A experiência na arte urbana: a estética do fazer.

June 15, 2017 | Autor: Eduardo Turski | Categoria: Street Art, Graffiti, Urban Art, Transgressão, Intervenção urbana, Subversão
Share Embed


Descrição do Produto

TEORIA E PRÁTICA
Estética do Criar: a Experiência por trás do Ato.
REFLEXÃO SOBRE A TRANSGRESSÃO NO CONTEXTO ARTÍSTICO
Nos dias atuais a transgressão na arte vem sendo cada vez mais explorada em meio a pesquisas relacionadas ao assunto, onde nem sempre é vista com bons olhos, por vezes prejudicial a alguns, por vezes libertadora e genial para outros, ela provoca, questiona, polemiza, ultrapassa limites impostos e testa ate que ponto tais limites aguentam perante questionamentos e reformulações do pensar. Porem sempre haverá pessoas que não concordarão com tais atitudes, assim como os que serão a favor e apoiarão, mas o transgressor geralmente age baseado em suas crenças ideológicas e depende de sua firmeza e força de ação realizar os atos transgressores para que realmente sejam efetivados e possam causar algum tipo de impacto na sociedade em que se insere.
Muitas vezes não há uma tentativa de compreensão dos atos transgressores, por mais claros, explícitos e legítimos que sejam. Em inúmeras ocasiões acabam por dar margem a julgamentos pré-concebidos que explicitam um não apoio a esses atos. Nosso sistema de sociedade atual por vezes não suporta transgressões devido aos limites estabelecidos que ela costuma violar, por outro lado são as ações e pensamentos transgressores que movimentam e evoluem o mundo em uma constância, onde acarretam mudanças que necessitam de uma ação inicial para que se altere tal conceito ou situação ultrapassada que a transgressão irá tomar como alvo.
As maiores descobertas e genialidades desvendadas em outras épocas, ou da humanidade como um todo, nos mais variados assuntos e áreas de atuação, tem em comum o pensamento transgressor como ponto de partida para o inicio das evoluções específicas, pois são os agentes transgressores que tiveram a capacidade de com ela mudar, ou melhorar o mundo em que vivem, por possuírem a capacidade de quebrar as obsolescências contidas em cada época. A evolução do ser humano é a prova pura do fator transgressão integrada a sua existência, pois a vida é constituída de escolhas e pensamentos estratégicos, e ai a transgressão se apresenta como uma tentativa de inovar o pensar sobre qualquer situação que queira, aplicando-a em prol de uma busca sobre as possibilidades do recriar, do reinventar, do reformular.
DA TRANSGRESSÃO NO GRAFFITI CONTEMPORÂNEO
Os sentimentos que motivam os grafiteiros a se expressarem nas ruas da cidades podem variar conforme a linha de trabalho que deseja seguir, no caso do mais artístico e poético ao mais simplificado com a intenção do vandalismo, denominados bomb, porem ambos estilos devem ser transgressores em seu ato para que possam ser chamados realmente de Graffiti. As duas principais regras que definem o Graffiti e o diferenciam do movimento streetart são: estar e se localizar apenas no ambiente rua, onde somente nesse local o graffiti se constitui e se define, e deve ser feito sempre sem autorização, ou seja, de modo transgressor. Sobre o Graffiti Vandalismo, observo que costuma ser feito durante a noite, madrugada e às vezes de dia. Buscam demarcar através das letras e de codinomes as paredes nas ruas da cidade, como uma espécie de protesto, demonstrando sua revolta com determinada situação ou a opressão que sofrem no cotidiano, onde sentimentos desse tipo costumam ser canalizados e passam a ser os motivadores a um processo artístico de ampla variedade na criação de letras, desde assinaturas à letras mais elaboradas e compostas, como também personagens e alguma vez ou outra abstratos. O fato da transgressão de leis ou de autorizações para as intervenções nos espaços mostram o resultado de uma geração de jovens que vê num ato depreciativo e agressivo uma maneira de resposta e ao mesmo tempo uma forma de se expressar e se definir enquanto cidadãos constituintes desse mundo multicultural, onde dentro do movimento são respeitados pelo que expressam e buscam sempre a evolução no processo artístico.
Já no Graffiti Poético há uma busca maior na produção e reflexão sobre o trabalho realizado. Abordam-se temáticas diferenciadas ou com estudos em outras culturas, ou com técnicas alternativas e adaptação com outros estilos de arte, buscando uma intervenção que seja significativa e que também tenha conceito ao invés de apenas impacto estético e conceito simples. Como aumenta o uso de cores ou tempo de trabalho devido ao maior numero de detalhes, essas intervenções costumam ser feitas geralmente durante o dia. Nesse caso a transgressão se apresenta como forma de criar uma magia do surgimento da obra no contexto urbano, onde ela misteriosamente surge e se apresenta aos cidadãos que pelo local passam e que irão observar uma nova intervenção que acabara de surgir quase instantaneamente. Por alguns, denominado de Pós-Graffiti, esse movimento vem passando por algumas redefinições de significados próprios dessa arte e se deparando com o surgindo de novas linguagens, estilos e conceitos, à medida que cresce e se dissemina pelo mundo.
