A doutrinação republicana através da imprensa

July 1, 2017 | Autor: C. Miglioranza | Categoria: Jornalismo Político, História e Imprensa
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III SIPECOM – Seminário Internacional de Pesquisa em Comunicação Universidade Federal de Santa Maria

A doutrinação republicana através da imprensa1 Cristiane I. Vernes Miglioranza2 Acadêmica do Mestrado em História da Universidade de Passo (UPF) Resumo Este trabalho tem como objetivo, através de um estudo de caso, apresentar um exercício interdisciplinar de História Comparada, História Política e História da Comunicação. Para tanto, será realizada uma contextualização teórico-conceitual sobre este método de historiar, além de resgates da história do PRR e da imprensa republicana no Rio Grande do Sul e em Passo Fundo. Palavras-chave Imprensa sul-rio-grandense; propaganda republicana; jornalismo político.

A escolha pelo viés histórico A História Comparada, e também seu viés Político atual, constitui-se num método não muito antigo. Isso porque, antes da eclosão dos pensamentos da Nova História3, ela era considerada por uma maioria de historiadores como inviável devido à singularidade dos fatos. Boris Fausto e Fernando Devoto esclarecem bem esta ressalva:

A história devia repousar, a um só tempo, na possibilidade do conhecimento inequívoco do passado, reduzido à exatidão dos fatos,

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Trabalho apresentado ao Grupo de Pesquisa Mídia e Estratégias Comunicacionais, do III Sipecom Seminário Internacional de Pesquisa em Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria. 2 Jornalista, formada em Comunicação Social pela Universidade de Passo Fundo (UPF), especialista em Gestão de Processos de Comunicação pela Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul (Unijuí) e mestranda em História pela UPF. Membro do Conselho Editorial do Jornal Cultural Independente Cadafalso, de Passo Fundo. Email: [email protected] 3 O termo é tradução do francês La nouvelle histoire, título de uma coleção de ensaios editada por Jacques Le Goff na revista Annales. Segundo Peter Burke, a Nova História é a história escrita fora da “visão de senso comum da história”. Ele elenca seis pontos de diferenciação entre a Nova e a Antiga História: enquanto a antiga dizia respeito essencialmente à política, admitida como essencialmente ligada ao Estado, a nova começa a se interessar pela atividade humana, com a idéia de que a realidade é social ou culturalmente construída. Enquanto os historiadores tradicionais pensavam na sua função como estrita narrativa dos acontecimentos, os da Nova História preocupam-se com a análise das estruturas. Em relação às fontes, na história tradicional elas devem ser apenas registros oficiais, ou seja, documentos, que em geral expressam uma posição oficial, enquanto a nova forma de fazer história sugere uma “visão vista de baixo” para não negligenciar outros tipos de evidência, inclusive o jornalismo. Em quinto lugar, está a colocação de inúmeros questionamentos pelos adeptos da Nova História em relação ao evento. E, por último, a diferença entre as duas histórias, está na forma de apresentar os fatos: de forma objetiva na velha história, modo em geral considerado irrealista; de forma interdisciplinar na nova forma de historiar, fazendo o historiador uso de técnicas importadas da Sociologia, das Ciências Sociais e de outras áreas do saber. Para mais ver BURKE, Peter. A Nova História, seu passado e seu futuro. In BURKE, Peter (org). A escrita da História – novas perspectivas. São Paulo: Editora Unesp, 1992, p. 9-16.

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e na impossibilidade de qualquer generalização válida, especialmente que estabelecesse algum tipo de lei.4

Fausto e Devoto argumentam em favor do método, lembrando que comparar está na base da tarefa do historiador, assim como, também o sabemos os comunicólogos, das ciências da comunicação e de sua aplicação prática. Para eles, mesmo que de forma implícita, o pesquisador da História compara documentos e fontes entre si a fim de extrair dali o maior núcleo de verdade possível. Neste trabalho, por se tratar de um exercício que tem por objetivo fazer uma ponte entre a ciência social da comunicação e a ciência humana da história, o método comparativo utilizado será o desenvolvido pelo historiador francês Marc Bloch5, que sugere dois requisitos: observar certa similaridade nos fatos observados e certa semelhança dos ambientes em que tiveram lugar. Assim, foi analisada a utilização que o Partido Republicano Rio-grandense (PRR) fez da imprensa desde a sua constituição, em 1892, até o final do século XIX. A comparação será entre os jornais doutrinários de Passo Fundo em relação à “cabeça” do pensamento republicano gaúcho nos prelos, personificada por Júlio de Castilhos no jornal A Federação, de Porto Alegre. Para tanto, será brevemente resgatada a origem do PRR.

