A DISPOSIÇÃO DOS SUJEITOS (PROFESSORES/ALUNOS) NO ESPAÇO-AULA A SUA DIMENSÃO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

September 6, 2017 | Autor: L. Cardeal da Costa | Categoria: Education
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Contabilizando, ao todo, dezesseis horas de trabalho de campo na escola.
Gostaria de agradecer à todos da escola pela gentileza, atenção e contribuição para o desenvolvimento desse estágio. Agradeço: à direção, o professor diretor Veríssimo Lopes Pires, a professora coordenadora pedagógica Célia Delechiave; aos funcionários; os professores, em especial a professora de geografia Francine Souza e o professor de filosofia Alessandro Garcia; e por fim, e não menos importante, os alunos do terceiro ano A do ensino médio regular básico, período matutino.
Durante o estágio, foi observado a disposição física da sala de aula (as carteiras, as fileiras), os equipamentos e objetos existentes na sala, a posição que os professores e alunos se situam na classe e a interação entre professores e alunos através da dinâmica das atividades realizadas nas aulas
Esse caso foi vivenciado por mim na primeira ida a escola para pedir autorização para realizar o estágio.
Esse jeito de sentar-se foi algo criado com o tempo e os professores e alunos não sabem explicar a origem.. A disposição da sala de aula foi conformando-se desse jeito desde que essa turma foi montada na quinta série do ensino fundamental e, de lá para cá, os alunos continuam juntos na mesma sala e cada aluno vai sentando-se ao lado e perto dos amigos de mais afinidade.
Foto tirada na hora do intervalo. Ao pedir autorização à escola para tirar fotografias, a direção consentiu, porém sugeriu que não aparecessem pessoas (alunos e professores).
As respostas dadas ao questionário são limitantes, no sentido da reflexão sobre o tema, principalmente, entre os professores, que enquanto o respondiam, traziam também outros pontos de vista, Os questionários, também, abrangem um universo muito restrito de analise e sobre eles haverá apenas uma abordagem simples, sem considerar as exigências de método de uma análise estatística mais complexa.
Será que a maneira como os alunos de hoje (superinterativos) estão dispostos na sala de aula, em fileiras, encostados em carteiras por mais de 5 horas seguidas, é viável ou suficiente para desenvolver as atividades de aula, para mobilizar o aluno a aprender?
Aos demais professores também foram entregues os questionários, porém eles não responderam ou não entregaram de volta.
Os alunos, segundo o questionário, dizem que os professores pouco interferem onde eles devem sentar-se.
No estágio eu sentava na última fileira da classe para melhor observar a sala de aula e logo a minha frente sentavam-se em duplas duas meninas; e um dos acontecimentos mais marcantes foi durante o início da aula de Geografia quando a professora fazia a chamada (até então a segunda aula apenas que eu assistia desta classe) e elas beijaram-se profundamente e depois ficaram olhando para mim, para ver minha reação. Inclusive uma delas responde no questionário sobre o motivo de escolher com quem sentar-se: "porque minha dupla é minha namorada.". O problema é que elas não prestavam atenção em nenhuma aula, só ficavam conversando e namorando.
.Um exemplo disso é avaliado no questionário quando os alunos, em consenso, afirmam que a maioria dos professores fica na frente da sala e perto da lousa e, com as observações de aula, também foi possível perceber que os docentes não transitam muito pela sala de aula.
Vale a pena observar que, dentre todos os questionários respondidos, foi a única vez que apareceu a palavra didática.
LEONARDO ARAUJO CARDEAL DA COSTA
GRADUANDO DE BACHARELADO E LICENCIATURA EM GEOGRAFIA
ÚLTIMO SEMESTRE EM LICENCIATURA





A DISPOSIÇÃO DOS SUJEITOS (PROFESSORES/ALUNOS) NO ESPAÇO-AULA
A SUA DIMENSÃO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM




Relatório de estágio apresentado à disciplina Didática, do Departamento de Metodologia do Ensino e Educação Comparada da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e, ministrada pela Professora Doutora Maria Isabel de Almeida.














