A ESCOLA COMO CERNE POLÍTICO-EDUCACIONAL DO PROCESSO DE TOTALIZAÇÃO

July 4, 2017 | Autor: Eduardo Molina | Categoria: Geography
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Anais do V Seminário de Geografia do Norte do Paraná XI Encontro de Ensino XXIX Semana de Geografia da UEL 26 a 30 de novembro de 2013 – Londrina/PR

A ESCOLA COMO CERNE POLÍTICO-EDUCACIONAL DO PROCESSO DE TOTALIZAÇÃO

EIXO: (Ensino de Geografia e outros)

Anais do V Seminário de Geografia do Norte do Paraná XI Encontro de Ensino XXIX Semana de Geografia da UEL 26 a 30 de novembro de 2013 – Londrina/PR

A ESCOLA COMO CERNE POLÍTICO-EDUCACIONAL DO PROCESSO DE TOTALIZAÇÃO Eduardo Valero Molina1 - Universidade Estadual de Londrina [email protected] RESUMO

O presente texto tem por objetivo debater teoricamente o processo de totalização descrito por Santos (1996) junto a atual situação escolar brasileira, seus fatores internos e externos que condicionam a realidade de tensão e confrontamento constante entre múltiplos atores que intervêm no cotidiano escolar; bem como das políticas que oferecem suporte constitucional ao modelo “economicista” adotado a partir das diretrizes internacionais para o desenvolvimento da educação que ganharam força pós 1990 com o advento neoliberal. Outra questão pautada diz respeito às transformações da relação professor/aluno como resultado da adoção dessas diretrizes. Neste sentido, espera-se concluir esta análise com uma leitura crítica e otimista do cenário escolar partindo da reviravolta ideológica (no sentido do despertar social) ocasionada pelas manifestações atuais em prol a melhorias políticas no Brasil, sendo esta uma feição simbólica intrigante do processo de totalização. A opção metodológica pela categoria totalização, que será mais bem especificada adiante, representa a reflexão da escola como um fator de equilíbrio que tem a noção de reprodução social enquanto essência da transformação da realidade, seja pela transmissão histórica do conhecimento, seja pelo papel decisivo (político, educacional, social...) que desempenha na sociedade como um todo, adquirindo assim um sentido simbólico, como forma-conteúdo, não se limitando a um objeto simplório escasso de funções sociais. Palavras-chave: Totalização, escola, política-educacional. INTRODUÇÃO As várias formas de transmissão social de conhecimento, primitivas ou modernas,

como

as

pinturas

rupestres,

estórias,

corporações

de

ofício,

universidades, entre outros, demonstram nitidamente como fora necessário o desenvolvimento da linguagem para que de fato se efetivasse um progresso técnico na sociedade, pois apenas a transmissão adiante de tal conhecimento poderia garantir a continuidade dos benefícios por ele gerados. Pensando numa perspectiva temporal, tal progresso técnico – que é contínuo devido à linguagem - logo encontrase constantemente em transformação, modificando consigo a própria sociedade como 1

um

todo,

porém

não

de

maneira

uniforme,

tais

transformações

Aluno de Mestrado em Ciência e Sistemas de Informações Geográficas pela Universidade Nova de Lisboa (PT).

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qualitativamente distribuem-se pelo mundo de acordo com uma série de interesses de ordem macro e micro política, beneficiando alguns, outros nem tanto, outros nada; tendo a educação um papel crucial no equilíbrio prático desta gangorra que por natureza favorece o lado economicamente mais pesado. Assim sendo, o processo de totalização diz respeito a essas transformações constantes da realidade partindo da correlação entre os processos ditos universais (que compreendem uma escala global de ações) e os particulares (que abrangem uma escala local). A atualidade deve ser vista como realização do interesse objetivo do todo, através de fins particulares. O sentido da atualidade [...] vem do valor eu as coisas têm para elas mesmas, para os outros e para o todo. [...] A atualidade é unidade do universal e do particular: este aparece como se fosse separado, existindo por si, mas é sustentado e contido no todo. O particular se origina no universal e dele depende. (SANTOS, 1996, p.98) A fim de uma explicação metodológica breve para não cairmos em contradição em relação aos conceitos, também será especificada a noção de Totalidade, que pode ser compreendida como a unidade de todas as coisas do universo materializada no presente (nas paisagens), e como também nos diz Santos (1996, p. 95), seria o resultado na realidade do processo de totalização, este compreendendo a imbricação do passado, presente e futuro. A Totalidade está sempre em movimento, num incessante processo de totalização, nos diz Sartre. Assim, toda totalidade é incompleta, porque está sempre buscando totalizar-se. Não é isso mesmo o que vemos na cidade, no campo ou em qualquer outro recorte geográfico? Tal evolução retrata o movimento permanente que interessa à análise geográfica: a totalização já perfeita, representada pela paisagem e pela configuração territorial e a totalização que se está fazendo, significada pelo que chamamos de espaço. Se o ser é existência em potência, segundo Sartre, e a existência é o ser em ato, a sociedade seria assim o Ser e o espaço a Existência. É o espaço que, afinal, permite à sociedade global realizar-se como fenômeno. (SANTOS, 1996, p. 96) Dito isto, em qual escala processual poderíamos analisar a escola em relação ao processo de totalização? Esta, enquanto um objeto funcional da sociedade por fundamentalmente produzir e reproduzir a linguagem e o conhecimento. Há de se

