A EFEMERIDADE E ETERNIDADE DO PONTO DE VISTA SUPREMATISTA E SUA APLICAÇÃO NO DESIGN EDITORIAL — Ephemeralty and eternity from Suprematism point of view and their application on Editorial Design

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A EFEMERIDADE E ETERNIDADE DO PONTO DE VISTA SUPREMATISTA E SUA APLICAÇÃO NO DESIGN EDITORIAL. Ephemeralty and eternity from Suprematism point of view and their application on Editorial Design. Gabriela Glaeser Soares, Gustavo Carvalho Delgado, Monica Oliveira Santos, Nicolas Pereira dos Santos e Vitória Bernardo Sousa de Medeiros. Orientador: Prof. Ms. José Neto de Faria RESUMO Este artigo visa relatar o desenvolvimento do projeto editorial de livros sobre o movimento do Suprematismo, criado para a disciplina de Projeto Interdisciplinar do curso de Design Gráfico com ênfase em tipografia da Universidade Anhembi Morumbi. O projeto tem como objetivo discutir a apropriação de movimentos artísticos como o Suprematismo para renovar o design de livros. Utilizou-se de pesquisa qualitativa indutiva exploratória, construção de um briefing do cliente, pesquisa teórica para levantamento de dados sobre o movimento para só então partir para a confecção dos layouts e peças finais. O projeto é constituído por quatro livros, um plano executivo, três peças promocionais e uma embalagem para a coleção, que acredita-se possuírem valor sentimental — valor maior que o do simples objeto —, fazendo com que seja possível que o leitor vivencie o movimento. PALAVRAS-CHAVE: Design editorial; Coleção de livros; Suprematismo; Efêmero; Eterno. ABSTRACT This arcticle aims at accounting the development of the editorial project of books about the art moviment Suprematism, created for the subject of Interdisciplinary Project from the Graphic Design with emphasis on typography course of Anhembi Morumbi University. The project aims at refurbishing the apropriation of art moviments such as Suprematism to renew the book design background. An inductive, exploratory, qualitative research was used, a briefing of the client was costructed, and a theoretical research for data collection about the moviment developed. Only then the final layouts and pieces of the project were created. The project consists of four books, an executive plan, three promotional pieces and a package for the collection, which is believed to carry sentimental values — greater than the one of the ordinary object —, making it to be possible to the reader to experience the moviment. Keywords: Editorial Design; Book Collection; Suprematism; Ephemeral; Eternal.

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1 INTRODUÇÃO Para o desenvolvimento do projeto, de início foi apresentada a proposta do tema: Design, Arte e Literatura: movimentos e escolas de design do século XIX e XX. Optou-se por subtema a época de 1830–1920 e objeto de estudo o movimento do Suprematismo. Foi analisada a história do livro (design editorial, definições e funções), desenvolveu-se o briefing e, por fim, veio a experimentação de linguagem até a definição das peças. Com estas pesquisas, viu-se a oportunidade de desenvolver uma coleção que estivesse de acordo com a imagem da editora escolhida (Cosac Naify) e exaltasse o movimento que é pouco explorado e tem pouco material disponível, contextualizando-o na sociedade contemporânea e renovando as discussões sobre arte e sobre seus valores estético-filosóficos. Como resultado, obteve-se uma coleção de livro, um conjunto de peças promocionais e uma embalagem para o projeto, todos baseados nos conceitos de eternidade, efemeridade, não-forma, sentimento e cinética.

2 METODOLOGIA As etapas deste projeto se constituem em: definição de subtema, objeto de estudo e pesquisa qualitativa indutiva exploratória. O ponto de partida foi o desenvolvimento do briefing — onde são estipuladas as diretrizes do projeto —; depois, a pesquisa teórica para levantamento de dados sobre o movimento histórico e sobre design editorial; pesquisa de público-alvo; posicionamento da linha editorial; pesquisa exploratória de linguagem; definição de linguagem; produção e implementação do projeto.

