A EVOLUÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE COMUNICAÇÃO, O CONSUMO NA SOCIEDADE PÓS-MODERNA E OS RELACIONAMENTOS: O TINDER

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM RELAÇÕES PÚBLICAS

FABIO MARCEL FRACARI

A EVOLUÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE COMUNICAÇÃO, O CONSUMO NA SOCIEDADE PÓS-MODERNA E OS RELACIONAMENTOS: O TINDER.

Porto Alegre 2015

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FABIO MARCEL FRACARI

A EVOLUÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE COMUNICAÇÃO, O CONSUMO NA SOCIEDADE PÓS-MODERNA E OS RELACIONAMENTOS: O TINDER.

Monografia apresentada como requisito para a obtenção de grau de Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Relações Públicas pela Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Orientador: Prof. Me. Suzana Gib Azevedo

Porto Alegre 2015

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FABIO MARCEL FRACARI

A EVOLUÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE COMUNICAÇÃO, O CONSUMO NA SOCIEDADE PÓS-MODERNA E OS RELACIONAMENTOS: O TINDER.

Monografia apresentada como requisito para a obtenção de grau de Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Relações Públicas pela Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Aprovado em: ______ de ______________________ de ________.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________ Orientador: Prof. Me. Susana Gib Azevedo

____________________________________________ Prof. Me. Karen Sica da Cunha

____________________________________________ Prof. Me. Silvana Maria Sandini

Porto Alegre 2015

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Dedico este trabalho a todos os seres sencientes, sem exceção. Que todos possam encontrar felicidade temporária e definitiva em meio aos ciclos do Samsara.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha orientadora, Prof. Me. Susana Gib Azevedo, pela dedicação e incentivo referente ao tema proposto, e ao longo de todo este trabalho tão importante pra mim. Aos amigos, que se mostram tão presentes na minha vida e que me impulsionam a seguir no caminho, sempre estendendo a mão nos momentos mais difíceis, minha eterna gratidão. À Chagdud Khadro, por me guiar na prática espiritual e nas minhas escolhas. Além disso, agradeço à minha doce e querida mãe, por sempre me incentivar, desde pequeno, a correr atrás dos meus sonhos, sem hesitação.

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RESUMO O presente estudo buscou verificar os efeitos nas relações interpessoais com a entrada de aplicativos de celular com enfoque nos relacionamentos na sociedade pósmoderna. Como objetivos, resgatar o processo evolutivo da comunicação e seus efeitos no comportamento do homem em sociedade; investigar a evolução dos processos comunicacionais em relação ao consumo na sociedade pós-moderna; analisar as novas formas de interação digital em contraponto com as antigas maneiras de relacionar-se e verificar se o aplicativo Tinder pode ser considerado um instrumento de consumo entre pessoas. A estratégia metodológica envolve a pesquisa qualitativa por meio de pesquisa de campo, com realização de quatro entrevistas com mulheres e quatro entrevistas com homens, entre 20 e 42 anos, sendo estes quatro arquitetos, um assistente de eventos e três estudantes de Relações Públicas. A partir dos resultados alcançados, é possível perceber que a evolução dos instrumentos de comunicação atuam de forma coerente frente a uma sociedade pós-moderna em que o consumo, a individualização e a necessidade de exposição formam o indivíduo pósmoderno, porém os anseios de uma relação duradoura baseada no companheirismo ainda permeiam a forma de pensar do ser humano.

Palavras-chave:

Comunicação.

Relacionamentos. Comportamento.

Sociedade

Pós-Moderna.

Consumo.

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RESUMEN

Este trabajo ha buscado averiguar los efectos en las relaciones personales desde la entrada de aplicativos de celular con el foco en los relacionamientos en la sociedad post moderna. Como objetivos, buscar el proceso de evolución de la comunicación y sus efectos en la conducta de los individuos en la sociedad. También analizar las nuevas maneras interacción haciendo un comparativo con las antiguas maneras de acercamiento y la utilización del aplicativo Tinder como una herramienta de consumo entre personas. La estrategia metodológica incluye la investigación de nivel cualitativo a través de la investigación en campo. Se han realizado cuatro entrevistas con mujeres y cuatro con hombres, con edades entre los 20 y los 42 años. Entre esos tenemos cuatro arquitectos, un asistente de eventos y tres estudiantes de Relaciones Públicas. A partir de los resultados obtenidos, se puede percibir que la evolución de los instrumentos de comunicación actúan de manera coherente frente a una sociedad post moderna en la cual el consumo, la individualización y la necesidad de exposición son parte formativa del individuo post moderno. Sin embargo, el anhelo por una relación duradera, basada en el compañerismo aun traspasa la manera de pensar del ser humano.

Palavras-clave:

Comunicación.

Relacionamientos. Comportamiento.

Sociedad.

Post

Moderna.

Consumo.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Comparativo “Velhos e Novos Consumidores” ......................................38 Quadro 2 – Os Entrevistados.....................................................................................53 Quadro 3 – Sobre a utilização da internet...................................................................54 Quadro 4 – O uso de redes sociais pelo celular..........................................................55 Quadro 5 – A necessidade de se relacionar...............................................................55 Quadro 6 – As principais formas de aproximação......................................................56 Quadro 7 – O surgimento dos aplicativos voltados para relacionamentos amorosos....................................................................................................................57 Quadro 8 – Em relação à frequência da utilização do aplicativo Tinder......................59 Quadro 9 – A interação com outros perfis...................................................................59 Quadro 10 – O número de interações ao mesmo tempo.............................................61 Quadro 11 – Comparações entre as formas tradicionais e as atuais por meio dos aplicativos de celular...................................................................................................62 Quadro 12 – Mudanças relacionais como evolução...................................................63 Quadro 13 – Qual das formas de interação valoriza-se mais? ...................................65 Quadro 14 – A visão dos relacionamentos daqui por diante.......................................65 Quadro 15 – Critérios para constituir família...............................................................67

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10 2 O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO: OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA .................................................................................................................................. 13 2.1 DEFININDO COMUNICAÇÃO ............................................................................ 13 2.2 A ERA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA ....................................... 16 2.2.1 A impressão tipográfica................................................................................. 19 2.2.2 O cinema ......................................................................................................... 21 2.2.3 O rádio ............................................................................................................. 22 2.2.4 A televisão ...................................................................................................... 24 2.3 GLOBALIZAÇÃO, INTERNET E O CONTEXTO SOCIAL ................................... 26

3 A SOCIEDADE DE CONSUMO: DO PÓS-MODERNO À HIPERMODERNIDADE E O COMPORTAMENTO DO INDIVÍDUO ................................................................... 31 3.1 SOCIEDADE PÓS-MODERNA: CARACTERÍSTICAS E COMPORTAMENTOS31 3.2 SOCIEDADE DE CONSUMO.............................................................................. 34 3.3 HIPERMODERNIDADE....................................................................................... 38 3.4 O HOMEM E SEU COMPORTAMENTO EM SOCIEDADE ................................ 39

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OS

RELACIONAMENTOS

INTERPESSOAIS

E

A

NECESSIDADE

DE

INTERAÇÃO AFETIVA ............................................................................................. 47 4.1 ESTRATÉGIA E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................. 47 4.2 O TINDER COMO UM NOVO CONCEITO INTERATIVO ................................... 51 4.3 O PERFIL DOS ENTREVISTADOS .................................................................... 53 4.4 SÍNTESE DOS DADOS DAS ENTREVISTAS .................................................... 53 4.4.1 Categoria I – As formas atuais de interação.................................................... 54 4.4.2 - Categoria II - A necessidade de se relacionar e as principais formas de aproximação. ............................................................................................................. 55 4.4.3 – Categoria III – A utilização do aplicativo de celular Tinder. .......................... 57

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4.4.4 – Categoria IV - As mudanças nas estruturas de relacionamentos ao longo das décadas. .................................................................................................................... 62 4.5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ........................................ 68 4.5.1 Categoria I - As formas atuais de interação. ................................................... 68 4.5.2 Categoria II - A necessidade de se relacionar e as principais formas de aproximação. ............................................................................................................. 70 4.5.3 – Categoria III – A utilização do aplicativo de celular Tinder. .......................... 71 4.5.4 - Categoria IV - As mudanças nas estruturas de relacionamentos ao longo das décadas. .................................................................................................................... 73

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 76

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 79 APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista .................................................................... 83 APÊNDICE B – Transcrição das entrevistas ......................................................... 85

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1 INTRODUÇÃO

A comunicação passou de uma troca de símbolos, como forma de compreensão e entendimento, a direcionar o caminho do ser humano, influenciando em seu comportamento, bem como em sua forma de pensar. Este processo evolutivo ganhou instrumentos que proporcionaram sua aplicabilidade, demandando uma busca cada vez maior de informações e a necessidade de interação do homem em relação ao mundo como um todo, ultrapassando barreiras para chegar ao seu objetivo. Como exemplo último, a globalização e a entrada da internet proporcionaram um ganho na agilidade de informações e interações acarretando uma percepção de urgência em relação aos processos informacionais. Estes instrumentos passaram, desta forma, a determinar um posicionamento de sociedade, sua forma de agir e pensar, principalmente após a era industrial, onde os anseios de ser e de pertencer levou o homem a uma busca constante de obtenção material para garantir seu espaço em um novo período que se formou: a sociedade de consumo. A partir de então, os rumos tomados pela humanidade estão focados diretamente naquilo que torna-se palpável, como símbolo de status para sua promoção pessoal, ocasionando um processo de individualização para garantir uma exclusividade pessoal em relação aos demais. Este comportamento passa, então, a dirimir o posicionamento do homem em meio às interações. Desta forma, o consumo deixa de ser apenas material e passa a ser informacional e relacional, à medida que a internet torna-se cada vez mais acessível à população. Com a entrada dos chats e aplicativos de celular, o consumo entre pessoas passa a ser mais constante, tendo como fatores importantes: a falta de tempo; o uso frequente da internet; a impessoalidade e individualização; a publicidade, com enfoque na felicidade conjugal; e a necessidade de exposição. Diante desse cenário, o tema deste estudo trata dos efeitos atuais das relações interpessoais, no viés do consumo entre pessoas, por meio dos aplicativos de celular, com ênfase no aplicativo Tinder, e como estes impactam no comportamento social de seus usuários. A ligação destes tópicos tornou-se latente nos últimos anos, quando percebese que os temas: comunicação, consumo e relacionamentos uniram-se em uma única

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ferramenta, que possibilitou uma nova forma de aproximação entre pessoas, sendo considerado um facilitador na busca de um relacionamento amoroso. Para tanto, o presente trabalho possui como tema o uso dos aplicativos de celular para relacionamentos, apresentando como questões-problemas: os aplicativos de celular, como o Tinder, cujo enfoque são os relacionamentos interpessoais, podem ser considerados como um instrumento de consumo entre pessoas na sociedade pósmoderna? Qual o grau de importância dado pela sociedade em relação a essas novas formas de interação e as antigas maneiras de aproximação afetiva, uma vez que o aplicativo a ser estudado surgiu com um propósito de aproximação interpessoal? Como objetivos, resgatar o histórico da comunicação e seu processo evolutivo no

comportamento

da

sociedade;

investigar

a

evolução

dos

processos

comunicacionais em relação ao consumo na sociedade pós-moderna; analisar as novas formas de interação digital em contraponto com as antigas maneiras de relacionar-se; e verificar se o aplicativo de celular Tinder pode ser considerado um instrumento de consumo entre pessoas. Para responder aos problemas e objetivos propostos, utilizou-se a pesquisa qualitativa, por meio de técnicas de pesquisa bibliográfica e documental como forma de construir um referencial teórico baseado em autores como: Wolton (2003, 2010), Rüdiger (2011), Marcondes Filho (2004) e McLuhan (2005) para definir comunicação e meios de comunicação de massa; Featherstone (1995), Lipovetsky (2005), Bauman (2008, 2009), Baudrillard (1981), Lewis e Bridges (2004) para contextualizar sociedade pós-moderna e sociedade de consumo; Solomon, (2011), Bauman (2008), Freud (1997), Giddens (2006) e Silva Neto (2009) para retratar o comportamento do homem na sociedade pós-moderna. Com o intuito de verificar a percepção sobre a utilização do aplicativo Tinder, foram realizadas entrevistas individuais com oito (8) pessoas (quatro mulheres e quatro homens), com idades entre 20 e 42 anos, usuários ou ex usuários do aplicativo Tinder, entre os dias 14 e 22 de outubro de 2015, na cidade Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Este estudo divide-se em quatro capítulos, onde o primeiro refere-se à introdução; o segundo trata dos conceitos relacionados à comunicação, comunicação de massa e o processo evolutivos destes. Já o terceiro capítulo apresenta uma abordagem do conceito de sociedade pós-moderna, sociedade de consumo e o

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comportamento do homem em relação a esta. O quarto e último capítulo destina-se à pesquisa de campo, seus resultados, além de uma análise de dados. Acredita-se que este estudo torna-se pertinente visto o cenário moderno, frente às relações interpessoais, com os avanços tecnológicos ligados à comunicação e o comportamento do homem no contexto da sociedade globalizada. Com o objetivo de estudar as relações humanas e seus processos comunicacionais em âmbito atual, percebe-se que o uso dos aplicativos de celular podem dirimir um novo conceito de relacionamento interpessoal e, desta forma, configurar uma nova forma de interação entre as pessoas. Sendo assim, convido o leitor a apreciação dos resultados deste estudo.

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2 O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO: OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA

Neste capítulo, apresenta-se o conceito de comunicação e de comunicação de massa, a evolução dos meios de comunicação ao longo dos anos até a fase da geração digital e o comportamento do homem em relação ao meio em que está inserido, bem como as relações interpessoais e o uso da internet.

2.1 DEFININDO COMUNICAÇÃO

Pode-se afirmar que comunicação é sempre uma troca entre um emissor, uma mensagem e um receptor (WOLTON, 2003). Segundo o autor (ibidem), a comunicação está presente em tudo aquilo que nos cerca desde os primórdios da existência do homem. Enquanto que, para Díaz Bodernave (1982, p. 23), [...] a comunicação evoluiu de uma pequena semente – a associação inicial entre um signo e um objeto – para formar linguagens, inventar meios que vencessem o tempo e a distância, ramificando-se em sistemas, inscrições até cobrir o mundo com seus ramos.

O autor propõe que, em uma das teorias, o homem primitivo, iniciou o processo de comunicação por meio de sons ou gestos, combinados a objetos ou a ações - o signo. Do signo, surge a significação, base da comunicação em geral e da linguagem. A partir do uso do significado, nasce a gramática, ou seja, “o conjunto de regras para relacionar os signos entre si” (DÍAZ BODERNAVE, 1982, p. 24). Esta evolução torna a comunicação cada vez maior e mais complexa em sua cadeia evolutiva. França (2002) explica que a comunicação possui uma existência, trata-se de uma forma sensível, de domínio do real e pertencente ao nosso cotidiano, dotada de uma presença quase que exaustiva na sociedade contemporânea. Pode-se encontrála nas bancas de revistas, na televisão, em nossa casa, no rádio, outdoors pela cidade, além de nossas conversas cotidianas. Wolton (2010) também enfatiza que é uma necessidade humana e incontornável. Que viver é se comunicar e realizar trocas com os outros de forma mais

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autêntica e frequente. O seu ideal está evidentemente ligado ao compartilhamento, aos sentimentos e ao amor. Como a comunicação está ligada ao indivíduo em um sistema complexo e abrangente, pode-se considerar que, através desse processo, amplia-se o conceito para sociedade e dela surgem problemáticas como a necessidade de compartilhamento, entendimento e interação em um contexto considerado globalizado, tendo em vista uma sociedade individualista de massa, em que cada um busca simultaneamente valores contraditórios como a liberdade individual e a igualdade entre todos. Neste ponto, a comunicação torna-se um problema de convivência e de laço social, considerando uma sociedade de movimento, de interatividade, velocidade, liberdade e igualdade. Neste caso, pode-se dizer que: “A valorização do conceito de convivência ajuda a renovar a reflexão sobre a natureza do laço social nas sociedades contemporâneas, nas quais as interações entre protagonistas são mais numerosas e contraditórias” (WOLTON, 2010, p. 25). De acordo com o autor, dar privilégios ao entendimento na comunicação e no funcionamento do espaço público significa refletir também sobre a necessidade de administrar as diferenças em nossa sociedade e a manutenção do princípio de unidade e manter os indivíduos, grupos, comunidades e classes sociais ligados quando tudo se converge em separação. Já Rüdiger (2011) enfatiza que a comunicação é um fenômeno complexo, preso a múltiplas determinações e que não pode ser reduzido aos esquemas derivados da teoria da informação. De fato, a comunicação representa uma matéria de estudo que trata de uma temática de pesquisa que se constitui necessariamente no campo de uma reflexão sobre fundamentos da vida em sociedade. Constituída de um processo social primário, essa também faz parte do que vem se convencionando chamar conhecimento comum. As pessoas se comunicam e se entendem com as demais em termos que parecem dispensar explicação. Neste contexto, o autor enfatiza que os seres humanos são capazes de interpretar e responder aos estímulos dos quais são destinatários e que este relacionamento se dá por intermédio de símbolos, que estruturam o processo da comunicação em uma vida social. Para tanto, Rüdiger (2011, p. 34) cita que: A comunicação também não requer necessariamente o contato direto entre as pessoas, dispensa a referência imediata às coisas, estabelece uma rede que gera seu próprio tempo e espaço, malgrado o descompasso entre os contextos vitais de produção e recepção das mensagens.

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Percebe-se, conforme o autor, que a comunicação é parte integrante do ser social do homem, responsável pela relação que esse detém com os demais e, assim, elabora, de forma coletiva, um universo de conhecimento. Trata-se da comunicação interpessoal. O processo comunicativo precisa ser entendido como um princípio de sociabilidade dotado de fundamentos históricos e culturais determinados Compreende-se que essa “tem a função de criar e manter o consenso e o entendimento necessários entre os indivíduos, mas ao mesmo tempo permite que estes modifiquem o comportamento da sociedade” (RÜDIGER, 2011, p. 37). Portanto, os meios de comunicação de massa formam o escopo tecnológico necessário para realizar a mediação, ligando uma pessoa a outra em um sistema social. Neste enfoque, Marcondes Filho (2004) coloca que a comunicação nada mais é do que um resultado entre um agente (também intitulado pelo autor como Ego), responsável por uma sinalização, um receptor (chamado de Alter), onde este último percebe uma intenção de comunicação do agente e, por fim, um entendimento de que este agente está se comunicando com ele. Tanto Ego como Alter podem não ser necessariamente pessoas, mas partes de um sistema ou os próprios sistemas enquanto agentes de comunicação, que estão em um mesmo universo de referência ou contexto de relação, o que viabiliza o contato. A síntese dos dois, quando entendemos a intencionalidade do outro, é a comunicação. Segundo o próprio autor, não pode-se manter o mesmo ponto de vista quando fala-se em diferentes formas de difusão da informação, onde os atores não estão próximos uns dos outros, como na escrita e nos meios de comunicação de massa. Para tanto, ele acentua que: Nestes casos, diz Luhmann, a comunicação é altamente improvável: a distância física torna mais difícil a aceitação das mensagens e o entendimento; da mesma forma, a multiplicidade de situações e de interesses afasta a aceitação da comunicação; por fim, a distância torna pouco provável que os receptores incorporem as mensagens vindas da comunicação (MARCONDES FILHO, 2004, p. 459).

Conforme o que é colocado pelo autor, para que a comunicação mantenha sua continuidade, é necessário um entendimento, que torna-se parte integrante de todo o processo comunicacional e é relevante também para a reprodução das ideias.

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Desta forma, percebe-se que há um desencadeamento de novas sequências seletivas dentro de um sistema a partir das quais este “opera a redução da complexidade e cria novas condições para a estabilidade” (MARCONDES FILHO, 2004, p. 458). Marcondes Filho ainda enfatiza que o processo comunicacional é produzido em uma rede recursiva de comunicações que constitui a unidade do sistema. Desta forma, a comunicação nada mais é do que uma forma de operação que caracteriza os sistemas sociais e, dar continuidade à comunicação, é manter uma autocriação ou, como menciona Marcondes, uma ‘autopoiese’1 destes próprios sistemas. Neste caso, o autor enfatiza que “os sistemas sociais não fazem outra coisa a não ser comunicações, e fora dos sistemas não há comunicação. Ela é uma operação interna de cada sistema social, não havendo comunicação entre ele e o ambiente externo” (MARCONDES FILHO, 2004, p. 458-459). Conforme colocado pelos autores, o processo comunicativo, por mais complexo que possa ser, tem por objetivo levar a um entendimento entre dois ou mais indivíduos. Tal compreensão pode ser assimilada de diferentes formas, conforme o contexto social de cada um, além de refletir em mudanças significativas no pensamento e na conduta dentro de uma sociedade. À medida que esta complexidade foi aumentando, novas formas de comunicação foram surgindo para atender à necessidade humana de ir além de seu círculo de convivência social, dando abertura para os meios de comunicação de massa. Wolton (2003, p. 29) defende a ideia de que “os meios de comunicação de massa são, na ordem da cultura e da comunicação, o correspondente à questão da maioria, que surgiu com a democracia de massa e o sufrágio universal”, ou seja, tornase um direito de todos e para todos.

2.2 A ERA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA Antes de enfatizar os meios de comunicação e suas aplicabilidades, precisase entender o conceito de massa que, segundo Cohn (1973, p. 17) “designa uma

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Autopoiese: Sistema isolado, construído pelos componentes que ele próprio cria. Disponível em: . Acesso em 9 de setembro de 2015.

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coletividade de grande extensão, heterogênea quanto à origem social e geográfica dos seus membros e desestruturada socialmente”. Pode-se dizer ainda, conforme referência de Cohn (1973), que massa é um coletivo marcado pela distância, ou não, de indivíduos considerados indiferenciados em relação ao comportamento, valores e posições sociais. O termo pode também exprimir uma conotação negativa, quando tratamos de maneira conservadora e do estilo de pensamento caracterizado como ‘burguês-revolucionário’, referência ao início do século XIX. Cohn (1973, p. 20) cita LeBon e enfatiza sua ideia, quando diz que: [...] em situação de massa, não importam as diferenças entre os indivíduos componentes, pois todos eles, ‘pelo fato de se terem transformado em uma multidão, ficam de posse de algo como uma mentalidade coletiva, que os faz sentir, pensar e agir de maneira totalmente diversa da que cada qual sentiria, pensaria e agiria em estado de isolamento’.