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levar em conta tanto a abrangência da sua função social como a política que direciona tal função, pois a transformação qualitativamente positiva da sociedade no espaço muito depende da natureza do conhecimento que é passado, e se este de fato está para a sociedade como um todo. Como é óbvio que não está, tal transformação (cuja é social e espacial, envolvendo o Ser e a existência), tende a um desequilíbrio que está estampado nas relações sociais internas e externas às escolas carentes do Brasil. Portanto, aqui a escola será considerada um fator de equilíbrio entre tais processos (internos e externos), pois por muito ela se faz em escala local refletindo as necessidades dos bairros, comunidades, no entanto as verticalidades se fazem plenamente presentes devido às diretrizes políticas internacionais para educação que acabam por produzir, com um pacote de medidas, o destino educacional dos países em desenvolvimento. Refletir sobre progresso sob este ângulo de fato abre a muitas questões, porém qual seria a solução para tais questões? A começar,

rediscutir

categoricamente a educação de maneira interdisciplinar procurando as lacunas desta em cada um dos aspectos científicos, bem como na totalidade aqui pretendida, parece um caminho adequado quanto à argumentação política de medidas concretas para o desenvolvimento da educação, da escola, do professor e do aluno, unindo, portanto as dimensões à existência... Ao desenvolvimento do espaço geográfico como um todo. O todo somente pode ser conhecido através do conhecimento de suas partes e as partes somente podem ser conhecidas através do conhecimento do todo. Essas duas verdades são, porém, parciais. Para alcançar a verdade total, é necessário reconhecer o movimento conjunto do todo e das partes através do processo de totalização. (SANTOS, 1996, p. 96)

1. ESCOLA: UM LUGAR EM DISPUTA O fato da escola hoje ser um lugar em disputa ocorre devido à imbricação de interesses internos e externos que nem sempre estão em favor de um desenvolvimento social pleno, exemplificando, a dificuldade de autonomia da escola em relação a suas reais necessidades e a confusão administrativa de alocação dos

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recursos estaduais (quando estes existem) muitas vezes não repassados por falta de informação propriamente dita para as escolas. Isto reflete-se na compra de computadores para onde não há salas ou infraestrutura elétrica necessária ou mesmo bebedouros com água potável para os alunos; na gestão escolar desprovida de informações e capacitação; na ausência de acessibilidade, dentre outras consequências. Portanto, tal imbricação de fatores internos e externos tem uma manifestação mais ampla no espaço geográfico devido à própria extensão da escola (o bairro, a quadra, a casa do aluno...). Afim novamente de um esclarecimento metodológico, a opção pela categoria Lugar para discutir este ponto justifica-se pelo significado simbólico que a escola possui por natureza em relação à sociedade, sendo acima de tudo um local de socialização e aprendizado, capaz de plantar as ideias para uma realidade mais justa. Ou seja, a escola é um objeto dotado de espacialidade e relações sociais, um lugar, que está no cerne da transformação da realidade, do processo de totalização. Os “atores” sintagmáticos desta relação de interesses em meio à escola serão aqui classificados em três grupos de acordo com suas funções históricas: o grupo político-econômico, formado primordialmente pelas corporações e seu interesse em lucrar (grandes editoras de livros didáticos, redes de universidades particulares...); o grupo político-mediador, formado principalmente por professores que podem ou não assumir uma postura diante da realidade escolar; e o grupo apolítico, formado primordialmente pelos discentes, cujos por estarem inseridos numa escola onde a convergência de interesses induz a uma problemática, apenas reproduzem o que lhes é posto como verdade absoluta (verdades midiáticas). Partindo desta divisão de papéis, podemos assim refletir sobre como tais interferem na realidade escolar de acordo com os seguintes movimentos: de dentro para fora, de fora para dentro e de dentro para o todo. Analisando a ação heterogênea dos grupos (político-econômico, políticomediador e apolítico) combinada aos movimentos internos e externos acima colocados, chegamos as seguintes conclusões:  O grupo político-econômico, representado pelas corporações onipotentes da educação, foca sua atuação nas exterioridades, no movimento de fora para

