A efemeridade da comunicação nas redes sociais: um estudo sobre o uso jornalístico do Snapchat

June 14, 2017 | Autor: Gabriela Cavalheiro | Categoria: Jornalismo, Redes Sociais, Jornalismo Online, snapchat
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

GABRIELA SILVA CAVALHEIRO DOS SANTOS

A EFEMERIDADE DA COMUNICAÇÃO NAS REDES SOCIAIS: UM ESTUDO SOBRE O USO JORNALÍSTICO DO SNAPCHAT

PORTO ALEGRE 2015

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GABRIELA SILVA CAVALHEIRO DOS SANTOS

A EFEMERIDADE DA COMUNICAÇÃO NAS REDES SOCIAIS: UM ESTUDO SOBRE O USO JORNALÍSTICO DO SNAPCHAT

Trabalho de Conclusão de Curso de graduação apresentado à Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Jornalismo.

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Pellanda

PORTO ALEGRE 2015

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GABRIELA SILVA CAVALHEIRO DOS SANTOS

A EFEMERIDADE DA COMUNICAÇÃO NAS REDES SOCIAIS: UM ESTUDO SOBRE O USO JORNALÍSTICO DO SNAPCHAT

Trabalho de Conclusão de Curso de graduação apresentado à Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Jornalismo.

Aprovada em _____ de ___________________ de ________.

BANCA EXAMINADORA:

__________________________________ Prof. Dr. Eduardo Pellanda – Orientador

__________________________________ Profª. Me. Ana Cecília Bisso Nunes

__________________________________ Prof. Dr. Marcelo Ruschel Träsel

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, Zaira e Wanderlei, por todo apoio e incentivo recebido durante toda a minha vida, por todo o suporte durante momentos bons e ruins, e, principalmente, por aceitarem todas as minhas loucuras a respeito de faculdade, carreira, viagens e motivações. Agradeço ao meu orientador Eduardo Campos Pellanda, pela confiança em mim depositada, e aos professores Tércio Saccol, Flávia Campos de Quadros e Fábio Canatta pelas conversas esclarecedoras em sala de aula. Obrigada, também, aos meus colegas do curso de jornalismo que tornaram estes anos de faculdade mais leves, divertidos e com muitas histórias a serem contadas. Um agradecimento em especial ao Bruno Ibaldo e Bruna Reis pelas discussões durante madrugadas em claro que contribuíram no resultado deste trabalho, e à Renata Fernandes, por todas as caronas e a parceria. À Natasha, Carina e Cris, pelos longos anos de amizade e por contribuir com muitos snaps diários. Ao meu namorado, Leonardo, pelo companheirismo e pelas ideias sobre o meu texto. Por último, mas não menos importante, agradeço aos os meus colegas de voluntariado na AIESEC em Porto Alegre por manter vivo o meu espírito utópico. Como disse Andy Warhol: “the idea is not to live forever, but create something that will”.

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By being quick, the temporary photograph is a tiny protest against time. Nathan Jungerson

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RESUMO

O presente trabalho se propõe a examinar o conteúdo jornalístico presente em redes sociais de conteúdo temporário, a partir da análise das notícias publicadas durante o período de três dias pela emissora de televisão CNN em seu canal na plataforma Discover do aplicativo Snapchat. Por conta da crescente popularidade deste app, torna-se necessária a compreensão desta nova mídia e as possibilidades que ela oferece para a comunicação. Partindo das teorias sobre o conceito histórico do jornalismo online baseadas em Pinho (2003), sobre redes sociais sob a obra de Recuero (2009a, 2009b, 2012) e jornalismo para dispositivos móveis de Mielniczuk (2013) e Pellanda (2005), é traçado o contexto que levou ao desenvolvimento do Snapchat. Tendo em vista o perfil diferenciado desta ferramenta inovadora, apresentase uma descrição das suas potencialidades e dinâmicas de uso, utilizando os conceitos de Jungerson (2011, 2013a, 2013b, 2013c, 2014). Percebeu-se que o conteúdo publicado no Discover é mais resumido e multimidático, com a intenção de informar o usuário de forma prática, além de ser semelhante ao conteúdo publicado no aplicativo de notícias da emissora.

Palavras-chave: Comunicação Social. Jornalismo. Snapchat. Discover. Redes sociais. Conteúdo efêmero. CNN.

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ABSTRACT

The given research aims to examine the journalistic content present in temporary social networks, based on the analysis of the news published by CNN television station in its Snapchat's Discover channel during a three-day period. Starting from the theories that discuss the historical concept of online journalism based in Pinho (2003), social networks additions made by Recuero (2009a, 200b, 2012), and the usage of mobile devices according mainly to Mielniczuk (2013) and Pellanda (2005), this study draws the background that has led to the development of Snapchat. Given the aspects of this innovative app, we present a description of its potential and usage dynamics through analysis brought by Jungerson (2011, 2013a, 2013b, 2013c, 2014). During this analysis, it was noticed that the content published on the Discover tool is more concise and multimedia, intended to inform the user in a practical way, and is similar to the content posted on CNN's news app.

Keywords: Social Communications. Journalism. Snapchat. Discover. Social media. Ephemeral content. CNN.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Montagem com a interface inicial do aplicativo...........................................27 Figura 2 – Montagem com as telas de cadastro de um novo usuário...........................28 Figura 3 – Snapcode e tela que leva a ajustes e aos contatos.....................................29 Figura 4 – Montagem com as telas de adicionamento de contatos..............................30 Figura 5 – Tela de explicação sobre os Emojis de Amigos..........................................31 Figura 6 – Telas de Troféus e de Configurações.........................................................31 Figura 7 – Tela de produção de imagem ou vídeo.......................................................33 Figura 8 – Montagem com as telas de snaps enviados por contatos e de histórias dos contatos......................................................................................................................33 Figura 9 – Tela de edição de uma fotografia................................................................35 Figura 10 – tela de edição de uma fotografia...............................................................36 Figura 11 – Montagem de telas de emojis...................................................................37 Figura 12 – Montagem de telas para adicionar detalhes.............................................38 Figura 13 – Montagem de telas para adicionar filtros de cor........................................39 Figura 14 – Tela da plataforma Discover.....................................................................40 Figura 15 – Tela do aplicativo iDelete.........................................................................42 Figura 16 – Tela do app Snapchat mostrando o screenshot feito por um contato........42 Figura 17 – Montagem feita com o jargão ‘manda nudes’ utilizando o logotipo do programa de televisão Sessão da Tarde, da TV Globo...............................................48 Figura 18 – Tela da plataforma Discover.....................................................................50 Figura 19 – Tela da plataforma Discover após o usuário assistir o canal Buzzfeed.....51 Figura 20 – Tela final do canal do Discover da CNN....................................................54 Figura 21 – Montagem de telas de notícia em vídeo no Discover em 06/11/2015........57 Figura 22 – Tela de resumo de notícia no Discover em 06/11/2015............................58 Figura 22 – Tela inicial do app da CNN no dia 6/11/2015............................................60 Figura 23 – Tela inicial do app da CNN no dia 6/11/2015............................................61 Figura 24 – Montagem de telas de vídeo do Discover e do aplicativo da CNN.............62 Figura 25 – Montagem de telas da notícia sobre aiatolá Ali Khamenei........................63 Figura 26 – Tela da notícia sobre aiatolá Ali Khamenei no Snapchat Discover............64

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Figura 27 – Montagem de telas de notícia sobre presidentes da China e Taiwan........65 Figura 28 – Tela do resumo de notícia sobre presidentes da China e Taiwan.............65 Figura 29 – Montagem de telas de notícia sobre o fã de Star Wars.............................66 Figura 30 – tela do resumo de notícia sobre a campanha #ForceForDaniel................67 Figura 31 – Capa do portal de notícias da CNN internacional......................................68 Figura 32 – Vídeorreportagem sobre o Sol no site da CNN.........................................69 Figura 33 – Montagem de telas de notícia sobre fã de Star Wars................................70 Figura 34 – Montagem de telas da notícia sobre Líder Supremo iraniano...................71 Figura 35 – Tela de abertura da notícia em texto na íntegra no Discover.....................72 Figura 36 – Montagem de telas de notícia em texto na íntegra no Discover................74 Figura 37 – Montagem de telas de notícia em texto na íntegra sobre Ben Carson.......75 Figura 38 – Montagem de telas da notícia sobre Ben Carson no app..........................76 Figura 39 – Tela de abertura da notícia sobre candidata à presidência do Myanmar...77 Figura 40 – Página do site da CNN com vídeo sobre a candidata à presidência do Myanmar.....................................................................................................................77 Figura 41 – Montagem de telas de vídeo do Discover e do aplicativo da CNN.............78 Figura 42 – Montagem de telas da notícia sobre a Universidade do Missouri..............81 Figura 43 – Tela de abertura do vídeo sobre o oleoduto Keystone XL.........................82 Figura 44 – Tela de abertura do vídeo sobre segurança..............................................83 Figura 45 – Montagem de telas de vídeo do Discover e do aplicativo da CNN.............84 Figura 46 – Montagem de telas de vídeo do Discover e do aplicativo da CNN............85

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SUMÁRIO

1

INTRODUÇÃO...................................................................................................9

2

O JORNALISMO NA ERA DIGITAL................................................................12

2.1.

A ADAPTAÇÃO DO JORNALISMO AO AMBIENTE ONLINE..........................12

2.2

O JORNALISMO ONLINE E SUAS POTENCIALIDADES................................15

2.2.1. Hipertextualidade...........................................................................................15 2.2.2. Interatividade..................................................................................................16 2.2.3. Multimidialidade.............................................................................................17 2.2.4. Instantaneidade..............................................................................................17 2.2.5 Memória..........................................................................................................17 2.2.6. Personalização ou customização.................................................................18 2.2.7. Ubiquidade.....................................................................................................18 2.3

REDES SOCIAIS E JORNALISMO..................................................................19

2.4

JORNALISMO NA ERA DA MOBILIDADE.......................................................21

3

O SNAPCHAT.................................................................................................24

3.1

DINÂMICAS DE USO.......................................................................................26

3.2

APPS DE CONTEÚDO EFÊMERO..................................................................40

3.4

A COMUNICAÇÃO SEM MEMÓRIA................................................................43

3.4

DISCOVER......................................................................................................49

4

ANÁLISE DE CONTEÚDO DA CNN................................................................53

4.1

A EMISSORA CNN..........................................................................................54

4.2

ANÁLISE DE RESULTADOS DIÁRIOS...........................................................55

4.2.1. Dia 1.................................................................................................................55 4.2.2. Dia 2.................................................................................................................71 4.2.3. Dia 3.................................................................................................................79

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4.3

RESULTADOS.................................................................................................85

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CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................87 REFERÊNCIAS...............................................................................................90

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1 INTRODUÇÃO

Com a evolução da informática e o advento das tecnologias móveis, a indústria jornalística foi obrigada a se adaptar a este novo universo. Laptops1, smartphones2 e tablets3 tornaram a propagação de informações mais ágil, além de oferecer novas oportunidades de inovação através de narrativas criadas para serem consumidas a partir de telas digitais. Com isto, esta pesquisa tem como tema a análise do conteúdo desenvolvido por empresas jornalísticas para ser propagado através da plataforma Discover do aplicativo Snapchat. Lançado em setembro de 2011, o app permite que os usuários compartilhem fotos, vídeos e texto com um prazo de validade pré-estipulado, ou seja, com um limite de tempo em sua exibição. O usuário pode criar histórias com prazo de visibilidade de até 24 horas ou mensagens privadas com duração entre um a dez segundos. Como citado pelo co-fundador Evan Spiegel em uma publicação no blog da empresa de nove de maio de 2012, o “Snapchat não é sobre capturar o tradicional momento Kodak. É sobre comunicação que envolve toda a condição emocional humana – não apenas o que parece ser bonito ou perfeito”4. Apesar de ter sido adotado rapidamente por personalidades que já surgiram do ambiente digital, como blogueiros e vlogueiros5, as empresas de comunicação levaram mais tempo para se incluir neste novo universo do Snapchat, em especial com a criação da plataforma Discover, em janeiro de 2015. A plataforma inserida dentro do próprio aplicativo traz conteúdo produzido por 16 agências de notícia – entre elas revistas como a National Geographic e a Cosmopolitan, canais de televisão como a CNN e a MTV, e portais de notícia online como a VICE e o Buzzfeed. Como parte do aplicativo Snapchat, Discover também será item de estudo desta pesquisa, em especial o canal da CNN, visando analisar a diferença entre as notícias publicadas através desta mídia e as publicadas no site ou aplicativo da emissora.

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Laptops: computadores portáteis. Smartphones: celulares inteligentes, em inglês. 3 Tablets: similares aos smartphones, porém com telas maiores. 4 Tradução da autora. Texto original: “Snapchat isn’t about capturing the traditional Kodak moment. It’s about communicating with the full range of human emotion — not just what appears to be pretty or perfect.” Disponível em: . Acesso em: 29 set. 2015. 5 Vlogueiro: alguém que compartilha blogs em formato de vídeo. 2

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O tema deste estudo surgiu a partir da curiosidade da pesquisadora em compreender um aplicativo inovador que funciona como um novo meio de propagar informação para uma audiência atualmente pouco explorada. Com uma narrativa mais direta e que aposta no aspecto multimídia, o Snapchat possibilita a criação de uma extensão da redação jornalística e o desenvolvimento de uma nova linguagem jornalística. A audiência é bombardeada por um oceano de informações diariamente e cabe a cada usuário optar quais destas serão consumidas e quais serão preservada em sua memória – tanto física, quanto digital. Enquanto que mídias impressas acabam se tornando redundantes e o acúmulo torna-se um problema a longo prazo – afinal, jornal de ontem só serve para embrulhar peixe – as mídias digitais tornaram o descarte do conteúdo mais prático. Com um clique no “x” ao topo da página, é possível eliminar a informação da sua frente. Servirão como problemas de pesquisa a identificação se este tipo de rede social efêmera, como o Snapchat, apresenta algum tipo de inovação em termos de conteúdo compartilhado ou na forma como o usuário se relaciona com seus contatos e, no âmbito jornalístico, se existe diferença no conteúdo publicado através do site ou app de empresas que possuem um canal no Snapchat Discover. Os objetivos são compreender se as fórmulas do jornalismo online tradicional se aplicam nesta nova mídia e se há necessidade de criar uma diferenciação entre o conteúdo publicado através deste aplicativo, além de identificar formas de melhorar a experiência da audiência do Discover. Entender o aspecto temporário desta rede social também servirá como objetivo deste estudo. O método de pesquisa, tanto bibliográfica quanto documental, e de análise de conteúdo e morfológico serão os procedimentos metodológicos a ser utilizados. Stumpf (2006, p. 51) define a pesquisa bibliográfica como uma busca sistemática de material que será utilizado para embasar determinado tema e opiniões. A pesquisa documental será de extrema importância para o presente estudo, pois baseia-se prioritariamente em documentos de mídia eletrônica.

