A estrada da caridade no livro Há 2000 anos de Emmanuel

July 4, 2017 | Autor: Candice Gunther | Categoria: Espiritismo
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Estrada da Caridade no livro Há 2000 anos

Roma, seus governantes, seus senadores, construíram muitas estradas a fim de que seu intuito implantar a Pax Romana em todos os povos fosse viável. Paulo utilizou-se de sua cidadania romana para viajar livremente por estas estradas levando o evangelho ao mundo. Emmanuel também construiu suas estradas, mas através de palavras. Sim! Palavras-chaves que nos indicam trechos de grande importância, revelando outros aspectos dos romances que não raro nos passam desapercebidos. Já escrevemos em outra oportunidade sobre a Estrada do Perdão no livro Paulo e Estevão. A palavra perdão aparece 21 vezes no livro e para entender suas lições, fizemos um contraponto com o Cap. X do Evangelho Segundo o Espiritismo que, não por coincidência, possui 21 itens. No livro Renúncia, também já tivemos a oportunidade de trilhar uma belíssima estrada, através da palavra Misericórdia que aparece 28 vezes no livro, desta feita fizemos um contraponto com o Cap. V do Evangelho Segundo o Espiritismo. E os textos se complementam, o evangelho ilumina o romance e muito nos ensina. Pois bem, são 5 os romances e, creio eu, esta possibilidade está nos 5. Iremos através deste estudo estudar mais uma estrada, agora no livro Há 2000 anos. Na introdução, Emmanuel nos fala de seus sentimentos ao relatar uma de suas vidas passadas "Algum dia, se Deus mo permitir, falar-vos-ei do orgulhoso patrício Publio Lentulus, a fim de algo aprenderdes nas dolorosas experiências de uma alma indiferente e ingrata.” O orgulho foi um grande entrave nesta experiência encarnatória de Emmanuel e qual a mais sublime forma de trabalharmos o nosso orgulho? No Evangelho Segundo o Espiritismo encontramos um norte: “O Cristo foi o iniciador da mais pura, da mais sublime moral, da moral evangélico-cristã, que há de renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmãos; que há de fazer brotar de todos os corações a caridade e o amor do próximo e estabelecer entre os humanos uma solidariedade comum; de uma moral, enfim, que há de transformar a Terra, tornando-a morada de Espíritos superiores aos

que hoje a habitam.” Emmanuel foi tocado pelo amor, e aos poucos foi permitindo que a caridade brotasse em seu coração...vejamos, então, a Estrada da Caridade. A palavra CARIDADE aparece 14 vezes no livro Há 2000 anos e em cada uma de suas aparições vemos momentos importantes na vida dos personagens, para iluminarmos as lições do livro, vamos acompanhar estes trechos da estrada usando o Cap. XV do ESE, que possui 10 itens.

Primeiro Trecho - Cap. XV ESE 1. Ora, quando o filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, sentar-se-á no trono de sua glória; – reunidas diante dele todas as nações, separará uns dos outros, como o pastor separa dos bodes as ovelhas – e colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda. Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino que vos foi preparado desde o princípio do mundo; – porquanto, tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; careci de teto e me hospedastes; – estive nu e me vestistes; achei-me doente e me visitastes; estive preso e me fostes ver. Então, responder-lhe-ão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? – Quando foi que te vimos sem teto e te hospedamos; ou despido e te vestimos? – E quando foi que te soubemos doente ou preso e fomos visitar-te? – O Rei lhes responderá: Em verdade vos digo, todas as vezes que isso fizestes a um destes mais pequeninos dos meus irmãos, foi a mim mesmo que o fizestes. Dirá em seguida aos que estiverem à sua esquerda: Afastai-vos de mim, malditos; ide para o fogo eterno, que foi preparado para o diabo e seus anjos; – porquanto, tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber; precisei de teto e não me agasalhastes; estive sem roupa e não me vestistes; estive doente e no cárcere e não me visitastes. Também eles replicarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome e não te demos de comer, com sede e não te demos de beber, sem teto ou sem roupa, doente ou preso e não te assistimos? – Ele então lhes responderá: Em verdade vos digo:

todas as vezes que faltastes com a assistência a um destes mais pequenos, deixastes de tê-la para comigo mesmo. E esses irão para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna. (S. MATEUS, 25:31 a 46.)