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dentro, onde seus interesses por vezes sobrepõem as reais necessidades da sociedade por meio do monopólio da produção de livros didáticos, financiamento das atividades e infraestrutura escolar, oferta de cursos de licenciatura de baixo nível (sejam eles a distância ou presenciais), além das interferências propriamente ligadas a política nacional de diretrizes e bases por meio dos preceitos neoliberais adotados pela visão economicista (reducionista) da educação. A aliança entre capital e educação (que não é de toda ruim e também há de ser considerada pelo seu lado positivo) provoca uma inversão de valores devido aos próprios traços de personalidade corporativistas, onde a forma adquire mais valor de troca que o conteúdo, desequilibrando a relação; em momentos de globalização, abrir mão de tal recurso é negligenciar o próprio processo criticado, todavia tais alianças deveriam partir do pressuposto humanizado do qual o capital não dispõe. Neste caso, a efetividade de políticas públicas afins de melhor avaliação de conteúdo de livros didáticos e cursos em geral, além de maior autonomia escolar (qualificada e informada), mostra-se indispensável.  O grupo político-mediador, representado principalmente por professores, possui um papel dual neste cenário, onde pode atuar (de acordo com seus preceitos ideológicos e analíticos, bem como da sua formação e atualização contínua de conteúdos) como um manipulador-manipulado, que apenas transmite os conteúdos previamente selecionados sem contemplar a dimensão

dialética

dos

fatos

históricos,

geográficos,

matemáticos,

linguísticos, entre outros; ou como um ator efetivo de equalização social, não se limitando ao livro didático e tomando aescola como um “espaço que, ao mesmo tempo, reproduz [o processo de desigualdades] também pode contribuir para o desvelamento das relações travadas para manter o status quo da sociedade.” (SAPELLI, 2004, p.4). A constante atualização dos conteúdos por parte dos professores, bem como a pró-atividade e envolvimento quanto a questões políticas e acadêmicas é fundamental para que de fato mudanças se consolidem na educação brasileira, pois estas devem partir de dentro para o todo, confrontando-o, pois esperar a boa vontade dos interesses externos à escola parece um tanto quanto ilusório.  O grupo apolítico, formado basicamente por estudantes de todos os níveis do ensino público e privado, acaba como cobaia e reflexo deste sistema um tanto

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quanto fechado a interesses específicos, sendo então a fatia, em tese, mais prejudicada por tal, todavia não podemos negligenciar o fato de este ser um regime crônico de adestramento social (SAPELLI, 2004) pelo qual se reproduzem as desigualdades no Ser e na Existência (sociedade e espaço). Entre o ensino público e privado, colocados aqui num mesmo pacote por uma necessidade sistemática do trabalho, há de se considerar alguns aspectos: em termos qualitativos, podemos aproximar ensino básico público e ensino superior privado, enquanto por outro lado, ensino básico privado e ensino superior público, não como uma lei geral, pois existem ótimas exceções, todavia esta dualidade é muito complexa pela própria lógica estabelecida, sendo a política de cotas e o exame nacional do ensino médio instrumentos na tentativa desta equalização. Quanto à infraestrutura, existem diferenças, porém para os dois lados, há colégios estaduais com boa infra, por outro lado, particulares com péssima e vice-versa. Neste sentido, o aperfeiçoamento destas políticas, bem como a analise constante dos resultados por elas obtido se faz essencial para a manutenção melhor equilibrada das vagas no ensino público, principalmente superior. O movimento de dentro para o todo na especificidade escolar nos remete à noção de totalidade, ou seja, a materialidade destas problemáticas na sociedade e no espaço, devido justamente ao impacto qualitativo direto que a escola tem sobre a sociedade. Desta forma, o processo de totalização tem como cerne qualitativo a escola, tendo esta um papel mediador entre os interesses internos e externos à sociedade. A dimensão simbólica da escola que é responsável este elo, pois esta ainda é uma formadora de opiniões e ideias que podem trazer novos sentidos às transformações sociais, e as transformações sociais são capazes de consolidar uma nova perspectiva para a escola, como por exemplo, as manifestações atuais em prol a melhorias políticas que muito tangem a esfera da educação no país. Todavia, não sendo esta nova perspectiva escolar qualitativa contemplada de fato nas mudanças políticas, ainda haverá o fomento da educação assistida por parte de interesses econômicos externos. [...] O presente une as coisas, mas o momento seguinte as separa, o que permite distingui-las. Cada símbolo guarda a

