A evolução da percussão em orquestra. The development of percussion in orchestra

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Curso Profissional de Instrumentista de Sopros e Percussão (2012-2015)

A evolução da percussão em orquestra

Alexandre Ferreira Silva Nº 1, 3º Música

Índice Introdução ............................................................................................................................................ 3 1 - Tímpanos ........................................................................................................................................ 4 1.1 - Introdução em orquestra ..................................................................................................... 5 2 - Influência Turca na Europa ........................................................................................................ 9 2.1 – Bombo ................................................................................................................................... 10 2.1.1 – Introdução em orquestra........................................................................................... 10 2.2 – Pratos .................................................................................................................................... 12 2.2.1 – Introdução em orquestra........................................................................................... 12 2.3 – Triângulo ............................................................................................................................... 14 2.3.1 – Introdução em orquestra........................................................................................... 14 2.4 – Caixa de rufo........................................................................................................................ 16 2.4.1 – Introdução em orquestra........................................................................................... 16 2.5 - Tamborim .............................................................................................................................. 18 2.5.1 - Introdução em orquestra............................................................................................ 18 3 - Instrumentos de lâminas .......................................................................................................... 20 3.1 - Glockenspiel ......................................................................................................................... 20 3.2 – Xilofone ................................................................................................................................. 20 3.3 - Celesta.................................................................................................................................... 21 3.4 - Marimba ................................................................................................................................. 21 3.5 - Vibrafone ............................................................................................................................... 21 Conclusão .......................................................................................................................................... 23

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Introdução No 3º ano do Curso Profissional de Instrumentista de Sopros e Percussão realiza-se uma PAP – Prova de Aptidão Profissional – com objetivo de avaliar os conhecimentos adquiridos por aluno durante os três anos. A primeira parte do trabalho é composta pela escolha de um tema e a realização de um trabalho escrito sobre o mesmo. Posteriormente, teremos de o apresentar perante um júri e fazer a respetiva defesa. Numa segunda fase, mais prática, o aluno fará um recital de final de curso também para avaliação, podendo este estar ou não relacionado com o tema da PAP, ficando ao critério do aluno. No decorrer do processo, o tema escolhido foi A Evolução da Percussão em Orquestra, e, para o desenvolver baseei-me em vários sites fidedignos como os Arquivos Sinfónicos de Viena, e livros como Groove Dicionário da Música e dos Músicos e Handbook of Percussion Instrumets. Esta PAP está estruturada em três partes, a primeira abordo os tímpanos, primeiro instrumento de percussão a surgir em orquestra, a segunda diz respeito aos restantes instrumentos trazidos pelas bandas militares turcas, Influência Turca na Europa, finalizando com a introdução dos instrumentos de lâminas. O principal objetivo deste trabalho é não só perceber qual a intenção e objetivos dos compositores - desde o período Barroco até ao século XXI - na introdução de instrumentos de percussão estranhos à orquestra, mas também conhecer a sua evolução cronológica, de onde vieram e como surgiram. Espero assim ficar mais elucidado no decorrer do trabalho e no final ter adquirido conhecimentos suficientes para expor o assunto com clareza e objetividade.

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1 - Tímpanos A invenção dos tímpanos remonta à mais remota antiguidade, moldado em forma de chaleira com troncos ocos de árvores, carapaças de tartaruga e tigelas de barro cobertas com couro estavam entre os instrumentos musicais das culturas antigas. As primeiras referências sugerem que os primeiros tímpanos tenham sido usados principalmente como instrumentos de rituais e cerimónia, para sinalizar (ex: encorajar as tropas) ou para fornecer a base rítmica para dança, não existindo evidência de que estariam afinados com notas específicas. (Sadie & Tyrrell, 2001) O aparecimento de um par de tímpanos de diferentes tamanhos (um presumivelmente a dar uma nota mais aguda que outro) surgiu em culturas Africanas, Indianas, Persianas, Islâmicas e Mongóis. Foram trazidos para a Europa Meridional e Ocidental no século XIII pelos Cruzados e Sarracenos,

de

onde

se

espalharam

rapidamente para o norte. Estes pequenos tímpanos (naqqâra em Arábico) tinham cerca de

Fig.1 - Naqqâra

20 a 22 centímetros onde eram agarrados por um cinto ao instrumentista e tocados com baquetas. Usados em contextos militares para marchas triunfais e procissões, mais tarde, encontraram um contexto e apareceram em ensembles1 como festivais de corte e danças.