Primeiro Trecho Há 2000 anos - Ilustríssimo senador, sou André, filho de Gioras, operário modesto e paupérrimo, não obstante numerosos membros de minha família terem atribuições importantes no Templo e no exercício da Lei. Ouso vir até vós, reclamando o meu filho Saul, preso, há três dias, por vossa ordem e remetido diretamente para o cativeiro Perpétuo das galeras... Peço-vos clemência e caridade na reparação dessa sentença de terríveis efeitos para a estabilidade da minha casa pobre... Saul é o meu primogênito e nele deponho toda a minha esperança paternal... Reconhecendo-lhe a inexperiência da vida, não venho inocentá-lo da culpa, mas apelar para a vossa clemência e magnanimidade, em face da sua ignorância de rapaz, jurando-vos, pela Lei, encaminhá-lo doravante pela estrada do dever austeramente cumprido... Comentário – O filho de André de Gioras estava preso a mando de Publio Lentulus, quando estavam chegando na cidade, Saul jogou uma pedra em Lívia. A pena imposta pelo Senador foi dura e severa, afinal, ele precisava demonstrar o poder ao chegar em sua nova residência. Mas movido por orgulho, ele não retrocedeu aos chamados para abrandar a pena e isto trouxe duras consequências para ele e sua família, como se vê mais adiante no livro. Tentou, dias depois, libertar Saul, instado por sua consciência de que fora muito severo em sua sentença, porém, já era tarde, o jovem havia fugido. Quantas vezes em nossas vidas temos a oportunidade de fazer o bem e adiamos. Quantas vezes somos chamados a sermos indulgentes e nosso orgulho nos encaminha para atitudes severas e duras. Eis amigos, o primeiro trecho, um convite a caridade, um chamado de Jesus a Publio.

Segundo trecho do Cap. XV do ESE 2. Então, levantando-se, disse-lhe um doutor da lei, para o tentar: Mestre, que preciso fazer para possuir a vida eterna? – Respondeu-lhe Jesus: Que é o que está escrito na lei? Que é o que lês nela? – Ele respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma, com todas as tuas forças e de todo o teu espírito, e a teu próximo como a ti mesmo. – Disse-lhe Jesus: Respondeste muito bem; faze isso e viverás. Mas, o homem, querendo parecer que era um justo, diz a Jesus: Quem é o meu próximo? – Jesus, tomando a palavra, lhe diz: Um homem, que descia de Jerusalém para Jericó, caiu em poder de ladrões, que o despojaram,cobriram de ferimentos e se foram, deixando-o semimorto. – Aconteceu em seguida que um sacerdote, descendo pelo mesmo caminho, o viu e passou adiante. – Um levita, que também veio àquele lugar, tendo-o observado, passou igualmente adiante. – Mas, um samaritano que viajava, chegando ao lugar onde jazia aquele homem e tendo-o visto, foi tocado de compaixão. – Aproximouse dele, deitou-lhe óleo e vinho nas feridas e as pensou; depois, pondo-o no seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele. – No dia seguinte tirou dois denários e os deu ao hospedeiro, dizendo: Trata muito bem deste homem e tudo o que despenderes a mais, eu te pagarei quando regressar. Qual desses três te parece ter sido o próximo daquele que caíra em poder dos ladrões? – O doutor respondeu: Aquele que usou de misericórdia para com ele. – Então, vai, diz Jesus, e faze o mesmo. (S. LUCAS, 10:25 a 37.)

Segundo Trecho do livro Há 2000 anos. Não sei se conheceis Copônio, velho centurião destacado na cidade a que me referi, mas cumpre-me cientificar-vos do fato por mim observado. Depois que a voz do profeta de Nazaré havia deixado uma doce quietude na paisagem, o meu conhecido apresentou-lhe o filhinho moribundo, implorando caridade para a criança que agonizava. Vi-o elevar os olhos radiosos para o firmamento, como se obsecrasse a bênção dos nossos deuses e, depois, notei que suas mãos tocavam o menino, que, por sua vez, parecia haver experimentado um fluxo de vida nova,

levantando-se de súbito, a chorar e buscando o carinho paterno, após descansar no profeta os olhinhos enternecidos... Comentário Publio ouviu a narrativa sobre as curas que Jesus estava realizando, ouviu também sobre o sentimento que causava nas pessoas, sobre sua mansidão e seu imenso amor. Jesus tornava-se o próximo de todos que dele se aproximavam, independente de qualquer característica ou circunstância, ele foi a personificação do amor. Quantas vezes nós já ouvimos falar de Jesus? Há quantas vidas o evangelho bate a nossa porta e nós permanecemos indiferentes, não levando-o para a nossa vida cotidiana, para as nossas ações em relação aos que nos cercam? Eis o segundo trecho, mais um chamado ao coração do Publio, que estava de portas cerradas para a boa nova de Jesus.

