A Educação de Jovens e Adultos no Programa Travessia em uma Escola Estadual de Caruaru/PE: Um estudo de caso

June 1, 2017 | Autor: Cleyton Feitosa | Categoria: Educação, Educação de Jovens e Adultos
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A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO PROGRAMA TRAVESSIA EM UMA ESCOLA ESTADUAL DE CARUARU-PE: UM ESTUDO DE CASO Cleyton Feitosa Pereira - UFPE1 Maria Joselma do Nascimento Franco - UFPE2

1. Introdução Como é amplamente sabido, a educação é fundamental para a constituição de um indivíduo que seja um cidadão, crítico e atuante de forma consciente na função que a cultura lhe atribui. Os artigos 205 e 206 da Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988 determinam: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V(...) VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII – garantia de padrão de qualidade.

Contudo, ocorrem casos variados em que o ser não se apropria da Educação/não teve condições para apropriação (pelas mais diversas razões: um aluno que desiste. Uma aluna que não tem condições financeiras para se deslocar até a instituição de ensino. A criança que deveria estar na escola e está trabalhando. O aluno que não se adequou às normas escolares. O professor que não soube trabalhar com o aluno e por causa disso o reprovou e que por isso o aluno se evadiu, o aluno que no momento tem outros interesses, outras necessidades) sendo lesado em uma formação eficaz e necessária, que iria resultar em cidadãos e profissionais bem sucedidos e satisfeitos com suas conquistas ao longo da vida, por isso, tendo em vista essa questão, a EJA (Educação de Jovens e Adultos) foi concebida: para pessoas que não cursaram o ensino regular na idade própria. Segundo a LEI N° 9.394/96 LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional): 1

Graduando do curso de Pedagogia pela Universidade Federal de Pernambuco/Centro Acadêmico do Agreste – UFPE/CAA 2 Professora do curso de Pedagogia da UFPE/CAA. Orientadora.

Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. §1°. Os sistemas de ensino assegurarão aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. §2°. O poder público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si.

1.2 Conhecendo o Programa Travessia Sendo assim, a Secretaria de Educação de Pernambuco através da Gerência Geral de Correção de Fluxo e Gerência de Normatização do Ensino implantou em 2007 o Programa Travessia. Trata-se de uma parceria entre o Estado e a Fundação Roberto Marinho com destino à aceleração de estudos, para estudantes com distorção idade-série de 02 (dois) anos ou mais, matriculados no 1° ano do Ensino Médio, em escolas estaduais em que as turmas estão sendo formadas. O programa utiliza a metodologia do Telecurso 2000 com o objetivo de um desempenho satisfatório da população participante. Em busca de propiciar melhores condições de trabalho, as salas não poderão ultrapassar um quantitativo de 35 (trinta e cinco) alunos por sala. Sua carga horária é de 1.600 h/a(um mil e seiscentas hora/aula). Sua matriz curricular atende aos princípios e diretrizes curriculares da Educação Nacional, trabalhando: -Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; -Ciências da Natureza; -Matemática e suas Tecnologias; -Ciências Humanas e suas Tecnologias, divididos em quatro módulos. Para efeito de aprovação, a frequência mínima do aluno é de 75% das 1.600 horas vivenciadas no curso. Suas turmas são compostas por dois professores: um na área de Humanas e outro na área de Exatas. Ainda para efeito de acompanhamento da qualidade do curso, há supervisores que apóiam pedagogicamente os professores, através de reuniões pedagógicas semanais e visitas sistemáticas às salas de aula. Estes deverão atender no máximo 10 turmas de acordo com a localização geográfica do entorno em que se encontram. Sua metodologia privilegia a contextualização, a leitura de imagens, o desenvolvimento das linguagens oral e escrita e o ato criador do educando, sendo a maioria das atividades realizadas em equipes, favorecendo os trabalhos investigativos, cooperativos e a integração do grupo. Também valoriza as potencialidades e as qualidades dos estudantes, possibilitando o desenvolvimento da autoestima, da autocrítica e da autoavaliação, concorrendo para que este tenha iniciativa e organização. E por fim, a avaliação do educando “Travessia” se dá a partir da socialização das aprendizagens construídas, se dando através de: -Avaliação diagnóstica, ocorrendo no início do módulo I; -Avaliação formativa, ocorrendo durante todo o processo de aprendizagem; -Construção do memorial ao longo do processo. A média para aprovação por componente é de no mínimo 6,0 (seis). Ao final, caso o aluno não consiga construir as competências exigidas poderá fazer novamente o curso Travessia, não sendo submetido à avaliação nos componentes curriculares já