O pensamento do autor é marcado pela análise sociológica que designa ainda que o ser humano é variável em sua forma de pensar, conforme o contexto do qual está inserido. Para Cohn, o homem, quanto indivíduo, possui um pensamento exclusivista, com opinião formada e raciocínio. Porém, frente à manifestação coletiva ou multidão, age de forma impulsiva, torna-se um bárbaro, mudando seu comportamento e reações em meio ao que está acontecendo em seu entorno. Cohn (1973, p.41) também salienta que podemos considerar, em termos políticos, massa “[...] tudo aquilo que pudesse significar a extensão da esfera pública para além dos grupos detentores de posses [...]”. O uso do termo de massa, além de uma expressão para definir uma sociedade em uma situação paradigmática da formação desta e da cultura, pode, também, ser vinculado de forma artificial, como por exemplo, quando há um líder escolhido, conforme sugerido por Cohn (1973), ou seja, cria-se um processo de organização da multidão por meio da imagem de um representante, quebrando o paradigma de que massa seja uma aglomeração de pessoas que atua como uma explosão de impulsos associais e desenfreada. Segundo Cohn (1973), Freud antevê cada indivíduo como parte integrante de diferentes tipos de massas, como por exemplo: sua distinção étnica, seu status, a comunidade da qual pertence, sua crença, nacionalidade etc. e pode utilizar-se disso como forma de certa independência e originalidade. Tendo este enfoque, pode-se

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dizer que a perspectiva de que massa é apenas um aglomerado amórfico de pessoas em grandes proporções se desfaz. Portanto, percebe-se que se consideramos as massas como múltiplas, tornam-se individualizadas num contexto, assim como no indivíduo isolado. Neste sentido, Steinberg (1966) expressa a teoria de que a comunicação é o transformador do processo social e que torna possível e compreensível a interação individual com o seu meio, além de ser a base em que nos apoiamos para considerar o homem um ser social, capaz de cooperar com outros e empenhar-se numa atividade socialmente útil. É através da comunicação que o homem evita a solidão frustrante e o isolamento e, assim encontra uma forma de satisfazer as suas necessidades e desejos. Partindo deste pressuposto, percebe-se que a comunicação é um processo social que se padroniza para o indivíduo. Os meios de comunicação de massa refletem esse meio e revelam certas relações entre os indivíduos e o meio social, além de ajudar a relacionar o comportamento de grupo ao meio. Em relação à linguagem, Steinberg (ibidem, p. 18) sustenta a ideia de que ela é papel fundamental para a relação “indivíduo-meio social”: O instrumento básico da comunicação que relaciona o indivíduo ao meio social é a linguagem, a “acumulação das experiências humanas simbolizadas”. E assim a comunicação possibilita o intercurso social entre os indivíduos, assim a comunicação de massa possibilita uma espécie de coesão entre grupos.

Enquanto que, para McLuhan (2005, p. 162), “a linguagem [...] atua como armazenamento da percepção e como transmissor das percepções e experiências de uma pessoa ou de uma geração para outra”. Além disso, na visão de Steiberg (1966), existe um processo relacional inevitável entre a comunicação de massa e uma mudança técnica ocorrida: o homem e sua relação com a máquina. Tal mudança tem como fator preponderante o desenvolvimento de métodos de reprodução “inteligível”, em que a “comunicação interpessoal” pudesse ser mais amplamente estendida ao público de diferentes grupos e, finalmente, ao público de massa. Sobre as tecnologias surgidas na época, reforça que: O fator significativo do desenvolvimento da comunicação de massa foi a máquina reprodutora de comunicações, que se deslocou de sua identificação com interesses sagrados para a identificação com assuntos públicos. A partir da Bíblia de Gutemberg de 1450, os desenvolvimentos técnicos de séculos

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posteriores presenciaram o gradativo aparecimento do telégrafo sem fio, do telefone e da válvula eletrônica (STEINBERG, 1966, p. 20).

Tal desenvolvimento tecnológico abriu precedente para as mudanças sociais em termos éticos e na forma de orientação do homem, já que o emprego da máquina pôde dar abertura para a capacidade de ver e ouvir o indivíduo. Segundo Steinberg (1966), este foi o ponto crucial de uma mudança entre a comunicação interpessoal para a comunicação de massa. De Fleur (1971) percebe a comunicação de massa como um sistema social vital para a existência da sociedade moderna, urbana e industrial da época. Afirma ainda que a alfabetização das massas só foi possível graças à evolução da imprensa. O pensamento de De Fleur também é reforçado nas palavras de McLuhan quando este fala que “a civilização se baseia na alfabetização porque esta é um processamento uniforme de uma cultura pelo sentido da visão, projetado no espaço e no tempo pelo alfabeto” (2005, p. 105). O autor ressalta que a tipografia, como as outras extensões humanas, trouxe consequências no perfil psíquico e social que alteraram os padrões e limites da cultura.

2.2.1 A impressão tipográfica

Com esta presença constante da escrita na sociedade e a possibilidade da reprodução de diversos documentos, que em primeiro momento eram escritos, o homem passou a ter uma crescente responsabilidade perante a sociedade civil na tomada de decisões. “[...] o aparecimento das técnicas da comunicação de massa aguardou apenas a difusão da educação e dos progressos tecnológicos ocorridos no processo da impressão tipográfica” (DE FLEUR, 1971, p 20). O autor afirma que a alfabetização só era disponibilizada a uma pequena porcentagem de burgueses, além dos centros religiosos, mas com o advento da imprensa, a leitura e escrita chegou a outros grupos, como aldeões e soldados, privados deste privilégio, popularizando assim o processo de educação. O pensamento de De Fleur vai ao encontro de McLuhan quando este enfatiza que: “Socialmente, a extensão tipográfica do homem trouxe o nacionalismo, o industrialismo, os mercados de massa, a alfabetização e a educação universais” (MCLUHAN, 2005, p. 197). Segundo o autor, o mundo moderno foi criado a partir do

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surgimento do livro impresso e, agora, ingressamos em uma nova era de tecnologia elétrica: uma nova extensão do homem. Complementando este pensamento, Rüdiger (2011, p. 14) diz que: A formação da esfera comunicativa moderna, que se estruturou com o nascimento dos modernos meios de comunicação, provocou o surgimento de uma série de fenômenos novos, no contexto dos quais esses meios tornaramse cada vez mais poderosos, despertando a preocupação das mais diversas disciplinas do conhecimento humano para com a comunicação.

Por meio desses novos meios modernos, houve uma necessidade de avançar na forma do pensar, o que levou à construção de novas teorias para compor o racionalismo do homem. Tal construção alimentou um processo de mudança. Nestas dimensões descritas por McLuhan e Rüdiger, De Fleur (1971, p. 20) assinala que: O ponto crucial da mudança [...] da comunicação interpessoal para a comunicação de massa surgiu com o emprego de massas que, inseridas na “cadeia de comunicação”, foram capazes de ouvir e ver para o indivíduo. As novas máquinas acompanharam as mudanças na ética social e na orientação do indivíduo para o grupo, do monístico para o pluralista, de uma sociedade onde o grupo de iguais avultava mais momentoso. De um dispositivo de simples comunicação, o meio de comunicação de massa converteu-se em instrumento não só de entretenimento, mas também de informações.

Neste cenário, segundo o autor, a formação e o funcionamento dos grupos, independente do seu número, foram gerados por meio dos processos de comunicação interpessoais, considerados essenciais para o transcorrer deste ciclo. Portanto, podemos dizer que “os processos de comunicação do homem são tão vitais para ele, como ser humano, quanto são seus processos biológicos” (DE FLEUR, 1971, p. 12). No contexto da palavra impressa, é imprescindível dizer que “a terceira década do século XIX [...] presenciou a tecnologia da impressão rápida e a ideia básica de um jornal reunidas no primeiro verdadeiro veículo de comunicação de massa” (DE FLEUR, 1971, p. 21). Houve uma aceitação e aprovação do jornal num âmbito coletivo. As razões dessa aceitação são baseadas na combinação e representação de elementos culturais acumulados dentro da sociedade que o jornal carregava. McLuhan (2005, p. 127) defende que “[...] o poder da palavra impressa em criar o homem social

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homogeneizado cresceu de maneira segura até nosso tempo, criando o paradoxo da ‘mentalidade de massa’ e do militarismo de massa dos exércitos de cidadãos”. Por consequência desta aceitação, o ritmo da atividade comunicativa do homem começou a se acelerar rapidamente. Temos, então, na metade do século passado, o telégrafo como uma realidade iminente. De Fleur (1971, p. 21) salienta que “embora não fosse um veículo de comunicação de massa, este invento foi novamente um elemento importante na acumulação tecnológica que iria posteriormente conduzir aos veículos eletrônicos de comunicação de massa”, como, por exemplo, o cinema, o rádio e a televisão.

2.2.2 O cinema

Em relação ao cinema, segundo Inglis (1972), em comparação à longa história do impresso, seu surgimento como parte integrante dos meios de comunicação de massa foi muito rápido. Em 1889, é inventado o cinetoscópio e, por volta de 1903, torna-se popular frente ao público e com produção constante. Complementando o posicionamento de Inglis, Steinberg (1972, p. 257) reforça: “A história e a economia do filme cinematográfico estão intimamente ligadas ao papel social do cinema, de maneira talvez ainda mais acentuada do que no caso dos outros meios de comunicação de massa.” Sobre o papel social da indústria cinematográfica, Inglis (1972, p. 268) afirma que: [...] dentro e fora da indústria cinematográfica se observa um reconhecimento crescente do fato de que o cinema tem um papel essencial para representar na vida social e que a liberdade do cinema é importante em razão de tudo o que o filme pode fazer.

A autora reforça que a liberdade proposta pela indústria cinematográfica tem seu significado baseado na sua responsabilidade. No passado, segundo Inglis (1972) havia problemas para definir exatamente quais eram as responsabilidades do cinema, tendo em vista o conflito entre manter as ideias de conservação da moral tradicional e a ideia da mudança, retratando a realidade moral e social da época, pois, como relata De Fleur (1971, p. 67): “O cinema fora sempre uma forma pura e simples de diversão. Não havia sido nunca empregado seriamente com finalidades políticas,

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morais, sociais ou culturais”. O autor ainda destaca que: “Em geral, os filmes haviam acompanhado (grifo do autor) os gostos e atitudes populares, ao invés de dirigi-los. As experiências algo tanto limitadas da guerra, contudo, abriram novas possibilidades e objetivos para o cinema como meio de persuasão [...]” (DE FLEUR, 1971, p. 67). Para o autor, um dos fatores mais significativos para a aceitação do cinema entre a população foi sua variabilidade. Porém, com uma concorrência, em primeiro momento, do rádio e, após, com a expansão agressiva da televisão, o cinema foi perdendo força mesmo durante o período de expansão econômica da sociedade. De Fleur (1971, p. 71) ressalta que: A consequência das transformações das condições econômicas dentro da sociedade (a grande crise financeira), a influência de duas guerras mundiais e a concorrência combinada, primeiro do rádio e em seguida da televisão, conduziram à obsolescência parcial do cinema de bairro. Fatores mais complexos, como o movimento em direção aos bairros distantes, crescente congestionamento dos centros comerciais, e as despesas cada vez maiores de manutenção que provocaram o aumento do preço das entradas, reduziram consideravelmente a frequência aos cinemas [...].

A partir desta constatação, pode-se dizer que o cinema perde sua força conforme novas tecnologias, como o rádio, surgem na sociedade e se utilizam de recursos que atraem a atenção dos homens frente às suas necessidades. Além disso, influências econômicas e de risco mundiais incentivaram a utilização do rádio como atributo de entendimento e de busca de informação frente as situações ocorridas na época.

2.2.3 O rádio

Em relação ao rádio, Gillingham (1972) afirma que sua aplicação prática foi realizada pela Marinha, com o objetivo de comunicação entre os navios e a terra. Segundo De Fleur (1971), a comunicação começou a ficar mais complexa quando a sociedade começou a ganhar mais forma e as organizações sociais tornaram-se mais intrincadas. Essa complexidade se deu devido à necessidade de uma comunicação segura a fim de transmitir informações importantes rapidamente a longas distâncias. A partir daí surgem novas formas tecnológicas para sanar esta dificuldade, dentre elas, o rádio.

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Para Peterson, Jensen e Rivers (1966), o rádio começou sua grande disseminação a partir de 1920, por meio da transmissão da estação KDKA (primeira estação de rádio americana, surgida com o intuito de aumentar as vendas relacionadas aos rádios domésticos) com os resultados da eleição presidencial norteamericana. Sua história, segundo os autores, “ilustra tanto uma tendência rumo à concentração nos meios de comunicação de massa, em geral, quanto a sua persistência [...]” (PETERSON, JENSEN, RIVERS, 1966, p. 108). De Fleur enfatiza que o progresso deste meio de comunicação progrediu muito durante as décadas de 1930 e 1940, período em que a grande depressão e a Segunda Guerra Mundial afetavam a vida dos cidadãos. O gancho para este progresso, conforme o autor: [...] satisfazia a necessidade de milhões de pessoas angustiadas durante esses tempos difíceis. Irradiava música que confortava os espíritos perturbados, tinha humoristas que alegravam os ouvintes, e transmitia notícias dramáticas que distraíam a atenção das pessoas dos seus problemas pessoais (DE FLEUR, 1971, p. 100).

Peterson, Jensen e Rivers (1966, p. 180) enfatizam ainda que, “antes do advento da televisão, o rádio se ombreava com o jornal como o mais universal de todos os meios de comunicação.” Para os autores, o rádio atraía todos os tipos de públicos por não possuir nenhuma característica distintiva. Sua popularidade começa a cair com a invenção da televisão. De Fleur (1971, p. 101) acrescenta: De maior significado sociológico são os anos posteriores à guerra quando o rádio enfrentou uma forte concorrência por parte da televisão. Se o rádio houvesse conservado seu formato e conteúdo original, teria sido um concorrente direto do novo veículo, que parecia apto a satisfazer as necessidades do público de uma forma mais efetiva.

Para não cair no esquecimento, De Fleur (1971) assinala que o rádio obrigouse a uma adaptação às novas necessidades que atendessem ao público naquilo em que a televisão não alcançava. Uma alternativa encontrada, segundo o autor, foi que: “Atualmente, o rádio parece ter encontrado uma fórmula funcional. Serve seu público durante os horários em que a televisão é inoportuna” (DE FLEUR, 1971, p. 102). Peterson, Jensen e Rivers (1966) relatam que houve uma mudança no comportamento da sociedade em relação às circunstâncias sob as quais as pessoas

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ouvem rádio, após a aparição da televisão. Seu uso passou a ser fora das residências, nos momentos em que as pessoas estavam realizando outras atividades. Outro ponto importante informado pelos autores foi que “A grande popularidade da televisão tem se firmado, em grande parte às custas do rádio” (PETERSON, JENSEN, RIVERS, 1966, p. 180) já que o primeiro abriu espaço para a publicidade e as formas de noticiar as informações, utilizados até os dias de hoje.

2.2.4 A televisão Postman (1972) faz uso do termo “literatura de televisão” visto que este meio de comunicação utiliza-se de palavras e de imagens para contar histórias, tanto sérias quanto cômicas em formato de drama ou narrativa. Para o autor, “[...] ao empregarmos a expressão ‘literatura de televisão’, referimo-nos aos tipos de programas análogos, em muitos de seus propósitos, se não na forma, a romances, contos peças e até ensaios” (POSTMAN, 1972, p. 329). O autor ainda enfatiza uma comparação entre a literatura de televisão e outros tipos literários, pois esta primeira também reflete os valores e concepções dos seus criadores, além das concepções do público que os assiste. Tratando-se do conteúdo colocado pela televisão, McLuhan (2005, p. 190) observa que: “Com a chegada da televisão e sua imagem icônica em mosaico, as situações da vida diária começaram a parecer bem quadradas de fato”. Outro ponto enfatizado pelo autor é de que: “Por obra da TV, os meios quentes – fotografia, filme, rádio – se viram convertidos num mundo de estórias em quadrinhos, pelo simples fato de serem apresentados como embalagens superquentes” (MCLUHAN, 2005, p. 191). Postman (1972) aponta, também, para o caráter comportamental da sociedade em relação ao que assiste. Neste caso, deve-se destacar que a televisão passou a ser o entretenimento familiar característico da época, pois era uma forma de manter a família reunida em seus lares. Levando-se em conta esta premissa, houve questões de imposição naquilo que poderia ser dito ou mostrado nas telas. De acordo com o autor: Isso tende a impor limitações não só à linguagem mas também aos temas das peças de televisão. A ninfomania, o homossexualismo ou o incesto podem ser maduramente explorados no teatro e em outras formas literárias mas, na televisão, esses assuntos tendem a chocar, não só em razão do

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público não escolhido, mas sobretudo em virtude, da clareza dolorosa do meio” (POSTMAN, 1972, p. 335).

Já De Fleur (1971) enfatiza também que, neste período, o aparelho de televisão tornou-se um símbolo de status dentro da sociedade. Com o custo alto do aparelho nos primeiros anos, poucos eram aqueles que conseguiam adquiri-lo. O autor afirma ainda que: O desejo de ser reconhecido como proprietário de televisão no período inicial da difusão foi tão forte que em certos casos algumas famílias instalavam antenas de televisão de forma bem visível no alto de suas residências muito antes de poderem adquirir realmente os aparelhos nos quais pudessem ligalas (ibidem, p. 103).

Conforme o posicionamento do autor, pode-se perceber o impacto que a televisão trouxe à sociedade da época tanto na questão econômica quanto nos perfis sociais e de status. Para justificar tal posicionamento, McLuhan (2005, p. 128) nos diz que “[...] pela tecnologia, prolongamos todos os nossos sentidos e todas as partes de nosso corpo, sentimos a ânsia da necessidade de um consenso externo entre a tecnologia e a experiência que eleva a nossa vida comunal ao nível de um consenso mundial”. A partir de então, novas tecnologias começam a surgir e assim, formam um composto de novas formas de interação que crescem paralelamente à maneira como o mundo moderno se desenvolve, bem como sua popularidade. Giddens (2006) completa o raciocínio quando menciona que as novas tecnologias de comunicação aumentam proporcionalmente conforme o avanço nas inovações. Segundo o autor, o rádio, nos Estados Unidos, levou quarenta anos para conquistar cinquenta milhões de ouvintes, mesmo com sua popularidade. Com a entrada do computador, o mesmo número de pessoas já o utilizava quinze anos depois de seu invento. Não foi preciso mais de quatro anos para que os cinquenta milhões de americanos estivessem conectados à internet de forma regular. A partir de então, tem-se uma grande mudança no contexto mundial que passa a dirimir a nova forma de pensar e de agir do homem, afetando padrões e valores, além de aproximar culturas e dar novo rumo à economia e política – a globalização.

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2.3 GLOBALIZAÇÃO, INTERNET E O CONTEXTO SOCIAL Conforme apresentado por Giddens (2006), vivemos em um mundo de grandes transformações que atuam de forma direta naquilo que fazemos, tanto positiva quanto negativamente. Estamos vivendo em uma nova ordem global, desconhecida pela sociedade em sua totalidade, mas seus efeitos são sentidos há algum tempo. O autor afirma que a globalização lida, de forma teórica, com a ideia de que todos nós, hoje, vivemos em um único mundo e que sua repercussão não afeta somente a economia mundial, mas se estende a outras áreas do ser social. Segundo o autor: A globalização também afecta a vida corrente, da mesma forma que determina eventos que se passam à escala planetária. [...] Em muitas partes do mundo, as mulheres estão a exigir maior autonomia em relação ao passado e a entrar no mundo laboral em grande número. Estes aspectos da globalização são pelo menos tão importantes como os que afectam as maneiras de viver tradicionais e as culturas da maioria das regiões do mundo (ibidem, p. 17).

Conforme o autor, pode-se dizer que a globalização faz parte de um conjunto de ações políticas, tecnológicas, culturais e econômicas influenciada pelo avanço nos processos comunicacionais, registrados a partir do final da década de 1960, quando o uso do satélite representou uma ruptura com o passado. Para o autor: “A comunicação electrónica instantânea não é apenas um meio de transmitir informações com maior rapidez. A sua existência altera o próprio quadro das nossas vidas, ricos ou pobres” (GIDDENS, 2006, p. 23). O autor complementa sua percepção quando menciona que a globalização não é um processo simples, mas sim uma rede complexa de processos que atua de forma direta ou indireta no indivíduo e influencia aspectos íntimos e pessoais de sua vida, como: sexualidade, relações, casamento e família. Tais influências são consequências de uma revolução sobre a maneira como pensamos a respeito de nós mesmos e a forma como estabelecemos nossos laços e ligações com outros. O autor menciona que os padrões considerados tradicionais estão em plena mudança, e que tais mudanças não acontecem apenas dentro de um país, mas sim, na forma do pensamento do indivíduo que, por consequência, altera os padrões de comportamento

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de uma sociedade globalizada em termos de formas de relacionamento na família, círculos de amizades e relações profissionais. Outro quesito citado pelo autor são os padrões estipulados pelo homem como valores, que passam a dirimir em outro formato. Giddens (2006) afirma que os estímulos que levavam ao perfil familiar padrão agem, atualmente, de forma modificada, onde a mulher possui a sua voz, atua no mercado de trabalho, além da maneira como a educação dos filhos é considerada. Tais modificações, segundo o autor, fazem parte da mudança cultural advinda da globalização. A partir deste fenômeno, surge a necessidade de uma comunicação mais ativa, rápida e longínqua, abrindo espaço para a tecnologia digital. Segundo Lévy (1999), tal necessidade não chega a ser uma novidade, visto que a comunicação interativa já havia sido experienciada com o advento do telefone. Para o autor: “As tecnologias digitais surgiram, então, como a infra-estrutura do ciberespaço, novo espaço de comunicação, de sociabilidade, de organização e de transação, mas também novo mercado da informação e do conhecimento” (1999, p. 32). Neste caso, os processos comunicacionais anteriores, como: o correio, a imprensa, as editoras, o rádio e a televisão tornam-se uma extremidade imperfeita, de interconexões abertas e de comunicação transversal. O pensamento de Giddens é reafirmado por Wolton (2003, p. 85) quando este enfatiza que: “As dimensões psicológicas são de fato essenciais na atração pelas novas tecnologias, pois estas vêm ao encontro do profundo movimento de individualização de nossa sociedade”. Wolton explica, no contexto da individualização, que o processo comunicativo é uma forma de expressão e de troca, dentro de uma cultura ocidental, e que está diretamente ligada à democracia, portanto pressupõe a existência de indivíduos livres e igualitários. Giddens (2006) complementa quando diz que, por definição, uma democracia é formada por iguais e, por intermédio da igualdade de seus direitos e obrigações, chega-se ao respeito mútuo. McLuhan (2005) enfatiza essa mudança de comportamento quando salienta que o poder da tecnologia se dá no momento em que o homem a considera como parte integrante e uma extensão de seu próprio corpo e sentidos. Complementando o seu pensamento, o autor diz que “ao se operar uma sociedade com uma nova tecnologia, a área que sofre a incisão não é a mais afetada. A área da incisão e do impacto fica entorpecida. O sistema inteiro muda” (2005, p. 84).

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Para Wolton (2003), o surgimento da internet baseia-se como uma forma de satisfação das carências de informação, já que a tendência era de que todos deveriam ser informados a qualquer hora, porém o resultado, segundo o autor, foi outro. Neste caso, o autor salienta que: Com a internet, nós entramos no que eu chamaria de era das solidões interativas. Em uma sociedade onde os indivíduos estão liberados de todas as regras e obrigações, a prova da solidão é real, como é dolorosa a tomada de consciência da imensa dificuldade que há em entrar em contato com o outro (ibidem, p. 103).

