A EDUCAÇÃO, A LITERATURA E A ESCRITA DA HISTÓRIA EM BIZÂNCIO

June 13, 2017 | Autor: Diego Roggenbach | Categoria: Literatura Medieval, Imperio bizantino, História da Educação Medieval
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A EDUCAÇÃO, A LITERATURA E A ESCRITA DA HISTÓRIA EM BIZÂNCIO Diego Roggenbach Jenilson Carlos Mariano Maurício Francisco dos Santos Shara Lorena Gritten Mello1 Curitiba: 2014 ________________________________________________________________________ Resumo: Em toda a sua história o Império Bizantino mostrou largo interesse pela educação, apresentando características específicas geradas por seu “mosaico cultural” que o diferenciaram do Oriente. Isso refletiu não apenas na educação dos jovens, mas também na Literatura produzida em seu território e na escrita da História. Por isso, neste artigo procuramos apresentar de uma forma geral os principais aspectos desses três elementos, que por suas especificidades e o diálogo com os clássicos da Antiguidade, nos deixaram um legado intelectual e cultural enriquecedor. ________________________________________________________________________ O Império Bizantino, em sua complexidade e diversidade, apesar dos diversos avanços e constantes ameaças de queda, persistiu por cerca de onze séculos na História (330 a 1453 d.c.). Suas raízes, pautadas no antigo Império Romano, foram mescladas com as diversas culturas e particularidades do mundo oriental, de acordo com o alargamento de suas fronteiras que encontraram-se em constante modificação praticamente durante toda a existência do Império. Dessa forma, é fácil olhar para Bizâncio como mero prolongamento do Império Romano Ocidental e dizer que tudo o que se produziu em sua história foi compilado da erudição clássica (ANDRADE FILHO; FRANCO JR, 1995, p.77-78). Logo, que sentido teria mostrar as especificidades da educação, a literatura e a escrita da história em Bizâncio se estes elementos seriam mero reflexo do mundo clássico ocidental? No entanto, seguiremos por outro caminho. A partir de leituras da historiografia mais recente, que tem buscado afirmar a falha dessa visão simplista do Império Bizantino, esse artigo buscará abordar os principais elementos da educação e do ensino em Bizâncio, além de sua produção 1 Graduandos do Curso de Licenciatura em História do Centro Universitário Campos de Andrade.

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literária e escrita da história, que deixaram um vasto legado a posteridade, tanto ocidental quanto oriental. 1. A Educação em Bizâncio De acordo com Runciman (1977, p.173) “Uma boa educação era o ideal de todo bizantino” (...), a falta de cultura mental era considerada um infortúnio e uma desvantagem. Quase um crime. O ignorante era alvo de constantes zombarias”. Nesse trecho, de início, percebemos como a educação era tida como algo essencial na vida dos bizantinos, o que causava vergonha e injúrias a aqueles que não a possuíam, não importando a classe social a qual pertenciam, como é o caso do Imperador Miguel II, que mesmo possuindo tal posição na sociedade, era alvo de inúmeras zombarias por ser considerado “grosseiro” nos estudos (RUNCIMAN, 1977, p.173) Ora, se tal importância era dada a educação e assim era tratado quem não era próximo da erudição, supõe-se facilmente que os bizantinos empenharam-se em um processo educacional organizado. O objetivo e o processo de educação Bizantina não variaram muito ao longo de sua história, seguindo uma organização de disciplinas e da idade do jovem (é provável que a educação das meninas de classes baixas era igual a dos meninos, porém recebiam o ensino em casa por professores particulares e nas classes médias, recebiam apenas a alfabetização [RUNCIMAN, 1977, p. 178]) De modo geral, a Educação em Bizâncio passou por algumas transformações que aos poucos formaram sua organização. De Constantino a Justiniano haviam Universidades e Escolas. Depois de Justiniano a escola é raramente citada e este teria fechado as escolas laicas. Por volta do século VIII, o ensino laico passa a ser visto com suspeita, principalmente por conta de seu passado pagão (RUNCIMAN, 1977, p.175). Os eclesiásticos insistem na superioridade da Teologia, comparando esta a Sara e a ciência profana a Agar. Com o contato com os árabes no século IX os atritos diminuem, fazendo com que se difundisse até mesmo o estudo de lendas do Islã. Entretanto, já no século X, injuriando os estudantes do “Platonismo”, dizia-se que o estudo da bíblia e um pouco de raciocínio lógico já era suficiente. Nesse período, grandes intelectuais como Pselos, por exemplo, tiveram que ser autodidatas. Lamentando pela situação do Direito em sua época, em 1045 Constantino IX funda uma Escola de Direito onde todos os advogados eram obrigados a freqüentar, já