3 SUPREMATISMO No período de 1917 a 1922, a Rússia passava por uma revolução política sob a presidência de Vladimir Lenin do Partido Bolchevique. O primeiro passo foi a assinatura de dois decretos que tornavam obrigatória a alfabetização da população de 8 a 50 anos. Em segundo lugar, todo o sistema de ensino de artes foi modificado, buscando alcançar todos os grupos de artistas e incentivar a arte vanguardista. Nesse período, Kazimir Malevich dirigiu a Escola de Arte de Vitebsk (GRECO, 2007, p. 290-297). Suprematismo foi um movimento de arte abstrata criado por Kazimir Malevich em 1915 na Russia. Malevich queria, ao contrário dos artistas contemporâneos, que a arte fosse usada e apreciada simplesmente como arte, sem qualquer significado material ou formal. Suas representações eram abstratas. O movimento foi influenciado por movimentos artísticos como o Cubismo e o Futuris2

mo, já que o próprio idealizador sofreu suas influências. Deles, vieram as formas geométricas, cores simples e a representação das quatro dimensões num plano bidimensional: além das três conhecidas (altura, largura e profundidade), Malevich também representava a quarta dimensão (tempo e espaço) (Ibidem). Malevich acreditava que a arte era a única atividade que eternizava os valores humanos. A tecnologia, a ciência e a religião, na concepção dele, eram atividades feitas conscientemente e não poderiam, portanto, carregar valores reais.

Julgamentos relativos aos valores da vida, portanto, variam muito. Somente os valores de arte desafiam as mudanças de opinião, de modo que, por exemplo, pinturas de Deus ou dos santos, enquanto o sentimento artístico incorporado neles é aparente, pode ser colocado por ateus em suas coleções sem remorso (e, de fato, na verdade são coletados por eles). Deste modo, nós temos, repetidamente, a oportunidade de nos convencermos de que a orientação de nossa mente consciente — ‘criação’ com propósito — sempre se refere a ser valores relativos (o que quer dizer, ‘valores’ sem valor) e que nada além da expressão do puro sentimento do subconsciente ou superconsciente (nada que não seja criação artística) pode dar forma tangível aos valores absolutos. Utilidade verdadeira (no sentido mais elevado do termo) poderia, assim, ser alcançado somente se ao subconsciente ou superconsciente fossem concedidos o privilégio da criação direcionada. (MALEVICH, 2013, p.88).

O nome Suprematismo vem de supremacia, dito por Maiakovski e Malevich no manifesto “Do Cubismo ao Suprematismo: a supremacia do puro sentimento” (STAPAIT, 2011). Chega-se, assim, ao ápice do movimento. No dicionário Priberam (2008–2013), sentimento é definido como “1. .Ato ou efeito de sentir. 2. Aptidão para receber as impressões. 3. Sensação; sensibilidade. 4. Consciência íntima. 5. Faculdade de compreender; intuição; .percepção. 6. Pesar; paixão; desgosto. 7. Pressentimento”. Descreve como qualidades morais e como percepção (perceber o ambiente e as pessoas), intuição (pressentir, intuir, etc.), consciência (tomar consiência, sentir), etc. Toda a natureza já estava aqui. É algo diferente do “eu” e, sendo assim, uma coisa que as pessoas não conseguem entender. O sentimento é algo que foi criado e é sentido pelo ser humano e unicamente por ele (não a sensação, mas o conceito que se cria em volta da sensação). O sentimento é a única arte verdadeiramente pura, que não precisa de um suporte com utilidade para ganhar vida, pois ele vive no ser humano e é reconhecido sem esse suporte útil. É possível crer que Malevich queria expressar com o termo “sentimento” todo o conceito associado à sensação. Sentir é uma habilidade que todo ser vivo possui, ao passo que agregar os valores e 3

conceitos a essa sensação é uma habilidade puramente humana e é aí que está todo o valor do ser humano (a ação, não o sujeito). O Suprematismo enxerga que este valor é o único elemento humano que pode ser eterno.