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identidade, não importa qual seja o contexto, mesmo numa situação de movimento e mudança. Em outras palavras, o movimento da sociedade, isto é, o movimento da totalidade (e do espaço) modifica a significação de todas as variáveis constitutivas, também a do símbolo, porque este não segue o movimento. Por isso mesmo, a cada divisão do trabalho, a cada nova transformação social, há, paralelamente, para os fabricantes de significados, uma exigência de renovação das ideologias e dos universos simbólicos, ao mesmo tempo em que, aos outros, tornam-se possíveis o entendimento do processo e a busca de um sentido. (SANTOS, 1996, p.103)

2. A RELAÇÃO CONJUNTA E CONTÍUA ENTRE MOVIMENTOS E GRUPOS Devido à dinâmica propriamente dita das transformações sociais e espaciais, ou seja, do processo de totalização, se faz necessária a compreensão conjunta e contínua entre os grupos acima citados e a manifestação dos movimentos (da ação entre as escalas) que permeiam a construção quantitativa e qualitativa do processo por conta das características simbólicas da escola. Em termos analíticos, a separação dos grupos e movimentos é fundamental, todavia, no movimento da realidade estes ocorrem simultaneamente devido à imbricação da parte e do todo. A totalidade como latência é dada por suas possibilidades reais, mas histórica e geograficamente irrealizadas. Disponíveis até então, elas se tornam realizadas (historicizadas, geografizadas) através da ação. É a ação que une o Universal e o Particular. Levando o universal ao Lugar, cria uma particularidade. E esta sobrevive, como Particular, ao movimento do todo, para ser ultrapassada pelos novos movimentos. A particularidade ultrapassada precede a universalidade atual e sucede à universalidade defunta. Há, pois, um movimento interativo no qual particularidade e universalidade fertilizam-se mutuamente. (SANTOS, 1996, p.99, grifo nosso) Esta relação entre os grupos e sua escala de ação materializa-se no atual cotidiano escolar, nas suas contradições e possibilidades, todavia, no que tange à escala local, sem dúvida o melhor preparo da administração escolar é fundamental para um processo qualitativamente positivo, tanto na escola, como no todo. A reflexão acerca dos fatores acima colocados nos remete a compreender dialeticamente como estes ocorrem de fato no cotidiano escolar, todavia a consideração da escola enquanto escala espacial de análise atenta para a

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manifestação conjunta e espacialmente desigual destes fatores nas escolas brasileiras, partindo da compreensão de Libâneo (2012, p.12), na dualidade escola dos ricos e escolas dos pobres. Em face desses problemas, circula no meio educacional uma variedade de propostas sobre a função da escola, propostas estas frequentemente antagônicas indo desde que as que pedem o retorno da escola tradicional, até as que preferem que ela cumpra missões sociais e assistenciais. Ambas as posições explicitariam tendências polarizadas, indicando o dualismo da escola brasileira em que, num extremo, estaria a escola sentada no conhecimento, na aprendizagem e nas tecnologias, voltada aos filhos dos ricos, e em outro, a escola do acolhimento social, da integração, voltada aos pobres, primordialmente, a missões sociais de assistência e apoio as crianças. (LIBÂNEO, 2012, p.16) A simultaneidade de movimentos internos e externos junto à continuidade dos grupos por parte da reprodução social assistida acaba por materializar-se neste dualismo. Curioso o fato de ambas (escola dos ricos e escolas dos pobres) serem fruto do mesmo “capital” que presume-se gerador do problema, sendo portando um dualismo de fundo comum. Além do fato colocado, deve-se lembrar de que tal simultaneidade de movimentos e a continuidade de controle ideológico dos grupos afeta diretamente outras modalidades de ensino, como o ensino a distância (EAD), educação para portadores de necessidades especiais, educação para jovens e adultos (EJA), ensino

