A EMERGÊNCIA DA PSIQUIATRIA AMPLIADA E A CONFIGURAÇÃO DO CUIDADO COMO ESTRATÉGIA BIOPOLÍTICA

May 29, 2017 | Autor: Valquiria Bezerra | Categoria: Mental Health, Health Care, Biopower and Biopolitics, Risks
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441 - A EMERGÊNCIA DA PSIQUIATRIA AMPLIADA E A CONFIGURAÇÃO DO CUIDADO COMO ESTRATÉGIA BIOPOLÍTICA
VALQUIRIA FARIAS BEZERRA BARBOSA - IFPE, SANDRA NOEMI CUCURULLO DE CAPONI - UFSC

O objetivo deste ensaio é analisar o cuidado no campo da Psiquiatria interpretando-o como um mecanismo contemporâneo para o controle das populações, na perspectiva da Biopolítica em Foucault. As configurações que o cuidado assume para operar no campo da Psiquiatria serão analisadas segundo a história das ciências em Canguilhem. A abordagem existencialista de Heidgger tem servido de base a vários estudos sobre o cuidado no âmbito privado, onde imperam complexas formas de sociabilidade humana. Na idade média, com a fundação dos primeiros hospitais, as práticas de cuidado passaram ao espaço público, vinculadas as obras caritativas de religiosos de diversas ordens cristãs, num ambiente hierarquizado e disciplinar. Essa ruptura remete a uma nova abordagem sobre o cuidado, relacionada ao processo político de transição entre o poder soberano e o biopoder, entre os séculos XVII e XVIII. A medicalização do hospital, segundo técnicas de gestão dos corpos, fez emergir o cuidado como estratégia disciplinar. O sistema de distribuição espacial hospitalar baseado no isolamento do indivíduo num leito, prescrevendo-lhe um regime, transformando-o em objeto do saber e prática médica, possibilitou a obtenção de registros, a identificação dos fenômenos patológicos prevalentes e as intervenções de controle sobre as populações. O hospital medicalizado foi também o locus de constituição do poder saber da Psiquiatria clássica e de institucionalização da loucura. Em 1809, Philip Pinel denominou como tratamento moral as estratégias disciplinares desenvolvidas no asilo psiquiátrico, como formas de normalizar os doentes e permitir a recuperação da razão. A Psiquiatria confrontava-se com a questão de sua legitimidade, uma vez que não havia correspondência entre suas classificações diagnósticas e as nosologias criadas mediante estudos de localização anatomopatológicos. O conceito de degeneração enunciado por Morel (1857), segundo o qual a herança mórbida era o veículo de transmissão progressiva de degenerações adquiridas, lançou luz sobre esta questão, fazendo surgir a Psiquiatria Ampliada e uma nova variedade classificatória de doenças. Nos séculos seguintes, a Psiquiatria moderna kraepeliniana e neo-kraepeliniana investiu na medicalização de comportamentos cotidianos, transformando-se em estratégia biopolítica, mediante o discurso sobre a prevenção e o risco. No entanto, as intervenções preventivas direcionadas ao tecido social, não garantiram avanços significativos nas formas de compreensão do sofrimento psíquico ou nas práticas de cuidado. Em contrário, tudo o que não fosse biológico, como os sofrimentos individuais, os vínculos afetivos e as histórias de vida, foi explicitamente substituído por classificações nosológicas. Este referencial teórico é enunciativo de que o cuidado esteja implicado neste processo como um componente das estratégias biopolíticas no âmbito da Psiquiatria Ampliada, que se dirigem as populações na profilaxia de processos degenerativos psíquicos.

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