[…] a sensação, em si mesma, não significa nem concepção de, nem crença em qualquer objeto externo. Supõe um ser sentiente e uma certa maneira pela qual esse ser é afetado; mas não supõe mais do que isso. A percepção significa uma convicção imediata e uma crença em alguma coisa exterior — alguma coisa diferente tanto na mente que percebe como do ato da percepção. (REID, apud HUMPHREY, 1994, p.32).

Ao final da vida útil do objeto/arte, só resta a arte pura para ser apreciada, pois quando o objeto “morre”, o sentimento perdura, ganha vida, e o ser humano consegue reconhecer este sentimento, independentemente do contexto histórico. Em vão, os artistas figurativos tentavam utilizar do envólucro do real sentimento como figura de representação; com o tempo, as pessoas (apreciadores de arte e leigos) deixaram de buscar o sentimento da arte para aplaudir a figura, i.e., a imagem se torna valorizada e os valores humanos são esquecidos.

Esses aspectos da realidade exterior, em que se destacam as coisas e as pessoas como objeto de estudo e atendimento de necessidades materiais, têm colocado em segundo plano aspirações, como sentimento, emoção e afetividade em relação ao meio ambiente, havendo tênue ligação com o topos (sentido de lugar). (OKAMOTO, 2002, p.8 ).

Malevich (2013, p.78) explica que em todo objeto criado com intenção de utilidade a única coisa que permanece é o valor artístico:

Um templo antigo não é bonito porque antes servia como o paraíso de alguma ordem social ou da religião associada a ele, mas mais porque sua forma surgiu de um sentimento puro para relações plásticas. O sentimento artístico a qual foi dado expressão material à construção do templo é, para nós, eternamente válido e vital, mas quanto à ordem social que uma vez o englobava — está morto.

Este valor só é resgatado pelas gerações futuras pois toda imagem representada está morta — literalmente morta. As pessoas estão mortas, os objetos obsoletos e alguns inexisten-

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tes; só sobra o sentimento. Toda esta significação pode ser entendida perfeitamente no desfecho do movimento. Malevich sempre se focou na pintura e julgou energicamente — de forma negativa — a produção de objetos artísticos (arte com utilidades), mas no final de tudo, após a obra Branco Sobre o Branco, o artista decidi produzir estampas, cerâmicas; objetos que têm função. Acredita-se que Malevich compreendeu que até mesmo a pintura era um objeto com função e que, se no final de tudo, a única coisa que permanece destes objetos é o sentimento, por que não colocar o Suprematismo em tudo e difundi-lo para que as futuras gerações apreciem e compreendam o verdadeiro propósito da arte que é a supremacia do puro sentimento? E foi essa a iniciativa tomada no fim do movimento.

4 DESIGN EDITORIAL O livro moderno — da forma como é conhecido atualmente — é fruto de um processo evolutivo de várias tecnologias e conhecimentos. A evolução da sociedade, dos grupos sociais e das formas de economia de cada local são fatores que movimentam esta evolução.

livro [lat. libro] sm 1. Reunião de folhas impressas presas por um lado e enfeitadas ou montadas em capa. 2. A obra intelectual publicada sobre a forma de um livro (1). 3. Registro para certos tipos de anotações, sobretudo comerciais. (FERREIRA, 2010).

Esta definição não se aplica ao conceito de livro do início do século XIV, quando o processo de criação e reprodução eram artesanais. A partir do século XIX, o acesso à cultura aumentou: o interesse por livros de romance, fábulas, contos, etc., foi massificado e foram criadas formas mais acessíveis de editoriais (como o folhetim). Com todas estas novas possibilidades de produto e o surgimento de concorrentes, as casas editoras passaram a usar da publicidade e do planejamento visual de seus livros e coleções para ganhar o mercado. A saída é pensar em publicidade. Em maneiras de identificar editores, casas editoras, autores, linhas editoriais. Com isso, populariza-se o uso de coleções, formatos alternativos, a estandartização de encadernações, imagem da marca do editor na capa, uso de cor para distinguir séries e reunir coleções. (PAIVA, 2010, p. 59).

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Dessarte, a prática de produção de livros foi setorizada e estruturada de forma que se assemelhava ao que vemos hoje nas editoras — com a diferença de que hoje, muitas das áreas que existiam, ou se tornaram extintas ou são função de um mesmo profissional.

