A educacao num mundo mediado pelas tecnologias digitais

June 4, 2017 | Autor: Lilian Starobinas | Categoria: Education, Educational Technology
Share Embed


Descrição do Produto

A educação num mundo mediado pelas tecnologias digitais: potenciais e desafios Lilian Starobinas Completam-se em 2015 as duas primeiras décadas de vida da internet comercial no Brasil. Vinte anos nos quais a internet deixou de estar restrita às redes universitárias e a poucos órgãos de governo, passando a permear cada vez mais intensamente a vida social, seja por uso consciente e explícito de computadores, programas e conexão, seja pela teia menos óbvia de redes digitais que se entretecem em nosso dia a dia, nas câmeras que estão nos ambientes, no GPS do celular, no chip do cartão de transporte. Nesse período, cultura digital deixou de ser conversa de nerd e passou a ser uma prática social cada vez mais naturalizada. Mescla-se com as mais diferentes áreas das artes, da comunicação, da economia, da ciência, da gestão da vida pessoal e da administração pública, para citar apenas alguns exemplos. Grandes expectativas foram geradas sobre as contribuições que transformações sociotécnicas podem aportar para a educação. Outros momentos da História marcados pelo desenvolvimento de novos suportes materiais para registro, expressão e divulgação do conhecimento trouxeram também temores e promessas, como no caso da difusão da escrita, da imprensa, do rádio, do cinema e da televisão. Cada um a sua forma encontrou formas de absorção nos processos educacionais, sejam eles em ambientes formais ou em vivências culturais do cotidiano. Passados vinte anos, ficou claro que o mesmo ocorrerá com as tecnologias digitais: não é sua presença pura e simples, e sim a forma de sua utilização, que definirá os ganhos de aprendizagem por elas proporcionados. No Brasil, a pesquisa do CETIC aponta que em 2013, 95% dos jovens entre 10 e 17 anos já fizeram uso da internet, e 40% deles utilizaram a internet na escola. É preciso reconhecer que temos um quadro bastante desigual no país, dadas as limitações da infra-estrutura tecnológica, a lenta implementação do acesso à banda-larga e as idas e vindas das políticas públicas relativas à formação de professores e aos projetos de garantia de acesso à internet nas escolas. Se podemos, assim, reconhecer uma sociedade em que o acesso à Rede já se popularizou entre os jovens, precisamos também compreender que há desafios variados no que diz respeito à compreensão da natureza destes recursos, das aprendizagens que eles demandam para tornar efetivo seu potencial, dos parâmetros éticos que precisam ser delineados e do sentido social que essas tecnologias podem exercer. As reflexões que se seguem se propõem, desta forma, a promover um olhar mais pausado para essas dimensões, por considerá-las fundantes de qualquer projeto consistente do uso de tecnologias digitais na educação. Trata-se de poder ir além dos interesses de mercado e da mimetização dos recursos já conhecidos – o livro didático, o cadernos digital – para vislumbrar oportunidades de uso genuíno do potencial dessas ferramentas para oportunidades de protagonismo, criação de redes, aprofundamento e pensamento crítico nas práticas educacionais que promovemos em nossas escolas.

Mudanças inerentes à cultura digital O diagrama abaixo nos auxilia a observar quatro características que estão no cerne das transformações presentes no fazer da cultura digital. O desenvolvimento de aparatos como chips de memória, códigos de programação e redes de conexão capazes de promover a troca de pacotes de dados bastante amplos, de forma otimizada, constituem a base sobre a qual esses pilares puderam ser construídos.

Digitalização A perspectiva de digitalização de produtos culturais previamente existentes em outros suportes (o papel, o vinil, os negativos de todo tipo), facilitando a produção de vastos bancos de dados passíveis de serem indexados e colocados à disposição de pesquisadores e estudantes representa uma ampliação sem precedentes do acesso à informação. Seja por meio de projetos institucionais (bibliotecas digitais, arquivos nacionais, órgãos da administração pública, museus) ou por iniciativa individual (reprodução e circulação de acervos familiares), essa ampla oferta de dados tem um enorme potencial de uso em projetos educacionais. Nesse contexto de abundância, torna-se necessária uma ação de curadoria de fontes, para qual é preciso um exercício continuo de desenvolvimento de critérios de seleção e descarte, que não constituem ações triviais, e que devem ser trabalhadas ao longo da formação escolar. A curadoria da informação é uma ação que une o uso de mecanismos de busca, filtros pessoais, agenciamento da informação e uso das plataformas para a divulgação desses links. Constitui, portanto, uma atividade que agrega o olhar humano à seleção promovida pela mediação automatizada, e enriquece essa seleção com referendos dos demais usuários das plataformas.