1

Conjunto de músicos, cantores, etc., que se apresentam juntos em público, in www.infopedia.pt

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Em meados do século XV um novo formato de tímpanos é espalhado por toda a

Europa

a

partir

do

leste

do

continente, estes eram maiores. Surgiram

novas

melhorias

técnicas incluindo a forma como o pergaminho era esticado - o velho método de pregar ou amarrar foi gradualmente substituído com peles envolvidas num aro - no início do século XVI começou a ser equipado

Fig. 2 - Par de Tímpanos, séc. XV -XVI

com parafusos para esticar a pele sobre o aro. A afinação dos primeiros tímpanos resultava da largura da sua caixa-de-ressonância e da tensão exercida pelos parafusos na pele, assim sendo, o timpaneiro afinava-os com os parafusos, colocando mais ou menos tensão na pele, de forma a obter a nota desejada. Nesse mesmo século, os tímpanos começaram a ser, não só tocados em festividades, como também na igreja juntamente com o órgão de tubos e coro. Habitualmente os tímpanos tinham intervenções em simultâneo com os trompetes com o objetivo de embelezar a glorificação cerimonial. (Vienna Symphonic Library, 2002-2015) Consequentemente, os trompetes e tímpanos começaram a ser mais utilizados em palcos nomeadamente em ballets, simbolizando estados de espíritos bélicos e poderes aristocráticos. Ensembles que consistem em trompetes e tímpanos só existiram no período barroco, não havendo composições da época que comprovem com exatidão esta referência. Só mais tarde, é que os tímpanos foram aceites em orquestra.

1.1 - Introdução em orquestra No início do século XVII há um crescente número de referências aos tímpanos serem usados em vários contextos, por exemplo, as direções de palco das masques inglesas2, de Jonson - The Golden Age Restored - em 1616, que citam a utilização do

2

Género de entretenimento desenvolvido em Inglaterra durante os séculos 16 e 17 centrado numa dança de mascarados. Baseia-se em temas alegóricos ou mitológicos, envolvidos em poesia, música e conjuntos elaborados, in Groove Dicitionary of Music and Musicians.

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instrumento. A parte mais antiga conhecida por escrito é de Nicolaus Hasse, Auffzüge 2 Clarinde [und] Heerpauken em 1656. A verdadeira introdução dos tímpanos em orquestra que aconteceu por volta de 1675 é atribuída a Jean-Baptiste Lully, com a ópera Thésée, afinado numa quarta perfeita3. Desde então os compositores começaram a escrever mais para tímpanos, nomeadamente na corte francesa, acabando-se por difundir na europa. J. S. Bach começou a escrever cantatas com tímpanos para apoiar os metais ou o coro, como já referido, em algumas ocasiões dava-lhes partes solísticas como no início da Christmas Oratorio (1734-1735). Os tímpanos também eram aproveitados para dramatizar, exemplo disso a “Missa em Si bemol” de J. S. Bach (1747-1749). Boyce, Handel e Telemann adotaram os mesmo princípios de J. S. Bach da orquestração dos tímpanos. Haydn, que por vezes era o próprio timpaneiro, atribuiu a muitas das suas sinfonias e corais partes inovadoras para os tímpanos. O trémulo4 que abre a sua Sinfonia Nº103 foi um novo efeito em orquestra, as mudanças de afinação, relembrando que não havia sistema de pedais, e o abafar os tímpanos com tecidos (“con sordini”), foram também novas inovações. Sendo esta última usada posteriormente por Mozart em Die Zauberflöte (1791), o qual, fazia um uso soberbo dos tímpanos particularmente nas suas óperas onde servia quase sempre para reforçar o impacto dramático. Beethoven foi o primeiro a expandir o papel dos tímpanos em orquestra, fazendo-o de duas formas: começou a usar intervalos além das habituais quartas e quintas. Exemplo disto são a sexta menor “lá-fá” na sua 7ª Sinfonia (1811-1812) e a oitava de “fá” na sua 8ª (1812) e 9ª Sinfonia (1822-24). Para além disto, introduziu nos tímpanos, tarefas rítmicas e temáticas. Os trémulos são usados para construir um clímax e os solos produzem efeitos rítmicos e temáticos notáveis, como no 2º Andamento da 9ª Sinfonia. O Hector Berlioz foi o primeiro a usar notações para o tipo de baqueta a ser utilizada, influenciando o som que se obtém dos tímpanos, pois há diferença entre tocar com baquetas de feltro, couro ou madeira.