5 EDITORA O perfil editorial da Cosac é de livros experimentais; prezam sempre pelo projeto gráfico, muitas vezes agregando mais valor ao livro por causa dos acabamentos e estratégias gráficas do que pelo conteúdo. Prezam por uma experiência lúdica. Para isto, utilizam variadas inovações (acabamentos diferenciados, cortes, papéis, novos formatos). Em suma, buscam sempre fazer o melhor, ou, ao menos, o diferente (ROSENTHAL, [201-?]). A coleção do presente projeto se posiciona na linha de Artes da editora — já que se trata de um movimento de arte do século XX —; utiliza recursos gráficos experimentais, atendendo às características que definem o perfil editorial.

6 PÚBLICO-ALVO Com base nos consumidores da Editora Cosac Naify, chegou-se às especificações de perfil do consumidor. Levando em conta a característica experimental dos livros da editora, o produto final acaba tendo um valor maior, ou seja, o consumidor tem a disposição de gastar mais com os livros; tem um poder aquisitivo médio ou alto (classes A e B); tem contato com o mundo artístico — podendo ser qualquer vertente: pintura, escultura, fotografia, artes cênicas, música, design, etc. — e é conhecedor de história da arte; frequenta teatros, museus, óperas, orquestras, apresentações de dança, palestras de discussão de arte, cinema cultural, shows, e são compradores assíduos de livros e revistas. É um provável interessado em filosofia da arte e filosofia do design e busca, além de conhecimento, livros que possam ter valor sentimental e/ ou estético. Além de todas estas características, são pessoas que têm fácil acesso a novas tecnologias e a informação por causa do alto poder aquisitivo; são, no mínimo, bilíngues (português-inglês) e prezam pelo conforto e economia de tempo gerados pela tecnologia. Com as necessidades básicas e de segurança sanadas, as necessidades latentes são sociais, de auto estima e auto realização, de acordo com a pirâmide de Maslow (imagem 1). Seus anseios e desejos são se afirmar como pessoa com valores, ser formador de opinião e, por isso, não economiza esforços para adquirir conhecimento.

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Imagem 1: Pirâmide de Maslow. Retirada do Blog QVT eu tenho. Disponível em: http:// qvteutenho.blogspot.com.br/. Acesso em: 8, mai, 2013.

7 DIRETRIZES DO PROJETO 7.1 Delimitação do contexto, problema e oportunidade As relações sociais estão cada vez mais digitais, por meio das diversas redes sociais e do acesso à tecnologia que é cada vez maior devido ao aumento do poder de compra da população. As pessoas têm cada vez mais necessidade de saber mais sobre todos os assuntos, visto o rápido acesso à informação. Deste modo, o aumento das trocas simbólicas, impulsionado pela tecnologia e facilidade de acesso, coloca em circulação um aglomerado de informações (por vezes relevantes). Esta facilitação de acesso à informação possibilita qualquer indivíduo a construir sua opinião — mesmo que em alguns momentos seja fundamentada por dados errados ou mal formulados. É uma Era que supervaloriza o intelectualismo; onde todos precisam saber de tudo e ter opinião sobre tudo. Alguns poucos (que estão inseridos no público-alvo estipulado para este projeto) buscam ser formadores de opinião, i.e., precisam conhecer fontes de informação que usam dados consistentes; precisam também buscar conhecimento (do tipo que não caia nas vias das massas — se não, estariam chegando às mesmas conclusão, pode-se dizer). Portanto, procuram caminhos diferenciados (e difíceis de acessar) para conseguirem atingir seu objetivo. No Brasil encontra-se pouco material sobre o movimento do Suprematismo (é preciso importar os livros que, amiúde têm alto valor, tanto monetário quanto burocrático), que é um movimento bastante importante, com uma discussão ainda hoje relevante e condizente com os 7