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Serão utilizados como itens de estudo arquivos de mídia eletrônica captados através de screenshots6 das notícias publicadas da CNN na plataforma Discover do Snapchat, no aplicativo e no site; e telas de funcionamento do Snapchat através da conta da pesquisadora. Os textos de Jungerson (2011, 2013a, 2013b, 2013c, 2014) servirão como embasamento teórico a respeito do tema. O presente estudo será composto por cinco capítulos. Após a introdução, o segundo capítulo apresentará a história do jornalismo na era digital, com foco nas potencialidades apresentadas pelo jornalismo online, a evolução dos sites de redes sociais e as modificações causadas pela era da mobilidade. O terceiro capítulo terá como tema o aplicativo Snapchat, contextualizando as suas funções, criação, adesão do público, a introdução da mídia jornalística na ferramenta com a criação da plataforma Discover, apresentando também outras ferramentas de conteúdo temporário. Ainda, a ausência de uma memória neste tipo de aplicativo e a forma como este aspecto influencia seus usuários é analisada neste capítulo. A principal análise do estudo será o foco do quarto capítulo, que abordará as notícias publicadas pela CNN em sua conta do Discover e compará-las com as publicações feitas em seu portal de notícia e aplicativo para dispositivos móveis, apresentando os resultados encontrados durante o período de coleta de informações. Em seguida, a monografia será finalizada pela conclusão.

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Screenshot: o ato de capturar uma imagem estática da tela do computador ou de qualquer outro aparelho digital.

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2 O JORNALISMO NA ERA DIGITAL

O desenvolvimento de um ambiente digital e das novas tecnologias levou à elaboração da internet, tornando possível que qualquer indivíduo com alcance aos equipamentos necessários pudesse se conectar a uma rede mundial de computadores e ter acesso a um infinito de informações. Para o sociólogo francês Dominique Wolton (2003, p. 85), as novas tecnologias possibilitaram a criação de “um mundo aberto acessível a todos, e que finalmente dá uma chance a cada um, quais sejam seu itinerário profissional e seus diplomas”, criando assim “uma nova fronteira” em termos de comunicação. O que Wolton sintetizou como “uma nova fronteira” vem desbancando as outras mídias consideradas como tradicionais. De acordo com o relatório “Brasil Conectado – Hábitos de Consumo de Mídia” de 2014, realizado pela IAB Brasil com a intenção de compreender melhor a audiência online brasileira, a internet é o canal mais importante para o público, ultrapassando outras mídias off-line como a televisão, rádio, jornais e revistas. A pesquisa, que foi realizada com mais de 2 mil pessoas, revelou que aproximadamente 9 em 10 dos brasileiros (87%) considera a internet um meio muito importante, enquanto que apenas 54% destes consideram a televisão como um meio muito importante. Para compreender melhor a trajetória e a evolução do jornalismo nesta era digital, o presente capítulo irá abordar quatro momentos desta mídia: a fase de adaptação dos jornalistas e redações a uma nova linguagem; as potencialidades apresentadas pelo jornalismo online e que o diferem das outras mídias; a presença do jornalismo em um ambiente de sites de redes sociais; e, por último, o jornalismo na era da mobilidade dos smartphones e tablets com acesso à internet sem fio.

2.1 A ADAPTAÇÃO DO JORNALISMO AO AMBIENTE ONLINE

Com a criação da internet e do World Wide Web, jornalistas tiveram de adaptar sua forma de produção e divulgação de notícias para utilizar esta nova mídia. Em uma indústria acostumada com a linearidade do jornal impresso, revista, televisão e rádio,

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o surgimento de uma plataforma que incorpora todas as principais qualidades de cada uma destas outras mídias causou uma quebra de padrões na forma como o público tem acesso a notícias e como estas são apresentadas. De acordo com Pinho (2003, p. 113), o ciberespaço funciona como uma “síntese de todas as mídias”, tendo em si “as vantagens visuais da TV, a mobilidade do rádio, a capacidade de detalhamento e análise do jornal e da revista, e a interatividade da multimídia”. A partir destas especificidades, o meio online trouxe ao jornalismo uma forma de reengajar uma audiência já há bastante tempo alienada e desconfiada (PAVLIK, 2001) 7. Através do meio online, o jornalismo conquista a oportunidade de criar conteúdo mutável, de forma que exista a possibilidade de adaptá-los de acordo com os avanços tecnológicos, as mudanças de hábitos da audiência e, o principal, a oportunidade de atualização das notícias em tempo real. É no espaço virtual que as comunicações se tornam interativas e têm possibilidade de uma metamorfose imediata (LÉVY, 2000). Apesar de tamanho potencial revolucionário para o campo jornalístico, o meio digital teve de passar por um período de adaptação durante seus primeiros momentos. A princípio, o texto era o principal meio de expressão utilizado pelos veículos de comunicação que resolveram se aventurar em plataformas online. Em suma, estes textos eram uma reprodução do conteúdo já publicado através das mídias impressas da empresa e, neste período, era nula a exploração das potencialidades deste ambiente hipermidiático (LONGHI, 2014). Segundo Pinho (2003, p. 181), este é um processo natural que todas as mídias tiveram de passar para que chegassem a uma maturação futura: A história é antiga e se repete por ocasião do nascimento de cada nova mídia. O rádio, o cinema e a televisão, cada um no seu tempo, surgiram com conteúdos que reproduziam as mídias que os precederam. À medida que eles foram amadurecendo, os conteúdos tornaram-se aos poucos mais adequados ao formato do novo meio. Finalmente foram desenvolvidas formas próprias, como a linguagem radiofônica, a linguagem cinematográfica e a linguagem televisiva, que exploram melhor as características de cada meio e permitem tirar o máximo proveito das suas potencialidades.

Tradução da autora. Texto original: “In many ways this represents a potentially better form of journalism because it can reengage an increasingly distrusting and alienated audience”. (Pavlik, 2001, p. 11) 7

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Com a internet, o processo de utilização inicial não foi diferente das outras mídias. Doze anos após a criação da World Wide Web por Tim-Berners Lee, e oito anos após o registro do primeiro site de um jornal brasileiro, do Grupo O Estado de S. Paulo, Pinho (2003, p. 181) descreveu que “a World Wide Web oferece amplas possibilidades para o emprego de áudio e de imagens, mas são fundamentalmente as palavras que continuam prevalecendo.” Além do aspecto natural de avanço de uma nova mídia, a velocidade de banda larga oferecida pelos provedores da época também contribuiu com a predominância da redação no jornalismo online. O carregamento de imagens e vídeos demorava demais, portanto o texto tornou-se a melhor opção por ser menos exigente neste quesito (CANAVILHAS, 2014). A partir do final dos anos 90, é possível perceber a tentativas do jornalismo na internet de utilizar as peculiaridades da web – o que é chamado por Mielniczuk (2003) como a segunda fase do webjornalismo ou “fase da metáfora”. Para a autora, os principais atributos explorados durante este período são a interatividades entre jornalista e leitor, proporcionada através do e-mail e de fóruns de debate; e o emprego da listagem de hipertexto afim de complementar a notícia com o acesso a texto, sons, imagens, vídeos e gráficos que contribuam para a narrativa. Ainda assim, o meio online ainda está sob a sombra dos jornais publicados em papel. Com o crescimento da popularidade da internet, empresas passam a prestar mais atenção nesta nova mídia e, com isso, surgem iniciativas focadas no meio online. Assim, neste momento que é intitulado por Mielniczuk (2003) como a terceira fase do webjornalismo, começam a ser lançados sites que vão contra a teoria da reutilização do material do jornalismo impresso e criam conteúdo especialmente para a internet. A autora determina que “nos produtos jornalísticos dessa etapa, é possível observar tentativas de, efetivamente, explorar e aplicar as potencialidades oferecidas pela web para fins jornalísticos” (MIELNICZUK, 2003), sendo estas potencialidades a utilização da multimídia, evolução no uso da interatividade e do hipertexto e curadoria de informação. Barbosa (2007) também especifica que, nesta fase do webjornalismo, as empresas também passaram a incorporar blogs em seus veículos de comunicação online, além de exibir maior dinamismo e trazer aos leitores informações melhor contextualizadas e mais aprofundadas através do uso de banco de dados. Apesar de já ter percorrido um longo caminho e ter passado por três gerações, é importante lembrar que o jornalismo desenvolvido para o meio online não é um

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fenômeno já finalizado e totalmente explorado, mas sim algo que continua em desenvolvimento (MIELNICZUK, 2003), e continuará em desenvolvimento de acordo com a criação de novas tecnologias digitais e da mutação dos hábitos da audiência.

2.2 O JORNALISMO ONLINE8 E SUAS POTENCIALIDADES

Como descrito anteriormente, Pinho (2003) determina que o ciberespaço funciona como uma “síntese de todas as mídias”. Entretanto, apesar de apresentar uma multiplicidade de linguagens já apresentadas por outras mídias, como o texto e a foto do jornalismo impresso, o áudio do rádio e o vídeo da televisão; o jornalismo online também apresenta certas potencialidades que tornam a notícia online diferente das mídias tradicionais. E estas potencialidades também servem como diferencial para a audiência. O usuário que procura se informar através do meio online não está interessado em consumir o mesmo tipo de informação que as outras mídias já divulgaram, mas sim em participar de uma narrativa relevante e memorável (THORNBURG, 2011) construída a partir das potencialidades do jornalismo online: hipertextualidade, interatividade, multimidialidade, instantaneidade, memória, personalização ou customização, e ubiquidade (CANAVILHAS, 2014).

2.2.1. Hipertextualidade

Moherdaui (2002) define hipertexto como a capacidade de construir um texto estruturado em rede, tornando-se uma oposição ao convencional texto linear. Cada link instituído a um hipertexto funciona como um “nó” e estes permitem que o usuário possa utilizar deste roteiro de leitura alternativo que traz informações que

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Existe uma discussão acerca da nomenclatura utilizada para definir esta prática jornalística, mas não iremos discutir isto neste trabalho. Adotaremos a denominação jornalismo online para se referir ao jornalismo publicado através de sites de portais de notícia, sites de redes sociais e aplicativos móveis.

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complementam o assunto principal. Estes links podem ser vídeos, outras notícias, sites relacionados ao tema, resultados de uma pesquisa, entre outros.

2.2.2. Interatividade

A possibilidade de entrar em contato com o autor de um texto ou poder contribuir com a produção de uma reportagem de televisão são atos pertencentes ao conceito de interatividade, através do qual redações dão poder à audiência para participar da seleção de informação e de se expressar sobre determinado tema. Rost (2014, p. 53) considera a interatividade como o “conceito ponte entre o meio e os leitores/utilizadores”, criando zonas de contato entre jornalistas e leitores, assim como entre leitores e leitores. A facilidade da interatividade proporcionada pela internet permite uma horizontalidade na conversação entre veículo de comunicação e público, no qual a empresa não está falando para uma pessoa, mas sim conversando com esta (PINHO, 2003). O filósofo francês Pierre Lévy (2000, p. 13) sumariza que, com a interatividade que o espaço cibernético possibilita, “cada pessoa pode se tornar uma emissora” pois este ambiente produz uma interação entre “Todos e Todos”.

2.2.3. Multimidialidade

Em suma, multimidialidade refere-se à capacidade de uma plataforma utilizar as linguagens midiáticas tradicionais (imagem, texto e som) na construção e publicação de uma informação. A combinação de diversos formatos diferentes para contar uma mesma história contribui com a narrativa, mostrando jeitos distintos de compreensão de uma mesma notícia. Por outro lado, Salaverría (2014) divide o conceito de multimidialidade em três partes: multiplataforma – no qual áreas distintas de uma empresa jornalística coordenam seus trabalhos para realizar uma cobertura informativa juntas, obtendo um resultado coletivo; polivalência – descrevendo a habilidade de um profissional do

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jornalismo a trabalhar com mídias, temas e funções diferentes dentro de uma redação; e, enfim, na combinação de linguagens midiáticas. O termo multimidialidade muitas vezes é confundido com outro aspecto proporcionado pela narrativa online: a convergência. Para Thornburg (2011), a convergência midiática é um outro nível da integração multimídia. Para o autor, enquanto que multimidialidade refere-se à possibilidade de utilizar mais de uma mídia para contar uma mesma história, convergência jornalística resume-se a utilização de uma mídia para contar um aspecto da história e outra mídia para contar um aspecto diferente desta mesma história.

2.2.4. Instantaneidade

A importância do furo jornalístico sempre esteve presente nas redações. Ser o primeiro a entregar uma notícia à audiência ainda é considerado mérito, especialmente em uma era na qual o avanço tecnológico proporciona uma enorme agilidade no compartilhamento de informações. Com as mídias digitais, a instantaneidade afeta a forma de publicação, de consumo e de distribuição. Diferente da televisão e do rádio que seguem uma programação previamente estipulada ou dos jornais impressos que são reféns das máquinas de impressão, a internet não possui nem um tipo de empecilho quanto o horário em que as notícias devem ser compartilhadas com a audiência. Além da publicação de informação, a instantaneidade também se propaga no aspecto na rapidez com a qual as notícias são atualizadas conforme os fatos acontecem em tempo real.

2.2.5 Memória

Memória resume-se à capacidade de armazenamento de informações e, com a quebra dos limites físicos oferecida pela internet, foi viabilizada a existência de um espaço praticamente ilimitado para a documentação de material noticioso (PALACIOS, 2004). Com isso, foi proporcionado aos veículos de comunicação a

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possibilidade de criar uma espécie de biblioteca infinita de notícias, uma memória que recorda cada notícia publicada. Todavia, a memória não é uma característica apresentada só no jornalismo online, pois jornais impressos e emissoras de rádio e TV há muitos anos tem o costume de manter arquivos físicos ou digitais de suas produções. Entretanto, a web serviu como intensificadora desta particularidade.

2.2.6. Personalização ou customização

Esta potencialidade refere-se à utilização de filtros a fim de selecionar conteúdo jornalístico de acordo com os interesses individuais do usuário. Esta filtragem pode ocorrer de acordo com assuntos específicos, posição geográfica e até mesmo através da navegação por meio do uso de hipertexto. Ao selecionar informações que seguem o perfil do leitor, o veículo jornalístico torna-se mais relevante perante sua audiência.

2.2.7. Ubiquidade

A expressão ubiquidade refere-se à “qualidade do que está ou pode estar em muitos lugares ao mesmo tempo ou quase ao mesmo tempo”9. O meio digital torna possível que pessoas de todas as partes do mundo troquem informações entre si, estabelecendo uma conexão mundial. Isso possibilita que todos indivíduos possam buscar e contribuir com informações noticiosas ou de entretenimento, dando ao público uma voz ativa na construção de conteúdo. De acordo com Pavlik (2014), como consequência do jornalismo ubíquo, surge a hipótese do “jornalismo cidadão”, no qual qualquer pessoa pode coletar e compartilhar imagens e vídeos que configuram como notícia, acelerando a participação da audiência na produção jornalística. Também são consequências da ubiquidade a possibilidade de criar conteúdo geolocalizado e construção de narrativas 9

MICHAELIS. Pequeno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998. p. 1266

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imersivas através de dados de GPS, criando um mapeamento de notícias que estão acerca do usuário; e o jornalismo baseado em dados. Com isto, a internet ubíqua dá a oportunidade à jornalistas de criarem narrativas baseadas em dados que podem fornecer contexto a reportagens (PAVLIK, 2014).