São Paulo/SP
Maio de 2013
INTRODUÇÃO

Este relatório é fruto do estágio realizado entre os dias 25 de abril e 06 de maio na Escola Estadual Professor Vicente Peixoto em Osasco, na região metropolitana de São Paulo - SP, para a disciplina de Didática da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e, ministrada pela Professora Doutora Maria Isabel de Almeida e monitorada pela professora mestra Rosa Maria de Freitas Rogério, durante o primeiro semestre de 2013.
O estágio, espaço de reflexão e conhecimento, buscou um maior envolvimento com a prática docente e com a escola pública do ensino regular, propiciando o aperfeiçoamento da relação ensino-aprendizagem e a análise sobre a educação a partir da realidade enfrentada na escola, pois como bem ressalta Anna Maria Pessoa de Carvalho (2012: 11), o estágio deve:
apresentar aos futuros professores condições para detectar e superar uma visão simplista dos problemas de ensino e aprendizagem, proporcionando dados significativos do cotidiano escolar que possibilitem uma reflexão crítica do trabalho a ser desenvolvido como professor.

Mais especificamente, o estágio permitiu um olhar mais acurado sobre a disposição dos professores e alunos no espaço da sala de aula, procurando compreender a influência desse aspecto no processo de ensino-aprendizagem e na relação com o saber. Além do que, com a observação da localização dos sujeitos no espaço aula, foi também possível atentar-se à dinâmica de aula dos professores e a sua relação com os alunos, em uma tentativa de relacionar as práticas envolvidas na realidade vivenciada na escola, através do estágio, com os textos lidos e debatidos em sala e a bibliografia do curso de Didática.
Este relatório é uma experiência para organizar ideias sobre nossa futura profissão: a docência, sendo um importante momento de aprendizagem e de estudo. Nele está posto a descrição/caracterização da escola; as observações das aulas assistidas; a análise da disposição do espaço aula em apenas uma sala da escola (o terceiro ano A do ensino médio regular básico) onde foram acompanhadas aulas de professores de diferentes disciplinas e aplicado um questionário para professores e alunos, permitindo perceber a maneira de atuar de cada docente e a dinâmica das aulas; por fim, a conclusão sobre todo esse percurso realizado.
DESCRIÇÃO DA ESCOLA

A Escola Estadual Professor Vicente Peixoto

A Escola Estadual Professor Vicente Peixoto [FOTO 1] foi criada em 29 de janeiro de 1969, pelo decreto 51. 334 - (registrado no Documento Oficial do Estado –DOE – na mesma data de fundação) – antes, era o antigo Grupo Escolar Jardim Bela Vista e Antigo Ginásio Estadual Bela Vista em Osasco - SP.

Foto 1: Local onde seria instalada a futura E.E. Professor Vicente Peixoto nos anos 1960. Fonte: blog Nós e o Vicente Peixoto. 02 de maio de 2013.

Infelizmente a escola não possui um projeto político pedagógico atualizado, apenas um plano de Gestão de 2006-2009, porém a coordenadora disse que eles escreveriam um este ano. Por isso, houve necessidade de conquistar mais informações atuais com os funcionários da secretaria. O que revela um pouco a desorganização da escola, gerando um grande problema: a falta de um maior entendimento entre professores e direção, dificultando a criação de projetos pedagógicos de todos os níveis.
A escola possui 950 alunos no ensino fundamental e 930 no ensino médio, totalizando 1880 alunos (não necessariamente é um número preciso, devido às evasões, muito recorrente na escola).
A E.E. Vicente Peixoto localiza-se na rua Diogo Benitez [FOTO 2 e FOTO 3], no bairro Vila Osasco, no centro da cidade de Osasco. Ocupa uma grande área (um quarteirão inteiro) e impõe-se na paisagem local, principalmente por seus muros e portões grandes (é difícil adentrar na escola fora do início de cada turno, pois dependendo do lugar onde a pessoa esteja, ela terá que dar a volta inteira no quarteirão para acessar a entrada da secretaria, que é fechada também por grades, e falar com a funcionária que estiver ali presente).


Foto 2: Entrada/faixada da escola. Fonte: Facebook da escola. 02 de maio de 2013.


Foto 3: Localização da escola dento do polígono vermelho em Osasco. Fonte: Google Maps. Adaptado por Leonardo Araujo Cardeal da Costa. 02 de maio de 2013.