Terceiro Trecho do Cap. XV do ESE 3. Toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinos, ele aponta essas duas virtudes como sendo as que conduzem à eterna felicidade: Bemaventurados, disse, os pobres de espírito, isto é, os humildes, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que têm puro o coração; bem-aventurados os que são brandos e pacíficos; bem-aventurados os que são misericordiosos;amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros o que quereríeis vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas, se quiserdes ser perdoados; praticai o bem sem ostentação; julgai-vos a vós mesmos, antes de julgardes os outros. Humildade e caridade, eis o que não cessa de recomendar e o de que dá, ele próprio, o exemplo. Orgulho e egoísmo, eis o que não se cansa decombater. E não se limita a recomendar a caridade; põe-na claramente e em termos explícitos como condição absoluta da felicidade futura. No quadro que traçou do juízo final, deve-se, como em muitas outras coisas, separar o que é apenas figura, alegoria. A homens como os a quem falava, ainda incapazes de compreender as questões puramente espirituais, tinha ele de apresentar imagens materiais chocantes e próprias a impressionar. Para melhor apreenderem o que dizia, tinha mesmo de não se afastar

muito das idéias correntes, quanto à forma, reservando sempre ao porvir a verdadeira interpretação de suas palavras e dos pontos sobre os quais não podia explicar-se claramente. Mas, ao lado da parte acessória ou figurada do quadro, há uma idéia dominante: a da felicidade reservada ao justo e da infelicidade que espera o mau. Naquele julgamento supremo, quais os considerandos da sentença? Sobre que se baseia o libelo? Pergunta, porventura, o juiz se o inquirido preencheu tal ou qual formalidade, se observou mais ou menos tal ou qual prática exterior? Não; inquire tão-somente de uma coisa: se a caridade foi praticada, e se pronuncia assim: Passai à direita, vós que assististes os vossos irmãos; passai à esquerda, vós que fostes duros para com eles. Informa-se, por acaso, da ortodoxia da fé? Faz qualquer distinção entre o que crê de um modo e o que crê de outro? Não, pois Jesus coloca o samaritano, considerado herético, mas que pratica o amor do próximo, acima do ortodoxo que falta com a caridade. Não considera, portanto, a caridade apenas como uma das condições para a salvação, mas como a condição única. Se outras houvesse a serem preenchidas, ele as teria declinado. Desde que coloca a caridade em primeiro lugar, é que ela implicitamente abrange todas as outras: a humildade, a brandura, a benevolência, a indulgência, a justiça, etc., e porque é a negação absoluta do orgulho e do egoísmo.

Terceiro Trecho do livro Há 2000 anos - Não esquecerei vossas ordens e espero que possais ir até à casa de Simão para visitá-lo, antes de vos retirardes destes lugares... Ainda hoje - prosseguiu em tom confidencial - devo encontrar na cidade o velho tio Simeão, que veio de Samaria especialmente para receber a sua bênção e os seus ensinos. Não sei se a senhora sabe que entre os samaritanos e os galileus há rixas muito antigas; mas o Mestre, muitas vezes, nas suas lições de amor e fraternidade, tem louvado os primeiros pela sua caridade leal e sincera. Numerosos milagres já foram efetuados por ele, na Samaria, e meu tio é um desses beneficiados que hoje virá receber a bênção de suas mãos consoladoras!... Comentário

Primeiramente é interessante observar esta referência a Samaria, pois é justamente do que trata este texto do ESE que explicando a parábola do Bom Samaritano a luz da doutrina espírita nos amplia a vista para o entendermos. No trecho do livro Há 2000 anos, Lívia é apresentada ao cristianismo e sua alma acostumada a caridade e ao amor ao próximo não tem dificuldades em entender a boa nova e a abraça-la como doutrina consoladora. Vemos um contraponto entre a resistência de Públio e a docilidade de Livia ao evangelho. E, sem querer nos adiantarmos demais, será justamente a postura caridosa de Lívia para com a intransigência de Publio, que promoverá em seu espírito a mudança derradeira. Quando Kardec nos ensina que fora da caridade não há salvação, recordemos de Lívia, que não apenas salvou-se, mas pela caridade que emanava de seu coração, a muitos conduziu a salvação. A lição também é convite para que nos mantenhamos persistentes no evangelho e em sua proposta de amor, paciência, perseverança. Inspiremo-nos nestes exemplos sublimes, como Livia o foi.

