«A \"encenação\" da política como forma de manipular»

June 28, 2017 | Autor: Vasco Ribeiro | Categoria: Comunicação e Política, Assessoria de Comunicação, Assessoria de Imprensa, Spin Doctors
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A "encenação" dapolítica como forma de manipular Vasco Ribeiro, antigo assessor de Francisco Assis, traça o cenário da construção noticiosa em Portugal e a forma como os 'spin doctors' manipulam a informação.

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arte de manipular os media, o engenho de conseguir que, para a opinião pública, passe

exactamente

a

mensagem "que dá jeito", o talento de "fabricar" o político no molde perfeito para ganhar votos. "Os Bastidores do Poder como os 'spin doctors', políticos e jornalistas moldam a opinião pública portuguesa", do professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e antigo assessor de Francisco Assis, Vasco Ribeiro, traça o panorama da comunicação política em Portugal. E regressa aos primórdios da construção do 'spin doctoring' e da moldagem da opinião pública para mostrar como muitas vezes aquilo que lemos nos jornais, ouvimos nas rádios ou vemos nas televisões não passa de uma "encenação" muito bem montada por verdadeiros pro-

-

fissionais.

E porque o capítulo mais recente desta história pode mesmo ser a campanha eleitoral que ditou a vitória da coligação PSD/CDS, Vasco Ribeiro assume no ContraCapa do ETV, "aqueles que foram mais profissionais e conseguiram moldar melhor a opinião pública foram PSD e CDS". Como ? A ideia de que podiam vencer as eleições foi "fabricada". "Não apresentou propostas e vai ganhar eleições sem percebermos a ideia de governação. É um 'spin doctor' poderosíssimo", salienta o professor.

O livro traça toda a história do 'spin doctoring' desde o seu surgimento em 1984, com Ronald Reagan na Casa Branca. Mas é em Peter Mandelson e Alastair Campbell, director de comunicação e assessor de imprensa de Tony Blair, respectiva-

mente, que se centra o verdadeiro poder desta técnica que junta jornalistas, marketinge publicidade. Vasco Ribeiro conta como "quase todas medidas, discursos e visitas de Blair eram previamente Vazadas' para estes meios. Porém, a informação nunca era disponibilizada na totalidade". E fala do "spingate"

que teve origem numa peça da BBC na qual era revelado um relatório científico sobre as alegadas armas nucleares existentes no Iraque e determinantes para o ataque ao regime de Saddam que Blair autoride investigação

zou. Campbell recorreu aos serviços secretos e valeu-se da boa relação com os órgãos de Rupert Murdoch para denunciar David Kelly, cientista e funcionário do Ministério da Defesa, como fonte da notícia. Kelly suicidou-se e o juiz Brian Hutton

apontou Campbell como responsável. Mas uma grande parte do livro mostra a realidade da assessoria de imprensa e dos gabinetes de em Portugal e a sua relação com os media Com cerca de 30 entrevistas, incluindo a José Sócrates e Pedro Santana Lopes, bem como todos os assessores parlamentares dos vários partidos e alguns dos principais jornalistas políticos do país, n' "Os Bastidores do Poder" percebe-se comunicação

quem são os "manipuladores" em dia, onde são recrutados

da informação

hoje

e que técnicas emo sucesso na conquista e

pregam para atingirem manutenção do poder. No ContraCapa, Vasco Ribeiro diz que a Assembleia da República "continua a ser um motor e o facto de os jornalistas poderem circular livremente nos corredores confere ao noticiário mais veracidade ou rigor, porque o jornalista consegue confrontar o político com a informação que lhe é passada pelo assessor".

Algo que, por exemplo, nos parlamentos espanhol ou inglês não acontece. 0 professor da Universidade do Porto traça uma realidade preocupante do jornalismo em Portugal e de como a falta de meios a que muitos órgãos estão sujeitos está a tornar este um mundo mais permeável ao trabalho dos 'spin doctors'. Faz, no entanto, questão de distinguir entre p assessor de imprensa e o 'spin doctor\ Os primeiros

entre político e promover a eficácia da comunicação entre ambos", lê-se no livro. Ao invés, "o 'spin doctor" é o autor político da mensagem e, em consonância com a instituição ou indivíduo que representa, gere com autonomia a conversão da mesma em notícia, através de métodos bem mais complexos e opacos que os da assessoria". Pela leitura do livro percebe-se que, para quem está do lado dos jornalistas) o maior cuidado tem de ser com os segundos. Mas também é com os segundos - os 'spin doctors' que é possível obter informação mais importante e destacada dos restantes. Para que não se "queimem", como são, sobretudo,

jornalistas,

"intermediários

cabendo-lhes

-

aconteceu, recorda, com o caso das escutas em Belém e a manipulação de informação que Fernando Lima, assessor de Cavaco Silva, tentou fazer com o Público em plena campanha eleitoral de 2009, "a deontologia profissional dos jornalistas" será sempre a sua "rede de segurança". Mas Vasco Ribeiro concluiu o livro com uma dura realidade, citando vários jornalistas e asses"A vertigem da 'cacha', por sores entrevistados: vezes, leva os jornalistas a descurarem esta regra de ouro [confirmação da informação original pelo cruzamentos de várias fontes". MárdaGairao

A obra trata sobre coisas como o engenho de conseguir que passe para a opinião pública exactamente a mensagem "que dá jeito"

Os Bastidores do Poder Editora: Almedina Autor: Vasco Ribeiro, prefácio de J. Martins

Lampreia Preço: 17,90 € Páginas: 192

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