Para não tomar muito espaço do relatório, mais detalhes sobre a caracterização de escola estão disponíveis no ANEXO I – CARACTERÌTICAS DA ESCOLA, com dados e informações sobre a caracterização dos alunos (ou da clientela como está no plano de gestão da escola); a organização escolar; os recursos físicos e humanos; a parceria escola e comunidade; os objetivos da escola e as metas a serem atingidas e das ações a serem desvendadas.



Observação das Aulas: 3o A do ensino médio básico regular

No geral, cada sala da E.E. Vicente Peixoto apresenta quarenta alunos por sala, distribuídos em fileiras de maneira tradicional (lousa e professores a frente), e os alunos quase sempre se sentam em duplas; isso depende da atividade proposta por cada professor. Nas avaliações de final de bimestre, as carteiras são afastadas e os alunos realizam as provas individualmente (e eles são postos nas carteiras a partir da ordem numérica de chamada).
Nos primeiros dias de estágio, foram assistidas todas as aulas do 3o A do ensino médio básico regular do período da manhã e lá também, a disposição encontrava-se com os alunos sentados em duplas.
Esse terceiro ano possui 40 alunos na lista de chamada, mas na prática são 36 alunos na classe, formada majoritariamente por meninas, cerca de dois terços da turma, o que faz da maioria das duplas que se sentam juntas serem de meninas com meninas; já as duplas mistas, de meninas e meninos, apenas havia três. A classe está disposta por três fileiras, uma na esquerda, uma no centro e outra na direita, e os alunos sentando-se em duplas, com as carteiras encostadas. A mesa do professor localiza-se do lado esquerdo superior da sala e a porta à direita, no outro lado [FOTO 4 e FOTO 5] .

Fotos 4 e 5: Sala do 3º A do ensino médio básico manhã da E.E. Vicente Peixoto vista por dois ângulos diferentes. Foto de: Leonardo Araujo Cardeal da Costa. 26 de abril de 2013.

A sala é limpa, pelo menos, nas primeiras aulas e, depois, vai ficando mais sujas. Interessante que no final da última aula, todos os alunos colocam as cadeiras em cima das mesas, para facilitar a limpeza das faxineiras. No entanto há algumas carteiras pichadas e mal conservadas [FOTO 6].
A classe é bem iluminada, as janelas são grandes, dá para entrar bastante luz (porém elas não se abrem totalmente), apenas os professores que também lecionam no noturno ressaltaram um pouco mais de dificuldade em relação a essa questão. A sala possui dois ventiladores, um na parede da frente outro na de trás, mas não são suficientes, pois o ambiente fica um pouco abafado, principalmente quando faz calor [FOTO 7].


Foto 6 à esquerda: Carteira pichada. Foto de: Leonardo Araujo Cardeal da Costa. 26 de abril de 2013. Foto 7 à direita: Nota-se as janelas e as lâmpadas acesas, gerando boa iluminação à sala de aula. Foto de: Leonardo Araujo Cardeal da Costa. 26 de abril de 2013.


A porta [FOTO 8 e FOTO 9] tem tranca apenas para dentro (para nenhum aluno de fora entrar) e cada professor tem uma chave de roda [FOTO 10 e FOTO 11).

Fotos 8 e 9: Porta da sala de aula. Observar que ela fechada torna-se impossível abri-la pelo lado de fora. Foto de Leonardo Araujo Cardeal da Costa. 26 de abril de 2013.


Fotos 10 e 11: Uma chave de roda usada por professores e inspetores para fechar as portas das salas de aula. Foto de: Leonardo Araujo Cardeal da Costa. 26 de abril de 2013.

Essas foram às observações, em síntese, sobre o espaço físico da escola e da sala de aula, para possibilitar uma noção da estrutura da escola que os professores e alunos utilizam para realizar suas atividades de ensino-aprendizagem.