2.3 REDES SOCIAIS E JORNALISMO

A comunicação mediada por computador e os mecanismos oferecidos pela internet modificaram a forma como as pessoas se relacionam e se comunicam. O meio online possibilitou a criação de ferramentas como as redes sociais, que viabilizam a potencialização das relações humanas. Antes de iniciar uma análise sobre as possibilidades jornalísticas oferecidas por estas redes, é necessário compreender o que de fato são elas. Um conceito de rede social é de que esta é “[...] definida como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas instituições ou grupos; os nós da rede) e suas conexões interações ou laços sociais)” (RECUERO, 2009a). Para Ferrari (2010, p. 102) redes sociais são “formas de organização humana e de articulação entre grupos e instituições”. Veloso (2013, p. 27) resume em “uma rede social é constituída por uma comunidade de pessoas ou entidades que possuem algum nível de relação ou interesses em comum e que têm à sua disposição ferramentas que facilitem a comunicação/relacionamento.” Entretanto, o termo rede social remete ao estudo do grupo que utiliza um determinado sistema, porém não ao sistema em si. Com a chegada da internet, foi possível a criação de estruturas intituladas como sites de redes sociais. Estes ambientes podem compreender várias destas conexões de redes sociais (RECUERO, 2009b), além de servir como espaços de expressão, onde indivíduos podem compartilhar opiniões, apresentar sua personalidade e se conectar com pessoas que possuem interesses similares aos seus. Estes sites de redes sociais baseiam-se nos perfis individuais criados pelos usuários, como explica Boyd (2007, p. 123): “Além de texto, imagens e vídeo criado pelo membro, o perfil em um site de rede social também

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contém comentários de outros membros e uma lista pública das pessoas identificadas como amigos daquele usuário dentro da rede”. 10 Com a criação destas plataformas, o computador deixou de ser apenas um aparelho de pesquisa e processamento de dados e tornou-se uma ferramenta social caracterizada pelos usos conversacionais (RECUERO, 2012). Com a popularização dos computadores pessoais, laptops e smartphones, a utilização destas redes sociais no dia a dia foi impulsionada e hoje estes mecanismos estão incorporados no cotidiano da população que consome internet. Deste modo, a integração destes sites de redes sociais na prática do jornalismo se faz necessário, especialmente com o objetivo de difundir conteúdo noticioso. Além de incentivar a sociabilidade entre sujeitos, estas ferramentas têm apresentado características úteis para o jornalismo como a facilidade de coleta de informações, pautas e fontes; a simplificação do contato entre veículo e audiência e a rapidez de compartilhamento de notícias. Este último elemento é resultado das diversas conexões entre atores dentro de sites de redes sociais. Para Recuero (2009a), isso faz com que estes ambientes apresentem um “potencial de informação” muito maior do que as redes off-line. A partir disto, os sites de redes sociais potencializam o alcance de uma notícia, além de oferecer uma oportunidade narrativa diferenciada. A proximidade entre empresa jornalística e público contribui na criação de uma narrativa mais intimista, na qual uma entidade tem a oportunidade de demonstrar personalidade através de publicações e dialogar diretamente com seus seguidores, potencializando a característica interativa do meio online. “Redes sociais como o Facebook exercem um papel narrativo enorme, impossível, por exemplo, de ser comparado a um portal. Portais não aproximam usuários, portais não compartilham emoções. Portais nos informam”, explica Ferrari (2010, p. 111). Enquanto que sites de notícia apenas informam, sites de redes sociais apresentam a oportunidade de comunicação com os usuários.

Tradução da autora. Texto original: “In addition to text, images, and video created by the member, the social network site profile also contains comments from other members and a public list of the people that one identifies as Friends within the network.” 10

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Os sites de redes sociais também apresentam grande potencial para a captação de tendências, pelas quais os meios de comunicação podem obter referências sobre os interesses e hábitos de consumo de seu público, assim possibilitando a criação de conteúdo ou serviços que satisfazem as demandas da audiência (WEBER, 2010). Com a evolução de tecnologias como internet banda larga e sem fio e de aparelhos móveis como smartphones e tablets, as redes sociais se integraram ainda mais aos hábitos diários da população, ocasionando novas oportunidades de inovação no jornalismo, como explica o subcapítulo seguinte.

2.4 JORNALISMO NA ERA DA MOBILIDADE

Mobilidade é definida como natureza daquilo que possui capacidade de se mover, a habilidade de algo conseguir se deslocar entre espaços. No caso da mobilidade digital, esta refere-se à capacidade tecnológica de estar conectado à internet sem fio – tanto por meio de redes wireless11, quanto por tecnologias 3G ou 4G – através de dispositivos de aspecto móvel, como celulares ou tablets. Lemos (2005) ressalva que com as tecnologias digitais e novas formas de conexão sem fio o espaço urbano se tornou mais flexível, gerando o acesso nômade à internet e a conectividade permanente dos indivíduos, além de intensificar a ubiquidade citada anteriormente neste estudo. Dispositivos móveis aumentam potencialmente os pontos de acesso à internet da população, tornando os indivíduos mais conectados dentro e fora de suas casas. Pellanda (2005) identifica na criação de laptops um dos primeiros métodos de acesso à rede mundial de computadores. Popularizados nos anos 90, atualmente estes computadores portáteis detêm da mesma qualidade de processamento e tamanho de tela do que desktops. Os aparelhos celulares foram apresentados ao público em 1990, com funções básicas de efetuar ligações como se fossem versões sem fio de telefones fixos convencionais. Com a evolução e adoção de displays simplificados e possibilidade de efetuar novas operações como o envio de mensagens 11

Wireless: sem fio, em inglês.

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de texto, os celulares se difundiram entre todas as classes sociais, tornando-se uma tecnologia popular (SOUZA, 2014) e com o tempo evoluíram para a chegada dos smartphones – aparelhos que tem como característica o tamanho aumentado e telas sensíveis ao toque (touchscreens). Em seguida, foram criados os aplicativos (ou apps), softwares que funcionam sem a necessidade de um navegador e que podem ser baixados a partir de lojas virtuais. Os tablets, dispositivos similares aos smartphones, porém com telas consideravelmente maiores, tiveram sua criação no início dos anos 2000 e foram popularizados com o lançamento do iPad da empresa Apple. A respeito do aparelho celular, este torna-se “um equipamento multifuncional que permite o registro, a disponibilização e o consumo de informações, dentre elas as informações jornalísticas” (MIELNICZUK, 2013). No Brasil, o acesso à internet através de aparelhos celulares atualmente compete com o uso através de computadores ou laptops como indica a pesquisa brasileira de mídia realizada em 2015 pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República12, com apenas 5 pontos percentuais de diferença (66% e 71%, respectivamente). Da mesma forma como aconteceu com as redes sociais, o jornalismo buscou formas de se manter presente e relevante dentro destas novas mídias. A praticidade de ler notícias em mídias móveis contribui com a experiência da audiência e tornouse popular rapidamente. Enquanto que antigamente os laptops e os desktops eram os mecanismos utilizados pelos usuários quando a intenção era acessar notícias, hoje em dia esta prática está mudando. Segundo pesquisa anual publicada pelo Reuters Institute for the Study of Journalism13 em 2015, apenas 57% dos entrevistados consideram o computador como o aparelho mais importante para acessar notícias online, oito pontos a menos do que a mesma pesquisa realizada em 2014. Entretanto, a digitalização do conteúdo de um jornal para dispositivos móveis não é algo simples e trata-se de uma evolução devido a adoção de uma nova linguagem, um tempo de veiculação diferente e uma nova experiência de consumo

12

Disponível em: http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-equalitativas-de-contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf . Acesso em: 14 nov. 2015. 13 Disponível em: https://reutersinstitute.politics.ox.ac.uk/sites/default/files/Reuters%20Institute%20Digital%20News%20 Report%202015_Full%20Report.pdf. Acesso em: 14 nov. 2015.

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para o leitor (PELLANDA, 2005). O dinamismo, a praticidade e a interface gráfica proporcionada por estas novas mídias contribuiu para com a criação de narrativas jornalísticas multimidiáticas e, atualmente, é necessário pensar em soluções para o consumo de notícias em três aparelhos diferentes: o computador, o celular e o tablet. Apesar de todas serem ferramentas digitais, a narrativa utilizada para cada uma apresenta diferenças quando se tem a intenção de criar experiências que utilizem as potencialidades de cada hardware. Consequentemente, foram criadas versões digitais de jornais e revistas impressos para serem lidos através de um dispositivo móvel, em especial os tablets por apresentarem uma tela de maior diâmetro, e aplicativos de empresas jornalísticas que oferecem informações atualizadas sobre o mundo ao usuário e notificações a respeito de notícias consideradas importantes pelos editores. Por terem maior facilidade de adaptação a tecnologias novas, os jovens aderiram rapidamente à utilização de internet sem fio através de dispositivos móveis que, em pouco tempo, foram caracterizados como um hábito do jovem contemporâneo. Quadros e outros (2013) relata que a relação entre jovens e jornalismo mostra que este público vem consumindo informação em diferentes formatos e em alta velocidade e tem a internet como a sua primeira fonte de informações noticiosa. É importante para a imprensa que este vínculo com o segmento jovem da população seja conservado e estimulado, pois hábitos de consumo informativos adquiridos na juventude tendem a se perpetuar na vida adulta (QUADROS et al., 2013, apud KOLODZY, 2006). Tendo isto em vista, a utilização de redes sociais populares entre os jovens para o compartilhamento de informação noticiosa é considerada uma prática significativa – como é o caso do aplicativo Snapchat.

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3 O SNAPCHAT

O aplicativo para dispositivos móveis Snapchat permite que seus usuários compartilhem fotos e vídeos com um limite de tempo de exibição. Como uma carta que se autodestrói após ser aberta, o conteúdo divulgado via Snapchat é excluído após o tempo determinado. Este conteúdo é chamado de snap. Neste capítulo vamos tratar sobre a história da criação do aplicativo e explicar as funcionalidades, além de destacar outras iniciativas similares e analisar as potencialidades de redes sociais com compartilham conteúdo efêmero. O Snapchat foi lançado em setembro de 2011, na cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos, pelos estudantes da Universidade de Stanford, Evan Spiegel, Bobby Murphy e Reggie Brown. Com a intenção de ir contra os aplicativos de fotografia que tem como intenção tratar imagens para que estas se tornem mais bonitas ou estilizadas, os estudantes pensaram em criar uma plataforma que possibilitasse o compartilhamento de fotos engraçadas entre amigos. O aplicativo logo ganhou a atenção de alunos de ensino médio americanos que tinham interesse em enviar colas de provas e trabalhos para os colegas. Como já foi citado anteriormente neste trabalho, Evan Spiegel defende que o Snapchat não tem como objetivo capturar o tradicional momento Kodak14, mas é sobre a “comunicação que envolve toda a condição emocional humana – não apenas o que parece ser bonito ou perfeito.” Na comemoração do aniversário de um ano do lançamento do app, a Equipe Snapchat publicou no blog da empresa os três valores defendidos15 por eles: “Nós acreditamos no compartilhamento de momentos autênticos entre amigos”, “O compartilhamento destes momentos deve ser divertido”, e “Existe valor no efêmero”, sendo este último sintetizando o fato de que a informação é mágica porque ela é aproveitada e compartilhada e não porque ela é salva em um disco rígido. Em junho de 2012, com menos de um ano de funcionamento, o Snapchat chegou a marca de mais de 110 milhões de imagens compartilhadas. Em outubro de 14

Momento Kodak: slogan da empresa de máquinas fotográficas Kodak, refere-se a um momento bonito e digno de ser eternizado em uma fotografia. 15 Tradução da autora. Texto original: “We believe in sharing authentic moments with friends”, “Sharing those moments should be fun”, e “There is value in the ephemeral.”

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2012 foi atingido o número de um bilhão de snaps, tendo 20 milhões de compartilhamentos diários entre os usuários. Nesta época o aplicativo só estava disponível para dispositivos iOS16 (a versão para Android17 só foi disponibilizada ao público no final de outubro de 2012), e o app também só tinha a opção de compartilhar fotos. Os vídeos foram incluídos em dezembro de 2012. Em 2013, o Facebook ofereceu comprar o Snapchat pelo valor de US$ 3 bilhões – a maior proposta já oferecida pela empresa que também adquiriu outras redes sociais como o Instagram e o WhatsApp. A proposta de venda foi negada. Na época, o Snapchat estava começando a receber investimentos e valia menos de US$ 4 bilhões. Atualmente, o aplicativo teve seu valor elevado a US$ 16 bilhões, chegando a crescer US$ 1 bilhão em apenas três meses. A startup18 recebeu mais de US$ 1.337 bilhão de grandes investidores como o grupo chinês Alibaba e das corporações americanas Fidelity, York Capital e Glade Brook Capital. Em uma palestra realizada durante a conferência de tecnologia Re/code, na Califórnia, em maio de 2015, o CEO19 Evan Spiegel anunciou que pretende realizar uma oferta pública de ações e que o aplicativo conta com aproximadamente 100 milhões de usuários diários. Divulgada em abril de 2015, uma pesquisa elaborada pelo Pew Research Center com adolescentes estadunidenses entre 13 a 17 anos20 mostra que o Snapchat é a terceira rede social mais popular entre estes jovens, com adesão de dois em cada cinco adolescentes do país (41%), perdendo apenas para o Facebook (71%) e o Instagram (52%). O Snapchat também foi considerado mais popular entre jovens provenientes de famílias com maior poder econômico, com renda maior do que US$ 75,000 por ano. Além disto, as meninas são maioria na audiência – com 51% de meninas entrevistadas usando a ferramenta, contra apenas 31% dos meninos –, assim como os adolescentes na faixa dos 15 a 17 anos, que são 47%, enquanto que os mais jovens somam 31%. De acordo com os dados, foi calculado que 56% das meninas de 15 a 17 anos são usuárias do Snapchat.

16

iOS: sistema operacional dos produtos da empresa Apple. Android: sistema operacional mais popular do mundo, desenvolvido pela empresa Google. 18 Startup: Empresa em período de desenvolvimento com modelo de negócios inovador e adaptável. 19 CEO: Sigla em inglês para ‘Diretor Executivo’. 20 Disponível em: http://www.pewinternet.org/files/2015/04/PI_TeensandTech_Update2015_0409151.pdf. Acesso em: 20 out. 2015. 17

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Nesta pesquisa, também foi identificado que diferentes etnias não apresentam diferença nas porcentagens, com caucasianos, negros e hispânicos ficaram todos em torno dos 40%; e os adolescentes das áreas rurais americanas utilizam mais o app, com 49%, quando comparados com os das áreas urbanas (38%) ou suburbanas (41%). Com a intenção de tornar mais didática a compreensão de como este aplicativo atua, iremos abordar as características do funcionamento do Snapchat desde o princípio – momento no qual é criada uma conta no sistema – até o compartilhamento de mensagens entre usuários ou empresas, explicando cada elemento disponibilizado pela interface do app. Por não existir bibliografia detalhada sobre o tema, torna-se relevante a descrição das dinâmicas de uso do Snapchat.

3.1 DINÂMICAS DE USO

O aplicativo de troca de mensagens e imagens instantâneas possibilita que seus usuários possam compartilhar fotos e vídeos com um prazo de validade préestipulado. É possível criar histórias que poderão ser visualizadas por todos os seus contatos durante o período de até 24 horas ou mensagens privadas com duração entre um a dez segundos. Primeiramente, é necessário que o usuário faça o download do aplicativo. Após a instalação, a interface inicial da ferramenta (Figura 1) pede que o usuário crie uma conta ou entre em uma conta já existente.