concluídos com êxito. Todas as informações foram extraídas da legislação que fixa diretrizes e orienta procedimentos para o “Travessia” (Instrução Normativa N° 07/2008). 1.3 Suporte teórico Trabalhar com a Educação de Jovens e Adultos implica buscar embasamento teórico que dê sustentação de nossas reflexões e prévio conhecimento de sua essência, portanto, devido a esta necessidade fundamental trabalharemos com alguns conceitos teóricos, tendo Freire (2006 e 2008) e Alves (2003) como suporte a fim de compreendermos os processos trabalhados na Educação de Jovens e Adultos. Neste relato de experiência apresenta-se tal questão: qual o grau de satisfação da comunidade escolar envolvida com este programa? Diante desta problemática, temos como objetivos: analisar se o “Travessia” enquanto programa oferecido pelo governo do Estado é bem avaliado pelos sujeitos envolvidos (educandos, professores e gestor) da escola estudada, expor o grau de satisfação e/ou insatisfação de seu alunado em uma escola estadual de Caruaru/PE e, por fim, levantar dados junto à GRE – Caruaru (Gerência Regional de Educação de Caruaru, órgão da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco) o quantitativo de turmas formadas em 2008, 2009 e a previsão para 2010. A principal justificativa de realização deste trabalho está na relevância em analisar um programa educacional oferecido pelo governo à população. A hipótese que aparece com mais evidência para a questão apresentada é a atual preocupação que o Governo Federal e o Governo do Estado de Pernambuco estão tendo em formar pessoas e erradicar o analfabetismo, implantando programas de ressocialização e de correção de fluxo escolar através de programas de aceleração de estudos. 2. Metodologia Diante do tema exposto a pesquisa qualitativa do tipo etnográfico surgiu como metodologia primordial para a concretização deste trabalho. Segundo Gonsalves (2003, p.68) a pesquisa qualitativa “preocupa-se com a compreensão, com a interpretação do fenômeno, considerando o significado que os outros dão às suas práticas, o que impõe ao pesquisador uma abordagem hermenêutica”. Tal pesquisa se dá também através de estudo de caso. Gonsalves (p.67) diz que “essa característica privilegia um caso particular, uma unidade significativa, considerada suficiente para análise de um fenômeno”, André (1998, p. 31) ainda nos esclarece: Para que seja reconhecido como um estudo de caso etnográfico é preciso, antes de tudo, que preencha os requisitos da etnografia e, adicionalmente, que seja um sistema bem delimitado, isto é, uma unidade com limites bem definidos, tal como uma pessoa, um programa, uma instituição ou um grupo social. O caso pode ser escolhido porque é uma instância de uma classe ou porque é por si mesmo interessante. De qualquer maneira o estudo de caso enfatiza o conhecimento do particular. O interesse do pesquisador ao selecionar uma determinada unidade é compreendê-la como uma unidade. Isso não impede, no entanto, que ele esteja atento ao seu contexto e às suas inter-relações como um todo orgânico, e à sua dinâmica como um processo, uma unidade em ação.

Diante dos pressupostos apresentados, eis as técnicas utilizadas/realizadas: a) Registro fotográfico do espaço escolar; b) Análise documental: projeto político pedagógico e Legislação que fixa diretrizes e orienta procedimentos, ambos do “Travessia”; c) Diário de Campo que segundo Gerber et al (2007)3 trata-se de Um instrumento pedagógico que expressa uma das formas de avaliação do aluno no sentido de aferir suas habilidades: de descrever, relatar, refletir e propor. Também pode ser considerado uma fonte de informações que sistematizadas poderão originar material para construção de relatórios, TCCs, artigos, projetos, serviços.

