A EXPANSÃO ATLÂNTICA DO PORTUGUÊS NOS SÉCULOS XV E XVI: CONTACTO INTERLINGUÍSTICO, PATRIMÓNIO TEXTUAL E CONHECIMENTO METALINGUÍSTICO E CULTURAL.

May 27, 2017 | Autor: Aline Bazenga | Categoria: Portuguese Studies, Atlantic World, Atlántico
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A EXPANSÃO ATLÂNTICA DO PORTUGUÊS NOS SÉCULOS XV E XVI: CONTACTO INTERLINGUÍSTICO, PATRIMÓNIO TEXTUAL E CONHECIMENTO METALINGUÍSTICO E CULTURAL. 2016 AHLiST International Conference. University of Las Palmas de Gran Canaria. 17-19 Nov. 2016

Aline Bazenga

O PAPEL DA LÍNGUA PORTUGUESA NOS SÉCULOS XV E XVI (1415-1535) NUMA INTERFACE HISTÓRIA/LINGUÍSTICA RELACIONAR OS DADOS HISTÓRICOS SOBRE A EXPANSÃO E AS DESCRIÇÕES LINGUÍSTICAS DO PORTUGUÊS

A língua portuguesa torna-se, nesta época [séculos XV e XVI] , a língua por excelência da comunicação marítima e mercantil (língua franca) em especial nos litorais africano e oriental, sob a forma de crioulos locais. (BARRETO, 1997: 377) M. F. Valkhof (1966) citado por Matthias Perl (1982: 7) ao fazer referência à situação da lingua portuguesa nos séculos XVI e XVII: “Practically there were three types of Portuguese in use in most of the countries. First literary or High Portuguese, which was of course the mother tongue of the Portuguese officials, soldiers,merchants and sailors. It was the written language par excellence, and even Danish Protestant missionaries (e.g. in Tranquebar) and Dutch ones (e.g. in Ceylon and at Batavia) had to translate parts of the Bible and other religious texts into that language. Between the correct usage of Por tuguese officials or traders and the pure Creole of St. Thomas Island, for instance, which has become a different language, we find a gradation of varieties of more or less broken Por tuguese. Accordingly, we encounter a certain number of references to SemiCreole, a type language intermediate between pure Creole and High Portuguese” A língua portuguesa é intermediária, língua franca em portos e mares africanos e asiáticos, língua de crioulos nos litorais atlânticos e índicos, língua de novidades do mundo na Europa: «navegadores portugueses que relatam espantosas informações [...] sou incapaz de escrever acerca de tudo o que vi e ouvi» (Carta de Johann Kollaver para Conrad Celtis, Antuérpia, 1503). In BARRETO, “A aculturação portuguesa na expansão e luso-tropicalismo”, 2012, p. 492,

INTRODUÇÃO

LÍNGUA FRANCA SOB FORMA DE CRIOULOS LOCAIS

Los marinos lusitanos fueron pioneros en el estudio de cursos elementares de astronomía, además de ser los promotores de una importante simplificación de los instrumentos náuticos y de las tablas de declinación solar. La adaptación de unas tablas de declinación solar por Abraham Zacut, y la redacción de unos manuscritos con instrucciones para navegar conocidos con el nombre de “regimentos”, dotaron a los barcos portugueses, que se aventuraban a realizar viajes de exploración, de los conocimientos científicos básicos para poder extraer algunos resultados fiables de las observaciones llevadas a cabo con cuadrantes, ballestillas y astrolabios simplificados. (Francisco José GONZÁLEZ GONZÁLEZ, Del “Arte de marear” a la navegación astronómica: Técnicas e instrumentos de navegación en la España de la Edad Moderna”, Cuadernos de Historia Moderna. Anejos 2006, V, 136)

INTRODUÇÃO HIPÓTESE: PIONEIRISMO TÉCNICO E TEMPORAL

O sentido da expansão portuguesa no mundo pode ser pensado a partir de quatro categorias essenciais: Pioneirismo Temporal; Dispersão Espacial; Pluralidade Civilizacional e Universalidade Cultural. A expansão dos Portugueses, devido ao pioneirismo temporal, à Máxima dispersão espacial e à capacidade de adaptação à pluralidade das condições, é, nos séculos XV e XVI, o maior contributo para o nascimento de uma cultura mundial. (BARRETO, 1997, 370)