Doutrinação e ideologia

John B. Thompson, em seu livro Ideologia e Cultura Moderna, faz uma reflexão sobre o papel da ideologia. Segundo ele:

As ideologias têm um papel a desempenhar como sistemas seculares de crenças que emergiram às vésperas do abandono da religião e da magia, e que serviram para mobilizar a ação política num mundo libertado da tradição. O declínio da religião e da magia preparou o campo para a emergência de sistemas de crenças seculares ou “ideologias”, que servem para mobilizar a ação política, sem referência a valores ou seres de outro mundo.6

Necessário se faz esclarecer que o conceito de ideologia, que pode ser bem amplo, é aplicado aqui na forma como o definiu Thompson, que afirmou que se pode 4

FAUSTO, Boris; DEVOTO, Fernando J. Brasil e Argentina: um ensaio de História Comparada. São Paulo: Editora 34, 2004, p. 9. 5 Método exposto por FAUSTO, Boris e DEVOTO, Fernando, Op. cit. p. 13. 6 THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna – Teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1998, p. 106.

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classificar o termo como sistemas seculares de crenças que têm uma função mobilizadora e legitimadora. Ele chama esta apreensão como “concepção neutra da ideologia”.7 O Partido Republicano Rio-grandense (PRR), cuja doutrinação ideológica através da imprensa está sendo analisada, foi constituído em 1882. A razão para a maior penetração das idéias republicanas na Província de São Pedro em relação a outros estados brasileiros se deve à insatisfação da sociedade sul-rio-grandense com a centralização do poder no Império. Conforme Ricardo Pacheco:

O cenário de acúmulo de insatisfações possibilitou aos adeptos da república espaço para a difusão do regime. Associando o Império com os entraves institucionais vividos pela Nação, a República era apresentada como um sistema de governo capaz de conduzir o país rumo ao progresso e relacionada com a modernidade desejada.8

Os ideais republicanos já nasceram casados com a imprensa. Em 1870, Quintino Bocaiúva lançou o Manifesto Republicano através do jornal A República, do Rio de Janeiro. Foi o início de uma série de articulações de Partido Republicano nas províncias, que para tal formou clubes e núcleos e fomentou os jornais que seriam responsáveis pela disseminação da propaganda. No Rio Grande do Sul não foi diferente. Em 1880, retornou ao Estado um grupo de bacharéis formados nos bancos da Faculdade de Direito de São Paulo imbuído do espírito republicano. Esses jovens já estavam familiarizados com o enfrentamento político, inclusive via jornal, pois haviam mantido, enquanto estudantes, contato com a imprensa opinativa voltada ao corpo discente. Chegando aqui, iniciaram forte campanha de propaganda, visando uma mudança no regime político. O grupo vindo de São Paulo e o que já existia na Província juntaram esforços, passando a agir conjuntamente. Segundo a historiadora Sandra Pesavento:

A base social do PRR foi constituída por elementos do latifúndio pecuarista (ala jovem do Partido Liberal ou conservadores), descontentes com o regime, em associação com setores médios urbanos. Se comparado com o Partido Liberal, o novo partido realizou um alargamento de sua base política. Por outro lado, o PRR 7

THOMPSON, John B. Op. cit. p.141. PACHECO, Ricardo de Aguiar. Conservadorismo na tradição liberal: movimento republicano (18701889). In PICCOLO, Helga Iracema Landgraf; PADOIN, Maria Medianeira (dir.). Império. vol. 2. Coleção História Geral do Rio Grande do Sul. Passo Fundo: Méritos, 2006, p. 140. 8

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foi capaz de realizar uma união vantajosa com o exército. Esta união deu-lhe a força suficiente para se impor. A ligação, no caso, foi facilitada tanto pela forte tradição do militarismo, que o Rio Grande apresentava desde a sua formação, quanto pela presença do componente ideológico positivista, adotado pelo PRR, e que tinha grande penetração nos meios militares.9

Ela explica que, no contexto europeu, o positivismo surgiu como ideologia defensora da sociedade burguesa em ascensão e do desenvolvimento capitalista. Para isso, era imprescindível o aceleramento do desenvolvimento industrial:

Desta forma, a ordem era a base do progresso; o progresso era a continuidade da ordem. Assim, a visão positivista era progressista e conservadora ao mesmo tempo, ou seja, pretendia conciliar o progresso econômico com a conservação da ordem social.10