Segundo o autor, a nova era refere-se à liberalidade de uma sociedade em que os indivíduos não possuem regras e obrigações e que, por consequência, levase a uma solidão iminente. Esta liberalidade, por sua vez, vem de uma referência de que a internet é uma dimensão de comunicação livre, onde não há nenhum tipo de restrição, ou seja, um espaço livre em relação às pressões que tornam restritivas as demais mídias convencionais. A partir dessas concepções, pode-se afirmar que: “Em uma sociedade onde os indivíduos estão liberados de todas as regras e obrigações, a prova da solidão é real, como é dolorosa a tomada de consciência da imensa dificuldade que há em entrar em contato com o outro” (Ibidem, p. 103). Assim como Wolton, Tapscott (1999) infere que a internet não possui escassez e que as pessoas têm o poder de colocar o que desejam na Web. Segundo o autor: “Você pode fazer o que bem entender. O poder desse meio de comunicação está sendo liberado para todas as faixas etárias” (ibidem, p.48). Ou seja, conforme Wolton (2003), a Web não gera nada novo. Simplesmente, ela oferece informações e comunicações, tanto normativas quanto funcionais, proporcionais e de forma misturada. Em relação às formas de interações entre pessoas, é possível compreender que: As relações se simplificam em um ponto para tornarem-se obscuras em outro, como se os indivíduos, que desejam e falam somente de transparência de relações diretas, não parassem de inventar, simultaneamente, novos artifícios, novas blindagens, novas fontes de hierarquias (ibidem, p. 105).

Pode-se perceber, segundo Wolton (ibidem), que o indivíduo cria burocracias humanas e sociais. De acordo com este, tais burocracias são complexidades que dificultam as formas de relacionamento entre as pessoas. Além delas, as máquinas

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contribuem para produzir a chamada burocracia técnica. Para o autor, por mais transparentes que possam ser as relações, existem sempre rumores e segredos, já que transparência social é um fenômeno impossível de ser realizado. Neste contexto, pode-se afirmar que: “As verdadeiras relações, portanto, não são criadas entre ‘a’ tecnologia [...] e ‘a’ cultura [...], mas sim entre um grande número de atores humanos que inventam, produzem, utilizam e interpretam de diferentes formas as técnicas” (LÉVY, 1999, p 23). Técnicas, neste contexto, conforme Lévy (ibidem), compreendem implicações sociais e culturais diversificadas que, dependendo de sua usabilidade, local e época, podem acirrar relações de forças entre seres humanos. Já em relação às formas de interações virtuais, Lévy (ibidem) enfatiza que o desenvolvimento de novas maneiras de interatividade nas redes digitais contribui a outros meios de virtualização que não somente o da informação. Segundo o autor, As redes de redes, como a internet, permitem o acesso a um número enorme de conferências eletrônicas. [...]. Ao dar uma visibilidade a estes grupos de discussão, que são feitos e desfeitos o tempo todo, o ciberespaço torna-se uma forma de contatar pessoas não mais em função de seu nome ou de sua posição geográfica, mas a partir de seus centros de interesses (ibidem, p. 100).

Complementando as palavras de Lévy, Silva Neto (2009), reforça que a internet propicia a aproximação de um número muito maior de pessoas com mesmo objetivo. Desta forma, há uma probabilidade maior de que seus usuários possam encontrar outra pessoa com o intuito de manter um relacionamento. Porém, em controvérsia, Wolton (2003, p. 135) enfatiza que “[...] tudo se torna mais lento quando se trata de indivíduos reais, e de coletividades reais, pois nestes casos a intercompreensão é sempre menos performática, e mais complexa, do que a lógica das conexões”. Esta premissa tem por fundamentação, segundo o autor, a uma obsessão cada vez maior do ser humano em ser encontrado, seja pelo celular conectado, correio eletrônico ou secretária eletrônica como uma medida de segurança. Wolton (ibidem) afirma que, desta forma, as solidões interativas são reafirmadas, pois vive-se o virtual, não abrindo espaço para a interação real. Giddens corrobora quando diz que: “Num mundo em processo de globalização, em que a transmissão de imagens através de todo o globo se tornou rotineira, estamos todos

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em contacto regular com outros que pensam de maneira diferente, que vivem de maneira diferente” (2006, p 18). Já Lévy (1999) complementa o raciocínio quando enfatiza que a dinamização da virtualização da sociedade se dá por meio de uma extensão do ciberespaço, porém: “O virtual não ‘substitui’ o ‘real’, ele multiplica as oportunidades para atualizálo” (ibidem, p. 88). Conforme os autores consultados, percebe-se como o processo da globalização e sua virtualização pode interferir no comportamento do indivíduo dentro da sociedade. Além do que foi citado, verifica-se também a atuação de um novo contexto de sociedade, da qual, a principal característica é o consumo compulsivo de diversas formas de produto, tanto materiais quanto de informação, bem como a transformação do ser humano em mercadoria, além da maneira superficial de como as relações são encaradas em um novo formato de cultura. Os fatores mencionados são elencados e debatidos a seguir.

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3 A SOCIEDADE DE CONSUMO: DO PÓS-MODERNO À HIPERMODERNIDADE E O COMPORTAMENTO DO INDIVÍDUO

Apresenta-se, a seguir, uma abordagem da maneira como a sociedade evoluiu em termos de consumo resgatando a transição da pós-modernidade à hipermodernidade, e a forma como o ser humano relaciona-se com o meio, seu comportamento e sua transformação em mercadoria.

3.1 SOCIEDADE PÓS-MODERNA: CARACTERÍSTICAS E COMPORTAMENTOS

Segundo Featherstone (1995), quando fala-se em pós-modernidade, sugerese um rompimento da modernidade, propondo novas mudanças em caráter emergencial em um contexto de sociedade na sua totalidade. Neste contexto, podese afirmar que: [...] novas formas de tecnologia e informação tornam-se fundamentais para a passagem de uma ordem social produtiva para uma reprodutiva, na qual as simulações e modelos cada vez mais constituem o mundo, de modo a apagar a distinção entre realidade e aparência (FEATHERSTONE, 1995, p. 20).

O autor também salienta que o termo “Pós-modernismo” sugere a mudança cultural dentro de um novo contexto social. Tal expressão começou a se tornar popular em Nova Iorque, na década de 1960, por meio de jovens artistas, escritores e críticos como forma de redefinir um movimento já esgotado (modernismo) que, inclusive, já era rejeitado por sua institucionalização no museu e na academia e, nas décadas de 1970 e 1980, se expandiu para a arquitetura, cênicas, música e artes visuais. Assim como Featherstone, Lipovetsky (2005, p. 51) também afirma que: “A partir do final dos anos 70, a noção de pós-modernidade fez sua entrada no palco intelectual com o fim de qualificar o novo estado cultural das sociedades desenvolvidas”. Segundo o autor, a nova modernidade atuou de forma significativa com o objetivo de redefinir os alicerces absolutos da racionalidade, bem como as ideologias impostas na sociedade até aquele momento, além de traçar novos rumos baseados na individualização e pluralização no meio social. A partir disso, pode-se

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dizer que “[...] o período pós-moderno indicava o advento de uma temporalidade social inédita, marcada pela primazia do aqui-agora” (LIPOVETSKY, 2005, p. 51). Neste enfoque definido por Lipovetsky, Featherstone (1995, p. 25) salienta ainda que: Há ainda uma utilização mais ampla dos termos “modernismo” e “pósmodernismo” (grifo do autor) que designa complexos culturais mais abrangentes: isto é, modernismo como a cultura da modernidade, e pósmodernismo como a cultura emergente da pós-modernidade.

Desta forma, descrita pelos autores consultados, pode-se afirmar que a sociedade pós-moderna é marcada pela popularização das artes, diferente do pressuposto cultural fundamentado pela modernidade, da qual valorizava o indivíduo autônomo, em um domínio econômico, dando vida ao empresário burguês. O autor enfatiza que “[...] sociedade pós-moderna, ou era pós-moderna, [...] é o movimento para uma ordem pós-industrial” (ibidem, p. 20). Já para Charles (2005), a pós-modernidade é marcada pela perda da autoridade de grandes estruturas sociais. As grandes ideologias já não estão mais em expansão, os projetos históricos não mobilizam mais, ocasionando a fuga daquilo que é considerado privado e sem âmbito social para um novo conceito. Segundo o autor: A pós-modernidade representa o momento histórico preciso em que todos os freios institucionais que se opunham à emancipação individual se esboroam e desaparecem, dando lugar à manifestação dos desejos subjetivos, da realização individual, do amor-próprio (ibidem, p. 23).

Neste contexto, conforme Charles (2005), os fatores mais relevantes para este acontecimento foi um aumento considerável da produção industrial, a difusão dos produtos pela evolução dos meios de transportes e da comunicação, além do surgimento de novas formas comerciais, que caracterizam o que chamamos de capitalismo moderno – surgimento de grandes lojas, das marcas, do marketing e publicidade. A partir de então, segundo o autor, a própria sociedade passa a encarar o domínio do efêmero por excelência, escapando do mundo da tradição e da celebração por meio do termo “moda” (significando tendência). A ideia de moda passa a desempenhar um papel importante na aquisição da autonomia ao ser humano como ser individual, além de um distanciamento relacionado às diferenças sociais, ou seja,

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alcançável a qualquer pessoa. Charles (ibidem, p. 17) ressalta que: “É preciso ver nisso a consideração de novos referenciais, de novas finalidades, e não uma simples dialética social, uma confrontação entre status”, ou seja, vai além de um contexto de classes, fazendo parte do contexto comportamental do homem. Assim, pode-se dizer que: [...] ao valorizar a renovação das formas e a inconstância da aparência, no início essencialmente no plano indumentário do reduzido círculo dos aristocratas e (depois) dos burgueses, a moda possibilitou a desqualificação do passado e a valorização do novo; afirmação do individual sobre o coletivo, graças à subjetivação do gosto; o reinado do efêmero sistemático (CHARLES, 2005, p. 18).

Percebe-se, a partir da afirmação do autor, que neste estágio, surge a era pós-moderna, onde há uma necessidade de ampliação da autonomia subjetiva, além do crescimento das diferenciações individuais, bem como a supressão dos princípios sociais de regulação, opiniões e modos de vida, corroborando consideravelmente para uma mudança na dinâmica do individualismo originário na modernidade. Ressaltando este pensamento, Lipovetsky (2005, p. 21) afirma ainda que: “A condição social pós-moderna é comandada por esse ideal de controle soberano de si e por essa luta sem fim contra o preexistente e o herdado.” Tal afirmação faz jus ao novo pensamento do homem: a preocupação consigo, o cuidado de si, além da vontade de tornar-se senhor de sua própria natureza, tendo o ego como prioridade. Para o autor, este novo comportamento abre precedente, juntamente com novas formas de comercialização da alta produção, a uma sociedade baseada no consumo com o ideal de autonomia, como uma maneira de construir o seu próprio ambiente pessoal, uma libertação dos antigos valores. Complementando este pensamento, Bauman (2001) acrescenta que o homem moderno deve sempre estar à frente de si próprio, em uma constante busca por transgressão, além de conquistar sua identidade baseado em um projeto ainda não-realizado, ou seja: Ser moderno passou a significar, como significa hoje em dia, ser incapaz de parar e ainda menos capaz de ficar parado. Movemo-nos e continuaremos a nos mover não tanto pelo “adiamento da satisfação”, como sugeriu Max Weber, mas por causa da impossibilidade (grifo do autor) de atingir a satisfação: o horizonte da satisfação, a linha de chegada do esforço e o momento da auto-congratulação tranquila movem-se rápido demais. A consumação está sempre no futuro, e os objetivos perdem sua atração e

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potencial de satisfação no momento de sua realização, se não antes (BAUMAN, 2001, p 37).

Assim, pode-se dizer que o indivíduo sente uma grande necessidade de autoafirmação, que o leva a buscar a felicidade por meio da satisfação constante. Como uma maneira de suprir esta felicidade, o ser social pós-moderno busca saciar suas carências na atividade do consumo, uma constante busca de prazer e felicidade para manter-se parte, único e inserido num contexto de sociedade individualizada, de acordo com os valores desta.

3.2 SOCIEDADE DE CONSUMO

Segundo a descrição de Bauman (2008), consumo pode ser caracterizado como um ato banal, do qual realizamos todos os dias, ou um tipo de condição, quando se impõe a questões voltadas à sobrevivência. Para o autor, “[...] o fenômeno do consumo tem raízes tão antigas quanto os seres vivos – e com toda a certeza é parte permanente e integral de todas as formas de vida conhecidas [...]” (ibidem, p. 37), porém, em questões de comportamento, consumir torna-se uma forma de caracterizar o homem em seu contexto social. Baudrillard (1981, p. 78) entende o consumo como “[...] um sistema que assegura a ordenação dos signos e a integração do grupo; constitui simultaneamente uma moral (sistema de valores ideológicos) e um sistema de comunicação ou estrutura de permuta”. Além disso, o autor firma a ideia de que sua verdade está no processo de produção e não em sua função de trazer bem-estar. Por meio deste pensamento, Featherstone (1995, p. 31) afirma que “[...] a cultura de consumo tem como premissa a expansão da produção capitalista de mercadorias, que deu origem a uma vasta acumulação de cultura material na forma de bens e locais de compra e consumo”. Esta expansão resultou em inúmeras formas de prazeres emocionais, sonhos e desejos, criando um imaginário cultural de consumo em uma sociedade que se alimenta de liberdade individual – uma sociedade de consumo. Como premissa, Baudrillard (1981, p. 47) ressalta que “[...] a felicidade constitui a referência absoluta da sociedade de consumo, revelando-se como o

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equivalente autêntico da salvação (grifo do autor)”. Para o autor, a felicidade presente na sociedade de consumo possui o significado de bem-estar, atrelado a uma ideia de que essa deve ser mensurada, baseada em critérios visíveis, onde cada um (como indivíduo) tem o direito de ser feliz (como iguais). A partir deste pensamento, o homem assume sua identidade de posse material e imaterial à procura de um bem-estar generalizado, produzindo a cultura do consumo. Segundo Baudrillard (1981, p. 48): O princípio democrático acha-se então transferido de uma igualdade real, das capacidades, responsabilidades e possibilidades sociais, da felicidade (no sentido pleno da palavra) para a igualdade diante do objecto e outros signos evidentes do êxito social e da felicidade.

O raciocínio dos autores citados vai ao encontro do pensamento de Bauman (2008), quando este afirma que ter uma vida feliz é o valor predominante dentro de uma sociedade de consumo. Conforme o autor: A sociedade de consumidores talvez seja a única na história humana a prometer felicidade na vida terrena, aqui e agora e a cada “agora” sucessivo. Em suma, uma felicidade instantânea e perpétua. Também é a única sociedade que evita justificar e/ou legitimar qualquer espécie de infelicidade [...], que recusa-se a tolerá-la e a apresenta como uma abominação que merece punição e compensação” (ibidem, p 60).

Verifica-se que há uma preocupação de ser, ou aparentar ser, um indivíduo feliz frente ao contexto social do qual se está inserido. Segundo as ideias do autor, não há outra forma de se comportar frente aos demais do que ser feliz, ou, pelo menos, aparentar uma vida feliz por meio de artigos visíveis ou palpáveis aos outros. Sendo assim, com uma generalização do conceito de felicidade, Featherstone (1995), sugere que a cultura pós-moderna, ou cultura da sociedade de consumo, ganha novo significado onde pode-se dizer que tudo no contexto social do homem torna-se cultural. Para o autor, Isso resultou na proeminência cada vez maior do lazer e das atividades de consumo nas sociedades ocidentais contemporâneas, fenômenos que embora sejam bem-vistos por alguns, na medida em que teriam resultado em maior igualitarismo e liberdade individual, são considerados por outros como alimentadores da capacidade de manipulação ideológica e controle “sedutor” da população, prevenindo qualquer alternativa “melhor” de organização das relações sociais (ibidem, p. 31).

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A partir deste pensamento de Featherstone, pode-se dizer que a alta-cultura, colocada por este, se confunde com a definição de cultura de massa, ou seja, uma forma de popularização das formas culturais, não havendo mais distinção entre classes, peça marcante na lógica da sociedade pós-moderna, ou seja: As formas tradicionais de associação na família e vida privada, bem como a promessa de felicidade e realização, o “anseio por um Outro totalmente diferente” que os melhores produtos da alta-cultura buscavam, são oferecidos como objetos inofensivos a uma massa atomizada, manipulada, que participa de uma cultura ersatz2 produzida em massa e reduzida ao menor denominador comum (FEATHERSTONE, 1995, p. 33).

Por meio desta premissa, é possível afirmar que a cultura produzida pelo viés do consumo é caracterizada pela massificação do ser humano, isentando-o de definições de classes sociais e o englobando em um contexto de promessas de satisfações. A partir das ideias apresentadas, tem-se uma nova composição dos atos sociais propostos pelos indivíduos, que gera um ciclo frequente de desejos, anseios e necessidades por meio da sedução, fomentados cada vez mais pelos processos de produção, gerando uma compulsão social caracterizada por Bauman (2008) como consumismo. Segundo o autor: Pode-se dizer que o “consumismo” é um tipo de arranjo social resultante da reciclagem de vontades, desejos e anseios humanos rotineiros, permanentes e, por assim dizer, “neutros quanto ao regime”, transformando-os na principal força propulsora e operativa da sociedade, uma força que coordena a reprodução sistêmica, a integração e a estratificação sociais, além da formação de indivíduos humanos, desempenhando ao mesmo tempo um papel importante nos processos de auto-identificação individual e de grupo, assim como na seleção e execução de políticas de vida individuais (ibidem, p. 41).

Desta contextualização, crê-se que o consumismo é uma característica da sociedade. Esta condição é levada em conta por meio da capacidade extremamente individual de querer, almejar e cobiçar, de maneira alienada, por cada ser humano integrado em um contexto social, repetindo o comportamento, porém, de forma diferenciada, da sociedade de produtores, durante a era industrial.

2

Ersatz: Do alemão. Sm (o. Pl) 1 substituição, compensação. 2 substituto. 3 sucedâneo. 4 reposição, compensação. Disponível em . Acesso em 4 de outubro de 2015.

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Sendo assim, conforme Lipovetsky (2005, p. 61), Nasce toda uma cultura hedonista e psicologista que incita à satisfação imediata das necessidades, estimula a urgência dos prazeres, enaltece o florescimento pessoal, coloca no pedestal o paraíso do bem-estar, do conforto e do lazer. Consumir sem esperar; viajar; divertir-se; não renunciar a nada; as políticas do futuro radiante foram sucedidas pelo consumo como promessa de um futuro eufórico.

Para o autor, o ciclo de necessidades e bem-estar transforma a sociedade em seu caráter comportamental onde nada mais importa além da satisfação de seus anseios como forma de vida. A maneira normativa, característica do movimento social, não é mais encarada desta forma, já que o consumo assume o papel principal, o qual anteriormente, na sociedade de produtores, era ocupado pelo trabalho. Assim, tem-se um novo perfil de consumidor, caracterizado por Lewis e Bridges (2004) como “Novo Consumidor”. Segundo os autores, este representa um novo homem inserido em um novo estilo de consumo, considerado distinto, pois além de influenciar cada aspecto da decisão de compra, aceita ou não as novas mudanças sociais, políticas e ideológicas. Os Novos Consumidores transcendem todas as idades, grupos étnicos, incluindo perfis diferentes de renda. Além disso: “A insatisfação é o resultado com mais possibilidade de acontecer entre os Novos Consumidores, cujos estilos de vida se caracterizam por grandes expectativas e um desejo de gratificação imediata” (ibidem, p. 9). Tal comportamento os transforma em individualistas, tendo em vista a necessidade constante de autenticidade, que os obriga a agirem por sua própria conta ou em pequenos grupos, carregando o discurso da diferença como uma demonstração de originalidade pessoal. Este novo perfil de consumidor se destaca em relação aos antigos padrões, devido à época e ao novo pensamento da sociedade. Os “Velhos Consumidores” (expressão do autor) caracterizam-se pela austeridade marcada em seu tempo, após a Grande Depressão e à Segunda Guerra Mundial, em que eram alheios à produção, conformistas, desinformados e amplamente motivados pela conveniência, frutos de um período em que a mentalidade baseava-se no marketing e consumo de massa. As diferenças reais entre Novos e Velhos consumidores podem ser percebidas no quadro comparativo a seguir (QUADRO 1).

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3.4.1 Quadro 1 - comparativo “Velhos e Novos Consumidores” Velhos Consumidores

Novos Consumidores

Buscam conveniência;

Buscam autenticidade;

Sincronizados;

Individuais;

Envolvidos menos frequentemente;

Envolvidos;

Conformistas;

Independentes;

Fiéis;

Infiéis;

Menos bem-informados;

Bem-informados;

Fonte: Lewis & Bridges (2004).

Percebe-se o envolvimento e a consciência crítica quanto ao consumidor, associados à consciência do seu papel dominante na dimensão de consumo.

3.3 HIPERMODERNIDADE

Conforme os avanços dos tempos modernos, novas preocupações e necessidades tomam forma na mente do homem. As ideologias levantadas com o liberalismo pós-moderno, o sentimento de descontração e frivolidade não sustentam mais o estilo de vida da sociedade. Segundo Lipovetsky (2005), as lutas sociais e discursos críticos deixam de alimentar a construção de novas utopias e a necessidade individual por segurança, proteção, defesa das conquistas sociais e preservações do planeta priorizam o novo comportamento humano, levando à falência o já considerado sistema social pós-moderno. A partir desta premissa: “Nasce uma nova sociedade moderna. Trata-se não mais de sair do mundo da tradição para ascender à racionalidade moderna, e sim de modernizar a própria modernidade, racionalizar a racionalização” (ibidem, p. 56). Para o autor, toda liberdade defendida em tempos de pós-modernidade perde sua força, tendo em vista novos objetivos traçados pela sociedade, porém, tais prioridades, mesmo que de forma coletiva, atuam ainda como uma ferramenta para

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legitimar o individualismo coletivo e o consumo. Neste sentido, Charles (2005, p. 25) afirma que: “Vários sinais fazem pensar que entramos na era do hiper, a qual se caracteriza

pelo

hiperconsumo, essa

terceira

fase

da

modernidade; pela

hipermodernidade, que se segue à pós-modernidade; e pelo hipernarcisismo”. Ou seja, a hipermodernidade retoma certos valores do coletivo, mas mantém a valorização do ego como máquina propulsora para justificar a racionalização individual e o consumo. Neste caso, fala-se em hiperconsumo, caracterizado por Charles (ibidem, p.25) como: [...] um consumo que absorve e integra parcelas cada vez maiores da vida social; que funciona cada vez menos segundo o modelo de confrontações simbólicas caro a Bordieu; e que, pelo contrário, se dispõe em função de fins e de critérios individuais e segundo uma lógica emotiva e hedonista que faz que cada um consuma antes de tudo para sentir prazer, mais que para rivalizar com outrem.

Pode-se perceber que a valorização do consumo assume novas esferas, não somente materiais, que se mantém na mesma ordem de pensamento adquirida durante a pós-modernidade, mas com valores e critérios novos, assumindo um comportamento social complexo e em constante evolução. Lipovetsky (2005) complementa tal raciocínio quando ressalta que, na hipermodernidade, não existe escolha ou alternativa senão evoluir, se manter acelerado para não tornar-se um ser ultrapassado pela própria “evolução”. Desta forma, constata-se que: “Quanto menos o futuro é previsível, mais ele precisa ser mutável, flexível, reativo, permanentemente pronto a mudar, supermoderno, mais moderno que os modernos dos tempos heroicos” (LIPOVETSKY, 2005, p. 57). Percebe-se uma necessidade cada vez maior de ser um ser social atualizado, constante, para não ser deixado para trás. Esta maneira de consumo começou a guiar o comportamento do homem em seus círculos de relações como forma de se alcançar felicidade, prazer e bem-estar.