que a grande maioria era autodidata e incompetente. Além disso, “estabeleceu uma cadeira de Filosofia, compreendendo Teologia e os clássicos” (Idem, p.176). Aleixo I contribuiu com a organização escolar ao restabelecer as escolas-orfanatos, ficando assim estas e as Universidades sob a tutela do Imperador. No entanto, uma pedra de tropeço para o ensino era a falta de bibliotecas públicas (inexistentes desde 476) e o alto preço dos livros, que, além disso, em sua maioria eram religiosos. O saque de 1204 desestabiliza totalmente a educação bizantina e dispersa os eruditos. Além disso, boa parte de seus livros foram queimados. Somente nos séculos XIV e XV que acontece uma retomada e reflorescimento do conhecimento bizantino, especialmente no estudo de lendas clássicas, Teologia, Astronomia e da língua grega “pura” (RUNCIMAN, 1977, p.177-178). Vejamos de modo geral, como se dava a organização das disciplinas por idades no processo de ensino em Bizâncio. Aos cinco ou seis anos de idade, após o início das aulas que ia do outono até o verão seguinte (época das férias), o menino já era levado ao estudo da gramática, com a leitura, escrita e comentários de clássicos da antiguidade. Logo depois era acrescentada a prática da retórica, corrigindo os erros na pronúncia. Aos dezoito ou vinte anos o jovem ingressava na Universidade onde iniciava os estudos de Filosofia, Matemática, Geometria, Música e Astronomia (ANDRADE FILHO; FRANCO JR, 1995, p.80). Além disso, a Medicina, o Direito e a Física poderiam ser acrescentados na lista (RUNCIMAN, 1977, p.178) Segundo Andrade Filho e Franco Jr. (1995, p.79), “É claro que, apesar de vitorioso, o cristianismo não provocou grandes alterações na formação educacional do homem bizantino”. O ensino religioso era mantido ao mesmo tempo que o laico, contudo, este primeiro era ministrado por clérigos, que dedicavam-se no ensino da Bíblia às crianças. Somente no reinado de Justiniano (527- 565) obriga-se que todos os professores Universitários sejam cristãos. Antes disso, a Igreja não se opunha ao ensino laico e a professores particulares (ANDRADE FILHO; FRANCO JR, 1995, p.79). A Filosofia prosseguiu sendo sempre apreciada pelos bizantinos, apesar da contínua desconfiança da Igreja. Destaca-se no século XI a retomada dos estudos de Platão na Universidade de Constantinopla, tempo este que até mesmo a escolástica ocidental atingiu os estudos filosóficos em Bizâncio. A Teologia como estudo erudito 3

manteve-se mais restrita aos meios eclesiásticos, apesar de influenciar a mentalidade laica. A matemática só conheceu avanços com a influência árabe, pois permanecia ainda pautada no estudo grego antigo, assim como a Geometria e a Astronomia. Na Música destacam-se produções de hinos e poucas melodias populares. O estudo da língua Grega Clássica era de grande importância, essencialmente por meio da poesia clássica. As demais línguas eram consideradas “bárbaras” ou “vulgares”. A medicina era de grande interesse aos bizantinos, apesar disso, não alcançou progressos significativos, especialmente porque esta era mais destinada a fins práticos do que teóricos e científicos (RUNCIMAN, 1977, p.183-184). A Geografia pouco progrediu, esta se limitou a discussões sobre a planicidade do planeta e a cartografia. Também a Química não se desenvolveu mais, exceto com o “fogo grego”(utilizado por longo tempo na defesa das muralhas). A mecânica realizou progressos em função da Engenharia (ANDRADE FILHO; FRANCO JR, 1995, p.80-82). A arquitetura bizantina atingiu grandes avanços e transformações. O exemplo clássico disso é a grande Igreja de Santa Sofia, construída entre 532 e 537, que “ostenta uma cúpula de palco de 32 metros de diâmetro e 60 de altura, criando a impressão de estar suspensa no ar” (ANDRADE FILHO; FRANCO JR, 1995, p.82). É claro que o esplendor arquitetônico não se restringe apenas em Santa Sofia, mas atinge toda a arquitetura religiosa em Bizâncio. No campo profano, poucas ruínas restam. Contudo, o palácio Imperial e o Hipódromo mostram como a Arquitetura secular também se desenvolveu significativamente. Sobre o Direito, este declinou muito após Justiniano e, como já dito, era aplicado na maioria das vezes por advogados autodidatas. Só ganha novo vigor com a fundação da Escola de Direito em 1045 por Constantino XI. Com isso, o estudo do latim intensificouse em Bizâncio, mas logo o contato com o Ocidente vulgariza a língua (ANDRADE FILHO; FRANCO JR, 1995, p.84).