A entrevista semiestruturada é entendida por Pádua (2008, p.70) como: (...) um conjunto de questões sobre o tema que está sendo estudado, mas permite, e até incentiva, que o entrevistado fale livremente sobre assuntos que vão surgindo como desdobramentos do tema principal.

Sendo esta dirigida aos alunos do curso “Travessia” e de um aluno já formado pelo curso. Questionário que também Pádua (2008, p.72) esclarece que “na sua elaboração é importante determinar quais são as questões mais relevantes a serem propostas, relacionando cada item à pesquisa que está sendo feita e à hipótese que se quer demonstrar/provar/verificar”. Este foi realizado com alunos e professores do “Travessia” e gestor da escola, sendo posteriormente colocados na grelha de dados. Estes: Devem ser esquematizados, sempre que possível, em alguma espécie de quadro sinótico, tanto para ser utilizado como instrumento de pesquisa, quanto para ser apresentado como um documento etnológico. (MALINOWSKI, 1986, p.39)

Análise de conteúdo. Franco (2008, p.16) explica-nos que a análise de conteúdo: Requer que as descobertas tenham relevância teórica. Uma informação puramente descritiva não relacionada a outros atributos ou às características do emissor é de pequeno valor. Um dado sobre o conteúdo de uma mensagem deve, necessariamente, estar relacionado, no mínimo a outro dado. O liame entre este tipo de relação deve ser representado por alguma forma de teoria. Assim, toda a análise de conteúdo implica comparações contextuais. Os tipos de comparações podem ser multivariadas. Mas, devem, obrigatoriamente, ser direcionados a partir da sensibilidade, da intencionalidade e da competência teórica do pesquisador.

3

http://www.servicosocial.ufsc.br/ferramentas/ferramentas/upload/arquivos/g/Roteiro_avaliacao_diario_2 007_1.doc. Acesso em: 02/11/2009

André (1998, p.61) também esclarece a análise de conteúdo ao dizer que é “esse movimento de vaivém da empiria para a teoria, e novamente para a empiria, que vai tornando possível a descoberta de novos conhecimentos”. Os sujeitos desta pesquisa são três alunos que estão cursando o “Travessia” (T1, T2 e T3), um aluno já formado (F1), Professores (P1 e P2) e Gestor (G1), totalizando sete sujeitos. Tendo sido realizado na Escola Professor Mariano (nome fictício) no município de Caruaru, Agreste de Pernambuco em Novembro de 2009. Na sala onde foram coletados os dados, as idades mínima e máxima dos alunos eram de 18 e 50 anos. 2.2 Descrição do espaço escolar A Escola Professor Mariano (nome fictício) está localizada no Bairro Vassoural, no município de Caruaru, região Agreste de Pernambuco. Sua localização é próxima do centro e da famosa Feira da Sulanca. Escola Estadual lotada na GRE-Caruaru, foi fundada em 1974. A escola funciona de segunda a sexta-feira nos três turnos (manhã, tarde e noite) e oferece Ensino Fundamental II (a partir do 8° ano) e Ensino Médio além do “Travessia”. O nível socioeconômico da comunidade é de classe média baixa, razão pela qual surpreende o fato de no horário de intervalo muitos rejeitarem a merenda de boa qualidade e preferirem a lanchonete, fora da instituição escolar, com opções de lanche nem sempre a baixo custo. No diário de campo registramos o zelo que têm os alunos pelo ambiente, cuidando da estrutura e objetos pertencentes a ela (cadeiras, mesa, lousa, etc.). No entanto a escola está sujeita à marginalidade, segundo o gestor já ocorreram casos de vandalismo (paredes com pintura prejudicada, portas arrombadas), tentativa de roubo do material da secretaria (computador, impressora), tentativas de assalto a alunos e utilização de drogas dentro da escola. Não há policial ou guarda para garantir a segurança, apenas um porteiro, idoso, que monitora a entrada e saída da comunidade escolar. Apesar desta constatação social os alunos são alegres, esforçados, hospitaleiros, gentis e esperançosos de construírem uma vida melhor para sua realidade social. Os funcionários trabalham de maneira dinâmica e intensa visando melhorias, manutenção, contribuição e construção de um ambiente agradável e de verdadeira qualidade de vida para todos que usufruem dele, participando desse esforço a merendeira, professores, pessoal da secretaria, gestores e pessoal de serviços gerais, entre outros (estando incluso trabalho voluntário e de infratores prestando serviço comunitário a fim de cumprimento de pena que lhes cabe). A estrutura física da Escola Professor Mariano é dada por 13 salas de aula, 1 biblioteca, 1 auditório, 1 espaço cênico, 1 cantina, 1 TV Escola, 1 laboratório de Inglês, outro de Francês, mais um de Biologia e Química, 1 secretaria, sala da gestão, sala dos professores, pátio, 2 banheiros masculino e feminino, sala de educador de apoio, 1 quadra poliesportiva e 1 sala de judô. 3. Análise e resultados parciais Com o propósito de responder as questões apresentadas para a realização do presente relato de experiência (analisar o grau de satisfação do alunado do “Travessia”) e chegar aos objetivos pretendidos (analisar se o “Travessia” enquanto programa oferecido é bem avaliado por professores e gestor da escola estudada e expor o grau de satisfação ou insatisfação de seu alunado) trabalhamos com 7 sujeitos ao todo. São eles: três alunos que cursam o “Travessia” (chamados de T1, T2 e T3), um aluno já formado pelo curso

