A estrada da misericórdia no livro Renúncia de Emmanuel

July 4, 2017 | Autor: Candice Gunther | Categoria: Espiritismo
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LIVRO RENÚNCIA ESTRADA DA MISERICÓRDIA

Trechos do livro em que aparece a palavra Misericórdia (28) sob a luz do Cap. V do Evangelho Segundo o Espiritismo - Bem Aventurados os Aflitos

Se um anjo viesse a Terra em busca de seus amados de outrora, para auxiliá-los, ainda que esta vinda representasse e abarcasse muitos riscos, muito sofrimento e exigisse resignação, coragem e fé, qual o nome que daríamos para este caminho? Como entender a trajetória de Alcíone utilizando esta perspectiva? Nominamos de Estrada da Misericórdia, e numa leitura singela, neste estudo, percorreremos o livro nos 28 trechos em que a palavra Misericórdia aparece. Mas não iremos desacompanhados, vem em nosso auxílio o Codificador, qual lanterna que ilumina e dá melhor visão, o capítulo V irá nos socorrer na apreensão de significativas lições. Ressalto que este singelo estudo não esgota o assunto, na verdade o trata com muita superficialidade, ante os poucos recursos de interpretação e análise que tenho para lhes oferecer, são linhas que escrevo com o coração, com meus sentimentos. Rogo a Jesus que estas novas perspectivas e possibilidades de estudo, ampliem o nosso entendimento destas obras, dos Romances de Emmanuel, e que suas lições evangélicas iluminem nosso viver. Passemos, então, ao trechos do livro Renúncia em que a palavra misericórdia aparece. Logo após, teremos o trecho do evangelho do Cap. V. Faço um breve comentário no intuito de auxiliar a fazer as ligações entre os trechos do livro e a mensagem do Evangelho.

01 – Renuncia (Alcione com Pólux): “Temos sêde de Deus, Pólux! O infinito amor que nos transfunde as almas tem sua origem sagrada em sua misericórdia paternal. Quero-te eternamente, como sei que a união comigo

é a tua sublime aspiração: entretanto, seria justo encerrar nosso júbilo num círculo egoístico, tão somente? Amamo-nos para sempre, a eternidade nos santifica os destinos, mas o Pai está acima de nós.” ESE, Cap. V - 1. Bem-aventurados os que choram, pois que serão consolados. – Bem-aventurados os famintos e os sequiosos de justiça, pois que serão saciados. – Bem-aventurados os que sofrem perseguição pela justiça, pois que é deles o reino dos céus. (S. MATEUS, 5:4, 6 e 10.) Comentário: Ainda no plano espiritual, Alcione vai ao encontro de Pólux para auxiliar nos trabalhos da reencarnação dele. Trava-se um belíssimo diálogo, corações que se amam e se elevam ao Pai. Inicia-se o nosso caminho. 02 - Renuncia (Alcione com Antenio): “ A senda de quase todos os teus amigos está semeada de espinhos, que êles próprios plantaram no seu desapêgo à misericórdia do Todo-Poderoso. Sentes-te bastante forte para assumir tão grave compromisso? Conheço numerosos irmãos que, depois de pedirem missões arriscadas como esta, voltaram onerados de mil problemas a resolver, retardando assim preciosas aquisições.” ESE, Cap. V - 2. Bem-aventurados vós, que sois pobres, porque vosso é o reino dos céus. – Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados. – Ditosos sois, vós que agora chorais, porque rireis. (S. LUCAS, 6:20 e 21.) Mas, ai de vós, ricos! que tendes no mundo a vossa consolação. – Ai de vós que estais saciados, porque tereis fome. – Ai de vós que agora rides, porque sereis constrangidos a gemer e a chorar. (S. LUCAS, 6:24 e 25.) Comentário – Interessante refletir sobre este diálogo de Alcione com Antenio. Percebemos que a postura de vida da Alcione encontra correlação com o primeiro parágrafo do evangelho do item 2. Sabe-se humilde e limitada, tem sede de amor e justiça e busca no Pai o consolo e proteção. Não se esconde ante a possibilidade de sofrimento, mas confia nas promessas de Deus. Mas seus amados, aqueles por quem quer retornar encontram-se tal qual a narrativa do segundo parágrafo, enganados pelas falsas riquezas do mundo, buscam saciar sua sede na vida presente, nas alegrias passageiras da Terra, e vivem rodeados de “espinhos que eles mesmos plantaram”. Lembremos, então, da Parábola do Semeador, reconhecendo que há solos férteis onde o amor divino frutifica, há também os solos em que a lei divina não consegue ir além, muitos são os espinhos que a querem sufocar. Vem, então, a mão

misericordiosa de Deus e envia seu anjo para trabalhar a Terra, permitindo que no futuro se transforme em solo fértil.

03 - Renuncia (Alcione com Antenio): “Que a sua misericórdia te abençoe! — exclamou o instrutor acariciando-lhe os cabelos. —Seguir-teei daqui com as minhas preces e esperar-te-ei confiante na vitória futura!.” ESE, Cap. V - 3. Somente na vida futura podem efetivar-se as compensações que Jesus promete aos aflitos da Terra. Sem a certeza do futuro, estas máximas seriam um contra-senso; mais ainda: seriam um engodo. Mesmo com essa certeza, dificilmente se compreende a conveniência de sofrer para ser feliz. É, dizem, para se ter maior mérito. Comentário: Muito bonita esta relação entre os dois trechos. Alcione mantém-se firme no propósito de reencarnar, mesmo ante todos os argumentos de Antenio, ela segue para a preparação que duraria 10 anos!!! Mas onde este anjo encontra forças para tamanha renúncia? Eis, então, o evangelho a nos relembrar – a certeza da compensação no futuro. Mas qual a compensação que ela almeja? Ir para mundos melhores? Elevar-se na escala espiritual? Não, meus amigos, todo o seu coração deseja fazer o bem aos que ama profundamente. Creio, então, que fica a lição e a reflexão a nós outros, quais são os propósitos que movem as nossas ações? 04 – Renuncia (Cirilo em Belfast com sua família – Tramas de Suzane) A noite, reuniu a família em preces a Deus, agradecendo à Providência os favores da sua misericórdia e, após as orações comuns, expressou um voto de reconhecimento a São Patrício, pela feliz chegada do filho, o que, feito em voz alta na espontaneidade do seu afeto, arrancou muitas lágrimas ao rapaz, que permanecia igualmente de joelhos, em obediência à tradição familiar.

ESE, Cap. V - 4. De duas espécies são as vicissitudes da vida, ou, se o preferirem, promanam de duas fontes bem diferentes, que importa distinguir. Umas têm sua causa na vida presente; outras, fora desta vida. Remontando-se à origem dos males terrestres, reconhecer-se-á que muitos são consequência natural do caráter e do proceder dos que os suportam.

Quantos homens caem por sua própria culpa! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição! Quantos se arruínam por falta de ordem, de perseverança, pelo mau proceder, ou por não terem sabido limitar seus desejos! Quantas uniões desgraçadas, porque resultaram de um cálculo de interesse ou de vaidade e nas quais o coração não tomou parte alguma! (...) Interroguem friamente suas consciências todos os que são feridos no coração pelas vicissitudes e decepções da vida; remontem passo a passo à origem dos males que os torturam e verifiquem se, as mais das vezes, não poderão dizer: Se eu houvesse feito, ou deixado de fazer tal coisa, não estaria em semelhante condição. Comentário: Ao trilharmos esta estrada, vislumbramos as quedas, as dores, mas também o toque amoroso que Alcíone dará a estas vidas. Neste trecho, Cirilo afasta-se de Madalena, por tramas de Suzane, que o queria para si, em nome de um sentimento egoísta e orgulhoso, que aos seus olhos era amor, constrói a sua relação com Cirilo em falsos alicerces. Apesar de conseguir afastar Cirilo e Madalena, apesar de conseguir o casamento tão almejado, nunca foi feliz. Eis o evangelho a iluminar nosso entendimento, nos chamando a interrogar nossa consciência, eis onde reside todo o entendimento de nossas dores e vicissitudes, atitudes que temos e que não estão pautadas nos propósitos de amor a Deus e amor ao próximo.

05 – Renúncia (Madalena Vilamil sofre – a ausência do marido agrava suas dores - busca auxilio) — Não te desesperes: Jesus não está pobre de misericórdia. Faze o possível por aliciar algum homem de mérito, que propugne os teus direitos. Estou certa de que o céu nos oferecerá os meios precisos. ESE - 5. A lei humana atinge certas faltas e as pune. Pode, então, o condenado reconhecer que sofre a conseqüência do que fez. Mas a lei não atinge, nem pode atingir todas as faltas; incide especialmente sobre as que trazem prejuízo à sociedade e não sobre as que só prejudicam os que as cometem. Deus, porém, quer que todas as suas criaturas progridam e, portanto, não deixa impune qualquer desvio do caminho reto. Não há falta alguma, por mais leve que seja, nenhuma infração da sua lei, que não acarrete forçosas e inevitáveis conseqüências, mais ou menos deploráveis. Daí se segue que, nas pequenas coisas, como nas grandes, o homem é sempre punido por aquilo em que pecou. Os sofrimentos que decorrem do pecado são-lhe uma advertência de que procedeu mal. Dão-lhe

experiência, fazem-lhe sentir a diferença existente entre o bem e o mal e a necessidade de se melhorar para, de futuro, evitar o que lhe originou uma fonte de amarguras; sem o que, motivo não haveria para que se emendasse. (...) Contudo, assim como para o obreiro o Sol se levanta no dia seguinte, permitindo-lhe neste reparar o tempo perdido, também para o homem, após a noite do túmulo, brilhará o Sol de uma nova vida, em que lhe será possível aproveitar a experiência do passado e suas boas resoluções para o futuro. Comentário – Eis um dos espíritos que foi auxiliado por Alcione. Madalena Vilamil muito sofreu nesta encarnação, mas o entendimento alcançado com o auxílio da dor e do sofrimento lhe trouxeram uma nova forma de ver a vida. Perdeu muito aos nossos olhos, enriqueceu-se aos olhos do Pai. Deixemos o evangelho de Jesus tornar-se as nossas lentes, tenhamos olhos de ver.