APLICAÇÃO DE QUESTIONÁRIOS: LOCALIZAÇÃO NA SALA DE AULA

Ao todo, foram acompanhadas, respectivamente, as aulas (com duração de 50 minutos) de: Química, Geografia, Português, Física, Biologia e Artes, na quinta feira e; Português, Filosofia, Química, Matemática, Física e Matemática, na sexta feira.
Cada professor tem sua maneira de atuar, alguns interagindo mais com os alunos, outros apenas passando conteúdo. As aulas, em geral, foram expositivas e os professores muito pouco circulavam pela sala de aula, ficando a maior parte do tempo na parte superior da sala, próximos à lousa. Os alunos disseram que gostam mais das aulas de Filosofia e Geografia, pois os professores abordam assuntos de maior interesse deles. Eles têm muito respeito pelo professor de Matemática (Geometria), foi a aula que os alunos mais ficaram sérios, pois esse professor é bastante exigente.
Porém, em nenhum momento das aulas assistidas houve alguma atividade que alterasse o posicionamento das carteiras. Desse modo, pelo fato de não se observar quase nenhuma alteração quanto à disposição da sala, foi pensado e elaborado um questionário para professores (ANEXO II) e outro para alunos (ANEXO III), visando abarcar, de forma mais ampla, a disposição desses sujeitos em sala e o que isso pode determinar nas atividades e dinâmicas das aulas dadas e no processo de aprendizagem dos alunos.
Para o questionário dos professores buscou-se avaliar as opiniões deles a cerca das condições físicas da sala de aula, a posição dos alunos sentados e a influência da disposição da sala nas atividades de classe e no processo de aprendizagem. Já o questionário dos alunos, também com a mesma temática, porém pelo olhar daqueles que aprendem, centrou-se em perguntas sobre as condições físicas da sala de aula, a suas posições na classe (no caso, sentar-se em duplas), se isso é fator positivo ou não e, por fim, como eles avaliam as estratégias dos professores para lhes ajudarem a aprender.
Houve uma variada e rica quantidade de respostas, evidenciando a complexidade e as diferentes maneiras de pensar a disposição dos sujeitos na sala de aula e como ela interfere ou não na aprendizagem. As repostas dadas no questionário ora corroboravam, ora conflitavam com o que foi observado em aula durante o estágio.
DESENVOLVIMENTO DA ANÁLISE: OBSREVAÇÃO DAS AULAS + AS RESPOSTAS AO QUESTIONÁRIO

3.1. A disposição dos sujeitos no espaço-aula e sua dimensão na aprendizagem

Para Antonio Viñao (2005) o espaço escolar, enquanto espaço físico é um símbolo, disposto e habitado por docentes e discentes, que comunica e educa, além de ser apropriado para uma determinada época.
A sociedade transformou-se em ritmo intenso nos últimas décadas, houve muitos avanços tecnológicos e, de certa maneira, a escola sofre para atualizar-se com novos avanços, o que leva muitos educadores a dizerem que temos hoje uma escola ainda estruturada como se fosse o século XIX, com professores do século XX e para alunos do século XXI, evidenciando a dificuldade da escola de acompanhar as mudanças do mundo.
A disposição espacial de muitas salas de aulas, ainda preservadas no modelo tradicional, pode ser considerada um reflexo da imobilidade presente na escola, pois salas com carteiras enfileiradas com o professor em posição a frente dos alunos, que acontecia no século XIX, ainda permanece muito forte hoje e isso não é diferente ma E.E. Vicente Peixoto.
A disposição espacial de uma classe pode-se encaixar no que Ilma Passos Alencastro Veiga considera como currículo oculto, compreendido como "mensagens transmitidas pela sala de aula e pelo ambiente escolar" (CORNBLETH apud. VEIGA; 2002).
Como os sujeitos dispõem-se e organizam-se na sala de aula é sim relevante para a didática, pois é uma forma de criar relações sociais e de aprendizagem em uma sala de aula, como bem observa José Carlos Libâneo (2002: 5):
A Didática é uma disciplina que estuda o processo de ensino no seu conjunto, no qual os objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas da aula se relacionam entre si de modo a criar condições e os modos de garantir aos alunos uma aprendizagem significativa. (grifo meu).

Ao pensar-se na disposição dos sujeitos professores e alunos no espaço da sala de aula e sua dimensão na aprendizagem, procurou-se avaliar a distribuição, o arranjo, a organização da sala de aula e como isso influencia na relação aluno-professor e analisar quais relações com o saber que uma classe ordenada em fileiras com estudantes sentados em duplas podem proporcionar a quem nesse espaço vivencia.