INTRODUÇÃO PIONEIRISMO TEMPORAL

Fig.1 ExpançãoPortuguesa ( América (1492) A. Ojeda > Venezuela (1499) D. Velasquez > Cuba (1511) F. Cortez >México (1519)

Franceses e Ingleses meados do século XVI

Holandeses, finais do século XVI

PORTUGAL Período do império marítimo (puro) até ao primeiro terço do século XVI (CARNEIRO, in COSTA E LACERDA, 2007: 8) Expansão Marítima Portuguesa (Fases) A primeira dessas fases vai de 1415 (conquista de Ceuta)-1420 (via Atlântica) até 1460 (Serra Leoa) e orientam-se para três objetivos chave: a implantação, no Norte de África e o nascimento do espaço produtivo dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, as viagens para ultrapassar o Cabo Bojador e o navegar para sul do mesmo, a caminho do Equador. A segunda grande fase vai de 1469 a 1498, ou seja, desde o estabelecimento do contrato entre o rei D. Afonso V e o mercador Fernão Gomes, para exploração da costa africana, até a chegada de Vasco da Gama a Calecute na ligação marítima entre a Europa e a Ásia Ao longo do século XVI e até meados do século XVII é possível apontar três grandes fases na presença dos portugueses no Oriente. A primeira vai desde as viagens de Vasco da Gama 1497-1499 e Pedro Álvares Cabral 1500-1501 até à morte de Afonso de Albuquerque, em 1515.

INTRODUÇÃO ( 1415-1535) OU PERÍODO

DO IMPÉRIO MARÍTIMO (PURO)

ESPANHA 1492, ano em que Cristóvão Colombo (1451-1506), ao serviço dos reis católicos, chega ao mar das Antilhas Castile had earlier taken the Canary Islands (1341–1344), and by the beginning of the fifteenth century was already beginning to use Seville as a depot for trading in slaves from the Canaries (MacKay 1977:131). Portuguese diplomacy at the papal court led to the highly important papal bull Romanus Pontifex in 1455, guaranteeing Portugal the Guinean coast and islands south of Cape Bojador. Another papal bull in 1481 granted the Canaries to the Castilians. When in 1493 Columbus returned triumphantly from his famous voyage to the New World, the Catholic kings of Castile took advantage of their influence with the new pope Alexander VI to have several new papal bulls issued, granting Castile all territory west of the Cape Verde Islands. King João of Portugal, however, promptly pointed out that no Castilian ship could leave port with safe passage west because it would have to travel through Portuguese waters. João thus forced the Treaty of Tordesillas in 1494, whereby the Portuguese laid claim to all territory east of a line that was drawn 370 leagues west of the Cape Verde Islands. This allotted most of what would later become Brazil to Portugal, and – together with a second treaty – it gave to Castile what would be the Philippines (Willis 1993:24–26). In CLEMENTS, J.C., The Linguistic Legacy of Spain and Portugal, p.40, 41

INTRODUÇÃO ESPANHA

FRANÇA E INGLATERRA: Início na década de 30 no século XVI HOLANDA: início 1595-1597 (...) a situação dos portugueses estava cada vez mais precária. No Marrocos, lhes eram infligidos graves derrotas pelos xerifes (shārīf) saadianos que conseguiram, durante algum tempo, engajar a população em uma guerra santa contra os infieis. Em 1541, eles perderam Agadir e, pouco depois, foram obrigados, em razão das dificuldades financeiras, a abandonar aquase totalidade de seus portos marroquinos. O ano de 1560 assistiu . Primeira falência da Coroa portuguesa. Os Franceses, a partir de 1520, e os Ingleses, a partir da segunda metade do século XVI, revelaram-se perigosos rivais dos Portugueses na África. Entretanto, desde o fim do século XVI, os Holandeses eram ainda mais perigosos do que eles. M. Malowist, “A Luta pelo comércio e suas implicações para África”, in Bethwell Allan Ogot (ed.), 2010, História geral da África, V: África do século XVI ao XVIII, p.12