(F1), os dois professores dessa turma (P1 e P2) e o gestor da escola onde o relato foi realizado (G1). De modo que todos tiveram suas identidades preservadas. A Educação de Jovens e Adultos enquanto módulo ressocializador e corretivo de uma lacuna educacional, presente nos interessados a cursá-la, deve oferecer uma metodologia e uma prática diferenciada levando em consideração que o ensino regular não se adequa integralmente às expectativas (sociais, empregatícias e formativas) desse tipo de alunado. Um exemplo mais claro: no ensino regular tem-se a preocupação com o desenvolvimento físico - cognitivo – afetivo entre outros, os temas são geralmente apropriados para aquela faixa etária comum ao ano em que o aluno se encontra matriculado. Já na EJA os interesses de desenvolvimentos são outros: a perca de timidez, o ganho de responsabilidades, a sociabilização, o diálogo com o mundo e a superação dos desafios deste mundo, além da preocupação de formar cidadãos cumpridores de seus deveres e detentores de seus direitos. Freire (2006) enumera práticas que devem ser aplicadas numa educação para adultos. São estas: um método ativo, dialógico, crítico e criticista. Deve-se modificar o conteúdo programático da educação e utilização de técnicas, como a de redução e a de codificação. A fim de analisar o porquê da procura pelo “Travessia”, perguntei aos alunos “o que o(a) levou a procurar o curso “Travessia”?” e pude observar que as motivações para cursar o “Travessia” eram similares entres os alunos que cursam e o já formado. Eis as respostas: T1-A necessidade de conseguir um emprego melhor e me sentir mais realizada. (Novembro, 2009) T2-A oportunidade de conseguir completar o meu segundo grau. (Novembro, 2009) T3-Para concluir o 2° grau e alcançar os meus objetivos. (Novembro, 2009) F1-A fim de obter diploma, um bom trabalho e para me sentir cidadão. (Novembro, 2009) Fica evidente nas respostas dos sujeitos a intenção de concluir o Ensino Médio a fim de conseguirem bons empregos e se sentirem atuantes na sociedade, denotando assim uma intenção de superação de desafios. Freire (2006, p.62) explica que o homem é um ser de relações e acrescenta: Há uma pluralidade nas relações do homem com o mundo, na medida em que o homem responde aos desafios deste mesmo mundo, na sua ampla variedade; na medida em que não se esgota num tipo padronizado de resposta. Pluralidade não só com relação aos diferentes desafios que lhe faz o ambiente, mas também com relação ao próprio desafio.