Desta situação, surgiu o interesse de estudar um pouco sobre essa questão e sua relevância, do ponto de vista da Didática, às práticas pedagógicas. A localização dos sujeitos no espaço aula ganha mais destaque ao notar-se que ela também é um fator considerável para a conformação das relações com o saber que são construídas, na sala de aula, entre professores e alunos.
Bernard Charlot (2000: 78) ressalta que "a relação com o saber é uma relação de um sujeito com o mundo, com ele mesmo e com os outros. É relação com o mundo como um conjunto de significados, mas também como espaço de atividades, e se inscreve no tempo." (grifo meu). Assim, buscou-se pensar na relação dos sujeitos (professores e alunos) com o seu espaço de atividade: a sala de aula, levando em conta as interações entre esses dois sujeitos.
Principalmente, prestou-se atenção na atuação do professor, pois como expõe Terêzinha Azerêdo Rios (2001: 56-57):
o que se dá hoje com o processo de ensino é peculiar, na medida em que temos um mundo que demanda do docente algo mais complexo do que aquilo que ele estava habituado. (...) Ele enfrenta o desafio de buscar alternativas para pensar o ensino de modo crítico e ampliado.

3.2. Professores

Responderam ao questionário sete professores, das seguintes disciplinas: Geografia, Matemática, Matemática (Geometria), Filosofia, Português, Biologia e Química.
De modo geral sobre a sala de aula, a maioria dos professores (cinco) acha este ambiente um lugar limpo e bem iluminado, porém houve um equilíbrio nas repostas em relação ao conforto da sala (quatro opinaram que ela não é confortável).
Para eles, no geral, há um bom ambiente para desenvolver as atividades de ensino, mas sentem falta de alguns recursos áudio visuais e melhores equipamentos de trabalho, como salienta a professora de Biologia:
Em geral, é um bom ambiente para a prática pedagógica, porém, seria muitíssimo melhor se cada sala tivesse recursos extras, como datashow e tela para projeção (em cada sala) e notebook acoplado, para simplificar e agilizar o trabalho do professor e incrementar suas aulas. Ideal também seria se houvesse um laboratório equipado com recursos mínimo ao menos...

Somente a professora de Geografia e o professor de Filosofia não consideram o ambiente de aula adequado. Este último justificou suas repostas, o que foi muito interessante, pois a ele, a escola "parece um presídio". De fato, como pôde ser observado, a escola tem, em sua arquitetura, um ar de prisão, pois ela é toda murada, muitas grades e concreto, com poucos espaços verdes e, quase sempre, nos horários de saída há uma viatura da polícia no portão do colégio para coibir um possível tráfico de drogas.
Tal arquitetura da escola está ligada ao momento em que ela foi criada, já no final dos anos 1960, durante o governo da ditadura militar em que havia uma política pública de expansão do número de escolas, em razão do projeto de aumentar em quantidade o número de alunos matriculados, arquitetando, dessa forma, prédios mais utilitários/funcionais e sem adornos (VIÑAO, 2005).
Há, também, o caso das portas fechadas com chave de rodas [FOTO 10 e 11] para não permitir a saída dos alunos da sala de aula e impor uma disciplina, o que faz do professor, às vezes, apenas um "carcereiro" do aluno, atuando para fiscalizar e controlar o movimento e o comportamento dos alunos, prejudicando o processo de ensino aprendizado voltado para construção do conhecimento. Essa situação gera um desconforto e um constrangimento.