Quarto Trecho do Cap. XV do ESE 4. Mas, os fariseus, tendo sabido que ele tapara a boca aos saduceus, se reuniram; – e um deles, que era doutor da lei, foi propor-lhe esta questão, para o tentar: – Mestre, qual o grande mandamento da lei? – Jesus lhe respondeu: Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito. – Esse o maior e o primeiro mandamento. – E aqui está o segundo, que é semelhante ao primeiro: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. – Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos. (S. MATEUS, 22: 34 a 40.)

Quarto Trecho Há 2000 anos - Senhora, Deus abençoe os vossos bons propósitos. Em Cafarnaum, os meus parentes são muito pobres e muito humildes, mas vossa figura está ali no santuário da gratidão de todos, bastando uma palavra vossa para que se ponham à vossa disposição, como escravos.

- Para mim não existe fortuna que se iguale a essa, da paz e do sentimento. Não procurarei o profeta para solicitar-lhe atenções especiais, porque basta a sua

caridade, no caso de minha filha, hoje sadia e forte, graças à sua piedade de justo, mas tão somente para buscar conforto ao meu coração dilacerado.

Comentário Belíssimo é ler este trecho em que Livia fala da maior fortuna, auxiliar as pessoas sob as luzes do Evangelho, nos ensinando o maior mandamento, amar ao próximo como a si mesmo. Quantos de nós buscamos um templo religioso no intuito de receber as benesses de paz, fraternidade e harmonia. Mas, quão poucos são os que também oferecem os braços para o trabalho, buscando o serviço na seara do Cristo. Novamente é Livia quem personifica o exemplo, a lição. Não procurou Jesus para buscar atenções especiais, buscou o conforto de estar na sua presença e de sentir o seu amor. Sentimo-nos assim? Temos no Cristo um amigo que nos consola ante as duras

Quinto trecho do Cap. XV do ESE 5. Caridade e humildade, tal a senda única da salvação. Egoísmo e orgulho, tal a da perdição. Este princípio se acha formulado nos seguintes precisos termos: “Amarás a Deus de toda a tua alma e a teu próximo como a ti mesmo; toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos.” E, para que não haja equívoco sobre a interpretação do amor de Deus e do próximo, acrescenta: “E aqui está o segundo mandamento que é semelhante ao primeiro”, isto é, que não se pode verdadeiramente amar a Deus sem amar o próximo, nem amar o próximo sem amar a Deus. Logo, tudo o que se faça contra o próximo o mesmo é que fazê-lo contra Deus. Não podendo amar a Deus sem praticar a caridade para com o próximo, todos os deveres do homem se resumem nesta máxima: FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO.

Quinto trecho do livro Renúncia - Então, não é licito esperarmos nenhuma providência mais a beneficio desse homem caridoso e justo, condenado como vulgar malfeitor? Será ele, então, crucificado pelo crime de praticar a caridade e plantar a fé no coração dos seus semelhantes, que ainda não sabem adquiri-la por si próprios? - Infelizmente, assim é... - replicou Pilatos, contrafeito. – Tudo fizemos a fim de evitar os desatinos da plebe amotinada, mas os meus escrúpulos não conseguiram vencer, sendo obrigado a confirmar a pena de Jesus, a contragosto. Comentário Pilatos era um homem poderoso, a mais alta personalidade de sua época, no entanto, como o vemos hoje? Quais as vibrações que seu espírito recebe todas as vezes que se estuda a história da crucificação de Jesus? A máxima apresentada: “Fora da caridade não há salvação” nos convida a uma vida diferente, buscando o norte para nosso agir no amor ao próximo. Nossas chagas, o orgulho e o egoísmo, ainda estão presentes em demasia na humanidade. Pilatos representa bem isso. Estejamos atentos para que amanhã não sejamos nós a sermos olhados da forma como hoje olhamos este homem que teve em suas mãos a vida do governador do orbe e, ainda sim, manteve seu coração fechado, trancafiado pelo orgulho e o egoísmo.