3.4 O HOMEM E SEU COMPORTAMENTO EM SOCIEDADE

Para Baudrillard (1981), o homem moderno vem atuando de forma contínua na inovação para atender as próprias necessidades de bem-estar, reduzindo a cada

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dia a sua vida na produção pelo trabalho. Segundo o autor, “o consumidor e o cidadão moderno não têm que se esquivar à coacção de felicidade e de prazer, que na nova ética constitui o equivalente da obrigação tradicional de trabalho e de produção” (ibidem, p. 80), mas o “homem-ser consumidor” (expressão do autor) sente-se obrigado a buscar uma felicidade, prazer, satisfação como fator determinante para sua realização pessoal. Freud (1997) afirma que o ego é o sentimento mais latente que o homem possui e que caracteriza a separação entre o que é seu, ou interno, das condições externas. Conforme o autor, “[...] o ego nos aparece como algo autônomo e unitário, distintamente demarcado de todo o resto” (ibidem, p. 11) e que, por meio dele, é impossível não transparecer a imagem de que as pessoas buscam poder, sucesso, riqueza e felicidade como padrão de autoafirmação, bem como a admiração destas qualidades nos demais. O autor ainda contempla que “a vida, tal como a encontramos, é árdua demais para nós; proporciona-nos muitos sofrimentos, decepções e tarefas impossíveis” (FREUD, 1997, p. 22). Desta forma, o homem busca soluções paliativas para conseguir suportar tal condição. Freud (ibidem) ainda enfatiza que as satisfações não passam de ilusões que se contrastam com a realidade, porém se revelam de forma eficaz psiquicamente. Neste contexto, o autor complementa o pensamento de Baudrillard, tendo em vista que “[...] o que decide o propósito da vida é simplesmente o programa do princípio do prazer” (FREUD, 1997, p. 24) e que, felicidade, neste caso, sugere satisfação de necessidades. Solomon (2011) enfatiza esta percepção quando diz que o ser humano cria fantasias como forma de compensar uma falta de estímulos ou mesmo atrelar a um escapismo dos seus conflitos e problemas. Segundo o autor: “Uma fantasia ou sonho é uma mudança de consciência auto induzida que, às vezes, é uma maneira de compensar a falta de estímulos externos ou de escapar de problemas do mundo real” (ibidem, p. 194). Partindo deste pressuposto, Lewis e Bridges (2004) afirmam que: “De um lado está nossa individualidade real, a pessoa que percebemos ser, e do outro está nossa individualidade ideal, a pessoa pela qual lutamos para nos transformar” (ibidem, p. 26). Para os autores, este desejo de individualidade é uma forma de buscar e ressaltar

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uma autenticidade como marca de uma originalidade pessoal para si próprio perante os demais. Baseado nesta inferência, Solomon (2011) assinala que o ser humano se utiliza do comportamento de consumo de outra pessoa como forma de ajudá-la a criar julgamentos sobre a identidade social alheia. Esta percepção auxilia a formar ou determinar um autoconceito, além de influenciar na identidade social do homem, visto que as pessoas atrelam sua imagem na forma como o outro a vê. Lewis e Bridges (2004) complementam o pensamento de Solomon quando dizem que: [...] a propaganda e o apelo ao consumo incentivam as pessoas a se compararem às que têm rendas mais altas, criando desejos que seus rendimentos não podem suportar. Pais separados, que sustentam a casa e criam os filhos sozinhos, por exemplo, costumam viver sob grande pressão dos filhos, que exigem o mesmo nível de bens obtidos por um casal (ibidem, p. 48).

Ou seja, o comportamento social do homem consiste em uma busca de felicidade e satisfação pessoais com base na imagem projetada no outro ou nas referências recebidas externamente, como por exemplo, a propaganda e que, para concretizá-la, sua base está assentada no consumo. Solomon (2011) enfatiza ainda que a autoestima do homem está diretamente relacionada ao autoconceito. Pessoas que possuem uma baixa autoestima creem que podem não ter um desempenho considerável e, assim, procuram evitar constrangimentos e rejeições. Neste enfoque, o autor ressalta ainda que [...] muitas vezes aderimos a um processo de gerenciamento da impressão (grifo do autor) em que trabalhamos muito para “gerenciar” o que as outras pessoas pensam de nós; escolhemos estrategicamente as roupas e outros produtos que venham a nos mostrar para as outras pessoas sob uma ótica agradável (ibidem, p. 194).

A partir deste pressuposto, Bauman (2008) complementa a observação de Solomon quando salienta que no gerenciamento das atitudes e comportamentos, o ser humano promove-se por meio do embasamento de mercadoria, ou seja, torna-se produto e agente de seu próprio marketing num contexto de mercado, independente de que nicho possa estar inserido. O autor infere ainda que:

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[...] categorias de pessoas, aparentemente tão distintas, são aliciadas, estimuladas ou forçadas a promover uma mercadoria atraente e desejável. Para tanto, fazem o máximo possível e usam os melhores recursos que têm à disposição para aumentar o valor de mercado dos produtos que estão vendendo. E os produtos que são encorajadas a colocar no mercado, promover e vender são elas mesmas (ibidem, p 13).

Segundo Bauman (ibidem), toda mercadoria posta à venda objetiva um consumo por outro comprador. O interesse do comprador só é afirmado se esta mercadoria lhe prometer satisfazer seus anseios. Sendo assim “[...] o ambiente existencial que se tornou conhecido como ‘sociedade de consumidores’ se distingue por uma reconstrução das relações entre consumidores e os objetos de consumo” (BAUMAN, 2008, p. 19). Com base nesta conjuntura, Solomon (2011) ainda ressalta que cada indivíduo é composto por uma série de diferentes personalidades, ou pessoas, e que cada “eu” refere-se a um papel social desempenhado por cada um, onde age-se de forma diferente conforme o ambiente social do qual se está inserido, em um determinado espaço de tempo. Então, conforme o autor: Cada um de nós, então, interpreta sua identidade, e tal interpretação evolui continuamente à medida que encontramos novas situações e pessoas. [...] Temos a tendência de padronizar nosso comportamento de acordo com as expectativas percebidas dos outros na forma de profecia de autorrealização (grifo do autor). Agindo da maneira como supomos que os outros esperam, normalmente confirmamos essas percepções (ibidem, p. 197).

Solomon enfatiza a maneira efêmera de comportamento a cada situação ou contexto social como forma de manter uma imagem individual e autêntica, mesmo que baseada em percepções externas com o objetivo de aceitação. Este pensamento reafirma as ideias de Bauman (2008, p. 20) quando este infere que: Na sociedade de consumidores, ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar mercadoria, e ninguém pode manter segura sua subjetividade sem reanimar, ressuscitar e recarregar de maneira perpétua as capacidades esperadas e exigidas de uma mercadoria vendável.

Bauman (ibidem) ainda coloca que a subjetividade do homem, assim como aquilo que ela objetiva alcançar, é fruto de um esforço inesgotável para se tornar e permanecer como uma mercadoria aceitável e vendável, o que reafirma os elementos expostos pelos autores já mencionados.

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Além desses fatores, segundo Lewis e Bridges (2004), vivemos atualmente em constante aceleração, onde notícias são fontes de informações imediatas, quando não de revelação. Novas tendências não levam meses, mas sim minutos para se espalhar de um lado ao outro do planeta. Pode-se dizer, então, que: “As comunicações eletrônicas, o e-commerce, conference calls e teleconferência permitem que ‘reuniões’ com pessoas no outro lado do mundo ocorram em tempo real” (ibidem, p. 44). Tal sinergia dos processos comunicacionais aceleram também as ansiedades do homem em querer suprir seus desejos de felicidade e autopromoção por intermédio das relações pessoais. Solomon (2011, p. 192) enfatiza este fato quando indica que: “O crescimento dos serviços de rede social [...] permitem que toda pessoa se concentre nela própria e compartilhe detalhes mundanos ou cintilantes sobre sua vida com qualquer pessoa que esteja interessada [...]”. Bauman (2008) complementa quando afirma que as redes sociais crescem e se espalham de forma quase instantânea, tornando-se o principal endereço de jovens, homens e mulheres. O autor afirma também que “No cerne das redes sociais está o intercâmbio de informações pessoais. Os usuários ficam felizes por revelarem detalhes íntimos de suas vidas pessoais, fornecerem informações precisas e compartilharem fotografias” (BAUMAN, 2008, p. 8). Neste caso, o autor reforça que ser popular significa ser visto, notado e, por consequência, tornar-se objeto de desejo por outros, assim como sapatos, roupas e acessórios exibidos em jornais e revistas, além de vitrines de lojas famosas. Desta forma, pode-se dizer que: Além de sonhar com a fama, outro sonho, o de não mais se dissolver e permanecer dissolvido na massa cinzenta, sem face e insípida das mercadorias, de se tornar uma mercadoria notável, notada e cobiçada, uma mercadoria comentada, que se destaca da massa de mercadorias, impossível de ser ignorada, ridicularizada ou rejeitada. Numa sociedade de consumidores, tornar-se uma mercadoria desejável e desejada é a matéria de que são feitos os sonhos e os contos de fadas (BAUMAN, 2008, p 22).

Para Solomon (2011), este processo abarca todos as formas de comportamento, incluindo profissionais e amorosos. Segundo este, “[...] a maior parte das pessoas se sente razoavelmente positiva a respeito de si mesmas e somos atraídos para as outras pessoas que julgamos similares a nós em personalidade e aparência” (ibidem, p. 193).

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Em relação ao comportamento afetivo do ser humano frente às novas tecnologias, Bauman (2008, p. 25) reforça: [...] usuários potenciais são estimulados a migrar para os serviços de internet como uma “opção mais segura e controlada”, que lhes permite evitar “o risco e a imprevisibilidade dos encontros face a face”. “O medo de estar só remete as pessoas aos computadores, enquanto o perigo representado pelos estranhos estimula o adiamento dos encontros na vida real” (grifos do autor).

Ou seja, por meio de uma insegurança imposta com a entrada da hipermodernidade, o homem começa a recorrer às redes sociais e internet, abrindo espaço para novas formas de interações interpessoais entre os indivíduos da sociedade. Esta nova modalidade de relacionamento, segundo o autor, é resultado de um mercado de consumo que possibilitou uma imposição na crença da segurança, no descompromisso e sem amarras, atuando de forma amigável ao usuário. Nesta concepção, Bauman (ibidem) reforça que o efeito desta forma de existência “mimada” (expressão do autor), da qual há uma abolição da responsabilidade, revela uma “desabilitação social” (expressão do autor) que produz uma subjetividade neutralizada dos atores sociais. Já Silva Neto (2009) afirma que mesmo em uma relação virtual, do qual considera-se imaterial e intangível, pode-se dizer que essa é material e tangível, visto que há pessoas envolvidas, mesmo que não se conheçam presencialmente. O autor ainda reforça o pensamento de Bauman quando afirma que A percepção da virtualidade como irreal ocorre, dentre outros fatores, pelo fato da invenção de aspectos pessoais no relacionamento virtual criar a sensação que essa invenção é aparentemente desconectada da história da vida das pessoas envolvidas, e por isso seria “inofensivo” para a conjugalidade (SILVA NETO, 2009, p. 76).

Desta forma, as relações virtuais podem ser caracterizadas como protegidas e efêmeras, visto que uma história com determinado foco pode, a qualquer momento, tomar novos rumos e um de seus protagonistas desejar permanecer na virtualidade. O autor reforça ainda “[...] a possibilidade que a internet oferece de relacionamentos com várias pessoas simultaneamente, em que a distância e o tempo são aparentemente anulados e cada relação pode ser circunscrita em limites que a mantém isolada das outras, como se fosse um mundo à parte” (SILVA NETO, 2009, p. 77).

45

Bauman

(2008)

salienta,

também,

que

um

certo

desconforto

ou

constrangimento pode ocorrer em relação a um encontro entre pessoas frente a frente, visto que estes são consumidores treinados em uma ideologia de mercado que prioriza este comportamento. Para o autor, Os tipos de mercadorias com as quais foram treinados a se sociabilizar são para tocar, mas não têm mãos para tocar, são despidas para serem examinadas, mas não devolvem o olhar nem requerem que este seja devolvido, e assim se abstêm de se expor ao escrutínio do examinador, enquanto placidamente se expõem ao exame do cliente. Podemos examinálas por inteiro sem temer que nossos olhos – as janelas dos segredos mais privados da alma – sejam eles próprios examinados (BAUMAN, 2008, p. 25).

A partir deste contexto, pode-se dizer que, por meio de um hábito baseado na impessoalidade, o ser humano cria padrões de aproximação virtual e uma acomodação na forma de agir frente às relações interpessoais onde a exposição ocorre de maneira superficial, não havendo socialização pessoal para evitar um estreitamento de laços, manter distância do outro e gerar um descompromisso com o vínculo afetivo. Silva Neto (2009) complementa a percepção de Bauman quando expõe que A percepção da virtualidade como irreal ocorre, dentre outros fatores, pelo fato da invenção de aspectos pessoais no relacionamento virtual criar a sensação que essa invenção é aparentemente desconectada da história da vida das pessoas envolvidas, e por isso seria “inofensivo” para a conjugalidade (SILVA NETO, 2009, p. 76).

Para o autor, o relacionamento virtual cria uma atmosfera de irrealidade ou escapismo para um mundo paralelo e que pode ser desconectado da vida social real, gerando assim, uma forma descompromissada com tudo que acontece nesta realidade imaterial virtual. Além desta característica, conforme Silva Neto (ibidem), a internet possibilita oferecer diversas formas de interações e de formação de relações tornando-se uma meio possível de ultrapassar barreiras e impedimentos burocráticos, bem como corromper valores sociais. Além disso, Giddens (2006) infere que os padrões e valores advindos pela globalização e suas tecnologias mudaram radicalmente o raciocínio até então. Segundo este, os valores relacionados à família após a globalização moldou novas formas de comportamento entre homens e mulheres. Dentre eles, pode-se destacar a separação da sexualidade e reprodução, conforme citado por este:

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Pela primeira vez, a sexualidade é algo que se pode descobrir, moldar, alterar. A vida sexual, que costumava ser relacionada de modo absoluto com a vida matrimonial e a legitimidade, tem agora poucas, ou nenhumas, relações com elas. [...] Trata-se do corolário lógico da separação entre sexualidade e reprodução (ibidem, p. 61).

Giddens afirma que tais padrões passam a fazer parte do ser humano e que a globalização atua de forma efetiva para formar este novo perfil de liberdade, além de formas tradicionais da família, como já descrito anteriormente. Segundo o autor, “[...] as transformações que nos afectam nas esferas pessoal e emocional vão muito para além das fronteiras de um qualquer país [...]” (ibidem, p. 58). Silva Neto (2009) ressalta o pensamento de Giddens quando afirma que as uniões, antigamente, possuíam uma durabilidade maior, tendo em vista que não havia espaço para a expressão de insatisfações, muito menos para separações, porém, faz contraponto com os dias atuais quando atesta que há “[...] duas características principais das relações amorosas nos dias de hoje: o desejo idealizado de encontrar a ‘cara-metade’, que coexiste com a facilidade em desfazer essa relação e seguir buscando a próxima ‘metade da laranja’” (SILVA NETO, 2009, p. 27). Para o autor, o excesso de informações que consumimos referente à felicidade desde que nascemos gera uma preocupação excessiva em encontrar nossa “metade da laranja” (expressão do autor) e, se não a encontrarmos, iremos deixar de vivenciar a verdadeira felicidade, ideia que vai ao encontro das premissas de uma sociedade de consumo hipermoderna. Com base nesta concepção, entende-se que o processo evolutivo da sociedade está diretamente ligada às formas de consumo, nem sempre tradicionais e voltadas ao mercado palpável das relações materiais, mas sim, redirecionadas às novas formas de consumo, que abarcam novas necessidades e anseios presentes no âmbito afetivo, e que seus resultados impactam na maneira como o ser humano interage e se relaciona em seu meio social com os demais.

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4

OS

RELACIONAMENTOS

INTERPESSOAIS

E

A

NECESSIDADE

DE

INTERAÇÃO AFETIVA

Neste capítulo, apresenta-se a estratégia metodológica utilizada para este estudo com o intuito de alcançar os objetivos estabelecidos previamente, bem como as respostas para os problemas da pesquisa. Apresenta-se, também, alguns dos instrumentos de comunicação como facilitadores para a obtenção de relacionamento afetivo, além da análise sobre as vantagens e desvantagens frente às novas formas de interações interpessoais – as digitais – a partir dos dados coletados das entrevistas propostas para complementar este estudo.

4.1 ESTRATÉGIA E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Em função dos objetivos estabelecidos para a realização do estudo sobre a evolução dos instrumentos de comunicação em uma sociedade pós-moderna, apresenta-se uma pesquisa exploratória de cunho qualitativo. Segundo Gil (2008), a pesquisa exploratória apresenta uma rigidez menor em relação ao planejamento escolhido e têm como objetivo desenvolver, esclarecer e alterar ideias e conceitos com base em formulações de problemas mais exatos. O autor afirma ainda que: Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de pesquisa é realizada especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis (GIL, 2008, p. 27).

O autor, ainda, ressalta que a pesquisa exploratória compreende a primeira etapa de uma abordagem investigativa mais ampla e que, conforme a situação, exigese uma delimitação maior quando trata-se de um tema muito abrangente, genérico e que, assim, se faz necessária uma discussão e esclarecimentos acerca do assunto, além de uma revisão bibliográfica. O autor enfatiza também que, neste quesito, envolve-se o levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso.

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Para Boaventura (2004), a pesquisa qualitativa define a averiguação como uma fonte direta de dados, caracterizando o pesquisador como o principal instrumento. Com o método qualitativo, a pesquisa torna-se descritiva, onde tem-se os investigadores com interesses voltados a informações relacionados ao processo como um todo e não necessariamente pelos resultados. A análise dos dados dá-se de forma intuitiva e privilegiam o significado. Gil (2008, p. 175) acrescenta que “[...] ao contrário do que ocorre nas pesquisas experimentais e levantamentos em que os procedimentos analíticos podem ser definidos previamente, não há fórmulas ou receitas predefinidas para orientar os pesquisadores”. Desta maneira, a análise dos dados na pesquisa qualitativa depende muito da forma de interpretação e do estilo do pesquisador. Para atender aos objetivos propostos neste trabalho, serão utilizadas as técnicas de coletas, como: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e entrevistas individuais em profundidade. Compreende-se como pesquisa bibliográfica, segundo Gil (2008), o desenvolvimento por meio de um material já elaborado, por vezes constituído de livros ou artigos científicos. Já na visão de Oliveira (2002, p. 172): “tem por finalidade conhecer as diferentes formas de contribuição científica que se realizam sobre determinado assunto ou fenômeno”. Além disso, pode-se dizer que “a principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente” (GIL, 2008, p. 50). Em relação à pesquisa documental, pode-se dizer que baseia-se em “materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa” (GIL, 2008, p. 51). Compete à pesquisa documental, segundo o autor, documentos oficiais, reportagens de jornal, cartas, contratos, diários, filmes, fotografias, gravações, entre outros. Documentos não tratados cientificamente, dos quais já foram analisados anteriormente, como: relatórios de pesquisa, relatórios de empresas e tabelas também são consideradas como fontes documentais. Deste modo, sua utilização contribuirá para análise de sites, blogs e materiais com conteúdo jornalístico, como revistas e jornais que tratam do tema a ser estudado, complementando o tema abordado e, assim, contribuindo com o objetivo proposto.

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Sobre a entrevista em profundidade, pode-se dizer que “consiste no diálogo com o objetivo de colher, de determinada fonte, de determinada pessoa ou informante, dados relevantes para a pesquisa em andamento” (RUIZ, 1996, p. 51). Para Gil (2008), a entrevista é uma forma de interação social com diálogo assimétrico e objetiva a coleta de dados pelo investigador por meio de outra pessoa, sendo esta a fonte de informação. Gil enfatiza ainda que: “Enquanto técnica de coleta de dados, a entrevista é bastante adequada para a obtenção de informações acerca do que as pessoas sabem, creem, esperam, sentem ou desejam [...]” (GIL, 2008, p. 109). Para o autor, o formato de entrevista pode ser valorizado tendo em vista a forma de investigação social. Com este intuito, a escolha da técnica objetiva aprofundar as informações através dos usuários do aplicativo de celular Tinder para obter um maior embasamento do tema deste estudo. Em primeiro momento, apresenta-se o aplicativo de celular Tinder como fundação para compreender o estudo. Nesta apresentação, detalharemos sua utilização e funcionalidades, que servirão como dados para introduzir a pesquisa realizada. Em seguida, após o levantamento de informações necessárias para o conhecimento e aprofundamento dos temas em questão, será aplicada a pesquisa de campo, baseada em entrevistas individuais, com a participação de oito pessoas, destas, quatro homens e quatro mulheres, usuários e ex usuários do aplicativo Tinder, moradores da cidade de Porto Alegre e com idades entre 20 e 42 anos. As entrevistas aconteceram no período de 14 a 22 de outubro de 2015. Cada entrevista foi realizada de forma individual em locais de trabalho, faculdade, além de estabelecimento comercial, na própria capital, com duração de 10 a 26 minutos, gravadas, conforme consentimento dos participantes. Os entrevistados não foram selecionados por caráter de opção sexual, mas sim, por idade e gênero, com o intuito de verificar as percepções de diferentes perfis. Em relação ao caráter profissional dos entrevistados, percebe-se que há uma ênfase dirigida a arquitetos e estudantes. Tal fato ocorreu devido à entrevista com uma arquiteta em seu local de trabalho, que gerou curiosidade em relação ao tema proposto, ocasionando, assim, novos voluntários para complementar o estudo. Já os estudantes de Relações Públicas, houve uma necessidade de buscar entrevistados mais jovens para entender a linha de pensamento sobre o assunto, o que despertou interesse dentro da própria Universidade.

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Sobre a técnica de análise de conteúdo proposta, Bardin (1977, p. 9) afirma que é “um conjunto de instrumentos metodológicos cada vez mais subtis (grifo do autor) em constante aperfeiçoamento, que se aplicam a ‘discursos’ (conteúdos e continentes) extremamente diversificados”. Ou seja, o uso de técnicas que fornecem diversos dados com estruturas traduzíveis baseados na dedução, ou inferência. Após a coleta dos dados, iniciou-se o processo de organização das informações e interpretação do material, que permitiram diversos cruzamentos entre o que foi registrado e o referencial teórico construído ao longo deste estudo, para otimizar a análise e buscar um maior entendimento quanto aos objetivos propostos. Através de um roteiro de perguntas, as quais foram divididas e organizadas em quatro categorias, temos: 

Categoria I: Uma abordagem sobre as diferentes formas de interação

dos entrevistados relacionando-a ao uso da internet, que abrange o que se consome, o tempo investido na navegação, o acesso à rede pelo celular e a interação em redes sociais. 

Categoria II: Objetiva o foco nas interações amorosas, nos motivos que

levam os entrevistados a buscar um relacionamento afetivo e quais as principais maneiras de se aproximar do outro. 

Categoria III: Relaciona as opiniões dos entrevistados frente às novas

tecnologias de interações digitas com enfoque em relacionamentos afetivos, destacando o Tinder como plataforma base para o estudo, sua utilização, frequência de uso, comportamento em relação à usabilidade. 

Categoria IV: Resgata as principais características dos usuários, de

acordo com as percepções dos entrevistados, entre as formas tradicionais de aproximação e os novos instrumentos digitais que auxiliam neste processo. Busca-se verificar se tais instrumentos (digitais) podem ser considerados como uma evolução no processo comunicativo no enfoque das relações interpessoais, no modo como os relacionamentos podem ser interpretados e questiona quais critérios são adotados no momento da escolha, quando trata-se de casamentos e constituição de família.