2. A Literatura A literatura bizantina encontrava-se em fortalecimento, fundamentalmente nos mosteiros. A literatura foi fortemente influenciada pela Literatura Grega Antiga. Em relação aos materiais utilizados, os livros eram produzidos em papiro e pergaminhos. O

papiro era utilizado também em diplomas imperiais durante o século IX, o pergaminho era feito em pele de animal, principalmente pela durabilidade e conservação. Foram os árabes que introduziram o papel em Bizâncio. No Império Bizantino se desenvolveram vigorosamente cópias das antigas obras gregas e, se produziam especialmente as Sagradas Escrituras (GIORDANI, 1968, p.184). A produção não se restringia apenas aos monges, que eram maior parte, alguns seculares exerciam essa atividade. Os livros que eram produzidos em papiro tinham formato de rolo. A encadernação era uma prática recorrente em Bizâncio. A língua literária havia tentado preservar o mais puro grego antigo, porém podemos observar nas cópias a não permanência completa, existem elementos árabes, latinos, armênios, etc. A Literatura em Bizâncio valorizava a Literatura Grega, temos altamente a atividade copista, no qual as bibliotecas se tornam ricas neste tipo de obras. De acordo com Giordani (1968, p.184) “O passado literário grego tornava-se presente no Império Bizantino através das grandes bibliotecas que conservavam numerosos manuscritos de autores antigos.” Essas práticas também nos trazem uma falta de espontaneidade por parte dos intelectuais Bizantinos, por outro lado se constituiu escritores capazes e inteligentes. Entre os gêneros literários que se destacavam estavam a prosa e a poesia (que mais tarde ganham várias ramificações), que regiam a maior parte da literatura. Entretanto a retórica possuía uma lógica própria, independente. A produção foi intensa no teor Teológico, onde os padres da Igreja tinham exclusividade na escrita das prosas. Isso se perdura até em meados do século VI, no qual houve um declínio desse teor Teológico. A literatura Bizantina apresenta traços bem específicos que a diferenciam largamente do Ocidente. O que lhe faltou foi uma maior criatividade e espontaneidade, pois de um modo geral, foi nas Artes que os bizantinos melhor se expressaram, enquanto na escrita prevaleceram hino, obras de devoção mística, simples histórias e biografias (RUNCIMAN, 1977, p.185). A extrema admiração pelos clássicos da antiguidade fez com que os bizantinos se interessassem mais pela compilação e comentários dessas obras. Segundo Franco Jr e Andrade Filho (1977, p.84) “Esta admiração exagerada é, em grande parte, responsável pela ausência de uma espontaneidade, da elaboração de um vernáculo próprio, de uma 5

força criadora. Permanece grega e erudita, arcaica, imitativa e artificial”. Como vemos, os bizantinos teriam pouco interesse em criar, salvo a escrita da teologia, da poesia sacra épica e lírica e a História, que proliferaram de maneira a desenvolver traços específicos. A língua teria sido um dos motivos que esbarraram a produção literária em Bizâncio. Em Constantinopla, havia três formas conhecidas de grego: a romaica, que era o grego popular falado nas ruas; o grego falado pelas classes educadas, sendo esta a língua que escreviam cartas e finalmente o grego clássico, que aos poucos tornou-se sinônimo de cultura. Este grego arcaico era usado pelos eruditos e escritores da classe alta. Com o tempo, tudo o que não era escrito nos padrões da língua clássica passou a ser desprezado. Ora, o grego clássico não era o mesmo que o grego falado no cotidiano, o que acabou formando uma dualidade lingüística em Bizâncio. De acordo com Giordani (1968, p.184) “O escritor escrevia, a rigor, em uma língua que não era a que ele usava no ambiente de sua vida cotidiana. Sofria, portanto, um cerceamento de sua própria inspiração. Sua auto expressão ressentia-se desse artificialismo lingüístico.” A Hagiografia (Biografia de santos) teve grande sucesso em Bizâncio. As biografias realizadas logo após a morte do santo tem grande valor informativo, sendo até mesmo a literatura favorita dos bizantinos após o Iconoclasmo (GIORDANI, 1968, p.187). Estas obras geralmente não são somente narrativas morais, mas procuram mostrar o ambiente em que viveu o santo, sendo assim boas fontes de consulta histórica. Entre outros gêneros literários em prosa, encontram-se romances de aventura e de amor, panfletos, sátiras e narrativas apócrifas, geralmente relacionadas às Sagradas Escrituras. A poesia também foi produzida em Bizâncio. Contudo, segundo Runciman (1977, p.172) “Na poesia, a falta de espírito literário criador dos bizantinos é mais aparente. O número de poetas bizantinos é comparativamente pequeno (...)”. A preocupação com a língua grega “pura” dificultava a espontaneidade poética, que carecia de naturalidade. Assim, apenas a poesia religiosa alcançou maior sentimentalismo, especialmente por influências da religiosidade da Síria oriental. Ao contrário da poesia erudita, “a poesia rítmica constitui a manifestação mais original do gênio poético dos gregos da Idade Média” (GIORDANI, 1968, p.188). O diferencial dessas produções, é que os autores não se preocupam com o grego clássico, mas procuram escrever na linguagem mais fácil possível para o público popular,