A doutrinação via imprensa foi muito bem planejada pelo PRR. Em 1884, apenas após dois anos de constituição do partido, os republicanos já dispunham de um plano de imprensa para divulgar sua causa junto à sociedade. Esse projeto se concretizou com o jornal A Federação, onde não apenas os ideais eram veiculados como também era feita uma polemização em cima dos principais temas do cenário político. A imprensa republicana em Passo Fundo

Não se pode desvincular a história da primeira imprensa passo-fundense, que foi republicana, da de Gervásio Lucas Annes. Foi ele o fundador de pelo menos duas folhas doutrinárias republicanas no município, recebendo o apoio do clube republicano local, o Toco de Vela, que colaborava na redação e tipografia. Gervásio Lucas Annes nasceu em Cruz Alta em 12 de abril de 1853. O futuro coronel, advogado e jornalista mudou-se para Passo Fundo aos 17 anos, sendo, segundo Welci Nascimento e Santina Dal Paz11, nomeado escrivão da Coletoria Estadual. No município, ocupou cargos de destaque e importância política no Executivo local, foi presidente do Hospital da Cidade e comerciante.

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PESAVENTO, Sandra Jatahy. História do Rio Grande do Sul. 8ª ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1997, p 66. PESAVENTO,Sandra. Op. cit. p. 67. 11 NASCIMENTO, Welci; DAL PAZ, Santina Rodrigues. Vultos da história de Passo Fundo. Passo Fundo: Padre Berthier, 1995. 10

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Desde sua vinda a Passo Fundo, esteve ligado à atividade de militância, em princípio dentro do Partido Conservador, tendo como rival Prestes Guimarães, chefe do Partido Liberal, depois como chefe do PRR local. No entanto, Passo Fundo não era exceção no que tange a tendências políticas em relação a outras cidades do Rio Grande do Sul: a maioria dos militantes era composta por liberais. Mas esse quadro muda:

Com a ascensão dos liberais ao poder da Nação, em junho de 1889 (Gabinete Ouro Preto), os conservadores de Passo Fundo, que já tinham um chefe, o cel. Gervásio, aderiram ao então pequeno Partido Republicano. A este partido, levados pela propaganda vibrante do cel. Gervásio, aderiu grande número de liberais.12

A propaganda eficiente era uma das armas do então incipiente Partido Republicano, como explica Ricardo Pacheco13. Ele resgata o início do movimento republicano no Brasil, iniciado na Faculdade de Direito de São Paulo e marcado por duas particularidades: a organização de clubes políticos e debates através de jornais doutrinários. Em se falando de Rio Grande do Sul, o expoente dessa imprensa é o jornal porto-alegrense A Federação, dirigido por Júlio de Castilhos, aluno da Faculdade de Direito e estudante atento das teorias sociais de sua época.

Cada corrente de pensamento, no interior do corpo discente, procurava manter um jornal estudantil por meio do qual manifestava suas opiniões. Nessa imprensa, Júlio de Castilhos se destacava como leitor atento das teorias sociais mais contemporâneas. Ali formulava suas próprias conclusões e convicções a respeito das necessidades e possibilidades de intervenção política junto à sociedade brasileira e da sua pena saíram diversos artigos, nos quais se percebe a apropriação desses temas, debates e teorias.14

Retornando à província, esses estudantes de Direito passam a fazer forte propaganda republicana. Há que se ressaltar que essas idéias tiveram boa aceitação no Rio Grande do Sul de maioria liberal devido ao descontentamento de estancieiros, imigrantes, comerciantes e charqueadores com a centralização do poder. Os republicanos queriam um ajustamento em nível político, através de um novo regime, às novas necessidades geradas na economia e sociedade brasileiras, visando, assim promover o capitalismo no país. São fatores indicadores do processo de implantação da 12

NASCIMENTO, Welci; DAL PAZ, Santina Rodrigues. Vultos da história de Passo Fundo. Passo Fundo: Padre Berthier, 1995, p. 48. 13 14

