A DISPUTA DE THOTH E CLIO NA SALA DE AULA: PROBLEMAS E POSSIBILIDADES DO ENSINO DO EGITO ANTIGO NO CURRÍCULO ESCOLAR

June 5, 2017 | Autor: Thais Rocha | Categoria: Ancient History, Egyptology, Education
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A DISPUTA DE THOTH E CLIO NA SALA DE AULA: PROBLEMAS E POSSIBILIDADES DO ENSINO DO EGITO ANTIGO NO CURRÍCULO ESCOLAR Thais Rocha da Silva11

Egypt was not just a place where antiquities decorated the landscape (El Daly)

As transformações ocorridas no currículo escolar brasileiro nos últimos anos têm colocado desafios novos aos professores da área de história. A inserção obrigatória da história da África, da América e das populações indígenas obrigou os profissionais a buscarem por novas referências num curto espaço de tempo, uma vez que a produção do material didático não acompanhou as mudanças no mesmo ritmo. Foi o resultado dessa experiência que motivou a apresentação deste texto. Trabalhando com o Ensino Fundamental II numa escola particular de “alto padrão” em São Paulo, numa reunião de planejamento, a equipe foi solicitada pela coordenadora da área de História a retirar o Egito antigo do programa anual. Sua justificativa se baseava na ideia de que o Egito era estudado exclusivamente pela curiosidade motivada nos alunos. “Porque é legal!” Outro aspecto é que nosso público alvo, com alto poder aquisitivo, poderia assistir os canais da televisão paga e viajar. Para a coordenadora, seria suficiente estudar o Egito pelo viés africano, pela Núbia, conforme o material novo sugeria. Assim, a imposição do MEC seria cumprida. A surpresa maior viria com a adesão quase unânime da equipe. Esse episódio suscitou uma série de inquietações - e desconfortos - em alguém que iniciava sua pesquisa de pós-graduação sobre a história do Egito antigo. Não era mero sentimentalismo ter sua área de estudo colocada novamente no gabinete de curiosidades, ou como “hobby”. Tratava-se, mais ainda, de pensar a forma como o estudo e o ensino da área de História Antiga estavam disseminados. Ao mesmo tempo, o Egito - seja antigo ou moderno - parecia deslocado para outra instância, fora da escola e do domínio do historiador. A qual Egito minha chefe e a equipe da escola se referiam especificamente? Nesse sentido, a discussão desenvolvida nesse texto é uma tentativa de responder, ainda que tardiamente, àquela reunião. A primeira pergunta seria por que incluir (ou manter) o estudo do Egito antigo e não a China, a Índia, ou outra civilização? Ele é necessário a quem? Se por um lado a disciplina angariou um nome próprio, e desperta a curiosidade e interesse de crianças e adultos, com grande repercussão, como justificar sua exclusão? Contudo, mantê-lo no currículo escolar aponta para o fato de que a numerosa produção acadêmica, crítica e apurada, desenvolvida nas grandes escolas de egiptologia, não chega ao nosso público brasileiro. Portanto, manter o Egito no currículo escolar e na produção do material didático implica em manter que tipo

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Mestranda do Programa de Estudos Judaicos e Árabes. Departamento de Letras Orientais -FFLCH-USP.

