninacoes -us e -a ao radical verbal". Em perfodo rnais tardio, surgem rnuitos deverbais com a vogal-e, geralmente vindos de outras linguas rornanicas". Nunes (1956, p. 358-9) observa que esses substantives podem pro­ ceder da primeira e terceira pessoas do singular do presente do indicative de verbos da primeira conjugac;:ao (eventualmente, tambem da segunda e cia terceira) ou resultar da anexac;:ao das clesinencias de genero a radi­ cais verbais. Do ponto de vista diacronico, a primeira parte clessa obser­ vac;:ao e falsa, pois -oe -anao provem das desinencias numero-pessoais; note-se, contudo, que vem ao encontro da importante afirmac;:ao de Cf. M.-LUbke (1923, p. 441, § 355).

Cf. Bechara (1987, p. 185).

Cf. M.-LUbke (1923, p. 485·6, § 397),

Os deverbais em - e nao se devem exclusivarnente a influel1cias estrangeiras, conforme

bern 0 mostra Malkiel (1959. p. 106)

207

Filologia e liagilfstica Portuguese, n. 2, p. 205-213, 1998.

KEHDI. Valter. A derivnceo regressive em portugues.

Diez (1874, p. 268), segundo a qual os deverbais regressivos se ligam as forrnas do singular do presente do indicative rornanico". Por sua vez, Vasconcelos (1928, p. 411-2) considera que eles pro­ cedern do terna verbal, e nao de urna determinada pessoa do verbo. Fundarnenta-se, para isso, no fato de que certos substantives, como erto e rogo, apresentam vogal tonica fechada, em oposicao as forrnas verbais correspondentes. A critica que pode ser feita a essa posicao e que ela esquece a extensao e a importancia da metafonia em portu­ gues: as vogais -a e -0 influenciarn 0 timbre de -e- e -0- tonicos (-a contribui para a abertura: -0, para 0 fechamento da vogal tonica). En­ tretanto, na primeira pessoa do singular do presente clo indicativo cle verbos da primeira conjugacao, as vogais tonicas -e- e -0- (proceclen­ tes de -e- e -0-) mantiveram-se abertas em virtude da analogia com a segunda e terceira pessoas do singular e a terceira do plural: riigo > rOgo (por influencia de rOgas, rOga, rOgam). Como 0 substantive rogo se integra noutro paradigrna, pede ocorrer a metafonia. Esses fates invalidarn, portanto, a observacao de Vasconcelos. Meyer-LUbke (1923, p. 485-6, § 397) interpreta as terrninacoes desses deverbais como sufixos atones, provavelrnente atento ao fato de que, com 0 acrescirno dessas vogais, houve rnudanca de classe gra­ rnatical, urna das caracterfsticas da derivacao sufixal. As grarnaticas historicas do portugues e do espanhol mantern-se fieis a essa posicao: cf., p.ex., Huber (1986, p. 272, § 434) e M. Pidal (1944, p. 232-3, § 83). Cremes. todavia, tratar-se nao de sufixos", mas de vogais tematicas norninais, como se pode notar pelo paralelismo com substantives pri­ rnitivos, tais como disc-o, cart-s e dent-e", A grande dificuldade de Ressalte-se que a posicao de Diez constitui urn rico veio a ser explorado, no que se refere a problemas de ditonga
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