INTRODUÇÃO

FRANÇA, INGLATERRA E HOLANDA

I. Difusão da Cultura Portuguesa da Expansão marítimomercantil pelos mares e litorais do Atlântico e construção do seu prestígio (adapt. de BARRETO, 2000)

1. Recolha, tradução e edição de manuscritos portugueses 2. tradução e edição em várias outras línguas europeias de obras impressas em português 3. contributos dos portugueses ao serviço de outras coroas europeias e das suas obras manuscritas e impressas 4. recolha e restrita circulação de manuscritos portugueses em círculos europeus de elite política, económica e cultural 5. informação oral-vivencial ­ ­

Escravos “Levantados” ou “Tangomãos”

II. Produção textual Impressa

1. Técnico-prático da marinharia ( Livros de Marinharia, Roteiros, Diários de Navegação e Guias Náuticos ) 2. Teórico-crítico da cientificidade (Matemáticos e cientistas) 3. Narrativas de doutrinação-valoração ideológica (Crónicas) 4. Ficção (Representações literárias de pidgins luso-africanos) 5. Metalinguísticos (Gramáticas)

INTRODUÇÃO ESTRUTURA

I

Fig.3 Francisco Faleiro, Tratado del Sphera y delArte de Marear, Sevilha, 1535

1- Recolha, tradução e edição de manuscritos portugueses. (Barreto, 2000, 96) 1.

No início do século XVI, o Polo italiano e de centros editoriais como Veneza, Milão, Florença, Roma ­ Fracanzio da Montalboddo, Paesi novamente retrovati et nuovo mondo da Alberico Vesputio Florentino intitulato, Vicenza, 1502

­ Giovanni Battista Ramusio, Delle Navigationi et Viaggi, Veneza, 1550 ­ Coleções de Cartas e de Geografias-Antropologias Descritivas organizadas pelos missionários jesuítas: Diversi Avisi Particollari dall’Indie, Veneza, 1559; Nuovi Avisi delle Indie di Portogallo, Veneza, 1563

2. Edições castelhanas com reedições e

outras línguas

traduções em

Francisco Faleiro, Tratado del Sphera y del Arte de Marear, Sevilha, 1535 ­ Cristóvão da Costa, Tratado de las Drogas y Medicinas de las Indias Orientales, Burgos, 1578 ­

I

FIG.4 FRANCISCO ÁLVARES, A VERDADEIRA INFORMAÇÃO DA TERRA DO PRESTE JOÃO DAS ÍNDIAS, LISBOA, 1540

2- tradução e edição em várias outras línguas europeias de obras impressas em português. (Barreto, 2000, 98) 1. Francisco Álvares, A verdadeira informação da terra do Preste João das Índias, Lisboa, 1540. ­

Edição italiana em, J.B. Ramúsio, 1550, Primo Volume de la Navigationi et Viaggi, Veneza, com reedições em 1554, 1563, 1588, 1606 e 1613.

­

Traduções espanholas em Antuerpia (1557), Saragoça (1561), Toledo (1588)

­

Tradução francesa em Lion (1556),

­ ­

Edições alemãs, em Eisleban (1566, 1567, 1572, 1573, 1576, 1581) Edição inglesa, em Londres (1625)

2. João de Barros, Décadas da Ásia, Lisboa, 1552 e 1553 ­

Edição italiana, Veneza (1565 e 1672)

3. Fernão Lopes de Castanheda, História do Descobrimento e conquista da India pelos Portugueses, Coimbra, 1551-1561 ­

Edição italiana, Veneza (1578)

4. Duarte de Sande, De Missione Legatorum, Macau, 1590 ­

Parcialmente traduzida e editada em inglês, Londres (1599), com o título Excellent Treatise of the Kingdom of China.