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de Egito? De que maneira expectativas sobre o “Egito” são estimuladas, um híbrido de ciência e fantasia que acomoda projeções de um inconsciente europeu (KUBERSKI, 1989)? Nesses últimos anos, ao lidar com o material didático produzido para o Ensino Fundamental II, em especial 5 coleções de livros didáticos e o livro para o 6o ano, que estuda a história da antiguidade, foi possível traçar contornos de um Egito antigo específico. Assim, a problematização do material produzido não pode estar desvinculada do questionamento sobre uma visão de história e, mais especialmente, do tipo de público pretendidos. Se o livro didático é de fato a forma mais poderosa de publicação, por formar o “senso comum” (ALBIERI, 2011, p. 21) sobre o passado na Antiguidade12 - e sobre o Egito - é preciso que não apenas a sua produção esteja em sintonia com a discussão acadêmica, mas sua utilização pelos professores. Os profissionais do ensino básico muitas vezes não tem nenhum respaldo institucional para promover esse tipo de reflexão. O Egito antigo, de todas as civilizações do mundo antigo, é certamente a que tem mais visibilidade e popularidade. A presença do Egito antigo se dá a despeito dos egiptólogos, o Egito “está lá”: egiptólogos amadores, colecionadores, curiosos, esotéricos, ufólogos, etc.. Nesse contexto, é preciso refletir sobre o papel do historiador, não apenas para positivar o Egito antigo no ensino ou nos diversos meios de comunicação, tão pouco para simplesmente corrigir os erros daquilo que é produzido, mas para pensar como e porquê ele nos interessa. Assim, não se trata de excluir essas outras participações e produções que correm em paralelo com a produção acadêmica e a despeito dela, mas sim problematizar sua inclusão, demonstrando de que maneira isso também é parte da história do Egito. Se o Egito não pertence somente aos egiptólogos, como criar possibilidades de apropriação e entendimento de sua disciplina, sem perder o rigor acadêmico? Como sair de uma ideia de história que confina o saber nas bibliotecas desapropriando o público de sua capacidade de produção de conhecimento? Se a curiosidade e o interesse público já existem, aos egiptólogos cabe aproveitar o espaço para fomentar reflexões sobre os caminhos da disciplina, incluindo-se no processo de reflexão histórica. Mais ainda, restaurar o público na própria constituição da egiptologia, como veremos adiante. A organização e formulação da história do Egito antigo indica a formulação de uma teleologia que culmina no mundo ocidental europeu. Ele opera temporalidades distintas não apenas na pesquisa acadêmica, mas também no imaginário das pessoas. Nesse sentido, é preciso que os egiptólogos tenham sim uma preocupação didática, não apenas sobre o conteúdo apresentado, mas de que modo ele se constitui como conteúdo, a exemplo do que ocorre nas grandes escolas da egiptologia13. Não se trata portanto, de excluir o Egito, ou de firmar o cisma entre a produção de programas de divulgação, blogs, etc. com a produção acadêmica especializada, mas pensar como se dá sua inclusão e que ideologias operam esse processo. Num primeiro momento, pretendo examinar de que maneira essa popularidade se constituiu, paralelamente a um 12

Refiro-me nesse caso à divisão didática, tradicional em que o período da Antiguidade vai do surgimento da escrita até 476 d.C, quando há a “queda” do Império Romano do Ocidente. 13 Pesquisadores do British Museum, por exemplo, são obrigados a realizar palestras e visitas guiadas ao grande público, além de uma preocupação na elaboração de livros infantis e material de apoio ao serviço educativo do museu. Esse tipo de preocupação, contudo, não faz parte da nossa realidade brasileira, seja pela falta de profissionais capacitados na área, seja por interesses institucionais.

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isolamento dos egiptólogos, dentro e fora da academia. Nesse escopo, a investigação sobre a participação do orientalismo e do afrocentrismo forjaram certas percepções sobre o Egito antigo contribuindo para que se desse, simultanemante, a popularidade e o isolamento do Egito antigo. Nesse jogo, me parece, está o cerne da relevância do estudo e do ensino do Egito nas escolas. É por meio dessas práticas que pode-se estimular o desarranjo dessas categorias de organização do passado, promovendo novas práticas políticas, institucionais e epistemológicas sobre a construção da nossa relação com o passado e, também, da própria história. Observando o material didático para o Ensino Fundamental II, o Egito aparece em momentos específicos da história: as primeiras ocupações humanas no Crescente Fértil, a origem da escrita e a formação do Estado teocrático. O Egito é o mesmo em quase 3000 anos de história do chamado período faraônico. É mencionado pontualmente no material após a expansão de Alexandre, o Grande e na expansão romana. Não se menciona o período islâmico, exceto pelo “fim da era dos faraós”, assumido muitas vezes como o período de decadência. A dominação de Alexandre, o helenismo e, posteriormente, a conquista romana foram inseridos como marcos significativos na história do Egito, representando momentos de ruptura, traduzidos no vocábulo historiográfico como progresso e evolução. A cristianização do Egito raramente é mencionada e a islamização é associada ao período de crise, decadência, rompimento. Assim, o Egito é o mesmo, eternizado nas pirâmides, nas figuras de deuses com cabeças de animais, das múmias, na escrita que se decifra (e não se lê), na monumentalidade. Sua história é fixa, congelada e apresentada como o marco inicial ainda - da ideia de civilização. É interessante notar que, ao perguntar ao público que acompanhou essa apresentação no Seminário A história e seus públicos, sobre o que pensamos quando referimo-nos ao Egito antigo, as respostas convergiam para o que é encontrado nos livros didáticos: múmias, papiros, maldições, o Livro dos Mortos, hieroglifos e tesouros. Isso sem mencionar os grandes personagens de Tutankhamon e Cleópatra VII. Nada muito diferente do que se encontra divulgado pelas outras mídias. O Egito tal qual conhecemos, em pouco se diferencia de uma visão já apresentada por Heródoto no século VI a.C. O Egito antigo é também a civilização em que se encaixa todo o tipo de “box” de curiosidades, inserções no texto didático que pretendem complementar o texto principal. Essas “notas de rodapé flutuantes” colaboram para um processo de fragmentação na percepção da história e, mais ainda, da sociedade em questão. Temas em torno da vida das mulheres, o convívio em família, a religião, biografias e as camadas menos privilegiadas da população (o mito da escravidão, etc.) representam certamente o esforço de se abrir mão de uma história egípcia baseada nas elites e nos grandes personagens, tal qual era feita no início da egiptologia no século XIX. Do mesmo modo, comparações com os dias atuais têm oferecido aos alunos e professores instrumentos para aproximar um passado distante no tempo e no espaço de uma reflexão mais crítica. Mas se isso é verdade, por que o Egito ainda continua cristalizado, imutável? As ponderações apresentadas pela Professora Sara Albieri (2011, p. 1-4) sobre o significado e o papel da história pública estão em conformidade com uma reflexão trazida 1 º Simpósio Internacional de História Pública: A história e seus públicos Anais eletrônicos. ISBN 978-85-62959-25-7. São Paulo, 2012.