Sexto trecho do Cap. XV do ESE NECESSIDADE DA CARIDADE, SEGUNDO S. PAULO 6. Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa e um címbalo que retine; – ainda quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios, e tivesse perfeita ciência de todas as coisas; ainda quando tivesse toda a fé possível, até ao ponto detransportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. – E, quando houvesse distribuído os meus bens para alimentar os pobres e houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo

isso de nada me serviria. A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; – não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal; não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade; tudo suporta, tudo crê,tudo espera, tudo sofre. Agora, estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; mas, dentre elas, a mais excelente é a caridade (S. PAULO, 1ª Epístola aos Coríntios, 13:1 a 7 e 13.)

Sexto trecho Há 2000 anos Uma brisa suave parecia amenizar as úlceras que o libelo do esposo lhe abrira no coração. Uma voz, que lhe falava aos refolhos mais íntimos da consciência, lembrou-lhe ao espírito sensível que o Mestre de Nazaré também era inocente e expirara, naquele dia, na cruz, sob os insultos de algozes impiedosos. E ele era justo, bom e compassivo. Daqueles a quem mais havia amado, recebera a traição e o abandono na hora extrema do testemunho e, de quantos havia servido com a sua caridade e o seu amor, tinha recebido os espinhos envenenados da mais acerba ingratidão. Ante a visão dos seus martírios infinitos, Lívia consolidou a sua fé e rogou ao Pai Celestial lhe concedesse a intrepidez necessária para vencer as provações aspérrimas da vida.

Comentário Lívia suportou em silêncio, por 25 anos, o distanciomento e frieza de Públio, ante a falsa notícia de que lhe havia traído. E mais uma vez vemos o quão belo é confrontar estes trechos do Evangelho com a Estrada da Caridade. Neste sexto trecho, o evangelho nos lembra da poesia que Paulo escreveu quando estava em Corinto, cidade de Abigail, que já havia desencarnado, mas com toda certeza o inspirou a estas belas letras. Livia, por sua vez, personifica este amor resignado que “tudo suporta, tudo crê,tudo espera, tudo sofre”.

Lembremos deste sublime exemplo em nossos relacionamentos afetivos, não trocando a felicidade do espírito pela suposta alegria de uma vida passageira. Tenhamos a coragem moral de suportar amorosamente as desditas que sofremos, tal como Lívia, lembrando do exemplo sublime de Jesus que na ora derradeira esteve só.

Sétimo trecho do Cap. XV do ESE 7. De tal modo compreendeu S. Paulo essa grande verdade, que disse: Quando mesmo eu tivesse a linguagem dos anjos; quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios; quando tivesse toda a fé possível, até ao ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. Dentre estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade, a mais excelente é a caridade. Coloca assim, sem equívoco, a caridade acima até da fé. É que a caridade está ao alcance de toda gente: do ignorante, como do sábio, do rico, como do pobre, e independe de qualquer crença particular. Faz mais: define a verdadeira caridade, mostra-a não só na beneficência, como também no conjunto de todas as qualidades do coração, na bondade e na benevolência para com o próximo.

Sétimo trecho Há 2000 anos Simeão, que ali vivia sem a companheira que Deus já havia levado e sem os filhos que, por sua vez, já haviam constituído família, em aldeias distantes, assumia a direção de todos, como patriarca venerável na sua calma senectude, relatando os fatos da vida de Jesus como se a inspiração divina o bafejasse em tais instantes, tal a profunda beleza filosófica dos comentários e das preces improvisadas com a amorosa sinceridade do seu coração. Quase todos os presentes, naquela mesma poesia simples da Natureza, como se estivessem ainda bebendo as palavras do Mestre junto do Gerizim, choravam de comoção e deslumbramento espiritual, tocados pela sua palavra profunda e

carinhosa, magnetizados pela formosura das suas evocações saturadas de ensinamentos raros, de caridade e meiguice. Comentário Simeão era um homem simples. Publio, um senador, homem estudado. Ambos, porém, com infinitas possibilidades ante a vida, porém, é necessário reconhecer que Simão soube melhor aproveitá-la, fez da caridade o seu condutor e mesmo em seu ambiente simples e pobre, onde vivia, abraçava e consolava os corações que o procuravam. Forçoso é que pensemos nós como estamos nos colocando diante do mundo? Temos humildade, nos reconhecendo como pessoas falhas e carecedoras da bondade do Cristo? Onde estão depositadas nossas esperanças? No amor do Cristo ou nas honrarias humanas?