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4.2 O TINDER COMO UM NOVO CONCEITO INTERATIVO

O aplicativo de celular Tinder foi lançado no final do ano de 2012, nos Estados Unidos, e entrou no mercado brasileiro em 2013, conforme dados do site Olhar Digital, em matéria publicada em janeiro de 2013. A plataforma consiste em busca de perfis por meio de geolocalização e utiliza-se do celular para sua funcionalidade. Em primeiro momento, o usuário deve criar um perfil na plataforma, baseado em outra rede social como forma de garantir veracidade nas informações. O portal de informações Terra (2013) reforça que as “[...] vantagens do Tinder é que não viola a privacidade de quem o utiliza, a não ser que a pessoa permita, e também não revela no Facebook as interações dos usuários dentro do sistema”. Após a construção do perfil que, além de fotos, possui espaço para o preenchimento de uma pequena biografia, mostra amigos em comum com a pessoa interessada, assim como outros interesses considerados em comum, por meio de informações recebidas pelo Facebook. A seguir, apresenta-se o formato da plataforma, para salientar as informações elencadas previamente. Figura 1 – Plataforma do aplicativo Tinder.

Fonte: Tinder

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Ao ser acionado, o aplicativo rastreia possíveis perfis compatíveis e o usuário escolhe “curtir” (like) ou “descurtir” (dislike), conforme as informações apresentadas pelo pretendente. Ao optar por “curtir”, o usuário poderá receber a informação de “match”, que caracteriza a combinação de ambos os perfis. A seguir, apresenta-se a imagem relacionada à notificação recebida pelo aplicativo sobre o “match”. Figura 2 – Plataforma do aplicativo, quando dois perfis são compatíveis.

Fonte: Tinder

Desta forma, o Tinder possibilita a interação por meio de um bate-papo alocado no próprio aplicativo com o objetivo de que ambos possam se conhecer melhor. Em caso de um “dislike”, a pessoa “rejeitada” não é acionada. Complementando este pensamento, a notícia publicada pelo Portal Terra, em 23 de agosto de 2013, ressalta que: Um dos principais diferenciais do Tinder é evitar o temido “fora” ou simplesmente “ser ignorado”, já que o usuário terá a oportunidade de conversar somente com pessoas que também gostaram e escolheram o seu perfil, por meio do chat da própria ferramenta. Já se a situação for contrária e a pessoa não gostar do perfil sugerido, não haverá nenhuma notificação e o perfil indesejado não será mais exibido.

Desta forma, é possível perceber que a função do aplicativo implica em aceitar ou não perfis que possam ser compatíveis, levando-se em conta a imagem, uma breve

53

descrição e possíveis afinidades, e que seu formato tende a minimizar os riscos de rejeição, além de aumentar as chances de aproximação e interação.

4.3 O PERFIL DOS ENTREVISTADOS

A seguir, apresenta-se a caracterização dos entrevistados (QUADRO 2). Quadro 2 – Os Entrevistados Entrevistado

Nome

Idade

Profissão

A

Luciana

42

Arquiteta

B

Felipe

35

Arquiteto

C

Luiza

27

Arquiteta

D

Caroline

25

Arquiteta

E

Marcus

33

Assistente de Eventos

F

Leonardo

21

Estudante de Relações Públicas

G

Ana

20

Estudante de Relações Públicas

H

Áquila

25

Estudante de Relações Públicas

Elaborado pelo autor (2015).

4.4 SÍNTESE DOS DADOS DAS ENTREVISTAS

Neste subcapítulo, apresenta-se os dados sintetizados a partir da coleta de informações dos entrevistados. As quatro categorias propostas estão diretamente relacionadas aos objetivos deste estudo, dos quais pode-se citar: as formas atuais de interação, a necessidade de se relacionar, as mudanças nas estruturas de

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relacionamentos ao longo das décadas e as ferramentas disponíveis para facilitar a aproximação entre pessoas, bem como a influência do consumo nas novas formas de relacionamento por meio de aplicativos de celular. As respostas a cada categoria foram sintetizadas em quadros no intuito de facilitar a compreensão do leitor. A

seguir, apresentam-se as categorias e os respectivos quadros

comparativos, divididos em subcategorias. 4.4.1 Categoria I – As formas atuais de interação. 

Sobre a utilização da internet.

Quadro 3 – Sobre a utilização da internet. R.

Como você utiliza a internet, além do trabalho/estudo? Por quanto tempo?

A

“Muito pra entretenimento, ver filmes e rede social”.

B

“Eu uso para informações e interagir com as pessoas”.

C

“Eu utilizo em casa, só pelo celular. Eu uso muito pra pesquisa, Whatsapp, instagram, Facebook. Uso muito pra interação, notícias. Facebook pra saber sobre eventos. Não uso pra bate-papo”.

D

“Em geral, uso pra lazer, pesquisa. Tenho o vício de estar sempre com o celular ao lado e o utilizo, inclusive, durante conversa com amigos. Me mantenho informada, além de comunicação com amigos de outros lugares e interação, em virtude de não ser de Porto Alegre, mas moro aqui há 1 ano e meio”.

E

“Eu faço muita compra pela internet. Utilizo para redes sociais, interação com pessoas, mapas de localização”.

F

“Basicamente, redes sociais e e-mail”.

G

“Lazer. Utilizo mais o celular para redes sociais e e-mail. Em 90% do tempo eu fico conectada”.

H

“Eu uso para me comunicar com os amigos, notícias, me relacionar com outras pessoas, me informar e entretenimento”.

Fonte: O autor (2015).

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O uso de redes sociais pelo celular.

Quadro 4 – O uso de redes sociais pelo celular. R.

Participa de redes sociais por meio do celular constantemente?

A

“Sim, Facebook, Instagram, Twitter, Whatsapp”.

B

“Utilizava de uma em uma hora”.

C

“Sim, mas não é obsessivo. Interajo muito, mas mais para saber sobre eventos e notícias. Eu leio muito na internet”.

D

“Participo, eu sou bem curiosa. Eu tenho picos de me expor, mas eu acompanho não só pessoas, mas páginas que participo. Uso muito Instagram, Facebook e Pinterest”.

E

“Constantemente. Estou sempre ligado nas redes sociais”.

F

“Utilizo várias redes sociais e uso constantemente”.

G

“Sim. O tempo todo”.

H

“Sim, uso Whatsapp, Facebook e e-mail”.

Fonte: O autor (2015).

4.4.2 - Categoria II - A necessidade de se relacionar e as principais formas de aproximação. 

A necessidade de se relacionar.

Quadro 5 – A necessidade de se relacionar. R.

Você gosta de namorar/paquerar? Por quê?

A

“Eu gosto de ter um namorado, mas paquerar é divertido em algum momento. Eu gosto de ser e me sentir namorada de alguém. Na idade que eu estou, namorar vem mais ao encontro com meus objetivos profissionais e de vida. Já não é mais aquela coisa de reafirmar uma personalidade. Isso já aconteceu. Quero dividir coisas com alguém, trocas culturais, emocionais, viajar. Faz parte da minha vida hoje essas questões”.

B

“Eu curto. Gosto de me relacionar. Sou ser humano, tenho necessidades”.

56

C

“Sim. Porque é bom se relacionar. É quando nós crescemos como pessoa. Isolamento não gera crescimento. Só gera um conflito com a gente mesmo quando nos relacionamos com outro, o que é importante”.

D

“Sim. Porque também é lazer. Me relacionei com muitos amigos ou os caras se tornaram meus amigos depois de ficar. Muitas relações abertas, porém, em relação aos namorados, as relações amigáveis são mais difíceis. Relação aberta é ficar com pessoas, mas não ter um compromisso com elas”.

E

“Sempre. Porque me dá prazer”.

F

“Sim, paquerar. Porque é um jogo de desafios, eu gosto. Jogo de desafio, neste caso, seria uma arte da conquista, que eu vejo como um desafio. Aparecer e conquistar a pessoa, eu encaro como um desafio”.

G

“Sim. Porque todo ser humano tem que se relacionar. Para ser feliz, tenho que ter alguém do meu lado. Ninguém consegue viver sozinho, precisamos compartilhar nossas frustrações e conquistas. Precisamos de ajuda dos outros pra ser feliz. Se ficar sozinho, é muita solidão”.

H

“Sim. Porque o ser humano não pode ser sozinho. Precisamos nos relacionar com outras pessoas, é uma necessidade. Sociabilidade, relacionamento afetivo é necessidade do ser humano”.

Fonte: O autor (2015). 

As principais formas de aproximação.

Quadro 6 – As principais formas de aproximação. R.

Quais as principais formas que você encontra hoje para conhecer alguém?

A

“Alguns anos para cá, utilizo bastante a internet. Uma época, se usava Chats como Terra e Orkut ou o Messenger. Sempre gostei de usar estes recursos, além de pessoas do meio, universitários, círculos de amizade. O uso de Chats, por uma questão de ser mais fácil e protegida de conhecer alguém, fazer filtro e uma forma que te preserva e te possibilita conhecer outra pessoa, diferente de uma festa, onde a atração física é maior e tu consegue traçar um perfil daquilo que tu quer ou não. Para a mulher, tem a questão da segurança. Nos apps é possível se expor sem se expor”.

B

“A principal, eu diria que pela internet. É a forma mais fácil de contatar e conhecer pessoas”.

57

C

“Lugares públicos que frequento, festas (mesmo não gostando muito). Como moro há pouco tempo aqui em Porto Alegre, eu conheço pouca gente, então isso me fez entrar no Tinder. No app eu conheci muita gente, mas meu objetivo é trocar ideia e não encontrar pessoas”.

D

“Das mais diferenciadas formas. Já aconteceu até de conversar pelo Instagram, após curtir uma foto de uma pessoa, mas eu conheço bastante pessoas por ter amigos em comum, ou festas”.

E

“Além da internet, uso muito o Tinder, o Happn, mas eu sou muito de abordagem ao vivo. O Facebook eu uso bastante também. Eu me sinto mais atraente conversando pessoalmente com as pessoas, não sou fotogênico para se utilizar das fotos pra conquistar alguém”.

F

“Em festas, bares. Eu gosto mais do cara a cara. Uso app também”.

G

“Amigos, festas (que não é o mais apropriado), internet, apps, faculdade, trabalho”.

H

“Festa, encontro com amigos, círculo social, redes sociais, Twitter, Instagram e Tinder”.

Fonte: O autor (2015). 4.4.3 – Categoria III – A utilização do aplicativo de celular Tinder. 

O surgimento dos aplicativos voltados para relacionamentos amorosos.

Quadro 7 – O surgimento dos aplicativos voltados para relacionamentos amorosos. R.

Qual a sua opinião sobre o surgimento de aplicativos de celular com enfoque em relacionamentos?

A

“Acho ótimo, é mais uma ferramenta para as pessoas se relacionarem, porém as pessoas se protegem muito. É uma forma protegida. Existe um condicionamento do homem em que se pressupõe uma necessidade de compromisso por parte da mulher e da mulher em que o homem busca apenas sexo. Na verdade, todo mundo quer se relacionar, é da natureza humana. Então, é uma forma de proteção, tanto com discursos, como o uso do aplicativo, mas é uma forma de se proteger, mas ao mesmo tempo, uma forma de se conectar, é mais fácil. Nos apps, não existe a necessidade de lidar com a questão humana da pessoa, apenas a idealizada. Existe um autocentramento, pois é fácil se conectar com outro, porém de forma superficial, pois se não é o perfil desejado, você pode passar para o próximo”.

58

B

“Eu acho ruim, sinceramente. Porque ele provoca relações muito superficiais, pois é uma ferramenta de uso instantâneo e rápido. E como ela permite que as coisas sejam rápidas, ela também permite que a relação não se aprofunde e se desfaça. Nessa rapidez e fluidez, a qualidade das relações cai muito”.

C

“Eu acho que tu pode usar da maneira que for. Eu já conheci, inclusive, para contato profissional, com trocas de ideias. Eu filtro muito pelos interesses e pela foto. Vai muito da maneira que tu utiliza, como tu busca e o que tu tá buscando”.

D

“Eu nunca consegui êxito em apps. Usei o Tinder algumas vezes, mas fico constrangida de encontrar uma pessoa que eu não conheço, marcar um encontro. Eu nunca consegui marcar, já falei com pessoas legais, mas nunca consegui marcar. É diferente de encontrar numa festa porque no Tinder é explícito que tu está procurando uma pessoa e em uma festa não necessariamente, pois posso só estar com amigos. Acho que pode ser interessante tu querer buscar alguém pelo app. Talvez eu use o Tinder pra buscar alguém que tenha afinidade porque as com quem eu tenho me relacionado não tem dado certo. É importante ter os mesmos gostos, interesses culturais, visão de futuro, não pode ser muito discrepante o pensamento sobre a vida em geral”.

E

“Acho muito legal, é uma ferramenta para facilitar a aproximação. Tem pessoas muito tímidas e isso facilita muito”.

F

“Facilita muito, pois tu pode ver a foto da pessoa, saber como é, o que ela faz. O Tinder é um app bacana, mas tem muita gente feia. Fora do país, as pessoas são lindas. Tem chance de pessoas se conhecerem, mas tem gente que usa muito pra carência. Eu prefiro encontrar alguém e falar com a pessoa. É uma forma de consumo pra saciar certas vontades de cada um, como um mercado, baseado em aparência, já que tu só vê a ideia da beleza”.

G

“Eu acho que ainda se tem preconceito, inclusive da minha parte. Eu chamava de buffet de pessoas. Minha concepção no início era de que as pessoas usavam pra coisas não sérias. Quando comecei a usar, eu percebi que não era bem por aí e que dá pra conhecer pessoas legais. Hoje, eu não tenho mais preconceito e percebo que os apps facilitaram a aproximação das pessoas. Como tu não está vendo, tu fica mais desinibido, porém, você também fica um pouco receosa, pois não sabe se a pessoa é aquela mesmo, se está mentindo. Tem que ter um pouco de cuidado”.

H

“Eu acho legal, pois tem muita gente retraída e com dificuldade de socializar pessoalmente. Todos tem necessidade de se relacionar e a oportunidade de ter um perfil em um app é um jeito de começar a mostrar que há interesse e que a

59

pessoa existe. Eu vou ser notado, nem que seja por um tempo minúsculo, diferente da vida real, pois tu pode passar desapercebido pelos outros. Só de ter um perfil na internet, você já está exposto. É um jeito de se expor de forma segura, e mostrar um lado da tua vida que pode não ser conhecido”.

Fonte: O autor (2015). 

Em relação à frequência da utilização do aplicativo Tinder.

Quadro 8 – Em relação à frequência da utilização do aplicativo Tinder. R.

Com

que

frequência

você

utiliza

os

aplicativos

de

celular

para

relacionamentos (Tinder)? A

“Quando solteira, eu usava todo dia, uma vez ao dia, pelo menos. O Tinder”.

B

“Usava diariamente, uma vez por turno”.

C

“Agora faz tempo, estou apaixonada, mas usava direto até acabar as opções diárias, quase todo dia”.

D

“Eu usei por duas semanas e parei, mas todos os dias nesse período”.

E

“Eu estou sempre ligado. No Tinder, eu dou os “likes” até gastar a cota diária. Em geral, eu dispendo uns 20min nisso”.

F

“Uma vez por semana”.

G

“Hoje não utilizo mais, mas usava dia sim dia não, antes de dormir”.

H

“Usava todo dia, pelo menos duas vezes ao dia”.

Fonte: O autor (2015). 

A interação com outros perfis.

Quadro 9 - A interação com outros perfis. R.

Quando utiliza o aplicativo, você aguarda o “match” ou continua buscando novos perfis? Por quê?

A

“Continuo buscando. Quanto mais opção, melhor. O relacionamento se desenvolve naturalmente, então se leva tempo para conhecer alguém e ter uma vontade de ter uma relação. Os matchs são opções de conhecer, possibilidades de conhecer pessoas diferentes e em algum momento, algumas delas pode despertar um interesse mais profundo”.

60

B

“Continuava buscando novos perfis, incessantemente. Por carência, desespero e ansiedade”.

C

“Buscava muitos perfis, porque ficou viciante o ‘passar’ (like e dislike). Percebo que a pessoa meio que se vende pelo app, faz uma publicidade no Tinder. Tu escolhe as fotos que tu quer passar para o outro e eu busco pessoas onde a foto vem ao encontro dos meus interesses. Perfil de preferências pessoais, perfil de pessoas etc.”.

D

“Eu sempre busco outros perfis. Porque eu nunca encontrei uma pessoa que eu achei que fosse o meu perfil para parar de falar com outros. Até porque não tem como saber pelo Tinder. Dá para se ter uma base, por algumas fotos. Quando a foto não me agrada eu já descarto, eu vejo se tem amigos em comum, vou muito pelas referências. Considero a aparência importante, tanto a fisionomia e do lugar onde a foto pode ter sido tirada”.

E

“Continuo buscando. Porque ninguém garante o match, vou dando like até conseguir os matchs. Eu vejo só a primeira foto e dou o like. Depois do match, eu olho com mais cuidado as outras fotos, pois eu não tenho muito tempo, e dando vários likes, eu não tenho o que perder. Se der match e não tiver afinidade, ou pelas fotos, simplesmente não puxo assunto. As mulheres, em geral, não começam a conversa e acaba se perdendo a ideia de bater papo”.

F

“Busco novos perfis. Para suprir uma carência com o sexo, além da afetiva”.

G

“Continuava buscando. Porque não adianta esperar, pois sempre tem muitas outras opções que estão ali na rede. Tu tem que dar uma chance. Tu vai muito pela beleza, é muito superficial. Em uma combinada, não dá pra saber muito da pessoa, por isso ia buscando novos perfis”.

H

“Buscava sempre novos perfis. Eu fico imaginando a dinâmica das outras pessoas também. É meio açougue, você passa e escolhe, não é impositivo, o que é o bom do app. As pessoas não têm a ideia de esperar. No Tinder, a imagem é muito importante. O jeito que a pessoa se coloca ou a foto que utiliza no perfil diz muito. Vejo muito o sentido estético, não deixa de ser uma forma meio brutal ou cruel.

61

“Pode ser a tua chance de conhecer uma pessoa legal e você, simplesmente, dá ‘Não’, por conta de um cabelo ‘zoado’ ou pela foto ser esquisita. Nós acabamos julgando pela aparência. As pessoas que utilizam sabem que é para associação da imagem, é para dizer quem tu és pela foto. O espaço da imagem é maior que a própria bio da pessoa. O foco é a imagem, se vou curtir ou não, mas basicamente é só imagem”.

Fonte: O autor (2015).



O número de interações ao mesmo tempo.

Quadro 10 – O número de interações ao mesmo tempo. R.

Em média, com quantas pessoas você conversa ao mesmo tempo quando está utilizando aplicativos de celular para relacionamentos? Quantas destas pessoas você já encontrou ao vivo? “Conversava com uma média de cinco a 10 pessoas ao mesmo tempo. Cada uma me

A

apresenta

uma

possibilidade

diferente.

De

algumas,

nasceu

um

relacionamento de amizade, outras uma aversão. É uma forma de testar os conceitos que formamos e preconceitos. Colocamos a prova tudo isso. Torna-se uma experiência bem enriquecedora”. “Encontrar ao vivo, um monte. De 100, conheci umas 40 (em média)”. “Conversava com três, em média. As pessoas puxavam assunto comigo, ou pra não perder uma aparente chance de ficar com alguém. Por uma questão

B

estratégica, para não perder a chance. Eu não pensava muito se eu estava interessado, era automático e eu me via numa engrena onde eu cumpria um procedimento automático”. “Ao vivo, em uma escala de 10, uma pessoa. Eu não dava continuidade a nenhuma relação, era bem descartável. Com essa que encontrei, era mais por afinidade no desenrolar da conversa”. “Falar, uma média de três. Meu interesse era trocar ideia, não necessariamente

C

sair com a pessoa. Fico apenas sondando”. “Encontrar, de 30, seis eu saí (em média)”.

62

“Nunca encontrei. Só um amigo, do qual os dois deram like, mas éramos amigos D

já”. “Em média, duas. Pra conhecer melhor”.

E

Ao vivo: “Acho que umas cinco, ao todo. De 300 matchs, só conheci cinco (em média)”. “Duas, em média. Eu acho um pouco falhos nesta questão (o app). Não saio dando likes em todo mundo, sou muito seletivo. Não gosto de só conversar pra pegar

F

alguém”. Ao vivo: “Três pessoas, em todo o tempo de uso”. “Pelo app, de quatro a cinco pessoas e depois evoluí pra Whatsapp com alguns e

G

daí tu vai filtrando”. Ao vivo: “Uns quatro ou cinco, desde 2013”. “Eu dava muito like e recebia pouco match. Ao máximo, umas três”. [...] Ao vivo,

H

uma, de três. Encontrava amigas ou colegas de faculdade, mas não rolava o apelo de relacionamento, e passava a chance”.

Fonte: O autor (2015).

4.4.4 – Categoria IV - As mudanças nas estruturas de relacionamentos ao longo das décadas. 

Comparações entre as formas tradicionais de interação e as atuais por meio dos aplicativos de celular.

Quadro 11 – Comparações entre as formas tradicionais de interação e as atuais por meio dos aplicativos de celular. R.

Qual a sua opinião quando falamos em formas tradicionais de aproximação entre as pessoas (paqueras, encontrar alguém) e as atuais, por meio do celular?

A

“Eu acho ótimo esses novos meios. Tu tem mais possibilidade, mas elas são menos profundas, porque as coisas são mais rápidas. E não sei até quando se manterá a ideia do amor romântico que temos. Tem muitas pessoas querendo ficar sozinhas, se relacionando só quando precisa. Existe hoje uma visão egocêntrica, mas não faço juízo de valor, pois para mim, tem o mesmo valor conhecer alguém

63

num grupo de estudo ou num chat de internet. É só mais um meio, não consigo julgar o que é melhor”. B

“A forma tradicional é muito mais rica do que essas novas. A forma tradicional, pressupõe uma presença física onde conseguimos transmitir e receber mais informações”.

C

“Para mim, facilitou muito. Como não conheço muita gente aqui, pois sou do interior, e como sempre fui mais retraída, para mim é positivo. Tornou-se um facilitador”.

D

“A maneira nova não funciona (apps), pois as coisas podem ser mal compreendidas. Abrem-se muitas brechas na comunicação. Eu gosto de encontrar a pessoa em reunião de amigos ou em viagem, mas eu não descarto essa possibilidade”.

E

“Eu sou muito da maneira antiga, gosto do contato visual. Tu consegue ver como a pessoa realmente é, os trejeitos, mas acho os apps facilitadores, ajudam muito. Depois do encontro é que tu tira as conclusões”.

F

“Prefiro as tradicionais. O face a face é uma forma melhor de conhecer. O olhar, o sorriso, isso conquista mais que uma foto”.

G

“Eu acho que é válida, tu pode conhecer pessoas pela internet. A relação humana não muda, mas estar junto, nada substitui isso. Na internet tu pode ser qualquer pessoa, ao vivo não. Para quem tem bom senso, tu é tu, tanto na internet quanto na vida real, mas pra maioria. Em relação aos apps, nós sempre somos os mesmos, mas mais descontraídos, pois se está atrás da tela do celular e tem condições de apagar aquilo que colocou/postou, é uma forma de se esconder”.