3

Distância entre duas notas, neste caso Dó e Fá. Percutir um ou mais sons, através da percussão das mãos ou baquetas no instrumento, de forma a prolongar a nota pelo tempo desejado pelo instrumentista. 4

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Durante

o

século

XIX,

os

compositores queixavam-se das limitações dos

tímpanos,

complexidade

devido musical

à

maior

existente

a

dificuldade nas mudanças de afinação levou

ao

acrescentamento

de

mais

tímpanos em orquestra. Weber foi dito como o primeiro compositor a incorporar três tímpanos em orquestra. Muitas foram

Fig. 3 - Tímpanos Dresden

as invenções e as ideias que surgiram para uma maior facilidade na mudança de afinação dos tímpanos, sendo que o chamado modelo de “Dresden” de Carl Pittrich (1881) dispunha de um sistema de afinação operado com os pés. Este era rápido, confiável e poderoso dando uma nova liberdade aos compositores. Posteriormente no século XX, Ludwig desenvolveu baseando-se neste sistema, um sistema de pedais ainda mais rápido, prático e preciso. Nos tímpanos, Mahler seguiu os passos de Berlioz e Wagner, usualmente as suas sinfonias requerem dois timpaneiros, cada um com três tímpanos, e as suas partes eram mais frequentemente melódicas do que rítmicas. Strauss elevou também os tímpanos a um novo nível, requerendo quatro tímpanos com pedais. A função do timpaneiro tornou-se mais complexa devido à maior exigência das suas funções, dispunha de um maior número de tímpanos em orquestra e mais frequentes trocas de afinações - por exemplo, nas óperas Salome (1905) e Elektra (1909) Strauss incluiu mudanças de afinação em ritmos rápidos. Na Rússia, Stravinsky escreveu partes rítmicas complexas para os tímpanos, requerendo dois timpaneiros mais um terceiro (opcional) no bailado Le Sacre du Printemps (1911-1913). Cinco tímpanos, incluindo um agudo em Si, são tocados em simultâneo, em Renard (1915-1916) surgiu o glissando5. No século XX, compositores como Carl Nielsen, incluíram passagens de dois timpaneiros a tocar uma terceira menor a subir cromaticamente. O pedido de acordes e notas extremamente agudas começaram a ser frequentes como se verifica nas obras dos compositores Holst, Milhaud, Ravel, Janáček, Ives, Copland, Piston, Schuman e Hartman. 5

Glissando é uma passagem de uma determinada altura para outra diferente, ouvindo-se todas as notas até à desejada. Por exemplo, uma harpa deixar escorregar os dedos pelas cordas.

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Neste mesmo século os compositores começaram a pedir regularmente timbres inusuais e efeitos até então desconhecidos. Elgar, por exemplo, pediu um trémulo com a parte de trás das baquetas, mas com a sua aprovação, passou a ser usual, tocar este trémulo com duas moedas. Outro exemplo da inovação tímbrica foi o pedido de Bliss para colocar um prato em cima do tímpano e tocassem com baquetas de Glockenspiel. E outros efeitos, como tocar no centro da pele e com luvas de condução de couro ou feltro, passaram a ser utilizados ocasionalmente. Atualmente a exploração de vários timbres e efeitos caracteriza o uso dos tímpanos na música moderna: passagens em glissando, progressões graduais, tocar no centro da pele, usar diferentes tipos de baquetas em cada mão, tocar com vassouras são exemplos desta nova exploração tímbrica. Cada vez mais, no repertório contemporâneo, a escolha de baquetas e efeitos são deixados a cargo dos timpaneiros. Deste modo, o uso dos tímpanos contemporâneos em orquestra alcançam um apogeu no final do século XX e inícios do século XXI na música em orquestra e solista.