Oitavo trecho do Evangelho Segundo o Espiritismo 8. Enquanto a máxima – Fora da caridade não há salvação – assenta num princípio universal e abre a todos os filhos de Deus acesso à suprema felicidade, o dogma – Fora da Igreja não há salvação – se estriba, não na fé fundamental em Deus e na imortalidade da alma, fé comum a todas as religiões, porém numa fé especial, em dogmas particulares; é exclusivo e absoluto. Longe de unir os filhos de Deus, separa-os; em vez de incitá-los ao amor de seus irmãos, alimenta e sanciona a irritação entre sectários dos diferentes cultos que reciprocamente se consideram malditos na eternidade, embora sejam parentes e amigos esses sectários. Desprezando a grande lei de igualdade perante o túmulo, ele os afasta uns dos outros, até no campo do repouso. A máxima – Fora da caridade não há salvação consagra o princípio da igualdade perante Deus e da liberdade de consciência. Tendo-a por norma, todos os homens são irmãos e, qualquer que seja a maneira por que adorem o Criador, eles se estendem as mãos e oram uns pelos outros. Com o dogma – Fora da Igreja não há salvação, anatematizam-se e se perseguem reciprocamente, vivem como inimigos; o pai não pede pelo filho, nem o filho pelo pai, nem o amigo pelo amigo, desde que mutuamente se consideram

condenados sem remissão. É, pois, um dogma essencialmente contrário aos ensinamentos do Cristo e à lei evangélica.

Oitavo trecho Há 2000 anos Araxes, cujo comércio criminoso todos conheciam como fonte inesgotável de filtros milagrosos do amor, da enfermidade e da morte, era um iniciado do antigo Egito, desviado, porém, da missão sacrossanta da caridade e da paz, na sua violenta paixão pelo dinheiro da numerosa clientela romana, então em pletora de vícios clamorosos e na dissolução dos mais belos costumes do sagrado instituto da família.

Comentário Mais uma ligação valorosa entre estes dois livros, vejam que Kardec aponta que qualquer religião que use de exclusivismo, estaria contrária aos ensinamentos do Cristo, eis que o alicerce da caridade estaria fatalmente abalado. O trecho que vemos no livro Há 2000 anos, nos fala de Araxes, um místico de seu tempo, que veio com uma linda missão, mas sucumbiu comercializando os dons que recebeu gratuitamente. E este alerta nos vale para que não condenemos nenhuma religião ou doutrina, mas que olhemos que em todos os lugares onde a caridade seja praticada e buscada com afinco, lá estarão presentes os alicerces para a manifestação do Cristo através de seus amorosos espíritos. Nono trecho do Cap. XV do ESE 9. Fora da verdade não há salvação equivaleria ao Fora da Igreja não há salvação e seria igualmente exclusivo, porquanto nenhuma seita existe que não pretenda ter o privilégio da verdade. Que homem se pode vangloriar de a possuir integral, quando o âmbito dos conhecimentos incessantemente se alarga e todos os dias se retificam as idéias? A verdade absoluta é patrimônio unicamente de Espíritos da categoria mais elevada e a Humanidade terrena não poderia pretender possuí-la, porque não lhe é dado saber tudo. Ela somente pode aspirar a uma verdade relativa e

proporcionada ao seu adiantamento. Se Deus houvera feito da posse da verdade absoluta condição expressa da felicidade futura, teria proferido uma sentença de proscrição geral, ao passo que a caridade, mesmo na sua mais ampla acepção, podem todos praticá-la. O Espiritismo, de acordo com o Evangelho, admitindo a salvação para todos, independente de qualquer crença, contanto que a lei de Deus seja observada, não diz: Fora do Espiritismo não há salvação; e, como não pretende ensinar ainda toda a verdade, também não diz: Fora da verdade não há salvação, pois que esta máxima separaria em lugar de unir e perpetuaria os antagonismos.

Nono trecho Há 2000 anos Afigurava-se-lhes que a voz branda e amiga do apóstolo da Samaria voltava do Reino de Jesus para ensinar-lhes a fé, o cumprimento do dever de caridade fraterna, a resignação e a piedade. Ambas choravam, então, como se nas suas almas sensíveis e carinhosas vibrassem as harmonias de um divino prelúdio da vida celeste. Comentário Ana e Livia recordavam o amigo querido que já partira para a pátria espiritual, Simeão falava-lhes ao coração. A doutrina espírita, o consolador prometido, nos veio trazer a verdade esquecida, a comunicabilidade com os espíritos, as diversas vidas através das sucessivas reencarnações, permitindo a todos, através da verdade revelada, o resgate do cristianismo primitivo. Fora da verdade não há salvação, nos diz o evangelho. Neste trecho, vemos claramente que era comum o intercâmbio com o plano espiritual, era vivenciada a comunhão amorosa com estes espíritos que partiram e que tornavam para lhes consolar e infundir-lhes esperança. Quando trabalhamos em uma casa espírita, precisamos buscar este norte, que seja um lugar onde as pessoas se sintam em paz, acolhidas, amadas. Que não desvirtuamos esta maravilhosa doutrina como o fizemos com as palavras do Cristo, que seu caráter consolador se faça presente hoje e sempre.