movimentos e filosofias contemporâneos. Tendo em vista estas características, viu-se a oportunidade de desenvolver uma coleção de livros que discuta o movimento do Suprematismo (suas ideais e valores estético-filosóficos), dando a oportunidade para que aqueles formadores de opinião renovem a discussão sobre a arte contemporânea. Busca-se, portanto, traduzir com clareza os conceitos suprematistas em uma coleção de livros, desenvolver um projeto gráfico de qualidade, que seja contemporâneo e utilize recursos gráficos e digitais para contemplar as necessidades do público e da editora. 7.2 Objetivos Objetivo geral: Criar uma coleção de livros e peças promocionais que discutam o movimento do Suprematismo, divulgando e gerando o aprofundamento do público no assunto, o que tornará possível a renovação do debate estético-filosófico. Objetivos específicos: — Desenvolver conceitos de criação que valorizem e posicionem o movimento (sem copiá-lo) no contexto atual; — Utilizar recursos gráficos (processos, acabamentos e materiais) inovadores, que agreguem valores sentimentais ao livro-objeto; — Posicionar o livro de forma coerente no mercado, beneficiando seu público-alvo. 7.3 Condições e restrições Dentro do mercado editorial a Cosac Naify tem uma colocação diferenciada pois utiliza em seus projetos diversos recursos gráficos diferenciados para que tenham destaque dos demais livros. É necessário seguir estas condições para manter a imagem da editora. A coleção será em inglês, apesar de ser publicada no Brasil, e atenderá ao público alvo (que tem conhecimento da língua), portanto é impressindível não utilizar símbolos e signos que sejam ofensivos a outras culturas e a nenhuma religião. 7.4 Objetivos de Comunicação Com o conjunto de peças necessário (box com três livros, embalagem, três peças promocionais e uma embalagem para a coleção) tem-se o objetivo de reafirmar a posição que a Cosac Naify tem no mercado brasileiro, publicando um material com qualidade editorial e gráfica atendendo assim às diretrizes da editora e do público. A construção e desconstrução dos textos e livros farão com que o público tenha as experiências estipuladas: experiências lúdicas que gerem sentimentos (valor humano eterno) e difundam os conceitos do Suprematismo. Todos essas características estão descritas na estratégia de comunicação. 8

8 PESQUISA EXPLORATÓRIA DE LINGUAGEM As referências imagéticas utilizadas no desenvolvimento do projeto foram retiradas das obras Suprematistas de Kazimir Malevich. Trabalhou-se os conceitos dos elementos básicos suprematistas, assim como as cores: foram tiradas das obras e justificadas com os conceitos do projetos.

Imagem 2: Cruz preta. Retratada no livro Kazimir Malevich: Suprematism — Matthew Drutt 2003, p. 121.

Imagem 4: Quadrado vermelho: realismo pictórico de uma camponesa em duas dimensões. Retratada no livro Kazimir Malevich: Suprematism — Matthew Drutt 2003, p.127.

Imagem 3: Plano alongado. Retratada no livro Kazimir Malevich: Suprematism — Matthew Drutt 2003, p. 123.

Imagem 5: Composição Suprematista: Branco Sobre Branco. Retratada no livro Kazimir Malevich: Suprematism — Matthew Drutt 2003, p. 201.

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8.1 Cores

Imagem 6: Cores do projeto — imagem dos autores.