06 – (Renuncia – Padre Damiano com Madalena Vilamil e Alcione) — Sim, minha filha — esclarecia o amigo com a sua madura experiência da vida —, suas observações são justas. Deus cria a vida, não o cativeiro. Entretanto, êsses clamorosos desvios são das instituições humanas. Os padres ambiciosos de poder temporal constituem fileira quase interminável nos tempos atuais, mas não poderão nunca destruir o Cristianismo na sua essência eterna, divina. A misericórdia de Deus lhes tolera os insultos, mas há de chegar o tempo de se restabelecer a verdade. Sou de opinião que tôdas as iniquidades da Terra são impotentes para aniquilar uma centelha de nossa fé. 06 – ESE - 6. Mas, se há males nesta vida cuja causa primária é o homem, outros há também aos quais, pelo menos na aparência, ele é completamente estranho e que parecem atingi-lo como por fatalidade. (...) Todavia, por virtude do axioma segundo o qual todo efeito tem uma causa, tais misérias são efeitos que hão de ter uma causa e, desde que se admita um Deus justo, essa causa também há de ser justa. Ora, ao efeito precedendo sempre a causa, se esta não se encontra na vida atual, há de ser anterior a essa vida, isto é, há de estar numa existência precedente. Por outro lado, não podendo Deus punir alguém pelo bem que fez, nem pelo mal que não fez, se somos punidos, é que fizemos o mal; se esse mal não o fizemos na presente vida, tê-lo-emos feito noutra. É uma alternativa a que ninguém pode fugir e em que a lógica decide de que parte se acha a justiça de Deus. O homem, pois, nem sempre é punido, ou punido completamente, na sua existência atual; mas não escapa nunca às conseqüências de suas faltas. A

prosperidade do mau é apenas momentânea; se ele não expiar hoje, expiará amanhã, ao passo que aquele que sofre está expiando o seu passado. O infortúnio que, à primeira vista, parece imerecido tem sua razão de ser, e aquele que se encontra em sofrimento pode sempre dizer: “Perdoa-me, Senhor, porque pequei.” Comentário – Todos os que leram o livro concordarão comigo ao afirmar que Madalena Vilamil muito sofreu, porém, nada há no livro que relate o que tenha dado causa, nesta vida, das suas dores. Por que sofremos? Por que a vida nos leva a circunstâncias que não podemos impedir, e que nos trazem profundos amargores? Lembremos, então, de olhar o livro e estas vidas sob a luz do Evangelho e, assim, encontraremos na Lei de Causa e Efeito o caminho do entendimento das vicissitudes pelas quais atravessamos. 07 - (Renuncia – Madalena Vilamil com Padre Damiano) — Ah! sim? — murmurou Damiano com um sorriso — quem sabe a nossa permanência em Ávila constitui uma repetição de circunstâncias do passado ominoso? É possível que tenhamos tido riqueza e autoridade, exercendo tirania. A casa. de Deus é cheia de justiça com misericórdia. A viúva Davenport meditou alguns minutos nas provações sofridas, considerou a razoabilidade dos conceitos expendidos e concordou: — É verdade. Minha existência parece obedecer a êsse plano de tributos expiatórios. ESE - 7. Os sofrimentos devidos a causas anteriores à existência presente, como os que se originam de culpas atuais, são muitas vezes a conseqüência da falta cometida, isto é, o homem, pela ação de uma rigorosa justiça distributiva, sofre o que fez sofrer aos outros. Se foi duro e desumano, poderá ser a seu turno tratado duramente e com desumanidade; se foi orgulhoso, poderá nascer em humilhante condição; se foi avaro, egoísta, ou se fez mau uso de suas riquezas, poderá ver-se privado do necessário; se foi mau filho, poderá sofrer pelo procedimento de seus filhos, etc. Assim se explicam pela pluralidade das existências e pela destinação da Terra, como mundo expiatório, as anomalias que apresenta a distribuição da ventura e da desventura entre os bons e os maus neste planeta. Semelhante anomalia, contudo, só existe na aparência, porque considerada tão-só do ponto de vista da vida presente. Aquele que se elevar, pelo pensamento, de maneira a apreender toda uma série de existências, verá que a cada um é atribuída a parte que lhe compete, sem prejuízo

da que lhe tocará no mundo dos Espíritos, e verá que a justiça de Deus nunca se interrompe. Jamais deve o homem olvidar que se acha num mundo inferior, ao qual somente as suas imperfeições o conservam preso. A cada vicissitude, cumpre-lhe lembrar-se de que, se pertencesse a um mundo mais adiantado, isso não se daria e que só de si depende não voltar a este, trabalhando por se melhorar. Comentário – Interessante perceber que Madalena, com o auxilio do Padre Damiano, tem valorosas sementes plantadas em seu coração. A dor e o sofrimento da estrada a conduzirão a novos rumos. Alcione, quando pede para vir a Terra, fala expressamente do seu ensejo de auxiliar a mãe. Não veio apenas socorrer Polux, mas veio ao seio familiar, aos afetos do seu coração, para lhes auxiliar na aproximação ao Pai Celestial. Espírito elevado, habitante de mundos superiores, que não precisava mais reencarnar, aceita a dura missão, e ao lermos o livro fica nítido e claro o quanto eles puderam avançar com este auxílio. 08 – (Renuncia – Antero) — Não blasfemes! Deus é Nosso Pai e nos criou para a luz eterna. Somos os responsáveis pela queda nos desfiladeiros cruciais. A Providência nos cerca de todos os carinhos, traça as sendas de amor que devemos trilhar e, no entanto, meu filho, no círculo da liberdade humana, relativa, a paixão nos aniquila, o orgulho nos cega, o egoismo nos encarcera em suas prisões malsãs. Como poderias afiançar que o Senhor te conduziu a êste lugar tenebroso, se desprezaste o roteiro da sua infinita misericórdia? ESE - 8. As tribulações podem ser impostas a Espíritos endurecidos, ou extremamente ignorantes, para levá-los a fazer uma escolha com conhecimento de causa. Os Espíritos penitentes, porém, desejosos de reparar o mal que hajam feito e de proceder melhor, esses as escolhem livremente. Tal o caso de um que, havendo desempenhado mal sua tarefa, pede lha deixem recomeçar, para não perder o fruto de seu trabalho. As tribulações, portanto, são, ao mesmo tempo, expiações do passado, que recebe nelas o merecido castigo, e provas com relação ao futuro, que elas preparam. Rendamos graças a Deus, que, em sua bondade, faculta ao homem reparar seus erros e não o condena irrevogavelmente por uma primeira falta. Comentário – Vejamos quão valorosa esta relação das lições que Antero recebia, já desencarnado, em sofrimento, e sendo atendido pela mãe, que o resgatava no mundo espiritual para preparar-lhe nova encarnação.

Recomeçar, tentar novamente, unir a nossa jornada dores e sofrimentos que nos auxiliem a avançar. Quando tudo vai bem estagnamos, vem, então, a escola dor, por acréscimo de misericórdia divina, a nos impulsionar, nos fazer avançar!! 09 – (Renuncia – Antero e sua mãe Margarida – no plano espiritual)- — Não seria mais acertado dizeres que conspiraste contra tudo? Combateste os sentimentos nobres que te infundi na infância; guerreaste a paz do nosso lar; tramaste contra os sêres nascidos em liberdade. Onde pus, em teu coração, os ensinos do Cristo, entronaste a indiferença; no caminho de duas almas em união santificada por Jesus, semeaste a mentira e o sofrimento; nas regiões por Deus destinadas à vida livre, plantaste os espinhos da escravidão. Não teria sido misericórdia arrancar-te aos sorvedouros do mal, trazendo-te a esta noite desolada para que pudesses meditar? Abençoa as dores que te ferem o espírito e estraçalham o coração. Essas amarguras atrozes obrigam-te a calar, para que a verdade te fale à consciência. Ainda para os mais broncos criminosos, endurecidos no mal, sempre surge um momento em que, premidos pela dor, são forçados a ouvir a voz de Deus. O réprobo soluçava nos braços da interlocutora, qual filho ansioso por desabafar tôdas as mágoas no regaço materno. Aquelas palavras deramlhe grande alento ao coração delido. ESE - 9. Não há crer, no entanto, que todo sofrimento suportado neste mundo denote a existência de uma determinada falta. Muitas vezes são simples provas buscadas pelo Espírito para concluir a sua depuração e ativar o seu progresso. Assim, a expiação serve sempre de prova, mas nem sempre a prova é uma expiação. Provas e expiações, todavia, são sempre sinais de relativa inferioridade, porquanto o que é perfeito não precisa ser provado. Pode, pois, um Espírito haver chegado a certo grau de elevação e, nada obstante, desejoso de adiantar-se mais, solicitar uma missão, uma tarefa a executar, pela qual tanto mais recompensado será, se sair vitorioso, quanto mais rude haja sido a luta. Tais são, especialmente, essas pessoas de instintos naturalmente bons, de alma elevada, de nobres sentimentos inatos, que parece nada de mau haverem trazido de suas precedentes existências e que sofrem, com resignação toda cristã, as maiores dores, somente pedindo a Deus que as possam suportar sem murmurar. Pode-se, ao contrário, considerar como expiações as aflições que provocam queixas e impelem o homem à revolta contra Deus. Sem dúvida, o sofrimento que não provoca queixumes pode ser uma expiação; mas, é indício de que foi buscada voluntariamente, antes que imposta, e constitui prova de forte resolução, o que é sinal de progresso.

Comentário – O sofrimento de Antero difere em muito do sofrimento de Alcione. Um decorre da rebeldia e do afastamento do Pai. Porém, Alcione nada fez que justificasse as dores imensas que atravessou nesta vida, os enviados de Deus suportam nossas dores, exemplificam, resignam-se ante o mal confiantes no dia de amanhã, não revidam, não agridem, não buscam a justiça da Terra. Olhemos para a nossa vida de forma corajosa e sincera, busquemos diferenciar nossas dores e tenhamos a fé e a confiança no Altíssimo. Busquemos no Cristo o exemplo inspirador de resignação e fé, ele, espírito puro, viveu nossas dores e fez da sua experiência o caminho, a verdade e a vida que nós somos convidados a trilhar. 10 – (Renuncia – Antero e sua mãe Margarida – no plano espiritual)— Mas não bastaria a misericórdia divina a meu favor? — volveu ansioso, por afastar a perspectiva de humilhações no ambiente humano. ESE - 10. Os Espíritos não podem aspirar à completa felicidade, enquanto não se tenham tornado puros: qualquer mácula lhes interdita a entrada nos mundos ditosos. São como os passageiros de um navio onde há pestosos, aos quais se veda o acesso à cidade a que aportem, até que se hajam expurgado. Mediante as diversas existências corpóreas é que os Espíritos se vão expungindo, pouco a pouco, de suas imperfeições. As provações da vida os fazem adiantar-se, quando bem suportadas. Como expiações, elas apagam as faltas e purificam. São o remédio que limpa as chagas e cura o doente. Quanto mais grave é o mal, tanto mais enérgico deve ser o remédio. Aquele, pois, que muito sofre deve reconhecer que muito tinha a expiar e deve regozijar-se à idéia da sua próxima cura. Dele depende, pela resignação, tornar proveitoso o seu sofrimento e não lhe estragar o fruto com as suas impaciências, visto que, do contrário, terá de recomeçar. Comentário: Antero questiona, será preciso o sofrimento, a dor? Não pode a misericórdia divina tudo perdoar? Eis o evangelho a responder a dúvida que não é apenas dele, mas tantas vezes a fizemos ou a buscamos em nossas vidas. 11 - (Renuncia – Antero e sua mãe Margarida – no plano espiritual) A misericórdia jamais falta, em tempo algum; ela permanece na afeição sincera dos amigos espirituais, que velam por ti, e no próprio remorso que te molga o espírito desolado. Deus tudo concede, mas não nos isenta das experiências necessárias. O perdão do Pai, ao lavrador ocioso, está na repetição anual da época do plantio. Nessa renovação de possibilidades, o semeador indolente encontra os meios de regenerar-se, ao passo que o