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pelos egiptólogos. Se por um lado esses pesquisadores pertencem a um grupo especializado, numa disciplina que requer um grande número de pré-requisitos, o que justificaria a princípio seu isolamento e possível desinteresse pelas questões relativas à história pública, por outro, é justamente a divulgação do Egito antigo e sua popularização que garantem a esses mesmo profissionais novos flancos de atuação. Por que então temos a mesma visão simplificada, por vezes hollywoodiana do Egito antigo? Não é raro encontrar no Egito antigo a origem de (quase) tudo, permitindo a presença de seus pesquisadores circulem pelas diferentes áreas. No entanto essa circulação e essa popularidade não são sinônimos da prática de uma história pública, tão pouco de uma abordagem interdisciplinar do material egípcio. O diálogo da egiptologia com outras disciplinas é recente e não homogêneo. Graves Brown (2008, p. xviii) chama a atenção para a falta de auto-crítica e o pouco tempo para o estudo das teorias. Parte dos egiptólogos ainda transita numa comunidade acadêmica bastante conservadora, de modo que parcerias teóricas com outras disciplinas ainda são vistas como “alternativas” e marginais. A ideia de divulgação e mesmo de uma abordagem didática ainda são vistas de forma pejorativa (ALBIERI, 2011, p. 23) em muitas áreas das ciências humanas. Isso ocorre sobretudo com o ensino de história antiga no Brasil e o isolamento ainda maior dos seus profissionais do grande público e de parte das instituições de ensino, principalmente fora do nível superior. O desenvolvimento de uma preocupação em torno da busca de uma história da América antes da chegada dos europeus e a valorização do passado indígena não deve ocorrer com o descarte de outras histórias. Não se trata de um jogo de sombras em que uns devem (ou merecem) ter sua história contemplada em detrimento de outrem. Ao fazermos isso, só invertemos os pólos da mesma relação dicotômica. É preciso que haja uma reflexão sistematizada sobre como a história do mundo antigo pode ser incluída (e inclusiva) na nossa realidade. Ela não é “demais” como afirmou uma das colegas que assistia a essa apresentação. Ela é desconectada, fragmentada e, mais ainda, esvaziada de sentido. Se isso acontece, devemos pensar de que modo, portanto, se dá a atribuição de sentido a essa história.

O Egito no Oriente Eventos como a Primavera Árabe e mesmo os atentados do 11 de Setembro obrigaram o mundo “ocidental” a rever suas percepções e construções sobre o Egito e o “Oriente’. Nesse novo contexto contemporâneo, o Egito surgiu no discurso da mídia em meio aos debates éticos de preservação dos museus e monumentos, quando varridos pelas manifestações populares em finais de 2010. O Islã, tratado como o grande inimigo do mundo ocidental moderno, fazia emergir questões sobre a liberdade das mulheres e dos indivíduos, a criação da democracia, colocados como valores ocidentais14. O que vimos foi uma reedição de fatos anteriores. 14

Sobre isso ver o trabalho de Abu-Lughod (2002) em que demonstra como um discurso de direitos humanos, apoiado na igualdade de gênero foi instrumento da “guerra contra o terror” norte-americana. Recentemente, o professor Eric Fassin,