predominando o sentimento musical (Idem). Os poetas compunham primeiro a música e depois os textos, que deveriam encaixar-se nos ritmos. A forma de poesia rítmica produzida em Bizâncio pode ser chamada de “verdadeira poesia nacional” (GIORDANI, 1968, p.189) Por fim, destacam-se após 1204, com a influência ocidental, produções de poemas de cavalaria. A partir do século XII a poesia de língua popular aumenta, além de abranger diversos gêneros, como satíricos, líricos, provérbios, poemas didáticos, entre outros. Além disso, há a presença do teatro, tanto erudito quanto popular, originário (como no Ocidente) das cerimônias religiosas. 3. A Escrita da História em Bizâncio Vemos então o surgimento da História profana, deixando de ter o teor religioso e passando a ser uma história laica, o primeiro grande historiador Bizantino foi Eusébio de Cesáreia. A história Bizantina, sob a influência do Cristianismo, acabou formando dois tipos de escrita histórica: a História da Igreja e as Crônicas Universais. Nessa linha afirma Giordani (1968, p.187) “A Hagiografia (biografia de santos) ocupa lugar relevante na Literatura Bizantina.” Justiniano e seu reino criaram um gênero literário histórico: As Crônicas. João Malalas um dos primeiros a escrever essas crônicas. Autobiografias eram raras na produção Bizantina, a única existente é a Nicéforo Bleminas. Outro gênero que pode ser considerado inexistente é o romance. “O único romance bizantino foi o romance religioso e moral de Barlaão e Josafá – uma história também de origem indiana, mas com a teologia budista transformada em cristã” (GIORDANI, p.191). Após o reinado de Justiniano 2 a história se silencia em sua produção durante dois séculos, retomada com o monge Teófanes, que escreveu uma longa crônica em grego popular. Seus escritos foram bastante tendenciosos, por outro lado não fez julgamentos. Ainda durante o século IX, Nicéforo, o Patriarca, era um historiador menos valorizado, para sua crônica alcançar a popularidade ele apenas incluiu o que julgava que iria divertir o público ou influencia-lo na direção certa. Prosseguindo, afirma Runciman (1977, p.188): 2 O soldado Menandro Protetor e Evágrio e o autor da Crônica Pascal, tornam-se os principais historiadores do reino.

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Obras menores do século IX, como o fragmento anônimo sobre Leão, o Armênio, mostram que a história ainda não fora desprestigiada e no século X ela recebeu o estímulo do patrocínio da corte. Constantino VII mostrava-se ansioso para que a crônica de Teófanes fosse atualizada e quando Genésio escolhido para isso deixou de executar a contento a tarefa, ele próprio editou a complicação conhecida como Theophanes Continuatus e acrescentou a ela uma biografia cheia de tato e muito bem escrita do seu avô Basílio I.