trabalhador diligente e ativo defronta condições de engrandecimento sempre maior. Compreendes, agora, o perdão de Deus? — Compreendo! ESE - 11. Em vão se objeta que o esquecimento constitui obstáculo a que se possa aproveitar da experiência de vidas anteriores. Havendo Deus entendido de lançar um véu sobre o passado, é que há nisso vantagem. Com efeito, a lembrança traria gravíssimos inconvenientes. Poderia, em certos casos, humilhar-nos singularmente, ou, então, exaltarnos o orgulho e, assim, entravar o nosso livre-arbítrio. Em todas as circunstâncias, acarretaria inevitável perturbação nas relações sociais. Freqüentemente, o Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu, estabelecendo de novo relações com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes haja feito. Se reconhecesse nelas as a quem odiara, quiçá o ódio se lhe despertaria outra vez no íntimo. De todo modo, ele se sentiria humilhado em presença daquelas a quem houvesse ofendido. Para nos melhorarmos, outorgou-nos Deus, precisamente, o de que necessitamos e nos basta: a voz da consciência e as tendências instintivas. Priva-nos do que nos seria prejudicial. Ao nascer, traz o homem consigo o que adquiriu, nasce qual se fez; em cada existência, tem um novo ponto de partida. Pouco lhe importa saber o que foi antes: se se vê punido, é que praticou o mal. Suas atuais tendências más indicam o que lhe resta a corrigir em si próprio e é nisso que deve concentrar-se toda a sua atenção, porquanto, daquilo de que se haja corrigido completamente, nenhum traço mais conservará. As boas resoluções que tomou são a voz da consciência, advertindo-o do que é bem e do que é mal e dando-lhe forças para resistir às tentações. Comentário – Deus, Pai bondoso e cheio de misericórdia, nunca se esquece de nós. Nos dá a benção das novas encarnações e do esquecimento enquanto encarnados para que nosso espírito possa retomar, recomeçar, trilhar caminhos diversos. Antero estava se preparando para nova jornada, Alcione o auxiliaria, ambos sofreram, mas, novamente ressalto, em muito diferem as dores de Alcione e Antero. 12 – (Antero reencarna – Alcione o recebe) — Será vosso servo — murmurou o semiliberto, enxugando uma lágrima. — Será meu filho — emendou a filha de D. Inácio, voltando incontinenti à sala, onde a criança choramingava nos braços carinhosos da filha. Tomoua e conchegou-a ao coração. Não saberia jamais definir as doces comoções que se lhe apossaram da alma generosa. Acariciou a mãozinha defeituosa, beijou-a com ternura. O recém-nascido aquietou-se brandamente. E

enquanto João de Deus se despedia, para atender ao labor diuturno, a espôsa enfermiça de Cirilo Davenport mergulhava num abismo de profundas interrogações. Por que mistério o filhinho de Dolores ia reclamar seus carinhos maternais? Contemplou-lhe detidamente os traços grosseiros, aliados aos defeitos físicos que lhe haviam assinado tão doloroso destino. Mergulhada num mar de cismas atrozes, rogou a Deus lhe concedesse fôrças para desempenhar a tarefa maternal até ao fim. Não ignorava a extensão dos sacrifícios que a decisão lhe impunha nas lides diárias... No entanto, a criança reclinada ao seio parecia falar-lhe intimamente de um infinito reconhecimento. Não podia contar com as próprias fôrças, mas habituara-se a confiar na misericórdia de Deus.

ESE - 12. Por estas palavras: Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados, Jesus aponta a compensação que hão de ter os que sofrem e a resignação que leva o padecente a bendizer do sofrimento, como prelúdio da cura. Também podem essas palavras ser traduzidas assim: Deveis considerar-vos felizes por sofrerdes, visto que as dores deste mundo são o pagamento da dívida que as vossas passadas faltas vos fizeram contrair; suportadas pacientemente na Terra, essas dores vos poupam séculos de sofrimentos na vida futura. Deveis, pois, sentir-vos felizes por reduzir Deus a vossa dívida, permitindo que a saldeis agora, o que vos garantirá a tranqüilidade no porvir. O homem que sofre assemelha-se a um devedor de avultada soma, a quem o credor diz: “Se me pagares hoje mesmo a centésima parte do teu débito, quitar-te-ei do restante e ficarás livre; se o não fizeres, atormentar-te-ei, até que pagues a última parcela.” Não se sentiria feliz o devedor por suportar toda espécie de privações para se libertar, pagando apenas a centésima parte do que deve? Em vez de se queixar do seu credor, não lhe ficará agradecido? Tal o sentido das palavras: “Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados.” São ditosos, porque se quitam e porque, depois de se haverem quitado, estarão livres. Se, porém, o homem, ao quitar-se de um lado, endivida-se de outro, jamais poderá alcançar a sua libertação. Ora, cada nova falta aumenta a dívida, porquanto nenhuma há, qualquer que ela seja, que não acarrete forçosa e inevitavelmente uma punição. Se não for hoje, será amanhã; se não for na vida atual, será noutra. Entre essas faltas, cumpre se coloque na primeira fiada a carência de submissão à vontade de Deus. Logo, se murmurarmos nas aflições, se não as aceitarmos com resignação e como algo que devemos ter merecido, se acusarmos a Deus de ser injusto, nova dívida contraímos, que nos faz perder o fruto

que devíamos colher do sofrimento. É por isso que teremos de recomeçar, absolutamente como se, a um credor que nos atormente, pagássemos uma cota e a tomássemos de novo por empréstimo. Ao entrar no mundo dos Espíritos, o homem ainda está como o operário que comparece no dia do pagamento. A uns dirá o Senhor: “Aqui tens a paga dos teus dias de trabalho”; a outros, aos venturosos da Terra, aos que hajam vivido na ociosidade, que tiverem feito consistir a sua felicidade nas satisfações do amor-próprio e nos gozos mundanos: “Nada vos toca, pois que recebestes na Terra o vosso salário. Ide e recomeçai a tarefa.” Comentário – Ouçamos a lição do Evangelho ressoar na nova vida de Antero: “Ide e recomeçai a tarefa.” Quão gratos devemos ser pela escola divina da dor, que nos permite parcelar nossas culpas e nossas falhas em diminutas prestações, e nos dá a esperança da quitação dos débitos e dum amanhã de ventura e felicidade, em mundos onde o bem reina e a luz divina a todos abraça. 13 – (Renuncia – Alcione e Carlos) — Neste mundo não será possível acordar para os elevados domínios do conhecimento, sem nos voltarmos com atenção para o problema da dor. Desde cedo, habituei-me a rebuscar comparações. Por que o leproso, ao lado dos de rosto brilhante? Por que se confundem, na mesma rua, os felizes e os desventurados? Seria justiça ministrar o pão a alguns e as pedras a muitos? No quadro da teologia atual, o Criador seria quase cruel. Mas é tão grande a misericórdia divina que o Pai permite aos filhos a enunciação dos mais loucos raciocínios, até que se compenetrem da grandeza acolhedora do seu amor desvelado. Naturalmente, Carlos, somos espíritos integrando a enorme caravana da Humanidade. Teremos falido inúmeras vêzes, fugindo aos desígnios do Senhor para atender a nossos caprichos misérrimos. No entanto, a Providência nos acolhe de novo na escola terrestre, dando-nos um corpo diferente e renovando-nos a oportunidade sacrossanta... O jovem sacerdote tinha a impressão de ouvir um anjo a esclarecer a essência dos mistérios divinos. ESE - 13. O homem pode suavizar ou aumentar o amargor de suas provas, conforme o modo por que encare a vida terrena. Tanto mais sofre ele, quanto mais longa se lhe afigura a duração do sofrimento. Ora, aquele que a encara pelo prisma da vida espiritual apanha, num golpe de vista, a vida corpórea. Ele a vê como um ponto no infinito, compreende-lhe a curteza e reconhece que esse penoso momento terá presto passado. A certeza de um próximo futuro mais ditoso o sustenta e anima e, longe de se queixar, agradece ao Céu as dores que o fazem avançar. Contrariamente, para

aquele que apenas vê a vida corpórea, interminável lhe parece esta, e a dor o oprime com todo o seu peso. Daquela maneira de considerar a vida, resulta ser diminuída a importância das coisas deste mundo, e sentir-se compelido o homem a moderar seus desejos, a contentar-se com a sua posição, sem invejar a dos outros, a receber atenuada a impressão dos reveses e das decepções que experimente. Daí tira ele uma calma e uma resignação tão úteis à saúde do corpo quanto à da alma, ao passo que, com a inveja, o ciúme e a ambição, voluntariamente se condena à tortura e aumenta as misérias e as angústias da sua curta existência. Comentário – Dois olhares diferentes para a vida, Alcione e Carlos, almas que se buscavam desde muitas vidas, percebiam o reencontro de forma diferente. A luz do Evangelho nos permite a correta percepção da diferença do entendimento de um e de outro. Saibamos nós colher esta lições para nossas vidas, buscando as lentes do entendimento elevado para alcançar as lições que esta existência quer nos oferecer. 14 - (Renuncia – Alcione e Carlos) — Lembremos, Carlos, os antigos apóstolos da Igreja, quando advertiam que, depois de cumpridos todos os deveres, ainda nos deveríamos considerar servos inúteis, porque tudo nos vem da misericórdia divina... O rapaz admirava-lhe a energia afetuosa, caíra novamente em si do desvario momentâneo que lhe perturbara os sentidos, mas conservava-se inerte, deixando correr copiosas lágrimas. Profundamente comovida, a jovem acentuou: — Não posso dar o beijo que pediste, mas posso dar-te o ósculo de minh’alma. ESE - 14. A calma e a resignação hauridas da maneira de considerar a vida terrestre e da confiança no futuro dão ao espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio. Com efeito, é certo que a maioria dos casos de loucura se deve à comoção produzida pelas vicissitudes que o homem não tem a coragem de suportar. Ora, se encarando as coisas deste mundo da maneira por que o Espiritismo faz que ele as considere, o homem recebe com indiferença, mesmo com alegria, os reveses e as decepções que o houveram desesperado noutras circunstâncias, evidente se torna que essa força, que o coloca acima dos acontecimentos, lhe preserva de abalos a razão, os quais, se não fora isso, a conturbariam. Comentário – Alcione, calma, resignada, confiava nos desígnios do Pai, permitindo-lhe um viver sereno, e deixando-se consolar quando a vida lhe era dura. Carlos, debateu-se contra os propósitos divinas, para nós, atos