I

3- Quadros portugueses ao serviço de outras coroas europeias e das suas obras manuscritas e impressas. (...) (pilotos, mestres, cartógrafos, oficiais de construção naval (Barreto, 2000, 100) 1. ­

Século XVI: 60 ao serviço de Espanha, 25 ao serviço de França e 6 ao serviço de Inglaterra (A. TEIXEIRA DA MOTA, A evolução da Ciência Náutica durante os séculos XV e XVI na Cartografia Portuguesa da Época, Lisboa, ACL, 1961, p.11) Para além de Francisco Faleiro e Cristóvão Costa, responsáveis por edições espanholas, destacam-se Diogo Ribeiro, cosmógrafo mor da Casa das Índias em Sevilha, a partir de 1523, mas também o navegador e geógrafo Pedro Fernandes Queiros (1565-1615), autor de várias obras manuscritas de náutica, nos anos de 1595 a 1610 (BARRETO, 2000, 100)

FIG.5 DIEGO RIBERO (1539), PLANISFÉRIO

I

4- Recolha e restrita circulação de manuscritos portugueses em círculos europeus de elite política, económica e cultural (Barreto, 2000, 101) 1. Círculos humanistas do Centro Norte da Europa e de Itália que acumulam e/ou traduzem manuscritos portugueses como o da • • • •

Coleção de textos náuticos geográficos denominada Livros de Valentim Fernandes Cópia da carta-padrão denominada Planisfério Cantino, de 1502 O Codex Bratislavensis, com materiais sobre a Expansão Portuguesa de 1494 a 1519 Ars Nautica de Fernão de Oliveira, de 1570

FIG.6 PLANISFÉRIO CANTINO (1502)

I

5- Informação oral-vivencial (Barreto, 2000, 101) 1. Os “lançados”, os “tangomãos” homens que, por vontade própria ou por imposição superior, eram deixados em determinados pontos da costa desconhecida, de África ou mais tarde do Brasil, com a missão de contactarem as populações locais e de aí viveram durante um determinado tempo com o objetivo de recolher informações, quer seja das condições locais de clima, relevo e geografia, quer dos produtos da região que pudessem interessar aos portugueses, quer ainda das gentes da terra, da sua língua, organização e carácter, religião e comércio. Algum tempo depois, quando os navios portugueses voltassem a estas paragens, podiam transmitir os conhecimentos adquiridos, funcionando como uma espécie de agentes intermediários que facilitavam a comunicação e o comércio.

2. Os escravos The first four slaves known to have been taken from sub-Saharan Africa were brought to Portugal in 1444 by Dinis Dias from his voyage to the Senegalese coast and the Cape Verde Islands. Such slaves became invaluable to Henry the Navigator, who used them as interpreters on voyages to Africa as well as to gather reconnaissance on places in Africa (Ramos Tinhorão, 1997:47). In CLEMENTS, J.C., The Linguistic Legacy of Spain and Portugal, p.43

3. Missionários e escolas Em 1551, Windham, um inglês que este na Guiné afirmou que “o rei de Benim falou em Português aos Ingleses, língua que ele tinha aprendido desde a infância No Congo, já em 1493, os missionários ensinavam a ler e a escrever In LOURENÇO et al., 1992, Atlas da língua portuguesa na História e no Mundo, p.45)

II.1 LIVROS DE MARINHARIA Obras coletivas compostas por uma parte formativa e normativa, com regimentos para a determinação de latitudes e regras sobre a agulha de marear, e por uma parte informativa com Roteiros oceânicos e de costa e múltiplos dados práticos de pilotagem como singraduras, conhecenças, levantamento de fundos, etc, A expressão de um conhecimento prático e pouco sistematizado da navegação (Matos, in: http://cvc.instituto-camoes.pt/navegaport/a25.html § Francisco Rodrigues (ci. 1512), João de Lisboa (até meados do século XVI); , Manuel Álvares (ci.1535); Bernardo Fernandes (ci. 1548); André Pires (ci. 1552); Pero Vaz Fragoso (ci. 1566),

FIG.7 O Livro de Marinharia de Manuel Álvares (ci.1535)

II.1 ROTEIROS Traçados ideais de rotas § Manuscrito de Valentim Fernandes (século XV) §