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A obra de Edward Said Orientalismo (1978), ainda que tenha recebido uma enormidade de críticas pelo seu excessivo engajamento político, permitiu que muitos especialistas em oriente antigo, inclusive egiptólogos, revisitassem seus pressupostos teóricos e metodológicos. Nesse sentido, O Egito antigo se enquadra nos três tipos de orientalismo mencionados por Said 15 confirmando o modo como tais instituições se apropriaram da história do Oriente, criando um thelos civilizacional que confirma ad eternum a soberania Ocidental. De modo geral, a egiptologia tem nos seus estudos ainda modelos coloniais que mantiveram os egípcios fora do estudo do seu próprio passado por tanto tempo e, além disso, negaram ou negligenciaram a relevância de dados etnológicos do Egito moderno ou mesmo medieval para a sociedade do período faraônico (JEFFREYS, 2003; UCKO e CHAMPION, 2003). Walis Budge descreveu a sua atividade de obtenção de peças com a ajuda de egípcios. Relatava como o cônsul britânico em Luxor, Mustafa Aghar o ajudou dizendo que ele era “devotado à Inglaterra, e queria fazer o British Museum o melhor do mundo”. Balfour numa declaração à Câmara dos Comuns afirmava Nós conhecemos a civilização do Egito melhor do que conhecemos qualquer outro país. Nós conhecemos seu passado tão bem, o conhecemos tão intimamente; nós sabemos mais sobre ele. (apud SCHAM, In: JEFFREYS, 2003, p. 173)

Nas palavras de um conselheiro de Luís XVI, o “Egito não pertence a ninguém” (apud BERNAL, 1987) e talvez seja justamente isso que tenha promovido sua popularização. A formação da egiptologia como ciência se dá paralelamente à formação das coleções e museus na Europa, atreladas às práticas expansionistas do grandes impérios no século XIX. Tais relatos demonstram como jogo imperialista com as elites locais se configura claramente nesses acordos. Também indicam a apropriação de um conhecimento que já pertence aos britânicos, sua autoridade em lidar com isso. O Egito, de fato, faz parte da experiência ocidental europeia (SAID, 1990, p. 13), o fato de estar lá não implica um afastamento, mas a legitimidade da apropriação. Isso pode ser identificado já nas fontes gregas antigas em que o Egito (ou o oriente), reiterando seu papel na formação da civilização16.

em uma palestra no Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo (2011) demonstrou como os discursos sobre a sexualidade do outro, no caso, os muçulmanos, se tornaram elemento de identificação e um critério de estabelecimento de liberdade. 15 Trata-se do orientalismo como o campo de estudo dos orientalistas, a criação de instituições que favoreçam a dominação do Oriente o “estilo de pensamento” europeu para pensar o Oriente. É evidente que discussões acerca do orientalismo não estão reduzidos à obra saidiana, nem ele pode ser considerado seu precursor. Para isso ver também Immanuel Wallerstein (2007), Robert Irwin, (2007) e Albert Hourani (1967). 16 Refiro-me aqui especificamente o texto de Heródoto. Alguns historiadores interessados na relação do Egito com o mundo grego afirmam uma “culpa grega” na formação de nosso olhar sobre o Egito. A própria indefinição nos relatos gregos sobre a localização precisa do Egito (vale do Nilo à primeira catarata? delta? etc.) e a elaboração da cronologia e a organização da história egípcia por Manetho, durante o período ptolomaico reforçam essa construção e apropriação do passado egípcio pelos gregos, Sobre isso ver Vanusia (1995), Ucko e Champion (2003), Jeffreys (2003), Moyer (2011).