compreensíveis, porém, aos olhos da justiça divina, loucura. Caminhemos refletindo sobre estas valorosas lições. 15 – (Renúncia – Alcione – Padre Damiano) “A jovem, notando-lhe a preocupação sincera, procurou esquivar-se ao assunto que lhe dizia respeito. E vendo-lhe os pés descalços, perguntou: — Onde está o agasalho de lã? O senhor não pode ficar assim... Ele sorriu e informou: — Guardei-o na mala. — Por quê? — insistiu surpreendida. — Creio que, para a semana, me recolherei ao pavilhão dos indigentes, na Misericórdia, ou na casa dos pobres de São Ladres. — Não pode ser — exclamou a filha de Cirilo, contristada —, não podemos concordar com o seu recolhimento a casas religiosas, como indigente. Nós ainda aqui estamos... Assim falando, a menina Vilamil tinha o aspecto mortificado de uma filha angustiada. — Que tem isso, Alcione? — tornou o religioso, serenamente — não devo sobrecarregar teu coração, que enfrenta agora tantas lutas em silêncio! Além disso, não será útil o meu internamento nas instituições piedosas? Atualmente não me poderei ocupar dos ofícios eclesiásticos, mas lá, entre os necessitados, talvez encontre algum serviço nas prédicas evangélicas aos mais desditosos. A resignação do velho amigo provocava-lhe pranto copioso.” ESE - 15. (...) Ora, aquele que está certo de que só é desventurado por um dia e que melhores serão os dias que hão de vir, enche-se facilmente de paciência. Só se desespera quando nenhum termo divisa para os seus sofrimentos. E que é a vida humana, com relação à eternidade, senão bem menos que um dia? Mas, para o que não crê na eternidade e julga que com a vida tudo se acaba, se os infortúnios e as aflições o acabrunham, unicamente na morte vê uma solução para as suas amarguras. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo, abreviar pelo suicídio as suas misérias. Comentário – Amigos, em todas as leituras anteriores nunca tinha me apercebido do imenso resgate que Emmanuel fez nesta vida como Padre Damiano, e, agora, com as lentes do evangelho, também percebo o quanto Alcione o auxiliou. Juntos, na seara do Cristo, irmanados nas lições evangélicas. Quem ensinou quem? Difícil dizer, mas é certo que ambos ampararam-se, ombro a ombro, com os olhos elevados aos céus divinas, à

misericórdia do Pai que lhes abraçava a cada instante, “Deus não é avaro de misericórdia”.

16 ( Renuncia – Alcione e Padre Damiano) A resignação do velho amigo provocava-lhe pranto copioso. — O catre da indigência — continuou Damiano — deve proporcionar meditações sadias. E não será isso um acréscimo de misericórdia? Basta lembrar que o Mestre não o teve. Seu derradeiro pouso foi a cruz; seu último caldo um pouco de vinagre; sua última lembrança do mundo a coroa de espinhos!...

- 16. A incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro, as idéias materialistas, numa palavra, são os maiores incitantes ao suicídio; ocasionam a covardia moral. Quando homens de ciência, apoiados na autoridade do seu saber, se esforçam por provar aos que os ouvem ou lêem que estes nada têm a esperar depois da morte, não estão de fato levandoos a deduzir que, se são desgraçados, coisa melhor não lhes resta senão se matarem? Que lhes poderiam dizer para desviá-los dessa conseqüência? Que compensação lhes podem oferecer? Que esperança lhes podem dar? Nenhuma, a não ser o nada. Daí se deve concluir que, se o nada é o único remédio heróico, a única perspectiva, mais vale buscá-lo imediatamente e não mais tarde, para sofrer por menos tempo. A propagação das doutrinas materialistas é, pois, o veneno que inocula a idéia do suicídio na maioria dos que se suicidam, e os que se constituem apóstolos de semelhantes doutrinas assumem tremenda responsabilidade. Com o Espiritismo, tornada impossível a dúvida, muda o aspecto da vida. O crente sabe que a existência se prolonga indefinidamente para lá do túmulo, mas em condições muito diversas; donde a paciência e a resignação que o afastam muito naturalmente de pensar no suicídio; donde, em suma, a coragem moral. Comentário – Este trecho é fantástico!!! Lembremos do livro Há 2000 anos que nos relata a vida do senador Publio Lentulus, que diante de Jesus não permitiu que as ideias de amor e perdão do mestre adentrassem em seu coração. Vejamos, agora, este mesmo senador, reencarnado, como Padre Damiano. O materialismo, o orgulho, foram a ruína de outrora do Padre Damiano, porém, nesta vida o entendimento vivenciado lhe permitiu uma atitude resignada ante as agruras da vida. Mas a grande questão é percebermos a misericórdia de Deus intervindo na vida do Padre Damiano, Alcione vem auxiliá-lo, o amor de Deus nos acolhe através das

ações de seus anjos. Pensemos que a reflexão do ESSE é sobre suicídio, que pode dar-se de muitas formas, nos dias atuais temos a depressão a colher a tantos, que é, nas palavras de uma amiga, um querer morrer aos poucos, é um matar-se, é deixar a vontade de viver ir embora. Quantos não desencarnam como suidades inconscientes!!! E muito sofreríamos, não fossem estes abnegados trabalhadores do Cristo que nos alcançam e nos resgatam das trevas que criamos para nós mesmos. 17 – Renúncia (Alcíone e Padre Damiano) — Não, não é o dinheiro que me preocupa, e sim as suas necessidades... Não concordo com a sua transferência para a Misericórdia. Se não puder ficar aqui, ficará em nossa casa. E como o sacerdote experimentasse certa dificuldade para redargüir, Alcione continuou: — Perdoe-me, se intervenho ousadamente em tal assunto, mas o que reclamo tem prerrogativas de direito — o direito da amizade. Sempre o considerei um pai. Diga-me: quanto pede o reverendo Amâncio pelas suas novas acomodações? De olhos brilhantes no testemunho de humildade daquela hora de extremas provações, Damiano respondeu: — Duzentos francos para a aquisição de utensílios e pagamentos iniciais a um serviçal.

ESE - 17. O Espiritismo ainda produz, sob esse aspecto, outro resultado igualmente positivo e talvez mais decisivo. Apresenta-nos os próprios suicidas a informar-nos da situação desgraçada em que se encontram e a provar que ninguém viola impunemente a lei de Deus, que proíbe ao homem encurtar a sua vida. Entre os suicidas, alguns há cujos sofrimentos, nem por serem temporários e não eternos, não são menos terríveis e de natureza a fazer refletir os que porventura pensam em daqui sair, antes que Deus o haja ordenado. O espírita tem, assim, vários motivos a contrapor à idéia do suicídio: a certeza de uma vida futura, em que, sabe-o ele, será tanto mais ditoso, quanto mais inditoso e resignado haja sido na Terra: a certeza de que, abreviando seus dias, chega, precisamente, a resultado oposto ao que esperava; que se liberta de um mal, para incorrer num mal pior, mais longo e mais terrível; que se engana, imaginando que, com o matar-se, vai mais depressa para o céu; que o suicídio é um obstáculo a que no outro mundo ele se reúna aos que foram objeto de suas afeições e aos quais esperava encontrar; donde a conseqüência de que o suicídio, só lhe trazendo decepções, é contrário aos seus próprios interesses. Por isso mesmo, considerável já é o número dos que têm sido, pelo Espiritismo, obstados de suicidar-se, podendo daí concluir-se que,

quando todos os homens forem espíritas, deixará de haver suicídios conscientes. Comparando-se, então, os resultados que as doutrinas materialistas produzem com os que decorrem da Doutrina Espírita, somente do ponto de vista do suicídio, forçoso será reconhecer que, enquanto a lógica das primeiras a ele conduz, a da outra o evita, fato que a experiência confirma. Comentário – Atos de resignação ante a dor e o sofrimento nos remetem a um novo viver. Acomodar-se à vontade divina, entendendo a dor como escola que vem nos socorrer, nos dar novas lentes para aspectos da vida que desconhecíamos, eis toda a lição que Damiano experimenta nesta jornada. Se olharmos apenas para a vida relatada neste livro, teríamos uma visão equivocada, que fez o Padre para merecer tanto sofrimento no final da jornada? Não se trata de punição, mas de escola divina, lapidando o diamante que somos. 18 – (Renúncia – Alcione e Padre Damiano) — Sim, mas é preciso guardar segrêdo. Mamãe sofreria muito se viesse a saber. Se não arranjarmos o dinheiro, padre Damiano irá parar na Misericórdia e talvez nunca mais o vejamos. Cantaremos só amanhã, porque depois é possível que eu arranje trabalho para nós. ESE - 18. Quando o Cristo disse: “Bem-aventurados os aflitos, o reino dos céus lhes pertence”, não se referia de modo geral aos que sofrem, visto que sofrem todos os que se encontram na Terra, quer ocupem tronos, quer jazam sobre a palha. Mas, ah! poucos sofrem bem; poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzilos ao reino de Deus. O desânimo é uma falta. Deus vos recusa consolações, desde que vos falte coragem. A prece é um apoio para a alma; contudo, não basta: é preciso tenha por base uma fé viva na bondade de Deus. Ele já muitas vezes vos disse que não coloca fardos pesados em ombros fracos. O fardo é proporcionado às forças, como a recompensa o será à resignação e à coragem. Mais opulenta será a recompensa, do que penosa a aflição. Cumpre, porém, merecê-la, e é para isso que a vida se apresenta cheia de tribulações. O militar que não é mandado para as linhas de fogo fica descontente, porque o repouso no campo nenhuma ascensão de posto lhe faculta. Sede, pois, como o militar e não desejeis um repouso em que o vosso corpo se enervaria e se entorpeceria a vossa alma. Alegrai-vos, quando Deus vos enviar para a luta. Não consiste esta no fogo da batalha,

mas nos amargores da vida, onde, às vezes, de mais coragem se há mister do que num combate sangrento, porquanto não é raro que aquele que se mantém firme em presença do inimigo fraqueje nas tenazes de uma pena moral. Nenhuma recompensa obtém o homem por essa espécie de coragem; mas, Deus lhe reserva palmas de vitória e uma situação gloriosa. Quando vos advenha uma causa de sofrimento ou de contrariedade, sobreponde-vos a ela, e, quando houverdes conseguido dominar os ímpetos da impaciência, da cólera, ou do desespero, dizei, de vós para convosco, cheio de justa satisfação: “Fui o mais forte.” Bem-aventurados os aflitos pode então traduzir-se assim: Bem-aventurados os que têm ocasião de provar sua fé, sua firmeza, sua perseverança e sua submissão à vontade de Deus, porque terão centuplicada a alegria que lhes falta na Terra, porque depois do labor virá o repouso. – Lacordaire. (Havre, 1863.) Comentário – Interessante reflexão nos remete este trecho, eis que Alcione quer poupar a mãe, que ainda apresentava aspectos de grande fragilidade, apesar de já trilhar caminhos de profundo entendimento da lei divina e do amor do Pai. Estamos todos juntos, mas cada um suporta o seu cadinho de dor, mediante o momento evolutivo em que se encontra. Alcione foi muito além que qualquer dos integrantes do livro, contemporâneos dela. Soube resignar-se e foi exemplo eficaz, árvore frutífera, na vida de seus familiares. Sua missão na Terra foi de esplendorosa luz, ainda hoje, temos dificuldades para absorver as valorosas lições, como pode alguém tão bom, tanto sofrer? O maior amor que já pisou neste planeta foi levado a cruz. A questão é saber se ainda hoje o fazemos. Se o Cristo nascesse entre nós, o reconheceríamos? Se Alcione estivesse entre nós, o saberíamos?Já estamos aptos de ver o amor encarnado ou ainda somos cegos guiando cegos?

