A DISCIPLINA PITCH COMO FERRAMENTA DE INTEGRAÇÃO E TRANSVERSALIDADE CURRICULAR NO CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA DA PUCPR

May 23, 2017 | Autor: Jorge Falcon | Categoria: Music Education, Music Theory, Educação Musical
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A DISCIPLINA PITCH COMO FERRAMENTA DE INTEGRAÇÃO E TRANSVERSALIDADE CURRICULAR NO CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA DA PUCPR Jorge Falcón1 Viviane Alves Kubo Munari2 Marcos de Lázzari3 Joêzer de Souza Mendonça4 Eixo Temático: 1.Processos de Ensino e aprendizagem - com ênfase na inovação tecnológica, metodológica e práticas docentes.   Resumo   Esta comunicação descreve o processo e os objetivos da mudança de grade curricular dentro do Eixo de Formação Musical para as turmas ingressantes em 2017 do Curso de Licenciatura em Música da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. A proposta de inovar, visando otimizar metodologias, recursos e capital humano, foi coordenado pelo professor Jorge Falcón. Partiu-se da premissa de que os tempos mudaram muito mais rapidamente do que os modelos educacionais. Basicamente, o modelo praticado pela grande maioria das IES que lecionam música nos seus cursos utilizam o modelo estrutural copiado da Europa do século XVIII. Nesse modelo, a música é estudada por meio de disciplinas ou categorias que tratam a complexidade do fenômeno musical de maneira unidimensional. A teoria musical, neste modelo, não envolve necessariamente a percepção, a improvisação nem outros aspectos da experiência musical, apesar de serem fenômenos cognitivos bastante próximos, segundo autores como Mithen (2005) e Godøy (2003), entre outros.   O que se percebe, é que a área tem tido dificuldades em construir um conhecimento sólido através de pequenas, curtas e parciais visões do objeto (disciplinas unidimensionais, de um semestre, com carga horária de duas à quatro horas aula semanais). Nesse fracionamento do conhecimento, perde-se a noção da complexidade da música como um sistema, como aborda Holland (2014), como rizoma, segundo Deleuze e Guattari (1995), ou a partir da perspectiva de união e multiplicidade de Morin (2011). Estes princípios heurísticos da complexidade permitem conceber o processo de educação musical e de formação de competências no eixo específico da teoria e formação musical como um fenômeno multidimensional e multisignificativo. A música, vista hoje como um sistema de relações significativas, merece uma abordagem à altura de sua complexidade. Todas as disciplinas da grade curricular do Curso de Licenciatura em Música da Universidade PUCPR do eixo musical no PPC atual (Estudos em Teoria e Percepção Musical I, II e III, Harmonia I e II, Contraponto e Instrumentação e Arranjos) fazem parte, no novo PPC de 2017, de uma grande disciplina que integra todas elas, reorganizando os conteúdos e constituindo uma nova disciplina, cujo nome PITCH é o acrônimo de Percepção, Improvisação, Teoria, Contraponto e Harmonia, como metáfora do processo integrador. A justificativa para esta integração se sustenta em estudos sobre a Cognição Musical que demonstram que, na prática da música, todos os processos que historicamente foram divididos em áreas                                                                                                                         1

 Jorge  Falcon,  PUCPR,  [email protected]    Viviane  Alves  Kubo  Munari,  PUCPR,  [email protected]   3  Marcos  de  Lázzari,  PUCPR,  [email protected]   4 ,Joêzer  de  Souza  Mendonça,  PUCPR,  [email protected]     2

 