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Entre 1759-80 a Egiptologia não estava vinculada a instituições, nem profissionalizada. A caricatura produzida por Thomas Rowlandson Modern Antiques17 representava o excesso de entusiasmo inglês, após a derrota de Napoleão, questionando se a nova ciência - a egiptologia - não era também egiptomania. Os museus ainda eram gabinetes de curiosidades, servindo apenas como suporte e ilustração do conhecimento. A egiptologia inglesa, sobretudo depois da figura de Flinders Petrie (1853 – 1942), estabeleceu as principais normas para a pesquisa no Egito antigo. Ao mesmo tempo, cuidou de garantir um modo de representar o Egito que fortalece a prática orientalista, como objeto de consumo para além das fronteiras estabelecidas pela academia. Havia - e ainda há - a ideia de que se conhece “muito bem” o Egito. Tal conhecimento se deu mais pela popularização do Egito do que pela divulgação acadêmica. Nisso o orientalismo tem um papel crucial por selecionar (e criar) uma série de elementos que disponibilizem “características” da região: pirâmides, obeliscos e esfinges. Essa iconografia foi transmitida pelas artes decorativas e reforçada pelo “Egyptian Revival” com a exposição de Napoleão. O British Museum , em que a representação do Egito antigo foi o instrumento, superficial e bidimensional, definindo uma visão mais palpável, concreta do Egito antigo, para um público maior (MOSER, 2006, p. 7), se deslocando da espiritualização proposta pelo Romantismo alemão e o excesso de academicismo dos franceses. A Inglaterra, através do British Museum, reconhece o Egito não pela sua “true worth” e o incorpora unindo dois aspectos antagônicos da representação do Egito antigo: a curiosidade popular e os documentos históricos para os acadêmicos (MOSER, 2006, p. 217). Ainda de acordo com Moser, o processo de criação do museu está atrelado à criação de um “novo” Egito antigo, de modo que é preciso levar em conta o processo de aquisição da coleção, os modos de exposição e a recepção do público. No início do século XIX o conhecimento dos europeus sobre o Egito antigo era superficial e muito fantasioso, o que comprometia a formação (e definição) de uma “boa coleção”. Os critérios não eram muito claros e pareciam estar mais associados ao projeto exibicionista do imperialismo. Ao mesmo tempo, as artes ganham novos contornos dentro de um mundo burguês em ascensão, em que os aspectos estéticos passam a ser mais importantes e valorizados dentro de um novo modelo de consumo. Nesse contexto, a arte grega e romana foi muito promovida pelos alemães. Intelectuais como Schiller, Goethe, entre outros valorizaram e retomaram o mundo greco-romano que tinha em suas representações um realismo maior e mais agradável aos olhos. Do mesmo modo, a literatura, a música passaram a ter elementos que distinguisse socialmente quem tinha acesso - e portanto, pertencia, a determinado grupo social. Num período em que movimentos sociais ganhavam força na sociedade europeia e a ordem burguesa era contestada, era importante que se tivesse uma justificativa histórica para determinar hierarquias e relações de poder. O mundo greco-romano foi paulatinamente lapidado pela burguesia dominante, com direito a importações da antropologia, apoiadas no darwinismo social e numa leitura evolucionista. Nesse contexto, a

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Imagem disponível em http://fr.wikipedia.org/wiki/Fichier:Rowlandson-modern-antiques-Egyptomania-1806.jpg Acesso em 15/08/2012.

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apropriação do Egito antigo, seu consumo, o crescimento da Egitomania, a institucionalização da egiptologia consagram um orientalismo específico ao Egito antigo. A obra de Moser (2006) faz uma análise sobre como a formação do British Museum corrobora para a formação da Egiptologia. A transformação ocorrida na disposição das galerias organiza e ordena uma nova hierarquia de civilizações, antes separadas segundo uma estética clássica, ao tom da arquitetura do museu, mas posteriormente, numa ordem cronológica (p. 221). Como a base das vitrines e das salas era uma tentativa de imitar os templos gregos, o aspecto exótico, “bizarro” e mesmo monstruoso dos objetos egípcios destoavam muito e ficavam ressaltados. Por conta disso, a recepção foi considerada bipolar (p.224) mas nunca de indiferença. Uma vez que nesse momento os objetos eram classificados como “objetos de arte” e arqueologia ainda não possuía autonomia e voz de comando nos museus, ficava evidente a discrepância dos “modelos” estéticos. As peças egípcias, quando comparadas às gregas e romanas, adquiriam um status de inferioridade, com um juízo de valor que apontava a sofisticação greco-romana em oposição à simplicidade egípcia. Os objetos no museu adquirem gradativamente uma visão progressista e evolucionista. Para piorar a situação, ironicamente, grande parte do material egípcio provinha do contexto funerário, o que até hoje contribui para a ideia de que os egípcios eram obcecados com a morte, lhes conferindo um aspecto funesto e místico. (MOSER, 2006, p. 225)18. A norma de observação da arte era através das lentes greco-romanas, recuperadas no renascimento, no neoclassicismo, etc. (LEMAIRE, 2008). Assim, a identificação com determinado tipo de consumo de arte contribuiu para marcar elementos de distinção social: o púbico habilitado a reconhecer nos objetos gregos e romanos o repertório por detrás dele demonstrava ter conhecimento e, portanto, determinado status social. Para Moser, ao outro público, que não detinha essas condições, os objetos egípcios serviam como o primo pobre no consumo da arte. Entretanto, me parece que se projetou nessa prática uma tentativa de pertencer ao grupo dos letrados e bem nascidos. Se o conhecimento sobre o Egito antigo era insuficiente num modo geral, não importava muito o que era dito diante dos objetos, desde que o discurso tivesse um tom de espetáculo. Como afirma Said, o Oriente se transformou no século XIX no local do espetáculo, onde as projeções do Ocidente ganhavam vida sem comprometer o status quo europeu. Assim, Through its various manifestations of Ancient Egypt, the museum made this ancient civlization “everybody’s domain”. Presented as the poor cousin to Greece and Rome rather than a distinctive cultural event in the history of humanity; ancient Egypt was characterized as not possessing any of the scholarly barriers that safeguarded the interpretation of classical art. (MOSER, 2006, p. 233)