19 - (Renúncia – Alcione e Padre Damiano) — Cinjo-me às próprias lições que me destes desde a infância. Será que Jesus peregrinou pela Terra sõmente para que o admirássemos? Teria sido escrito o Evangelho apenas para que os homens encontrassem nas suas páginas motivos de apologias brilhantes? Sua palavra, padre, não me inculcou, sempre, que permanecemos no mundo com o santo objetivo de purificar o coração? Deus quer que nos amemos uns aos outros. Sua misericórdia, de quando em quando, reúne fortuitamente os próprios inimigos, para verificar se já estão prontos à tarefa sacrossanta do amor. Se a Providência Divina me conduz agora aos braços paternos, por que e como contrariar seus insondáveis desígnios?

ESE - 19. Será a Terra um lugar de gozo, um paraíso de delícias? Já não ressoa mais aos vossos ouvidos a voz do profeta? Não proclamou ele que haveria prantos e ranger de dentes para os que nascessem nesse vale de dores? Esperai, pois, todos vós que aí viveis, causticantes lágrimas e amargo sofrer e, por mais agudas e profundas sejam as vossas dores, volvei o olhar para o Céu e bendizei do Senhor por ter querido experimentar-vos... Ó homens! dar-se-á não reconheçais o poder do vosso Senhor, senão quando ele vos haja curado as chagas do corpo e coroado de beatitude e ventura os vossos dias? Dar-se-á não reconheçais o seu amor, senão quando vos tenha adornado o corpo de todas as glórias e lhe haja restituído o brilho e a brancura? Imitai aquele que vos foi dado para exemplo. Tendo chegado ao último grau da abjeção e da miséria, deitado sobre uma estrumeira, disse ele a Deus: “Senhor, conheci todos os deleites da opulência e me reduzistes à mais absoluta miséria; obrigado, obrigado, meu Deus, por haverdes querido experimentar o vosso servo!” Até quando os vossos olhares se deterão nos horizontes que a morte limita? Quando, afinal, vossa alma se decidirá a lançar-se para além dos limites de um túmulo? Houvésseis de chorar e sofrer a vida inteira, que seria isso, a par da eterna glória reservada ao que tenha sofrido a prova com fé, amor e resignação? Buscai consolações para os vossos males no porvir que Deus vos prepara e procurai-lhe a causa no passado. E vós, que mais sofreis, considerai-vos os afortunados da Terra. Como desencarnados, quando pairáveis no Espaço, escolhestes as vossas provas, julgando-vos bastante fortes para as suportar. Por que agora murmurar? Vós, que pedistes a riqueza e a glória, queríeis sustentar luta com a tentação e vencê-la. Vós, que pedistes para lutar de corpo e espírito contra o mal moral e físico, sabíeis que quanto mais forte fosse a prova, tanto mais gloriosa a vitória e que, se triunfásseis, embora devesse o vosso corpo parar numa estrumeira, dele, ao morrer, se desprenderia uma alma de rutilante alvura e purificada pelo batismo da expiação e do sofrimento. Que remédio, então, prescrever aos atacados de obsessões cruéis e de cruciantes males? Só um é infalível: a fé, o apelo ao Céu. Se, na maior acerbidade dos vossos sofrimentos, entoardes hinos ao Senhor, o anjo, à vossa cabeceira, com a mão vos apontará o sinal da salvação e o lugar que um dia ocupareis... A fé é o remédio seguro do sofrimento; mostra sempre os horizontes do infinito diante dos quais se esvaem os poucos dias brumosos do presente. Não nos pergunteis, portanto, qual o remédio para curar tal úlcera ou tal chaga, para tal tentação ou tal prova. Lembrai-vos de que aquele que crê é forte pelo remédio da fé e que aquele que duvida um instante da sua eficácia é imediatamente punido, porque logo sente as pungitivas angústias da aflição.

O Senhor apôs o seu selo em todos os que nele crêem. O Cristo vos disse que com a fé se transportam montanhas e eu vos digo que aquele que sofre e tem a fé por amparo ficará sob a sua égide e não mais sofrerá. Os momentos das mais fortes dores lhe serão as primeiras notas alegres da eternidade. Sua alma se desprenderá de tal maneira do corpo que, enquanto se estorcer em convulsões, ela planará nas regiões celestes, entoando, com os anjos, hinos de reconhecimento e de glória ao Senhor. Ditosos os que sofrem e choram! Alegres estejam suas almas, porque Deus as cumulará. Comentário – Neste trecho do livro, Alcione já sabe que Cirilo é seu pai, sabe dos enganos e mentiras do passado que tanto fizeram sua mãe sofrer. Mas, novamente, adentra com infinito amor nesta casa, proporcionandolhes lição imorredoura, testemunho vivo de abnegação, renúncia!!! Se nos é difícil assimilar a conduta de Alcione, reconheçamos que ainda estamos em momento evolutivo muito inferior. Mas, que fique a lição, e que ela nos inspire. Se queremos auxiliar alguém, seja o amor nossa bandeira de luz. Estejamos aptos a sofrer com resignação para alcançarmos os corações que sofrem e choram distantes do Pai. 20 – (Renúncia – Alcíone e Suzana e familia Davenport) — Tais impressões devem ser passageiras. O Evangelho é mensagem de salvação, nunca de tormento. Na realidade, conhecemos a extensão da nossa indigência e o grau das nossas fraquezas; mas a misericórdia divina restaria imota sem as nossas quedas e dolorosas necessidades, O Cristianismo jamais será doutrina de regras implacáveis, mas sim a história e a exemplificação das almas transformadas com Jesus, para glória de Deus. Se as lições do Mestre apenas nos oferecessem motivos de condenação, onde estariam as grandes figuras evangélicas de Maria Madalena, Paulo de Tarso e tantas outras? No entanto, a pecadora transformada foi a mensageira da ressurreição; o inflexível e cruel perseguidor convertido recebeu de Jesus a missão de iluminar o gentilismo. Susana seguia a exposição, de olhos muito brilhantes. Nunca sentira tamanha impressão de bem-estar, no trato das leituras santas. Nas confissões, que nunca chegara a conjugar com a grande falta da sua vida, nada recebia dos sacerdotes, senão amargas recriminações. Os padres lhe ministravam penitências, mas nunca lhe ofereciam roteiro seguro. Sempre dera ao altar valiosas contribuições monetárias, mas agora chegava à conclusão de que era indispensável cooperar, com tôdas as energias espirituais, para o próprio aperfeiçoamento. — Tuas interpretações — asseverou a senhora Davenport — são

altamente consoladoras. De uns tempos para cá, venho refletindo amargurada na inutilidade de muitos ensinamentos recebidos na infância. Por que terei aprendido a virtude e não a cultivo a rigor? E, com tais dúvidas íntimas, passo a analisar as criaturas com profundo pessimismo, chegando a crer que a humanidade, de modo geral, vive negando Jesus a cada momento.

ESE - 20. Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim! exclama geralmente o homem em todas as posições sociais. Isso, meus caros filhos, prova, melhor do que todos os raciocínios possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: “A felicidade não é deste mundo.” Com efeito, nem a riqueza, nem o poder, nem mesmo a florida juventude são condições essenciais à felicidade. Digo mais: nem mesmo reunidas essas três condições tão desejadas, porquanto incessantemente se ouvem, no seio das classes mais privilegiadas, pessoas de todas as idades se queixarem amargamente da situação em que se encontram. Diante de tal fato, é inconcebível que as classes laboriosas e militantes invejem com tanta ânsia a posição das que parecem favorecidas da fortuna. Neste mundo, por mais que faça, cada um tem a sua parte de labor e de miséria, sua cota de sofrimentos e de decepções, donde facilmente se chega à conclusão de que a Terra é lugar de provas e de expiações. Assim, pois, os que pregam que ela é a única morada do homem e que somente nela e numa só existência é que lhe cumpre alcançar o mais alto grau das felicidades que a sua natureza comporta, iludem-se e enganam os que os escutam, visto que demonstrado está, por experiência arqui-secular, que só excepcionalmente este globo apresenta as condições necessárias à completa felicidade do indivíduo. Em tese geral pode afirmar-se que a felicidade é uma utopia a cuja conquista as gerações se lançam sucessivamente, sem jamais lograrem alcançá-la. Se o homem ajuizado é uma raridade neste mundo, o homem absolutamente feliz jamais foi encontrado. O em que consiste a felicidade na Terra é coisa tão efêmera para aquele que não tem a guiá-lo a ponderação, que, por um ano, um mês, uma semana de satisfação completa, todo o resto da existência é uma série de amarguras e decepções. E notai, meus caros filhos, que falo dos venturosos da Terra, dos que são invejados pela multidão. Conseguintemente, se à morada terrena são peculiares as provas e a expiação, forçoso é se admita que, algures, moradas há mais favorecidas, onde o Espírito, conquanto aprisionado ainda numa carne material, possui em toda a plenitude os gozos inerentes à vida humana. Tal a razão por que Deus semeou, no vosso turbilhão, esses belos planetas superiores para os quais os vossos esforços e as vossas tendências vos farão gravitar um dia, quando vos achardes suficientemente purificados e aperfeiçoados.