H

“Eu acho que está tudo certo, o fato de um casal se conhecer no Tinder não é melhor ou pior do que outros que se conheceram por outras formas. De qualquer maneira, o processo de se conhecer, independente da forma, é igual. Pode ser um pouco facilitado por estar atrás de um celular ou poder conversar de outra forma. Acho que um facilitador, mas considero indiferente”.

Fonte: O autor (2015).



Mudanças relacionais como evolução.

Quadro 12 – Mudanças relacionais como evolução. R.

Percebe-se as mudanças (digitais) como evolução? Por quê?

A

“É uma evolução da comunicação, uma possibilidade a mais de conexão”.

64

B

“Não acho que seja evolução, pois se perde muita qualidade. Mesmo tendo utilizado de forma compulsiva, eu acho que é uma involução. Defino qualidade no sentido de atenção e tempo que tu dedica para aquilo que faz. As atenções estão mais voltadas pra aquilo. No digital, a outra pessoa pode estar conversando contigo e com mais três, atendendo a um cliente ou fazendo outras coisas e aí tu não tem nenhuma garantia da veracidade da transparência da outra pessoa. As percepções são diferentes, a linguagem corporal é um diferencial. Hoje você vê uma foto que tem uma determinada leitura, e ao vivo você percebe mais coisas além daquilo que uma foto te dá”.

C

“Eu não sei, por um lado, sim, mas tenho dúvidas se isso afasta as pessoas ou se aproxima. Para mim, tá facilitando, mas as pessoas estão se prendendo a isso e evitando de sair, ficando muito no virtual. Acho que o mundo virtual e o real interagem muito hoje em dia, mas pode confundir”.

D

“É uma outra alternativa de aproximação. Quem é novo na cidade, quem não tem uma rede grande de contatos, tem a possibilidade encontrar alguém pelo celular, por isso acho positivo, mas tem que ter certo cuidado. Muitas amigas viajam, ligam o Tinder e conhecem outros caras. Sou receosa em relação a saber quem é a pessoa”.

E

“Sim, percebo evolução. Hoje as pessoas estão muito digitais, elas tem mais tempo de estar ou viver mais o digital. Como o convívio é mais digital, então, é a forma que tu tens de oportunidade pra fazer uma aproximação, através dos apps”.

F

“Sim, acho que sim. Agora se é benéfica ou não, é outra coisa. Ela é boa pra aproximar, mas até que ponto ela pode tornar as coisas reais, é outro ponto. Podem não se tornar reais. Pode ficar só um bate papo na internet e não rolar mais”.

G

“Percebo, não a criação do app, mas a ferramenta em si. Faz parte da evolução, não só digital, mas nas pessoas. O homem tem que querer evoluir pra integrar este contexto, mas é uma escolha. Acredito que é uma forma de se vender, Instagram e Facebook permitem que tu opte por ter a foto liberada quando te marcam, quando você não gostou, você pode ocultar. Tu posta fotos que tu quiser, o que é uma forma de se vender, expor opiniões também é uma forma de se vender, valorização de curtidas e matches é uma forma de aceitação, que a gente procura”.

H

“Acho que sim, pois ele possibilita quem tem dificuldade fora da internet, por serem mais tímidas. Acaba sendo uma oportunidade, pois está atrás do celular. Assim como os sites de relacionamentos que existiam antigamente e até hoje, os pais do Tinder”.

65

Fonte: O autor (2015). 

Qual das formas de interação valoriza-se mais?

Quadro 13 – Qual das formas de interação valoriza-se mais? R.

Qual delas você valoriza mais, atualmente?

A

“Valorizo a interação”.

B

“A física”.

C

“Eu acho sempre melhor ao vivo, pois é uma experiência completa. Na internet tu não tem a noção da pessoa em movimento. Pois, filtrar pela imagem, tu te prende na pré concepção, que na verdade não é só isso. Para mim é a pessoa real, que interage, o que ela te oferece, que te gera em termos de emoção, o que te desperta. A internet nunca vai conseguir fazer isso, eu acho”.

D

“A tradicional, porque eu considero de fato um encontro real. No Tinder, eu não me comunico com ninguém, por opção minha. No real é meio que de fato, é mais prático”.

E

“O contato visual, o chegar junto”.

F

“A tradicional, pois tem mais relevância do que um app”.

G

“Para relacionamento/namoro, o pessoal é insubstituível, mesmo eu tendo conhecido meu namorado pelos apps”.

H

“Não tenho esse julgamento de valor. Pra mim é válido qualquer forma. As pessoas não são diferentes por estarem ou não no Tinder”.

Fonte: O autor (2015). 

A visão dos relacionamentos futuros.

Quadro 14 – A visão dos relacionamentos futuros. R.

Como você vê os relacionamentos daqui para o futuro?

A

“Eu ainda tenho uma visão um pouco ortodoxa, dentro de moldes mais rígidos. Em relação aos jovens, acho que os relacionamentos são mais honestos, talvez não tão profundos, mas mais honestos, mais autocentrados, mas mais honestos. Vejo esse novo romantismo terminando. Vejo como um ciclo, como uma moda, ele tem uma razão de ser conforme o estilo de vida das pessoas, mas que vai e vem”.

B

“Mais difíceis, mas isso não tem a ver com o app, mas pelo nível como a humanidade está atualmente, com tendências individualistas, as coisas acontecem e ‘desacontecem’ muito rápido. Depende da profundidade das coisas. Eu acho que

66

eles (relacionamentos) são muito mais dinâmicos e tendem a ser mais difíceis com essa dinâmica, com a internet. É um conjunto de coisas. Os apps são só mais um vestígio disso”. C

“Eu acho que vejo de forma diferente, pois eu me iludo muito, pois um relacionamento tem que ter muita lealdade, deve ser muito correto, ter cumplicidade, fidelidade, e eu não vejo as pessoas agindo dessa forma. A gente tem se deparado com a realidade de que as pessoas não são tão fieis, mas, hoje, elas estão evoluindo para relacionamentos mais verdadeiros, pois ninguém mais aceita (ou quase) situações de infidelidade e deslealdade. Acho que elas buscam uma vida mais verdadeira, que satisfaça mais. Com os apps, como o Tinder, pode ser que as coisas ocorram muito rápido, o namoro começa mais rápido, muito fácil, mas tu nem sabe se aquela é a pessoa que tu queres namorar. Não sei se é bom, mas pra mim não funciona muito, eu gosto de coisas mais certas, mais pé no chão”.

D

“Tudo está ficando mais controlador. Se você já tem um relacionamento, tu pode controlar muito mais a relação. Eu acho que temos que ter um certo cuidado pra não ficar muito invasivo”.

E

“Eu não pensei em ter uma previsão disso, mas espero que só venha a melhorar, mas também tenho medo que piore, o que pode vir depois disso? A tecnologia funciona tanto pra coisas positivas, encontrar uma pessoa, como para o ruim. Como dar um match e a pessoa não ser um perfil real”.

F

“Eu gostaria de formas normais/tradicionais, mas o mundo evolui com formas diferentes de se comunicar com outras pessoas”.

G

“Uma tendência que vai aumentar. As pessoas não têm tempo, trabalham demais, acabam vivendo uma vida individual e acredito que essa seja uma forma prática e tendenciosa pro futuro. Não vai retroceder, mas uma relação pessoal não acaba. Acredito que pode ser mais impessoal se tu não encontra a pessoa com quem está conversando pela internet. Querendo ou não, é uma forma nova de relacionamento, depende de como tu leva esse uso da tecnologia”.

H

“Eu acho que a sociedade e a vida em sociedade é meio cíclica, com tendências de épocas em épocas. Atualmente, com uma liberdade sexual. Talvez nossos filhos tenham outro posicionamento social onde a próxima geração será, talvez, menos libertária que hoje. Acho que podem ser tendências e progressos sociais, avanços sociais, avanços conservadores e assim por diante. Percebo isso em vários países, como cíclico”.

Fonte: O autor (2015).

67



Critérios para constituir família.

Quadro 15 – Critérios para constituir família. R.

Tem intenções de casar, constituir família? Quais seus critérios para este vínculo?

A

“Não tenho planos de ter filhos, minha visão é voltada a um relacionamento saudável, mas sem filhos”.

B

“Já sou casado, mas quero constituir família. Tem que ter muita cumplicidade e união. Sinceridade é primordial, companheirismo. Faz muito tempo que não sentia isso, pois estava muito na inércia de tudo isso. Um dia, conheci uma pessoa de outra forma, que não por apps e vi que era possível”.

C

“Sim. Sou super tradicional. Não valorizo o casamento religioso, mas tenho vontade de ter filho. Tem que ter afinidade, objetivos comuns, estrutura financeira, compromisso entre ambos. Dinheiro é bem importante”.

D

“Sim. Os valores que a pessoa tem devem ser iguais aos meus. Justiça, sinceridade, transparência. Família como união é um valor pra mim. Ambições na medida certa, não demais”.

E

“Sim. A longo prazo, a parceria. De primeiro momento é o visual, a química, mas ao longo do tempo tem que ser alguém que feche contigo, nos gostos, nas vontades, claro que a imagem pesa, a química pesa demais, mas pra casar é a parceria”.

F

“Sim. Difícil de falar na minha idade, mas deve ser uma pessoa sensível que entenda o lado profissional e pessoal, uma pessoa completa”.

G

“Sim. Tenha mesmos valores, que não seja acomodada, busque novos objetivos, carinhosa, que se dê bem com a minha família e que me faça bem”.

H

“Sim. Deve ser muito bom ser pai, além da questão genética, ser pai, viver a paternidade e muitas mulheres que querem ser mães, juntando isso temos uma família. Tem que ser uma pessoa em que vou olhar e vou me imaginar com ela no futuro e que no dia a dia seja parecida comigo, que o relacionamento não seja de briga o tempo todo. Alguém interessante e que tu te apaixone todo dia. Sentimento e afinidade”.

Fonte: O autor (2015).

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4.5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Neste subcapítulo apresenta-se a análise dos dados referente às respostas dos entrevistados com cruzamentos pertinentes ao referencial teórico construído nos primeiros capítulos deste estudo. O formato das interpretações baseia-se nas categorias e subcategorias eleitas de acordo com os problemas e objetivos da pesquisa.

4.5.1 Categoria I - As formas atuais de interação.

Quando falamos sobre as formas como as pessoas interagem atualmente, pode-se perceber, pelos respondentes, que a internet está presente o tempo todo em suas vidas, atuando de maneira prática na rotina profissional como na vida particular. Conforme os relatos, todos mencionaram o uso da internet para se manter informados, realizar pesquisas, compras e, principalmente, se aproximar de amigos e clientes por meio de redes sociais. Neste sentido, conforme Silva Neto (2009), a internet entrou na vida das pessoas com o intuito de uma forma de descentralização da comunicação, da qual possibilitaria uma forma mais veloz e eficaz nas interações. A partir deste ponto, pode-se entender o processo evolutivo da rede mundial de computadores quando verifica-se que as pessoas permanecem sempre conectadas e, de certa forma, apresenta-se uma dependência, visto que a pergunta enfatiza a forma como a internet é utilizada fora dos meios habituais de trabalho e estudo, ou seja, as pessoas participam ativamente por meio de interações, entretenimento e busca de informações, a partir da percepção dos entrevistados. Assim, questiona-se o uso de redes sociais por meio de celulares e smartphones. As respostas foram unânimes quando trata-se da usabilidade. Todos, com exceção do entrevistado Felipe (B), que passou a não utilizar a rede social pelo celular, estão constantemente interagindo em suas plataformas. Alguns, como a entrevistada Caroline (D), diz ser muito curiosa e que possui picos de exposição na rede, mas que sempre interage, além de buscar por páginas de seu interesse.

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Segundo o Jornal Folha de São Paulo3, por volta de 3 bilhões de pessoas no mundo, atualmente, são usuárias da internet, cerca de 40% da população do planeta. Os dados foram divulgados por meio de uma agência da ONU, que enfatiza um crescimento de 6,6% no ano de 2014, número este que dobrou nos últimos cinco anos. Tais dados vão ao encontro do pensamento de Lévy (1999), que afirma que o desenvolvimento das redes de interações digitais proporciona outros processos de virtualização, além da informação. Percebe-se este pressuposto quando os respondentes informam a utilização da internet para compras e mapas de localização – dados do entrevistado Marcus (E) – e o consumo voltado a redes sociais é considerado constante, favorecendo a necessidade de interações sociais, visto que as utilizam muito e participam com perfis em mais de uma, como Instagram, Facebook, e-mail e Whatsapp, conforme mencionado por Luciana (A), Caroline (D) e Áquila (H). A partir do ponto em que se analisa as redes sociais e a internet no âmbito do celular, entende-se que este, conforme enfatizado por McLuhan (2005), torna-se uma extensão do homem, como os membros superiores, e que a sua falta pode gerar uma sensação de dependência, visto o tempo em que as pessoas permanecem conectadas. Tal dependência, segundo Wolton (2003), abre precedente dentro de uma sociedade em que se perde a valorização do convívio próximo, gerando-se assim uma individualização no comportamento do homem, chamada por ele de “solidões interativas” e uma obsessão de ser encontrável, por meio do celular, transmitindo uma sensação de urgência frequente. Este dado pode ser legitimado, por exemplo, quando a entrevistada Caroline (D) informa que se utiliza da internet no celular mesmo em uma roda de amigos, que não consegue se separar do aparelho, comparando seu comportamento com um vício. Deste modo, percebe-se os resultados da utilização da internet como um avanço em suas aplicabilidades, porém seus recursos geram dependências no comportamento social quando os instrumentos tornam-se cada vez mais sofisticados, causando desta maneira, uma necessidade de conexão frequente, visto que o celular transformou-se em uma extensão do homem moderno.

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Disponível em . Acesso em 26 de outubro de 2015.

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4.5.2 Categoria II - A necessidade de se relacionar e as principais formas de aproximação.

Em relação à necessidade de se relacionar afetivamente, 50% dos entrevistados possuem pensamento similar. De forma enfática, Felipe (B), Luíza (C), Ana (G) e Áquila (H), ao serem questionados sobre gostar de paquerar/namorar, alegaram que tal sensação faz parte da natureza humana. Segundo estes respondentes, o homem não deve viver sozinho ou isolado, que existe necessidades que devem ser preenchidas por meio de um relacionamento afetivo ou flerte. Para Luciana (A), o namoro torna-se importante visto seus objetivos atuais. Segundo a entrevistada, seu desejo é tornar-se namorada de alguém, já que não existe mais uma necessidade de afirmação pessoal em relação ao seu comportamento frente aos demais. Silva Neto (2009) afirma que uma característica importante que se abre para as relações amorosas é o desejo idealizado de se encontrar a pessoa perfeita com quem formará uma união caracterizada como feliz. Esta visão, segundo o autor, justifica-se pelo fato de nos tornarmos vítimas de uma publicidade que nos preenche e doutrina com informações de que os relacionamentos são importantes como forma de pertencimento a uma sociedade, e que ser feliz deve ser considerado uma condição da existência humana. Para Caroline (D), se relacionar não deixa de ser uma forma de lazer; Marcus (E) e Leonardo (F) consideram a prática de interação necessária por trazer benefícios pessoais como prazer e sensação de conquista, de obtenção. A percepção de Baudrillard (1981) vai ao encontro da concepção de Ana (G), que enfatiza um conceito de que para sermos felizes, devemos nos relacionar com outros. O homem, na percepção da entrevistada não consegue viver sozinho, precisa de um relacionamento para firmar uma felicidade, premissa última e fundamental no contexto de uma sociedade de consumo, onde a felicidade é o gancho que prende os indivíduos em um ciclo de necessidades para que se possa preencher os anseios voltados ao próprio consumo. Quanto às formas de aproximação, todos destacaram a internet como um ponto principal para conhecer pessoas, hoje em dia. Dentre as opções na rede, os aplicativos de celular são destacados por Luciana (A), Luiza (C), Caroline (D), Marcus (E) e Áquila (H) e destes, Luciana (A), Luiza (C), Marcus (E) e Áquila (H) mencionam o Tinder como uma ferramenta para tal atividade. Luciana (A) considera a internet e

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seus atributos como uma maneira fácil e, de certa forma, protegida para se conhecer pessoas, pois, segundo ela, há uma rede de proteção que pode preservar o indivíduo, diferente de abordagens face a face, pois você pode traçar um perfil do que procura. Tal pensamento vai ao encontro das teorias de Wolton (2003) quando este afirma que a internet gera o processo de virtualização e isolamento como forma de proteção, ideia defendida também por Lipovetsky (2005) quando este menciona a valorização do individualismo devido a uma necessidade de segurança ocasionado pela sociedade hipermoderna. Já Felipe (B) considera a internet a forma mais fácil de interação, enquanto que Luiza menciona a ferramenta como um facilitador para pessoas que residem há pouco tempo na cidade, pois é uma maneira de se fazer amizade. Conforme Lévy (1999), estes fatores são frutos dos novos processos de interatividade, que acabam por contribuir com um processo maior de virtualização do que simplesmente a utilização da internet para informação, uma vez que o ciberespaço abre precedente para a viabilidade de conexão de diferentes pessoas, que podem interagir em conferências on-line. Silva Neto (2009) também destaca que a internet atua como um mediador entre pessoas com objetivos comuns, facilitando a aproximação e possíveis relacionamentos. 4.5.3 – Categoria III – A utilização do aplicativo de celular Tinder.

Quando questionados sobre seus pontos de vista em relação ao Tinder como um aplicativo para relacionamentos, Luciana (A) considera a ferramenta ótima, pois se torna mais um meio de conhecer alguém, ressaltando novamente o ponto da proteção que o aplicativo traz. Marcus (E) e Áquila (H) consideram a ferramenta benéfica, principalmente por ser um antídoto contra a timidez, visto que pessoas podem se expor de uma maneira da qual poderia não acontecer em situações públicas. Percebe-se ainda uma ênfase entre os respondentes ao citarem que um dos efeitos da utilização do aplicativo é sua interação rápida, o que ocasiona uma superficialidade nas relações interpessoais. Luciana (A) enfatiza que seu uso implica em um autocentramento e um não envolvimento com as questões humanas do outro. Felipe (B) considera o uso do aplicativo ruim, visto a transformações das relações em superficialidade e que sua qualidade se perde. Leonardo (F) e Ana (G) mencionam ainda que o aplicativo instiga à superficialidade da imagem e beleza sendo ofertados

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ao público como uma forma de consumo, muitas vezes, segundo Leonardo (F), para saciar certas vontades de cada um. Neste sentido, para Bauman (2008), a imagem torna-se ingrediente principal quando tratamos de uma sociedade de consumo, uma vez que o homem primeiro precisa transformar-se em mercadoria para ser consumido pelos demais com o objetivo de sua popularização e sucesso na busca por felicidade. Lipovetsky (2005) encara tal necessidade como um sintoma da hipermodernidade, onde as pessoas precisam estar sempre à frente, atualizadas, como um novo conceito para atingir esta premissa de felicidade. Lewis e Bridges (2004) afirmam a necessidade de uma propaganda da imagem para garantir a felicidade e despertar no outro a mesma necessidade, ocasionando desta maneira, um ciclo de consumo. Este quesito pode ser percebido, também, nas palavras de Solomon (2011), quando ressalta a necessidade de um gerenciamento de imagem para garantir uma autoestima aprazível ligada ao autoconceito. A frequência de utilização também se manteve homogênea dentre o perfil amostral. Todos utilizam (ou utilizavam) com frequência, pelo menos uma vez por semana, como Leonardo (F) ou de forma intensa como Luiza (C) e Marcus (E), porém todos, sem exceção continuavam buscando novos perfis e conversando com mais de uma pessoa ao mesmo tempo. A justificativa dada por esta atitude, segundo Luciana (A) e Ana (G), é a possibilidade que o aplicativo oferece em relação a diferentes opções; Felipe (B) ancora sua atitude em sua carência e ansiedade, assim como Leonardo (F), que além da carência, afirma a busca por sexo. Novamente, alguns respondentes enfatizam que a busca por novos perfis se aplica a uma “publicidade pessoal”. Luiza (C), Caroline (D), Marcus (E), Ana (G) e Áquila (H) ressaltam o poder da imagem e da autopromoção frente a tantas possibilidades. Segundo estes respondentes, as pessoas acabam formando um perfil de venda pessoal, onde a intenção é voltada à beleza (na maioria dos casos) com o objetivo de aprovação ou rejeição. Áquila (H) informa que o aplicativo não tem como objetivo a espera, mas sim, uma dinâmica constante de utilização em que a moeda forte é a imagem e seu julgamento pela aparência. Marcus (E) sustenta sua ideia por consequência de uma falta de tempo, considerando a escolha somente após o “match”, quando observa melhor as fotos do álbum de cada perfil. Segundo Bauman (2008), o homem realiza um esforço inesgotável para conseguir se manter como uma forma de mercadoria apreciável e vendável, que possa ser aceita por outros como um

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objetivo que se quer alcançar. Lipovetsky (2005) considera que a urgência na satisfação pessoal aumenta e estimula a busca constante por prazeres e bem-estar, legitimando desta forma, um consumo acelerado. Este perfil é traçado por Lewis e Bridges (2004) como um “Novo Consumidor”, levando-se em conta que a insatisfação e grandes expectativas são as chaves principais que caracterizam este perfil. Complementando esta análise, percebe-se que os entrevistados conversavam com duas a três pessoas, em média, ao mesmo tempo e que os encontros face a face foram poucos. No caso de Caroline (D), não houve a oportunidade de encontro, visto sua dificuldade em interagir com os demais pelo aplicativo. Verifica-se que, mesmo com a insistência em manter contato com mais de um perfil pelo aplicativo, os encontros presenciais tiveram retorno baixo, salientando a superficialidade já citada anteriormente. Conforme depoimento de Felipe (B), o uso do aplicativo era frequente, assinalado por ele como uma “engrena”, onde os valores estavam focados em uma estratégia para não perder a oportunidade, porém houve uma automatização no processo em que o objetivo principal passou a estar em segundo plano. Já Luiza (C) afirma que preferia apenas sondar e conversar pelo aplicativo. Silva Neto (2009) considera que as relações virtuais geram um condicionamento voltado a uma proteção, como que em uma cápsula e pode, desta forma, tornar o rumo desejado pelos atores sociais atrelados à ela, podendo permanecer na própria virtualidade. Já Bauman (2008) considera que o encontro face a face pode demandar uma certa habilidade social que, em muitos casos, inexiste, uma vez que dialogar com um desconhecido abre precedente a uma exposição pessoal. Como segurança, permanecer por detrás de uma tela e saber que o manipulador da situação é o próprio indivíduo, torna-se uma ideia reconfortante e segura, legitimando a liquidez (termo do autor) no comportamento social.

4.5.4 - Categoria IV - As mudanças nas estruturas de relacionamentos ao longo das décadas.