A curiosidade, a fantasia e o espetáculo passam a ditar as normas de observação, da comparação e também do saber. Nas palavras de Moser, a curiosidade “is an escapism that 18

Vale lembrar que no século XIX fenômenos e estudos ligados ao mundo do espíritos ganham espaço entre os intelectuais, mas também se popularizam, como o Espiritismo de Allan Kardec, por exemplo. A crença na vida pós-morte dos egípcios reforça o aspecto exótico se comparado com uma crença cristã Muitos trabalhos de excavação no Egito foram realizados com auxílio de médiuns.

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did not demand anything from the viewer - no special knowledge was recquired and no special response to the antiquities was expected” (p. 224-225). Uma vez que o British Museum foi o primeiro a adquirir uma coleção significativa (em quantidade e qualidade), o modo de representar o Egito se desenvolveu em paralelo à Egiptologia, numa relação simbiótica. O material egípcio se transforma na “montruosidade colossal”19 (MOSER, 2006, p. 225), do mesmo modo que o Império Britânico. Here the displays can be seen as serving a wider political agenda of constructing the East in terms of its opposition to the West. Egyptian antiquities were appropriated as a tool for evaluating the achievements of western society and in this sense they were a useful way of making sense of the present. While the use of ancient Egypt as a heuristic contrast to the ancient Greece broadly corresponds with the theoretical perspective of Orientalism, the museum’s representation of ancient Egypt can also be seen as constituting an Orientalist stereotyping of this culture as a symbol of alterity or as vehicle for self-presentation. (MOSER, 2006, p. 231-232)

O Egito do mundo antigo é convenientemente destacado do mundo islâmico e, mais ainda, fica excluído de qualquer participação no ensino ou na administração da própria arqueologia até início do século XX (JEFFREYS, 2003). Embora hoje o Egito tenha o controle das escavações e das pesquisas no país, mesmo com o processo revolucionário de 2011, o número de egípcios que se deslocam para a França, Inglaterra e mesmo a Alemanha é significativo. Mais ainda, El Daly (2005, p. 4) demonstra como no início do século XX, as autoridades coloniais ensinavam História da Europa e negligenciavam qualquer participação de um passado árabe. O impacto disso foi que a formação da grande maioria dos intelectuais egípcios não teve nenhum tipo de informação ou vínculo com seu passado islâmico. De que maneira, portanto, a nossa produção de conhecimento sobre eles (os "egípcios) não os excluiu até pouco tempo da possibilidade de assumirem seu lugar de sujeito em sua própria história?

O Egito na África Se as preocupações políticas do orientalismo nos permitem verificar os modos da apropriação europeia e a exclusão do Islã, o afrocentrismo nos apresenta de que modo o ativismo teve - e ainda tem - impactos na construção positiva da história. Os norte-americanos foram os mais atingidos pelo afrocentrismo já em finais de 1960: a África negra conferia ao Egito uma outra particularidade no quadro do mundo antigo. Essa questão foi motivada em parte pelo movimento negro nos Estados Unidos e todo o debate em torno da raça, também associado ao gênero e às classes sociais. O precursor do afrocentrismo egípcio, Cheikh Anta Diop (1923-1986), um físico de formação francesa que se dedicou também às humanidades, retomou uma discussão apresentada ainda em finais do século XIX sobre a diáspora negra e a origem da 19

awkward because of their size, peculiar because of their unique artistic style, and monstruous because of their subject matter (MOSER, 2006, p. 225)