PACHECO, Ricardo de Aguiar. Op.cit. PACHECO, Ricardo de Aguiar. Idem, p. 144. 5

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República em 1889 a acumulação de capital, a introdução do trabalho assalariado, a constituição de um mercado consumidor interno, a urbanização, o surgimento da indústria, o incremento nas vias de transporte, a criação de bancos e novos serviços para atender à demanda que surgia. O trabalho de propaganda se dava, principalmente, através dos jornais. No caso da Província de São Pedro, onde o Partido Republicano Rio-grandense (PRR) foi constituído em 1882, desde 1884 já existia um projeto de imprensa partidária, que se inicia com A Federação, jornal porto-alegrense dirigido por Júlio de Castilhos e exemplo para outros órgãos do PRR no interior, como é o caso de Passo Fundo. Aqui, surge em 1890, um semanário chamado O Echo da Verdade. Fundado pelos republicanos, encabeçados por Gervásio Annes, era redigido pelos “toco de vela” – que conforme Ney Possap D’Ávila15 era a alcunha de um clube republicano composto por estudantes alunos do professor Eduardo de Brito –, baseados no jornal A Federação16. Com a proclamação da República em 15 de novembro de 1889, Gervásio Annes passa a ser o primeiro chefe republicano em Passo Fundo, sendo nomeado promotor público no mesmo ano. Em 1893 ele toma parte na Revolução Federalista17 como chefe dos legalistas, participando do Combate do Boqueirão no mesmo ano e vindo a ser ferido no ano seguinte. O ferimento fez com que se recolhesse a Porto Alegre, mantendo contato permanente com os comandados que aqui ficaram. Para Paulo Monteiro:

Elisário Prestes e Palmeira [chefes da resistência maragata em âmbito local] uma vez dominada Soledade, investiram contra Passo Fundo. No caminho receberam a adesão de aproximadamente 600 combatentes, comandados por Amâncio d’Oliveira Cardoso. Ao aproximarem-se de Passo Fundo, o intendente Gervásio Lucas Annes e uma força de 400 homens, fortemente armados, sob o comando do capitão Eleutherio dos Santos, não quiseram oferecer resistência, 15

D’ÁVILA, Ney Eduardo Possap. Passo Fundo – Terra de passagem. Passo Fundo: Berthier, 1996, p. 107. O Echo, que tinha tipografia própria, teve uma vida curta: apenas até 1892, sendo substituído pelo 17 de Junho, aparecido depois da contra-revolução que repôs o Partido Republicano no governo do Estado. O corpo da redação deste era o mesmo do Echo e a direção era do coronel Gervásio Lucas Annes, antes chefe do antigo Partido Conservador e agora republicano. Para mais ver BERTOL, Sônia; FROSI, Fabíola. O surgimento da mídia impressa no município de Passo Fundo/RS – os primeiros 50 anos. In: Revista Acadêmica do Grupo Comunicacional São Bernardo (http://www2.metodista.br//unesco/GCSB/necessidade.pdf). Janeiro-Junho 2004. Acesso em 8 de outubro de 2006. 16

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A Revolução Federalista foi um episódio da história do Rio Grande do Sul ocorrido de 1893 a 1895, quando Júlio de Castilhos, que havia sido afastado em 1891 do poder do Estado pelos integrantes da oposição, pertencentes ao Partido Republicano Federal (PRF), retorna ao poder com o apoio dos militares em 1892. Com idéias parlamentares, os federalistas opuseram-se em plano local a Castilhos e, em âmbito nacional, ao governo de Floriano Peixoto. Durante o conflito foram travadas sangrentas batalhas, entre elas a do Pulador, em Passo Fundo. Para mais ver PESAVENTO, Sandra. Op. cit. p. 78. 6

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preferindo retirar-se na direção de Cruz Alta, no dia 30 daquele mês de maio. O domínio federalista seria muito breve. No dia 4 de junho já eram mais de mil combatentes, precariamente armados, e sem nenhuma instrução militar, quando os republicanos, reforçados por forças cruz-altenses voltaram para retomar a cidade.18

A população da cidade, assim como suas “cabeças políticas” (os cidadãos de maior influência e posses), também tomava parte no acirramento entre republicanos e federalistas, seja por fidelidade – e dependência – a algum “coronel”, seja por questões ideológicas. Tanto pode ser comprovado pela participação da cidade nas revoluções Federalista e de 1923, com um grande número de mortes e enfrentamentos bárbaros como as batalha do Pulador, no final do século XIX.