Todavia, não deduzais das minhas palavras que a Terra esteja destinada para sempre a ser uma penitenciária. Não, certamente! Dos progressos já realizados, podeis facilmente deduzir os progressos futuros e, dos melhoramentos sociais conseguidos, novos e mais fecundos melhoramentos. Essa a tarefa imensa cuja execução cabe à nova doutrina que os Espíritos vos revelaram. Assim, pois, meus queridos filhos, que uma santa emulação vos anime e que cada um de vós se despoje do homem velho. Deveis todos consagrarvos à propagação desse Espiritismo que já deu começo à vossa própria regeneração. Corre-vos o dever de fazer que os vossos irmãos participem dos raios da sagrada luz. Mãos, portanto, à obra, meus muito queridos filhos! Que nesta reunião solene todos os vossos corações aspirem a esse grandioso objetivo de preparar para as gerações porvindouras um mundo onde já não seja vã a palavra felicidade. – François- -Nicolas-Madeleine, cardeal Morlot. (Paris, 1863.) Comentário – Quanta aflição não passou Suzana com suas ações buscando interesse pessoal em detrimento de vidas, alicerçando sua vida em mentiras escabrosas. Ante as lições evangélicas que Alcione compartilha com o grupo, Suzane reflete, questiona-se, sementes que são lançadas em seu coração. Solo repleto de espinhos, ainda não estava pronta para seguir adiante, mas ninguém se perderá. Ainda que nesta vida lhe tenha sido a loucura o caminho final, eis os brotos do arrependimento a nascer em seu coração. 21 (Renúncia – Alcione e família Davenport) — Certo, a esperança em Cristo será sempre um refúgio indispensável na hora da partida, mas a advertência apostólica nos convoca a ilações mais graves. Lembremos os perversos que aceitam Jesus na hora extrema. Muita gente, portadora de crimes inomináveis, faz ato de fé no leito de morte. Enquanto têm saúde e mocidade, vivem ao léu, entre caprichos e desregramentos; mas tanto que o corpo quebrantado lhes dá idéias de morte, alarmam-se e desfazem-se em rogativas a Deus. Podem, criaturas que tais, esperar de pronto, imediata, a glória do Cristo? E os que se sacrificam nas aras do dever enquanto lhes resta uma partícula de fôrças? Claudicaria a justiça, em suma, se afinal a virtude se confundisse com o crime, a verdade com a mentira, o labor com a ociosidade. Certo que será sempre útil recorrer à misericórdia do Senhor, ainda que manchados até aos cabelos, bem como acreditar que, para tôda enfermidade, haverá remédio adequado. Penso, porém, que a assertiva de Paulo não se refere ao têrmo da vida corporal, fenômeno natural e apanágio de justos e de injustos, de piedosos e de impios. Bafejado pela divina inspiração, o amigo

do gentilismo aludiu, por certo, à morte da “criatura velha”, que está dentro de todos nós. E’ a personalidade egoística e má, que trazemos conosco e precisamos combater a cada dia, para que possamos viver em Cristo. A existência terrestre é um aprendizado em que nos consumimos devagarinho, de modo a atingir a plenitude do Mestre. No plano da própria materialidade, poderemos observar êsse imperativo da lei. A infância, a mocidade e a decrepitude, em seu aspecto de transitoriedade, não podem representar a vida. São fases de luta, demonstrações da sagrada oportunidade concedida por Deus para nos expurgarmos da grosseria dos sentimentos, da crosta de imperfeição. Costuma-se dizer que a velhice é um ataúde de fantasias mortas, mas isso apenas se verifica com os que não souberam ou não quiseram “morrer” com o Cristo para alcançar a fonte eterna da sua vida gloriosa. Quem se valeu da possibilidade divina tão sômente para cultivar ilusões balofas, não poderá encontrar mais que o fantasma dos seus enganos caprichosos. A criatura, porém, que caminhou de olhos fixos em Jesus, em todos os pormenores da tarefa, essa, naturalmente, conquistou o segrêdo de viver triunfante acima de quaisquer circunstâncias adversas. Jesus palpita em seus atos, palavras e pensamentos. Seu coração, na pobreza ou na abastança, será como flor de luz, aberta ao sol da vida eterna!...

ESE - 21. Quando a morte ceifa nas vossas famílias, arrebatando, sem restrições, os mais moços antes dos velhos, costumais dizer: Deus não é justo, pois sacrifica um que está forte e tem grande futuro e conserva os que já viveram longos anos cheios de decepções; pois leva os que são úteis e deixa os que para nada mais servem; pois despedaça o coração de uma mãe, privando-a da inocente criatura que era toda a sua alegria. Humanos, é nesse ponto que precisais elevar-vos acima do terra-a-terra da vida, para compreenderdes que o bem, muitas vezes, está onde julgais ver o mal, a sábia previdência onde pensais divisar a cega fatalidade do destino. Por que haveis de avaliar a justiça divina pela vossa? Podeis supor que o Senhor dos mundos se aplique, por mero capricho, a vos infligir penas cruéis? Nada se faz sem um fim inteligente e, seja o que for que aconteça, tudo tem a sua razão de ser. Se perscrutásseis melhor todas as dores que vos advêm, nelas encontraríeis sempre a razão divina, razão regeneradora, e os vossos miseráveis interesses se tornariam de tão secundária consideração, que os atiraríeis para o último plano. Crede-me, a morte é preferível, numa encarnação de vinte anos, a esses vergonhosos desregramentos que pungem famílias respeitáveis, dilaceram corações de mães e fazem que antes do tempo embranqueçam os cabelos

dos pais. Freqüentemente, a morte prematura é um grande benefício que Deus concede àquele que se vai e que assim se preserva das misérias da vida, ou das seduções que talvez lhe acarretassem a perda. Não é vítima da fatalidade aquele que morre na flor dos anos; é que Deus julga não convir que ele permaneça por mais tempo na Terra. É uma horrenda desgraça, dizeis, ver cortado o fio de uma vida tão prenhe de esperanças! De que esperanças falais? Das da Terra, onde o liberto houvera podido brilhar, abrir caminho e enriquecer? Sempre essa visão estreita, incapaz de elevar-se acima da matéria. Sabeis qual teria sido a sorte dessa vida, ao vosso parecer tão cheia de esperanças? Quem vos diz que ela não seria saturada de amarguras? Desdenhais então das esperanças da vida futura, ao ponto de lhe preferirdes as da vida efêmera que arrastais na Terra? Supondes então que mais vale uma posição elevada entre os homens, do que entre os Espíritos bemaventurados? Em vez de vos queixardes, regozijai-vos quando praz a Deus retirar deste vale de misérias um de seus filhos. Não será egoístico desejardes que ele aí continuasse para sofrer convosco? Ah! essa dor se concebe naquele que carece de fé e que vê na morte uma separação eterna. Vós, espíritas, porém, sabeis que a alma vive melhor quando desembaraçada do seu invólucro corpóreo. Mães, sabei que vossos filhos bem-amados estão perto de vós; sim, estão muito perto; seus corpos fluídicos vos envolvem, seus pensamentos vos protegem, a lembrança que deles guardais os transporta de alegria, mas também as vossas dores desarrazoadas os afligem, porque denotam falta de fé e exprimem uma revolta contra a vontade de Deus. Vós, que compreendeis a vida espiritual, escutai as pulsações do vosso coração a chamar esses entes bem-amados e, se pedirdes a Deus que os abençoe, em vós sentireis fortes consolações, dessas que secam as lágrimas; sentireis aspirações grandiosas que vos mostrarão o porvir que o soberano Senhor prometeu. – Sanson, ex-membro da Sociedade Espírita de Paris. (1863.) Comentário – As lições de Alcione quando no evangelho na casa da família Davenport, são dignas de estudo e profunda reflexão, que não nos cabe neste momento. Queremos apenas estabelecer um vínculo entre o trecho do livro e o evangelho, cabe ao leitor as reflexões pessoais e o estudo pormenorizado a fim que estas lições ecoem em seu coração e em sua vida. Esta estrada é individual, sou como viajante que lhe diz: olhe, fui por este caminho, experimente... Alcione nos fala dos caminhos de quem vive a existência com os olhos na lições do Cristo e aqueles que o desconsideram em suas ações cotidianas. Pois bem, o evangelho nos vem falar da dura prova de perder um ente querido em tenra idade. Pensemos juntos, lembremos de situações vividas

em que presenciamos o desencarne de um jovem ou uma criança. Como estavam os corações que permitiram-se consolar pelo alto? Qual o consolo que o materialismo apresenta neste momento? Qual a riqueza que pode consolar uma mãe que já não tem mais seu filho? Se as dores são muitas, saibamos que ao nos colocarmos a caminho com Jesus, a consolação é profunda, inesgotável!!! Estes dois textos, de Alcione e do Evangelho, nos permitem uma reflexão mais ampla, um clareia o outro, roguemos ao Pai olhos de ver. Avancemos!!

22 – (Renuncia – Alcione e família Davenport) — Agora, agradeçamos a Deus o socorro que nos foi enviado através da inspiração. As mais das vêzes, temos a certeza de que devemos, em grande parte, o pão material ao próprio esfôrço, mas o mesmo não se dá com relação ao alimento espiritual. Êste nos vem sempre de Deus, do seu paterno coração, que nos cumula de infinitos recursos. Temos na Terra a lei da necessidade, mas o Senhor tem a do suprimento. Agradeçamos a sua misericórdia e apliquemos as dádivas recebidas, porque novos elementos fluirão, para nossa alma, dos seus inexauríveis celeiros de sabedoria e abundância.

ESE - 22. (...) Ficai sabendo que a verdadeira liberdade, para o Espírito, consiste no rompimento dos laços que o prendem ao corpo e que, enquanto vos achardes na Terra, estareis em cativeiro. Habituai-vos a não censurar o que não podeis compreender e crede que Deus é justo em todas as coisas. Muitas vezes, o que vos parece um mal é um bem. Tão limitadas, no entanto, são as vossas faculdades, que o conjunto do grande todo não o apreendem os vossos sentidos obtusos. Esforçai-vos por sair, pelo pensamento, da vossa acanhada esfera e, à medida que vos elevardes, diminuirá para vós a importância da vida material que, nesse caso, se vos apresentará como simples incidente, no curso infinito da vossa existência espiritual, única existência verdadeira. – Fénelon. (Sens, 1861.) Comentário – Alcione nos faz um convite a resignação, a Terra nos remete a muitas necessidades, materiais e espirituais. Onde buscamos o suprimento? Onde está nosso tesouro também ali se encontra o nosso coração!! Onde depositamos as preciosas 24 horas que recebemos diariamente. Fácil é lermos este livro e condenarmos as ações de seus personagens, mas eis que é chegada a hora de reconhecermos em nós o que

ainda existe de orgulho e egoísmo para que a vida nos seja terreno fértil com colheita farta. 23 – (Renuncia – Alcione e família despedindo-se do Padre Damiano) — Tendes razão, padre! Também eu estou chumbada ao leito para meditações necessárias. Minhas pernas paralíticas nunca me permitirão tão longa viagem!... — Não te lastimes, porém, pensando nesses obstáculos, certa de que a misericórdia do Todo Poderoso nunca andou atrasada. Quando nos parece tarda, é que algum motivo existe, que não podemos compreender de pronto... A filha de D. Inácio continuava chorando enternecidamente. Em seguida, o velho sacerdote, dando a perceber que desejava mudar de assunto, fêz um sinal chamando Robbie à cabeceira. O menino atendeu, compungido. — Por que não trouxeste o violino? — indagou com interêsse.