Os bizantinos modernos tiveram problemas com as compilações feitas pelos cronistas mais antigos, o monástico Jorge, o Monge (século IX) e o secular Simeão, o Logóteta (século X). As próprias obras de Constantino não podem ser consideradas literárias pela falta de acabamento. A partir disso, temos uma sequência de produção histórica, exceto no reinado de Basílio II, que desprezava todas as formas de literatura. Leão Diácono ao fim do século X teve importante pape para a historiografia bizantina. “Os historiadores de Bizâncio comparam-se favoravelmente com os de qualquer nação até os tempos modernos.” (RUNCIMAN, 1977, p.189) Alguns são tendenciosos, outros conseguem atingir imparcialidade. Mais que historiadores, Bizâncio produziu biógrafos focados na escrita da vida dos santos. Entre os nomes de destaque de historiadores Bizantinoso estão: Leão Diácono (como citamos acima), Miguel Psellos, Miguel Atalite, Cinamo, Cedreno, Zonaras, Nicetas Acominato, entre outros. Cesar Nicéfora Briênio e sua esposa Anna Comnena, que destacaremos a sua importância, no qual Comnena se torna a maior historiadora de sua época.

3.1 Anna Comnena e A Escrita da História Entre os (as) maiores intelectuais que contribuíram para a produção historiográfica bizantina, temos Anna Comnena, que chama nossa atenção de como uma princesa bizantina se torna patrocinadora de um grupo de literatura clássica. Esta, de

acordo com Senko (2012, p.1) “foi uma das primeiras testemunhas na extralatinidade a observar o movimento de cruzadas”. Ao final do século XI, temos uma dinastia no poder imperial de Bizâncio, os Comnenos, liderados por Aleixo I casado com Irene que era pertencente a uma grande família de aristocratas de Ducas. Anna era filha primogênita do casal e como nasceu enquanto seus pais estavam no poder, ela por sua vez seria a herdeira. Anna Comnena casou-se com Briênio e sempre demonstrou seu desejo de se tornar herdeira do reino, que acabou sendo herdado pelo seu irmão mais novo João II Comneno. Desde sua infância Anna recebera uma educação pautada no Grego Antigo, o que a influenciou muito em seus pensamentos e obras, lembrando que a educação feminina em Bizâncio tinha como base aprender a ler e escrever Salmos e Escrituras. Por este motivo se destaca intelectualmente, pois teve acesso a vários autores clássicos. “A formação de Anna Comnena foi sempre voltada para a leitura dos clássicos gregos e romanos […] sua avó, Ana Dalassena, fez com que ela tivesse amplos estudos e que tivesse acesso a diversas literaturas, até mesmo a profana, ou seja, os clássicos”. (BASSI, 2009, p.18) Após a morte de seu marido e seu irmão ter assumido o poder a pedido de Aleixo I, Comnena se exila em um convento em Constantinopla, onde escreve sua obra Alexíada, obra toda escrita em língua grega. Possui um estilo imperial, onde resguarda a memória daqueles que viveram com Alexus, sendo uma obra de teor “heróico”. Sua obra é a continuação do trabalho de seu marido Briênio e conta a história que é presenciada por Anna, como as ações cruzadísticas iniciadas pelo concílio ordenado pelo papa Urbano II. Sua obra tem uma ligação direta com seu pai e o contexto que viviam. A Alexíada é fundamental para os estudos dos movimentos cruzados, no qual Comnena trata em sua obra, valorizada por ser a única fonte bizantina produzida sobre a Primeira Cruzada. Segundo Bassi (2009, p.27) “Não é apenas uma obra que relata um movimento, mas uma obra consciente que deixa para se ‘guardar à posterioridade’, a imagem construída por alguém do Império Bizantino sobre os latinos que cruzam o território imperial”.

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Por fim, no presente Artigo buscamos de um modo geral apresentar as bases da educação em bizâncio e sua produção literária, sem é claro esgotar tal pesquisa, pois isso seria uma missão difícil e talvez impossível, visto a complexidade, durabilidade cultural e especificidades da História do Império que ainda precisam ser descobertas. Portanto, este estudo serve como introdução e impulso aqueles que desejam empenhar-se em aprofundar-se no tema e contribuir para o conhecimento desta grande Civilização.

REFERÊNCIAS: BASSI, Rafael José. Esquecer os favoritismos e os ódios. Anna comnena e a historiografia bizantina (séculos XI-XII). Curitiba: UFPR, 2009. FRANCO JR, Hilário; ANDRADE FILHO, Ruy de Oliveira. Império Bizantino. São Paulo: Brasiliense, 1995. GIORDANI, Mário Curtis. História do Império Bizantino. Petrópolis: Vozes, 1968. RUNCIMAN, Steven. A Civilização Bizantina. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. SENKO, Elaine Cristina. Anna Comnena (1083-1153) e os Aspectos da Concepção Bizantina de História: o Diálogo com os Clássicos da Antiguidade. Londrina: Revista Semina, v. 11 – n°1, 2012.

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