Quanto aos alunos sentarem-se em duplas, os professores avaliam isso de duas maneiras: positiva, já que o sentar-se em duplas pode proporcionar um maior envolvimento dos alunos com o conteúdo ensinado, pois, segundo a professora de Biologia "As duplas podem interagir numa atividade proposta ou mesmo numa leitura/interpretação e/ou resolução de exercícios."; negativa, pois as duplas facilitam a conversa e prejudica o desenvolvimento da aula, como relata a professora de Geografia "Estar organizado desta maneira gera muita conversa o que atrapalha o andamento das aulas. Além disso, facilita a cópia de atividades, e pouco desenvolvimento individual".
Todavia, o que mais chamou a atenção foi que a maioria dos professores sente-se indiferente em relação à influência das duplas no desenvolver das aulas, atribuindo o melhor ou pior desempenho das aulas à proposta da atividade, à postura disciplinar e ao interesse em aprender dos alunos: "quando o aluno tem interesse em aprender ajuda, pois um orienta o outro como fazer; quando o aluno não tem interesse deixa somente um fazendo e o outro fica conversando e atrapalha a sala" afirma o professor de Matemática.
Vale a pena ressaltar que o maior conflito apresentado nos questionários e na observação de aulas é a questão dos alunos sempre sentarem-se em duplas. Os professores, em sua maioria, informam que os alunos nem sempre se colocam em duplas, porém as respostas dos alunos a essa questão e as aulas assistidas no estágio contradiz o que os professores alegam, visto que a maioria dos alunos afirma sempre se sentar em duplas (exceto nas avaliações) e foi isso que foi verificado durante as observações das aulas.
Outra contradição encontrada nas respostas dos professores deve-se ao fato de quase todos eles já terem interferido onde cada aluno deveria sentar-se, seja por motivos de controle de disciplina, seja para elaborar uma estratégia diferente de conduzir as aulas. Assim, pode-se questionar: se os professores interferem onde cada aluno senta-se na classe, como alguns deles podem dizer que são indiferentes à disposição dos alunos sentados em duplas na sala de aula?
A única unanimidade de respostas foi sobre atividades realizadas pelos professores em que os alunos não se conformam em duplas. Todos já promoveram aulas alguma atividade com outra dinâmica que não seja dos alunos em duplas, seja uma proposta de exercício em grupo (mais raro), seja individual.
No entanto, ao confrontar tais respostas com a dos alunos, verifica-se que apenas os professore de Geografia, Filosofia e Biologia desenvolveram alguma atividade diferente. A professora de Geografia conta como foi sua experiência de trabalhar em grupo quando realizou uma discussão sobre a Organização das Nações Unidas (ONU) com os alunos: "Realizei debates e discussões em roda, situação que permitiu um maior entrosamento e participação dos alunos.". Já o professor de Matemática diz o contrário, ele acredita que o melhor jeito de ensinar sua matéria é com os alunos dispostos em fila e separados uns dos outros:
quando a atividade é feita em grupo normalmente um dos alunos não aprende, pois quando a mesma atividade é aplicada individualmente somente um aluno da dupla vai bem. Isso quer dizer que o outro só se aproveita da atividade em dupla para tirar nota nas custas do outro.

