A epistemologia e seus desafios

June 7, 2017 | Autor: Gisiela Klein | Categoria: Teoria do Conhecimento, Alberto Oliva
Share Embed


Descrição do Produto

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC
CENTRO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO E SOCIOECÔNOMICAS – ESAG
PROGRAMA ACADÊMICO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO


Disciplina: Epistemologia da Ciência em Administração
Turma: 2015
Professor: Mauricio C. Serafim
Discente: Gisiela Hasse Klein
Aula: A epistemologia e seus desafios
Obra estudada: OLIVA, Alberto. Teoria do conhecimento. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2011.


Sobre o que é o livro?
Alberto Oliva perpassa os principais conceitos e correntes de pensamento que tratam da Teoria do Conhecimento. O autor apresenta os tipos de conhecimento, trata da origem do conhecimento, da polarização entre o empirismo e o racionalismo e, depois, parte para as teorias da justificação, concluindo, de forma poética, que "a pequena ilha do conhecimento é cercada pelo vasto oceano do desconhecimento".

O que está sendo dito, de modo detalhado, e como está sendo dito?
Em Teoria do Conhecimento, Alberto Oliva tenta chegar a um conhecimento do conhecimento questionando-se sobre por que conhecer e como conhecer. Para responder a esses questionamentos, o autor visita alguns clássicos da filosofia e também pensadores contemporâneos que discutem conceitos importantes para entender o conhecimento humano. Oliva divide sua obra em uma parte inicial esboçando os tipos de conhecimento, seguindo com as questões filosóficas sobre a busca do conhecimento e mesmo sobre o conceito do que é conhecimento e o que é verdade, tendo o cuidado de delimitar a epistemologia e a metafísica. Por fim, o autor explora mais detalhadamente as teorias da justificação.
Ao tentar responder a questão "por que conhecer?", o autor retoma Platão afirmando que "todo homem por natureza deseja conhecer" e que, "sem a curiosidade e o desejo de desvendar a natureza e compreender a si mesma, a espécie humana teria ficado sujeita ao saber prático". Já na introdução, Oliva nos responde, então, para que desejamos conhecer: para alcançar o sentimento de maravilhamento frente à natureza.
A partir daí, temos os tópicos devidamente apresentados de modo a entender como ocorre o conhecimento. Antes de apresentar as teses para a obtenção do conhecimento, Oliva traz os conceitos tradicionais de tipos de conhecimento (por aptidão, por contato e proposicional) e a definição clássica de conhecimento como crença verdadeira justificada. Aqui, no entanto, o autor também nos apresenta versões divergentes como a de Giambattista Vico, defensor da tese de que só podemos conhecer o que é obra nossa, não sendo possível o conhecimento a partir da contemplação. E Platão com o paradoxo da busca, no qual não é possível procurar algo do qual não temos consciência e procurar por algo que já conhecemos não faz sentido. Sendo assim, a busca pelo conhecimento seria impossível.
Na discussão sobre as fontes do conhecimento, o autor expõe as teses empiristas (fonte para o conhecimento é a experiência e seria alcançado pela indução) e racionalistas (fonte para o conhecimento é a razão e seria alcançado pela dedução). Neste trecho, o autor se posiciona argumentando que a polarização entre empiristas e racionalistas é estéril já que "os esquemas conceituais são fundamentais para se chegar ao conhecimento, assim como as informações empíricas que confirmam ou refutam uma crença".
Outro argumento apresentado por Oliva para não se ater à discussão sobre as fontes do conhecimento é de que "mais importante que a obsessão pela confiabilidade da fonte é a preocupação em transformar as informações, independentemente de sua providência, em crenças que mereçam ser qualificadas de conhecimento".
Ao se deparar com questões sobre o que é verdade, o autor faz uma introdução à principal discussão do livro - as teorias para a justificação. Apesar das teses metafísicas para o conceito de verdade, Oliva toma como pressuposto que, para a epistemologia, o conceito de justificação é normativo e seleciona algumas teorias internalistas e externalistas para tratar da justificação.
Da corrente internalista, Oliva nos traz o fundacionalismo e o coerentismo. Já entre os externalistas, o autor optou por debater o confiabilismo, o falibilismo e o relativismo. Aqui, é transparente a tendência do autor pela corrente internalista. Oliva utiliza, nesta parte do livro, a analogia para explicar os conceitos. O fundacionalismo é tratado como a "segurança das estruturas". O conhecimento seria como a construção de um arranha-céu, que traz na base as principais vigas de sustentação. Para os fundacionalistas, na base de toda cadeia inferencial estão as crenças auto justificadas. São postulações de auto-evidência, que evitam o círculo vicioso de crenças justificando outras crenças infinitamente.
Já o coerentismo é tratado por Oliva como "o fio e a trama". A justificativa de qualquer crença teria relação inferencial com outras crenças em um sistema geral. Nesta tese, o conhecimento se assemelha a uma rede/teia na qual as crenças são fios que se entrelaçam formando uma complexa trama. A crítica de Oliva a essa tese é que ao tratar a questão como um sistema fechado, desconsidera-se o mundo.
Nas teses externalistas, o confiabilismo é tratado analogicamente como "a segurança dos processos", no qual o conhecimento está atrelado à obtenção de informações por meio de um processo confiável (percepção, memória, introspecção e raciocínio bem-elaborado). O falibilismo é tratado como "a navegação sem porto". Todo conhecimento seria provisório, passível de erro e sempre falivelmente justificado. Por isso, a navegação sem porto. Por fim, Oliva traz o relativismo (tantos barcos, tantos portos) que, em última instância, nega a teoria do conhecimento ao negar uma racionalidade universal. O autor faz críticas contundentes ao relativismo, insinuando que se trata de modismo e que a tese é "autodestrutiva" porque, se correta, não tem como ser assim reconhecida por antes ter minado a própria noção de correção.
Por fim, a conclusão do autor é pela "vastidão do conhecimento", assumindo que a humanidade ainda conhece pouco em relação ao ignorado. Encerra poeticamente, ao se mostrar maravilhado com tal vastidão a ser conhecida: "a admiração que está na origem do conhecer pode voltar a aparecer no fim do processo – quando as perguntas pela verdade e pela justificação remeterem à questão de qual o sentido de tudo isso sobre que se busca conhecimento".
O livro é verdadeiro? Todo ele ou somente parte dele?
O livro é parcialmente verdadeiro. As teorias da justificação estão bem colocadas, fundamentadas e criticadas. No entanto, a análise das fontes do conhecimento merece ser mais bem explorada para fundamentar as conclusões do autor. Creio que o autor peca ao considerar desnecessário se ater à confiabilidade das fontes focando na justificação. Ao fazer essa opção, deixamos de debater o conceito de proposição, bem como a relação entre S e p, na descrição do conhecimento em que S sabe que p.
E então? Qual a importância do livro para mim?
O livro foi fundamental para meu entendimento da Teoria do Conhecimento. Diferentemente de Dan O'Brien em Introdução à Teoria do Conhecimento, o texto de Oliva me pareceu mais fácil de entender. Ele parte de afirmações para explicar uma tese e não de negações como faz O'Brien. Além disso, o uso de analogias contribui para a assimilação dos conceitos. Senti, no entanto, a necessidade de aprofundar os estudos sobre o conceito de crença, sobre as fontes do conhecimento e a relação entre o sujeito e as crenças.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.