 

diferentes acontecem, na nossa mente, ao mesmo tempo (Patel, 2013, Peretz e Zatorre, 2005). No ato de escutar música, interpretam-se estruturas, processos e gestos criando conceitos que misturam todos os olhares simultaneamente. A Blended cognition, conceito desenvolvido por Falcounnier e Turner (2002) permite argumentar em favor da integração das possíveis dimensões cognitivas, abordando o fenômeno musical por vários prismas simultâneos. Nesta perspectiva, não seria mais necessário a divisão em teoria musical, percepção e harmonia, pois, como citamos anteriormente, tudo é processado mentalmente de maneira integrada. Desenvolver visões fragmentárias tem provocado, a partir de nossa experiência com o perfil dos alunos dos últimos cinco anos, algumas dificuldades na conceituação e execução da música. Todavia, perpetuam-se entre os alunos alguns préconceitos sobre a dificuldade e complexidade de algumas disciplinas, que gera desmotivação e dificuldades de aprendizagem. No novo modelo de grade curricular, há uma transversalidade que integra outras disciplinas paralelas. Por exemplo, no primeiro período, as disciplinas PITCH, Estudos do Som, Estudos Culturais e Performance Musical (ECPM) e História da Música estão diretamente e propositalmente associadas. Todas trabalham diferentes aspectos do mesmo evento. Neste modelo, caso o tema do Organum na música medieval seja trabalhado em História da música, a disciplina PITCH trabalharia com conceitos intervalares desta prática musical estudada originalmente sob uma perspectiva histórica, fornecendo os embasamentos teóricos musicais e estimulando a improvisação, a percepção e a criação. Desta forma, esta integração propiciaria a aquisição de habilidades que desenvolveriam competências comuns em torno de um mesmo tema. Seguindo com a exemplificação, a disciplina Estudos do Som trabalharia as caraterísticas da acústica e da recepção da música medieval, e ECPM analisaria a prática do canto e instrumental do repertório do período. Este reforço permite uma vivência mais complexa, porém mais sólida, do fenômeno de musicar (Small, 1992), definido como toda e qualquer ação que envolve algum tipo de relação com a música. Também é necessário destacar que este processo atende também algumas necessidades específicas do perfil do calouro da PUCPR. O ingresso do aluno na instituição não prevê prova específica de conhecimentos musicais prévios. Portanto, o planejamento curricular deve ser consistente na formação de competências no eixo de formação musical. Este olhar fundamenta nossa concepção atual do educador musical: o egresso, como um professor licenciado em música, deve ser um músico com uma formação musical sólida para ensinar música, portanto, é quem mais deve saber sobre música. Este professor deve ser altamente capacitado em elementos de teoria musical, percepção, execução instrumental, regência coral e instrumental, criação, produção de arranjos e uso de tecnologia. Deve ser também um pesquisador, estar preparado para educação continuada e a formação acadêmica, permitir o tráfego de conhecimentos em outros espaços através da interdisciplinaridade, e a gestão e coordenação de projetos que envolvam processos de musicar. Desta forma, as mudanças curriculares planejadas e que entrarão em vigor no início de 2017 mostram-se embasadas solidamente em estudos atuais da cognição musical e contextualizadas nas competências que o curso de Licenciatura em Música da Universidade X visa desenvolver em seus estudantes. Palavras-chave: Projeto Pedagógico do Curso, teoria musical, percepção musical, currículo integrador, transversalidade, complexidade.   Referências Deleuze, Gilles, e Guattari, Félix. MIL PLATÔS Capitalismo e Esquizofrenia, Vol. 2. Coordenação da tradução Ana Lúcia de Oliveira. São Paulo: Editora 34 Ltda, 1995.  

 

Faucounnier, Gilles e Turner, Mark. The way we think. Conceptual blending and the mind’s hidden complexities. New York: Basic Books, 2002. Kindle version. Godøy, R. I. Motor-mimetic music cognition. Leonardo, 36(4), 317–319, 2003. Holland, John H. Complexity. A very short introduction. Oxford: Oxford University Press, 2014. Kindle version. Mithen, Steven. The Singing Neardenthals. The origin of music, language, mind and body. London: Weidenfeld & Nicholson, 2005. Kindle version Morin, Edgard. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2011 Peretz, Isabel e Zatorre, Robert. Brain Organization For Music Processing. Annu. Rev. Psychol. 2005. 56:89–114, 2005. Small, Christopher. Musicking. The meanings of performing and listening. Hanover and London: Wesleyan University press, 1992.

 

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