Fig. 4 - Tímpanos atuais

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2 - Influência Turca na Europa Durante a primeira metade do século XVIII vários instrumentos de percussão tornaram-se de grande interesse para os europeus. Este fascínio pelas práticas musicais orientais, por parte de compositores ocidentais, foram sem dúvida, decisivos para a origem da percussão nas orquestras modernas. Antes da influência turca na europa, os tímpanos eram os únicos membros da percussão em orquestra. As Corporações de Janízaros criadas em 1326 eram compostas por guardas reais do império otomano, ao longo dos anos, o crescente interesse musical cresceu nas corporações surgindo então as Bandas dos Janízaros, captando interesse dos exércitos europeus. Na segunda metade do século XVIII, Augusto II da Polónia, obteve uma banda militar Turca completa como presente do Sultão da Turquia. Os instrumentos de percussão utilizados na música turca incluíam bombo, pratos, triângulo, caixa, tímpanos e ocasionalmente tamborim. (Bugg, 2003)

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2.1 – Bombo Feito de madeira oca, com peles nos seus dois lados, os músicos tocavam com baquetas em ambos os lados. O bombo era uma raridade na Europa até ao século XVIII quando a imitação das bandas dos Janízaros Turcos tornou-se moda nas bandas militares europeias. No século XVI um quadro veneziano de Carpaccio mostra um músico turco a tocar um bombo - davul de origem turca nome dado ao antecessor do bombo moderno - com praticamente o mesmo tamanho dos bombos militares modernos. Com a introdução da música turca nas cortes modernas, este novo instrumento começou a ser gradualmente introduzido em orquestra, especialmente em óperas para criar um Fig. 5 – Carpaccio, Banda de Janízaros em Veneza

ambiente oriental.

2.1.1 – Introdução em orquestra O bombo usado em orquestra até meados do século XIX poderá ter sido o estreito bombo turco com uma ou duas peles, ou o de duas peles com uma carapaça de madeira cilíndrica, com aproximadamente 50 cm de largura, com a corda tencionada como em muitos dos tambores medievais, a corda passava pelos buracos nos aros e sobre a madeira em “V”, apertada com cintas de couro. Gluck é dito como o primeiro a utilizar o bombo em orquestra na sua ópera Le Cadi Dupé (1761), seguido de Mozart em Die Entführung aus dem Serail (1782), Haydn na sua Sinfonia nª 100 a “Militar” (1793-94) e na 9ª de Beethoven (1822-24). (Sadie & Tyrrell, 2001) Fig. 6 - Long Drum

Com Haydn e Beethoven um tambor longo (long drum) foi frequentemente ilustrado a ser tocado

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de forma oriental, isto é: com uma baqueta a tocar de um lado e a outra pele oposta com um conjunto de galhos ou uma vara. O long drum continuou a ser utlizado tanto em bandas militares como noutros lugares entre o século XVIII e inícios do século XIX. Nos inícios do século XIX, Spontini na sua ópera The Vestal Virigin (1807), tornou-se o primeiro compositor a pedir para o bombo ser tocado com uma baqueta de feltro, abandonando assim o timbre oriental do bombo. Frequentemente tocados em conjunto com os pratos, as notas dos pratos muitas vezes eram da opção do instrumentista, não havendo registo escrito na partitura. Um bom exemplo são as obras de Verdi Rigolleto (1851) e La Traviata (1853). Na generalidade dos casos os pratos eram montados em cima do bombo, sendo tocados pelo mesmo músico. Gradualmente desenvolveram-se técnicas de execução mais complexas, na Symphonie Fantastique (1830) de Berlioz, aparece pela primeira vez escrito um trémulo de bombo. Nas orquestras do Romantismo tardio, o bombo já estava firmemente introduzido na secção de percussão da orquestra. Os percussionistas começaram a posicionar o bombo de forma diferente, sendo este colocado num suporte de madeira, para que a pele, agora deitada horizontalmente, pudesse ser tocada mais facilmente, atendendo às novas necessidades tímbricas.

