A Difusão Científica e Interpretação do Patrimônio Geológico no Geopark Araripe: levantamento preliminar

August 14, 2017 | Autor: Sheydder Lopes | Categoria: Geopark, Geoheritage, Patrimonio geológico, Geopark Araripe
Share Embed


Descrição do Produto

Geomorfologia Ambiental A DIFUSÃO CIENTÍFICA E A INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO DO GEOPARK ARARIPE: LEVANTAMENTO PRELIMINAR Luiz Sérgio Moreira Brito Universidade Federal do Piauí [email protected] Laryssa Sheydder de Oliveira Lopes Universidade Federal do Piauí [email protected]

INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, a interface do turismo, das ciências e da comunicação em áreas protegidas e de interesse internacional tem aliado as investigações científicas com a interpretação e a qualificação de recursos naturais, essencialmente o patrimônio geológico. Entende-se por patrimônio geológico o conjunto de geossítios de uma determinada região onde ocorrem um ou mais elementos da geodiversidade com singular valor do ponto de vista científico, pedagógico, cultural e turístico (BRILHA, 2005). Nascimento; Azevedo e Mantesso-Neto (2008) consideram a diversidade de tipos de patrimônios geológicos diferenciando-os em: patrimônio geomorfológico (variações nas formas de relevo); patrimônio paleontológico (registros fósseis), patrimônio espeleológico (cavernas) e patrimônio mineiro (minas). A proposta desta investigação foi de destacar a relevância educacional e científica nos espaços de visitação do Geopark Araripe para a difusão e a popularização das ciências através do turismo. Em adição, apresentam-se alguns resultados parciais da pesquisa, onde foram levantadas questões sobre: a utilização de aspectos educacionais e científicos no Geopark Araripe; tais aspectos podem promover a conservação, a valorização e a difusão do patrimônio geológico de uma região; e se há contribuição e relevância de informações científicas nestes ambientes para determinados públicos. Os geoparques são espaços geográficos bem delimitados, moldados em práticas europeias, que possuem uma gestão em rede, e que, segundo Catana (2009 apud DOWLING, 2009, p. 291), as mesmas deverão estar sustentados “em três pilares principais: a conservação, a educação e o turismo”. Acrescenta-se que, a diversidade dos recursos naturais existentes em um geoparque é de grande beleza estética e cênica, cuja geodiversidade precisa ser conservada não em sua abrangência e sim na representatividade e peculiaridades conforme o patrimônio geológico existente em cada território. O Geopark Araripe situa-se na região sul do Ceará/Brasil, pertencendo aos municípios de Santana do Cariri, Nova Olinda, Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e Missão Velha. O geoparque, que compreende aproximadamente 5.000 km2, foi criado em 2006, sendo o único da América do hemisfério sul, inserido na Chapada do Araripe, na Região do Complexo Sedimentar do Araripe (ALVES et al, 2010, p. 1). (Fig. 01).

Figura 01. Mapa de localização do Geopark Araripe.

Fonte: Geopark Araripe, Relatório técnico-financeiro 2006/2010.

O geoparque conta com 10 geossítios, ou seja, os sítios de grande interesse e significância arqueológico-paleontológico-geológico, abertos para visitação: 01. geossítio Colina do Horto; 02. geossítio Cachoeira de Missão Velha; 03.geossítio Floresta Petrificada do Cariri; 04. geossítio Batateira; 05. geossítio Pedra do Cariri; 06 geossítio do Pontal da Santa Cruz; 07. geossítio Ibupi; 08. geossítio Parque dos Pterossauros; 09 Geossítios Riacho do Meio; e 10. geossítio Ponte de Pedra.

METODOLOGIA A natureza desta pesquisa fundamentou-se em uma abordagem de cunho qualitativo, que segundo Gil (1996) visa a compreensão ou interpretação de processos de forma complexa e contextualizada e se caracteriza como um plano aberto e flexível. Quanto aos fins, esta investigação se caracterizou como exploratória e descritiva, e assim, quanto à tipologia, os procedimentos técnicos desenvolvidos na pesquisa constaram do levantamento bibliográfico e documental sobre a temática e a área de estudo, assim como a pesquisa de campo, no período de 06 a 12 de agosto de 2012, com a finalidade de conhecer e coletar de dados da área em estudo.

Foram realizadas observações simples dos seguintes locais: Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri, em Nova Olinda/CE; Sede do Geopark Araripe, em Crato/CE; Museu Paleontológico, em Santana do Cariri/CE; Centro de Interpretação e Educação Ambiental – CIEA, em Crato/CE; e alguns Geossítios da localidade (Pontal de Santa Cruz, Parque dos Pterossauros, Pedra Cariri, Ponte de Pedra e Colina do Horto). Por fim os dados foram analisados para a produção da redação final.