No espaço escolar, cabe aos professores agregar a crítica de fontes da internet às habilidades a serem desenvolvidas pelos alunos. As inúmeras situações em que a atividade de pesquisa integra-se aos projetos de trabalho em sala de aula são também oportunidades para o trabalho de avaliação das fontes utilizadas, pelo próprio professor ou pelos colegas . O uso de fontes variadas, num processo de crítica possa auxiliar na validação desses materiais, também oferecem boas oportunidades para esse debate em sala. Memória Toda esse armazenamento e circulação de acervo digitalizado estão associados a um referencial técnico que materializa um acesso à memória numa condição nova. A memória digital – entendida em sua natureza de suporte tecnológico – é cada vez mais vasta, multiplicando sua capacidade de armazenagem de bytes em dispositivos cada vez menores. A própria concepção de “nuvens de dados” vem superando a necessidade de dispositivos – para quem não teme o desaparecimento de seus dados – em plataformas de depósito, como Dropbox, Google Drive e afins. A facilidade de acesso aos materiais digitais é outra característica definidora desses recursos. Trata-se não só da facilidade de armazenagem, mas da capacidade de pesquisa e acesso a esses arquivos de maneira simplificada. Isso diz respeito igualmente ao acervo reunido na produção pessoal, facilitando a criação de portfólios autorais que permitem um olhar para a produção de cada aluno ao longo de sua evolução escolar. Ser “pesquisável” é outro dos atributos interessantes do texto digital. Encontrar rapidamente um texto próprio dando busca entre os arquivos por termos definidos, ou mesmo um trecho específico de um texto mais longo, utilizando apenas comandos simples, otimiza a possibilidade de revisitar a própria produção ou checar do qual precisamos de confirmação. A memória digital caracteriza-se também por sua perenidade. Estamos nos referindo aqui ao fato de que o digital deixa rastros. São as mensagens que enviamos por escrito – seja por email, SMS, what’s up, as fotos que compartilhamos, os logs que geramos quando entramos em algum ambiente virtual que nos pede login e senha. A perenidade dos registros nos traz um acesso a um espaço de memória extremamente rico sobre os diferentes momentos da vida. Por outro lado, registros publicados por má fé ou mesmo inocentemente podem trazer situações delicadas, revelando momentos ou facetas da vida que podem gerar ruídos. O diálogo sobre o sentido do publicar, a escolha de textos, fotos e vídeos, deve procurar desnaturalizar o impulso automático de publicação, para consolidar processos reflexivos que dêem conta dos propósitos, da adequação e da responsabilidade dessas decisões. Rede A cultura digital é marcada por sua permanente conexão, e essa ocorre em rede, ligando por caminhos variados as pessoas, por meio de seus equipamentos, servidores, e uma infra-estrutura de transmissão de dados cada vez mais ampla e potente.