Fig. 7 – Conjunto de Bombos

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2.2 – Pratos Os pratos receberam o seu nome pela sua forma, se traduzirmos a palavra “pratos” do grego kýmbre, significa taça ou bacia. São instrumentos de altura indefinida, em forma côncava, os tamanhos e o material cobre, bronze ou prata, fazem variar consequentemente o seu som. (Peinkofer & Tannigel, 1976) Existiu sempre uma grande variedade de pratos desde a antiguidade até à atualidade, variando em tamanho e forma consoante o país. Existem, por exemplo, os crótalos, finger cymbals, pratos chineses, pratos orquestrais etc., sendo este último o que vamos falar. De origem asiática, estão entre os instrumentos mais antigos da percussão. Sempre associados a vários rituais e adorações religiosas, embora fossem usados também para acompanhar danças, eram somente utilizados em pares. A história moderna dos pratos começa no século XVII, quando um alquimista da Constantinopla chamado Avedis descobriu uma forma de produzir pratos com um som claro e Fig. 8 – Pratos Orquestrais

poderoso sendo estes os pratos usados nas bandas turcas que se espalharam na Europa. (Bugg, 2003)

2.2.1 – Introdução em orquestra Foi já no século XVIII durante a época Clássica que Gluck utilizou os pratos em Iphigénie en Tauride (1779), seguidamente Mozart em Die Entführung aus dem Serail (1782), Haydn na sua Sinfonia nª 100 a “Militar” (1793-1794) e Beethoven em Die Ruinen von Athen (1812) e 9ª Sinfonia (1822-1824). Em grande parte devido a Berlioz, no início do século XIX, começou-se a fazer um uso diferente dos pratos, escreveu para 10 pratos no seu Requiem (1837), cujos alguns

eram

para

ser

tocados

e/ou

sustentados

com

baquetas

moles.

Frequentemente escrevia para mais que um par de pratos e fazia combinações de pratos e bombo tocados somente por um músico. Wagner usava-os de forma a construir clímax nas suas obras, como Lohengrin (1846-48), outras vezes para construir um ar misterioso usava o som vibrante de uma Página 12 de 24

baqueta a raspar no prato, Der Ring des Nibelungen (1848-74). Usava também o trémulo de pratos, consistia em juntar os pratos e esfregá-los um contra o outro, Bartók e Rauph Williams também usaram este efeito, Tchaikovsky por outro lado, usava os pratos de forma staccato6 como na abertura de Romeo and Juliet (1869). Compositores como Mahler, Strauss, Schoenberg, Bartók, Stravinsky, Bliss, Hindemith, Gerhard e Walton exploraram diversos efeitos nas suas obras, tais como, percutir os pratos com uma vassoura, batente de triângulo, unhas etc. Começou-se a criar uma diversidade de efeitos infindáveis usando variadas baquetas, vassouras, ou outros objetos. O jazz7 influenciou a música orquestral através de novos timbres e técnicas de execução que passaram a ser usadas.

6

Designa um tipo de frase ou articulação na qual as notas devem ser executadas com curta duração através de técnicas de execução específicas. 7 Género de música vocal e instrumental, com origem nos músicos negros americanos no início do século XX, cujas características mais relevantes são a improvisação, o blues, o swing e a polirritmia in http://www.infopedia.pt

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2.3 – Triângulo Um sistrum antigo, primitivo dos chocalhos Egípcios, é considerado o protótipo do triângulo. Ironicamente, o triângulo nem sempre teve a forma triangular quando apareceu pela primeira vez no século XV, quadros da época mostram-no em forma trapeizodal. (Blades, 1971) Há muitos exemplos desde o século XV ao XVII em que o triângulo era apenas usado para Fig. 9 – Representação do Sistrum

prepósitos decorativos. Em muitos casos o triângulo medieval (e o batente) é descrito como um

instrumento maior do que se encontra atualmente em orquestra. Era usado para fins religiosos nas igrejas medievais, sendo frequentemente ilustrado nas mãos de anjos que cantam enquanto tocam. Tem lugar também na música secular8 e servia de acompanhamento para órgão de tubos.