O preto, do mesmo modo que foi utilizado para representar a forma no Quadrado preto sobre fundo branco (cor de maior contraste com o branco, fazendo com que os dois se diferenciassem e se destacassem), será utilizado na tipografia contrastando com o fundo branco do papel (ou, subvertendo a ideia de que o branco é o não-objetivo, será utilizado no fundo preto com a tipografia em branco). Já o branco será utilizado para representar a não-objetividade, pois o branco dá a sensação de fundo infinito; ausência de dimensões. No final do movimento até mesmo a não-forma (abstracionismo) se mostra irrelevante, já que qualquer tentativa de representar visualmente o sentimento é infiel e se torna inútil. Por conseguinte, o cinza representa o branco (a não-objetividade) se mesclando com o preto (quadrado preto abstrato, que de início era a maneira de expressar o sentimento). Pode ser usado na tipografia e em detalhes. O vermelho representa o sentimento. Ele é a cor que se diferencia e destaca das outras três cores, salientando que o sentimento é o verdadeiro valor humano. Poderá ser usado em grafismos e detalhes do projeto. 8.1 Conceito de criação Foram definidas cinco palavras que se correlacionam em seus conceitos com os do Suprematismo e discussões contemporâneas para serem utilizadas na produção das peças do projeto. Efemeridade: se aplica à não-forma. Malevich, no discorrer do próprio movimento, chega à conclusão de que até mesmo a não-forma (imagem abstrata) é um tipo de forma. Portanto, ele busca aplicar o Suprematismo em todas as coisas, afim de difundir o movimento, já que, de qualquer maneira, os objetos se perdem e só o que resta são os sentimentos. Portanto, a efemeridade não se aplica à forma (que é obliterada no movimento), mas sim à não-forma (abstração) que se faz presente nos quadros suprematistas. Eternidade: a eternidade se aplica ao sentimento, considerado por Malevich o único valor humano. Não-forma (Ungestalt): representa a não-objetividade da forma; que é uma possibilidade de representação visual da não-objetividade do ser (sentimento). Cinetismo: como a arte Suprematista é vista por Malevich como uma arte da cidade, o 10

cinetismo representa o movimento, luz e a energia do ambiente urbano. Por fim, o sentimento: o único valor humano. A única coisa que permanece.

9 PRODUÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO The non-objective world: the manifesto of Suprematism (livro de texto) tem uma capa feita de papel holler empastado com um quadrado vazado. O papel utilizado para encapar tem o título impresso na parte interna e só aparece quando olhado contra luz, o que dá a primeira impressão de que não há nada escrito na capa. É encadernado com a costura a mostra, não será dividido em cadernos (as folhas serão soltas) e o papel utilizado para seu miolo será o Markatto Bianco 80 g/m² — papel que tem um aspecto mais aspero, fosco, características que o tornam mais tátil. Sua mancha de texto segue um grid que desenha cantos de um cubo, como se o leitor estivesse dentro do cubo de ideias de Malevich. O livro Nul: the mirror (livro fotográfico) é um livro post-it (as páginas são unidas por cola e são descoláveis conforme desejado); isto cria uma interação com o leitor, pois ele compra algo que tem a aparência de livro, mas no momento em que for aberto, será, na verdade, outro objeto (post-it). Portanto, o livro cria um sentimento (expectativa de ser um livro) efêmero. O livro fotográfico é envolto por uma luva (sua capa), sendo o pos-it somente o conteúdo do miolo. Como conta a história de um homem que teve um tempo determinado no mundo (nasceu, viveu e morreu), o livro Kazimir Malevich: Suprematism também tem um uma vida-útil pré-determinada; será desmanchado pelo leitor. Sua lombada contém um cartão de acesso para o livro virtual que só será disponibilizado quando o livro se desmanchar. Sua encadernação é blocada e suas páginas estão fora de ordem. O consumidor será obrigado a destacar as páginas para conseguir ler. Sua versão virtual será disponibilizada para os compradores (o cartão de acesso) e para bibliotecas de universidades. Segue a mesma linguagem do livro impresso. Trabalhará com um esquema de pirâmide, onde o primeiro menu interativo será representado com o primeiro elemento básico do Suprematismo (quadrado), o segundo menu pelo segundo elemento básico (círculo) e assim suscetivamente. O livro digital tem algumas interações: o sumário (do qual é possível ir para outra página apenas deslizando o thumbnail da página desejada), as imagens (que, quando deslizadas, são ampliadas), etc (livros: imagem 7 e 8). Integrando os três livros, a embalagem interage com o consumidor. O movimento que a caixa realiza junto com os três livros surpreende o público-alvo, porque os livros são elevados para a parte externa da embalagem no momento em que é aberta; este fato ocorre devido às linhas de suspensão presentes na embalagem que são estendidas quando as partes laterais são abertas. Utiliza do conceito de sentimento (pela surpresa do movimento da embalagem), o cinetismo (pelo movimento em si) e o eterno (pela permanência do sentimento). Também serão produzidas três peças promocionais. Foram desenvolvidos três objetos: um que trabalha o conceito de sentimento; outro que trabalha o conceito da não-forma; e o úl11