Esta fala de Paulo Freire se coaduna à resposta dos sujeitos quanto ao interesse de superação de desafios imposto pelo mundo e pela sociedade. Indagamos aos sujeitos que cursam o “Travessia” se estavam gostando do curso e pedi que destacassem atividades que mais lhes chamavam atenção, observemos o que disseram: T1-Sim. O que mais chama minha atenção são os trabalhos feitos em grupo.(Novembro, 2009) T2-Eu estou gostando muito, a atividade que eu mais gosto é o português. (Novembro, 2009) T3-O trabalho em grupo. Se eu tenho gostado do curso minha resposta é sim. (Novembro, 2009) Os depoimentos acima são essenciais para responder a questão inicialmente posta neste relato de experiência. Ficou claro a partir daí a satisfação com o curso oferecido

pelo governo do estado. Estas entrevistas preservam a fala exata do sujeito, uma vez que Freire (2006, p.73) contribui afirmando: As entrevistas revelam desejos, frustrações, desilusões, esperanças, desejos de participação e, frequentemente, certos momentos altamente estéticos da linguagem popular.

Outro momento interessante da entrevista foi na pergunta que tratava das expectativas sobre o futuro, na qual surgiram respostas com teor similar: T1-De ter novas oportunidades no mercado de trabalho. (Novembro, 2009) T2-Ter um futuro melhor pra mim e minha filhas. (Novembro, 2009) T3-Ficar por dentro das matérias e quem sabe conseguir um emprego. (Novembro, 2009) F1-Pretendo entrar na área pedagógica. Pretendo entrar na área pedagógica. Minha esposa trabalha na área e eu tenho grandes identificações com a Educação. (Novembro, 2009) Ainda neste tema “expectativas”, Alves (2003, p. 8 e 9) diz: Uma das missões da educação: formar um povo. Ou seja, ajudar pessoas a sonhar Sonhos comuns para que, juntas, possam construir. As escolas devem ser espaços onde alunos e professores sonham e compartilham seus Sonhos, porque sem Sonhos comuns não há povo, e não havendo um povo não se pode construir um país.

A perspectiva acima apresenta coerência com os sonhos possíveis de serem realizados, presentes nas falas dos sujeitos em questão, pois, a esperança se faz presente e os sonhos destas pessoas não são apenas pensamentos soltos e ilusórios. Os sonhos a partir dos esforços que cada um vem apresentando tornam-se mais próximos da realidade concreta do que desejam. Estar mais próximo do que deseja é resultado de uma prática pedagógica dialógica, na qual Freire (2006, p.68) aborda o diálogo, amparado por Jaspers, como: Uma relação horizontal A com B. Nasce de uma matriz crítica e gera criticidade (Jaspers). Nutre-se de amor, de humanidade, de esperança, de fé, de confiança. Por isso, somente o diálogo comunica. E quando os dois pólos do diálogo se ligam assim, com amor, com esperança, com fé no próximo, se fazem críticos na procura de algo e se produz uma relação de “empatia” entre ambos. Só ali há comunicação. “O diálogo é, portanto, o caminho indispensável”, diz Jaspers, “não somente nas questões vitais para nossa ordem, mas em todos os sentidos da nossa existência”.

Para uma análise mais precisa em relação à boa (ou não) avaliação do “Travessia” em relação aos alunos e ex-aluno, professores e gestor foi perguntado se achavam o programa péssimo, ruim, regular, bom ou ótimo e mais uma vez pudemos perceber o quanto é bem sucedido o programa: T1, T3, P1 e G1 responderam “Bom” e T2, P2 e F1 responderam “ótimo”, não existindo nenhuma avaliação negativa por parte dos sujeitos. Queria registrar um pequeno detalhe que nos chamou atenção: o sujeito P1 achou ótimo o “Travessia” em seu contexto (idealização, capacitação, metodologia, envolvimento dos órgãos, etc.), mas o fator REMUNERAÇÃO colocado na questão o