2.3.1 – Introdução em orquestra Em 1710 foi registado um triângulo na Ópera de Hamburgo e em 1717 dois foram comprados para a Ópera de Dresden. Apareceu como instrumento orquestral na abertura em Sol de J. F. Fasch, a meio do século XVIII, foi também introduzido por Mozart em Die Entführung aus dem Serail (1782), Haydn na sua Sinfonia nª 100 a “Militar” (1793-94) e a 9ª de Beethoven (1822-24). Até aos finais do século XVIII o triângulo orquestral era usado principalmente para fornecer ritmo, em 1853 teve um estatuto de solista no Piano Concerto No.1 (1835-56) de Listz. Wagner introduziu o trémulo no triângulo na abertura, Die Meistersinger (1862-67) ¸ escreveu fusas em Die Walküre (1856-70) num tempo vivace9. Rimsky-Korsakov no Caprice Espagnol (1885) usou um trémulo na cadência em pianíssimo tocando em conjunto com a harpa. Grieg usou o trémulo de triângulo de forma a adicionar um “toque de prata” no acorde orquestral anunciando a Anitra's Dance na obra Peer Gynt Suite No. 1 (1888).

8

Oposição à música religiosa Vivace é utilizado como andamento musical indicando que um andamente é tocado com vivacidade, portanto, está num andamento rápido. 9

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No século XX os percussionistas já tinham disponíveis triângulos de vários tamanhos e pesos, ocasionalmente,

os

compositores

requeriam

triângulos específicos, William Russell em Fugue for Eight Percussion Instruments (1933) utilizou triângulos abafados com cerca de 10, 15 e 25 centímetros e Messiaen pediu um conjunto de três

Fig. 10 – Triângulo atual

triângulos em Eclairs sur l'Au-del (1988-92) e Concert à quatre (1990-92, completado por Y. Loriod, H. Holliger, G. Benjamin). O triângulo é sem dúvidas um instrumento intuitivo de tocar, mas os compositores não hesitaram em complicar os ritmos e a usarem ornamentos, por exemplo, a 11ª variação do Elgar em Enigma Variations (1899). Muitas vezes para trémulos fortes, ritmos rápidos, etc., são usados dois batentes.

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2.4 – Caixa de rufo A primeira caixa conhecida é um pequeno “tambor” medieval representado na arte nos inícios do século XIII e XIV, com a mesma forma de construção do bombo medieval e turco. Não tinha forma definitiva, por vezes o diâmetro era maior que a profundidade e vice-versa. A pele usada na época era pele de carneiro ou bezerro, mas existem evidência de peles de porco ou cabra. No século XIV o costume de um homem tocar um instrumento de sopro e caixa em conjunto acabou, desenvolvendo os instrumentos tanto de sopro como de percussão. O relativo som baixo proveniente da caixa aumentou o que a levou à introdução na música militar. As cada vez mas exigências das bandas militares levou a caixas cada vez mais altas e maiores, tornandose grande demais para ser segurado por um antebraço e passava a ser ligado ao ombro do instrumentista e amarrado com um cinto à cintura, chamada por vezes de “Caixa de Lansquenet”. A principal tarefa da caixa era dar sinais e marcar o ritmo de marcha.

Fig. 11 – Caixa de Lansquenet

2.4.1 – Introdução em orquestra No século XVII e XVIII a caixa continuou a evoluir no contexto militar, a meio do Século XVIII, a caixa turca chegou às cortes dos príncipes Europeus. Introduzida em orquestra cem anos depois dos tímpanos – na segunda metade do século XVIII - com Handel na sua Music for the Royal Fireworks (1749) - apesar de Marais ter usado uma espécie de caixa em um Alcyone (1706) especificado como tamborim10 - e mais tarde Gluck usou na Iphigénie en Tauride (1779). Handel e Beethoven usaram a caixa para criar um ambiente militar mais concretamente na Sinfonia nº 100 a “Militar” (1794) e Wellingtons Sieg (1813) respetivamente. O uso em orquestra da caixa evolui com

Fig. 12 – Tambourin de Provence

10

Não são iguais aos tamborins convencionais, ver figura 12, chamados de Tambourin de Provence, percursor da caixa.