técnico-profissionalizante,

particularidades,

porém

contidos

universidades; no

mesmo

cada pacote

qual

com

economicista

suas para

“desenvolvimento mundial da educação”. Tendo por base a conjuntura macropolítica que atualmente ainda utiliza-se das diretrizes iniciadas na década de 1990 com o neoliberalismo, ou seja, lucrar o máximo possível em detrimento qualitativo dos conteúdos e principalmente do professor, sem falar nos alunos. A relação professor/aluno nesta perspectiva acaba por suscitar uma defasagem explícita do papel do professor, que assume exponencialmente a função de reprodutor-manipulado de fatos pelos conteúdos, perdendo assim o caráter científico e bilateral desta relação. O processo ensino-aprendizagem apenas se desenvolverá com esta relação funcionando corretamente, sem prejudicar nenhum dos lados.

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UMA CONSIDERAÇÃO Acreditamos hoje estar presenciando um novo momento de transformações político-ideológicas no Brasil, com o espraiamento de manifestações sociais, a eclosão de um movimento neo-nacionalista em prol a mudanças políticas concretas, além do pleno apoio popular a este movimento, dentre outras feições que anseiam melhorias em todas as esferas sociais. Tais manifestações são reflexo direto da propagação da informação nas lacunas sociais, que por intermédio de partidos políticos, organizações não governamentais, associações de bairro, sindicatos, entre outros (mesmo que tendenciosos), exigem um novo contexto para o debate político nacional. A informação enquanto técnica mostra-se estreitamente ligada ao movimento bilateral de dentro para o todo (do lugar para o universal) e vice-versa, pois num plano de relações virtuais organizadas, efetivam-se ações concretas na sociedade, as próprias manifestações são um exemplo claro desta condição fluida do espaço (as redes de comunicação). Neste sentido, nos inserimos em tese na parcela do grupo político-mediador otimista, crítica e progressista, crendo assim na possibilidade de mudanças concretas que venham a imprimir uma nova perspectiva política para que principalmente o grupo dito “apolítico” adquira um semblante qualitativo, superando a mera conquista por resultados quantitativos que pauta o modelo economicista neoliberal. Este trabalho é fruto de reflexões realizadas durante o período de estágio de vivência docente para a conclusão do curso de licenciatura em Geografia, cujo fora realizado entre julho e setembro deste ano no colégio estadual Marcelino Champagnat (Londrina/PR) na turma 9º A, período este que coincidiu com a eclosão das manifestações por todo o país. Portanto, a motivação para este ensaio teórico se deve as discussões realizadas com os alunos a respeito das consequências práticas das manifestações na vida de cada um deles, deixando muito claro o papel da escola e do professor neste caminho. Pode-se concluir por esta ótica que socialmente as manifestações em prol a melhorias políticas no Brasil representam a reconstrução da totalidade, a própria

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materialização do processo de totalização, porém numa escala complexa de análise pelo fato da repercussão e ação internacional do movimento. O que requer um foco específico nas futuras transformações socioespaciais de ordem política no país, verificando se o que fora reivindicado está sendo cumprido, sendo assim, equipes interdisciplinares poderiam analisar se nos próximos oito anos fora cumprido um percentual admissível de medidas quanto a melhorias políticas e de educação a curto e longo prazo. Os próprios ministérios deveriam fazê-los, todavia, devido ao saldo negativo socialmente somado, por que não uma equipe específica para as reivindicações imediatas? Assim sendo, compreender o processo de totalização partindo do meio escolar se faz indispensável, cabendo principalmente ao professor atentar os alunos para tais transformações, bem como a efetivação destas no espaço, na sociedade, na vida de cada um dos alunos. Pois a limitação aos conteúdos programáticos, não desperta a semente da curiosidade para além da sala de aula, sendo esta “extensão” do conhecimento o grande desafio para que o processo de totalização possa ser regido com maior equilíbrio tanto no Ser como na Existência. REFERÊNCIAS CAVALCANTI, L. S. Geografia, escola e construção de conhecimentos. Campinas: Editora Papirus, 1998. CALLAI, H. Estudar o lugar para compreender o mundo. In: CASTROGIOVANNI, A. C. (Org.). Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2000. HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996, SAPELLI,

Marlene

Lucia

Siebert.

Escola:

espaço

de adestramento

contradição? Cascavel/PR: Editora Coluna do Saber, 2004.

ou

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LIBÂNEO, José Carlos. O dualismo perverso da escola pública brasileira: escola do conhecimento para os ricos, escola do acolhimento social para os pobres. Revista Educação e Pesquisa, São Paulo, v.38, n.1, p 13 – 28, 2012.

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