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humanidade no continente africano. Sua afirmação de que o Egito antigo era uma civilização negra (DIOP, 1974, p. xiv) reitera a origem negra da civilização, tirando-a da posição de receptora e devedora do mundo branco “ocidental”. As ideias de conquistar novamente a consciência africana e pensar uma nação negra estão evidentemente relacionadas com os movimentos de independência no continente e sua nova agenda política no mundo pós-guerra e nos movimentos de descolonização. Contudo, Diop demonstra como, já na Antiguidade, as fontes gregas faziam referência aos egípcios de “pele escura” (DIOP, 1974, p. 1-3), apelando para o testemunho ocular dos autores (p.2). A problematização acerca do nome dado pelos próprios egípcios Kmt, “terra negra”, ao seu país enfatiza, segundo ele, a referência a uma civilização negra. O termo kmt indica, para alguns pesquisadores, a terra úmida e fertilizada pelo Nilo, mas foi entendida como uma referência à população 20. Nessa linha, Diop questiona What we cannot understand however, is how it has been possible to make a white race of Kmt: Hamite, black, ebony, etc. (even in Egyptian). (...) On the other hand, (Ham) is whitened whenever one seeks the origin of civilization, because there he is inhabiting the first civilized country in the world. So, the idea of Eastern and Western Hamites is conceived - nothing more than a convenient invention to deprive Blacks of moral advantage of Egyptian civilization, and of other African civilizations, (...). (1974, p. 9)

A obra de Diop abriu precedentes na academia moderna de investigar o Egito sob o prisma das populações africanas, que foi abraçado por pesquisadores importantes e entrou na agenda de militantes. Contudo, não é contemplado nessas obras a historicidade do termo “negro” (black), sobretudo ao se tratar das fontes antigas. A ideia de um passado “negro” simplesmente inverte a polarização da narrativa hierárquica21. O peso da visão moderna, escravista, que certamente permeia nossa produção acadêmica atual não pode ser projetada anacronicamente, seja de forma positiva ou negativa. A ideia de tornar os negros sujeitos de sua própria história, numa resposta ao racismo e ao colonialismo europeus, abriu espaço para a criação de uma “identidade negra”, “africana”, monolítica e anacrônica. Nesse sentido ainda, a perspectiva afrocentrista assume a ideia de contribuição, colocando os sujeitos numa relação hierárquica, ainda que invertida, reafirmando a postura eurocêntrica, sobretudo no caso do Egito antigo, pela admiração suscitada. Tal admiração em nada se distingue das categorias estabelecidas pelos europeus, numa continuidade quase absoluta com aquelas apresentadas pelos gregos. Mais complicado ainda, é o pressuposto do difusionismo, em que a “África” teria influenciado a formação da civilização ocidental, ignorando outros processos históricos, locais e mesmo culturais de outras sociedades. 20

Diop (1974, p. 7-9) recupera nesse contexto a narrativa bíblica e a referência a Ham, ou Kam, em hebraico que significa “negro”, “quente”. 21 Vale lembrar o clip de Michael Jackson Remember the time (1992) e outras músicas do carnaval da Bahia, como “Faraó” (1987), em que a caracterização dos egípcios é predominantemente negra. A ideia de um Egito negro colaborou, nesse sentido, para que a militância contra o racismo ganhasse legimtidade histórica.

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Tal linha de pensamento foi retomada por Martin Bernal na polêmica obra Black Athena (1987). Se por um lado, seu trabalho contribuiu para que os gregos saíssem do pedestal erigido pela academia dos séculos XVIII e XIX, também recebeu uma série de críticas pertinentes. Entre elas, o uso demasiado da obra de Heródoto, (LEFKOWITZ e ROGERS, 1996, p. 13), além de não reconhecer que o corpus Hermeticus o qual afirma ser egípcio, foi escrito em grego, pelos gregos, no II século d.C, apresentando algo já helenizado como puramente egípcio (LEFKOWITZ e ROGERS, 1996, p. 17). Bernal se empenha em demonstrar que as construções em torno da ideia de desenvolvimento civilizacional ocorrem num sistema de cooperação, quase um “orientalismo às avessas” em que um Oriente (o dele) substitui os gregos no pedestal da civilização. Mais recentemente, o trabalho de Asante e Mazama (2002), retomou o debate sobre a exclusão da África da história do Egito antigo. Não se trata simplesmente de reafirmar a localização do Egito no norte do continente africano, nem de dizer que a população era negra ou branca. O problema central é revisitar a epistemologia estabelecida na constituição da ciência sobre o Egito. The combination of the European centuries gives us about four to five hundred years of solid European domination of intellectual concepts and philosophical ideas. Africa and Asia were subsumed under various headings of the European hierarchy.. (ASANTE, 2001)22