As trocas na rede trazem modelos de comunicação diferentes em relação às mídias tradicionais, e inauguram novas práticas. A hierarquia na comunicação – um fala, os demais esperam sua vez – não está dada a priori, e muitas vezes não é possível de se obter. Há uma relação multipolar, isso é, são muitas as combinações possíveis dos coletivos de comunicação: de um para um, de um para muitos, de muitos para muitos. Diferentemente das conversas ao vivo e de nossa circulação no espaço físico, as relações mediadas pelo digital deixam registros, e na maior parte das situações, registros que não se apagam. Isso nos permite olhar materialmente para algumas interações, o que pode nos ajudar a entender alguns processos de evolução dos projetos, de maturação do pensamento e mesmo de negociação de grupos e comunidades. Mas também pode trazer situações delicadas. Uma delas está relacionada às diferenças entre a comunicação oral e a comunicação escrita. O diálogo por escrito demanda uma apropriação cuidadosa desse formato de comunicação. Elementos da fala, como entonação, usos de expressões faciais, gesticulação, não estão presentes na comunicação escrita. Por isso a possibilidade de alguém parecer mais agressivo do que supunha ou a possibilidade de uma ironia não ser compreendida é muito maior. O tempo envolvido no ritmo dessas conversas também tem outro funcionamento, a ser apropriado. Fóruns de discussão, blogs, as redes sociais em geral, geram conversas com um fluxo de emissão de mensagens que nem sempre todos lêem, e que temos menos capacidade de prever quando surgirão novas respostas. Assim, há uma aprendizagem relacionada a esse tipo de interação, um exercício de escuta e de espera para poder se posicionar com clareza, uma observação que nos ajuda a pensar de que forma queremos fazer parte daquele diálogo, uma vez que esses registros perenes constroem nossa presença nas relações mediadas pelo digital. Aprender a colocar-se nessa comunicação assíncrona – em que as pessoas se colocam em tempos diferentes, e na comunicação síncrona – que cria expectativa de respostas imediatas – é fundamental. Produção Um dos grandes ganhos da Cultura Digital é relacionado à popularização dos equipamentos que barateiam e simplificam tremendamente os custos de produção. O acesso à computadores e programas que pemitem que as pessoas escrevam, apaguem, alterem os formatos, trabalhem imagens, editem filmes, preparem áudios, representou uma das mais poderosas alterações nas estruturas de produção e circulação de conteúdos. Outra característica essencial é a simplicidade de reprodução do material digital, o que traz facilidades do ponto de vista logístico e economia de recursos investidos em cópias e impressão. A incorporação de câmeras de fotográficas de alta qualidade, capazes também de produzirem vídeos e gravadores em Smartfones e Tablets tornou extremamente simples a produção multimídia. A veiculação também já está popularizada, se tomarmos em conta que plataformas de compartilhamento como o Youtube, por exemplo, abriu espaço para isso desde 2005.

A produção digital também abre portas para que o usuário torne-se também um criador, inclusive de aplicativos. Seja pelo estímulo à aprendizagem de código, seja pela oferta de programas e plataformas voltadas à criação simplificada de comunidades, blogs e mesmo aplicativos para Smartfones, o que se vê é uma produção cultural que toma por pressuposto o desejo dos usuários de se tornarem também autores. Essa é uma peça chave para a conexão com projetos educacionais, já que torna-se um potencial espaço de desenvolvimento e/ou divulgação do conhecimento produzido em projetos escolares. Educação e as aprendizagens mediadas pelo digital A presença de celulares e Ipads na mão de crianças e pré-adolescentes não constituem, sem si, uma mostra de domínio eficiente desses equipamentos nem tampouco do preparo para uso em situações formais de produção de conhecimento. O uso desses recursos em situação escolar demanda um processo de reflexão e planejamento por parte dos professores, para que as ferramentas e conteúdos coloquem-se a serviço dos objetivos educacionais pretendidos, e não o inverso. Se os adultos usam, com naturalidade, o acesso a internet no celular para tirar dúvidas sobre temas específicos, a perspectiva de que alunos possam fazer o mesmo na sala de aula tem sido pequena, demandando negociação prévia e o estabelecimento de relações de confiança que estejam na base dessa liberdade. Entretanto, a conversa sobre a presença e uso de celulares em sala de aula pode ser tornar um caminho mais construtivo para lidar com essa tendência do que a simples proibição. A concentração e o foco no trabalho é um dos desafios enfrentados em nossa sociedade hoje, já que a variedade de estímulos é uma das características dessa época, e o chamado “multi-task”, a ocupação simultânea, uma prática constante. Esse é, talvez, um dos maiores desafios do modelo escolar: o de pensar os caminhos para atingir seus objetivos e estruturar suas práticas reorganizando os tradicionais espaços e tempos escolares. O desejo de engajamento dos alunos de forma menos passiva nos processos de aprendizagem demanda esse revisitar do formato escolar. Nessa era de abundância de informação, o tema principal da escola é o processo de construção de conhecimento. Nesse sentido, a mediação da proposta pedagógica e da atuação dos professores passa por auxiliar os alunos a aprenderem a perguntar, e tendo formulado bem suas questões, tornem-se capazes de buscar elementos para construir respostas possíveis para essas indagações. É preciso dar espaço no debate escolar para a incerteza e para a contradição, para um repertório mais amplo de tentativas, olhares e caminhos, num exercício constante que criará condições para que os jovens desenvolvam autonomia nesses processos. O desenvolvimento de programas e aplicativos dos mais diversos, com fins educacionais ou não, vem permitindo novas abordagens e olhares mais concretos a temas que poderiam parecer bastante distante do universo dos alunos. Essa tendência aponta para a ampliação das situações de aprendizagem que dão vazão a uma experiência mais concreta, de definição dos temas de investigação, levantamento de hipóteses, pesquisa, construção de modelos ou dos aparatos técnicos necessários a aferição das hipóteses, e validação das