Figura 1 – Montagem com a interface inicial do aplicativo

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Fonte: Reprodução do aplicativo/Gabriela Cavalheiro (2015)

Para criar uma nova conta, é necessário escolher um nome de usuário, registrar e verificar um número de telefone e passar por um teste do mecanismo de verificação de segurança, como mostra a Figura 2.

Figura 2 – Montagem com as telas de cadastro de um novo usuário

Fonte: Reprodução do aplicativo/Techtudo (2014)

Ao criar a conta, além de criar um nome de usuário, o utilizador do aplicativo também recebe um Snapcode, imagem em amarelo com um fantasma no meio,

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representada pela Figura 3. A ferramenta funciona como um QR Code21, ou seja, quando a câmera do celular através do Snapchat focaliza no código, o aplicativo identifica a conta de usuário de qual aquele Snapcode pertence e o adiciona automaticamente. O recurso tem como intenção facilitar a forma de adicionar amigos no aplicativo de compartilhamento de imagens. Também é possível que cada usuário personalize o seu Snapcode com fotos que ficam dentro do fantasma do logotipo da ferramenta.

Figura 3 – Snapcode e tela que leva a ajustes e aos contatos

Fonte: Reprodução do aplicativo/Gabriela Cavalheiro (2015)

Como indica a Figura 3, através desta tela o usuário pode acessar quem o adicionou no aplicativo, adicionar amigos e ver a sua lista de contatos. A engrenagem no canto superior direito dá acesso as Configurações. O troféu no alto da tela, no centro, dá acesso aos troféus do Snapchat e, no canto superior esquerdo, está o acesso à uma plataforma de ajuda, que explica a função do Snapcode. Embaixo do Snapcode está o nome da pessoa que é dona desta conta no aplicativo (Gabriela Cavalheiro), embaixo disto está o nome de usuário (gabrielacav) 21

QR Code é um código de barras bidimensional que pode ser escaneado por celulares e tablets com câmera e acesso à internet. Após ser decodificado, o item leva a um texto ou um link.

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pelo qual este pode ser adicionado por outros usuários e ao lado está a contagem de snaps enviados e recebidos (5.225).

Figura 4 – Montagem com as telas de adicionamento de contatos

Fonte: Reprodução do aplicativo/Gabriela Cavalheiro (2015)

Quanto ao quesito de adicionar contatos, o aplicativo fornece três telas, exemplificadas na Figura 4: “Me adicionou”, que mostra quem adicionou o usuário aos seus amigos; “Adicionar amigos”, que permite que o usuário busque contatos através do nome de usuário; Snapcode; os números dos seus contatos na agenda telefônica do celular; e também por proximidade, vendo os contatos que estão próximos geograficamente ao telefone. Na aba de “Meus amigos”, é possível conferir toda a lista de contatos do usuário, incluindo o que o aplicativo chama de “Melhores amigos”, as pessoas com quem o usuário mais troca mensagens. Também é possível enviar convites aos contatos da agenda telefônica para que estes também façam parte da rede social. Em 2015, foi adicionada uma nova forma de interação entre os contatos. Através dos Emojis22 de Amigos, retratado na Figura 5.

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Emojis: ideogramas utilizados na comunicação virtual, podendo representar uma expressão facial, objetos, animais, lugares, entre outros.

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Figura 5 – Tela de explicação sobre os Emojis de Amigos

Fonte: Reprodução do aplicativo/Gabriela Cavalheiro (2015)

Através desta indicação, os usuários descobrem quem são os contatos com quem eles mais interagem e há quantos dias está acontecendo esta interação, contatos que têm “melhores amigos” em comum com eles, contatos que os têm como “melhores amigos”, mas estes não são seus “melhores amigos”, quem é novo na rede social, entre outros. Caso o usuário não queira receber este tipo de informação, ele pode clicar em “Restaurar padrão”.

Figura 6 – Telas de Troféus e de Configurações

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Fonte: Reprodução do aplicativo/Gabriela Cavalheiro (2015)

Através da tela representada na Figura 3 também é possível acessar a “Situação de Troféus” e as configurações. Os troféus foram uma atualização apresentada em 2015 e têm a intenção de incentivar o público a trocar mensagens diferenciadas com seus amigos. A cada mensagem que utiliza uma linguagem diferente ou acontecimento tido como marcante para o aplicativo – como vídeo sem áudio ou o usuário já trocou mais de mil mensagens com seus amigos – faz com que o usuário receba um troféu, interpretado por um emoji. Os cadeados representam troféus que ainda não foram adquiridos. A utilização de troféus é uma forma de gamificação do aplicativo, na qual é apresentada uma forma de engajar o usuário a utilizar o app com maior intensidade e durante mais tempo a partir da perspectiva de recompensa. No caso, os troféus funcionam como as fases de um videogame. Na tela de Configurações, é possível conferir as informações sobre a conta como o nome, nome de usuário, número de celular, e-mail, senha, além de gerenciar se o usuário gostaria de poder receber e enviar snaps para todos os contatos da conta do Snapchat ou apenas a amigos e ainda quais amigos podem visualizar suas histórias. Além disto, também é fornecido uma tela de suporte, configurações de

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notificação, termos de uso, licenças, opção de excluir conta, usuários bloqueados e limpar as conversas com outros usuários.

Figura 7 – Tela de produção de imagem ou vídeo

Fonte: Reprodução do aplicativo/Gabriela Cavalheiro (2015)

Na Figura 7 está a tela de envio de fotos ou vídeos do aplicativo. Com o botão do canto superior esquerdo é possível determinar se a foto ou vídeo irá utilizar flash ou não. O botão superior do meio, em forma de fantasma, dá acesso à tela retratada na Figura 3, com acesso às configurações, contatos, troféus e ajuda. É possível trocar entre a câmera normal e a câmera frontal do aparelho celular ao tocar no botão do canto superior direito. O botão em formato de círculo no canto inferior da Figura 7 é o em que se toca para tirar uma foto ou gravar um vídeo, tocando e segurando o dedo em cima do círculo. O quadrado vazio na área inferior esquerda dá acesso aos snaps enviados privativamente pelos contatos, enquanto que o da direita leva à tela na qual aparecem todas as histórias dos contatos. Ambas as telas estão representadas na Figura 8.

Figura 8 – Montagem com as telas de snaps enviados por contatos e de histórias dos contatos

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Fonte: Reprodução do aplicativo/Gabriela Cavalheiro (2015)

Na tela de snaps enviados privativamente pelos contatos a esquerda da Figura 8, é possível ver que o símbolo antes do nome de usuário dos contatos é diferente um dos outros. Os snaps enviados possuem três cores: roxo representa vídeo, rosa representa foto e azul significa texto, facilitando o usuário a saber qual o formato da mensagem antes mesmo de abri-la. O símbolo em formato de quadrado significa que o snap foi recebido por um contato, o em formato de seta representa um snap enviado a um contato. No caso da mensagem de texto, o quadrado se transforma em um balão de fala. Se a mensagem já foi visualizada pelo usuário, tanto o que enviou quanto o que recebeu, o símbolo se torna oco, enquanto que se é uma mensagem ainda não visualizada, o símbolo está preenchido. A direita da Figura 8 está a tela de histórias dos contatos, que mostra todas as mensagens que foram determinadas como públicas23 pelos contatos. Primeiramente são apresentadas as empresas jornalísticas que participam da plataforma Discover, que será analisada mais a frente neste trabalho. Embaixo do Discover, estão as histórias com curadoria da equipe do Snapchat. São histórias mundiais, geralmente de eventos ou festividades na qual os usuários gravam vídeos e enviam para a equipe do Snapchat, que determina o que irá ao ar 23

São públicas para todos os que têm o usuário adicionado como contato, exceto contatos que foram bloqueados pelo dono da história.

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para todos os usuários do aplicativo. No dia em que a Figura 8 foi coletada, o tema era vida na fazenda em âmbito mundial (“Farm life: Worldwide”). Em seguida estão as histórias dos contatos organizadas de acordo com o horário de publicação, com as mais recentes em cima e as mais antigas embaixo. Como mostra a Figura 8, as esferas coloridas representam as histórias já carregadas e prontas para serem assistidas; as esferas em tom acinzentado ainda necessitam carregar para que o usuário possa vê-las. Ao lado de cada esfera está o nome do contato que publicou aquela história.

Figura 9 – Tela de edição de uma fotografia

Fonte: Reprodução do aplicativo/Gabriela Cavalheiro (2015)

Agora retornamos à tela de produção de foto ou vídeo para que seja explicado todas as opções de edição de imagem fornecidas pelo aplicativo. Na Figura 9, é possível ver uma fotografia já pronta para ser editada antes de ser enviada para os contatos. O botão em formato de “x” no canto superior esquerdo da tela representa o botão de deletar a imagem. Em seguida, ainda no topo da tela, estão os botões de acesso aos emojis, escrita e do pincel, respectivamente. O de escrita possibilita que o usuário escreva uma mensagem em cima da foto ou vídeo, podendo escolher entre duas opções de fontes – uma menor, dentro de uma faixa preta; ou outra maior, mais grossa e sem a faixa preta. Desta última opção, é possível modificar a cor do texto.

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O primeiro item no canto inferior da tela é o botão para determinar o número de segundos pelas quais a fotografia estará disponível ao(s) contato(s), podendo este ser entre um a dez segundos. Com a intenção de compreender melhor as relações entre privacidade e comunicação através do Snapchat, Roesner et al. (2014) realizaram uma pesquisa com 127 adultos usuários do app. Sobre as razões que levam os usuários a definirem quantos segundos uma fotografia estará disponível para um ou mais contatos no aplicativo, foi concluído que:

Cerca de metade (52.8%) usam um tempo limite fixo de forma arbitrária, independetemente do tipo de conteúdo ou do destinatário. Os 47.2% restantes admitem ajustar o número de segundos dependendo do conteúdo e/ou destinatário. Quando perguntados pelo motivo disto, muitos dos entrevistados relataram determinar tempos mais curtos quando enviam fotos constrangedoras (22.8% de 127) ou para informações secretas (10%). Muitos também relataram delimitar tempos mais longos quando o destinatário é alguém em quem confiam mais (18.9%) ou tempos mais curtos para pessoas em quem confiam menos (10%). (ROESNER et al., 2014, p. 5)

Após o botão de delimitação de tempo no canto inferior da tela, respectivamente, estão os botões de: salvar a fotografia na memória do dispositivo móvel que está sendo utilizado; publicação na história para que os contatos possam ver e, por último, em formato de seta voltada para a direita, é o botão em que se determina para quais contatos esta mensagem será enviada privativamente.

Figura 10 – Tela de edição de uma fotografia

Fonte: Reprodução do aplicativo/Gabriela Cavalheiro (2015)

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Ao selecionar o botão do pincel, é oferecido ao usuário a opção de dez cores, cada uma com três opções de tons. Para acessar os outros tons de cores, é necessário tocar na cor e arrastar o dedo para a direita. O botão de pincel será colorido pela coloração selecionada, como indicado na Figura 10. Para se desfazer de um desenho já feito, existe o botão de desfazer a função anterior no formato de seta para a esquerda ao lado do botão de pincel, sinalizado pelo desenho de uma seta vermelha.

Figura 11 – Montagem de telas de emojis

Fonte: Reprodução do aplicativo/Gabriela Cavalheiro (2015)

Como indicado anteriormente, é incluso à edição de imagem ou vídeo a possibilidade de adicionar emojis. Por tanto, ao clicar no botão de emojis, ao lado do botão de escrita na região superior da tela, é aberta uma biblioteca destes caracteres ao usuário. Os ideogramas estão divididos em oito sessões, sendo elas: últimos emojis utilizados; expressões faciais; natureza e animais; comidas; objetos e datas festivas; esportes, música e atividades; veículos e locais; e, por último, objetos de escritório e sinalizações. Após selecionar a imagem que será integrado ao snap, pode-se determinar o tamanho deste ao clicar com dois dedos em cima do caractere e fazer gesto de expansão, como se estivesse ampliando uma imagem em um aparelho touchscreen. Ao arrastar o emoji até o item em formato de lixeira, este será excluído.

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Além do tratamento do snap envolvendo desenho, emojis e texto, o aplicativo também oferece que sejam adicionados itens como geolocalização, horário, temperatura do ambiente e a velocidade na qual o telefone ou itens no vídeo estão se movimentando, como demonstra a Figura 12. Para ter acesso a estes detalhes, o usuário deve passar o dedo em movimento para a direita na tela do aparelho após já ter tirado a foto ou gravado o vídeo.

Figura 12 – Montagem de telas para adicionar detalhes

Fonte: Reprodução do aplicativo/Gabriela Cavalheiro (2015)

A geolocalização é uma imagem ou logotipo que está linkado a uma localização no sistema de mapas do aplicativo, fazendo com que todas as pessoas que possuem uma conta no Snapchat e estão no mesmo ambiente geograficamente tenham acesso ao mesmo item de geolocalização. A primeira tela mostrada pela Figura 12 mostra a geolocalização da cidade de Porto Alegre, na qual está escrito “Greetings from Porto Alegre”.24 Através da geolocalização, a equipe do aplicativo pode realizar curadoria de histórias baseadas em locais ou festividades, que são transmitidas para todos os usuários do Snapchat através da tela de histórias dos meus contatos, representada pela Figura 8. Este tipo de dispositivo representa o que Pavlik (2014) entende como a

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“Lembranças de Porto Alegre”, em inglês.

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característica da ubiquidade proporcionada pelo jornalismo online – a criação de narrativas baseadas em dados GPS e sistema de mapeamento de informações que estão acerca do usuário. A criação destas imagens ou logotipos é pública, na qual qualquer um pode criar uma imagem de geolocalização, adicioná-la ao site do aplicativo indicando qual posição no mapa esta representa e, após ser aprovado pelo Snapchat, este se tornará acessível para todos que passarem por aquele determinado local. O detalhe é utilizado por cidades, bairros, regiões, datas comemorativas, empresas e até mesmo eventos particulares.

Figura 13 – Montagem de telas para adicionar filtros de cor

Fonte: Reprodução do aplicativo/Gabriela Cavalheiro (2015)

Após passar pelos detalhes citados na Figura 12, são encontrados os filtros de cor (Figura 13). São três opções de tratamento de imagem oferecido pelo aplicativo: em preto e branco, com saturação nos tons de azul e verde, e em sépia. O acesso aos filtros ocorre da mesma forma que aos detalhes citados anteriormente.

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Figura 14 – Tela da plataforma Discover

Fonte: Reprodução do aplicativo/Gabriela Cavalheiro (2015)

Retratada na Figura 14 está a plataforma Discover do Snapchat. A plataforma funciona para a transmissão de reportagens de empresas de comunicação aos usuários do aplicativo através de canais representados por estes círculos com os logotipos das empresas. Ao clicar em cada um destes círculos, o usuário terá acesso ao conteúdo criado e atualizado uma vez por dia pelas redações online. No momento de análise, foram identificadas 16 empresas de comunicação que fazem parte da plataforma. Também é possível acessar ao conteúdo do Discover através da tela de histórias dos contatos, apresentada na Figura 8. Iremos abordar esta plataforma com mais profundidade nos próximos subcapítulos.