«ESTE LIURO HE DE ROTEAR...» são as primeira s palavras do título do mais a ntigo roteiro port uguês que se conhece, transc rito no Manusc rito de Valentim Fernandes, e que Fontoura da Costa supõe ter origem num texto ainda do século XV. Explica este livro como se devem percorrer determinadas rotas ou caminhos do mar, já anteriormente rasgados por outros que, efectivamente, os descobriram tendo o cuidado de tomar notas sobre a navegação efectuada. (Matos: http://cvc.instituto-camoes.pt/navegaport/a36.html

§ Roteiros de D. João de Castro ­ Roteiro de Lisboa a Goa (1538) ­ Roteiro de Goa a Diu (1538-1539) e ­ Roteiro do Mar Roxo (1540-1541)

FIG.8 Manuscrito de Valentim Fernandes (século XV)

II.1 DIÁRIOS DE NAVEGAÇÃO Textos de anotação, dia a dia, dos elementos náuticos mais relevantes da viagem § Diário de Navegação de Pêro Lopes de Sousa, com os registos da viagem que efectuou ao Brasil sob o comando se seu irmão Martim Afonso de Sousa (1530-1532) (Matos: http://cvc.institutocamoes.pt/navegaport/a20.html

FIG.9 Diário de Navegação de Pêro Lopes de Sousa

II.1 GUIAS NÁUTICOS Obras de exposição didática das regras da astronomia com implicação à náutica:

§ Guia náutico de Munique (1509) e Guia náutico de Évora (1516) (...) no seu essencial, de um compêndio onde constam noções de geometria esférica – neste caso uma tradução parcial e adaptada do Tratado da Esfera de Sacrobosco – a apresentação de tábuas solares, destinadas ao cálculo de latitudes pela (não vale a pena discutir os pormenores que diferem de um para outro texto), um regimento do Norte, um importantíssimo regimento das léguas, indispensável à compreensão da variação dos graus de paralelo com a latitude do lugar, e ainda umas listas de longitudes de portos frequentados pelos portugueses, numa das obras apenas até ao Equador, mas na outra até ao Oceano Índico com acrescentos de locais do Extremo Oriente. Matos: http://cvc.instituto-camoes.pt/navegaport/a23.html

§ Tratado da Esfera, por Pedro Nunes (1537) Publicada em português, foi dedicada ao infante D. Luís e foi impressa em Lisboa na oficina de Germão Galharde. Integra três obras traduzidas do latim e anotadas por Pedro Nunes: - Tratado da Esfera do monge inglês Sacrobosco - Teoria do Sol e da Lua de Purbachio - Livro I da Geografia de Ptolomeu incluindo o primeiro capítulo da Geografia de Ptolomeu: http://cvc.instituto-camoes.pt/navegaport/f01.html

FIG.10 Guia Náutico de Munique (1509)

ZACUTO, ABRAÃO (1450-1522), II.2 ALMANACH PERPETUUM CELESTIUM MOTUUM, 1496 O método para a determinação das latitudes foi aplicado na náutica lusitana pela primeira vez por José Vizinho, cosmógrafo e médico de João II, em uma viagem que, para o experimentar, fez à Guiné em 1485. Publicou as tábuas astronómicas para os anos de 1497 a 1500, que foram utilizadas, juntamente com o seu astrolábio melhorado de metal, por Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral nas suas viagens.

FIG.11 Abraão Zarcuto, Almanaque perpétuo, 1496.

DUARTE PACHECO PEREIRA II.2 (1460-1533) o "Esmeraldo de situ orbis", mais do que um roteiro de viagem, é uma obra de erudição e uma síntese de todos os conhecimentos de navegação acumulados pelos portugueses nos séculos XIV e XV. A obra está dividida em quatro livros, ainda que seja impressa num único volume: Prólogo Primeiro Livro : (inclui Descobrimentos do Infante D. Henrique) - 33 capítulos Segundo Livro : Descobrimentos de D. Afonso V - 11 capítulos Terceiro Livro : Descobrimentos de D. João II - 9 capítulos Quarto Livro : Descobrimentos de D. Manuel - 6 capítulos

Duarte Pacheco Pereira faz referência a vários mapas inclusos, mas que desapareceram por completo.