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Rossini ao introduzir os rufos11 em La Gazza Ladra (1817), talvez por isso lhe tenha sido atribuído o nome de “Tambourossini”. Berlioz enfatizou que várias caixas a tocar em conjunto é preferível que uma – o seu ensemble de sonho era com 467 instrumentos, sendo destes 53 percussionistas - na sua Marche funèbre pour la dernière scène d’Hamlet (1844) ele pediu 6 caixas com ou sem cordões. (Sadie & Tyrrell, 2001) Em Rimsky-Korsakov, Elgar, Ravel, Nielsen, Shostakovich, Britten e Sessions a caixa foi frequentemente utilizada nos seus trabalhos. Um exemplo bastante conhecido de Ravel é o seu Bolero (1928) em que uma frase de dois compassos é repetida 169 vezes. Nielsen usou a caixa no seu Clarinet Concerto (1928), e na sua Fifth Symphony (1921-22). Os compositores do século XX exploraram aprofundadamente os recursos rítmicos e tímbricos da caixa, deixando de ser somente um instrumento preocupado com a marcação rítmica. Tocar caixa sem bordões tornou-se comum, tocar no aro da caixa, e o uso de diversas baquetas diferentes. O rimshot12 é introduzido com Milhaud em La création du monde, (1923), Malcolm Arnold com Beckus the Dandipratt (1943), Copland

com

Third

Symphony

(1944-46)

e

Elliott

Carter

(Variations for

Orchestra,1954-55). Bartók fez diversos usos da caixa, tocando em diferentes partes da pele como na Cantata profana (1930), Piano Concerto No. 1 (1926) e a sua Sonata for Two Pianos and Percussion (1937). Peças desafiadoras ocorreram principalmente no século XX, por exemplo com Ives em Three Places in New England (1931), Berio com Tempi concertati (1958 – 9), Elliot Carter com Concerto for Orchestra (1968-69). A escrita da percussão moderna inclui peças solo para caixa e Rolf Liebermann escreveu na sua Geigy Festival Concerto (1958) um concerto para orquestra e caixa. Atualmente a caixa continua a ser usada em orquestra, em ensemble e a solo, sendo a sua escrita cada vez mais complexa e técnica mais exigente.

12

Fig. 13 – Caixa de rufo atualmente

Consistir em atacar o aro e a pele ao mesmo tempo com uma baqueta.

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2.5 - Tamborim Não se sabe ao certo a origem dos tamborins da atualidade, pensa-se que derivam dos chamados frame drums, apesar destes não terem os chocalhos, nada é visível na Mesopotâmia e Egipto, os quadros da Grécia ocasionalmente estão representados pequenos círculos na estrutura, mas se são decorativos ou representam os chocalhos não se consegue ainda saber. (Sadie & Tyrrell, Fig. 14 – Frame Drum

2001)

Na Idade Média o tamborim já era muito comum na Europa dado pelo nome de Tymbre em Inglês e conhecido como pendereta em Espanha e França. O Timbrel ou Tymbre já era tocado em concertos na Idade Média tardia em ocasiões especiais. A sua verdadeira introdução em orquestra foi iniciada com as bandas turcas a meio do século XVIII devido ao seu grande sucesso nas cortes europeias trouxe a atenção de uma plateia mais vasta.

2.5.1 - Introdução em orquestra Gluck com Echo et Narcisse (1779) e Mozart com

(1787) estão entre os

primeiros compositores a introduzir o tamborim em orquestra. Nos inícios do século XIX os compositores escreveram para o tamborim de forma a obter um carácter espanhol ou cigano, como por exemplo, Weber na abertura Preciosa (1820). Berlioz em Harold en Italie (1834) escreveu para dois tamborins e para três em Le Carnaval Romain (1844). Mais tarde, os compositores usaram o tamborim como novo timbre orquestral, usando-o ritmicamente e como ambiente. Rimsky-Korsakov em Caprice Espagnol (1885) e Sheherazade

(1888) e em Stravinsky com Petrushka

(1910-11).

Em Petrushka, Stravinsky pede para o instrumentista fazer um trémulo abanando o tamborim e também através do dedo13.

13

O trémulo de dedo consiste da pressão exercida no dedo ao longo do tamborim fazendo vibrar a pele.

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Durante o século XX várias técnicas começaram a ser usadas para tocar tamborim, desde tocar com o joelho, mãos diferindo no som

que

se

pretendia

obter.