Ele não está errado, esse tipo de situação é muito frequente, porém cada maneira de pensar uma aula tem pontos positivos e negativos e em vários casos a repetição do modo de dar aula se torna cansativo. O essencial, seja qual for a dinâmica da aula, é o professor entrar em acordo e orientar os alunos sobre os objetivos da aula, favorecendo o processo de aprendizagem.





3.3. Alunos

O questionário foi respondido por 32 alunos do terceiro A do ensino médio da turma da manhã, ou seja, quase totalidade da turma. A classe é composta por jovens com média de 16 e 17 anos, em sua maioria do sexo feminino (24 meninas e 8 meninos) e apenas quatro alunos dizem não gostar da sala onde estudam.
A metade da classe (16 pessoas) considera o local confortável, 60 % deles acham a sala limpa e arrumada e um número bem pequeno de alunos, por volta de 10 a 15% reclamam por melhores condições de iluminação do ambiente [FOTO 6] e do estado das carteiras um pouco degradadas [FOTO 7].
No geral, ao conversar com professores e alunos e vivenciar as aulas, pode-se concluir que a sala não apresenta uma estrutura ideal de trabalho, mas está longe de ser um local precário, que impossibilita o desenvolvimento mínimo das práticas pedagógicas.
Os alunos sempre se dispuseram sentados em dupla em todas as aulas (informação destoante com as repostas dos professores) e todos, sem exceção, gostam de sentar-se em duplas. Somente quando há provas, é que eles as realizam de forma individualizada, separando as carteiras.
O principal motivo dessa conformação em duplas é devido à proximidade entre alunos, que escolhem onde e com quem sentar-se por causa da amizade (eles estudam juntos desde a 5ª série do ensino fundamental), afinidade de estudos com o colega, que podem ser reveladas nas seguintes respostas que resumem a ideia dos alunos sobre a questão: "[escolho meu lugar de sentar] pela amizade, já há muito tempo construída e bom desempenho escolar com o amigo", "por termos uma amizade desde a 5ª série me sinto mais confortável". "prefiro sentar perto da amiga para melhor aprendizado". Por outro lado, também foi possível verificar que alguns alunos reclamam da falta de privacidade por sentar-se em duplas.
Sentar-se desse modo apresenta vantagens e desvantagens para a dinâmica da aula. Pode ser vantajoso, porque como dizem os alunos: "gosto de sentar em dupla pois com minha amiga é melhor de entender e fazer as lições e atividades escolares, pois discutimos sobre o assunto e entendemos melhor a matéria."; facilita "o desenvolvimento, um ajuda o outro"; "porque fica melhor para debater"; "duas mentes pensam melhor juntas" e "um consulta o outro, para tirar dúvidas é mais fácil por ter alguém do lado".
Por outro lado, pode ser desvantajoso, porque, como falam outros alunos: "outras duplas ficam falando alto"; "com conversas paralelas" ou tem "às vezes as brincadeiras, risadas, às vezes brigas"; que "interrompem as aulas e tiram muitas vezes a concentração da aula.".
Esses relatos mostram como o fato de sentar-se em duplas envolve as relações de saber que pode ser mais forte entre os próprios alunos do que com o professor, pois quando o aluno, sujeito do saber, diz: "o meu colega me entende e me ensina mais que o professor" ou "as vezes a pessoa do seu lado te entende melhor que o outro e o professor", percebe-se que sentar ao lado de um amigo, se envolver com ele, debater, confrontar ideias traz ganhos significativos na aprendizagem e, em muitos casos, mais até do que apenas ouvir o professor.
Com as observações sobre a disposição dos alunos no espaço e suas relações aula foi possível compreender que realmente a relação com o saber (que envolve um conjunto, de professores, alunos, conhecimentos) é pautada por interações e nesta turma analisada a relação do saber entre os próprios alunos é muito intensa por eles sentarem-se em duplas e aprenderem juntos, em que eles podem confrontar seus saberes (sejam quais forem), trocar conhecimentos e experiências, o que os levará a relacionar o saber com o mundo, tornando os "homens-sujeitos", pois como escreve Paulo Freire (1974: 8):
é uma exigência radical do homem como um ser incompleto: nãopoder ser se os outros também não são. Como ser completo e inconsciente de sua incompletude, o homem é o ser da busca permanente. Não poderia haver homem sem busca, do mesmo modo como não haveria busca sem mundo. Homem e mundo: mundo e homem, 'corpo consciente', estão em constante interação, implicando-se mutuamente.

Cabe ao professor atentar-se a esse aspecto de proximidade de um aluno com outro aluno e a partir disso mobilizar os alunos, realizar atividades que despertem seus interesses, para potencializar os alunos (ainda sujeitos em formação) a relacionarem-se com o saber e com o mundo.