A vida no jornalismo

Data de 31 de março de 1892 a substituição do Partido Liberal pelo Partido Federalista. Os ex-liberais articularam-se em torno de seu líder, Gaspar Silveira Martins, formando o PRF em Bagé. Os federalistas, alcunhados de “maragatos”, aproximaram-se da Revolta da Armada, movimento eclodido na marinha que reunia elementos da elite da época imperial inconformados com a instalação do regime republicano. Fato emblemático para a história local é o assassinato do líder republicano Coronel Chicuta, ocorrido um dia antes da constituição do PRF. Após o crime, que segundo relatos históricos foi cometido durante o dia, iniciou uma caça aos federalistas, responsabilizados pela morte. Muitos deles se abrigam nos países vizinhos, inclusive o líder federalista, major Prestes Guimarães. O semanário O Echo da Verdade passa a se chamar 17 de Junho, nome dado em homenagem à contra-revolução que devolveu o poder na província aos republicanos. Em 1899, após a Revolução Federalista, o Partido Republicano retorna aos prelos com um novo veículo: o jornal O Gaúcho. O periódico também é dirigido pelo coronel Gervásio, seu fundador, até o ano de 1901, quando o mesmo renuncia à presidência do partido e muda-se para Porto Alegre, alegando razões particulares que até agora não foram investigadas a fundo. Neste ano O Gaúcho sofre uma interrupção, retomando suas atividades só em 1905.

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MONTEIRO, Paulo. Combates da Revolução Federalista em Passo Fundo. Passo Fundo: Berthier, 2006, p.20.

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Gervásio permaneceu como responsável pelo jornal até 1917, ano de seu falecimento, ocorrido em 4 de abril. Elemento de coesão para os republicanos locais, o coronel deixou após sua morte um ambiente de incertezas, logo surgindo divergências entre a comissão executiva que torna a assumir o partido e Basílico Lima, republicano que assume a direção de O Gaúcho. Data desta época, melhor situando, junho de 1917, a fundação de outro jornal republicano: O Regimem. O propósito divulgado era o de reforçar o trabalho do outro meio de comunicação do partido, mas o que se observou foi uma cisão declarada. Ou seja, a executiva vende o primeiro jornal como forma de tirar os opositores do seu caminho ao mesmo tempo em que já planeja e executa o segundo. Considerações finais

O sucesso do PRR em relação à propaganda se deu pela forma moderna em que foi organizado o partido. Com uma estrutura disciplinada e hierarquizada, os republicanos estavam preparados para mobilizar seus grupos no interior e eleger representantes para a Assembléia, fazendo que, mesmo em menor número, eles pudessem dispor de certo impacto social. Ainda há muito a ser pesquisado em relação à imprensa republicana em Passo Fundo, o que está sendo objetivo de minha dissertação para o Mestrado em História. Do Echo da Verdade, que se tenha conhecimento, resta apenas um exemplar, em exibição no Museu de Artes Visuais Ruth Schneider. Em relação ao 17 de Junho, O Gaúcho e O Regimem, uma pesquisa mais detalhada no Arquivo Histórico local e em arquivos na cidade de Porto Alegre devem elucidar algumas questões, como aquela sobre de que forma a ideologia republicana chegava aos passo-fundenses.

Referências bibliográficas

BURKE, Peter. A Nova História, seu passado e seu futuro. In BURKE, Peter (org.). A escrita da História – novas perspectivas. São Paulo: Editora Unesp, 1992.

BERTOL, Sônia; FROSI, Fabíola. O surgimento da mídia impressa no município de Passo Fundo/RS – os primeiros 50 anos. In: Revista Acadêmica do Grupo Comunicacional São Bernardo (http://www2.metodista.br//unesco/GCSB/necessidade.pdf). Janeiro-Junho 2004. Acesso em 8 de outubro de 2006.

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D’ÁVILA, Ney Eduardo Possap. Passo Fundo – Terra de passagem. Passo Fundo: Berthier, 1996.

FAUSTO, Boris; DEVOTO, Fernando J. Brasil e Argentina: um ensaio de História Comparada. São Paulo: Editora 34, 2004.

MONTEIRO, Paulo. Combates da Revolução Federalista em Passo Fundo. Passo Fundo: Berthier, 2006. NASCIMENTO, Welci; DAL PAZ, Santina Rodrigues. Vultos da história de Passo Fundo. Passo Fundo: Padre Berthier, 1995.

PACHECO, Ricardo de Aguiar. Conservadorismo na tradição liberal: movimento republicano (1870-1889). In PICCOLO, Helga Iracema Landgraf; PADOIN, Maria Medianeira (dir.). Império. vol. 2. Coleção História Geral do Rio Grande do Sul. Passo Fundo: Méritos, 2006.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História do Rio Grande do Sul. 8ª ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1997.

THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna – Teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1998.

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