TURISMO E DIFUSÃO DAS GEOCIÊNCIAS Como uma atividade social, o turismo vem se utilizando dos geoparques para difundir o conhecimento das geociências a públicos diversos e que às vezes não detém informações básicas e relevantes acerca da complexidade/singularidade de seus atrativos. A transmissão do conhecimento científico através do turismo, neste caso, poderá ser visto como uma conseqüência da comunicação interpretativa, que se utiliza a priori da educação e do patrimônio para se desenvolver, além de, segundo Costa (2009), se apresentar e traduzir a informação sobre o bem patrimonial de forma significativa ao público. Com efeito, a inter-relação existente entre ambos fomenta a análise feita pelos visitantes/turistas da base geológica contida nos atrativos turísticos, que a demanda não seja prioritariamente baseada em motivações recreativas oferecidas durante a visitação ou pela beleza estética/superficial da geomorfologia, e sim pelo processo de interpretação e valorização da paisagem, comunicação esta que tem por objetivo revelar significados e relações por meio da utilização de objetivos originais, da experiência direta e de meios ilustrativos, mais do que simplesmente comunicar, literalmente, as informações (TILDEN, 1997). Para tanto, alguns nichos de mercado turísticos utilizam os bens e serviços que um geoparque pode oferecer para fins socioculturais, interativos e científicos, como os geossítios, os museus, os centros de interpretação ambiental e patrimonial. Por conseqüência histórico-cultural no Brasil, presume-se que o público com maior ocorrência nesses ambientes é composto basicamente por alunos de ensino fundamental e médio, universitários, pesquisadores, turistas de aventura, ecoturistas e visitantes eventuais sem pretensões pré-determinadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Para o desenvolvimento do estudo, precisou-se de meios que possibilitem a difusão e a popularização desse conhecimento. Os geoparques são excelentes ambientes para essa comunicação, pois promovem a realização de atividades turísticas de caráter científico em espaços de importância internacional e com grande relevância interpretativa para a compreensão do patrimônio geológico, geomorfológica de uma região. A comunicação cientifica sobre o patrimônio geológico de uma região deve ser desdobrada para facilitar a interpretação dos objetos de estudo. Elementos como fósseis,

rochas e minerais, dentre outros, devem ser abordados de forma específica e não generalizadas. Assim, foram levantados os principais locais onde ocorrem atividades de caráter interpretativo e educacional no Geopark Araripe. As áreas investigadas foram: a Fundação Casa Grande Memorial do Homem Kariri (Nova Olinda/CE), a Sede do Geopark Araripe (Crato/CE), o Museu Paleontológico de Santana do Cariri/CE, o Centro de Interpretação e Educação Ambiental – CIEA e os dez geossítios. Para um melhor entendimento, as áreas foram agrupadas em dois ambientes. O primeiro contém a Fundação/Memorial, a Sede do Geopark, o Museu Paleontológico e o Centro de Interpretação, caracterizando-se por apresentar espaços físicos para fins didáticos, educacionais e interpretativos onde podem ser vistos acervos paleontológicos, dados sobre a ocupação humana na Chapada do Araripe e sobre a própria evolução do planeta Terra através das eras geológicas.

Figura 02. Localização dos geossítios do Geopark Araripe.

Fonte: Secretária das Cidades/ Geopark Araripe/ Universidade do Cariri.

No segundo ambiente foram incluídos os geossítios (Figura 2), que permitem o reconhecimento através de visitações in loco à riqueza geológica da região, a história e cultura local. Isto é, as visitações são realizadas em espaços abertos, observou-se que, apesar de haver placas indicativas nos geossítios, a transmissão das informações científicas depende, prioritariamente, dos condutores de visitantes que as repassam conforme seu conhecimento ou estudo. As ações educativas e científicas no Geopark Araripe foram evidenciadas com um maior grau de relevância quando os pesquisadores fazem a orientação dos passeios, sendo as ciências de sua área de pesquisas mais aprofundadas. Os dez geossítios do Geopark Araripe possuem significantes achados paleontológicos e geológicos de diferentes períodos, além de paisagens naturais conservadas e de grande beleza cênica. Desta forma, identificam-se nestes ambientes potencialidades turísticas que podem ser reforçados durante a visitação através das seguintes áreas de pesquisa, como: geomorfologia, histórico-cultural, mineração, paleontologia, arqueologia e hidrogeologia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Observou-se que nos dois ambientes ocorrem à transmissão de informações, científicas e empíricas, e que este conhecimento é transmitido a um público leigo, geralmente estudantes do Ensino Fundamental e Médio. Deste contexto, um segmento turístico se mostra como uma das melhores alternativas para subsidiar a compreensão da relevância educacional e científica em geoparques: o turismo científico. A inter, multi e transdisciplinaridade na formação dos envolvidos que estão no processo de transmissão da informação é de grande importância no planejamento e organização das visitações, além da inserção de novas tecnologias. Assim pode ser criada uma metodologia inovadora voltada para a difusão da ciência, a qual reforce e popularize o acesso à produção do conhecimento gerado acerca do patrimônio geológico de uma região, ressaltando a importância das atividades de caráter científico e educacional para a sua interpretação, valorização e conservação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, C. C. E. (et al). Geopark Araripe: Um estudo geoturístico e ambiental no geotope granito, Ceará/Brasil. VI SEMINÁRIO LATINO AMERICANO DE GEOGRAFIA FÍSICA E II SEMINÁRIO IBERO AMERICANO DE GEOGRAFIA FÍSICA. Anais... Universidade de Coimbra, 2010. BRILHA, J.B.R. Patrimônio geológico e geoconservação: a conservação da natureza na sua vertente geológica. São Paulo: Palimage, 2005. COSTA, F. R. Turismo e patrimônio cultural: interpretação e qualificação. São Paulo: Editora SESC SP, 2009.

DOWLING, R. Geotourism´s contribution to local and regional development. In: CATANA, M. M. Os programas educativos do Geopark Naturtejo: ensinar e aprender geociências em rotas, geomonumentos, museus e na escola. Idanha-a-Nova: 2009. 291-307p. GEOPARK ARARIPE. Relatório Técnico-Financeiro 2006-2010. Crato: 2010. Gil, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1996. NASCIMENTO, M. A. L. do.; AZEVEDO, U. R.; MANTESSO-NETO, V. Geodiversidade, geoconservação e geoturismo: trinômio importante para a proteção do patrimônio geológico. Rio de Janeiro, SBGEO, 2008. TILDEN, F. Interpreting our heritage. 3ed. Chapel Hill: University of North Carolina, 1977.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.