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3.2 APPS DE CONTEÚDO EFÊMERO

O Snapchat não é a única rede social para dispositivos móveis que trouxe consigo a possibilidade de mensagens com prazo de vida útil pré-estabelecido. Também existem o Wickr, o Tigertext e o iDelete, entre outros. O Wickr vem na contramão da ideia de “compartilhe um momento”25 do Snapchat, e foca nos indivíduos que são mais investidos na ideia de privacidade em suas comunicações utilizando encriptação a nível militar e técnicas forenses de eliminação de arquivos. O aplicativo permite o envio de mensagens de texto, imagens, vídeos e documentos em PDF26 para indivíduos ou grupos durante o período de um segundo até cinco dias. Segundo o site do aplicativo, existe a garantia de que a informação será destruída após o prazo de tempo estipulado, não havendo a possibilidade desta ser recuperada – algo que o Snapchat não oferece. Com foco apenas em mensagens de texto trocadas entre funcionários do meio empresarial, o TigerText permite que usuários compartilhem SMS27 em tempo real e com a segurança de que a informação será deletada de ambos aparelhos eletrônicos após o fim do tempo estipulado. Assim, informações sigilosas são destruídas sem o risco de serem copiadas ou encaminhadas para terceiros. Apesar de toda a tecnologia oferecida, o Wickr e o Tigertext, assim como o Snapchat, não possuem nem um tipo de prevenção quanto a possibilidade de alguém tirar uma fotografia da tela do aparelho celular, obtendo assim uma cópia do conteúdo disponibilizado via aplicativo. Em contrapartida, o iDelete permite o envio de mensagens de texto ou fotos com tempo de exibição entre dez segundos e dois minutos com a segurança de que o conteúdo nunca será salvo através de screenshots ou fotografias da tela, pois o app mantém a imagem embaçada enquanto o destinatário não está tocando o dedo na tela (Figura 15).

Tradução da autora. Texto original: “share a moment”, frase logotipo do Snapchat. PDF: ‘Portable Document Format’, em inglês. 27 SMS: Serviço de mensagens curtas. 25 26

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Figura 15 – Tela do aplicativo iDelete

Fonte: Reprodução do aplicativo/Mactrast (2013)

Ao adicionar esta nova camada de privacidade, o iDelete oferece aos seus usuários um suporte que falta no Snapchat, no Wickr e no Tigertext, que não possuem bloqueios quanto a possibilidade de serem criadas cópias da imagem enviada, independente da forma como é feita esta cópia. Em caso de screenshots no Snapchat, o usuário recebe um aviso informando qual contato o realizou e qual imagem foi copiada, além de modificar o ícone que aparece ao lado do nome do contato na tela de snaps enviados, como ilustra a Figura 16. O snap enviado passa a ter como ícone duas setas contrárias em cima da outra.

Figura 16 – Tela do app Snapchat mostrando o screenshot feito por um contato

44

Fonte: Reprodução do aplicativo/Gabriela Cavalheiro (2015)

Além dos aplicativos citados, o Facebook também criou a sua versão de app de conteúdo autodestrutível em 2012, chamado Poke. A iniciativa, que foi considerada pela mídia como uma tentativa de copiar o Snapchat, não teve muito sucesso com os usuários e foi desativada após cerca de um ano e cinco meses. Desenvolvido apenas para aparelhos com sistema operacional iOS, o Poke permitia o envio de imagens, vídeos e mensagens de texto que desapareciam após 1, 3, 5 ou 10 segundos de visualização para contatos já existentes no Facebook. A ferramenta também permitia que os receptores fizessem screenshots das mensagens e, assim como o Snapchat, enviava uma notificação ao usuário quando isto acontecesse. O Poke foi lançado antes da rede social de Mark Zuckerberg fazer uma oferta de US$ 3 bilhões pelo Snapchat e, segundo Zuckerberg, em uma entrevista para a Bloomberg Businessweek, o aplicativo era uma “piada”, desenvolvido durante um hackathon28 e foi esquecido pela empresa após seu lançamento.

28

Hackathon: Evento onde programadores de computador e pessoas envolvidas com a área de tecnologia se reúnem para colaborar e trabalhar intensamente em projetos enquanto competem entre equipes.

45

3.4 A COMUNICAÇÃO SEM MEMÓRIA

Com base no trabalho do sociólogo e pesquisador contratado pela equipe do Snapchat, Nathan Jurgenson (2013b), iremos intitular as redes sociais com conteúdo autodestrutivo de redes sociais de conteúdo temporário e os sites de redes sociais convencionais de redes sociais de conteúdo permanente. Compreendemos que, geralmente, o conteúdo publicado em uma rede social convencional pode ser deletado, assim como o conteúdo compartilhado em uma rede social como o Snapchat pode ser salvo pelo usuário ou pelo receptor, ou ainda que um site de rede social pode ser excluído, levando consigo todas as informações presentes nele, mas estas não são a natureza destas ferramentas. A partir disto, estas redes sociais de conteúdo temporário trazem consigo a possibilidade de tornar real algo que na era da memória digital se tornou escasso: compartilhar informações que não serão eternizadas nos anais da internet. As redes sociais de conteúdo permanente incentivam os usuários a publicar imagens, mensagens e vídeos como uma forma de compartilhar nostalgia, um lembrete do passado para momentos futuros. Sacasas (2013) defende que esta abundância de informações contribui para que os usuários a se tornem indiferentes ao conteúdo destas memórias.

[...] a fotografia digital e sites como o Facebook nos levaram a uma época de abundância de memória. A consequência paradoxal deste desenvolvimento será a desvalorização progressiva destas memórias e a separação da posse do passado no presente. Gigabytes e terabytes de memórias digitais não nos farão se importar mais com estas memórias, eles vão nos fazer se importar menos. 29

Redes sociais de conteúdo temporário trazem uma alternativa contra esta aglomeração de informações que Sacasas descreve, desmotivando o comportamento de documentar para a eternidade momentos presentes e funcionando como uma

Tradução da autora. Texto original: “(…) digital photography and sites like Facebook have brought us to an age of memory abundance. The paradoxical consequence of this development will be the progressive devaluing of such memories and severing of the past’s hold on the present. Gigabytes and terabytes of digital memories will not make us care more about those memories, they will make us care less.” Disponível em: http://thefrailestthing.com/2013/01/25/from-memory-scarcity-to-memoryabundance/. Acesso em: 11 nov. 2015. 29

46

espécie de controle populacional de fotografias, vídeos e textos. Sem o fardo de criar provas duradouras de um acontecimento, o conteúdo temporário se torna mais parecido com a vida real e menos com uma coleção de informação (JURGENSON, 2013a). A capacidade de agregar dados em massa e facilidade de cópia e disseminação apresentada pelo meio online fez com que o usuário perdesse o seu poder em termos de privacidade e posse de informação. É pressuposto que qualquer publicação feita na internet pode ser – e provavelmente será – eternizada. A criação de ferramentas que produzem dados autodestrutivos como o Snapchat serve como uma brecha na perenização de toda e qualquer informação online. Como resultado disto, a perspectiva de ter acesso a algo que não poderá ser acessado novamente no futuro modifica a forma como o usuário aprecia o material recebido, como explica Jungerson (2013b):

Por exemplo, o cronômetro de contagem regressiva do Snapchat demanda uma urgência de atenção; quando você olha rápido, você olha intensamente. A imagem pode não ser lembrada perfeitamente, mas a história que ela conta e como você se sente naquele momento se tornam mais proeminentes. Redes sociais permanentes focam nos detalhes da foto, enquanto que redes sociais temporárias focam no significado da foto e como ela te comoveu. 30

Desta forma, a informação efêmera acaba com a sensação de trivialidade causada pelo excesso de conteúdo. A temporalidade de uma rede social auxilia ao tornar mais intensa a experiência do usuário ao visualizar imagens, vídeos ou texto. Em um discurso31 realizado durante a AXS Partner Summit em 25 de janeiro de 2014, o co-criador do aplicativo, Evan Spiegel, definiu que o “Snapchat foca na experiência da conversação – não na transferência de informação”32. Assim, o app tem como

Tradução da autora. Texto original: “For example, the Snapchat countdown timer demands an urgency of attention; when you look fast, you look hard. The image might not be perfectly remembered but the story it tells and how you feel in that moment become most salient. Permanent social media fixates on the details of a photo, whereas temporary social media fixates on what it meant and what it moved within you.” Disponível em: http://thenewinquiry.com/essays/pics-and-it-didnt-happen/. Acesso em: 11 nov. 2015. 31 Discurso disponível em . Acesso em: 11 nov. 2015. 32 Tradução da autora. Texto original: “Snapchat discards content to focus on the feeling that content brings to you, not the way that content looks.” 30

47

motivação fazer com que o usuário foque no sentimento causado pelo conteúdo compartilhado, e não na estética do conteúdo em si. Ao mesmo tempo em que redes sociais de conteúdo temporário trazem ao usuário domínio e sensação de liberdade, este tipo de iniciativa recupera aspectos da conversação face a face na comunicação online. No mesmo discurso citado anteriormente, Spiegel declara que o “Snapchat define expectativas sobre conversação que espelham as expectativas que temos quando estamos falando pessoalmente.”33 Enquanto que na conversa presencial as pessoas dependem apenas da memória caso queiram retransmitir as informações trocadas, na comunicação através da rede da internet conta com informações perenes que poderão ser verificadas novamente no futuro. A informação digital produzida através de redes sociais de conteúdo temporário eventualmente será esquecida ou incorporada a uma identidade social maior. A capacidade de gerar uma comunicação ‘esquecível’ entre usuários resgata a característica da obscuridade, que antes era uma potencialidade exclusiva da comunicação e interação presencial (KOTFILA, 2014). A presença da obscuridade é reconhecida por seus usuários que identificam o aplicativo não como um dispositivo de compartilhamento de fotografias e vídeos, mas como uma forma de troca de mensagens entre os contos (BAYER et al., 2015). A ausência de um acúmulo de informações viabiliza que o controle sobre a produção de informação digital volte para os seus donos. Wolton (2003, p. 85) define que, além da autonomia e da velocidade, o domínio também é um fator essencial para compreender o grande sucesso que as novas tecnologias adquiriram.

Cada um pode agir, sem intermediário, quando bem quiser, sem filtro nem hierarquia e, ainda mais, em tempo real. Eu não espero, eu ajo e o resultado é imediato. Isto gera um sentimento de liberdade absoluta, até mesmo de poder, de onde se justifica muito bem a expressão ‘surfar na Internet’.

O Snapchat funciona como um “espaço de expressão não vigiado” 34 (JURGENSON, 2013c) que gera a sensação de liberdade absoluta que Wolton descreve, diferentemente de quando se compartilha uma imagem em uma rede social Tradução da autora. Texto original: “Snapchat sets expectations around conversation that mirror the expectations we have when we're talking in-person.” 34 Tradução da autora. Texto original: “(…) non-patrolled spaces for expression (…)”. 33

48

de conteúdo permanente, na qual o conteúdo está sendo eternizado. Os usuários do app, juntamente com o receptor escolhido, são os principais responsáveis pelas mensagens ou imagens trocadas através do aplicativo, garantindo que este conteúdo não será salvo e reproduzido no futuro. Ao criar um perfil com conteúdo permanente de um usuário, redes sociais convencionais incentivam a criação de uma noção utópica de perfeição, uma projeção de uma autoimagem na qual o indivíduo busca não compartilhar suas fraquezas, problemas ou dificuldades com seus amigos online. Momentos ou fases vergonhosas da vida de alguém provavelmente não serão compartilhadas através do Facebook ou Instagram deste. Redes sociais cujo o conteúdo é temporário incentivam o desprendimento às convenções sociais, gerando um espaço no qual possam ser compartilhados momentos constrangedores, particulares e triviais. Também contribui com a liberdade absoluta do usuário do Snapchat o fato de que, diferente da maioria das redes sociais de conteúdo permanente, o aplicativo não oferece a opção curtir ou deixar comentários sobre as publicações, não incentivando a necessidade de receber aprovação de terceiros (JUNGERSON, 2013c). Consequentemente, a efemeridade da comunicação influencia a forma de conversa entre os usuários de redes sociais de conteúdo temporário. O tipo de mensagem compartilhada através do Snapchat se difere da publicada no Facebook ou em outras redes sociais de conteúdo permanente. Bayer e outros (2015) conclui que o aplicativo é utilizado para retratar uma janela da vida pessoal do usuário. O Snapchat permite uma comunicação mais intimista e, deste modo, acaba minimizando os fatores de autocensura dos usuários, como descreve Utz et al. (2015, p. 141): Como o Snapchat diminui a necessidade de autocensura, ele tem sido associado a formas mais íntimas e pessoais de compartilhamento, incluindo o sexting. Isto faz com que se pergunte qual é o impacto do Snapchat nas relações interpessoais. 35

Em inglês, sexting é o ato de enviar imagens e mensagens de cunho sexual através do celular e de outros aparelhos eletrônicos36. As fotografias no qual alguém Tradução da autora. Texto original: “Because Snapchat reduces the need for self-censorship, it has been linked to more intimate, personal forms of sharing, including sexting. This raises the question of what impact Snapchat has on interpersonal relationships.” 35

36

MITCHELL, Kimberly J.; FINKELHOR, David; JONES, Lisa M.; WOLAK, Janis. Prevalence and Characteristics of Youth Sexting: A National Study. In: PEDIATRICS, Elk Grove Village, v. 129, n. 1, p.

49

aparece sem roupa são chamadas de nude – ‘nu’, em português. No Brasil, a expressão ‘manda nudes’ se tornou popular na internet durante o ano de 2015. Segundo o site Know Your Meme, que tem a intenção de catalogar memes da internet37 e fenômenos virtuais, a origem da gíria é desconhecida, mas teve sua propagação amplificada a partir do blog do Tumblr38 ‘mandanude’39 e do blog humorístico Não Salvo. A Figura 17 reproduz uma das montagens publicados no blog ‘mandanude’.

Figura 17 – Montagem feita com o jargão ‘manda nudes’ utilizando o logotipo do programa de televisão Sessão da Tarde, da TV Globo

Fonte: Blog do Tumblr ‘Mandanude’40 (2015)

Mais do que um pedido por fotografias íntimas, o termo ‘manda nudes’ é utilizado como uma piada, geralmente sendo empregado para alterar o contexto de uma conversa que não tem relação alguma com o envio de imagens comprometedoras.