fez marcar a alternativa “bom”. Complementando a questão anterior pedi que os sujeitos dissessem em uma única palavra (um adjetivo ou locução adjetiva) o que achavam do referido programa e que logo após comentassem o porquê da resposta. Vamos a elas: T1-NECESSÁRIO. Concluir o segundo grau nos dias de hoje, realmente é uma necessidade. (Novembro, 2009) T2-EFICAZ. Porque nos dar a oportunidade de atualizar os nossos conhecimentos e nos deixar por dentro do ensino moderno. (Novembro, 2009) T3-NECESSÁRIO para você entrar no mercado de trabalho.(Novembro, 2009) F1 foi bastante categórico ao afirmar: F1-FUTURO. Porque te abre possibilidades. (Novembro, 2009) P1-Para o aluno que cursa o “Travessia”, pelos depoimentos deles é SATISFATÓRIO, COMPENSADOR, ATRATIVO, dá OPORTUNIDADE a pessoas que estava fora da sala de aula a mais de vinte anos. E para mim como mediadora, me realizei por completo, na vida profissional, sendo professora desse projeto. (Novembro, 2009) P2-É NECESSÁRIO a participação do aluno. ATRATIVO no contexto total. PARTICIPAÇÃO total do aluno. (Novembro, 2009) G1-ATRATIVO. É uma forma de conquistar o aluno motivando-o a terminar, pelo menos, o Ensino Médio. (Novembro, 2009) Verifica-se em maioria palavras como NECESSIDADE, FUTURO (possibilidades) e ATRATIVO fazendo-nos crer que a máxima do senso comum “unir o útil ao agradável” prevalece no “Travessia”. Voltando-se para o aluno formado, perguntei quais foram as principais contribuições do “Travessia” para a vida dele. Prontamente ele disse: F1-Foi muito bom para arranjar emprego, melhorar perspectivas dentro da empresa e sociabilizar. Perdi a timidez. (Novembro, 2009) Haja vista que a metodologia do “Travessia” contempla apresentação das produções para a turma é natural que se perca a timidez, geralmente adquirida na infância, no ensino regular, em que os alunos estão constantemente sujeitos ao fenômeno bullyng. Voltando para os professores, questionei-os acerca das atividades, características do alunado e sobre seu poder de análise perante o curso. A 1ª pergunta do questionário era “Que tipo de atividades você realiza nas aulas e qual você percebe uma maior participação dos alunos?”: P1-Várias. Na leitura de imagem, nos debates, na construção das produções, nas apresentações dos grupos. (Novembro, 2009) P2-Atividade em grupo. Há uma integração maior e mais participativa do aluno. (Novembro, 2009) A 2ª, voltada para as características do alunado, questionava: “O aluno é comprometido com o curso? Comente.” As respostas: P1-Sim, são participativos, interagem, vivenciam as atividades propostas e a metodologia é sempre vivenciada na produção e construção das atividades. (Novembro, 2009) P2-Sim. São informados principalmente do compromisso com a freqüência. (Novembro, 2009) A 3ª questão, de caráter mais complexo por provocar o poder analítico do professor, dizia: “Você enquanto mediador (a) da metodologia que o “Travessia” contempla, percebe o desenvolvimento deste alunado? Que tipo de desenvolvimento?” Elas destacaram a interação e apreensão de conhecimentos como pontos fortes. Vejamos: P1-Sim. Vão perdendo a timidez, a vergonha de se comunicar com o público, além do ensino-aprendizagem que vão conseguindo no dia-a-dia. (Novembro, 2009)

P2-Sim. Principalmente a integração dele com o grande grupo e com a sociedade. (Novembro, 2009) Também solicitamos ao gestor respostas referentes ao “Travessia” numa visão administrativa e pessoal, contemplando um esquema tríade: contribuição da escola para o curso/características do alunado/contribuição do curso para a escola. Ei-las: 1ª eixo contribuição da escola para o curso G1-Adaptando o espaço físico das salas para que possa ser desenvolvido um trabalho de qualidade. (Novembro, 2009) 2ª eixo satisfação/insatisfação com os alunos e suas características. G1-Muito satisfeito! São alunos que realmente desenvolvem um trabalho junto aos professores com dinamismo e participação. (Novembro, 2009) 3° eixo contribuições do curso para a escola G1-Aumentou a procura, além da motivação dos professores e construção de projetos. (Novembro, 2009) Já na coleta de dados percebi uma coerência harmônica entre as respostas, o projeto político pedagógico, a legislação e as falas dos demais funcionários (onde estes disseram que os alunos do “Travessia” são exemplares e que “não dão trabalho à escola”) e, por fim, o levantamento de dados de turmas já formadas e a serem formadas que foram obtidas na GRE-Caruaru com a coordenadora do “Travessia”. Segundo a coordenadora: Em 2008 foram formadas 65 turmas. Em 2009 já se formaram 43 e até o final do ano mais 17 deveriam se formar. Em 2010 há uma previsão de 64 turmas serem formadas com expectativas de aumentar esse número. Os dados acima, explicitados pelos sujeitos, têm coerência com Freire (2008, p. 24), ao afirmar que Quando vivemos a autenticidade exigida pela prática de ensinaraprender participamos de uma experiência total, diretiva, política, ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética, em que a boniteza deve achar-se de mãos dadas com a decência e com a seriedade.