conclusões. Nesses processos, o domínio de linguagem de programação e o uso de hadware abertos, como o arduíno, tem se mostrado eficientes. Conclusões de relatórios como o Panorama Tecnológico para o Ensino Fundamental e Médio Brasileiro – Horizon Report, publicado em 2012, mostram a mobilidade do acesso como um dos aspectos que ganharão importância nas dinâmicas de trabalho. A adoção de ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), espaços de interação entre professores e aluno, com uma série de funcionalidades (espaço para fóruns, disponiblização de arquivos, exercícios de múltipla escolha, ferramentas wiki para produção colaborativa), já vem se consolidando nos últimos dez anos. Os usos do AVA, entretanto, precisam procurar caminhos para realmente acrescentar estratégias de abordagem que contribuam para o diferencial do trabalho. Há experiências nesse sentido, que proporcionam a preparação dos alunos para um trabalho de debate em sala, levantamento dos conhecimentos prévios sobre temas de estudo, compartilhamento de experiências diferenciadas nos espaços de colaboração. Há muitas questões que se colocam quando o tema é a avaliação das aprendizagens mediadas pelo uso de recursos digitais. Há quem defenda que o uso de plataformas digitais para avaliações podem auxiliar no chamado “Ensino Adaptativo”, isso é, na compreensão das fragilidades apresentadas por cada estudante e na formulação de desafios específicos para eles. Essa abordagem, entretanto, precisa ser construída cuidadosamente pelas equipes docentes, para que exista coerência entre as práticas pedagógicas vivenciadas pelos alunos e as expectativas de avaliação que eles irão enfrentar. A intenção é que as tecnologias digitais possam ser de ajuda no suporte a diagnósticos e identificação de potenciais a serem melhor trabalhados. Ela deve, portanto, estar a serviço do estímulo à aprendizagem, e nunca servindo para reforçar situações de exclusão e criação de estereótipos nas instituições educacionais. Parâmetros Éticos – que pessoas estamos formando? A mediação tecnológica traz em si questões relevantes a serem cuidadas do ponto de vista ético. Cada vez mais torna-se perceptível que as relações que envolvem alunos, professores, a instituição escolar e as famílias, não podem ser compreendidas como apartadas entre si. A construção dos laços de confiança entre a instituição, os educadores, os alunos e as famílias, constituem um caminho importante para a estruturação de espaços de diálogo apropriados, que garantam privacidade, zelo e respeito para todos. Esse grau de maturidade não é simples de se obter, por motivos variados. O investimento nessa consciência é parte do trabalho educacional, e deve contemplar todos os envolvidos. A ética está presente também na forma como ensinamos nossos alunos a interagirem nas Redes Sociais. Isso inclui a sociabilidade básica entre os jovens, e a clareza que as dimensões do assédio abusivo (bullying) assumem proporções gigantescas quando os educadores e as famílias não tomam para si acompanhar o que se passa entre as crianças e jovens. É preciso que a mediação dos adultos ajude a trazer entendimento das situações criadas, para que elas possam ser cuidadas e contidas. Outro aspecto que merece consideração é o exercício do debate público em Rede Social, uma vez que a vivência contemporânea tem consolidado esses espaços como territórios pouco civilizados de diálogo. Os aspectos éticos têm a ver com o compromisso com a