13-20. Disponível em: . Acesso em: 12 nov. 2015. 37 Memes da internet: qualquer conceito, frase, imagem ou vídeo que surge na web e se propaga rapidamente. 38 Tumblr é uma plataforma de blogs que permite o compartilhamento de textos, vídeos, imagens, gifs, links, áudios entre usuários através de um painel principal, intitulado de dashboard. 39 Disponível em: http://mandanude.tumblr.com. Acesso em: 12 nov. 2015. 40 http://mandanude.tumblr.com/

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Devido ao aspecto autodestrutivo do conteúdo compartilhado através do Snapchat, o aplicativo ganhou fama de utilizado apenas para o compartilhamento de nudes, tendo o jargão ‘manda nudes’ bastante atribuído à esta mídia. Apesar de ter grande potencial para o envio de conteúdo sensível, pesquisas sobre o conteúdo compartilhado pelos usuários do Snapchat comprovam que a porcentagem de usuários que realizam sexting através do aplicativo é baixa. Na pesquisa realizada por Utz et al. (2015), com 77 usuários europeus, foi encontrado que apenas 13% destes enviam nudes através do app, enquanto que 19% compartilham joke sexting – envio de material sexual ou pseudo-sexual como piada. No estudo feito por Roesner et al. (2014) com 127 usuários adultos do aplicativo, apenas 1,6% responderam utilizar o aplicativo essencialmente para compartilhar nudes, enquanto que 14,2% admitiram já ter enviado nudes em algum momento, e 23,6% afirmam enviar joke sexting. Apesar da fama, o principal tipo de conteúdo compartilhado através do Snapchat são momentos triviais diários, como definiu a pesquisa realizada por Bayer e outros (2015, p. 16):

Os pequenos momentos compartilhados no Snapchat não são particularmente emocionantes ou memoráveis. Na verdade, os usuários normalmente não se lembram da maioria das mensagens enviadas ou recebidas [...]41

Além disto, a pesquisa realizada por Utz e outros (2015) constatou que mais da metade dos entrevistados (53,2%) já mandaram snaps enquanto estavam bêbados. Tal dado pode servir como indicativo de que, por ser uma rede social de conteúdo temporário, seus usuários não se preocupam com a possibilidade de as imagens serem vistas pelos pais, parentes ou futuros empregadores. Em contrapartida, o aspecto recreativo e divertido da comunicação realizada através do aplicativo é considerado por Piwek e Joinson (2015) como uma potencialidade que pode ser trabalhada e utilizada por instituições de ensino como uma nova forma de engajamento da geração jovem. Da mesma forma, o Snapchat

Tradução da autora. Texto original: “The small moments shared on Snapchat were not particularly exciting or memorable. In fact, participants typically did not recall most of the Snapchat messages sent or received (…)” 41

51

pode ser utilizado para engajar seus usuários no consumo de informações jornalísticas.

3.4 DISCOVER

Apresentado ao público em 27 de janeiro de 2015, a plataforma Discover introduziu aos usuários do Snapchat conteúdo produzido por dez empresas de comunicação, entre eles canais de emissoras de notícias (CNN), revistas (Cosmopolitan, National Geographic, People), canais de televisão (Comedy Central, Food Network, ESPN), um jornal (Daily Mail) e sites de informação (Vice e Yahoo! News). Além destes, também foram criados outros dois canais que se diferem do restante: o da gravadora Warner Music Group, com conteúdo sobre música; e um canal com conteúdo produzido pelo próprio Snapchat. Cada canal é representado por uma esfera colorida com o nome da empresa que o controla (Figura 18). O conteúdo divulgado através do Discover é todo em inglês e é atualizado diariamente, a cada 24 horas, pois, segundo a equipe do Snapchat, “a notícia de hoje é a história de amanhã42.”

Figura 18 – Tela da plataforma Discover

42

Tradução da autora. Texto original: "(…) because what’s news today is history tomorrow.”

52

Fonte: Reprodução do aplicativo/Gabriela Cavalheiro (2015)

Cada canal tem estipulado o seu horário de atualização de conteúdo. Para assistir as histórias oferecidas por cada canal, é necessário clicar na empresa desejada e arrastar o dedo para abrir ou passar as histórias individuais dentro do canal. Como indica a Figura 19, quando o usuário assiste a todo o conteúdo oferecido por um canal, o fundo da esfera deixa de ser colorido e passa a ser branco, como se o usuário tivesse esvaziado o conteúdo oferecido por aquele canal naquele dia.

Figura 19 – Tela da plataforma Discover após o usuário assistir o canal Buzzfeed

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Fonte: Reprodução do aplicativo/Gabriela Cavalheiro (2015)

No lançamento da plataforma, através do blog da empresa, o Snapchat definiu o Discover como “uma nova forma de explorar Histórias de diferentes times editoriais. É o resultado da colaboração entre líderes mundiais midiáticos para construir um formato de storytelling que tem a narrativa como prioridade.”43 Por “Histórias”, a publicação quer dizer as histórias que os usuários criam e compartilham com seus contatos através do aplicativo. Através disto, o Discover torna-se uma forma de empresas compartilharem histórias através do aplicativo, cada uma seguindo a sua linha editorial. Na mesma publicação de lançamento, a equipe do Snapchat também deixa claro que, apesar do aplicativo ser uma rede social, o Discover não é uma rede social. Segundo o anúncio: “Empresas de rede social nos dizem o que ler baseado no que é mais recente ou mais popular. Nós [Snapchat] vemos isso de forma diferente. Nós contamos com editores e artistas, não em cliques e compartilhamentos, para determinar o que é importante.”

Tradução da autora. Texto original: “Snapchat Discover is a new way to explore Stories from different editorial teams. It’s the result of collaboration with world-class leaders in media to build a storytelling format that puts the narrative first. This is not social media.” 43

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Após nove meses de existência, o Discover conta com 16 canais. Das empresas originais que estavam presentes no lançamento da plataforma permanecem Daily Mail, Vice, Cosmopolitan, CNN, People, National Geographic e Food Network. Foram incluídos: os sites Buzzfeed, Mashable, Tastemade, IGN, Refinery29 e Bleacher Report; os canais de televisão MTV e Fusion, e o canal independente Sweet, que só existe através da plataforma. Como especial de Halloween, o Snapchat também criou um canal para compartilhar histórias de terror que condizem com a data festiva. Apesar de oferecer uma grande quantidade de canais que compartilham conteúdo jornalístico, apenas 1% dos usuários do Snapchat entrevistados para o Reuters Institute Digital News Report do ano de 2015 utilizam o aplicativo com a intenção de consumir notícias.

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4 ANÁLISE DE CONTEÚDO DA CNN

Como foi aprofundado nos capítulos anteriores, com o Discover o Snapchat traz consigo uma nova possibilidade para as empresas de comunicação de apresentar conteúdo diferenciado para a audiência. Entretanto, será que o conteúdo publicado no Discover é diferente do que já foi publicado em site de notícias ou através dos aplicativos próprios de cada empresa? Com a intenção de compreender se o que é apresentado aos usuários do Snapchat é feito particularmente para aquela plataforma, nos dedicamos a realizar uma análise sobre o conteúdo para mídias online de uma empresa jornalística em específico. O seguinte capítulo irá apresentar análise feita a partir do conteúdo publicado pela empresa jornalística estadunidense CNN em suas publicações online, sendo estas o site de notícias, o aplicativo de notícias e pelo seu canal na plataforma Discover do Snapchat. A primeira parte deste capítulo traz parte da história da CNN e o porquê de esta ter sido escolhida para ser objeto de análise deste trabalho. A segunda parte desta análise se dará a partir da observação dos resultados encontrados durante os três dias de coleta, com a intenção de compreender quais conteúdos foram selecionados para ser publicados em cada plataforma e qual a linguagem que foi empregada nestas publicações. É necessário levar em consideração o fato de que o conteúdo publicado pela CNN através do canal no Discover é atualizado diariamente às 17h do fuso horário da costa leste dos Estados Unidos (Figura 20). Assim, durante o período de horário de verão no Brasil, a atualização das notícias chega aos usuários brasileiros às 20h.

Figura 20 – Tela final do canal do Discover da CNN

56

Fonte: Reprodução do aplicativo/Gabriela Cavalheiro (2015)

4.1 A EMISSORA CNN

Inaugurada em junho de 1980 na cidade de Atlanta, nos Estados Unidos, a Cable News Network (CNN) foi o primeiro canal de televisão a oferecer cobertura jornalística durante 24 horas. Criada pelo empresário Ted Turner, a princípio o sinal via satélite da CNN atingia somente as Américas do Norte e Central. A estrutura internacional da emissora começou a ser desenvolvida a partir de 1984. De acordo com dados de 2013, a empresa está presente em mais de 200 países e territórios, além de possuir mais de mil afiliadas ao redor do mundo (PASA, 2013). A criação de um canal de televisão com o foco em notícias constantes modificou a forma como o telespectador se relaciona com os eventos internacionais. O imediatismo com que foi entregue fatos como a queda do muro de Berlim ou a Guerra

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do Golfo contribuiu para aumentar o impacto da audiência ao ver imagens ao vivo, modificando a experiência da audiência. Como foi citado anteriormente neste estudo, a CNN foi uma das empresas de comunicação pioneiras a integrar o Discover desde o seu lançamento pelo Snapchat, além de ser a única emissora de televisão com notícias 24 horas a integrar a nova ferramenta até o momento. Escolhemos analisar o conteúdo publicado pela CNN no Discover, pois esta é a empresa com um perfil mais tradicional e com foco em jornalismo diário dentre as que fazem parte da plataforma. Com isto, a CNN acaba se diferenciando dos outros canais que são, em sua maioria, de empresas com um perfil de entretenimento, comportamento, alternativo ou de revista.

4.2 ANÁLISE DE RESULTADOS DIÁRIOS

Para introduzir esta análise de resultados obtidos durante os dias de amostragem,

serão

apresentados

scheenshots

das

plataformas

citadas

anteriormente, começando pelo site de notícias44, app de notícias e, enfim, o conteúdo do canal no Discover do Snapchat. O primeiro dia em que foram coletadas informações foi dia seis de novembro.

4.2.1. Dia 1

No primeiro dia de coleta de informação, no turno da tarde, foram publicadas dez notícias no Discover da CNN – cinco vídeos e cinco resumos de notícias. A ordem das notícias seguiu uma alternância entre as linguagens, iniciando com um vídeo. O primeiro vídeo (Figura 21) conta a história de uma ativista da Gâmbia que se tornou uma cidadã americana. A reportagem em vídeo tem três minutos e 47 segundos e, apesar de estar sendo publicada em um aplicativo para dispositivos móveis, é em formato horizontal – assim como todos os vídeos publicados pela emissora. Além de terem o mesmo formato, os vídeos publicados pela CNN na plataforma sempre 44

http://www.cnn.com/

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apresentam primeiro uma tela de introdução que traz, na área inferior, uma seta voltada para cima indicando que o usuário deve passar o dedo na tela neste sentido para acessar o conteúdo. No caso desta notícia – e na maioria das matérias com tela introdutória como iremos ver ao longo desta análise – é apresentada uma cartola que identifica a editoria da notícia e um símbolo de um botão play representando que, ao abrir a notícia, o usuário irá encontrar um vídeo.

Figura 21 – Montagem de telas de notícia em vídeo no Discover em 06/11/2015

Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN Snapchat Discover (2015)

Em seguida, é apresentado um resumo de notícia sobre a queda de avião russo no Egito ter sido provavelmente provocada por uma bomba implantada por grupo terrorista. O resumo de notícia se difere da notícia em texto na íntegra, pois neste são apresentadas apenas as questões necessárias para o entendimento da notícia, de forma sucinta e prática, enquanto que a notícia em texto na íntegra discorre por vários aspectos sobre o assunto, trazendo maior profundidade ao leitor. Como demonstra a Figura 22, o resumo de notícia no Discover mostra um título, um breve relato da notícia e uma foto como imagem de fundo. Além dos elementos visuais, o resumo de notícia

59

também apresenta uma trilha sonora ou algum áudio que tenha relação com a informação.

Figura 22 – Tela de resumo de notícia no Discover em 06/11/2015

Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN Snapchat Discover (2015)

Dando prosseguimento à cobertura sobre a queda do avião russo no Egito no dia 31 de outubro de 2015, a terceira notícia do Discover da CNN é sobre caixas pretas de aviões. Intitulada de “The Little Black Box”45, a reportagem em vídeo explica o que é uma caixa preta, qual a sua finalidade e lista informações sobre estes equipamentos durante os dois minutos e nove segundos. Na página de introdução da matéria, é indicado que a reportagem pertence à editoria “Tech” – de tecnologia. A quarta notícia é um resumo sobre o Líder Supremo do Irã aiatolá Ali Khamenei ter explicado durante

45

“A Pequena Caixa Preta”, em inglês.

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um discurso que a expressão “Death to America”46 não se refere a um desejo de morte à nação estadunidense, mas sim às políticas externas do governo dos EUA e à arrogância. A quinta reportagem é da editoria de política e refere-se à prisão de Guantánamo, em Cuba. A matéria, que leva o título de “Why Is This Prison Still Open?”47, é resposta à libertação do último prisioneiro britânico do campo de detenção. Nos dois minutos de 17 segundos de vídeo, são explicadas questões históricas e políticas sobre a prisão. O primeiro encontro entre os presidentes de Taiwan e China após 66 anos da separação dos países foi o tema da sexta notícia. Resumido em título e duas frases, a CNN também trouxe uma animação com a imagem dos dois líderes. Em seguida, anunciada pela editoria de ciência, uma vídeorreportagem de um minuto de 12 segundos apresenta fato curiosos sobre o Sol com fotos da estrela central do sistema solar em alta qualidade recém lançadas pela NASA. A curiosa história sobre um senhor de idade que se perdeu no deserto australiano durante seis dias e sobreviveu comendo formigas é a oitava notícia. Apresentada através de um resumo de notícia, a matéria tem uma animação de um formigueiro como plano de fundo. O último vídeo desta edição do CNN Discover traz imagens de uma viagem abordo do balão dirigível da fábrica de pneus Goodyear, com depoimento dos pilotos e uma breve história do veículo aéreo durante um minuto e 57 segundos de reportagem. Por último está o resumo da notícia sobre a tentativa de um fã da série Star Wars com câncer terminal de assistir o próximo filme da saga antes da data de estreia e o apoio dos atores do filme à causa. O aplicativo da CNN trouxe como destaque da página inicial a notícia sobre a rejeição pelo Presidente Obama à proposta do sistema de oleoduto Keystone XL. A Figura 22 mostra a tela inicial do app no dia seis de novembro. Em seguida, abaixo da manchete em destaque, estão uma matéria sobre o pré-candidato republicano Ben Carson e outra sobre o conflito na Síria.

“Morte à América”, em inglês. O termo “América”, neste caso, refere-se aos Estados Unidos da América. 47 “Por Que Esta Prisão Ainda Está Aberta?”, em inglês. 46

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Figura 22 – Tela inicial do app da CNN no dia 6/11/2015

Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN App (2015)

Com a proposta de ser atualizado em tempo real e enviar notificações de breaking news48 ao usuário, a ferramenta oferece reportagens em texto, vídeo e fotografia, além de facilitar o envio de conteúdo pela audiência através do iReport – iniciativa de jornalismo cidadão da empresa. Para contribuir com alguma informação, é necessário clicar no botão quadrado com a letra I no centro que está no canto superior direito da tela indicada pela Figura 22. Ao lado, o botão em formato de tela e com um símbolo de play serve para assistir os canais da CNN ao vivo através do dispositivo móvel. Para isso é necessário que o usuário forneça os dados da sua empresa de televisão por assinatura. No extremo canto direito da barra superior do aplicativo estão três pequenos pontos na vertical. Estes servem para acessar as configurações, avaliar o app e obter informações de contato da CNN. Representado por três riscos horizontais no canto superior esquerdo da tela, ao lado do logotipo da

48

Breaking news: notícias de última hora.

62

emissora, está o botão de acesso as editorias do aplicativo. Para acessar as notícias, é necessário que o usuário clique na fotografia ou na manchete. Ao deslizar o dedo na tela para acessar as informações que estão abaixo da matéria em destaque é possível encontrar a vídeorreportagem sobre as imagens do Sol em alta qualidade divulgadas pela NASA, que agora possui o título de “breathtaking ultra-HD vídeo of the sun”49. Como demonstra a Figura 23, a chamada na lista de notícias do app traz um frame50 do vídeo juntamente com a indicação do formato da matéria e o tempo de duração desta, deixando claro para o leitor que ao clicar naquela matéria ele irá acessar um conteúdo em vídeo.