CONCLUSÃO

Independente da disposição dos sujeitos no espaço aula, o que mais prevalece para caracterizar uma boa dinâmica de aula é a relação construída entre professor e aluno. Segundo, Anna Maria Pessoa de Carvalho (2012: 15) "a interação professor-aluno é, sem dúvida, a mais forte e a mais frequente e que vai determinar a qualidade das outras relações".
O que a autora escreve pode ser expresso na reposta do professor de Matemática (geometria) a pergunta do questionário que pede para ele avaliar a aprendizagem dos alunos quanto a sua disposição dentro da sala: "Normal, [a aprendizagem] depende sempre do controle que o professor tem sobre o seu grupo de alunos".
Todavia, a disposição dos sujeitos professores e alunos na sala de aula apresentam algum significado na ação educativa (faz parte desse processo) e, muitas vezes, ela não é levada em consideração (ou não refletida) pelo professor como um fator, do ponto de vista da didática, que pode interferir nas dinâmicas das atividades em aula (seja direta ou indiretamente relacionada com a aprendizagem dos alunos).
A expressão disso é a reposta do professor de Filosofia à questão da relação disposição dos alunos em sala de aula e a aprendizagem, para ele: "A disposição dos alunos não interfere na aprendizagem. O interesse do aluno brota de uma aula bem preparada e da dinâmica das atividades".
Até certo ponto ele está correto, mas uma aula bem preparada e as dinâmicas das atividades são possíveis de se realizarem com êxito sem pensar sobre a disposição dos alunos no espaço aula, sem pensar nas condições espaciais e físicas para a aula acontecer? Talvez muito dos problemas relatados por professores, em geral, quanto à falta de interesse em aprender e a indisciplina dos alunos podem ser atenuados por ações que atuem e interferiram na posição dos sujeitos em sala de aula. Talvez, pudessem ser evitadas reclamações de alunos como essa: "[as aulas] todas são boas, porém as que mais me ajudam são as aulas que os debates são abertos e as dúvidas tiradas com mais facilidade (...) Aulas mais objetivas com lousa cheia, sem muitos pensares não me ajuda.".
A falta de reflexão sobre essa questão, em parte deve-se há hábitos sociais da escola, em que um enorme número de interações em sala é gerado mais para conservar relações entre alunos e professores já há muito tempo estabelecidas, o que significa que a vivência em sala de aula é ordenada, em certos casos, sem questionamento (CARVALHO; 2012: 18-19).
Assim, muitas vezes, surge a culpabilidade dos sujeitos, que não levará a discussão a lugar nenhum, ou melhor, apenas a reprodução do que já ocorre. Como o caso do professor de Matemática que coloca a responsabilidade do não aprender nos alunos: "De qualquer forma depende muito do interesse. Se o aluno tem realmente interesse em aprender não importa a disposição dele na sala."; ou do professor de Química que também vai pelo mesmo discurso: "[os alunos] são na maioria bagunceiros. Eles não se atem as explicações em sua aula.". Ora, se os alunos não tem interesse e só bagunçam, não quer dizer que o professor não pode pensar em uma estratégia diferente para mudar esse quadro.
Por sua vez, os alunos também reclamam desses professores. Uns relatam: "alguns professores literalmente não tem didática nenhuma. Utilizam métodos que são insuficientes para o aprendizado. E muitos passam muita lição na lousa e pouco diálogo.".
Pelas respostas dadas aos questionários é verificada, por parte de alunos e professores, mesmo às vezes sem eles perceberem ou sem questionarem de uma forma mais clara, que a disposição da sala de aula apresenta, de alguma forma, uma dimensão relevante na aprendizagem, caso contrário, não haveria tantas repostas divergentes como se sucederam.
Houve uma miríade de interpretações sobre a localização dos sujeitos no espaço aula e sua relação com a Didática, o que mostra que é um tema pertinente de estudos e de pesquisas mais sistematizadas. Infelizmente, surgiu uma grande dificuldade em encontrar uma bibliografia específica para ajudar na problematização deste assunto.
No entanto, como professor-geógrafo que serei, é fundamental (por que não obrigação?) pensar o espaço aula, fazer experiências, zelar e modificar esse espaço, visando novas maneiras, didáticas (ou seja, de maneira intencional, sistemática e organizada), para que o processo de aprendizagem se realize!





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BLOG EE PROF. VICENTE PEIXOTO – Disponível em: http://vicentepeixoto.blogspot.com.br/. Acesso em: 02 de Maio de 2013.
BLOG NÓS E O VICENTE – Disponível em: http://eevpeixoto.blogspot.com.br/search?updated-min=2009-01-01T00:00:00-02:00&updated-max=2010-01-01T00:00:00-02:00&max-results=7. Acesso em: 02 de Maio de 2013.
CARVALHO, Anna Maria Pessoa de. Os Estágios nos Cursos de Licenciatura. São Paulo: Cengage Learning, 2012.
CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber. Artmed, 2000.
FREIRE, Paulo. Papel da educação na humanização. In: Uma Educação para a liberdade. Porto: Textos Marginais, 1974, p.7-21.
GOOGLEMAPS – Disponível em: http://maps.google.com.br/maps?rlz=1C1MOWC_enBR442BR442&sugexp=chrome,mod%3D19&um=1&ie=UTF8&q=ee+professor+vicente+peixoto&fb=1&gl=br&hq=ee+professor+vicente+peixoto&cid=0,0,256454833673995672&sa=X&ei=7JHjT4i1DZLh0wHwkNjRAw&ved=0CG4Q_BIwAQ. Acesso em: 02 de Abril de 2013.
RIOS, Terezinha Azerêdo. Compreender e Ensinar - por uma docência da melhor qualidade. São Paulo, Cortez, 2001.
VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Projeto político-pedagógico da escola: uma construção coletiva. Mimeografado, s/d.
VIÑAO, Antonio. Espaços, usos e funções; a localização e disposição física da direção escolar na escola graduada. In: BENCOSTTA, Maucus Levy (org.). História da educação, arquitetura e espaço escolar. São Paulo: Cortez, 2005





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