O que pode aparentar uma atitude “generosa” da academia, ao considerar e incluir a África como pertencente ao processo histórico ocidental, camufla as categorias elencadas para isso, além de uma percepção bastante controversa dos processos históricos envolvidos na ideia de “influência” e “contribuição”. É preciso sair de uma visão monolítica da África negra23 e levar em conta que, no caso específico do Egito antigo, ele não ocupou, como querem muitos pesquisadores adeptos do afrocentrismo, um lugar especial, em mais de 3000 anos de história (BAINES, In: LEFKOWITZ, 1996, p. 21), diante de seus vizinhos. Se o afrocentrismo coloca a origem de toda a civilização na África, contribuindo para uma revisão de paradigmas que, ou excluem ou relegam à África a situação de “contribuidor”, falha ao pressupor que toda a África era negra, inclusive os egípcios. Paralelamente, reforça um mito de auto-identificação e auto-enobrecimento: essa fabricação cria uma confiança para que os grupos marginalizados possam sair da periferia e pertencer ao “grupo dominante” (LEFKOWITZ e ROGERS, 1996, p. 21; UCKO e CHAMPION, 2003), colocando os negros marginalizados nos últimos 500 anos de história, como os precursores da civilização, travestidos de “egípcios”. Esse tipo de projeção ignora, por exemplo, as transformações da história egípcia e da relação do Egito antigo com seus vizinhos, seja no Mediterrâneo, seja no continente africano.

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Texto disponível em http://www.asante.net/articles/51/de-westernizing-communication-strategies-for-neutralizingcultural-myths/ Acesso em 15/08/2012. 23 Do mesmo que o movimento feminista nos anos 60, a tentativa de se criar categorias para legitimar uma lutra política torna nublada outras nuanças. No caso da África, é preciso levar em conta seus processos históricos intrínsecos, sem a interferência “branca”: as disputas e diferenças entre os povos que habitam a região, por exemplo, sem mencionar o problema da escravidão. É preciso cautela na apropriação de um discurso político na teoria histórica, a fim de evitar anacronismos que paralizam a pesquisa ao invés de fazê-la avançar na compreensão das multiplicidades.

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Nessa linha, a obra de Bernal e os seus seguidores caem, segundo John Baines (apud LEFKOWITZ e ROGERS, 1996), numa abordagem evolucionista, já que as civilizações orientais são mais antigas que as clássicas. Ao mesmo tempo, assume uma postura difusionista e negligencia os estudos desenvolvidos sobre a região da Núbia, que não pode ser tomada como o Egito, conforme alguns militantes e autores de livros didáticos querem acreditar.

Considerações Finais Desse modo, as tentativas de adequar, moldar o Egito no tempo e no espaço nos permitem identificar as operações da história sobre a constituição - e institucionalização de determinadas forma de saber. Mais ainda, permite refletir sobre como estabelecemos hierarquias e controle da produção do conhecimento. Se o Egito desperta o interesse e a curiosidade do grande público, é preciso que os historiadores se posicionem para discutir tal fato como uma forma também de produção do saber histórico, não como uma afronta a ela. Num outro nível, é preciso que o material didático não reproduza o Egito apresentado no século XIX. É preciso que os temas se ampliem e, principalmente, questionem a própria ideia de história. Se os egípcios não possuíam uma palavra para “história”, não significa que não operassem com as categorias da memória. Falamos muito deles, mas não deixamos que eles falem por si. Todos os registros escritos e iconográficos produzidos no Egito antigo estavam associados à crença de que a escrita tem o poder de eternizar a existência dos indivíduos. Se para eles, a escrita era um instrumento de auto-representação e os eventos, a manutenção de uma ordem já estabelecida, parcialmente revelada, de que maneira podemos compreender a demanda egípcia por uma história, por uma memória? É possível que nós tenhamos caído na armadilha egípcia da eternidade e imutabilidade? A história pública reforça a necessidade de historicizar a presença e a ausência do Egito antigo na sala de aula, na mídia e mesmo nas instituições acadêmicas. Mais do que tornar público, é incluir o público nessa problematização. O Egito antigo articula e revela as diversas linhas de força que transitam entre uma história pública e privada, entre as torres de marfim das academias e da mídia “sem referência”. É preciso autorizar o pertencimento à história sem os mecanismos de controle. A memória, como esforço de adaptar o passado de modo a enriquecer e manejar o presente (LOWENTHAL apud LIDDINGTON, 2011, p. 39) deve encorajar novos pesquisadores a estudar o Egito antigo. Nós, no Brasil ou na América Latina temos o privilégio de constituir uma nova forma de fazer a história dessa civilização, e de outras, sem as amarras dos antigos Impérios. É possível e necessário uma egiptologia com frescor e motivada por um público não forjado no imperialismo europeu e que colabore para uma nova epistemologia a respeito do passado e do mundo antigo.

Bibliografia

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