A quarta parte da pesquisa relaciona as mudanças nas formas de interação. Conforme Luciana (A) os aplicativos são mais uma possibilidade, mesmo que não tão profundas. Felipe (B) considera a forma tradicional de aproximação mais rica, pois existe a possibilidade de se transmitir e receber sinais e informações. Luiza (C) afirma

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que os aplicativos são facilitadores, uma vez que ela é uma pessoa retraída e sua utilidade é de extrema importância. Já Caroline (D) considera seu uso, de certa forma, problemática, pois pode-se ter muitos ruídos na comunicação. Marcus (E) e Leonardo (F) defendem a ideia de que as formas tradicionais são mais apreciadas pelo contexto da aproximação. Ana (G) considera a interação virtual válida e que a relação humana não deixa de existir quando trata-se de comunicação digital pelo aplicativo, e Áquila (H) entende que toda interação, independentemente de ser virtual ou não, pode ser valorizada. Segundo ele, nenhuma forma de interação deve ser descartada. Em relação ao entendimento de que as novas formas de interação podem ser uma evolução no processo relacional e comunicacional, Luciana (A), Leonardo (F) e Áquila (H) estão de acordo com tal hipótese. Felipe (B) considera como uma involução, tendo em vista a perda da qualidade da interação. Para o entrevistado, a atenção acaba sendo dividida com outras atividades e o processo comunicacional empobrece em sua essência. Caroline (D) considera como uma outra forma de se relacionar e Luiza (C) não soube definir, visto os pontos negativos e positivos que apresentou. Para ela, como experiência própria, os aplicativos são um facilitador e considera-os benéficos, porém também se questiona quando percebe que muitas pessoas se prendem ao uso virtual. Conforme Lévy (1999), as tecnologias surgem com o intuito de provocar uma sustentação do ciberespaço, que nada mais é do que um novo espaço de interação social e de comunicação. McLuhan (2005) defende a ideia que o poder da tecnologia na criação do seu próprio nicho de mercado é vinculado a uma extensão do corpo e sentidos do homem. Já Wolton (2003) infere que as novas tecnologias de comunicação podem ser consideradas como uma inovação técnica e que a comunicação não depende apenas de uma técnica, mas sim de um processo cultural e social do ser humano para ser adaptada. Luciana (A) e Áquila (H) entendem também que, no âmbito dos relacionamentos, a utilização dos aplicativos pode ser considerada como um ciclo, uma tendência que está em pauta no momento. Além disso, ressaltam que estes ciclos de comportamento oscilam conforme cada geração. Para Charles (2005), após o processo de industrialização, a sociedade passa a desempenhar um comportamento baseado em tendências, ou conforme o autor, a uma moda, que designa o ser humano frente à sua identidade individual que ultrapassa a contextualização de classes, e

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destaca aquilo que pode ser considerado efêmero, comportamento dominante da sociedade pós-moderna. Em relação aos objetivos futuros de compromisso e critérios para a construção de uma família, todos almejam casar e constituir família, com exceção de Luciana (A) que não fez planos para filhos, mas deseja ter um relacionamento saudável. Existe uma ênfase quando se trata de valores iguais, cumplicidade, companheirismo e objetivos comuns. Para Silva Neto (2009), as relações tendem a criar um controle de si próprios baseados naquilo que a pessoa imagina que a outra possa a vir gostar, e vice versa. Solomon (2011) complementa este pensamento quando afirma que o homem baseia-se em seu autoconceito como forma de influenciar na identidade social do outro, uma vez que o ser humano atrela sua imagem na maneira como o outro a percebe. Ou seja, há um tipo de dependência mútua gerada pelos padrões de comportamento e de aspirações correlacionadas com a imagem do outro e como esta afeta a sua própria. É com base nestes valores que o ser humano projeta a ideia “perfeita” de um relacionamento amoroso, onde defeitos podem deixar de existir em primeiro momento, visto a idealização formada como maneira de aceitar e entender que o outro possa ser admirado. Silva Neto (2009) afirma ainda que tudo o que nos rodeia nos sugere uma percepção de um mito romântico, sempre almejando perceber no outro a completude de uma relação perfeita. Sendo assim, percebe-se uma aspiração de relacionamento feliz com base em valores propostos pelo próprio aspirante e que, desta forma, seus objetivos em alcançar felicidade, que complemente as demais áreas de suas vidas, possam ser preenchidas. Com base nas informações apresentadas, o consumo preenche o universo comunicacional dentro das relações interpessoais, por meio dos aplicativos de celular, visto as opções e os anseios idealizados pelas pessoas com base em suas culturas no contexto social atual.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A comunicação, por meio de seus símbolos, caracterizou uma das maiores transformações frente ao ser humano, sendo parte integrante de seu ser social. Ao longo das décadas, esta mantém seu processo evolutivo e complexo dentro de contextos sociais diferenciados, objetivando um entendimento entre seus envolvidos. Sua complexidade ganha forma quando há uma necessidade de atender as necessidades do ser humano, que ultrapassam a linha do círculo social comum, sendo expandido para novos contextos. Desta forma, o processo comunicativo assume o papel de mudança no pensar e no comportamento do homem. Assim, gradualmente, a comunicação expande-se e se torna um processo massificado com o intuito de abranger a todos dentro de seus meios informacionais, porém, o homem possui sua forma de agir e pensar de acordo com o contexto no qual está inserido. Tal processo ocasiona uma alteração nos padrões dentro das culturas de massa, uma vez que o indivíduo pensa por si só, mesmo em coletividade, ou seja, mesmo em uma sociedade de massa, o ser humano atua de forma própria conforme referências externas e comunicacionais para designar aquilo que o compõe. Desta forma, percebe-se uma evolução nos instrumentos que designam a comunicação e seus meios informacionais que iniciam com a impressão tipográfica, seguida do cinema, do rádio, da televisão e, por último, da internet, e seus efeitos na globalização. A mudanças comportamentais vindas com os novos processos de comunicação virtual, em uma sociedade pós-moderna, baseada em uma necessidade de popularidade, individualização e consumo como forma de pertencimento e inclusão no meio social, transformam novamente o ser humano, aproximando-o de novas redes e aumentando suas conexões e interatividade. A partir de então, o ser humano assume a proposta de um novo conceito de consumo, da qual a necessidade de se promover torna-se o eixo motriz para dirimir os novos padrões de comportamento baseados na felicidade pessoal. A transformação do homem em mercadoria é o primeiro passo para que o indivíduo possa ser percebido, aceito e consumido. As novas formas de consumo e de comportamento tomam as rédeas e ultrapassam as fronteiras do mercado consumidor e passam a conduzir o comportamento social em outros níveis: o afetivo. A autopromoção virtual assume papel importante frente às

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novas formas de relacionamentos interpessoais, onde cria-se um perfil de solidões aparentes com seus anseios e necessidades, mas também dotada de uma proteção individualizada. A utilização de aplicativos de celular, como o Tinder, assumem papel importante nesta nova formação de comportamento. As interações virtuais tornam-se mais rápidas e superficiais, pois as opções aumentam conforme o número de interações com outros perfis, que desestimula a aproximação frente a frente, rotulando um padrão de isolamento baseado em uma virtualização da comunicação e, desta forma, legitima um conceito de consumo entre pessoas, onde existe uma liberdade de exposição, firmada pela imagem e julgamento de aparências, confirmando a necessidade de autopromoção para aceitação do outro. Os critérios pessoais como valores e companheirismo, vislumbrados em um conceito de relação sólida, podem ser baseados em uma publicidade produzida em grande escala com foco em um consumo constante para obtenção de uma felicidade aparente dentro das relações. Com a necessidade do pertencimento, o homem consome propagandas e as adota como aspirações de uma possível vida feliz. O Tinder torna-se mais um instrumento inovador, que orienta seus usuários a buscar novos perfis de relacionamentos com bases similares naquilo que se almeja para si, porém seus efeitos podem transparecer uma fragilidade nas relações, bem como uma superficialidade. Como a plataforma atende formatos virtuais, muitas vezes, o ciberespaço assume a forma de um mundo complexo e protegido, salvo de uma necessidade de interações face a face contribuindo como uma retroalimentação de uma sociedade de consumo na era pós-moderna. Percebe-se que a evolução do consumo transpassa a linha materialista e ocupa posição frente aos relacionamentos, quando se utiliza os aplicativos de celular como forma de exposição com o intuito de ser aceito no âmbito afetivo, onde há múltiplas escolhas, levando o usuário a sempre procurar novos perfis, visto as muitas opções que podem ser traduzidas como interessantes. Este comportamento transforma as interações em superficiais, reafirmando o poder do consumo entre as pessoas, uma vez que a felicidade e a necessidade aparente do ser humano em ser feliz nos relacionamentos é latente. Contudo, as relações virtuais ainda não substituem as formas tradicionais de aproximação, mas são consideradas como um processo evolutivo, tendo em vista a facilidade de interação, tempo e comportamento, neste último, relacionado à timidez.

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Entretanto, mantém-se ainda uma preferência das formas tradicionais de interação como garantia de conhecer supostos parceiros para uma relação estável e idealizada. Sendo assim, o aplicativo de celular Tinder proporciona, desta forma, uma interação frequente com diversos perfis de usuários, abrindo precedente para possibilidades de relacionamentos, na maioria das vezes, fadados à superficialidade, pois carrega a imagem e a autopromoção como quesito principal em sua plataforma, fortalecendo mais uma vez o consumo e a exposição. Acredita-se, desta forma, que os objetivos do trabalho foram alcançados por meio da metodologia empregada.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista

- Nome - Idade - Profissão - Como você utiliza a internet, além do trabalho/estudo? Faz uso da internet no seu celular por quanto tempo ao longo do dia? - Participa de redes sociais por meio do celular constantemente? - Você gosta de namorar/paquerar? Por quê? - Quais as principais formas que você encontra hoje para conhecer alguém? Por quê? - Qual a sua opinião sobre o surgimento de aplicativos de celular com enfoque em relacionamentos? - Com que frequência você utiliza os aplicativos de celular para relacionamentos (Tinder)? - Quando utiliza o aplicativo, você aguarda o “match” ou continua buscando novos perfis? Por quê? - Em média, com quantas pessoas você conversa ao mesmo tempo quando está utilizando aplicativos de celular para relacionamentos? Por quê? - Quantas destas pessoas você já encontrou ao vivo? - Já namorou alguém que conheceu por meio dos aplicativos de relacionamento? - Continuam namorando? - Qual a sua opinião quando falamos em formas tradicionais de aproximação entre as pessoas (paqueras, encontrar alguém) e as atuais, por meio do celular? - Percebe-se as mudanças (digitais) como evolução? Por quê? - Qual delas você valoriza mais, atualmente? Por quê? - Como você vê os relacionamentos daqui para o futuro? Por quê? - Tem intenções de casar, constituir família?

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- Quais seus critérios para este vínculo?

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APÊNDICE B – Transcrição das entrevistas

Nome: Luciana Idade: 42 anos Profissão: Arquiteta - Como você utiliza a internet, além do trabalho/estudo? Muito para entretenimento, ver filmes e rede social. - Faz uso da internet no seu celular por quanto tempo ao longo do dia? Muitas vezes ao longo do dia. Uso pra comunicação, Whatsapp, quase nunca para telefone, muito pra rede social e e-mail, agilidade no trabalho. - Participa de redes sociais por meio do celular constantemente? Sim, Facebook, Instagram, Twitter, Whatsapp. - Você está namorando? Casado(a)? Namora - Se sim, como conheceu seu atual namorado (a)? Eu conheci em aplicativos de relacionamento, no Tinder, há 11 meses atrás. - Você gosta de namorar/paquerar? Por quê? Eu gosto de ter um namorado, mas paquerar é divertido em algum momento. Eu gosto de ser e me sentir namorada de alguém. Na idade que eu estou, namorar vem mais ao encontro com meus objetivos profissionais e de vida. Já não é mais aquela coisa de reafirmar uma personalidade. Isso já aconteceu. Quero dividir coisas com alguém, trocas culturais, emocionais, viajar. Faz parte da minha vida hoje essas questões. - Quais as principais formas que você encontra hoje para conhecer alguém? Por quê? Alguns anos para cá, utilizo bastante a internet. Uma época, se usava Chats como Terra e Orkut ou o Messenger. Sempre gostei de usar estes recursos, além de pessoas do meio, universitários, círculos de amizade. Chats, por uma questão de ser mais fácil e protegida de conhecer alguém, fazer filtro e uma forma que te preserva e te possibilita conhecer outra pessoa, diferente de uma festa, onde a atração física é maior e tu consegue traçar um perfil daquilo que tu quer ou não. Pra mulher, tem a questão da segurança. Os apps possibilitam uma exposição sem se expor. Exposição emocional e física – proteção.

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- Qual a sua opinião sobre o surgimento de aplicativos de celular com enfoque em relacionamentos? Acho ótimo, é mais uma ferramenta para as pessoas se relacionarem, porém as pessoas se protegem muito. É uma forma protegida. Existe um condicionamento do homem em que se pressupõe uma necessidade de compromisso por parte da mulher e da mulher em que o homem busca apenas sexo. Na verdade, todo mundo quer se relacionar, é da natureza humana. Então, é uma forma de proteção, tanto com discursos, como o uso do aplicativo, mas é uma forma de se proteger, mas ao mesmo tempo, uma forma de se conectar, é mais fácil. Nos apps, não existe a necessidade de lidar com a questão humana da pessoa, apenas a idealizada. Existe um autocentramento, pois é fácil se conectar com outro, porém de forma superficial, pois se não é o perfil desejado, você pode passar para o próximo. - Com que frequência você utiliza os aplicativos de celular para relacionamentos (Tinder)? Quando solteira, eu usava todo dia, uma vez ao dia, pelo menos. O Tinder. - Quando utiliza o aplicativo, você aguarda o “match” ou continua buscando novos perfis? Continuo buscando. Quanto mais opção, melhor. O relacionamento se desenvolve naturalmente, então se leva tempo para conhecer alguém e ter uma vontade de ter uma relação. Os matchs são opções de conhecer, possibilidades de conhecer pessoas diferentes e em algum momento, algumas delas pode despertar um interesse mais profundo. - Em média, com quantas pessoas você conversa ao mesmo tempo quando está utilizando aplicativos de celular para relacionamentos? Quantas destas pessoas você já encontrou ao vivo? 5 a 10 pessoas ao mesmo tempo. - Por quê? Cada uma me apresenta uma possibilidade diferente. De algumas, nasceu um relacionamento de amizade, outras uma aversão. É uma forma de testar os conceitos que formamos e preconceitos. Colocamos a prova tudo isso. Torna-se uma experiência bem enriquecedora. - Quantas destas pessoas você já encontrou ao vivo? Um monte. De 100, conheci umas 40 (em média).

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- Já namorou alguém que conheceu por meio dos aplicativos de relacionamento? Sim, pelo Tinder. - Continuam namorando? Sim. - Qual a sua opinião quando falamos em formas tradicionais de aproximação entre as pessoas (paqueras, encontrar alguém) e as atuais, por meio do celular? Eu acho ótimo esses novos meios. É uma evolução da comunicação, uma possibilidade a mais de conexão. Tu tem mais possibilidade, mas elas são menos profundas, porque as coisas são mais rápidas. E não sei até quando se manterá a ideia do amor romântico que temos. Tem muitas pessoas querendo ficar sozinhas, se relacionando só quando precisa. Existe hoje uma visão egocêntrica, mas não faço juízo de valor, pois pra mim, tem o mesmo valor conhecer alguém num grupo de estudo ou num chat de internet. É só mais um meio, não consigo julgar o que é melhor. - Qual delas você valoriza mais, atualmente? Valorizo a interação. - Como você vê os relacionamentos daqui para o futuro? Eu ainda tenho uma visão um pouco ortodoxa, dentro de moldes mais rígidos. Em relação aos jovens, acho que os relacionamentos são mais honestos, talvez não tão profundos, mas mais honestos, mais autocentrados, mas mais honestos. Vejo esse novo romantismo terminando. Vejo como um ciclo, como uma moda, ele tem uma razão de ser conforme o estilo de vida das pessoas, mas que vai e vem. - Tem intenções de casar, constituir família? Não tenho planos de ter filhos, minha visão é voltada a um relacionamento saudável, mas sem filhos. - Quais seus critérios para este vínculo? Afinidade emocional e cultural forte, afinidade financeira, objetivos e coisas em comum que possam convergir e crescimento mútuo juntos, tanto emocional quanto profissional, alguém que te entenda, seja teu amigo, além de amante.

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- Nome: Felipe - Idade: 35 anos - Profissão: Arquiteto - Como você utiliza a internet, além do trabalho/estudo? Eu uso para informações e interagir com as pessoas. - Faz uso da internet no seu celular por quanto tempo ao longo do dia? Eu não acesso rede social no celular. Como eu não tenho mais Facebook e Instagram, eu fico pouco, tipo, 10 minutos. - Participa de redes sociais por meio do celular constantemente? Utilizava de uma em uma hora. - Gosta de namorar/paquerar? Por quê? Eu curto. Gosto de me relacionar. Sou ser humano, tenho necessidades. - Quais as principais formas que você encontra hoje para conhecer alguém? Por quê? A principal, eu diria que pela internet. É a forma mais fácil de contatar e conhecer pessoas. - Qual a sua opinião sobre o surgimento de aplicativos de celular com enfoque em relacionamentos? Eu acho ruim, sinceramente. Porque ele provoca relações muito superficiais, pois é uma ferramenta de uso instantâneo e rápido. E como ela permite que as coisas sejam rápidas, ela também permite que a relação não se aprofunde e se desfaça. Nessa rapidez e fluidez, a qualidade das relações cai muito. - Com que frequência você utiliza os aplicativos de celular para relacionamentos (Tinder)? Usava diariamente, uma vez por turno. - Quando utiliza o aplicativo, você aguarda o “match” ou continua buscando novos perfis? Continuava buscando novos perfis, incessantemente. - Por quê?

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Por carência, desespero e ansiedade. - Em média, com quantas pessoas você conversa ao mesmo tempo quando está utilizando aplicativos de celular para relacionamentos? Três, em média. - Por quê? Porque as pessoas puxavam assunto comigo, ou pra não perder uma aparente chance de ficar com alguém. Por uma questão estratégica, para não perder a chance. Eu não pensava muito se eu estava interessado, era automático e eu me via numa engrena onde eu cumpria um procedimento automático. - Quantas destas pessoas você já encontrou ao vivo? De 10, uma pessoa. Eu não dava continuidade a nenhuma relação, era bem descartável. Com essa que encontrei, era mais por afinidade no desenrolar da conversa. - Está namorando agora? Sim. - Como conheceu seu namorado(a)? Através de uma amiga em comum. - Já namorou alguém que conheceu por meio dos aplicativos de relacionamento? Apenas pelo Facebook. - Qual a sua opinião quando falamos em formas tradicionais de aproximação entre as pessoas (paqueras, encontrar alguém) e as atuais, por meio do celular? A forma tradicional é muito mais rica do que essas novas. A forma tradicional, pressupõe uma presença física onde conseguimos transmitir e receber mais informações. - Percebe-se as mudanças (digitais) como evolução? Por quê? Não acho que seja evolução, pois se perde muita qualidade. Mesmo tendo utilizado de forma compulsiva, eu acho que é uma involução. Defino qualidade no sentido de atenção e tempo que tu dedica para aquilo que faz. As atenções estão mais voltadas pra aquilo. No digital, a outra pessoa pode estar conversando contigo e com mais três, atendendo a um cliente ou fazendo outras coisas e aí tu não tem nenhuma garantia da veracidade da transparência da outra pessoa. As percepções são

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diferentes, a linguagem corporal é um diferencial. Hoje você vê uma foto que tem uma determinada leitura, e ao vivo você percebe mais coisas além daquilo que uma foto te dá. - Qual delas você valoriza mais, atualmente? A física. - Como você vê os relacionamentos daqui para o futuro? Mais difíceis, mas isso não tem a ver com o app, mas pelo nível como a humanidade está atualmente, com tendências individualistas, as coisas acontecem e “desacontecem” muito rápido. Depende da profundidade das coisas. Eu acho que eles (relacionamentos) são muito mais dinâmicos e tendem a ser mais difíceis com essa dinâmica, com a internet É um conjunto de coisas. Os apps são só mais um vestígio disso. - Tem intenções de casar, constituir família? Já sou casado, mas quero constituir família. - Quais seus critérios para este vínculo? Tem que ter muita cumplicidade e união. Sinceridade é primordial, companheirismo. Faz muito tempo que não sentia isso, pois estava muito na inércia de tudo isso. Um dia, conheci uma pessoa de outra forma, que não por apps e vi que era possível.

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- Nome: Luiza - Idade: 27 anos - Profissão: Arquiteta - Como você utiliza a internet, além do trabalho/estudo? Eu utilizo em casa, só pelo celular. Eu uso muito pra pesquisa, Whatsapp, Instagram, Facebook. Uso muito pra interação, notícias. Facebook pra saber sobre eventos. Não uso pra bate-papo. - Faz uso da internet no seu celular por quanto tempo ao longo do dia? Muito tempo, todo tempo que não estou trabalhando eu estou conectada, mesmo cozinhando, assistindo TV, conversando com outros. Uso muito. Só desligo total quando saio da rotina, vou pra fora da cidade, pro interior. - Participa de redes sociais por meio do celular constantemente? Sim, mas não é obsessivo. Interajo muito, mas mais pra saber sobre eventos e notícias. Eu leio muito na internet. - Você gosta de namorar/paquerar? Por quê? Sim. Porque é bom se relacionar. É quando nós crescemos como pessoa. Isolamento não gera crescimento. Só gera um conflito com a gente mesmo quando nos relacionamos com outro, o que é importante. - Quais as principais formas que você encontra hoje para conhecer alguém? Lugares públicos que frequento, festas (mesmo não gostando muito). Como moro há pouco tempo aqui em POA, eu conheço pouca gente, então isso me fez entrar no Tinder. No app eu conheci muita gente, mas meu objetivo é trocar ideia e não encontrar pessoas. - Qual a sua opinião sobre o surgimento de aplicativos de celular com enfoque em relacionamentos? Eu acho que tu pode usar da maneira que for. Eu já conheci, inclusive, pra contato profissional, com trocas de ideias. Eu filtro muito pelos interesses e pela foto. Vai muito da maneira que tu utiliza, como tu busca e o que tu tá buscando. - Com que frequência você utiliza os aplicativos de celular para relacionamentos (Tinder)?

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Agora faz tempo, estou apaixonada, mas usava direto até acabar as opções diárias, quase todo dia. - Quando utiliza o aplicativo, você aguarda o “match” ou continua buscando novos perfis? Buscava muitos perfis, porque ficou viciante o “passar” (like e dislike). Percebo que a pessoa meio que se vende pelo app, faz uma publicidade no Tinder. Tu escolhe as fotos que tu quer passar para o outro e eu busco pessoas onde a foto vem ao encontro dos meus interesses. Perfil de preferências pessoais, perfil de pessoas etc. - Em média, com quantas pessoas você conversa ao mesmo tempo quando está utilizando aplicativos de celular para relacionamentos? Uma média de três. - Por quê? Meu interesse era trocar ideia, não necessariamente sair com a pessoa. Fico apenas sondando. - Quantas destas pessoas você já encontrou ao vivo? De 30, 6 eu saí (em média). - Já namorou alguém que conheceu por meio dos aplicativos de relacionamento? Não. - Está namorando? Estou solteira, mas conheci uma pessoa. Conheci em uma festa, em Gramado. Ele mora em SP e eu não fiquei com ele, em Gramado, mas estamos nos falando pelo Whatsapp há três meses. Ele já veio me visitar e eu vou agora visita-lo. - Qual a sua opinião quando falamos em formas tradicionais de aproximação entre as pessoas (paqueras, encontrar alguém) e as atuais, por meio do celular? Pra mim, facilitou muito. Como não conheço muita gente aqui, pois sou do interior, e como sempre fui mais retraída, pra mim é positivo. Tornou-se um facilitador. - Percebe-se as mudanças (digitais) como evolução? Por quê? Eu não sei, por um lado, sim, mas tenho dúvidas se isso afasta as pessoas ou se aproxima. Pra mim, tá facilitando, mas as pessoas tem se prendendo a isso e evitando de sair, ficando muito no virtual. Acho que o mundo virtual e o real interagem muito hoje em dia, mas pode confundir.