argumentação qualificada, com o respeito ao posicionamento do outro, com a checagem das informações antes de difundi-las, com a administração dos tempos de fala e as estratégias de identificação da natureza do debate. A situação de fraude escolar é com muita freqüência apontada como um problema recorrente, seja na elaboração de trabalhos extra-sala seja nas tentativas de comunicação ou consulta durante exames. É necessário que o processo de reflexão que critique essas práticas esteja inserido nas conversas na escola desde muito cedo. Os formatos dos projetos de trabalho também precisam ser pensados de forma a não dar espaço ao plágio ou ao mosaico de trechos sem qualquer reflexão. A questão da privacidade igualmente perpassa o ambiente escolar, em diferentes dimensões. O debate sobre a presença ou não de câmeras de vigilância nas salas de aula e outros espaços das escolas é acirrado, e a possibilidade de manter espaços sem câmeras é uma conquista cotidiana na manutenção de ambientes de confiança e intimidade. A publicação compulsiva de fotos é vídeos é um tema obrigatório para reflexão na escola, dada a dificuldade de reversão dessas publicações e os danos que elas podem gerar, qualquer que seja o afetado. As próprias fotos do trabalho desenvolvido na escola devem ser objeto de uma política editorial cuidadosa dos professores e das instituições, uma vez que demandariam autorização dos responsáveis para publicação. A apropriação das tecnologias digitais pela educação como forma de empoderamento social Levar às escolas do Brasil acesso de qualidade à banda larga, garantindo aos jovens infraestrutura para pesquisa, estudo e desenvolvimento de projetos, é um desafio de grande porte, que demanda vontade política e compromisso de continuidade com políticas públicas de formação de professores e suporte técnico e pedagógico às escolas. Os custos de investimento são importantes, seja nas instituições públicas quanto nas privadas. As perspectivas de avanço dependem de uma somatória de fatores, que envolvem capacidade e permanente zelo da infraestrutura de acesso à internet, quantidade e perfil dos equipamentos disponíveis, o desenho de um projeto coletivo que vislumbre todos os sujeitos da comunidade escolar, formação de professores, funcionários e alunos, diálogo com as famílias, suporte pedagógico para a concepção, execução e finalização de propostas de incorporação das tecnologias digitais, seja em rotinas de trabalho diário, seja em projetos temáticos circunscritos. A política de renovação do parque de equipamentos precisa ter como horizonte um trabalho que inclua a preocupação com o lixo eletrônico que é fruto desse processo. Olhar para esse tema com os próprios alunos e transformar a questão dos usos possíveis e a reflexão sobre os limites do descarte um tema de estudo, é o caminho mais educativo que poderíamos pensar. Tradicionalmente, as empresas produtoras de hardware e software têm sido muito presentes nas ações voltadas à disseminação de tecnologias digitais na educação. Essa aproximação, natural, ocorre de formas variadas, em processos que oscilam entre a apresentação de soluções fechadas e propostas que apontam para um desejo de compreender

o etos escolar e respeitar a autonomia da instituição em suas opções pedagógicas e educacionais. As editoras e grupos de mídia também vêm desenvolvendo projetos que buscam garantir a oferta de conteúdos relacionados aos currículos escolares, atendendo inclusive a diretrizes inseridas no PNLD (Programa Nacional do Livro Didático), que já há duas edições incluiu os produtos digitais como parte dos itens a constar nas coleções. O processo de adoção desses materiais, entretanto, ainda é tímido, dada às hesitações das propostas pedagógicas em experimentar essa modalidade de recurso, seja pelo pouco trato dos professores com esses materiais, seja pela proporção reduzida de estudantes que já possuem seu próprio equipamento. Nesse cenário, avança também a discussão que enxerga na produção e uso de Recursos Educacionais Abertos uma alternativa rica, uma vez que inclui professores e alunos na condição de sujeitos da criação de conhecimento. As perspectivas de produzir e trocar conteúdos, adotando licenças de direitos autorais menos restritivas, pode representar um ganho importante no que diz respeito à adequação dos conteúdos aos temas regionais, a ampliação do repertório de atividades disponíveis, à criação de uma cultura de publicação qualificada pelos sujeitos da produção escolar. Talvez esteja nessa perspectiva, a do reforço da autoria de alunos e professores, um dos potenciais mais singulares de inovação do trabalho educacional. Pensar a escola como um espaço gerador de olhares e trocas com os demais espaços da sociedade, e colocar a capacidade de observação, análise, compreensão, proposição e criação dos jovens e dos profissionais da educação a serviço do coletivo. As tecnologias digitais, nesse contexto, podem otimizar e enriquecer a prática educacional, colocando-se como ferramentas de suporte a um projeto que vai além delas mesmas. A apropriação das tecnologias digitais nos espaços educacionais estaria, assim, contribuindo igualmente para a formação das crianças e jovens digitalmente incluídos, como também para o aperfeiçoamento das práticas sociais em âmbito extra-escolar.

Publicado em Cadernos Conib, número 3, 10/11/2105 Disponível em:

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.