timo que trabalha a eternidade. O sentimento é aplicado na peça viral. Ela consiste em um papel quadrado em branco, com cola em um de seus lados para ser colado em qualquer local (como um post-it). É a possibilidade de criação e uma forma do público-alvo se expressar. Será fixado em bibliotecas, universidade, escolas, nas livrarias onde o livro será comercializado, etc. O que faz dele uma peça viral é o fato de que qualquer pessoa pode reproduzí-lo, pois é um simples papel em branco e ele representa a possibilidade de todas as coisas, assim como o Zero de Malevich. O objeto da não-forma é uma miniatura da peça utilizada na produção das fotografias: um cubo de espelhos. Não é agregada a ele nenhuma utilidade; será de encargo do consumidor agregar (ou não) alguma função à peça. Por fim, a eternidade é representada pela função do objeto. Um marca página quadrado, que pode ser utilizado tanto no livro The non-objective world, quanto em qualquer outro. Ela perdurará mesmo depois do consumidor terminar sua leitura.

Imagem 7: Em cima: Página do livro The non-objective world: manifesto of Suprematism. Abaixo: Página do livro Kazimir Malevich: Suprematism — imagem dos autores.

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Imagem 8: template do livro virtual — imagem dos autores.

Imagem 9: marca página; peça viral; cubo de espelhos — imagem dos autores.

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RESULTADOS ESPERADOS Existem dois resultados, que andam paralelamente, esperados para este projeto. O primeiro diz respeito à colecão de livros. Tendo em vista o planejamento proposto para a comunicação, posicionamento e todos os detalhes do projeto, o que se busca é a produção e distribuição de um produto que se diferencie dos demais, tanto por seus processos de acabamento, quanto pelo manuseio, etc. Acredita-se que o protótipo desenvolvido carrega todos estas características e mostra a viabilidade de um projeto de livros que carreguem um valor muito maior do que o simples objeto pode oferecer, fazendo possível vivenciar e discutir os valores do movimento escolhido. O segundo resultado esperado diz respeito à construção de uma discussão atualizada sobre o Suprematismo. A falta de divulgação do movimento, de aprofundamento dos seus conceitos filosóficos e estéticos, pode ser subvertida e provocada com o projeto desenvolvido. Mas o mais importante é entender que todas as ramificações de estudos encontradas no percorrer dessa pesquisa não são completamente supridas com este projeto. Elas têm um potencial exploratório imenso e podem fazer nascer muitos outros projetos que não precisam obrigatoriamente ter a ver com editorial de livros.

CONCLUSÃO Os aspetos estéticos do Suprematismo carregam filosofias que são totalmente aplicáveis aos tempos atuais, e, por isso, merecem um aprofundamento teórico para que, assim, seja possível dissecar e compreender o comportamento do homem em relacão à arte. Ao desenrolar da pesquisa viu-se a possibilidade de desenvolver estudos sobre os atuais movimentos de design e até mesmo prever futuros para o design gráfico e outros movimentos estéticos na sociedade. Para o presente projeto desenvolveu-se uma coleção de livros discutindo o movimento do Suprematismo. Os livros interagem entre si e com o leitor a partir dos conceitos de eternidade, efemeridade, sentimento, não-forma e cinética. Seguem uma linha de livro-objeto (que trabalha a efemeridade) e livro de arte (livro de uso comum) que trabalha a eternidade, sempre visando a unidade entre as peças do projeto e a diferenciação delas das peças encontradas no mercado.

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ROSENTHAL, Rodrigo. A Editora (História). São paulo, [201-?]. Disponível em: . Acesso em: 29, mar, 2014. STAPAIT, Marlise. O Suprematismo e seus recortes. [S.l.], 2011. Disponível em: . Acesso em: 29, mar, 2014. TSCHICHOLD, Jan. A forma do livro. Cotia: Ateliê Editorial, 2007.

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