Figura 23 – Tela inicial do app da CNN no dia 6/11/2015

Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN App (2015)

49 50

“Vídeo do Sol em ultra alta qualidade de tirar o fôlego”, em inglês. Frame: quadro, em inglês.

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O vídeo apresentado no aplicativo é o mesmo que foi apresentado aos usuários do Snapchat Discover, com a pequena diferença de um segundo de vídeo a mais no aplicativo, apesar de isto não oferecer nenhum tipo de vantagem à audiência do aplicativo. Na Figura 24 é possível comparar as telas de exibição do vídeo com os fatos sobre o Sol do Snapchat e do aplicativo, respectivamente. Além de aparecer na página inicial do app, a reportagem sobre o Sol também está presente nas editorias de tecnologia e de destaque – “Featured”, em inglês.

Figura 24 – Montagem de telas de vídeo do Discover e do aplicativo da CNN

Fonte: Reprodução dos aplicativos/CNN (2015)

Enquanto que a interface do Snapchat oferece apenas as opções de pausar, silenciar vídeo, assistir em tela cheia e de avançar ou voltar o vídeo, o aplicativo da CNN apresenta opções de ajuste do volume, compartilhamento através de redes sociais, conteúdo relacionado, voltar 30 segundos no vídeo, Closed Captions51 em 51

Closed Captions: sistema de transmissão de legendas.

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alguns vídeos, além de pausar e avançar ou voltar o vídeo. Apesar de não apresentar um botão para assistir a reportagem em tela cheia, é possível fazê-lo ao virar a tela do smartphone na posição horizontal. Na editoria mundo e na de destaque foi encontrada a notícia sobre a explicação do Líder Supremo do Irã aiatolá Ali Khamenei a respeito da expressão “Death to America”. A matéria traz um vídeo na primeira página de texto e, ao longo do texto, apresenta hyperlinks para outras notícias da CNN que completam o tema, como mostra a Figura 25.

Figura 25 – Montagem de telas da notícia sobre aiatolá Ali Khamenei

Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN App (2015)

Esta notícia traz mais informações do que as oferecidas no resumo de notícia do Discover do Snapchat (Figura 26). No canto inferior direito das telas da notícia em texto do aplicativo da CNN é indicado o número de páginas que a reportagem tem e em qual página o usuário está no momento. Neste caso, a reportagem tem, ao todo, seis páginas e a Figura 25 apresenta três destas. Quando uma reportagem está aberta no aplicativo é oferecido ao leitor a possibilidade de salvar a história para ser lida ou assistida em alguma outra hora, clicando no botão em formato de estrela presente na

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barra superior da interface do app. Também é possível compartilhar a reportagem em sites de redes sociais.

Figura 26 – Tela da notícia sobre aiatolá Ali Khamenei no Snapchat Discover

Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN Snapchat Discover (2015)

A notícia sobre o histórico encontro entre os líderes da China e de Taiwan foi abordada através de um texto na íntegra, com nove páginas, na editoria de destaque do aplicativo. A matéria foi dividida por subtítulos e trouxe diversos aspectos sobre a história da relação entre os dois países, da separação destes e sobre o encontro em si, juntamente com uma reportagem em vídeo na primeira página. As Figuras 27 e 28 comparam a notícia no aplicativo da CNN e no Discover do Snapchat.

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Figura 27 – Montagem de telas de notícia sobre presidentes da China e Taiwan

Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN App (2015)

Figura 28 – Tela do resumo de notícia sobre presidentes da China e Taiwan

Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN Snapchat Discover (2015)

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As editorias de entretenimento e vida – “Living”, no original – trazem a notícia a respeito de Daniel Fleetwood, fã com câncer terminal da Star Wars que teve a oportunidade de assistir o novo filme da saga antes do seu lançamento. Novamente, a matéria apresenta um vídeo na página inicial e traz ao leitor três páginas de informação. Ao contrário do resumo de notícia oferecido pela emissora no Discover, a matéria do aplicativo foca no fato de o rapaz já ter recebido a oportunidade de assistir ao filme, enquanto que no Snapchat foi apresentada a campanha para levar a obra cinematográfica ao jovem. As Figuras 29 e 30 mostram as diferenças entre as telas das notícias do aplicativo e do Discover, respectivamente.

Figura 29 – Montagem de telas de notícia sobre o fã de Star Wars

Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN App (2015)

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Figura 30 – tela do resumo de notícia sobre a campanha #ForceForDaniel

Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN Snapchat Discover (2015)

As outras notícias apresentas no Snapchat Discover – sobre a ativista da Gâmbia que se tornou cidadã dos Estados Unidos, a prisão de Guatánamo, vídeo sobre as caixas pretas dos aviões e sobre o possível envolvimento de grupos terroristas na queda do avião russo no Egito – não foram encontradas durante a coleta no aplicativo da CNN. Por ser sobre uma tragédia recente¸ é possível encontrar diversas matérias sobre a queda do avião russo na península do Sinai. Porém, nenhuma delas é sobre caixas pretas ou provável envolvimento do Estado Islâmico no desastre. No site da CNN internacional, também no período da tarde, foram encontradas algumas notícias que estavam presentes no aplicativo e no Snapchat Discover. Diferentemente das ferramentas voltadas para dispositivos móveis, o portal de notícias apresenta uma maior quantidade de conteúdo noticioso, além de colunas de

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opinião e galerias de fotografia – que são oferecidas em menor quantidade no app. Todavia, foi percebido que, apesar de apresentar diversas editorias, as notícias são dispersas e podem estar presentes em mais de uma editoria. A Figura 31 apresenta a capa do site.

Figura 31 – Capa do portal de notícias da CNN internacional

Fonte: Reprodução do aplicativo/Site da CNN (2015)

Como é possível notar a partir da Figura 31, a única notícia que estava no Snapchat Discover que ganha destaque na capa do portal de notícias da CNN internacional é sobre o fã de Star Wars que pode assistir o novo filme antes da estreia. A notícia está no lado esquerdo da tela, última linha das ‘melhores notícias’ (em inglês, ‘top stories’). Na mesma sessão das ‘melhores notícias’, em destaque e com detalhe de breaking news está a notícia sobre Presidente Obama ter rejeitado proposta de construção de oleoduto, que recebeu destaque no aplicativo da emissora. O site da CNN possui diversas editorias como mundo, esporte, tecnologia, entretenimento, estilo, viagem, dinheiro e algumas destas ainda apresentam subeditorias. Estas podem ser acessadas a partir das faixas superiores preta e cinza. Também é possível selecionar qual portal da CNN o usuário gostaria de acessar entre as opções em árabe, espanhol ou a versão americana.

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Das dez notícias publicadas no Snapchat, apenas três foram encontradas no site. São elas: NASA divulgada fotografias em alta qualidade do Sol, Líder Supremo do Irã fala sobre a expressão “Death to America” e, como já foi citada anteriormente, sobre o fã de Star Wars com doença terminal. Duas destas matérias foram apresentadas aos usuários do Discover como resumos de notícias, portanto é esperado que o site forneça os textos na íntegra. A vídeorreportagem sobre o Sol foi publicada na sessão de vídeos do site e teve chamada em editorias como a de tecnologia e de destaque. O conteúdo é o mesmo que foi encontrado no aplicativo e no Snapchat, como mostra a Figura 32.

Figura 32 – Vídeorreportagem sobre o Sol no site da CNN

Fonte: Reprodução do aplicativo/Site da CNN (2015)

O texto das outras duas notícias são os mesmos que foram publicados pelo aplicativo da CNN, como indica as Figuras 33 e 34. A única diferença encontrada é na notícia sobre o aiatolá Ali Khamenei na qual o app traz um vídeo juntamente com o texto, enquanto que no site oferece apenas uma fotografia ao leitor.

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Figura 33 – Montagem de telas de notícia sobre fã de Star Wars

Fonte: Reprodução do aplicativo/Site da CNN (2015)

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Figura 34 – Montagem de telas da notícia sobre Líder Supremo iraniano

Fonte: Reprodução do aplicativo/Site da CNN (2015)

Durante o primeiro dia de coleta o app da CNN enviou três notificações sobre notícias em tempo real. As notícias eram sobre a suspensão de todos os voos da Rússia para o Egito, sobre a reunião do Secretário de Estado dos EUA John Kerry com Obama para conversa sobre o oleoduto Keystone XL e que a Suprema Corte estadunidense irá reavaliar cláusula sobre contraceptivos oferecidos a mulheres

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através da nova lei de saúde apelidada pela mídia de ‘Obamacare’. Nenhuma destas notícias estavam presentes no canal do Discover da emissora.

4.2.2. Dia 2

O segundo dia em que foram feitas as coletas foi em sete de novembro de 2015, um sábado à tarde, apenas um dia após o primeiro. A intenção era verificar se as notícias publicadas durante o fim de semana se diferem das notícias publicadas de segunda a sexta-feira. No Discover foram identificadas dez notícias publicadas no canal da CNN. Destas, sete foram publicadas no CNN App e três foram publicadas no site. A primeira notícia do Discover é um texto na íntegra em formato de lista que explica diversos fatores sobre a queda do avião russo no Egito e repercussões sobre o assunto. A matéria (Figura 35) recebeu o título de “Headed Home”52, a tela de abertura indica que foram retomados os voos do aeroporto de Sharm el-Sheikh após uma semana da tragédia.

Figura 35 – Tela de abertura da notícia em texto na íntegra no Discover

52

Em português: “A Caminho de Casa”.

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Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN Snapchat Discover (2015)

Esta notícia é o primeiro texto na íntegra postado pela CNN no Discover durante os dias de coleta. Ao lado da cartola indicando que a matéria pertence à editoria internacional, é possível ver a imagem de um pequeno livro, que indica ao usuário que esta reportagem é em texto na íntegra. Apesar de o título na tela de abertura fazer referência ao retorno dos voos internacionais ao aeroporto egípcio, a matéria funciona como um resumo de várias notícias sobre a queda do voo russo. Organizada em formato de lista, a reportagem oferece seis itens importantes para que o leitor se informe sobre o tópico além de uma fotografia. A Figura 36 ilustra este texto na íntegra.

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Figura 36 – Montagem de telas de notícia em texto na íntegra no Discover

Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN Snapchat Discover (2015)

Apesar de não ter sido encontrado este texto em específico no aplicativo ou no portal de notícias da CNN, ambos apresentaram cobertura em tempo real sobre o assunto. Ou seja, os tópicos citados na notícia publicada no Discover são encontrados nas outras duas mídias, a partir de reportagens individuais e com mais informações a respeito. A segunda notícia publicada no Snapchat Discover da CNN é a de que a polícia acredita que um menino de nove anos que foi assassinado a tiros em Chicago foi alvo de uma gangue local. Esta é apresentada ao usuário no formato de resumo de notícia com uma fotografia de um protesto da comunidade negra estadunidense com plano de fundo. A mesma notícia foi publicada tanto no site quanto no aplicativo, porém com maiores informações. Seguindo a ordem do Discover, a próxima notícia é sobre o pré-candidato republicado à presidência dos Estados Unidos Ben Carson. Acusado de ter um passado violento, a CNN investigou o assunto e publicou uma reportagem em texto

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na íntegra chamada de “A Tale of Two Carsons”53. Indicado pela Figura de número 37, a reportagem é classificada como editoria de política.

Figura 37 – Montagem de telas de notícia em texto na íntegra sobre Ben Carson

Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN Snapchat Discover (2015)

A reportagem traz uma ilustração na tela de abertura e uma fotografia de Carson logo após o título. O texto é dividido por três subtítulos, dando mais praticidade à leitura. A mesma reportagem foi publicada também no aplicativo, onde apresentou um texto de 45 páginas com um vídeo diferente a cada página (Figura 38). Neste caso, o texto do aplicativo é diferente do publicado no Snapchat.

53

“O Conto dos Dois Carsons”, em inglês.

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Figura 38 – Montagem de telas da notícia sobre Ben Carson no app

Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN App (2015)

A quarta notícia publicada no Snapchat Discover da CNN é sobre o planeta Marte. Com uma animação do planeta vermelho ao fundo, o resumo de notícia explica que a NASA identificou os fatores que fizeram com que Marte mudasse de cenário drasticamente. Esta notícia não foi encontrada nas outras mídias virtuais analisadas. Em seguida, é apresentada uma reportagem em vídeo a respeito da candidata à presidência de Myanmar, Aung San Suu Kyi. Representado pela Figura 39, a matéria de dois minutos e dois segundos relata a histórica corrida presidencial do país e sobre a impossibilidade do povo do Myanmar ter a líder como presidente (apesar de que ela foi eleita à presidência após alguns dias da publicação desta reportagem). Este vídeo também foi divulgado através do portal de notícias da CNN, como mostra a Figura 40.

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Figura 39 – Tela de abertura da notícia sobre candidata à presidência do Myanmar

Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN Snapchat Discover (2015)

Figura 40 – Página do site da CNN com vídeo sobre a candidata à presidência do Myanmar

Fonte: Reprodução do aplicativo/Site da CNN (2015)

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O investimento de US$ 1 bilhão da empresa automobilística Toyota na pesquisa sobre inteligência artificial para conduzir veículos foi destaque com um resumo de notícia no Discover da CNN e na editoria de tecnologia do aplicativo. Enquanto que no Snapchat apenas é oferecido ao usuário alguns detalhes sobre o acontecimento, o aplicativo oferece quatro páginas de informações sobre o tópico. Por outro lado, a notícia sobre o único material de duas dimensões do mundo postada no Discover com a cartola de editoria de tecnologia não foi encontrada nem no app ou no site, assim como a oitava notícia do Snapchat: sobre um departamento de polícia estadunidense que incluiu a arma de arte marcial nunchuks ao seu armamento. A nona e penúltima notícia publicada no Discover é uma reportagem em vídeo sobre o paradeiro atual do homem que gravou o vídeo viral da internet “Double Rainbow”, que ficou muito famoso no site YouTube em 2010. Com dois minutos e 27 segundos, a matéria mostra entrevista com o criador do vídeo, o lutador de MMA 54 Paul Vasquez. Apesar de não estar mais presente nos destaques do aplicativo, esta víderreportagem era destaque na editoria de vídeos do app durante o primeiro dia de coleta, com a diferença de o vídeo ter três minutos e oito segundos. A Figura 41 mostra, respectivamente, o vídeo sendo reproduzido nas telas do Discover e do app.

Figura 41 – Montagem de telas de vídeo do Discover e do aplicativo da CNN

54

MMA: Artes márcias mistas.

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Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN (2015)

Enfim, a última notícia do Discover é a respeito da repercussão sobre a participação do pré-candidato republicano à presidência dos Estados Unidos Donald Trump no programa de televisão Saturday Night Live. Através de um resumo de notícia, a CNN divulgou que, devido a comentários do político a respeito dos imigrantes mexicanos nos EUA, a comunidade latina protestou contra a presença de Trump na televisão e sobre a ausência de apresentadores latinos no programa. No aplicativo da emissora foi encontrado uma versão mais atualizada sobre esta notícia. No site da empresa jornalística foram encontradas publicações sobre notícias abordadas pelo Discover durante o primeiro dia de coleta de informações, como a notícia sobre o senhor de idade que se perdeu no deserto australiano e teve de comer formigas para sobreviver e sobre a prisão de Guantánamo, além das já citadas notícias sobre o fã de Star Wars com câncer e sobre as imagens do Sol em alta

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qualidade divulgadas pela NASA. Além destes, o site também apresentou acompanhamento em tempo real sobre o desdobramento da situação do avião russo que caiu no Egito e forneceu uma notícia sobre como foi o encontro histórico entre os presidentes da China e de Taiwan. Durante o segundo dia de coleta de informações para esta análise o aplicativo da CNN não enviou nenhuma notificação de breaking news.