FIG.12 Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de situ orbis, 1506-1508

II.2

Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de situ orbis, 1506-1508. Portugal surge como um construtor da presença e superioridade europeia no mundo. Através da acção «dada ao comércio» e da «nossa santa fé católica» é possível um horizonte de presença no mundo que legitima uma pertença, activa à Europa: «nem devemos duvidar que de cidades, vilas e fortalezas cercadas de muros e outros sumptuosos e formosos edifícios Europa precede Ásia e África e assim as precede de muita e melhor frota de naus melhor aparelhadas e armadas que todas as outras partes; e não podem negar os asiáticos e africanos que toda a abastança das armadas e polícia dela com outra muita artilharia Europa possui, e sobretudo os mais excelentes letrados em todas as ciências» (Duarte Pacheco PEREIRA, Esmeraldo de Situ Orbis, ed. E. Silva DIAS, Lisboa, Soc. Geografia, 1905, p. 30, citado por BARRETO, “A aculturação portuguesa na expansão e luso-tropicalismo”, 2012, p. 492, em: http://www.om.acm.gov.pt/documents/58428/182327/1_PI_Cap9.pdf/b312f09c-0695-4063-ae69-ea7735ada45f)

II.2 PEDRO NUNES (1502-1578) O Tratado da Sphera (1537) integra três obras traduzidas do latim e anotadas por Pedro Nunes: - Tratado da Esfera do monge inglês Sacrobosco - Teoria do Sol e da Lua de Purbachio - Livro I da Geografia de Ptolomeu Esta importante obra publicada em português, em 1537, foi dedicada ao infante D. Luís e foi impressa em Lisboa na oficina de Germão Galharde.

FIG.13 Pedro NUNES, Tratado da sphera com a Theorica do Sol e da Lua (Tratado sobre a Esfera acerca a teoria do Sol e da Lua), (1537).

CRONÍSTICA - TEXTOS FUNDADORES DA HISTÓRIA II.3 CONTADA PELOS PORTUGUESES SOBRE A EXPANSÃO FIG.14 AZURARA, GOMES EANES, CRÓNICA DA GUINÉ, 1453 “E aqui haveis de notar que estes negros, posto que sejam mouros como os outros, são porém servos daqueles, por antigo costume, o qual creio que seja por causa da maldi‹o que, depois do Dilúvio, lançou Noé sobre seu filho Caim, pela qual o maldisse que a sua geração fosse sujeita a todas as outras gerações do mundo; da qual estes descendem […]” (Zurara, 1981: vol. II, cap. XVI).

II.3

FIG.15 A CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA, 1500

Crónica do nascimento do Brasil por Pêro Vaz de Caminha (escrivão da esquadra de Pedro Álvares Cabral): “Parece-me gente de tal inocência que se os homem entendessem e eles a nós que seriam logo cristãos porque eles não têm nem entendem em nenhuma crença segundo parece. (…) Nosso Senhor deu-lhes bons corpos e bons rostos como a bons homens e ele que nos por aqui trouxe creio que não foi sem causa e portanto Vossa Alteza pois tanto deseja acrescentar na santa fé católica deve entender em sua salvação e prazerá a Deus que com pouco trabalho será assim” (Magalhães e Miranda, ed., 1999: 116

II.4

REPRESENTAÇÕES DOS PIDGINS AFRO-LUSITANOS (LIPSKI, 2005, 2009 (...) 1. Fernam de Silveira, poema no Cancioneiro geral de Garcia de Resende, 1455 (primeira imitação de pidgin Afro-Português; 2. Henrique da Mota, poema no Cancioneiro geral de Garcia de Resende 3. “De dom Rrodriguo de Monssanto a Lour~eo de Faria de maneira que mandaua a h~u seu escravo~q curasseh~ua sua mula”, no Cancioneiro geral de Garcia de Resende 4. Symão de Sousa, poema no Cancioneiro geral de Garcia de Resende 5. Gil Vicente, O clérigo de Beyra (1530) 6. Gil Vicente, Fragoa d'amor (1524) 7. Gil Vicente, Não d'amores (1527) 8. António Chiado, Auto das regateiras 9. António Chiado, Pratica de oito figuras 10. Sebastião Pires, Auto da bella menina (...)