As paredes falam e nelas as mais diversas vozes e experiências se manifestam e propõem ideias, transformando a rua de espaço de trânsito a um espaço de diálogo e geração de novos pensamentos, onde a quantidade de pessoas que tem acesso a essas intervenções acaba por ser muito ampla e a reflexão coletiva pode vir a ultrapassar qualquer fronteira. O Graffiti reconstrói o espaço urbano em locais pontuais que tenham a ver com determinado artista e a temática que seu trabalho segue. Como se usa a cidade enquanto suporte para intervir, busca-se lugares específicos, onde a arquitetura seja diferenciada ou onde algum local inusitado tenha a ver com o contexto de sua obra artística, e os estudos sobre essas localidades diferenciadas junto ao trabalho de pintura pode ir sendo aprofundado e desdobrado em diversas possibilidades. Esses atos buscam também a reflexão sobre a importância e os significados que possuem atualmente o ambiente Rua, na tentativa de compreender a real função desse espaço e de como desejamos constitui-lo e ocupa-lo, onde apenas a arte se mostra uma possível alternativa a ressignificação dessas localidades.
Os movimentos de arte e as vanguardas artísticas sempre buscaram inovar e transgredir os limites que encontravam em seu caminho e que pudessem vir a ser hipócritas ou contraditórios. A importância dessas vivências por trás do ato de grafitar talvez se mostre mais impactante para mim do que a própria intervenção concluída, visto que a quantidade de reflexões que tenho enquanto me encontro imerso a esse ambiente caótico durante meu ato criador e a quantidade de criticas, elogios e pensamentos que comigo são compartilhados pelas mais diversas pessoas e que muitas nunca mais verei, mas que para mim tem valor e me transformam constantemente, e mantem viva essa vontade de estar sempre que posso intervindo nas ruas da cidade. Diálogos impactantes e efêmeros, tal qual o Graffiti é.
EXPERIÊNCIAS E SEUS DESDOBRAMENTOS
As diversas experiências vividas durante os processos de criação são muito significativas para os artistas, e os diversos conteúdos culturais que venham a se interessar irão refletir de alguma forma, sutil ou visceral, em sua obra de arte e suas pesquisas. As experiências estão diretamente ligadas aos processos de criação, e mais ainda nos dias de hoje. Já é quase impossível se pensar em temáticas que não sejam interdisciplinares, visto que os trabalhos vêm sendo cada vez mais articulados a diferentes questões, distintas ou não, criando relações poéticas entre as mais variadas formas do conhecimento, recriando-os e fazendo surgir novos repertórios e linguagens.
Inclusive em atos artísticos ou educativos, e porque não profissionais, constantemente usamos recursos performáticos para melhorar nossa atuação para que os outros consigam nos compreender de forma mais clara. Ao estar na rua fazendo Graffiti, na maneira em que me encontro exposto durante este ato, minha performance corporal se mostra diferenciada nesses momentos, onde necessito estar focado no trabalho a ser feito, assim como dialogar com quem por ali transita e com atenção ao que pode vir a acontecer, pois a rua apresenta muitas possibilidades e necessitamos estar atentos a um possível fato inusitado. Enquanto atuante em um ambiente educativo, necessito alterar minha performance novamente, agora com novos quesitos e especificações, buscando a adaptação que determinados lugares ou situações venham a exigir e perceber isso e usar da criação como facilitadora dessa adaptação nesses locais.
Podemos situar a experiência em três eixos para compreender o desdobramento desse processo de ressignificação e criação.
Inicialmente se desperta algum gosto inicial, fator que de certa forma já se encontra intrínseco em sua alma e que vai servir para aflorar suas vontades próprias para que surjam com mais vigor e agreguem no trabalho. A busca de referências em outros artistas e o ampliar dos repertórios de imagens facilitam o surgimento de novas ideias, e as vivências cotidianas antes comentadas também podem vir a ajudar nesse processo de concepção de uma identidade artística. Posteriormente a isso surge o momento que as experimentações no processo artístico passam a serem vivenciadas, usando o que é valido das referências de sua preferência e reorganizando com o que gosta e as vontades que possui, criando pós-produções como definirá Bourriaud, assim como o pensamento sobre o trabalho em si e a formulação e eterno estudo desse processo de arte/vida. Só com esse processo constante que sua verdade própria virá a tona, pois a experiência tem fator fundamental nessa evolução do trabalho. Por último, após essa identidade autoral constituída, isso passa a ter algum valor nos conhecimentos em arte e pode vir a ser aplicado a diversas situações, enquanto mostrando o trabalho ou até mesmo levando essa experiência por trás dos atos de criação que são significativas e que influenciarão no processo de aprendizagem no ambiente de ensino.


Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.