4.2.3. Dia 3

Terça-feira, dia dez de novembro de 2015, foi selecionado para ser o terceiro dia de coleta de informações para este estudo. Como dito anteriormente, os dias foram selecionados com a intenção de analisar se há diferença na curadoria de notícias publicadas no Discover do Snapchat durante dias de semana e fins de semana. A coleta do dia três aconteceu durante o período da tarde de terça-feira, levando em consideração que o conteúdo do Discover foi publicado na segunda-feira, nove de novembro, às 20h. Novamente, foram publicadas dez notícias no canal da CNN no Discover. A primeira delas é um texto na íntegra sobre os acontecimentos na Universidade do Missouri, nos EUA, após uma série de protestos dos alunos contra acusações de racismo no campus. As reclamações dos estudantes levaram à renúncia do presidente da universidade. A peça publicada na rede social de conteúdo temporário traz cinco itens que foram considerados importantes para a compreensão dos acontecimentos, além de uma foto do presidente. No aplicativo foram publicadas notícias individuais e em tempo real sobre os acontecimentos na Universidade do Missouri. Ao longo do dia anterior à coleta de informações para este capítulo, o app da CNN enviou notificações sobre a renúncia do presidente, matéria que foi encontrada como a primeira manchete na lista de notícias da página inicial da ferramenta, como ilustra a Figura 42. A reportagem possui 16 páginas, com um vídeo diferente por página.

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Figura 42 – Montagem de telas da notícia sobre a Universidade do Missouri

Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN App (2015)

Logo depois, é anunciado que departamento de justiça do estado de Louisiana, nos EUA, está investigando a motivação por trás do assassinato de menino de seis anos. O resumo de notícia traz uma fotografia da criança abaixo do texto. Esta notícia foi encontrada também no aplicativo e no portal de notícias, com maiores informações sobre os homens acusados de cometer o crime, além de oferecer dados atualizados sobre o crime. O texto do app é o mesmo que foi publicado no site. A terceira tela no Discover é da notícia intitulada “Making History in Myanmar”55, que relata o acompanhamento das primeiras eleições do país do sudeste asiático após décadas de ditadura militar. No momento da publicação da notícia ainda não havia sido divulgado o resultado das eleições, que levaram a líder Aung San Suu Kyi, citada anteriormente, à presidência. Mais uma vez, o texto na íntegra é dividido por tópicos, fazendo um resumo de todos os pontos a respeito do assunto. O site e o aplicativo já oferecem a notícia atualizada sobre o assunto, confirmando que Aung San Suu Kyi era a grande favorita dos votos contados até aquele momento. Entretanto, os textos publicados nas duas plataformas digitais são diferentes um do outro, apesar de ambos oferecem basicamente as mesmas informações e o mesmo vídeo.

55

“Fazendo História no Myanmar”, em inglês.

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Os novos copos de final de ano da rede de cafeterias Starbucks é o tema da quarta notícia da CNN no Discover, explicando a polêmica da retirada dos tradicionais símbolos do Natal. O resumo de notícia traz uma ilustração do novo design dos copos. No site e no aplicativo, foram encontradas pelo menos quatro matérias sobre o assunto, sendo elas: uma galeria de fotos dos copos da empresa através dos anos, sobre o depoimento do pré-candidato à presidência Donald Trump apoiando o boicote ao Starbucks, um texto opinativo a respeito do tópico e, enfim, uma matéria em texto sobre a controvérsia causada pelos novos copos, que também exibe um vídeo de um debate ao vivo realizado em um dos programas de televisão da CNN. Neste terceiro dia de coleta foi identificada um tipo diferente de tela de abertura de matérias em vídeo no Snapchat Discover da emissora. Nas duas notícias em formato de vídeo foram publicadas telas de abertura que não apresentam nada de texto, apenas imagens. Na primeira, as imagens eram fotografias de um protesto, mostrando uma pessoa fantasiada de urso polar segurando um cartaz escrito “Vitória” em inglês (Figura 43), além de outras cenas de manifestações. Na segunda, a tela de abertura exibia um vídeo acelerado de um aeroporto visto de cima (Figura 44). O primeiro vídeo era uma listagem dos prós e contras da criação do oleoduto Keystone XL nos EUA e o segundo identificava os problemas de segurança em aeroportos estrangeiros.

Figura 43 – Tela de abertura do vídeo sobre o oleoduto Keystone XL

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Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN Snapchat Discover (2015)

Figura 44 – Tela de abertura do vídeo sobre segurança

Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN Snapchat Discover (2015)

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Ambas as telas de abertura não oferecem qualquer tipo de informação sobre o conteúdo dos vídeos, fazendo com que o usuário necessite acessá-los para compreender a informação. Os dois vídeos foram localizados dentro do aplicativo da CNN, mas não no site. O sobre o oleoduto Keystone XL estava publicado na editoria de destaque trazendo apenas o vídeo de um minuto e 47 segundos, enquanto que o sobre a segurança nos aeroportos estava na editoria do Estados Unidos e na página inicial, além de ter um minuto e sete segundos. As Figuras 45 e 46 mostram os dois vídeos na interface do Discover e do aplicativo da CNN.

Figura 45 – Montagem de telas de vídeo do Discover e do aplicativo da CNN

Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN (2015)

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Figura 46 – Montagem de telas de vídeo do Discover e do aplicativo da CNN

Fonte: Reprodução do aplicativo/CNN (2015)

No Discover, entre as notícias em vídeo citadas acima, encontra-se um resumo de notícia sobre um escândalo envolvendo alunos do ensino média de uma escola no estado do Colorado, nos EUA, e sexting. Esta notícia só foi encontrada na página inicial do aplicativo da CNN com o título de “Is Sexting Child Porn?”56 e possui 12 páginas de texto e um vídeo na primeira página. Como tela de número oito no Discover está o resumo de notícia sobre pesquisa ter revelado que para resolver o problema da pobreza mundial é necessário reduzir as mudanças climáticas. O Snapchat foi a única mídia pela qual esta notícia foi publicada durante os dias de coleta de informações. As duas últimas notícias do canal da CNN no Discover são: sobre a vida da inventora e atriz Hedy Lamarr que, caso estivesse viva, estaria completando 101 anos no dia anterior e ganhou um doodle57 na página inicial do Google; e, por último, sobre “Sexting é pornografia infantil?”, em inglês. Doodle são alterações temporárias no logotipo da tela inicial do site Google que geralmente fazem referências a datas comemorativas, aniversários de pessoas ou eventos históricos. 56 57

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o objeto voador não identificado que foi visto sobrevoando a região sul do estado da Califórnia, nos EUA. A notícia sobre Hedy Lamarr foi em texto na íntegra, em tópicos, contando sobre a história de vida dela, enquanto que a sobre o ÓVNI californiano foi um resumo de notícia com um vídeo amador do objeto voando no céu à noite como plano de fundo. Apenas a reportagem sobre Lamarr foi publicada no aplicativo da emissora, nas editorias de entretenimento e tecnologia, em 14 páginas de texto com um frame do doodle a cada página e com o vídeo completo do doodle página final.

4.3 RESULTADOS

Durante três dias de coleta de informações para análise foi possível perceber que é de costume publicar dez notícias diárias no canal da CNN no Snapchat Discover e que a principal função destas notícias é informar o básico sobre os acontecimentos. Através dos resumos de notícia, textos na íntegra em formato de listas e até mesmo vídeos que informam através de tópicos – como a matéria sobre os prós e contras da instauração do oleoduto de Keystone XL publicado no terceiro dia de coleta – a CNN sintetiza notícias e as oferece de forma objetiva e prática aos usuários. Apesar de rasa, esta tática não deve ser desconsiderada, pois é necessário levar em consideração que a maioria dos usuários do Snapchat são jovens de uma geração que não tem o costume de ler o jornal pela manhã ou assistir os noticiários televisivos para saber dos últimos acontecimentos mundiais. Tal prática também é relevante pelo fato de que não é possível atualizar notícias já publicadas ou acrescentar notícias novas no Discover pela própria lógica do aplicativo e a interface oferecida. Em consequência disto, caso o usuário queira saber mais informações sobre determinado assunto ele deverá busca-las no site ou no aplicativo. No caso da CNN, isso funciona como uma vantagem, pois incentiva o leitor a visitar as outras mídias da empresa. Percebe-se que existe uma maior colaboração entre aplicativo da CNN e canal no Snapchat, pois as duas mídias apresentam diversas notícias e reportagens em comum, ao contrário da relação site e Discover, apesar de boa parte das notícias publicadas no aplicativo serem cópias das publicações do site. Quanto ao portal de

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notícias da CNN, durante esta análise foi possível notar que algumas áreas do site não são atualizadas com frequência. Na editoria Estados Unidos, as áreas Central e Oeste do box “Around the nation”58 não tiveram seus destaques atualizados durante os três dias de coleta. A área Leste não teve o destaque atualizado durante dois dias de coleta. As editorias de vídeos e Américas – sobre as Américas Central e Sul – também não passaram por muitas atualizações de conteúdo nos três dias de análise. É compreensível que, por ser uma emissora de origem americana, a CNN dê maior enfoque às notícias que acontecem nos Estados Unidos ou afetam o país de alguma forma. Entretanto, isso faz com que a audiência dos outros países receba informações que podem não os interessam, como por exemplo as notícias que foram publicadas durante os dias de coleta sobre protesto, um na Universidade do Missouri, outro à respeito da participação do pré-candidato à presidência dos EUA Donald Trump em um programa de televisão. Tais informações são de menor relevância para usuários que não pertencem à cultura americana. A respeito da estética do conteúdo publicado no Discover, foi constatado que todos os vídeos publicados são em formato horizontal, da mesma forma como são publicados os vídeos no site e no aplicativo. O Snapchat é um aplicativo que incentiva o compartilhamento de vídeos e fotografias verticais para facilitar a visualização do público, evitando que o usuário precise virar o telefone para visualizar corretamente uma mensagem. Seria interessante se a CNN deixasse de lado o formato de vídeo tradicional e passasse a criar reportagens na vertical ou simplesmente editasse os vídeos para que eles se ajustem ao formato do aplicativo, assim contribuindo com a experiência do usuário. Por outro lado, a CNN acerta na utilização de animações e ilustrações na maior parte das telas de abertura das notícias diárias. Tais recursos tornam a interface do canal do Discover mais profissional e com uma certa semelhança a reportagens feitas para televisão. A aplicação de uma estética mais descontraída, como a empregada no resumo de notícia sobre o objeto voador não identificado na Califórnia e na reportagem sobre o paradeiro do criador do vídeo viral da internet “Double Rainbow”, remetem à leveza do próprio Snapchat.

58

“Ao redor da país”, em inglês.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A concepção de criar conteúdo digital que tem a intenção de ser passageiro rompe com o conceito de memória considerado intrínseco ao meio digital. Por ser uma rede social de conteúdo temporário que oferece como proposta de valor o aspecto recreativo do compartilhamento de mensagens autodestrutíveis, o Snapchat contraria as redes sociais convencionais ao trazer o aspecto da obscuridade à conversação online, inspirando que as informações sejam guardadas apenas na memória humana e não na digital. Assim como o ditado diz que jornal de ontem só serve para embalar peixe, a notícia virtual de ontem também se torna inferior devido às atualizações constantes permitidas pelo potencial instantâneo da internet. À vista disso, redes sociais de conteúdo temporário se tornam interessantes na criação de conteúdo jornalístico. Mais do que uma forma de divulgar uma marca ou um novo meio de comunicação entre redação e audiência, o Snapchat Discover oferece uma interface que possibilita o desenvolvimento de uma narrativa multimidiática, objetiva e até mesmo divertida ao compartilhar informações para o público. Contudo, a presença de aplicativos sem memória não substitui a importância da existência de uma memória digital, como os acervos dos portais de notícias e os históricos de publicações feitas por jornais através de redes sociais permanentes. O jornalismo trabalha na construção da história humana no presente, por tanto é de extrema importância que existam registros duráveis de acontecimentos marcantes. Com base nisto, as redes sociais de conteúdo temporário e as de conteúdo permanente não anulam uma a outra, mas sim trabalham em conjunto em prol da informação coletiva. Desta maneira, iniciativas como o Snapchat funcionam para sintetizar e facilitar o acesso à informação ao público. Apesar de utilizar muito bem a multimidialidade oferecida pelo Snapchat através de animações, vídeos, ilustrações, fotografias e textos, a CNN ainda não aparenta ter como foco a criação de conteúdo especificamente para o aplicativo, especialmente no caso dos vídeos. Em adendo, como foi exposto ao longo deste estudo, a maioria das notícias presentes no canal da CNN no Discover também foram encontradas no app da emissora, do mesmo modo que boa parte dos vídeos

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apresentados via Discover eram os mesmos que haviam sido publicados no aplicativo de notícias, ao contrário da relação entre site e Discover. Entretanto, é necessário levar em consideração o que existe um processo natural que todas as mídias têm de passar até que cheguem em uma fase de maturação. Assim como o rádio, a televisão e a internet foram utilizados inicialmente apenas para reproduzir conteúdo criado para as mídias que os antecederam, portanto é compreensível que isso aconteça também com o Snapchat. Quanto à análise dos textos publicados no canal do Discover, a CNN aparenta compreender os hábitos de leitura dos usuários do Snapchat, pois estes são divididos em tópicos ou listas, tornando mais fácil e prática a compreensão sobre a notícia. Por ter uma audiência em sua maioria composta por jovens, é importante que sejam utilizadas formas inovadoras de engajar este público no que diz respeito ao consumo de notícias. Tendo isto em vista, o Snapchat pode funcionar como uma plataforma que visa a informar uma parcela da população que é tida como alienada em relação aos acontecimentos mundiais. Uma desvantagem dos canais jornalísticos no Discover é a impossibilidade de atualizar as notícias já publicadas ou de adicionar uma breaking news logo após o seu acontecimento. Desta forma, o Snapchat não tem condições de substituir plataformas como os portais de notícias ou os aplicativos das empresas jornalísticas – que tem nas notificações uma forma mais eficaz de manter o leitor atualizado das últimas notícias de grande importância. Outro quesito que os canais do Discover deixam a desejar é o fato de que todos são na língua inglesa, dificultando a experiência de quem não tem inglês como primeira língua e tornando impossível a compreensão daqueles que não falam nada do idioma. Não obstante, a predominância da língua inglesa juntamente com o fato de a maioria dos canais presentes no Discover serem americanos ou ingleses resulta em uma soberania de notícias sobre acontecimentos destes territórios ou que afetam estes países de alguma forma. Seria interessante se, a longo prazo, o Snapchat disponibilizasse opções regionais aos seus usuários ou conteúdo em mais línguas que não só o inglês. Seria interesse estudar novamente os mesmos aspectos abordados neste estudo em 2016, após o período de um ano do lançamento do Snapchat Discover, a

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fim de identificar as mudanças em relação a linguagem utilizada pelas empresas jornalísticas presentes na ferramenta, se houve uma maturação na criação de uma narrativa ou técnicas específicas para o aplicativo, e sobre a adesão do público a esta plataforma dentro de uma rede social de conteúdo temporário.

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