In LIPSKI, 2014: 359-376)

FERNAM DE SILVEIRA (1455) A min rrey de negro estar Serra Lyoa, lonje muyto terra onde viver nos, HENRIQUE DA MOTA: a mym nunca, nunca mym entornar mym andar augoá jardim, a mym nunca ssar rroym, porque bradar? GIL VICENTE, FRAGOA D’AMOR (1524) Poro que perguntá bos esso? Mi bem la de Tordesilha (LIPSKI, 1994)

FIG.16 CANCIONEIRO GERAL, DE GARCIA DE RESENDE, PP. 173-175

II.4 “E ouue ali hũa muyto grande representaçam de hum Rey de Guine, em que vinham tres Gigantes espantosos, que pareciam viuos, de mais de quarenta palmos cada hum, com ricos vestidos todos pintados douro, que parecia cousa muyto rica, e com elles hũa muy grande, e rica mourisca retorta, em que vinham duzentos homens tintos de negro, muyto grandes bailadores, todos cheos de grossas manilhas pollos braços, e pernas dourados, e muyto bem concertados, cousa muy bem feyta, e de muyto custo por serem tantos, e em que se gastou muyta seda, e ouro, e faziam tamanho roido com os muytos cascaveis que traziam, que se não ouuiam com eles….” Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende, pp. 173-175

II.4 Gil Vicente, Clérigo da Beira (1526 ou 1529/30), v. 484–512. Para quê? Para comê?

firalgo solto canseyra

Muto comê, muto bevê,

chovere muyto canseyra

turo, turo sa canseyra

nam podê chovere canseyra

dirá mundo turo canseyra

muyto filho canseyra

senhor grande canseyra home prove canseyra

nunca pariro canseyra

muyere fermoso canseira

essa ratinho canseyra

muyere feo canseyra

nam vamo paraíso grande grande

negro cativo canseyra senhoro de negro canseyra vay misa canseyra pregaçam longo canseyra crérigo nam tem muyere canseira crérigo tem muyere grande canseyra

Papa na Roma canseyra

grande canseira Vira resa mundo turo turo hé canseyra! Mi nam falá zombaria Pos para que furtá? que riabo sempre sá abre hoyo turo ria.

II.5 PRIMEIRAS GRAMÁTICAS NORMATIVAS DO PORTUGUES FIG. 17 Fernão de OLIVEIRA, Gramática da Linguagem Portuguesa, Lisboa, 1536

Em 1536, na primeira Gramática da Língua Portuguesa, Fernão de Oliveira afirma que: “melhor é que ensinemos à Guiné que sejamos ensinados de Roma” “o costume novo traz à terra novos vocábulos [...] lições alheias, as quais também com algum trato vêm ter a nós, como de Guiné e da Índia, onde tratamos” (in Fernão de OLIVEIRA, Gramática da Linguagem Portuguesa, Lisboa, 1536, p. 87, p. )

II.5

FIG.18 João de BARROS, Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, 1540 “não diremos homem boa [...] parecerá mais fala de negras que de bom português” “podemos dizer que as nações de África, Guiné, Ásia, Brasil, barbarizam quando querem imitar a nossa” João de BARROS, Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, 1540, ed. M. L. BUESCU, Lisboa, F. Letras, 1971, p. 350, p.357.

Prestígio da Cultura Portuguesa na primeira fase da Expansão Marítima ­ Conhecimento Técnico nas várias áreas ligadas à Navegação ­ O Português como Língua Franca marítimocomercial no Atlântico do século XV e XVI (anterior à fundação da Companhia de Jesus, em 534, por Inácio de Loyola) ­ Legado linguístico-cultural

CONSIDERAÇÕES FINAIS /SÍNTESE

MUITO OBRIGADA!

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