23. Vive o homem incessantemente em busca da felicidade, que também incessantemente lhe foge, porque felicidade sem mescla não se encontra na Terra. Entretanto, malgrado às vicissitudes que formam o cortejo inevitável da vida terrena, poderia ele, pelo menos, gozar de relativa felicidade, se não a procurasse nas coisas perecíveis e sujeitas às mesmas vicissitudes, isto é, nos gozos materiais em vez de a procurar nos gozos da alma, que são um prelibar dos gozos celestes, imperecíveis; em vez de procurar a paz do coração, única felicidade real neste mundo, ele se mostra ávido de tudo o que o agitará e turbará, e, coisa singular! O homem, como que de intento, cria para si tormentos que está nas suas mãos evitar. Haverá maiores do que os que derivam da inveja e do ciúme? Para o invejoso e o ciumento, não há repouso; estão perpetuamente febricitantes. O que não têm e os outros possuem lhes causa insônias. Dão-lhes vertigem os êxitos de seus rivais; toda a emulação, para eles, se resume em eclipsar os que lhes estão próximos, toda a alegria em excitar, nos que se lhes assemelham pela insensatez, a raiva do ciúme que os devora. Pobres insensatos, com efeito, que não imaginam sequer que, amanhã talvez, terão de largar todas essas frioleiras cuja cobiça lhes envenena a vida! Não é a eles, decerto, que se aplicam estas palavras: “Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados”, visto que as suas preocupações não são aquelas que têm no céu as compensações merecidas. Que de tormentos, ao contrário, se poupa aquele que sabe contentar-se com o que tem, que nota sem inveja o que não possui, que não procura parecer mais do que é. Esse é sempre rico, porquanto, se olha para baixo de si e

não para cima, vê sempre criaturas que têm menos do que ele. É calmo, porque não cria para si necessidades quiméricas. E não será uma felicidade a calma, em meio das tempestades da vida? – Fénelon. (Lião, 1860.) Comentário – Quais as causas de nossas aflições? Por que nos agastamos tanto no dia a dia com preocupações e pormenores desnecessários? A calma e a masuetude que almejamos decorre de onde depositamos nossas esperanças. Se apenas a conquista dos bens materiais no impulsiona, saibamos que a colheita será desastrosa. 24 - (Renúncia – Alcione e MadalenaVilamil) Nessa noite, por mais que se esforçasse, Alcione não conseguiu fazer o comentário. Com maldita dificuldade, continha as lágrimas que lhe bailavam à flor dos olhos. A enfêrma interrogou-a com o olhar muito lúcido, e ela respondeu beijando-a: — A senhora hoje está fatigada. Minhas palavras poderiam incomodá-la... Além disso, quero pensar que uma consciência pura é o melhor tesouro do mundo. Nas melhores posições terrenas o homem será positivamente um desventurado, sem o refúgio dêsse santuário interior, onde Deus nos fala, consolando e esclarecendo, em sua infinita misericórdia!... A doente pôs-se a meditar nessas verdades sublimes, enquanto a filha, adivinhando a onda de preocupações acerbas que afogava o ser amado, retirava-se para orar em silêncio, de modo a diminuir as próprias amarguras. ESE - 24. Toda a gente fala da desgraça, toda a gente já a sentiu e julga conhecer-lhe o caráter múltiplo. Venho eu dizer-vos que quase toda a gente se engana e que a desgraça real não é, absolutamente, o que os homens, isto é, os desgraçados, o supõem. Eles a vêem na miséria, no fogão sem lume, no credor que ameaça, no berço de que o anjo sorridente desapareceu, nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e com o coração despedaçado, na angústia da traição, na desnudação do orgulho que desejara envolver-se em púrpura e mal oculta a sua nudez sob os andrajos da vaidade. A tudo isso e a muitas coisas mais se dá o nome de desgraça, na linguagem humana. Sim, é desgraça para os que só vêem o presente; a verdadeira desgraça, porém, está nas conseqüências de um fato, mais do que no próprio fato. Dizei-me se um acontecimento, considerado ditoso na ocasião, mas que acarreta consequências funestas, não é, realmente, mais desgraçado do que outro que a princípio causa viva contrariedade e acaba produzindo o bem. Dizei-me se a tempestade que vos arranca as árvores, mas que saneia o ar, dissipando os miasmas insalubres que causariam a morte, não é antes uma felicidade do que uma infelicidade.

Para julgarmos de qualquer coisa, precisamos ver-lhe as conseqüências. Assim, para bem apreciarmos o que, em realidade, é ditoso ou inditoso para o homem, precisamos transportar-nos para além desta vida, porque é lá que as conseqüências se fazem sentir. Ora, tudo o que se chama infelicidade, segundo as acanhadas vistas humanas, cessa com a vida corporal e encontra a sua compensação na vida futura. Vou revelar-vos a infelicidade sob uma nova forma, sob a forma bela e florida que acolheis e desejais com todas as veras de vossas almas iludidas. A infelicidade é a alegria, é o prazer, é o tumulto, é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade, que fazem calar a consciência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem com relação ao seu futuro. A infelicidade é o ópio do esquecimento que ardentemente procurais conseguir. Esperai, vós que chorais! Tremei, vós que rides, pois que o vosso corpo está satisfeito! A Deus não se engana; não se foge ao destino; e as provações, credoras mais impiedosas do que a matilha que a miséria desencadeia, vos espreitam o repouso ilusório para vos imergir de súbito na agonia da verdadeira infelicidade, daquela que surpreende a alma amolentada pela indiferença e pelo egoísmo. Que, pois, o Espiritismo vos esclareça e recoloque, para vós, sob verdadeiros prismas, a verdade e o erro, tão singularmente deformados pela vossa cegueira! Agireis então como bravos soldados que, longe de fugirem ao perigo, preferem as lutas dos combates arriscados à paz que lhes não pode dar glória, nem promoção! Que importa ao soldado perder na refrega armas, bagagens e uniforme, desde que saia vencedor e com glória? Que importa ao que tem fé no futuro deixar no campo de batalha da vida a riqueza e o manto de carne, contanto que sua alma entre gloriosa no reino celeste? – Delfina de Girardin. (Paris, 1861.) Comentário – Uma das grandes dificuldades de todos nós é compreender a dor, resignar-se quando os propósitos divinos nos chamam a provar a fé que já se alcançou. Alcione, anjo de Deus, vivenciou duras lições. Para muitos a leitura destas páginas traz uma inquietação profunda, uma sensação de a justiça divina mora longe deste planeta, afinal, Alcione era pura, simples, bondosa, porque sofreu tanto? As luzes do evangelho nesta Estrada da Misericórdia nos remetem a um melhor entendimento que passa longe da razão, mas requer usemos todos os nossos sentimentos e solicita que alcemos nossa fé em patamares futuros. As consequências do que hoje padecemos serão vistas em momento posterior, como bem observa este trecho do Evangelho. Tenhamos fé no futuro, saibamos que a dor é escola divina que permitirá que “nossa alma entre gloriosa no reino celeste”. 25 – (Renuncia – Alcione e Madalena Vilamil)

Alcione procurou não trair na face a estranha emoção que experimentava. Madalena pleiteava duas coisas inadmissíveis. Mas, longe de quebrar o padrão de tranqüilidade da querida enfêrma, concordou nestes têrmos: — Tão logo se encontre mais forte para viajar de carro, iremos ao túmulo de meus avós, mas, penso que mamãe não deve afligir-se por isso. Que é mamãe, a sepultura senão um monte de cinzas? Quanto à genitora de Beatriz, hei de trazê-la a São Marcelo na primeira oportunidade. Espero, porém, que a senhora esteja descansada na fé em Deus. Repousemos a mente na inesgotável bondade divina. É certo que temos muitas e grandes necessidades, mas o Altíssimo tem tudo para nos dar e sômente espera saibamos compreender a sua misericórdia. ESE - 25. Sabeis por que, às vezes, uma vaga tristeza se apodera dos vossos corações e vos leva a considerar amarga a vida? É que vosso Espírito, aspirando à felicidade e à liberdade, se esgota, jungido ao corpo que lhe serve de prisão, em vãos esforços para sair dele. Reconhecendo inúteis esses esforços, cai no desânimo e, como o corpo lhe sofre a influência, toma-vos a lassidão, o abatimento, uma espécie de apatia, e vos julgais infelizes. Crede-me, resisti com energia a essas impressões que vos enfraquecem a vontade. São inatas no espírito de todos os homens as aspirações por uma vida melhor; mas, não as busqueis neste mundo e, agora, quando Deus vos envia os Espíritos que lhe pertencem, para vos instruírem acerca da felicidade que Ele vos reserva, aguardai pacientemente o anjo da libertação, para vos ajudar a romper os liames que vos mantêm cativo o Espírito. Lembrai-vos de que, durante o vosso degredo na Terra, tendes de desempenhar uma missão de que não suspeitais, quer dedicando-vos à vossa família, quer cumprindo as diversas obrigações que Deus vos confiou. Se, no curso desse degredo-provação, exonerando-vos dos vossos encargos, sobre vós desabarem os cuidados, as inquietações e tribulações, sede fortes e corajosos para os suportar. Afrontai-os resolutos. Duram pouco e vos conduzirão à companhia dos amigos por quem chorais e que, jubilosos por ver-vos de novo entre eles, vos estenderão os braços, a fim de guiar-vos a uma região inacessível às aflições da Terra. – François de Genève. (Bordéus.) Comentário – Madalena teve uma vida de muitos sofrimentos, reconhecemos nesta estrada o quão valiosa foi esta encarnação para o seu espírito e como Alcione foi luz em seu caminho ajudando-a a suportar as agruras e desenganos que atravessou. Amigos queridos, meditai agora, qual a vossa missão neste planeta? Como a dor lhe tem ensinado a seguir em frente de uma forma melhor e mais elevada? Qual o caminho de purificação que Jesus lhe propõe?

Dia virá em que seremos guiados para uma “região inacessível às aflições da Terra”, saibamos, porém, olhar o exemplo de Alcione que desde muito encontra-se nas esferas sublimes, onde só o bem existe. 26 – (Renuncia – Alcione e Madalena Vilamil) Alcione acompanhava-lhe o pranto natural, rogando a Jesus lhes enviasse o socorro divino da sua misericórdia. Depois de um minuto, a filha de D. Inácio voltava a dizer: — Minha mãe veio interpretar, para nós, a leitura evangélica... Sim, todos nós temos um hôrto de agonias, que atravessaremos a sós, no esforço valoroso da fé... todos teremos um caminho doloroso e um calvário... mas, além de tudo isso... a criatura de Deus encontrará a ressurreição e a vida eterna... 26 - 26. Perguntais se é lícito ao homem abrandar suas próprias provas. Essa questão equivale a esta outra: É lícito, àquele que se afoga, cuidar de salvar-se? Àquele em quem um espinho entrou, retirá-lo? Ao que está doente, chamar o médico? As provas têm por fim exercitar a inteligência, tanto quanto a paciência e a resignação. Pode dar-se que um homem nasça em posição penosa e difícil, precisamente para se ver obrigado a procurar meios de vencer as dificuldades. O mérito consiste em sofrer, sem murmurar, as conseqüências dos males que lhe não seja possível evitar, em perseverar na luta, em se não desesperar, se não é bem-sucedido; nunca,porém, numa negligência, que seria mais preguiça do que virtude. (...) Vós que deixais os vossos aposentos perfumados para irdes à mansarda infecta levar a consolação; vós que sujais as mãos delicadas pensando chagas; vós que vos privais do sono para velar à cabeceira de um doente que apenas é vosso irmão em Deus; vós, enfim, que despendeis a vossa saúde na prática das boas obras, tendes em tudo isso o vosso cilício, verdadeiro e abençoado cilício, visto que os gozos do mundo não vos secaram o coração, que não adormecestes no seio das volúpias enervantes da riqueza, antes vos constituístes anjos consoladores dos pobres deserdados. Vós, porém, que vos retirais do mundo, para lhe evitar as seduções e viver no insulamento, que utilidade tendes na Terra? Onde a vossa coragem nas provações, uma vez que fugis à luta e desertais do combate? Se quereis um cilício, aplicai-o às vossas almas e não aos vossos corpos; mortificai o vosso Espírito e não a vossa carne; fustigai o vosso orgulho, recebei sem murmurar as humilhações; flagiciai o vosso amorpróprio; enrijai-vos contra a dor da injúria e da calúnia, mais pungente do que a dor física. Aí tendes o verdadeiro cilício cujas feridas vos serão contadas, porque atestarão a vossa coragem e a vossa submissão à vontade de Deus. – Um anjo guardião. (Paris, 1863.)