Décimo trecho do Cap. XV do ESE 10. Meus filhos, na máxima: Fora da caridade não há salvação, estão encerrados os destinos dos homens, na Terra e no céu; na Terra, porque à sombra desse estandarte eles viverão em paz; no céu, porque os que a houverem praticado acharão graças diante do Senhor. Essa divisa é o facho celeste, a luminosa coluna que guia o homem no deserto da vida, encaminhando-o para a Terra da Promissão. Ela brilha no céu, como auréola santa, na fronte dos eleitos, e, na Terra, se acha gravada no coração daqueles a quem Jesus dirá: Passai à direita, benditos de meu Pai. Reconhecê-los-eis pelo perfume de caridade que espalham em torno de si. Nada exprime com mais exatidão o pensamento de Jesus, nada resume tão bem os deveres do homem, como essa máxima de ordem divina. Não poderia o Espiritismo provar melhor a sua origem, do que apresentando-a como regra, por isso que é um reflexo do mais puro Cristianismo. Levando-a por guia, nunca o homem se transviará. Dedicai-vos, assim, meus amigos, a perscrutar-lhe o sentido profundo e as conseqüências, a descobrir-lhe, por vós mesmos, todas as aplicações. Submetei todas as vossas acoes ao governo da caridade e a consciência vos responderá. Não só ela evitará que pratiqueis o mal, como também fará que pratiqueis o bem, porquanto uma virtude negativa não basta: é necessária uma virtude ativa. Para fazer-se o bem, mister sempre se torna a ação da vontade; para se não praticar o mal, basta as mais das vezes a inércia e a despreocupação. Meus amigos, agradecei a Deus o haver permitido que pudésseis gozar a luz do Espiritismo. Não é que somente os que a possuem hajam de ser salvos; é que, ajudando-vos a compreender os ensinos do Cristo, ela vos faz melhores cristãos. Esforçai-vos, pois, para que os vossos irmãos, observando-vos, sejam induzidos a reconhecer que verdadeiro espírita e verdadeiro cristão são uma só e a mesma coisa, dado que todos quantos praticam a caridade são discípulos de Jesus, sem embargo da seita a que pertençam. – Paulo, o apóstolo. (Paris, 1860.)

Décimo trecho Há 2000 anos - Não me esqueci dessa circunstância. Faz, porém, vinte e cinco anos que Públio segue rumo oposto ao meu caminho e não será demais que, buscando ele hoje a suprema recompensa do mundo, como triunfo final dos seus desejos, busque eu também não a vitória do céu, que não mereci, mas a possibilidade de mostrar ao Senhor a sinceridade da minha fé, ansiosa pelas bênçãos lucificantes da sua infinita misericórdia. Depois, minha querida Ana, é muito grato ao coração sonhar com o seu reino santificado e misericordioso... Vermos, de novo, as mãos suaves do Messias abençoando-nos o espírito, com os seus gestos amplos de caridade e de ternura!... Comentário A mensagem que encerra o Cap. XV do ESE, de Paulo de Tarso nos lembra que a vivência cristã é também um ato de caridade e que pode tocar o coração de outras pessoas. Na noite em que Publio iria receber as honrarias, também intentava fazer as pazes com a Livia, depois de 25 anos. Não foi possível, ela estava presa e foi levada, junto com os escravos e outros cristãos, ao sacrifício, uma morte dolorosa e cruel. Aos nossos olhos, certamente um ato trágico, mas para o espírito imortal de Publio/Emmanuel, um ato definitivo que lhe iria ficar no coração para sempre.

Restam, ainda, quatro trechos do livro Há 2000 anos em que a palavra caridade aparece. Qual a razão? Até o item 10 Livia estava encarnada e foi com sua morte que Publio teve que experimentar o ensinamento através da bendita escola da dor. Todos os chamados amorosos foram rejeitadas por seu coração endurecido pelo orgulho, mas a dor de ver Livia partir, mudou sua vida. Veremos, assim, nos itens 11 a 14 este novo homem surgir, em especial nos dois últimos em que o próprio Senador Romano entoa a sublime palavra caridade, reconhecendo-a como a verdade libertadora para seu espírito imortal.