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- Qual delas você valoriza mais, atualmente? Eu acho sempre melhor ao vivo, pois é uma experiência completa. Na internet tu não tem a noção da pessoa em movimento. Pois, filtrar pela imagem, tu te prende na pré concepção, que na verdade não é só isso. Pra mim é a pessoa real, que interage, o que ela te oferece, que te gera em termos de emoção, o que te desperta. A internet nunca vai conseguir fazer isso, eu acho. - Como você vê os relacionamentos daqui para o futuro? Eu acho que vejo de forma diferente, pois eu me iludo muito, pois um relacionamento tem que ter muita lealdade, deve ser muito correto, ter cumplicidade, fidelidade, e eu não vejo as pessoas agindo dessa forma. A gente tem se deparado com a realidade de que as pessoas não são tão fieis, mas, hoje, elas estão evoluindo para relacionamentos mais verdadeiros, pois ninguém mais aceita (ou quase) situações de infidelidade e deslealdade. Acho que elas buscam uma vida mais verdadeira, que satisfaça mais. Com os apps, como o Tinder, pode ser que as coisas ocorram muito rápido, o namoro começa mais rápido, muito fácil, mas tu nem sabe se aquela é a pessoa que tu queres namorar. Não sei se é bom, mas pra mim não funciona muito, eu gosto de coisas mais certas, mais pé no chão. - Tem intenções de casar, constituir família? Sim. Sou super tradicional. Não valorizo o casamento religioso, mas tenho vontade de ter filho. - Quais seus critérios para este vínculo? Tem que ter afinidade, objetivos comuns, estrutura financeira, compromisso entre ambos. Dinheiro é bem importante.

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- Nome: Caroline - Idade: 25 anos - Profissão: Arquiteta - Como você utiliza a internet, além do trabalho/estudo? Em geral, uso pra lazer, pesquisa. Tenho o vício de estar sempre com o celular ao lado e o utilizo, inclusive, durante conversa com amigos. Me mantenho informada, além de comunicação com amigos de outros lugares e interação, em virtude de não ser de POA, mas moro aqui há 1 ano e meio. - Faz uso da internet no seu celular por quanto tempo ao longo do dia? Frequentemente, pois uso muito pro trabalho também. - Participa de redes sociais por meio do celular constantemente? Participo, eu sou bem curiosa. Eu tenho picos de me expor, mas eu acompanho não só pessoas, mas páginas que participo. Uso muito Instagram, Facebook e Pinterest. - Você gosta de namorar/paquerar? Por quê? Sim. Porque também é lazer. Me relacionei com muitos amigos ou os caras se tornaram meus amigos depois de ficar. Muitas relações abertas, porém, em relação aos namorados, as relações amigáveis são mais difíceis. Relação aberta é ficar com pessoas, mas não ter um compromisso com elas. - Quais as principais formas que você encontra hoje para conhecer alguém? Das mais diferenciadas formas. Já aconteceu até de conversar pelo Instagram, após curtir uma foto de uma pessoa, mas eu conheço bastante pessoas por ter amigos em comum, ou festas. - Qual a sua opinião sobre o surgimento de aplicativos de celular com enfoque em relacionamentos? Eu nunca consegui êxito em apps. Usei o Tinder algumas vezes, mas fico constrangida de encontrar uma pessoa que eu não conheço, marcar um encontro. Eu nunca consegui marcar, já falei com pessoas legais, mas nunca consegui marcar. É diferente de encontrar numa festa porque no Tinder é explícito que tu está procurando uma pessoa e em uma festa não necessariamente, pois posso só estar com amigos. Acho que pode ser interessante tu querer buscar alguém pelo app. Talvez eu use o Tinder pra buscar alguém que tenha afinidade porque as com quem eu tenho me

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relacionado não tem dado certo. É importante ter os mesmos gostos, interesses culturais, visão de futuro, não pode ser muito discrepante o pensamento sobre a vida em geral. - Com que frequência você utiliza os aplicativos de celular para relacionamentos (Tinder)? Eu usei por duas semanas e parei, mas todos os dias nesse período. - Quando utiliza o aplicativo, você aguarda o “match” ou continua buscando novos perfis? Eu sempre busco outros perfis. - Por quê? Porque eu nunca encontrei uma pessoa que eu achei que fosse o meu perfil pra parar de falar com outros. Até porque não tem como saber pelo Tinder. Dá para se ter uma base, por algumas fotos. Quando a foto não me agrada eu já descarto, eu vejo se tem amigos em comum, vou muito pelas referências. Considero a aparência importante, tanto a fisionomia e do lugar onde a foto pode ter sido tirada. - Quantas destas pessoas você já encontrou ao vivo? Nunca encontrei. Só um amigo, do qual os dois deram like, mas éramos amigos já. - Já namorou alguém que conheceu por meio dos aplicativos de relacionamento? Não. - Você está namorando? Não. Estou solteira há dois anos. - Qual a sua opinião quando falamos em formas tradicionais de aproximação entre as pessoas (paqueras, encontrar alguém) e as atuais, por meio do celular? A maneira nova não funciona (apps), pois as coisas podem ser mal compreendidas. Abrem-se muitas brechas na comunicação. Eu gosto de encontrar a pessoa em reunião de amigos ou em viagem, mas eu não descarto essa possibilidade. - Percebe-se as mudanças (digitais) como evolução? Por quê? É uma outra alternativa de aproximação. Quem é novo na cidade, quem não tem uma rede grande de contatos, tem a possibilidade encontrar alguém pelo celular,

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por isso acho positivo, mas tem que ter certo cuidado. Muitas amigas viajam, ligam o Tinder e conhecem outros caras. Sou receosa em relação a saber quem é a pessoa. - Qual delas você valoriza mais, atualmente? A tradicional, porque eu considero de fato um encontro real. No Tinder, eu não me comunico com ninguém, por opção minha. No real é meio que de fato, é mais prático. - Como você vê os relacionamentos daqui para o futuro? Tudo está ficando mais controlador. Se você já tem um relacionamento, tu pode controlar muito mais a relação. Eu acho que temos que ter um certo cuidado pra não ficar muito invasivo. - Tem intenções de casar, constituir família? Sim. - Quais seus critérios para este vínculo? Os valores que a pessoa tem devem ser iguais aos meus. Justiça, sinceridade, transparência. Família como união é um valor pra mim. Ambições na medida certa, não demais.

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- Nome: Marcus - Idade: 33 anos - Profissão: Assistente de Eventos - Como você utiliza a internet, além do trabalho/estudo? Eu faço muita compra pela internet. Utilizo para redes sociais, interação com pessoas, mapas de localização. - Faz uso da internet no seu celular por quanto tempo ao longo do dia? Em 24h, dedico umas 2h inteiras ao longo do dia, espaçadas. - Participa de redes sociais por meio do celular constantemente? Constantemente. Estou sempre ligado nas redes sociais. - Você gosta de namorar/paquerar? Por quê? Sempre. Porque me dá prazer. - Quais as principais formas que você encontra hoje para conhecer alguém? Além da internet, uso muito o Tinder, o Happn, mas eu sou muito de abordagem ao vivo. O Facebook eu uso bastante também. - Por quê? Eu me sinto mais atraente conversando pessoalmente com as pessoas, não sou fotogênico pra se utilizar das fotos pra conquistar alguém. - Qual a sua opinião sobre o surgimento de aplicativos de celular com enfoque em relacionamentos? Acho muito legal, é uma ferramenta para facilitar a aproximação. Tem pessoas muito tímidas e isso facilita muito. - Com que frequência você utiliza os aplicativos de celular para relacionamentos (Tinder)? Eu estou sempre ligado. No Tinder, eu dou os likes até gastar a cota diária. Em geral, eu dispendo uns 20min nisso. - Quando utiliza o aplicativo, você aguarda o “match” ou continua buscando novos perfis?

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Continuo buscando. - Por quê? Porque ninguém garante o match, vou dando like até conseguir os matchs. Eu vejo só a primeira foto e dou o like. Depois do match, eu olho com mais cuidado as outras fotos, pois eu não tenho muito tempo, e dando vários likes, eu não tenho o que perder. Se der match e não tiver afinidade, ou pelas fotos, simplesmente não puxo assunto. As mulheres, em geral, não começam a conversa e acaba se perdendo a ideia de bater papo.

- Em média, com quantas pessoas você conversa ao mesmo tempo quando está utilizando aplicativos de celular para relacionamentos? Em média, duas. - Por quê? Pra conhecer melhor. - Quantas destas pessoas você já encontrou ao vivo? Acho que umas cinco, ao todo. De 300 matchs, só conheci cinco (em média). - Já namorou alguém que conheceu por meio dos aplicativos de relacionamento? Nunca. - Você está namorando? Não. - Qual a sua opinião quando falamos em formas tradicionais de aproximação entre as pessoas (paqueras, encontrar alguém) e as atuais, por meio do celular? Eu sou muito da maneira antiga, gosto do contato visual. Tu consegue ver como a pessoa realmente é, os trejeitos, mas acho os apps facilitadores, ajudam muito. Depois do encontro é que tu tira as conclusões. - Percebe-se as mudanças (digitais) como evolução? Por quê? Sim, percebo evolução. Hoje as pessoas estão muito digitais, elas tem mais tempo de estar ou viver mais o digital. Como o convívio é mais digital, então, é a forma que tu tens de oportunidade pra fazer uma aproximação, através dos apps. - Qual delas você valoriza mais, atualmente?

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O contato visual, o chegar junto. - Como você vê os relacionamentos daqui para o futuro? Eu não pensei em ter uma previsão disso, mas espero que só venha a melhorar, mas também tenho medo que piore, o que pode vir depois disso? A tecnologia funciona tanto pra coisas positivas, encontrar uma pessoa, como para o ruim. Como dar um match e a pessoa não ser um perfil real. - Tem intenções de casar, constituir família? Sim. - Quais seus critérios para este vínculo? A longo prazo, a parceria. De primeiro momento é o visual, a química, mas ao longo do tempo tem que ser alguém que feche contigo, nos gostos, nas vontades, claro que a imagem pesa, a química pesa demais, mas pra casar é a parceria.

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- Nome: Leonardo - Idade: 21 anos - Profissão: Estudante de Relações Públicas - Como você utiliza a internet, além do trabalho/estudo? Basicamente, redes sociais e e-mail. - Faz uso da internet no seu celular por quanto tempo ao longo do dia? O dia todo. Passo o tempo inteiro ligado. - Participa de redes sociais por meio do celular constantemente? Utilizo várias redes sociais e uso constantemente. - Você gosta de namorar/paquerar? Por quê? Sim, paquerar. Porque é um jogo de desafios, eu gosto. Jogo de desafio, neste caso, seria uma arte da conquista, que eu vejo como um desafio. Aparecer e conquistar a pessoa, eu encaro como um desafio. - Quais as principais formas que você encontra hoje para conhecer alguém? Festas, bares. Eu gosto mais do cara a cara. Uso app também. - Qual a sua opinião sobre o surgimento de aplicativos de celular com enfoque em relacionamentos? Facilita muito, pois tu pode ver a foto da pessoa, saber como é, o que ela faz. O Tinder é um app bacana, mas tem muita gente feia. Fora do país, as pessoas são lindas. Tem chance de pessoas se conhecerem, mas tem gente que usa muito pra carência. Eu prefiro encontrar alguém e falar com a pessoa. É uma forma de consumo pra saciar certas vontades de cada um, como um mercado, baseado em aparência, já que tu só vê a ideia da beleza. - Com que frequência você utiliza os aplicativos de celular para relacionamentos (Tinder)? Uma vez por semana. - Quando utiliza o aplicativo, você aguarda o “match” ou continua buscando novos perfis? Busco novos perfis.

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- Por quê? Pra suprir uma carência com o sexo, além da afetiva. - Em média, com quantas pessoas você conversa ao mesmo tempo quando está utilizando aplicativos de celular para relacionamentos? Duas, em média. - Por quê? Eu acho um pouco falhos nesta questão. Não saio dando likes em todo mundo, sou muito seletivo. Não gosto de só conversar pra pegar alguém. - Quantas destas pessoas você já encontrou ao vivo? Três pessoas, em todo o tempo de uso. - Já namorou alguém que conheceu por meio dos aplicativos de relacionamento? Não. - Você está namorando? Não. - Qual a sua opinião quando falamos em formas tradicionais de aproximação entre as pessoas (paqueras, encontrar alguém) e as atuais, por meio do celular? Prefiro as tradicionais. O face a face é uma forma melhor de conhecer. O olhar, o sorriso, isso conquista mais que uma foto. - Percebe-se as mudanças (digitais) como evolução? Por quê? Sim, acho que sim. Agora se é benéfica ou não, é outra coisa. Ela é boa pra aproximar, mas até que ponto ela pode tornar as coisas reais, é outro ponto. Podem não se tornarem reais. Pode ficar só um bate papo na internet e não rolar mais. - Qual delas você valoriza mais, atualmente? A tradicional, pois tem mais relevância do que um app. - Como você vê os relacionamentos daqui para o futuro? Eu gostaria de formas normais/tradicionais, mas o mundo evolui com formas diferentes de se comunicar com outras pessoas. Beleza influi muito, basicamente foto.

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- Tem intenções de casar, constituir família? Sim. - Quais seus critérios para este vínculo? Difícil de falar na minha idade, mas deve ser uma pessoa sensível que entenda o lado profissional e pessoal, uma pessoa completa.

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- Nome: Ana - Idade: 20 anos - Profissão: Estudante de Relações Públicas - Como você utiliza a internet, além do trabalho/estudo? Lazer. Utilizo mais o celular para redes sociais e e-mail. Em 90% do tempo eu fico conectada. - Faz uso da internet no seu celular por quanto tempo ao longo do dia? O dia inteiro, eu estou sempre conectada. - Participa de redes sociais por meio do celular constantemente? Sim. O tempo todo. - Você gosta de namorar/paquerar? Por quê? Sim. Porque todo ser humano tem que se relacionar. Pra ser feliz, tenho que ter alguém do meu lado. Ninguém consegue viver sozinho, precisamos compartilhar nossas frustrações e conquistas. Precisamos de ajuda dos outros pra ser feliz. Se ficar sozinho, é muita solidão. - Quais as principais formas que você encontra hoje para conhecer alguém? Amigos, festas (que não é o mais apropriado), internet, apps, faculdade, trabalho. - Qual a sua opinião sobre o surgimento de aplicativos de celular com enfoque em relacionamentos? Eu acho que ainda se tem preconceito, inclusive da minha parte. Eu chamava de buffet de pessoas. Minha concepção no início era de que as pessoas usavam pra coisas não sérias. Quando comecei a usar, eu percebi que não era bem por aí e que dá pra conhecer pessoas legais. Hoje, eu não tenho mais preconceito e percebo que os apps facilitaram a aproximação das pessoas. Como tu não está vendo, tu fica mais desinibido, porém, você também fica um pouco receosa, pois não sabe se a pessoa é aquela mesmo, se está mentindo. Tem que ter um pouco de cuidado. - Com que frequência você utiliza os aplicativos de celular para relacionamentos (Tinder)? Hoje não utilizo mais, mas usava dia sim dia não, antes de dormir.

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- Quando utiliza o aplicativo, você aguarda o “match” ou continua buscando novos perfis? Continuava buscando. - Por quê? Porque não adianta esperar, pois sempre tem muitas outras opções que estão ali na rede. Tu tem que dar uma chance. Tu vai muito pela beleza, é muito superficial. Em uma combinada, não dá pra saber muito da pessoa, por isso ia buscando novos perfis. - Em média, com quantas pessoas você conversa ao mesmo tempo quando está utilizando aplicativos de celular para relacionamentos? Pelo app, de quatro a cinco pessoas e depois evolui pra Whatsapp com alguns e daí tu vai filtrando. - Quantas destas pessoas você já encontrou ao vivo? Uns quatro ou cinco, desde 2013. - Já namorou alguém que conheceu por meio dos aplicativos de relacionamento? Sim. - Você está namorando? Sim. - Qual a sua opinião quando falamos em formas tradicionais de aproximação entre as pessoas (paqueras, encontrar alguém) e as atuais, por meio do celular? Eu acho que é válida, tu pode conhecer pessoas pela internet. A relação humana não muda, mas estar junto, nada substitui isso. Na internet tu pode ser qualquer pessoa, ao vivo não. Pra quem tem bom senso, tu é tu, tanto na internet quanto na vida real, mas pra maioria. Em relação aos apps, nós sempre somos os mesmos, mas mais descontraídos, pois se está atrás da tela do celular e tem condições de apagar aquilo que colocou/postou, é uma forma de se esconder. - Percebe-se as mudanças (digitais) como evolução? Por quê? Percebo, não a criação do app, mas a ferramenta em si. Faz parte da evolução, não só digital, mas nas pessoas. O homem tem que querer evoluir pra integrar este contexto, mas é uma escolha. Acredito que é uma forma de se vender, Instagram e Facebook permitem que tu opte por ter a foto liberada quando te marcam, quando você não gostou, você pode ocultar. Tu posta fotos que tu quiser, o que é uma

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forma de se vender, expor opiniões também é uma forma de se vender, valorização de curtidas e matches é uma forma de aceitação, que a gente procura. - Qual delas você valoriza mais, atualmente? Pra relacionamento/namoro, o pessoal é insubstituível, mesmo eu tendo conhecido meu namorado pelos apps. - Como você vê os relacionamentos daqui para o futuro? Uma tendência que vai aumentar. As pessoas não tem tempo, trabalham demais, acabam vivendo uma vida individual e acredito que essa seja uma forma prática e tendenciosa pro futuro. Não vai retroceder, mas uma relação pessoal não acaba. Acredito que pode ser mais impessoal se tu não encontra a pessoa com quem está conversando pela internet. Querendo ou não, é uma forma nova de relacionamento, depende de como tu leva esse uso da tecnologia. - Tem intenções de casar, constituir família? Sim. - Quais seus critérios para este vínculo? Tenha mesmos valores, que não seja acomodada, busque novos objetivos, carinhosa, que se dê bem com a minha família e que me faça bem.

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- Nome: Áquila - Idade: 25 anos - Profissão: Estudante de Relações Públicas - Como você utiliza a internet, além do trabalho/estudo? Eu uso pra me comunicar com os amigos, notícias, me relacionar com outras pessoas, me informar e entretenimento. - Faz uso da internet no seu celular por quanto tempo ao longo do dia? Todo dia de forma espaçada. Vários momentos, no dia todo. - Participa de redes sociais por meio do celular constantemente? Sim, uso Whatsapp, Facebook e e-mail. - Você gosta de namorar/paquerar? Por quê? Sim. Porque o ser humano não pode ser sozinho. Precisamos nos relacionar com outras pessoas, é uma necessidade. Sociabilidade, relacionamento afetivo é necessidade do ser humano. - Quais as principais formas que você encontra hoje para conhecer alguém? Festa, encontro com amigos, círculo social, redes sociais, Twitter, Instagram (meio estético) e Tinder. - Qual a sua opinião sobre o surgimento de aplicativos de celular com enfoque em relacionamentos? Eu acho legal, pois tem muita gente retraída e com dificuldade de socializar pessoalmente. Todos tem necessidade de se relacionar e a oportunidade de ter um perfil em um app é um jeito de começar a mostrar que há interesse e que a pessoa existe. Eu vou ser notado, nem que seja por um tempo minúsculo, diferente da vida real, pois tu pode passar desapercebido pelos outros. Só de ter um perfil na internet, você já está exposto. É um jeito de se expor de forma segura, e mostrar um lado da tua vida que pode não ser conhecido. - Com que frequência você utiliza os aplicativos de celular para relacionamentos (Tinder)? Usava todo dia, pelo menos duas vezes ao dia.

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- Quando utiliza o aplicativo, você aguarda o “match” ou continua buscando novos perfis? Buscava sempre novos perfis. Eu fico imaginando a dinâmica das outras pessoas também. É meio açougue, você passa e escolhe, não é impositivo, o que é o bom do app. As pessoas não tem a ideia de esperar. No Tinder, a imagem é muito importante. O jeito que a pessoa se coloca ou a foto que utiliza no perfil diz muito. Vejo muito o sentido estético, não deixa de ser uma forma meio brutal ou cruel. Pode ser a tua chance de conhecer uma pessoa legal e você, simplesmente, dá “Não”, por conta de um cabelo “zoado” ou pela foto ser esquisita. Nós acabamos julgando pela aparência. As pessoas que utilizam sabem que é pra associação da imagem, é pra dizer quem tu é pela foto. O espaço da imagem é maior que a própria bio da pessoa. O foco é a imagem, se vou curtir ou não, mas basicamente é só imagem. - Em média, com quantas pessoas você conversa ao mesmo tempo quando está utilizando aplicativos de celular para relacionamentos? Quantas destas pessoas você já encontrou ao vivo? Eu dava muito like e recebia pouco match. Ao máximo, umas três. Ao vivo, uma, de três. Encontrava amigas ou colegas de faculdade, mas não rolava o apelo de relacionamento, e passava a chance. - Já namorou alguém que conheceu por meio dos aplicativos de relacionamento? Só fiquei. - Você está namorando? Sim, conheci fora da internet. - Qual a sua opinião quando falamos em formas tradicionais de aproximação entre as pessoas (paqueras, encontrar alguém) e as atuais, por meio do celular? Eu acho que está tudo certo, o fato de um casal se conhecer no Tinder não é melhor ou pior do que outros que se conheceram por outras formas. De qualquer maneira, o processo de se conhecer, independente da forma, é igual. Pode ser um pouco facilitado por estar atrás de um celular ou poder conversar de outra forma. Acho que um facilitador, mas considero indiferente. - Percebe-se as mudanças (digitais) como evolução? Por quê? Acho que sim, pois ele possibilita quem tem dificuldade fora da internet, por serem mais tímidas. Acaba sendo uma oportunidade, pois está atrás do celular. Assim como os sites de relacionamentos que existiam antigamente e até hoje, os pais do Tinder.

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- Qual delas você valoriza mais, atualmente? Não tenho esse julgamento de valor. Pra mim é válido qualquer forma. As pessoas não são diferentes por estarem ou não no Tinder. - Como você vê os relacionamentos daqui para o futuro? Eu acho que a sociedade e a vida em sociedade é meio cíclica, com tendências de épocas em épocas. Atualmente, com uma liberdade sexual. Talvez nossos filhos tenham outro posicionamento social onde a próxima geração será, talvez, menos libertária que hoje. Acho que podem ser tendências e progressos sociais, avanços sociais, avanços conservadores e assim por diante. Percebo isso em vários países, como cíclico. - Tem intenções de casar, constituir família? Sim. - Quais seus critérios para este vínculo? Deve ser muito bom ser pai, além da questão genética, ser pai, viver a paternidade e muitas mulheres que querem ser mães, juntando isso temos uma família. Tem que ser uma pessoa em que vou olhar e vou me imaginar com ela no futuro e que no dia a dia seja parecida comigo, que o relacionamento não seja de briga o tempo todo. Alguém interessante e que tu te apaixone todo dia. Sentimento e afinidade.

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