Comentário – Nos encaminhamos para os momentos finais, o desencarne de Madalena, de Robbie (Antero), e Alcione continuando sua estrada solitária e de grande renúncia, que nos ensina profundas lições. Valeu a pena tanto sofrer? A sua vida trouxe algum significado para outras vidas? A leitura atenta do livro nos permitirá ver a transformação moral de muitos e até hoje esta história belíssima tem levado muito corações a meditar sobre a dor, mas também sobre a misericórdia divina. Há muita desatenção no mundo por parte dos que se intitulam trabalhadores do Cristo, e caminhamos para momentos derradeiros em que este planeta se transformará em mundo regenerado. Tenhamos a coragem de sondar nossas dores, e eis o evangelho a nos dar conta dos remédios que curam: “fustigai o vosso orgulho, recebei sem murmurar as humilhações; flagiciai o vosso amor-próprio.” 27 – (Renuncia – Alcione e Carlos) — Quando os capelães inspetores falam de admoestação, isso significa fome no cárcere ou suplício nas escuras salas de tormento. É possível que Jesus te poupe o martírio perante os inquisidores cruéis. Para isso, filha, rogarei incessantemente a proteção de sua misericórdia, em favor da tua alma generosa, mas não creio que te possas eximir da prisão infamante. Todavia, morrer ao abandono nas celas imundas do Santo Ofício é mil vêzes melhor que suportar os olhos despudorados dos maus eclesiásticos que infligem pesadas torturas às mulheres indefesas. Sei de irmãs nossas que morreram no segundo ou no terceiro grau de tormento, em completa nudez, por imposição de homens impiedosos. ESE - 27. (...) Sabeis se a Providência não vos escolheu, não como instrumento de suplício para agravar os sofrimentos do culpado, mas como o bálsamo da consolação para fazer cicatrizar as chagas que a sua justiça abrira? Não digais, pois, quando virdes atingido um dos vossos irmãos: “É a justiça de Deus, importa que siga o seu curso.” Dizei antes: “Vejamos que meios o Pai misericordioso me pôs ao alcance para suavizar o sofrimento do meu irmão. Vejamos se as minhas consolações morais, o meu amparo material ou meus conselhos poderão ajudá-lo a vencer essa prova com mais energia, paciência e resignação. Vejamos mesmo se Deus não me pôs nas mãos os meios de fazer que cesse esse sofrimento; se não me deu a mim, também como prova, como expiação talvez, deter o mal e substituí-lo pela paz.” Ajudai-vos, pois, sempre, mutuamente, nas vossas respectivas provações e nunca vos considereis instrumentos de tortura. Contra essa idéia deve revoltar-se todo homem de coração, principalmente todo espírita, porquanto este, melhor do que qualquer outro, deve compreender a extensão infinita da bondade de Deus. Deve o espírita estar compenetrado

de que a sua vida toda tem de ser um ato de amor e de devotamento; que, faça ele o que fizer para se opor às decisões do Senhor, estas se cumprirão. Pode, portanto, sem receio, empregar todos os esforços por atenuar o amargor da expiação, certo, porém, de que só a Deus cabe detê-la ou prolongá-la, conforme julgar conveniente. Não haveria imenso orgulho, da parte do homem, em se considerar no direito de, por assim dizer, revirar a arma dentro da ferida? De aumentar a dose do veneno nas vísceras daquele que está sofrendo, sob o pretexto de que tal é a sua expiação? Oh! considerai-vos sempre como instrumento para fazê-la cessar. Resumindo: todos estais na Terra para expiar; mas, todos, sem exceção, deveis esforçar-vos por abrandar a expiação dos vossos semelhantes, de acordo com a lei de amor e caridade. – Bernardino, Espírito protetor. (Bordéus, 1863.) Comentário – Eis os momentos derradeiros, Alcione jogada a uma cela, fruto da incompreensão dos homens ante o Evangelho de Jesus. Mas ela vem como bálsamo para suavizar as imensas dores de seus amados. Este trecho do evangelho nos permite vislumbrar a missão de Alcione entre os seus, e nos convida a resignificar o entendimento de sua vida entre nós. Para muitos é alguém que muito sofreu, chega a hora, porém, de entendermos, de termos olhos de ver, a vida de Alcione é o testemunho de alguém que muito amou!! 28 – (Renuncia – Alcione e Carlos) — Sinto que perdi, desgraçadamente, o meu sagrado ensejo de união com Deus! Tanto fizeste por mim, e, no entanto, esqueci os menores deveres de fraternidade, sem me lembrar de que nas trevas do ódio poderia aniquilar-te também a ti, que tudo me deste! Que tremenda lição! — Tranqüiliza-te — disse a agonizante com profunda expressão de ternura —, confia no Senhor que nos renova as oportunidades de redenção... Sua misericórdia nos aproximará novamente, seremos felizes na observância do “amai-vos uns aos outros”! Fortaleçamos o espírito, sem desalento injustificável. Não nos cansemos de recordar que o Mestre foi à cruz do martírio por amor a nós, e está à nossa espera de há longos séculos!... É preciso não desanimar no bem... ESE - 28. Um homem está agonizante, presa de cruéis sofrimentos.Sabe-se que seu estado é desesperador. Será lícito pouparem-se-lhe alguns instantes de angústias, apressando-se--lhe o fim? Quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não pode ele conduzir o homem até à borda do fosso, para daí o retirar, a fim de fazê-lo voltar a si e alimentar idéias diversas das que tinha? Ainda que haja chegado ao último extremo um moribundo, ninguém pode afirmar com

segurança que lhe haja soado a hora derradeira. A Ciência não se terá enganado nunca em suas previsões? Sei bem haver casos que se podem, com razão, considerar desesperadores; mas, se não há nenhuma esperança fundada de um regresso definitivo à vida e à saúde, existe a possibilidade, atestada por inúmeros exemplos, de o doente, no momento mesmo de exalar o último suspiro, reanimar-se e recobrar por alguns instantes as faculdades! Pois bem: essa hora de graça, que lhe é concedida, pode ser-lhe de grande importância. Desconheceis as reflexões que seu Espírito poderá fazer nas convulsões da agonia e quantos tormentos lhe pode poupar um relâmpago de arrependimento. O materialista, que apenas vê o corpo e em nenhuma conta tem a alma, é inapto a compreender essas coisas; o espírita, porém, que já sabe o que se passa no além-túmulo, conhece o valor de um último pensamento. Minorai os derradeiros sofrimentos, quanto o puderdes; mas, guardai-vos de abreviar a vida, ainda que de um minuto, porque esse minuto pode evitar muitas lágrimas no futuro. – S. Luís. (Paris, 1860.) Comentário – O que se passou com Carlos após o desencarne de Alcione? Quais as reflexões que sua alma foi levada a fazer ao ter Alcione partindo em seus braços. Lembremos do início, que o Carlos inicia o processo de encarnação desta mesma forma, em imenso sofrimento, jogado nas trevas espirituais que construiu para si mesmo. Na Terra, invertem-se os papéis, o anjo é feito prisioneiro, o desventurado emissário de Deus. Qual é a morte verdadeira? Quem agoniza afinal? Saibamos que a vida do espírito é a vida verdadeira, o corpo, a matéria, são escolas divinas, hospitais regeneradores e, ainda, prisão educativa, necessária aos corações ressequidos pelo orgulho e pelo egoísmo. Encerra-se o livro, mas não o evangelho. Teremos, ainda, 03 mensagens de São Luis que nos dão um maior entendimento do que representou a vinda de Alcione ao nosso planeta. Para o espírito, a encarnação é parecida com a morte, vejamos os pontos principais.

SACRIFÍCIO DA PRÓPRIA VIDA 29 - (...) O verdadeiro devotamento consiste em não temer a morte, quando se trate de ser útil, em afrontar o perigo, em fazer, de antemão e sem pesar, o sacrifício da vida, se for necessário. – S. Luís. (Paris, 1860.) (Lembremos da conversa inicial de Alcione com Antenio) 30. Se um homem se expõe a um perigo iminente para salvar a vida a um de seus

semelhantes, sabendo de antemão que sucumbirá, pode o seu ato ser considerado suicídio? Desde que no ato não entre a intenção de buscar a morte, não há suicídio e, sim, apenas, devotamento e abnegação, embora também haja a certeza de que morrerá. Mas, quem pode ter essa certeza? Quem poderá dizer que a Providência não reserva um inesperado meio de salvação para o momento mais crítico? Não poderia ela salvar mesmo aquele que se achasse diante da boca de um canhão? Pode muitas vezes dar-se que ela queira levar ao extremo limite a prova da resignação e, nesse caso, uma circunstância inopinada desvia o golpe fatal. – S. Luís. (Paris, 1860.) PROVEITO DOS SOFRIMENTOS PARA OUTREM 31. Os que aceitam resignados os sofrimentos, por submissão à vontade de Deus e tendo em vista a felicidade futura, não trabalham somente em seu próprio benefício? Poderão tornar seus sofrimentos proveitosos a outrem? Podem esses sofrimentos ser de proveito para outrem, material e moralmente: materialmente se, pelo trabalho, pelas privações e pelos sacrifícios que tais criaturas se imponham, contribuem para o bem-estar material de seus semelhantes; moralmente, pelo exemplo que elas oferecem de sua submissão à vontade de Deus. Esse exemplo do poder da fé espírita pode induzir os desgraçados à resignação e salvá-los do desespero e de suas conseqüências funestas para o futuro. – S. Luís. (Paris, 1860.) Caríssimos amigos, encerramos aqui a Estrada da Misericórdia, com um pequeno trecho do livro: “E ninguém da Terra, naquele compartimento úmido e escuro, poderia contemplar o quadro celeste a se desenrolar, como tributo de veneração à discípula do Cristo, que soubera vencer em seu nome tôdas as dificuldades, vicissitudes e penas da vida humana. (...) Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! Bem-aventurados os humildes, porque herdarão a Terra! Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor à justiça, porque dêles é o Reino dos Céus!..” Agradeço a Jesus pela oportunidade de estudar este belíssimo livro com as luzes do evangelho, agradeço a Alcione pelo seu exemplo de amor e resignação. Rogo ao Pai que minha alma não seja indiferente a estas lições. Abraços amigos!! Candice Günther Campo Grande – MS, 16 de abril de 2014.

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