11 (desencarne de Livia) "Por teu amor, sacrossanto e sublime, florescem todos os risos e todas as lágrimas no coração das criaturas!... "Abençoa, Senhor do Universo, as sagradas esperanças deste Reino. Jesus é para nós o teu Verbo de amor, de paz, de

caridade

e beleza!... Fortalece as nossas aspirações de cooperar em sua Seara

Santa!... 12 (dor de Publio, assistido por Ana, serva e amiga de Livia) Ana, porém, não perdeu o ensejo de consolidar o ensinamento evangélico, acrescentando com doçura: - Mesmo na minha terra, a Lei antiga mandava que se cobrasse olho por olho e dente por dente, mas Jesus de Nazaré, sem destruir a essência dos ensinos do Templo, esclareceu que os que mais erram no mundo são os mais infelizes e mais necessitados do nosso amparo espiritual, recomendando, na sua doutrina de amor e caridade, não perdoássemos uma vez só, mas setenta vezes sete vezes. Públio Lentulus admirava-se de aprender aqueles generosos conceitos da sua criada, dentro dos princípios do perdão irrestrito. Perdoar? Nunca o fizera em suas porfiadas lutas no mundo. Sua educação não admitia piedade ou comiseração para os inimigos, porque todo perdão e toda humildade significavam, para os de sua classe, traição ou covardia. 13 (reconhecimento dos erros passados, Publio inicia nova jornada) Se houvesse entendido bastante a sua caridade, na cura de minha filha, teria conhecido melhor o tesouro espiritual do coração de Lívia, vibrando com o seu espírito na mesma fé, ou caindo juntamente com ela na arena ignominiosa do circo, o que seria suave, em comparação com as lentas agonias do meu destino; teria sido menos vaidoso e mais humano, se lhe houvesse entendido a preceito a lição de fraternidade... 14 (um novo homem, Publio adere ao cristianismo) Minha atual existência teria de ser um imenso rosário de infinitas amarguras, mas vejo tardiamente que, se houvesse ingressado no caminho do bem, teria resgatado um montão de pecados do pretérito obscuro e delituoso. Agora entendo a lição do Cristo como ensinamento imortal da humildade e do amor, da

caridade

e do

perdão – caminhos seguros para todas as conquistas do espírito, longe dos círculos tenebrosos do sofrimento!

Estes quatro itens, 11, 12, 13 e 14 nos mostram quando a caridade efetivamente entrou na vida de Publio. A partida de Livia (11) deixando-o só, apesar de todas as honras e glórias terrenas, desconsolado. A palavra de Ana novamente lhe trazendo as mensagens de Jesus, o chamado do Mestre (12) e por fim, os itens 13 e 14 em que o próprio Publio reconhece que se a caridade estivesse presente em seu coração, em seu agir, sua vida teria sido diferente. Esta estrada não é mensagem ao intelecto, é um caminho aos nossos corações, um chamado, como o que Publio teve quando ouviu alguém contar-lhe das curas de Jesus, como o de Paulo, ainda Saulo, ouviu Estevão na Casa do Caminho, ambos optaram por um caminho mais doloroso, rejeitando a proposta amorosa de Jesus, que nos sopra caminhos de recomeço, de corrigenda. Hoje, nós escolheremos qual estrada queremos trilhar, estes exemplos imorredouros nos convidam a um novo viver. A escolha será de cada um. Decorridos 2000 anos, este espírito tornou-se um dos maiores intérpretes do Evangelho de Jesus, trazendo lições belíssimas e interpretações novas e renovadas através da psicografia de Chico Xavier. E é justamente com uma destas mensagens, que trata da caridade, que encerramos o estudo de hoje, o livro chamase Joia, e não por acaso, a mensagem parece descrever Livia... “Caridade não brilha unicamente na dádiva. Destaca-se nos mínimos gestos do cotidiano. Está no sorriso de compreensão e tolerância; na palavra que tranquiliza; na gentileza para com os desconhecidos; no amparo à criança; no socorro ao doente; na atenção para com quem fala; no acatamento às confidências de um amigo; no silêncio, ante os conceitos agressivos desse ou

daquele adversário;

e no respeito perante os hábitos e as

cicatrizes do próximo. Caridade, enfim, será sempre não fazer a ninguém aquilo que não desejamos se nos faça.”

Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 17.05.2015. Candice Günther

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