Muitos

compositores começaram a exigir tamborins com

ou

sem

tamanhos

ou

chocalhos, até

determinada altura.

de

mesmo

diferentes com

uma Fig. 15 – Tamborim atualmente

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3 - Instrumentos de lâminas 3.1 - Glockenspiel Os

instrumentos

instrumentos

de

de

lâminas

percussão

são que

os mais

tardiamente foram introduzidos em orquestra. O primeiro foi o Glockenspiel com Handel na oratória Saul (1739), e Mozart em Die Zauberflöte

Fig. 15 – Glockenspiel

(1791), mais tarde usado por Puccini, Dukas, Debussy, Respighi, Honneger, Strauss, Elgar, Britten, Boulez e muitos mais.

3.2 – Xilofone O xilofone foi o segundo instrumen

to

de lâminas a ser introduzido em orquestra, as suas possíveis primeiras composições foram feitas por por Ferninand Kauer em Sei variazioni (1810) e J.G. Kastner menciounou-o nas Les danses des morts (1852). Mas foi o Camille Saint-Saëns o primeiro a introduzir o xilofone em orquestra na La

Fig. 15 – Xilofone

Danse Macabre (1875) e Le Carnaval des Animaux (1886). Posteriormente no século XX compositores como Mahler, Puccini, Strauss, Elgar, Debussy e Delius. Escritas mais complexas para xilofone em orquestra apareceram com Bartók, Varèse, Stravinsky, Messiaen, Boulez e Stockhausen.

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3.3 - Celesta A celesta14 teve a sua primeira parte escrita por Ernest Chausson in 1888, mas só foi verdadeiramente introduzida em orquestra com Tchaikovsky na Dance of the Sugar Plum Fairy no seu ballet The Nutcracker (1892),Strauss em Der Rosenkavalier (1911), Korsakov, Scriabin, Mahler, Puccinni, entre outros. Fig. 16 – Celesta

3.4 - Marimba A marimba foi introduzida em orquestra com Leoš Janáček em Jenufa (1904), mais tarde com Carl Orff com Antigonae (1949), Hàns Henze, Hartmann, Gould, Messiaen. A marimba na orquestra demorou algum tempo até lhe terem sido dadas partes solísticas,

Fig. 17 – Marimba

foi só em 1947 com Milhaud no Concerto for Marimba and Vibraphone que a marimba começou a ganhar grande terreno na percussão. A técnica de quatro baquetas tinha acabado de ser introduzida, o que permitira fazer acordes, tendo sido recebido com entusiasmo pelos compositores e instrumentistas.

3.5 - Vibrafone O vibrafone foi o instrumento de lâminas que

mais

tarde

foi

introduzido

em

orquestra principalmente por ser um instrumento com apenas cerca de 100 anos de existência. Foi em 1933 com Milhaud em L’Annonce faite à Marie que teve a sua primeira parte escrita para orquestra, todavia, foi somente em 1945 que

14

os

compositores

começaram

a

Fig. 18 – Vibrafone

A celesta apesar de pertencer à família de percussão é usualmente tocada por um pianista.

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escrever mais regularmente para este instrumento. Berg, Bernstein, Hartmann, Boulez e Stockhausen introduziram o vibrafone nas suas composições orquestrais. Atualmente qualquer um destes instrumentos de lâminas é levado ao limite, a descobrir novas sonoridades, novas formas de tocar, mais baquetas em cada mão, peças orquestrais e solísticas cada vez mais complexas exigindo um padrão bastante elevado ao percussionista contemporâneo.

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Conclusão No tema abordado fiz uma seleção dos instrumentos a serem primeiramente introduzidos em orquestra, dos quais concluímos que foram: tímpanos, bombo, pratos, triângulo, caixa de rufo, tamborim e glockenspiel. Falei das origens de cada um e da sua gradual evolução em orquestra, de salientar o facto de os compositores incorporarem estes instrumentos na orquestra principalmente para realçar ideias sonoras de tradições de outras culturas, outras vezes, para dar novos efeitos tímbricos. Percebemos que os instrumentos mais tardiamente a serem introduzidos em orquestra foram instrumentos de lâminas como a marimba, vibrafone e celesta, devido ao seu desenvolvimento tardio, obviamente, que todos os instrumentos mencionados na PAP sofreram evoluções ao longo do tempo.

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Bibliografia

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