A reflexão acima, é pertinente ao “Travessia” porque pudemos constatar que nele há essa autenticidade apontada por Paulo Freire e que é essencial na Educação de Jovens e Adultos, pois, seus usuários são seres que almejam a superação de desafios e que buscam a formação para sentirem-se cidadãos e contribuintes na construção de uma nação desenvolvida e digna em todos os seus aspectos, afinal, é através da educação que uma nação pode se desenvolver proficuamente. 4. Considerações Finais É perceptível, através dos estudos realizados, que o “Travessia” é um programa, através da presente amostragem, que atende às expectativas educacionais a que se propõe. Os corpos discente e docente elogiam e reconhecem o caráter formativo, ressocializador e crítico presente no contexto geral do Programa. Ficou exposto neste relato de experiência com procedimentos de pesquisa que o “Travessia” é bem avaliado pelos alunos que dele participam, gerando assim, motivação para persistir na superação de desafios que eles vivenciam. A prática dialógica e crítica são uma constante no desenvolvimento do programa e essa práxis é um dos motivos que aponta para o nível de satisfação dos alunos.

A amostra em estudo aponta que estes educandos não pretendem parar suas atividades estudantis/profissionais após o término do Programa, dando assim sentido e coerência ao nome que o identifica: “Travessia”. Travessia e à figura simbólica que se trata de um pássaro em forma de xilogravura, pois, metaforicamente falando, os educandos têm o desejo de prosseguir no trajeto de sonhos, esperanças e conquistas, tendo o curso como uma ponte, uma travessia que os levará ao que almejam. Consideramos também a confirmação da hipótese apresentada anteriormente, uma vez que a existência deste programa só foi possível através de políticas públicas educacionais atuantes e concretas dos governos Federal e Estadual, afinal, quando o programa deixa de ser planejamento para ser realidade na vida das pessoas, acarreta em melhorias e conseqüências positivas para a população estudada. Isso denota a importância do Estado reparar os danos sociais visando o desenvolvimento dos cidadãos. Quero concluir o presente relato, explicitando a contribuição que o “Travessia” vem oferecendo para os sujeitos que, a eles foi negada na idade própria, algo que é de fundamental importância em suas vidas, a educação escolarizada, uma dívida social para com esta população, que através do “Travessia” o Estado só agora consegue reparar. Referências BRASIL 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Senado, Brasília, DF. BRASIL, Ministério da Educação. Lei 9.394, de Dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. GONSALVES, Elisa Pereira. Conversas sobre iniciação à pesquisa científica. Campinas, SP: Alínea, 3ª Edição. 2003; ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Alonso de. Etnografia da prática escolar. Campinas, SP: Papirus, 2ª Edição. 1998; GERBER, Luiza Maria Lorenzini; SARMENTO, Rosana Sousa de Moraes; ANSCHAU, Queli Flach; EHLERS, Carla Janaína Abrão. Assunto: Diário de Campo. Acesso em: 02/11/2009; MALINOWSKI, Bronislau. Introdução: o assunto, o método e o objetivo desta investigação. In: DURHAM, Eunice Ribeiro (Org.). Antropologia. SP: Ática. 1986; PÁDUA, Elisabete Matallo Marchesini de. Metodologia da pesquisa: abordagem teórico-prática. Campinas, SP: Papirus, 14ª Edição. 2008; FRANCO, Maria Laura Publisi Barbosa. Análise de conteúdo. Brasília, DF: Líber Livro, 3ª Edição. 2008; ALVES, Rubem. Conversas sobre educação. Campinas, SP: Verus. 2003;

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo, SP: Paz e Terra, 37ª Edição. 2008; _______, Paulo. Educação e mudança. São Paulo, SP: Paz e terra, 29ª Edição. 2006.

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